Direito Do Trabalho II
Direito Do Trabalho II
Direito Do Trabalho II
16/02/2022
1
Direito do Trabalho II
17/02/2022
2
Direito do Trabalho II
3
Direito do Trabalho II
corresponder ao alojamento, pagamento de um caro, entre outros. É por esta razão que a
lei determina que o valor em espécie não pode exceder o valor em dinheiro (pecuniário).
Prestação direta: traduz-se num enriquecimento direto do trabalhador.
Prestação indireta: não resulta no enriquecimento do trabalhador, mas este beneficia delas
de forma indireta, pois embora o trabalhador não vá ficar com o património mais elevado,
por força daquela prestação ele vai ficar isento do pagamento daquela prestação,
poupando aquele custo, por exemplo, o pagamento do alojamento ao trabalhador. Nestes
casos, resumindo, podemos considerar as situações em que é evitado o empobrecimento
do trabalhador.
As prestações têm de ser regulares e periódicas, isto é, frequentes que se vencem em
períodos certos e iguais. Este conceito é importante pois há prestações que o trabalhador
só recebe em determinados períodos, mas tendo caracter frequente já pode integrar o
conceito de retribuição.
Por exemplo, o trabalho suplementar, há circunstâncias em que este pode ser
frequente, nestes casos, pode vir a ser considerada retribuição e terá os seus devidos
efeitos.
Artigo 258º/ 1 do CT – o trabalhador tem um direito, e este pode resultar do contrato ou
das normas que o regem, que são a lei, convenção coletiva ou regulamento interno, pois
é muito importante que exista obrigatoriedade de pagamento de prestação para que esta
possa ser considerada como retribuição.
A qualificação da retribuição é decisiva para que o trabalhador possa beneficiar de certas
garantias que a lei prevê, como o princípio da irredutibilidade da prestação, ou seja, a
retribuição não pode ser objeto de redução.
A retribuição tem de ser contrapartida do trabalho prestado, pois há determinadas verbas
que o trabalhador recebe que não são consideradas contrapartida do seu trabalho, como
por exemplo as ajudas de custo, que são o reembolso de uma despesa que o trabalhador
teve de suportar por força de uma prestação de trabalho, ou seja, se o trabalhador não
fosse trabalhar, não teria estas despesas.
Uma ajuda de custo é então uma prestação patrimonial a que o trabalhador tem direito,
no entanto não entre no conceito de retribuição, ou seja, as ajudas de custo não são
consideradas retributivas.
Características do negócio jurídico – contrato de trabalho:
1. Sinalagmático;
2. Há um nexo de correspetividade entre as prestações, excetuando as férias, por
exemplo;
3. A retribuição é devida como contrapartida do trabalho prestado.
O conceito de retribuição vai ter implicação no cálculo das ferias, dos subsídios ou mesmo
no princípio da irredutibilidade da prestação, logo, concluindo, o salário do trabalhador
pode integrar prestações retributivas e prestações não retributivas.
4
Direito do Trabalho II
5
Direito do Trabalho II
24/02/2022
6
Direito do Trabalho II
A diuturnidade não é obrigatória, mas está muitas vezes consagra, e é uma prestação
retributiva que tem em vista remunerar ou compensar uma maior antiguidade do
trabalhador na empresa, e foi criado sobretudo para aquelas funções que pelo seu tipo,
não é previsível que haja progressão na carreira – artigo 262º/ 2 b) do CT.
Cálculo do Subsídio de Natal – artigo 263º do CT:
O Subsídio de Natal é um direito de formação sucessiva e respeita ao próprio ano. O
cálculo do Subsídio de Natal é realizado à exata duração do vínculo e prestação efetiva
desse ano.
Para proceder ao cálculo do Subsídio de Natal, conforme o artigo 263º do CT, socorremo-
nos do n.1 do artigo 262º do CT.
Por exemplo, um trabalhador que receba de salário 1500€ no total, no entanto, o eu
salário base é de 1000€. O respeitante ao subsídio de Natal é o valor do salário base, ou
seja, neste caso, o trabalhador receberia de subsídio de Natal 1000€.
02/03/2022
7
Direito do Trabalho II
A discriminação salarial não deve ser confundida com a diferenciação salarial, pois nem
toda a diferenciação é discriminatória, por vezes é uma exigência do próprio princípio da
igualdade e não discriminação.
O que é que justifica um salário diferente?
Pode haver certas situações em que há um requisito material justificativo de uma
diferença salarial, e nesse caso, se forem praticados salários diferentes, não haverá
discriminação. Assim, a diferenciação é permitida quando é assente num motivo material
assente num dos seus critérios.
Por exemplo, um trabalhador que é bilingue numa língua essencial para a empresa,
essa qualificação pode justificar uma diferença salarial que não é discriminatória.
O problema destes dois âmbitos coloca-se, na maioria das vezes, na questão da
produtividade, pois por exemplo, nas multinacionais, medir a produtividade é algo muito
objetivo, ou seja, este critério só pode ser utilizado se o método de controle da mesma for
objetivamente aplicado.
Havendo uma alegada discriminação salarial, um trabalhador pode reagir como?
De acordo com as regras do ónus da prova, o mesmo deveria provar os factos alegados,
no entanto, neste caso, seguimos o artigo 25º/ 5 do CT, um trabalhador que se sinta alvo
de discriminação deve indicar qual o trabalhador em relação ao qual se sente
discriminado, devendo o empregador justificar o porquê dessa diferença.
Nos artigos 30º e seguintes do Código do Trabalho encontramos a igualdade e não
discriminação nos mais diversos níveis relacionados com o trabalho.
Pagamento da Obrigação Retributiva – artigo 276º do CT:
Relativamente às formas de cumprimento é particularmente relevante o artigo 276º/ 3 do
Código do Trabalho – o documento descrito nesta norma é respeitante ao recibo de
vencimento (boletim de pagamento).
Deste recibo devem constar uma série de requisitos, e normalmente quando se fala em
recibo fala-se em quitação, isto é, a função do boletim de pagamento é sobretudo
estabelecer o valor pago ao trabalhador, o que não significa a quitação efetivamente, daí
a lei determinar que no boletim devem ser discriminados todos os valores.
Qual é a finalidade do recibo?
É sobretudo discriminar tudo o que foi pago ao trabalhador, e ainda que o trabalhador
assine o recibo de vencimento, daquilo apenas resulta que o trabalhador recebeu aquela
quantia, não invalidando, por exemplo, que haja quantias que não tenham sido pagas, e
por esta razão não assume a forma de uma verdadeira quitação.
Resumindo a forma e prova do cumprimento da obrigação…
O artigo 276º do CT regula o modo como pode ser paga a retribuição, sendo que esta
norma acaba por revelar um dos mais importantes atributos do salário, o seu caracter
patrimonial, tendencialmente pecuniário (mas não sempre, pois também pode ser em
espécie).
9
Direito do Trabalho II
Tutela da retribuição:
De acordo com o artigo 258º/ 4 sabemos que a retribuição é merecedora de um especial
regime de garantias.
Atendendo à função alimentar desempenhada pela retribuição, compreende-se e exige-se
que o ordenamento jurídico conceda uma particular proteção a este direito. O artigo 59º
da CRP estabelece que incumbe ao estado assegurar a retribuição a que os trabalhadores
têm direito (artigo 59º/ 2 da CRP), sendo que o n.3 deste mesmo artigo acrescenta ainda
que «os salários gozam de garantias especiais, nos termos da lei».
10
Direito do Trabalho II
Compensação:
Possibilidade ou impossibilidade da compensação da obrigação retributiva:
É uma forma de extinção que resulta de um princípio de economia, assim, a compensação
acontece quando um débito é cumprido através de um crédito existente com o credor.
«1 - Na pendência de contrato de trabalho, o empregador não pode compensar a
retribuição em dívida com crédito que tenha sobre o trabalhador, nem fazer desconto ou
dedução no montante daquela.» – artigo 279º do CT – esta norma vem estabelecer um
regime especial para a compensação.
Artigos 847º e seguintes do Código Civil – regula a admissibilidade da compensação
como forma de extinção das obrigações, e este artigo vem estabelecer uma proibição legal
de o empregador compensar o trabalhador, mas nada impede que o trabalhador compense
o empregador.
A lei não permite descontos, com algumas exceções, tais como as que constam do artigo
279º CT, situações em que o desconto a realizar sobre o salário são correspondentes a
importâncias das quais o empregador não é titular, como por exemplo os descontos legais
para a segurança social e IRS.
«A desconto a favor do Estado, da segurança social ou outra entidade, ordenado por lei,
decisão judicial transitada em julgado ou auto de conciliação, quando o empregador
tenha sido notificado da decisão ou do auto;» – caso típico das penhoras, por exemplo
quando o credor pode penhorar o salário do respetivo devedor, o empregador limita-se a
cumprir a decisão judicial, e este é um exemplo de desconto que pode recair sobre o
salário. (artigo 279º CT).
Fora das situações previstas no artigo 279º do Código do Trabalho, não são permitidos
descontos nos salários nem qualquer tipo de compensação.
«3 - Os descontos a que se refere o número anterior, com exceção do mencionado na
alínea a), não podem exceder, no seu conjunto, um sexto da retribuição.» A ideia é
garantir ao trabalhador que o mesmo disponha de 5/6 da sua retribuição.
Artigo 738º Código do Processo Civil:
«1 - São impenhoráveis dois terços da parte líquida dos vencimentos, salários, prestações
periódicas pagas a título de aposentação ou de qualquer outra regalia social, seguro,
indemnização por acidente, renda vitalícia, ou prestações de qualquer natureza que
assegurem a subsistência do executado.» - Só pode ser penhorado 1/3 da parte líquida do
salário.
3 - A impenhorabilidade prescrita no n.º 1 tem como limite máximo o montante
equivalente a três salários mínimos nacionais à data de cada apreensão e como limite
mínimo, quando o executado não tenha outro rendimento, o montante equivalente a um
salário mínimo nacional.» – por regra, o salário não pode ser penhorado pois deve ser
garantido ao trabalhador o mínimo para uma subsistência condigna.
Um trabalhador que tenha 10 000€ de salário, terá uma garantia de cerca de 3000€,
podendo o restante sofrer penhora.
11
Direito do Trabalho II
Artigo 280º CT: «O trabalhador só pode ceder crédito a retribuição, a título gratuito ou
oneroso, na medida em que o mesmo seja penhorável.» – poder de disposição
relativamente ao salário. Direito de indisponibilidade do trabalhador relativamente ao seu
salário, sendo isto no fundo paternalista, pois o trabalhador é salvaguardado para que
todos os meses tenha o seu salário mínimo para sobreviver.
O trabalhador pode renunciar ao salário? Perdoar uma divida ao empregador? Tem-se
entendido que não, pois se a lei vem proibir a cessão, por maioria de razão proíbe
igualmente a renuncia.
Uma questão que se levante é a de saber se esta proibição de cessão ou renuncia vigora
apenas na pendencia do contrato ou mesmo depois do contrato cessar? – quando se fala
em compensação salarial, essa está circunscrita à vigência do contrato, e quando este
cessa pode haver um acerto de contas. No entanto, no artigo 280º não é adotada a mesma
técnica, assim, há quem entenda que se o legislador quisesse proibir apenas durante a
vigência do contrato, teria previsto como no artigo 279º do CT.
A questão que se levante é que há quem defenda eu apesar da lei não o dizer, só faz
sentido através da vigência do contrato. Já o Doutor Leal Amado (livro) entende que há
um direito indisponível e que se o legislador quisesse limitar à vigência do contrato, tê-
lo-ia circunscrito, como não o fez, entende-se que ela vigorará quer antes, quer depois.
A função é garantir ao trabalhador, regular e periodicamente, uma importância que ele
utilizará para a sua subsistência e realização dos seus interesses.
Prescrição dos créditos – importante:
O direito deixa de ser judicialmente exigível, isto é, de uma obrigação jurídica passamos
a ter uma obrigação natural, e o devedor só a irá cumprir se assim o desejar.
Se erroneamente o empregador tiver pagado o crédito, não pode à posteriori vir pedir a
prestação invocando que na altura do pagamento já teria prescrito.
Qual é o prazo de prescrição?
Artigo 337º do Código do Trabalho – o prazo de rescrição ao invés de ser contabilizado
a partir da data de vencimento, só se começa a contar a partir da cessação do contrato.
Normalmente um crédito tem um tempo de 5 anos, decorrido esse tempo, dá-se a
prescrição – artigo 278º do Código do Trabalho.
Atendendo a que na vigência do contrato não existem condições para a exigência judicial
de créditos, o legislador colocou em prática a suspensão de curso no prazo de prescrição
– artigo 337º/ 1 do Código do Trabalho.
«1 - O crédito de empregador ou de trabalhador emergente de contrato de trabalho, da
sua violação ou cessação prescreve decorrido um ano a partir do dia seguinte àquele em
que cessou o contrato de trabalho.»
A suspensão de curso é favorável ao trabalhador, mas apenas em relação a créditos
antigos, no caso de créditos recentes acaba por ser desfavorável. Por esta razão há quem
defende que aqui se devia consagrar não uma suspensão de curso, mas sim uma suspensão
de termo (livro).
12
Direito do Trabalho II
Este prazo é utilizado muitas vezes analogamente, como no caso de ações comuns, em
que não há um prazo legal previsto e utiliza-se o prazo de 1 ano após a cessação do
contrato.
Críticas feitas ao artigo 337º do CT:
«1 - O crédito de empregador ou de trabalhador emergente de contrato de trabalho, da
sua violação ou cessação prescreve decorrido um ano a partir do dia seguinte àquele em
que cessou o contrato de trabalho.
2 - O crédito correspondente a compensação por violação do direito a férias,
indemnização por aplicação de sanção abusiva ou pagamento de trabalho suplementar,
vencido há mais de cinco anos, só pode ser provado por documento idóneo.»
Esta norma fixa a suspensão de curso não só para os créditos do trabalhador como também
para os créditos da entendida patronal, havendo quem considere que não se justifica este
tratamento bilateral.
O crédito do trabalhador e do empregador, regra geral, atualmente, o prazo de prescrição
do se contabiliza no dia seguinte ao seu vencimento, tendo o prazo de um ano.
Relativamente ao número 2 do artigo, o legislador vem determinar que para créditos que
sejam muito antigas, possa em determinados casos a alei decidir que estes só serão
judicialmente exigíveis se forem comprovados por documento idóneo. Estes créditos são
violação do direito a férias, indemnização por aplicação de sanção abusiva e pagamento
de trabalho suplementar.
Suspensão do termo:
Conta imediatamente com o vencimento, portanto relativamente a este tipo de créditos
não opere sequer a suspensão de curso. Na prática, nestes casos, o trabalhador dispõe de
um prazo muito curso para reclamar o seu pagamento, relativos a créditos vencidos muito
recentemente.
09/03/2022
Privilégios Creditórios:
Artigo 330º/ 3 do CT – garantias dos créditos dos trabalhadores:
A garantia geral de qualquer credor é, perante o não pagamento do devedor, voluntário,
é o património do devedor, pois é este que responderá pelas divididas e irá satisfazer o
crédito.
Todo e qualquer bem que integre o património poderá satisfazer o crédito, mas o problema
é quando há concurso de credores, e a este propósito é usual distinguir garantias especiais,
que podem possuir caracter:
1. Pessoal (por exemplo, artigo 334º do CT);
2. Real (por exemplo a hipoteca, o penhor e os privilégios creditórios).
Os privilégios creditórios são garantias fixadas pela lei, não podendo as partes criar estes.
O seu regime vem regulado no código civil, mas eles estão dispersos por variadas
legislações.
13
Direito do Trabalho II
No caso do direito do trabalho, a norma para estes privilégios é o artigo 333º do CT, que
estabelece dois tipos de creditórios:
1. Privilégio creditório mobiliário (sobre bens moveis) geral;
2. Privilégio creditório imobiliário (sobre bens imoveis) especial.
A generalidade dos créditos do trabalhador terá como garantia este tipo de privilégios,
conforme o artigo 733º do CC.
«Privilégio creditório é a faculdade que a lei, em atenção à causa do crédito, concede a
certos credores, independentemente do registo, de serem pagos com preferência a
outros.» – em importância no concurso de crédito, pois o património que se dispõe pode
ser insuficiente para satisfazer os créditos, assim, a verdade é que há credores que
dispõem de garantias.
O privilégio creditório é uma faculdade que a lei concede a certos credores (aos
trabalhadores) de serem pagos com preferência aos demais.
Características dos privilégios creditórios:
1. São estabelecidos obrigatoriamente pela lei;
2. A atribuição de privilégio tem origem na causa do crédito;
Se um determinado credor tem um privilégio, significa que ele vai ter preferência no
preenchimento do seu crédito.
Os privilégios são mobiliários ou imobiliários, consoante incidam sobre bens moveis ou
imoveis respetivamente.
Completando a matéria teórica dos privilégios creditórios…
A lei dá proteção especial, nos termos 337 aos créditos do trabalhador, art.733 do CC. A
garantia geral das obrigações, se direito for de crédito existe possibilidade de obrigado
não cumprir e credor tem forma de reagir exigindo judicialmente esse crédito.
De que meios se pode socorrer para garantir bens? património de devedor, garantias geral
das obrigações.
Património devedor garantia principal- garantias especiais certos e determinados bens
respondem perante credor ficando outros afastados.
Privilégios creditórios- art.733 CC, garantias especiais das obrigações. Ex empresa
declara insolvência e vai encerra. Património servirá para pagar credores, para alem de
trabalhadores pode ter outros credores, bancários, estado… e levanta-se questão de saber
se património serve para estas dividas, e aqueles em primeira linha iram receber o bem
que responderá pelo seu crédito. É importante ter garantia. Art.738, 750,751, lei
estabelece regras. Lei determina que certo e determinado credor tem preferência em
relação a outros.
14
Direito do Trabalho II
creditório - artigos 733º e ss. CC - é a faculdade que a lei concede a certos credores de
serem pagos com preferência a outros, ou seja, o titular de um privilégio creditório
beneficia de uma vantagem quando concorrer com um credor que não detenha qualquer
garantia. Estipulam os artigos seguintes ao agora mencionado que os privilégios
creditórios são de duas espécies: mobiliários e imobiliários, podendo estes ser especiais
ou gerais (artigo 735, nº1 e 2 CC).
Os privilégios creditórios do trabalhador estão previstos no artigo 333º, nº1 CT:
alínea a): privilégio mobiliário geral: (engloba todos os bens móveis da empresa) -
significa que os créditos laborais prevalecerão sobre os demais créditos com privilégio
mobiliário geral e os créditos com privilégio mobiliário especial (artigo 736º e 737º CC);
alínea b): privilégio imobiliário especial: (engloba apenas o imóvel em que o trabalhador
exerce a sua prestação) - este privilégio sobrepõe-se a uma hipoteca de um banco, por
exemplo. É o artigo 333º, nº2 CT que vem graduar os privilégios creditórios, colocando
os privilégios do trabalhador à frente de quaisquer outros, mesmo da SS.
Artigos do Código Civil:
Artigo 747.º
(Ordem dos outros privilégios mobiliários)
1. Os créditos com privilégio mobiliário graduam-se pela ordem seguinte:
a) Os créditos por impostos, pagando-se em primeiro lugar o Estado e só depois as
autarquias locais;
b) Os créditos por fornecimentos destinados à produção agrícola;
c) Os créditos por dívidas de foros;
d) Os créditos da vítima de um facto que dê lugar a responsabilidade civil;
e) Os créditos do autor de obra intelectual;
f) Os créditos com privilégio mobiliário geral, pela ordem segundo a qual são
enumerados no artigo 737.º 2.
O disposto no presente artigo é aplicável, ainda que os privilégios existam contra
proprietários sucessivos da coisa.
Artigo 748.º
(Ordem dos outros privilégios imobiliários)
1. Os créditos com privilégio imobiliário graduam-se pela ordem seguinte:
a) Os créditos do Estado, pela contribuição predial, pela sisa e pelo imposto sobre as
sucessões e doações;
b) Os créditos das autarquias locais, pela contribuição predial.
15
Direito do Trabalho II
Nos grupos de sociedades, pode haver a tentação de esvaziar o patrimónios destas para
que os trabalhadores não tenham garantias, no entanto, foi estabelecido que podem o
património numa outra sociedade que integra o grupo responder por outra sociedade
apenas por integrar um mesmo grupo – princípio da autonomia patrimonial.
O artigo 1º da lei 59/ 2015 concretiza a situação económica difícil em que é admissível
recorrer ao fundo de garantia salarial.
Artigo 2º/ 4 da lei – quais os créditos pagos – é necessário salvaguardar apenas os créditos
vencidos nos eis meses anteriores.
16
Direito do Trabalho II
Alem dos descontos para a SS e apara o IRS, o trabalhador está obrigado a descontar para
estes fundos. A finalidade é criar uma verba que ajude a pagar as situações quando elas
sucedem.
Compensação – por exemplo, quando o contrato cessa o trabalhador tem direito a receber
compensação, e é desta compensação que esta lei do Fundo de compensação de trabalho
fala.
A criação destes fundos veio permitir que quando existe um despedimento, em primeiro
lugar, 50% desta compensação é paga pelo fundo de garantia de compensação salarial.
O fundo é uma antecipação do pagamento dos créditos por parte do empregador, pois ao
criar-se o fundo, o trabalhador aciona em primeiro lugar os respetivos fundos como
garantia.
Artigo 336º CT que remete para o DL 59/2015, de 21 de Abril O fundo de garantia salarial
é um fundo do Estado imposto pelo direito comunitário, o qual garante o pagamento dos
créditos que as empresas insolventes (em PER, situação económica difícil, etc.) não
conseguem pagar aos seus trabalhadores. Isto permite afirmar que para além da garantia
real em que consiste o privilégio creditório (artigo 333º CT), o direito ao salário encontra-
se ainda munido de uma espécie de garantia pessoal, através da qual uma instituição
pública responde também, em certos termos e dentro de certos limites, pelo cumprimento
da obrigação - isto está em consonância com o artigo 59º, nº3 CRP, o qual atribui garantias
especiais aos salários.
A grande vantagem é a de que o trabalhador pode acionar o fundo e o fundo antecipa
parte ou a totalidade do pagamento. Será depois o fundo que se apresentará no processo
de insolvência a exigir os créditos dos trabalhadores (exerce o direito de regresso).
17
Direito do Trabalho II
10/03/2022
Transmissão da empresa:
É uma vicissitude contratual e vem regulada no código nos artigos 285º e seguintes. A
questão que aqui se coloca tem particular importância não só no direito do trabalho como
no direito comercial.
Sempre que há a transmissão de uma empresa, no direito do trabalho, o que acontece aos
trabalhadores que antigamente desenvolviam a atividade ao abrigo de outra entidade
patronal.
18
Direito do Trabalho II
A isto designamos de sub-rogação legal (imposta por lei, não podendo desta forma ser
afastada) do adquirente (Y) na posição jurídica de empregador, que originariamente era
ocupada por Z.
Esta é uma matéria imperativa, não podendo as partes acordar se os respetivos contratos
de trabalho se transmitem ou não, pois esta transmissão é imperativa uma vez que decorre
da lei. Resumindo, não existe a possibilidade de excluir da transmissão a respetiva força
de trabalho.
Este regime resulta da diretiva comunitária 2001/ 23 CE, que regula especificamente a
matéria da transmissão da empresa, no entanto é uma norma muito densa e complexa. À
partida, o que resulta desta diretiva é o que vem consagrado no Código do Trabalho,
essencialmente.
Esta norma estabelece, por outro lado, o que entende por «unidade económica», e mais
recentemente, através da lei 18/ 2021 veio incorporar um novo nº10 ao artigo.
1
bens estes que podem ser corpóreos, incorpóreos, o pessoal, os direitos, as máquinas ou mesmo o imóvel
em si.
19
Direito do Trabalho II
1. Tem de estar em causa uma unidade económica nos termos no artigo 285º/ 5 do
CT;
2. Tem de existir uma transmissão da unidade económica;
3. O negócio transmissivo, no caso mais comum, designa-se de trespasse;
4. Os trabalhadores são transmitidos, por força da lei, junto com a unidade
económica.
No entanto, o legislador foi mais longe e faz aplicar estes artigos do negócio transmitido
a diversas outras situações que não o trespasse, tal como ocorre no artigo 285º/ 2 do CT.
Quais são os objetivos pretendidos com a diretiva, cujos objetivos se refletem no regime
do artigo 285º do CT?
20
Direito do Trabalho II
Imaginemos agora que chegamos a 2022 e o subsídio de Natal fica por pagar. O
trabalhador pode reclamar este pagamento a Y? Sim. E a Z? Não, pois a divida já foi
gerada depois da transmissão, ou seja, constituiu-se na vigência do empregador Y.
Esta modificação subjetiva da entidade empregadora acaba por, não sendo o trabalhador
ouvido quanto a essa modificação, poder obrigar o trabalhador a ir trabalhar para aquele
com quem não contratou.
A lei, tendo em conta a envolvência que ocorre na base deste tipo de transmissões, levou
estas questões ao Tribunal de Justiça da União Europeia, e nesta matéria, desde 2001, a
concretização de todos os conceitos como unidade económica, elementos pessoais, entre
outros, foram sendo apreciados casuisticamente que chegaram a este tribunal e vieram
constituir uma jurisprudência interpretativa dos conceitos da Diretiva. Foi aqui que surgiu
a questão do direito de oposição.
21
Direito do Trabalho II
Pode traduzir-se no facto do trabalhador não querer ir trabalhar para o novo empregador
e resolver por justa causa o seu contrato de trabalho.
O tribunal de justiça veio dizer que era possível, mas que a regulamentação desta matéria
devia ficar ao critério dos estado-membros.
Desde 2018, o legislador veio alterar a norma da transferência dos trabalhadores (lei
14/2018) e insertou nesta matéria o artigo 286º- A do CT.
Esta norma tem origem em situações concretas, pois os problemas que mais se
verificavam estavam na transferência de cantinas, em que na maioria das vezes era um
sujeito publico, e iria vincular um trabalhador neste sentido sendo que a função publica
deve obedecer ao regime legal de concurso.
16/03/2022
Na última aula foi visto que quando se aplica o artigo 285º do CT, havendo sempre uma
unidade económica nos termos do nº5 deste artigo, a primeira dificuldade é perceber se o
transferido foi uma empresa ou uma unidade económica.
22
Direito do Trabalho II
Direito de Oposição:
Resultou de uma análise do Tribunal de Justiça da União Europeia, tendo delegado a cada
estado que os mesmos deveriam entender este direito à sua maneira e aplicá-lo de acordo
com as suas normas e concretizações. Resumindo, o direito de oposição é aplicado
consoante aquilo que cada estado-membro entender, reservando a liberdade de
transposição para os mesmos, daí esta questão possuir diversas formas de resolução,
dependendo de cada estado-membro onde se encontre.
Apesar da flexibilidade e globalização, o contrato de trabalho não pode ser tratado como
uma transação de um bem como mercadorias ou um mero objeto, pois o trabalhador está
envolvido jurídica e pessoalmente com a empresa e o seu empregador.
Possibilidades de oposição:
2. Extinção do contrato por parte do trabalhador (demissão), que pode ser feita
através de denuncia ou resolução. A resolução pressupõe justa causa.
Artigo 394º do CT – há a justa causa subjetiva e a justa causa objetiva. Na justa causa
subjetiva o legislador vai estar obrigado a pagar uma indemnização ao trabalhador pois o
que desencadeou a resolução do contrato foi um comportamento do empregador; No caso
da justa causa objetiva, o contrato vai cessar, mas não é por qualquer comportamento do
empregador, e regra geral não haveria pagamento de qualquer importância. No entanto, a
partir de 2018 as coisas funcionam de forma diferente.
23
Direito do Trabalho II
2. Falta de confiança.
Para o Doutor Leal Amado há uma sensibilidade do legislador em garantir que a liberdade
de escolha do parceiro contratual resulta da dignidade a manter do trabalhador e não do
facto de considerar o mesmo como uma mercadoria.
O que é que o trabalhador tem de fazer para exercer oposição? Alegar prejuízo sério ou
falta de confiança no novo empregador.2
2
Acórdão de 20 de setembro de 2021 – Tribunal da Relação do Porto – António Luís Carvalhão.
24
Direito do Trabalho II
25
Direito do Trabalho II
3
Suspensão individual
4
Suspensão coletiva
5
Suspensão consensual
26
Direito do Trabalho II
27
Direito do Trabalho II
28
Direito do Trabalho II
29
Direito do Trabalho II
23/03/2022
30
Direito do Trabalho II
6
É necessário ter em conta o «ou» na leitura dos artigos, pois ele dá-nos uma opção que pode ser fulcral
para a interpretação da norma.
31
Direito do Trabalho II
7
Alterar «admissão» para «suspensão» de modo a adaptar a norma ao caso concreto.
32
Direito do Trabalho II
trabalhou de 01/ 01/ 2021 até 01/ 06/ 2021, o mesmo prestou 5 meses de trabalho, logo
irá receber por este tempo 10 dias úteis de gozo de férias (5 meses x 2 dias uteis da lei),
ficando o restante inutilizado.
Neste caso, quando o contrato cessa na sequência de um impedimento que se torna
definitivo, não se aplica o regime geral da cessação do artigo 245º/ 1 do CT, mas sim o
seu número 4.
24/03/2022
8
Estes motivos aparecem de forma mais fundamentada no artigo 359º/ 2 do CT.
33
Direito do Trabalho II
É ainda importante realçar que o Subsídio de Natal é pago por inteiro, mas a Segurança
Social só paga metade da compensação retributiva, por exemplo:
Atendendo à segunda hipótese apresentada, metade dos 800€ seriam os 400€,
correspondentes ao pago pela Segurança Social com base no artigo 306º/ 3 do CT.
Resumindo a suspensão coletiva:
A suspensão coletiva tem na sua base um impedimento que se verifica na esfera jurídica
do empregador, isto é, é o empregador que se encontra impedido de receber a prestação
de trabalho do trabalhador, seja por situação de crise empresarial (artigos 298º a 308º CT)
ou por encerramento temporário da empresa (artigos 309º a 316º CT).
Segundo o artigo 298º CT há suspensão coletiva com base em crise empresarial (chamado
lay-off ) apenas se essa suspensão (decidida unilateralmente, pelo empregador) se
verificar essencial à preservação dos postos de trabalho.
Esta suspensão deve ter uma duração previamente definida, não superior a 6 meses, prazo
que poderá ser prorrogado por mais 6 meses, mediante decisão escrita e fundamentada do
empregador (artigo 301º CT).
Pelo artigo 303º, nº1, alínea a) CT há direito ao trabalhador auferir compensação
retributiva. A este respeito acrescenta o artigo 305º CT que o trabalhador recebe 2/3 da
sua retribuição ou o equivalente ao salário mínimo (consoante o valor da retribuição).
Diz o artigo 306º CT que, na suspensão coletiva, o tempo de suspensão não afeta o
vencimento e a duração das férias. Fora do círculo de situações de grave crise empresarial,
pode ainda haver suspensão coletiva por encerramento temporário da empresa ou do
estabelecimento - artigo 309º CT. Neste caso, os trabalhadores conservam direitos em
matéria retributiva: têm direito a 75% da retribuição (se esta for superior ao ordenado
mínimo) se o encerramento temporário se ficar a dever a caso fortuito ou de força maior;
têm direito a 100% da retribuição se o encerramento se ficar a dever a facto imputável ao
empregador ou a motivo do interesse deste.
Suspensão por mútuo acordo (acordo das partes):
A suspensão consensual ou por mútuo acordo ocorre, em princípio, na licença sem
retribuição (artigo 317º, nº1 CT) e na designada “pré-reforma” (artigo 318º e ss. CT).
A licença sem retribuição determina a suspensão do contrato de trabalho com os efeitos
previstos no artigo 295º CT. Trata-se de uma faculdade discricionária das partes, isto é,
qualquer que seja o motivo subjacente ao pedido, as partes poderão determinar a
suspensão do vínculo jurídico-laboral, para tanto sendo necessário, mas também
suficiente, que nisso acordem.
As partes poderão celebrar um acordo de pré-reforma, suspendendo o contrato de um
trabalhador com idade igual ou superior a 55 anos e passando este a receber do
empregador uma prestação pecuniária mensal (artigo 318º CT). Este acordo está sujeito
a forma escrita, devendo conter, entre outras indicações, a do montante da prestação de
pré-reforma (artigo 319º CT), que não poderá ser inferior a 25 % da retribuição do
trabalhador na data do acordo (artigo 320º CT).
34
Direito do Trabalho II
9
Artigos 25º a 31º da lei 105/ 2009 de 14 de setembro (tem no código) – regula o direito ao subsidio de
desemprego nestas situações.
10
A matéria da primeira frequência sai até aqui.
35
Direito do Trabalho II
Nos números 2 e 3 do referido artigo, o regime legal pode ser alterado apenas por
instrumento de regulamentação coletiva de trabalho (autonomia coletiva).
Artigo 340º do CT: Estão elencadas de forma tendencialmente taxativa as maneiras sobre
as quais o contrato pode cessar. São tendencialmente taxativas uma vez que são aceites
outras formas, desde que estabelecidas na lei (como a denuncia do empregador no âmbito
do período experimental, por exemplo). Isto significa que normalmente, as formas
estabelecidas neste artigo são as mais frequentes de sucederem.
O despedimento e a demissão
têm em comum serem formas
unilaterais, o despedimento é
de iniciativa do empregador e
a demissão iniciativa do
trabalhador.
Caducidade: a extinção do
vinculo contratual decorre da
verificação de um
determinado facto a que a lei
associa a extinção do contrato.
Voltando à revogação:
O contrato de trabalho é um contrato consensual em que basta o acordo das partes para
que ele exista e seja plenamente valido, não tem de ser obrigatoriamente reduzido a
escrito, no entanto, a lei, nos artigos 349º e seguintes, é mais exigente nestes casos
especiais.
A extinção do vínculo contratual por revogação está sujeito a forma escrita, conforme o
previsto na lei, e se tal não acontecer, esta forma de cessação torna-se inválida.
Em bom rigor, a extinção por revogação significa que o contrato cessa porque as partes o
acordam, mas normalmente os acordos que são celebrados (rescisões por acordo) são
situações em que apesar do que leva à extinção do vinculo seja um acordo entre as partes,
muitas vezes a influencia principal destes casos vem da arte do empregador.
Muitas vezes, os acordos de revogação, na prática, são um despedimento negociado, pois
o empregador quer livrar-se do trabalhador e acabam por acordar uma forma de ambos se
entenderem e existir igualmente o despedimento, através da revogação, pois o
empregador nestas situações pode não ter justa causa para despedir, e então arranja uma
forma de dinamizar o processo propondo uma extinção do vinculo contratual ao
trabalhador.
A figura da revogação, assim, por vezes acaba por configurar um verdadeiro
despedimento, por todas as razoes elencadas acima, e deste modo existe a preocupação
em acautelar este tipo de meios de extinção do vinculo contratual.
Quais são os termos do acordo? Estão previstos? Implicam obrigatoriamente a
necessidade de pagar uma importância ao empregador? Não, pois normalmente quando
se fala em revogação por acordo, fala-se igualmente em compensação ou indemnização
36
Direito do Trabalho II
(artigo 349º/ 5 do CT), que são o preço da extinção do vinculo contratual, no entanto, esta
compensação ou indemnização não decorre da lei, têm de ser as partes a contemplar, se
não o fizerem, a mesma não é devida.
Assim, esta compensação mais não é do que um dos efeitos que as partes poderão
acrescentar ao acordo de revogação, nos termos do artigo 349º/ 4 do CT.
No fundo, o principal efeito do acordo de revogação do contrato é a extinção do contrato,
mas pode no entanto ser acompanhado de outros efeitos, estipulados pelas partes, que são,
por exemplo, a possibilidade de compensação ou a possibilidade de inclusão de um pacto
de não concorrência (artigo 136º do CT).
Relativamente à exigência de forma escrita, esta tem a ver com a proteção do trabalhador,
por um lado garantir que o acordo reflete uma vontade autentica, genuína, ponderada e
refletiva do trabalhador por fim ao contrato de trabalhador, isto é, garantir a autenticidade
da vontade do mesmo, daí ele ter que assinar e ficar com um exemplar desse mesmo
documento.
Regime da revogação:
Há exigências que a lei determina, em termos formais, tais como a data de celebração do
acordo, a data do inicio da produção dos efeitos e ainda os prazos legais para o exercício
do direito de fazer cessar o acordo de revogação.
No entanto, é possível celebrar o acordo e definir que a extinção não é imediata, tendo
assim um termo extensivo, definindo uma data para a extinção do vinculo que não
obrigatoriamente a data da celebração do artigo.
A lei determina que estas datas estejam previstas no acordo, de modo a garantir a
genuinidade da vontade do trabalhador quando o mesmo assina o acordo de revogação.
Desta forma, no fundo, evita-se que o acordo funcione como um acordo dissimulado por
parte do empregador.
Direito de arrependimento – artigo 350º do CT:
Por vezes, o trabalhador poderia, por impulso, subscrever a um acordo que depois, com a
cabeça mais fria, se venha a arrepender pois o seu rendimento depende daquele trabalho.
Para afastar as praticas do despedimento dissimulado, o trabalhador pode assinar um
acordo de revogação e vir a arrepender-se pois apercebe-se que o ato que cometeu foi
uma precipitação, arrependendo-se do mesmo e querendo restituir os efeitos do acordo,
ponto fim ao mesmo. Este direito vem consagrado nos termos previstos no artigo 350º do
CT, tendo este a disponibilidade de 7 dias para proceder ao seu arrependimento.
O trabalhador não tem direito ao arrependimento se o acordo de revogação for assinado,
devidamente atado e as assinaturas serem objeto de reconhecimento notarial.
Prazos para o exercício deste direito:
O artigo 350º/ 3 do CT obriga o trabalhador a devolver as quantias recebidas quando se
arrependa e queira revogar o acordo estabelecido, logo, o direito de arrependimento só
produzi o seu efeito se o trabalhador devolver todas as quantias que recebeu em virtude
do mesmo.
37
Direito do Trabalho II
Regra geral, a data da celebração pode coincidir com a data da produção dos efeitos,
sendo o principal efeito a extinção do contrato.
Nesta hipótese, a lei vem permitir ao trabalhador exercer o direito de arrependimento
dentro do prazo de 7 dias, podendo ainda no dia útil seguinte, através de carta registada
com aviso de recessão, estendendo deste modo o prazo inicialmente estabelecido.
Decorrido este prazo, reclute-se o direito de arrependimento.
No entanto, há casos em que ao acordo de revogação é posto um termo suspensivo, isto
é, o acordo só produzirá efeitos a partir de certa data, não coincidindo assim com a data
de celebração do mesmo.
Nesta segunda situação, os 7 dias, de acordo com a interpretação literal da lei, contam-se
da data de celebração e não da data da produção dos efeitos. O Doutor Leal Amada
sustenta que o prazo se deve contar da data de celebração quando as datas coincidem,
caso não coincidam, só faz sentido contar-se o prazo a partir da data da produção dos
efeitos.
Segundo o Doutor Leal Amado, a ratio legis deste direito de arrependimento não seria
salvaguardada se nesta hipótese o prazo de contasse da data da celebração do acordo e
não da data da produção dos efeitos.
Entende-se assim que o direito de arrependimento deve ser exercido longe do ambiente
de trabalho com mais serenidade, para poder refletir sobre o mesmo, logo não faria
sentido exercer este direito quando ainda não tinham sido produzidos efeitos do acordo.
Assim, o Doutor Leal Amado entende que a redação literal da norma deve ser objeto de
uma interpretação restritiva no sentido em que a data da celebração só deve ser contada
para prazo de arrependimento caso coincida com a data da produção dos efeitos, caso
contrária, só é contada a data da produção dos efeitos do acordo.
No entanto, na redação antiga desta norma, eram estabelecidos menos dias como prazo
deste direito, no entanto só eram contados a partir da data dos efeitos do acordo.
A partir de 2019 o legislador passou a impor que o prazo para o exercício de direito de
arrependimento deve constar do acordo de revogação, e há quem entenda que esta
formulação tem em vista dar liberdade as partes de decidirem se ao 7 dias são contados
desde a celebração, ou da produção dos efeitos.
Se o acordo for celebrado com reconhecimento presencial das assinaturas (notário) cessa
o direito de arrependimento do trabalhador. O reconhecimento notarial reconhece
garantidamente a aceitação por parte do trabalhador do acordo revogatório, e por sua vez
o notário informará e esclarecerá todos os efeitos em virtude do referido acordo.
31/03/2022
38
Direito do Trabalho II
Os créditos devidos pelo empregador por força da lei, como férias ou subsídios, não têm
de estar estabelecidos no acordo pois têm de ser obrigatoriamente pagos, a compensação
seria um valor para além do que á esteja estabelecido legalmente.
Se as partes acordam 10 000€ pela cessação de contrato, e se o trabalhador tivesse direito,
pela lei, a 3000€, o mesmo estaria a contar no final com 13 000€.
Mas a lei diz:
«Se, no acordo ou conjuntamente com este, as partes estabelecerem uma compensação
pecuniária global para o trabalhador, presume-se que esta inclui os créditos vencidos à
data da cessação do contrato ou exigíveis em virtude desta.»
Esta presunção aplica-se quando a compensação é acordada e essa compensação é de
caracter pecuniário global, no qual já estariam incluídos os créditos em divida.
Quando a lei consagra na compensação pecuniária global, pensa nas situações de
revogação do contrato de trabalho, logo, no exemplo dado a cima, nos 10 000€ já estariam
incluídos os créditos em divida.
Se no contrato vier que o trabalhador tem direito a uma compensação pecuniária global
de 20 000€, a lei, através da presunção, já inclui aqui os créditos em divida ao trabalhador.
Na pratica, quando assina o contrato, o trabalhador pensa que fora a compensação, ainda
recebe os créditos, e pode ser surpreendido com o facto de não lhe ser devido, extra, estes
créditos, por via da referida presunção, que é ilidível uma vez que esta é a regra das
presunções do código civil (artigo 350º do CC – se nada for dito, as presunções são
consideradas ilidíveis mediante prova em contrato).
Assim, o trabalhador tem de fazer prova de que a compensação negociada não incluía os
créditos, no entanto, esta prova é particularmente difícil. Nestes casos, como pode o
trabalhador reagir? A única alternativa é exercer, desde que atempadamente, o direito de
arrependimento.
O trabalhador tem forma de clarificar que a compensação não inclui os créditos? Sim, é
uma questão de redação do acordo, pois se for determinado o direito a compensação para
além dos créditos, percebesse que a mesma não tem o caracter pecuniário global.
Conclui-se assim que deve haver aqui um particular cuidado do trabalhador quando
subscreve acordos de revogação.
Muitas vezes quando o contrato cessa, o empregador passa ao trabalhador uma declaração
para o mesmo assinar em que nada mais lhe é devido, e esta questão é muito pertinente,
pois por vezes o trabalhador mais tarde apercebesse que recebeu menos do que aquilo que
lhe é devido, logo, é necessário um particular cuidado sobre a mesma declaração tem um
caracter de quitação (que estabelece o recibo de todas as quantias devidas e pagas) ou de
remissão/ perdão (na qual há uma indicação clara e expressa de que o trabalhador aceita
renunciar de determinadas quantias que ainda não recebeu e acaba por abdicar).
Quando os contratos cessam por revogação, regra geral, o trabalhador não vai ter acesso
ao desemprego, pois um dos requisitos base para este acesso é o desemprego ser uma
39
Direito do Trabalho II
40