9156-Texto Do Artigo-28387-1-10-20191211
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Resumo
O presente trabalhado discute a participação das mulheres negras nas esferas representativas da política
partidária institucional brasileira, apresentando um debate entre os significados de representação e
representatividade no contexto da política liberal democrática e a definição de lugar de fala como meio legítimo
de emancipação, exercício da representatividade e disputa de poder político. A partir da discussão desses
conceitos, as experiências políticas das mulheres negras são situadas em contextos históricos diferenciados,
demonstrando que os modos do agir político feminino e negro se valem de estratégias de luta e resistência que
remontam ao período da escravidão até os dias atuais. Nesse sentido, apresentaremos as experiências de atuação
política e estratégias criativas de atuação das mulheres negras em cargos legislativos que se fundam nos sentidos
de lugar de fala e representatividade, como são o movimento social “Muitas” e a experiência da “Gabinetona”.
Palavras-chave:
Feminismo negro; Representatividade; Lugar de fala; Democracia representativa.
Abstract
This study is to understand/identify the importance of the Youth and Adult Education – EJA, for students of the
EJA, the State Institute of Education Sapiranga/RS. This study aimed to know in pedagogical practices and what
are the main reasons for returning to school. This study uses a quantitative approach literature and conducting a
study through a questionnaire with 83 students of the EJA. It is noticed that most of the students to return to the
education system, through EYA crave a rescue of the study, with the purpose of improving pay and the quality of
life. Finalizing believes in the potential growth of your prospects in relation to teaching, for that we have the
cooperation, encouragement and motivation of school staff, especially teachers.
Key-words
Black feminism; Representativeness; Standpoint; Representative democracy.
1 A frase que dá título a esse artigo é de Jurema Werneck (2009), em “Nossos passos vêm de longe!: movimentos
de mulheres negras e estratégias políticas contra o sexismo e o racismo”. O presente trabalho foi realizado com
apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES).
Introdução
Começamos nossa reflexão com uma pergunta, que será o norte de nosso diálogo: o que
significa ser representado? As respostas são múltiplas no escopo da prática política e das
ciências sociais. Ser representado, em um sentido amplo, é ser visível. É ter existência. Pensar
na representação de um segmento é, assim, pensar em diferentes camadas ou dimensões de ser
e de estar. Aquele que não é representado é, nesse sentido, invisibilizado em ao menos três
dimensões: a subjetiva, a cultural e a política.
Em sua constituição subjetiva, o sujeito não representado é aquele que tem dificuldade
em se reconhecer naquele outro posto como padrão, a partir do qual as demais existências serão
avaliadas e hierarquizadas. O sujeito negro não-representado só tem como espelho – como ideal
social - o branco. Assim vão se constituindo as nossas máscaras brancas de que nos fala Fanon
(2008). Essa hierarquização das representações a partir do padrão branco cria um sujeito
inferiorizado, que tenta adquirir seu reconhecimento a partir desse lugar estranho e negado a
ele. E dessa dinâmica de dominação imposta pelas estruturas e relações racistas, surge o sujeito
colonizado, alheio a si mesmo, à própria história e à própria cultura (FANON, 2008).
É nesse sentido que podemos compreender também a dupla identidade de que nos falam
DuBois (1999), Hall (2003), Gilroy (2012). A população negra que passou pelos processos de
colonização, escravização e de hierarquização étnico-racial que resultaram no racismo
estrutural próprio dessas sociedades colonizadas, formam suas subjetividades inscritas nas
relações de poder, construídas pela diferença, interpretada em uma chave negativa. Ser
representado, nesse sentido, é ser libertado dessa forma patológica de ser.
Ser ator da própria história é ser político. No campo da política, a esfera de ação,
planejamento e concretização das agendas e dos desejos, ser representado é ser agente da
própria história e da cidadania. É, em vez de apenas pleitear uma política voltada para si,
também realizar a própria política. A exclusão sistemática de alguns grupos expõe o caráter
hierarquizado da democracia, mantendo-os numa condição de sub-representação e de
marginalidade no debate público, na construção de normas e políticas públicas. A mulher negra,
de todos os segmentos sociais marginalizados pelo sistema político, é a que mais sofre a sub-
representação político-partidária nos espaços institucionais de poder.
Falar de representatividade negra e feminina é falar de uma vida de luta para ser
respeitada como mulher e negra. É falar de um exercício diário para acabar com a objetificação
de seu corpo e sua transformação em sujeito de direitos. Desta maneira, a ação de ocupar todos
os espaços deve ser entendida como um ato político. Entretanto, o próprio sistema político e os
pressupostos tradicionais da democracia liberal representativa podem se apresentar muito
mais como um entrave que como oportunidade para a mulher negra. A luta política do
feminismo negro é, desse modo, postular um novo paradigma de representação que supere a
impossibilidade da mulher negra de se impor como ser social e político, haja vista o desrespeito
à sua existência.
A democracia representativa mudou o foco sobre quem são políticos, para o que eles
representam. Nesse sentido, a qualidade de representação não estaria mais em relação às
qualidades intrínsecas àquele que representa, mas passa a depender da existência de
mecanismos efetivos de responsabilização, que vinculem em certa medida os políticos eleitos e
as opiniões que eles dizem representar. Sobre esse esquema representativo, afirma Phillips
(2001):
Mas, e quando as preferências dos eleitores são aquelas que dizem respeito às pautas
diretamente relacionadas, por exemplo, ao gênero, sexualidade, raça ou etnia? Seria suficiente
debater a representação restrita ao campo das “preferências”? O que significa ser representado
nesses casos?
Há situações de exclusão (social, política, econômica, etc.) que demandam não só ideais,
mas presença política. E essa presença tem sido cada vez mais reivindicada no espaço político:
“Nesse importante reenquadramento dos problemas da igualdade política, a separação entre
quem e o que é para ser representado, bem como a subordinação do primeiro ao segundo, está
em plena discussão. A política de ideias está sendo desafiada por uma política alternativa, de
presença” (PHILLIPS, 2001, p. 272).
O que demanda em termos de presença são tipos de diversidade que implicam outro tipo
de igualdade; um que seja pautado pelo respeito à diferença. Em busca de igualdade material
redistribui-se bens, oportunidade e riquezas. Mas não há como redistribuir elementos ou
qualidades singulares tais como gênero, sexualidade, raça, cor ou etnia de modo a tornamo-nos
todos mais iguais (PHILLIPS, 2001). E tampouco é esse o desejo dos sujeitos. Aliás, sempre que
tal propósito foi perseguido, o que tivemos como resultado foi o apagamento, a violência, a
manutenção das desigualdades ou mesmo o extermínio do “desigual”.
Não basta mais que a diversidade seja intelectual. Ela deve estar enraizada também nas
experiências, nas culturas e nas identidades que, em certa medida, espelham aqueles que são
representados. Nas palavras de Phillips (2001)
No entanto, afirma o autor, são muitos os políticos negros que se articulam formal e
informalmente nos partidos e demais instituições político-governamentais para defender
pautas antirracistas e pleitear os direitos da população negra2 (JOHNSON, 2000).
É através dessa chave interpretativa que podemos pensar a atuação política feminista
negra. Afiliamo-nos ao que afirmam Phillips (2001) e Johnson (2000), e nesse sentido estamos
nos referindo ao potencial tanto substantivo quanto descritivo dessas representações.
Na Câmara dos Deputados há mais diversidade: dos 513 deputados federais, 385
consideram-se brancos (75%), 104 pardos (20,2), 21 pretos (4,09%) e 2 amarelos (0,38%). Vale
destacar ainda que em 2018 foi eleita pelo estado de Roraima a primeira mulher indígena na
história da Casa, a deputada federal Joênia Wapichana, pelo partido Rede (TSE, 2018).
Esse cenário nos revela que a disputa político-partidária – esse espaço público que ainda
é reconhecido como locus masculino no Brasil - é um ambiente árido e hostil à concorrência
feminina, prejudicando seriamente a representatividade desse segmento nas esferas
institucionalizadas de disputa de agenda e poder políticos. Quando agregamos a raça ao gênero,
o abismo das desigualdades se apresenta ainda mais profundo.
Nas eleições para a Câmara dos Deputados de 2018, o número de mulheres negras
passou de 10 para 13 representantes. No Senado, duas candidatas eleitas se autodeclaram
pardas, assim como 12 dos eleitos homens. Em relação à Câmara, foram eleitos 113 homens
negros, um aumento de 20 representantes em relação à 2014 (TSE, 2018). No total, entre
mulheres e homens negros, temos 140 representantes negros no Congresso Nacional, o que
equivale a cerca de 25% do poder legislativo federal. Sem dúvida, esse número é um avanço em
relação à 2014, quando quase 80% do Congresso Nacional era branco. Esse quadro, no geral, se
repete nas casas parlamentares estaduais e municipais. Cabe ressaltar ainda que, segundo
2 Tendo como referência a inauguração da república, podemos afirmar que a ação dos políticos negros, nesse
sentido, acontece desde o início do período. São vários os exemplos ao longo da história. Manoel da Mota Monteiro
Lopes, filho de operários, nascido em Recife em 1867, foi eleito e empossado deputado federal em 1909, defendo
pautas a favor do proletariado e contra a exclusão por preconceito de raça, especialmente nas escolas. Abdias do
Nascimento, um dos fundadores do Teatro Experimental do Negro (1944-1961) e do Ipeafro - Instituto de Pesquisa
e Estudos Afro-Brasileiros (1980), foi deputado federal de 1983 a 1987, senador da República de 1997 a 1999, e
grande defensor da cultura e da igualdade para a população afrodescendente no Brasil. Mais recentemente
podemos citar a atuação da ex-governadora do Rio de Janeiro e atualmente deputada federal Benedita da Silva.
Não podemos deixar de citar também Marielle Franco, vereadora municipal do Rio de Janeiro cruelmente
assassinada no dia 14 de março de 2018. O crime segue em investigação.
dados do TSE, do total de 28,1 mil pessoas inscritas para concorrer aos cargos de deputado
estadual, deputado federal, senador, governador e presidente, 46% são negros. Os brancos
representam 53%, os amarelos (com descendência asiática) são 0,6% e os indígenas são 0,5%
(Ibidem, 2018). Não custa lembrar também que, conforme os dados do último Censo do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010), somos uma população composta
por 47,7% de brancos, 7,6% de pretos e 43,1% de pardos, 1,1% amarelos e 0,4% indígenas. As
eleições legislativas, por serem eleições proporcionais, são o termômetro da representação no
campo da política institucional, é no poder legislativo que, em tese, estarão representados e
serão debatidos os interesses dos segmentos diversos da sociedade.
A baixa presença e mesmo a ausência, em muitos casos, das mulheres em cargos eletivos
e de primeiro escalão, no âmbito estatal, não significa que não atuem politicamente, mas, sim,
que essa atuação é dificultada e, quando existente, ocorre em ambiente político historicamente
masculino, em que predominam brancos e proprietários.
experiências singulares de mulheres negras que dialogam, em sua proposta teórica e em sua
prática, com os objetivos e princípios do feminismo negro.
Diante desse quadro podemos nos perguntar: as mulheres pretas e pardas estão sendo
representadas? É possível disputar poder e representatividade nessa esfera institucional? O que
percebemos é que a mulher negra tem voz política, mas que precisa de estratégia para ser
reconhecida. E as últimas eleições legislativas brasileiras trouxeram algumas experiências
marcantes nesse sentido.
Segundo Ribeiro (2017), o conceito de lugar de fala modifica, assim, a natureza histórica
e epistemológica do discurso classista. Antes, na tradição marxista, a condição de trabalhador
era considerada universal ou potencialmente universal porque o avanço do capitalismo
proletarizava a todos e do sentido desse processo advinha a sua força epistemológica e o seu
lastro material: a perspectiva dos trabalhadores era uma perspectiva universal. Quando a
condição de trabalhador passa a ser concebida como um lugar de fala, a partir da sua posição
periférica, ela passa a ser vista como (mais) uma especificidade. De certa maneira, a reflexão
sobre o lugar de fala reconhece a força persuasiva deste tipo de argumento, a aceita e a reverte
no contexto da luta social no campo discursivo. Ela ressignifica o argumento daqueles que
desqualificam quem enuncia, que ao invés de se deter no teor desse argumento, transformam a
desqualificação preconceituosa em qualificação do discurso de luta socialmente situado. Ou
seja, pela perspectiva interpretativa do lugar de fala, o discurso do subalterno o qualifica
justamente por ter experiência direta, autenticidade e conhecimento de causa (ALCOFF, 1991).
Essa posição, contudo, precisa ser problematizada, levando-se em conta o perigo e a
responsabilidade implícitos na tentativa de “falar no lugar de outras pessoas”. Pressupõe-se,
desta maneira, um questionamento: isso vai permitir a emancipação ou o fortalecimento
(empowerment) das pessoas oprimidas? Alcoff (1991) destaca a necessidade dessa constante
auto-avaliação, por entender que a prática de falar pelos outros frequentemente nasce do desejo
de domínio, para privilegiar a si mesmo como alguém com um melhor entendimento da verdade
sobre a situação do outro, complementando que o efeito da prática de falar pelos outros pode
ser identificada, continuamente, mas nem sempre, como apagamento e reinscrição das
hierarquias sexuais, nacionais e de outros tipos.
Collins (2016) nos introduz no debate sobre a teoria do ponto de vista através do
conceito de outsider within, afirmando que o conhecimento é sempre posicionado. A ênfase
dada pela autora é o potencial que esse lugar específico confere às mulheres negras de proceder
a uma leitura inédita e singular sobre a própria realidade. Esta experiência sugere que certos
temas característicos sejam proeminentes do ponto de vista destas mulheres, o que também é
defendido por Hooks (2015) quando afirma que:
É importante ainda destacar que, ao demandar o lugar de fala na esfera política, ou seja,
que a representatividade possa se realizar por aqueles que compartilham mais que as
preferências intelectuais, e que também dividam origem, história, experiências, características,
entre outros, não está se advogando em prol do silêncio do outro. O que as vozes feministas
negras pleiteiam são condições igualitárias de reconhecimento, respeito, participação e disputa.
Ora, em qual momento histórico os grupos marginalizados tiveram algum tipo de poder
estrutural capaz causar o silenciamento do único grupo que goza do direito de ser sujeito nessa
sociedade desde o período colonial?
O feminismo negro, nesses termos, se torna então uma via de discussão importante para
se problematizar os espaços de representação política, questionando-se como o movimento
feminista negro identifica seu lugar de fala e de quais formas acessa os espaços de participação
política?
No período pós-abolição, as mulheres eram parte integrante dos movimentos negros que
se organizavam e lutavam por sua ação e voz. Em São Paulo, na década de 1930, a ativista da
Frente Negra Brasileira3, Adelina Campos Melo, foi uma das principais fundadoras da primeira
associação de empregadas domésticas de que se tem registro no país. Em 1950 foi fundado o
Conselho Nacional da Mulher Negra (WERNECK, 2009). Nas décadas de 1970-80 as mulheres
negras que atuavam dentro dos movimentos organizados, sejam os movimentos feministas,
sejam os movimentos negros, lutavam sempre pelo seu espaço: na condição de negras, em um
espaço de feminismo majoritariamente branco, especialmente contra um ideal universal de
mulher; e na condição de mulher, na luta contra o sexismo no bojo dos movimentos negros
(GONZÁLEZ, 2011).
Werneck (2009) ainda nos chama a atenção para as organizações e coletivos de mulheres
atuantes no campo cultural, em especial na produção do samba:
Claros que não estamos afirmando, como bem nos recomenda Werneck (2009), que há
um sentido de continuidade histórica nesses movimentos apontados como ilustração. Não há
sequer um sentido de continuidade regional, já que tratam-se também de exemplos de
localidades diversas. Mas o que se ressalta são os elementos persistentes de organização e
atuação política das mulheres negras, bem como a forma criativa e variada de sua expressão. E
se as mulheres negras se organizam tanto e há tanto tempo, por que não se escutam essas vozes?
Com essa questão Werneck (2009) denuncia os mecanismos das estruturas racistas e sexistas
que excluem as mulheres negras de variados espaços de disputa de poder.
3 Entidade fundada em São Paulo, em 1931, que se expandiu para vários estados brasileiros, formando,
posteriormente um partido político (1936). Tinha por missão a luta contra o preconceito através da valorização
da população afro-brasileira voltada a sua integração à sociedade (embora de maneira sobre as quais podemos
hoje refletir com olhares mais críticos), atuando em campos diversos como educação (fundou, inclusive, uma
escola), assistência social, cultura e política. Foi extinta a partir da instituição do Estado Novo em 1937.
4 Vide website do movimento: https://www.somosmuitas.com.br/#
disputar vagas no legislativo municipal, toda a construção de quem deveria se candidatar, até o
modelo de campanha e o exercício do mandato, eram pensados como um processo coletivo.
Como dito, tudo começou em 2015. Após intenso diálogo e escuta dentro do movimento,
foram apresentadas, nas eleições de 2016, 12 candidaturas à Câmara de Vereadores de Belo
Horizonte, que se somaram a outras 19 candidaturas da Frente de Esquerda BH Socialista. Essas
candidaturas pactuaram princípios comuns, como a redução de privilégios, a radicalização
democrática, a representatividade de gênero e a étnico-racial. Foi feita uma campanha
voluntária, colaborativa, com poucos recursos financeiros e muito engajamento. A
expressividade do resultado, tendo Áurea Carolina, uma mulher negra, atuante em movimentos
de juventudes e gênero, com sua votação expressiva, e também com eleição de Cida Falabella,
diretora e atriz de teatro, engajada na cultura a partir de uma atuação na periferia da cidade, já
aponta para uma vontade da mudança.
Em 2018, em outra campanha coletiva, Áurea Carolina foi eleita deputada federal e
Andréia de Jesus, deputada estadual. Com esse resultado, inaugura-se uma nova experiência,
um mandato coletivo em três esferas do Legislativo. A Gabinetona passa a ser representada no
município pelas vereadoras Cida Falabella e Bella Gonçalves; por Andréia de Jesus na
Assembleia Legislativa de Minas Gerais; e por Áurea Carolina na Câmara dos Deputados, em
Brasília.
5 Vide https://gabinetona.org/#gabinetona
municipal é composta por 40 (quarenta) pessoas. Dessas, 25 (vinte e cinco) são mulheres. Mais
da metade do gabinete é composto por pessoas negras (vinte e quatro pardos e pretos), uma
indígena, 14 (quatorze) LGBTIQs, 13 (treze) jovens e 5 (cinco) moradoras de ocupações
urbanas.
Considerações finais
Além da questão da representação, que nem sempre se traduz em representatividade, há
também considerável distância entre a agenda levada pelas mulheres ao âmbito estatal, por
meio dos dispositivos e espaços de participação institucional, e as leis e políticas de fato
implementadas. Os movimentos, no processo de ampliação de sua participação, se adaptam às
vicissitudes do sistema político, e esse sistema segue em reação às tentativas de inovação e
quebras paradigmáticas. A mobilização sem representantes eleitos para defender as pautas de
minorias políticas encontrará sempre diversas barreiras. O controle sobre a agenda e a
possibilidade que alguns grupos têm de barrar a entrada de temas e perspectivas no debate
público e nos espaços decisórios continuam sendo um problema central.
A expressão que utilizamos como título para este artigo vem entre aspas porque é uma
citação de Jurema Werneck6, uma das vozes que nos inspira a seguir com o diálogo proposto e
com a política – seja entendida institucionalmente, ou tomada em seu sentido mais amplo -
como proposta de emancipação feminina negra. Werneck (2009) afirma que a fala de uma
6 Jurema Weneck, nascida no Morro dos Cabritos, em Copacabana, ser formou médica, comunicadora social, é
ativista pelos direitos humanos e das mulheres negras, fundadora da ONG Criola (1992) e atualmente é Diretora
Executiva da Anistia Internacional Brasil.
mulher negra é a fala, também, da sua ancestralidade. Como diz a autora, são passos que vem
de longe.
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