Modelos Planetarios I 5
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TÓPICO
MODELOS PLANETÁRIOS I
Enos Picazzio
5.2Geocentrismo
A proposta do geocentrismo baseava-se essencialmente em dois princípios: o da excelência
dos movimentos circulares (posteriormente contestada pela primeira lei de Kepler) e o da
inalterabilidade do cosmos (possibilidade da representação dos movimentos cíclicos por
meio de movimentos em forma de círculos idênticos), que Tycho Brahe colocou em
discussão ao observar a explosão de uma supernova, em 1572.
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4 Licenciatura em Ciências ·
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5.3Heliocentrismo
5.3.1 Órbitas circulares (Copérnico)
Tycho Brahe, dinamarquês de família nobre, viveu entre os anos de 1546 e 1601. Ele estudou
nas Universidades de Copenhagen e Leipzig e posteriormente em universidades alemãs. Foi
nessa época que surgiu seu interesse pela Astronomia e pelo desenvolvimento de
instrumentos astronômicos. Neste aspecto, o seu trabalho foi importante também por ter
desenvolvido uma metodologia de calibração e checagem periódica da acuidade desses
instrumentos. Ele é consi- derado o maior astrônomo observador da era pré-telescópica.
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Em 1563, a observação de uma conjunção entre Saturno e Júpiter foi considerada mais
tarde por Tycho como o momento de definição pela carreira de astrônomo. Em 1572, ele
observou uma supernova (morte explosiva de uma estrela de grande massa) na constelação
Cassiopeia. Como o modelo aristotélico ptolomaico implicava a imutabilidade celeste, a
supernova teria que ser interpretada como um fenômeno que ocorresse na única esfera sujeita a
mudanças, a sublunar. Ao tentar determinar a distância da supernova, observada por ele
durante cerca de um ano e meio, Brahe notou que ela apresentava paralaxe (diferença na
posição aparente de um objeto visto por observadores em locais distintos), o que o levou a
concluir que a estrela estava além das esferas dos planetas, na esfera das estrelas fixas. Ele
publicou a descoberta em 1573 no livro De nova et nullius aevi memória prius visa stella (Sobre
a nova e nunca antes vista estrela), que incluía uma seção sobre as significações astrológicas da
estrela e a introdução de um calendário astrológico.
Com o apoio do rei dinamarquês Frederick II, em 1576, Brahe construiu na ilha de Hven
– hoje território sueco – o maior observatório de sua época, e o denominou Uraniborg
(Cidade do céu). Ele o dotou de instrumentação potente e moderna para a época, algumas
das quais projetadas por ele próprio, tais como, quadrantes murais, sextantes, esferas armilares,
esquadros e gnomos, todas elas com escalas graduadas enormes para permitirem maior precisão
nas medidas. Seu observatório tornou-se um centro de visitações dos estudiosos da época, de
modo que Tycho Brahe foi responsável pela formação de toda uma geração de astrônomos
observadores. Em 1577, Tycho Brahe mediu a paralaxe de um cometa e determinou sua
distância em aproximadamente 230 raios terrestres (3,8 vezes a distância da Lua),
assolando com isso a crença de que os cometas tinham natureza atmosférica. Com este
caso, somado ao da su- pernova, Brahe colocou em questão a ideia aristotélica da divisão
entre os mundos sublunar e supralunar, crítica essa retomada por Galileu. Além disso,
Tycho mostrou que os cometas moviam-se entre as esferas celestes, contribuindo para a sua
eliminação do sistema celeste, o
que ocorreu entre os anos de 1575 e 1625.
Contudo, apesar de a eliminação da divisão entre os mundos sub e supralunar contribuir
para o heliocentrismo de Copérnico, assim como outros astrônomos do período,Tycho
refutava o sistema copernicano. Sua posição tinha coerência com suas observações: se a Terra
circulava o Sol em uma órbita, como propunha Copérnico, nós deveríamos notar um
deslocamento anual (paralaxe) nas posições das estrelas fixas da esfera. Essa paralaxe era
imperceptível nas observa- ções, logo a Terra estava no centro. Para resolver o impasse,
Brahe propôs um sistema híbrido: os cinco planetas conhecidos orbitavam o Sol (como dizia
Copérnico), mas este, juntamente com a Lua, orbitava a Terra (mantendo a física aristotélica, a
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dos cuidados de Brahe com o uso dos instrumentos, comparando-os uns com os outros e
corrigindo erros, ele considerou que a refração (mudança na direção da luz ao passarem pela
atmosfera) era desprezível para alturas acima de 70°, o que, sabemos hoje, acarretou
enganos. De todo modo, vale ressaltar que a precisão alcançada (de menos de um minuto de
arco) só foi superada após a invenção do telescópio.
Devido a desentendimentos com o novo rei, em 1597, Brahe deixou a Dinamarca,
levando consigo seus instrumentos e livros. Depois de dois anos de viagem, mudou-se para o
castelo de Benatky, nas imediações de Praga, e passou a trabalhar como matemático oficial
do imperador Rodolfo II. Em 1600, ele convidou Kepler, que já tinha feito fama de excelente
matemático, para ser seu assistente e calcular as órbitas planetárias a partir de suas observações.
O maior legado de Brahe foi sem dúvida o conjunto de medidas coletadas ao longo de
décadas de observação. A precisão obtida por Brahe era em média 10 vezes maior que a do
Almagesto.Tycho Brahe faleceu
em 1601, tendo seus instru-
mentos guardados e eventu-
almente extraviados. Kepler
foi empossado no cargo de
matemático imperial – su-
cedendo Brahe na tarefa de
calcular e publicar as
Tabelas Rudolfinas, com a
previsão das posições dos
planetas – posto que ocupou
por 11 anos. Os dados
astronômicos levanta- dos
por Tycho foram usados por
Kepler para deduzir as leis do
movimento planetário.