Oc SNC Sep 0116
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Rua Sete de Setembro, 111/2-5º e 23-34º Andares – Centro – Rio de Janeiro - RJ – CEP: 20050-901 – Brasil
OFÍCIO-CIRCULAR/CVM/SNC/SEP/n.º 01/2016
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Aplicável quando a adoção de alguma norma colide com a representação adequada da realidade econômica. Nesse
caso, a realidade econômica deve prevalecer e a norma deixa de ser aplicada.
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Livne, G.; McNichols, M. An Empirical Investigation of the True and Fair Override. Working paper AAA Annual
Meeting, 2002.
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“The greater the support for the standard, the larger the cost of the departure”. Como custos envolvidos são
enumerados: investigação por parte do supervisor de compliance contábil, FRRP – Financial Reporting Review
Panel; conflitos com auditores independentes; penalização por parte de analistas de mercado via redução de preços
alvo; litígio com investidores institucionais, entre outros.
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“The finding that more costly overrides are invoked by firms with weaker financial performance suggests that UK
managers have used the flexibility available to them for reasons not intended by the rules. (...). In contrast, firms
invoking an override to avoid amortization of goodwill or depreciation of investment properties do not provide less
informative financial statements.”
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Telles, S.V. et al. True and Fair Override: Características da sua adoção prática. Revista Fipecafi. Set. 2015. p. 36-
50.
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2. Operações de “forfait”
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Termo cunhado por representante do Office of The Chief Accountant de USSEC, em palestra proferida na
Conferência Nacional de 2004 do AICPA. “securitization of accounts payable”.
(https://www.sec.gov/news/speech/spch120604rjc.htm)
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“Grande empresa busca crédito para blindar fornecedores”. Jornal Valor Econômico. 12.01.2016.
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É importante analisar os efeitos nas datas de corte (ITRs), pois o AVP e as apropriações podem ter impacto
material e por consequência relevante.
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Esse é um arranjo que pode ter outras variantes, como por exemplo a holding vendendo participação na sub
holding, que por sua vez detém participação na companhia operacional.
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Também aqui pode haver outras nuances. O FIP pode ser lançador de uma opção de compra (call) para o
vendedor da participação societária, cujo exercício seja motivado por uma cláusula de compulsão econômica. Ou o
FIP pode adquirir (tornar-se titular) de uma opção de venda (put) sobre a mesma participação societária adquirida,
cujo lançador seja a companhia holding ou subholding.
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Preço de compra atualizado pela variação do CDI mais um spread e descontado de dividendos distribuídos e
recebidos pelo FIP durante o período em que a participação foi detida.
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Mais uma vez cabe advertir que poderá haver outras nuances; outros arranjos contratuais. Por exemplo, a holding
ou subholding poderá ter preferência na recompra da participação societária, fato também que é irrelevante para
definição do tratamento contábil a ser dado à operação.
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Tem-se conhecimento também de operações similares com CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio),
por meio dos quais são feitos determinados arranjos contratuais que promovem o surgimento de um “patrimônio
fiduciário” (uma entidade econômica, sem CNPJ), nos moldes de um “SILO” (IFRS 10).
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Importante ressaltar que a nomenclatura a ser dada às diferentes classes é irrelevante para o tratamento contábil
aqui tratado, devendo prevalecer sempre a essência econômica observada.
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Nesse contexto, os recebíveis da companhia são adquiridos pelo FIDC, descontados por
uma taxa contemplando um spread que reflete o risco de crédito. Além disso, por meio de
subscrição de quotas subordinadas “júnior” por montante superior à perda histórica com a
carteira, o cedente está fornecendo garantias à operação.
Portanto, no caso em tela, em essência, o cedente continua retendo os riscos
advindos da carteira de recebíveis e auferindo os benefícios econômicos por ela gerados, ainda
que a cessão de direitos creditórios seja feita sem coobrigação ou sem direito de regresso.
Ademais, há ainda um envolvimento contínuo do cedente com a transação, uma vez que
a remuneração das quotas seniores e “mezanino” se dá por uma taxa pós-fixada e, no caso de a
carteira de crédito do FIDC performar sem a ocorrência de inadimplência, parte da remuneração
retorna ao cotista subordinado, no caso, a companhia cedente, pela própria relação existente
entre as classes de cotas do FIDC, conforme discorrido acima.
Ante o exposto, conclui-se que, para uma venda definitiva de recebíveis, o cedente
não pode ter qualquer gerenciamento, envolvimento, ou acerto futuro com os títulos
vendidos para o FIDC. Não pode estar exposto aos riscos advindos do ativo alienado e
tampouco pode auferir os benefícios econômicos por ele gerados. Não deve haver, pois, o
“desreconhecimento” do ativo (recebíveis) pela companhia cedente, sendo necessário o
reconhecimento do passivo correspondente aos recursos angariados com a transferência dos
recebíveis para o FIDC.
4. Aplicação do Conceito de “Compulsão Econômica”
Tem sido observado, entre alguns agentes, o entendimento de que a compulsão
econômica não deveria ser levada em consideração para fins de enquadramento de passivos
financeiros no âmbito da distinção entre elementos de passivo e de patrimônio líquido. Tal
entendimento residiria em suposta manifestação do IFRIC, em consulta formulada para o
referido comitê interpretativo no ano de 2006 (IASB Update June 2006, p. 4).
As áreas técnicas realizaram pesquisa nas posições do IFRIC e concluíram que não
houve manifestação alguma do IFRIC em 2006, mas sim foram reportadas ao Board do
IASB as discussões levadas a efeito pelo comitê interpretativo, que, ressalta-se, não cria
normas.
Assim, no âmbito do IASB Update June 2006, o Board do IASB asseverou que:
(1) para fins de qualificação de um item como passivo financeiro, devem ser consideradas
obrigações contratuais estabelecidas explícita ou implicitamente (compulsão econômica),
por meio de condições e termos do instrumento financeiro. Assim, a compulsão econômica,
por si só, não pode ser utilizada isoladamente para fins de enquadramento de um item de
passivo; (2) a IAS 32 requer uma avaliação da substância econômica do arranjo contratual.
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Por sua vez, a IAS 32 (RedBook, “consolidated with full early application”, 2015),
em seu §20, trata da compulsão econômica na qualificação de um Passivo Financeiro, ao
definir obrigações diretas e indiretas em termos e condições contratuais. Na seção “Basis for
Conclusions”, §BC9, o Board do IASB deslinda a controvérsia advinda do dispositivo
mencionado. Em linhas gerais, o Board admite o entendimento vigente de que um
instrumento financeiro pode estabelecer uma obrigação indiretamente por meio de seus
termos e condições (“Implicit obligations”, §20).
Não parece fazer sentido econômico que os eventos que caracterizem uma obrigação
de fato sejam contratualmente transformados em direitos e qualificados como faculdades
sujeitas ao livre arbítrio do emissor. Como exemplo, destaca-se o caso em que a obrigação de
entregar caixa para satisfazer o pagamento de dividendos ou juros passa a ser uma opção a
ser exercida pelo emissor. Nessa situação, o titular do valor mobiliário estaria correndo
riscos sem um prêmio em contrapartida.
Interessante também trazer à luz o “staff paper” produzido pelo corpo técnico do
IASB, datado de 18-22 de março de 2013, intitulado: “Guidance to support the definition of a
liability— economic compulsion, constructive obligations and contractual obligations”.
Da leitura do “staff paper”, duas são as conclusões: (1) alguns agentes de mercado
estão incentivando emissores a tratar instrumentos de dívida como títulos patrimoniais,
classificando-os no Patrimônio Líquido - PL, distorcendo com isso a realidade econômica a
ser reportada; e (2) tal procedimento, ao que parece, está no radar do corpo técnico do IASB.
Conforme já salientado no Ofício-Circular CVM/SNC/SEP/n. 01/2013, as áreas
técnicas da CVM têm grande preocupação com essa questão, distinção entre item de passivo
e de PL, sobretudo considerando a criatividade, qualidade e sofisticação de novos produtos
financeiros, sejam eles enquadrados como Instrumentos Financeiros Compostos15 ou não.
Essa prática é observada particularmente no momento atual em que algumas companhias
apresentam alto grau de endividamento, os custos para captar estão altos e a redução do nível
de atividade econômica é uma realidade. Há, portanto, um ambiente propício para que
emissores pratiquem o já denominado “gerenciamento de estrutura de capital”, procedimento
considerado irregular.
5. Testes de “impairment”
As expectativas de mercado para o ano de 2016, conforme revela o Boletim Focus –
Relatório de Mercado de 31.12.201516, são indicativas da necessidade de se proceder a testes
de “impairment”. Há expectativas inflacionárias e de alta nas taxas de juros. Há também
aumento de prêmios por risco no Brasil, com a perda de graus de investimento.
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Um instrumento composto é um instrumento não derivativo que contém elementos de passivo (“liability”) e de
patrimônio líquido (“equity”). IAS32, §§ 28-32, AG30- AG35.
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http://www.bcb.gov.br/pec/GCI/PORT/readout/R20151231.pdf
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Por sua vez, determinados setores da indústria no Brasil estão sendo mais atingidos.
E essa evidência também pode ser corroborada empiricamente pelo patamar de preços
observado nos valores mobiliários dessas companhias. A eficiência informacional do
mercado de capitais impõe a precificação tempestiva dos eventos econômicos. Há também
companhias que atuam no segmento de commodities, cujos preços no mercado internacional
estão em queda.
Nesse sentido, dado o cenário econômico atual, com diversas evidências externas
sugerindo incertezas quanto à recuperação de capital investido em ativos, é importante
salientar a necessidade de se proceder a testes de “impairment” para ativos tangíveis e
intangíveis, em especial o “goodwill”, e, em sendo o caso, reconhecer perdas por
desvalorização tempestivamente. Evidenciação adequada deve ser prestada em notas
explicativas.
6. Aplicação do item 38 da OCPC 07
Os efeitos positivos da aplicação da Orientação CPC 07 - Evidenciação na
Divulgação dos Relatórios Contábil-Financeiros de Propósito Geral, aprovada pela
Deliberação CVM nº 727/14, ainda que incipientes, já puderam ser percebidos quando da
elaboração das demonstrações contábeis do exercício social encerrado em 31.12.2014. Por
certo, há ainda muito a avançar na sua aplicação e na consequente melhoria da qualidade e
do volume das notas explicativas.
No entanto, um ponto identificado como ausente em grande parte daquelas
demonstrações diz respeito à aplicação mandatória prevista no item 38 da referida
orientação:
“38. A administração da entidade deve, na nota de declaração de
conformidade, afirmar que todas as informações relevantes próprias das
demonstrações contábeis, e somente elas, estão sendo evidenciadas, e que
correspondem às utilizadas por ela na sua gestão.” (grifamos)