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RESUMO
The text addresses the present jurisdiction of models in various forms of state organization, in
order to point out the differences between the socio-political phenomenon of legalization and
activism of judges and courts, concluding with an analysis of exemplary case studies of
arbitrary action and excessive of the judiciary in handling the demands linked to therapeutic
care.
1
Doutora e Mestre em Direito pela UNISINOS. Professora do Programa de Pós-Graduação da UFSM e do
Programa de Pós-Graduação da IMED. Vice-presidente da Associação Brasileira do Ensino do Direito – ABEDi.
Membro fundadora da Rede Brasileira de Direito e Literatura – RDL. Advogada. E-mail:
[email protected]
2
Mestre em Direito pelo PPGD/IMED. Especialista em Direito Civil pela Faculdade Meridional/IMED.
Procuradora do Estado do Rio Grande do Sul. E-mail: [email protected]
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Neste sentido, recorrer a STRECK, Lenio Luiz. BOLZAN DE MORAIS, José Luis. Ciência política e teoria do
estado. 3. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013.
4
Expressão empregada por Lênio Streck para denominar aqueles sistemas jurídicos nos quais os
avanços da modernidade foram pouco implementados: “No Brasil, a modernidade é tardia e arcaica. O que
houve (há) é um simulacro de modernidade […] OU seja, em nosso país as promessas da modernidade ainda não
se realizaram. E, já que tais promessas não se realizaram, a solução que o establishment apresenta, por paradoxal
que possa parecer, é o retorno ao Estado (neo)liberal. Daí que a pós-modernidade é vista como a visão
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cidadão contra maiorias eventuais e contra os excessos do Estado, bem como assegurar o
compromisso de resgate das promessas da modernidade, consubstanciadas em prestações
positivas – concretização dos direitos prestacionais – e em vinculações negativas – proibição
de retrocesso social (STRECK, 2014, p. 86-87).
O conteúdo material da Constituição expõe seu caráter compromissório e
dirigente, reclamando um redimensionamento das relações estabelecidas entre os Poderes,
passando o Judiciário a integrar o âmbito político, justamente para assegurar a concretização
dos objetivos e direitos previstos na Constituição. Isso porque não raramente são detectados
pontos de conflito entre o princípio democrático, representado pela vontade da maioria, e os
direitos fundamentais insculpidos na Constituição, forçando a intervenção do Poder Judiciário
para restabelecer esse equilíbrio e, principalmente, para assegurar a preservação da dignidade
da pessoa humana e os direitos que lhe são corolários (BARROSO, 2007).
Assim, diante de uma eventual oposição entre a vontade da maioria e os direitos
fundamentais, isto é, entre democracia e constitucionalismo, o Poder Judiciário deve assumir
seu papel com responsabilidade, sem deixar-se seduzir pelas armadilhas do decisionismo, pois
exsurge como meio de salvaguarda das conquistas trazidas pela Constituição Federal e, em
especial, dos direitos fundamentais nela insculpidos5.A justiça – ou melhor, o judiciário –
torna-se, portanto, o lugar onde se exige a realização da democracia (GARAPON, 1996, p.
45).
Infelizmente, por vezes, esse argumento é distorcido e a hipertrofia do poder
judiciário culmina em uma caricatura do protagonismo judicial, identificando-o como uma
“corrente do pensamento jurídico-processual (não apenas brasileiro), segundo a qual ao juiz
cabe um papel incisivo e, de certa forma, preponderante tanto na condução do processo
quanto no seu „gerenciamento‟ durante o desenrolar de suas fases” (STRECK; TOMAZ DE
OLIVEIRA; TRINDADE, 2013, p. 17)6. É, assim, exercido mediante o controle jurídico dos
neoliberal. Só que existe um imenso déficit social em nosso país, e, por isso, temos que defender as instituições
da modernidade contra esse neoliberalismo pós-moderno” (STRECK, 2009, p. 24-25) (grifos no original).
5
Cita-se, nesse aspecto, a doutrina de Jorge Reis Novais, inspirada nos ensinamentos de Ronald
Dworkin, para quem os direitos fundamentais representam “trunfos” contra a vontade da maioria, cuidando-se de
garantias jurídico-constitucionais, pois elevadas à natureza de normas constitucionais justamente para afirmar
sua supremacia jurídica e formal e para vincular os poderes públicos constituídos. Essa concepção funda-se no
reconhecimento a cada titular de direitos fundamentais de uma dignidade como pessoa, que impõe a delimitação
de uma esfera de autonomia e liberdade que o Poder não pode intervir. Parte, portanto, da ideia de
indisponibilidade dos direitos fundamentais, de limitação jurídica do poder político à observância desses direitos,
mesmo quando o esse poder é legitimamente eleito (NOVAIS, 2012, p. 45).
6
“Segundo os partidários dessa tese, quando decide, o juiz goza de um amplo espaço de conformação
que não mais pode ser resumido na estrita subsunção da lei ao fato, mas que, agora, precisa captar os valores
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poderes político e executivo e manifestado pela tarefa de dizer a última palavra sobre questões
de validade quanto a comportamentos e interesses sociais (CASTANHEIRA NEVES, 1998, p.
10-11),mas desde que necessário à tutela dos direitos fundamentais e exercido dentro dos
parâmetros da argumentação jurídica, ou seja, mediante a prolação de decisões fundamentadas
e redigidas em linguagem apropriada, conforme o discurso jurídico.
Por certo, que é possível, desejável e necessária a intervenção do Judiciário na
esfera de atuação dos demais poderes sempre que detectada afronta a direito fundamental
previsto na Constituição e na estrita medida do necessário para assegurar sua preservação. Isto
é, “para que seja legítima, a atuação judicial não pode expressar um ato de vontade própria do
órgão julgador” (BARROSO, 2007), mas, pelo contrário, deve fundar-se nos princípios e
normas instituídos pela Constituição Federal, de modo a preservar os direitos e garantias nela
inseridos e, assim, a ordem jurídico-constitucional vigente. Não há espaço, assim, para
subjetivismos, para solipsismos, para ativismo. Clama-se por respeito a direitos e garantias
fundamentais: clama-se por mais garantismos no processo.
A judicialização de questões políticas e sociais é fenômeno político recorrente nas
democracias contemporâneas e não deve dependerdo ato volitivo do Poder Judiciário, na
medida em que decorre naturalmente da expansão da sociedade, do dirigismo constitucional7,
da inflação legislativa e da crise da democracia8, cujos problemas exigem, para sua resolução,
atos de jurisdição constitucional (TOMAZ DE OLIVEIRA; TASSINARI, 2014, p. 76-77).
Justamente por se tratar de um fenômeno político, a intensidade da judicialização
da política tende a variar conforme aumenta ou diminui a conflituosidade da sociedade, o
cumprimento dos direitos fundamentais ou ainda o número de regulamentações existentes
(Leis, Decretos, Medidas Provisórias, etc.) existentes (TOMAZ DE OLIVEIRA;
TASSINARI, 2014, p. 76).Isso certamente explica o elevado grau de judicialização da política
no Brasil, especialmente das políticas públicas de saúde, pois, conforme asseverado alhures,
sociais de modo a temporalizar – no sentido de atualizar –, pela via da jurisprudência, o sentido de justiça que
deve compor o Direito” (STRECK; TOMAZ DE OLIVEIRA; TRINDADE, 2013, p. 17).
7
Para J.J. Gomes Canotilho, o “Constitucionalismo Dirigente” designa o papel estratégico
desempenhado pelas Constituições, seja no sentido de instituir uma “forma racionalizada de política”, ou ainda
de constituir um “meio de direção social” (CANOTILHO, 2001, p. 27). Cuida-se, entretanto, de teoria
aparentemente abandonada pelo autor, haja vista as ponderações lançadas na obra posterior “'Brancosos' e
interconsitucionalidade”: itinerários dos discursos sobre a historicidade constitucional (2. ed. Coimbra:
Almedina, 2008, p. 31-37).
8
Clarissa Tassinari refere que (2013, p. 49-53) a ascensão do Poder Judiciário decorreu, dentre
outros fatores, de um ambiente de tensão entre os demais poderes, Executivo e Legislativo, conduzindo a uma
crise da democracia, que pode vir a transmudar-se em “juristocracia”, haja vista a posição de relevo assumida
por juízes e Tribunais no constitucionalismo do pós-guerra.
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“comunidade de intérpretes”9 e “não com a assunção de novos papéis por parte de antigas
instituições” (VIANNA et al., 1999, p. 47).
Ou seja, o Supremo Tribunal Federal, assim como os demais órgãos integrantes do
Poder Judiciário, migraram, “silenciosamente, de uma posição de coadjuvante na produção
legislativa do poder soberano, […] para uma de ativo guardião da Carta Constitucional e dos
direitos fundamentais da pessoa humana” (VIANNA et al., 1999, p. 53).
Ocorre que a intensa judicialização da vida, aliada à retração do Poder Legislativo
e à redação vaga e imprecisa da legislação, vem levando o Judiciário a adotar uma postura
cada vez mais ativa na concretização das normas constitucionais, invadindo, não raras vezes,
a esfera de atuação dos demais poderes (BARROSO, 2014).
Consequência direta da autonomia adquirida pelo direito no Estado Democrático
de Direito tem sido o crescimento do controle de constitucionalidade das leis e, por
conseguinte, a ampliação do espaço da jurisdição (STRECK, 2009, p. 331), resultando no
agigantamento do Poder Judiciário, em detrimento das demais funções estatais.
Da mesma forma, a redação legal, normalmente vaga e imprecisa, confere ao seu
intérprete, ou seja, ao magistrado, amplo espaço para a criatividade e a discricionariedade
(CAPPELLETTI, 1993, p. 42), convertida, não raro, em arbitrariedade, dada a extrapolação
dos tênues limites de sua atuação legal e a manifesta ausência de neutralidade do Poder
Judiciário. Tal fato é reconhecido pela própria magistratura, ao admitir que “o magistrado
deve interpretar a lei no sentido de aproximá-la dos processos sociais substantivos e, assim,
influir na mudança social” (VIANNA et al., 1997, p. 259).
Disso resulta o que se denominará aqui de ativismo judiciário, revelado em
diversas situações, que, em comum, expressam um ato de vontade do órgão judicante: “O
activismo (sic) começa quando, entre várias soluções possíveis, a escolha do juiz é
dependente do desejo de acelerar a mudança social ou, pelo contrário, de a travar”
(GARAPON, 1996, p. 54). Assim, enquanto o termo judicialização designa um fenômeno
político-social, ligado à conjuntura da sociedade e, portanto, desvinculada da vontade dos
9
“No Brasil, o legislador constituinte confiou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o controle abstrato da
constitucionalidade das leis, mediante a provocação da chamada comunidade de intérpretes da Constituição. E
tal importante inovação não pode ser creditada, quer a uma expressão de vontade da sociedade civil organizada,
antes, bem mais do que agora, alheia ás possibilidades democráticas da intervenção do Judiciário na arena
pública, quer a uma proposta amadurecida no interior do Poder Judiciário. Contudo, apesar de as ações diretas de
inconstitucionalidade (Adins) terem caído como um raio em dia de céu azul no cenário institucional brasileiro,
desde logo elas foram reconhecidas como um instrumento de significativa importância, não só para a defesa de
direitos da cidadania, como também para a racionalização da administração pública” (VIANNA et al., 1999, p.
47).
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Em que pese a definição ora adotada, segundo Gisele Cittadino (2003, p. 18), muitos autores identificam o
“ativismo” como um processo de “judicialização da política”.
11
Nesse aspecto, reputa-se relevante salientar que a postura do Poder Judiciário contribui para essa imprecisão
conceitual do “ativismo judicial”, pois, ao analisar as decisões proferidas pelos Tribunais brasileiros, Clarissa
Tassinari concluiu que “a) os termos „ativismo judicial‟ e seus correlatos figuram poucas vezes nas decisões
judiciais; b) por outro lado, quando aparecem, em sua maioria, são apenas referidos, sem que exista um
aprofundamento sobre o tema que ao menos cogite o significado deste termo ou que contextualize sua utilização;
c) quando presente algum esclarecimento doutrinário, ele se dá em termos de menção à escola instrumentalista
do processo (em especial, Cândido José Dinamarco); d) usualmente, o ativismo é concebido como sinônimo de
um papel mais atuante na condução do processo civil, em especial o que diz respeito à realização da instrução
probatória por parte do magistrado; e) em apenas um dos acórdãos, foi possível verificar um posicionamento no
sentido de que não se faz necessária a defesa de um ativismo judicial para concretizar direitos, que é o caso da
decisão sobre direito ambiental proferida no Superior Tribunal de Justiça; e f) os votos dos ministros do Supremo
Tribunal Federal, mais alta Corte do país, demonstram como a compreensão do ativismo ainda se mantém
vinculado a uma boa atuação do Judiciário, isto é, como consequência natural da intervenção do Judiciário para
além de suas atribuições” (2013, p. 127).
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No século XXI, o judiciário passou a tratar de modo mais sistemático sobre o ato
de julgar em saúde, fomentando cada vez mais o debate e a pesquisa. O avanço da
judicialização e, não raramente, do ativismo judicial, é especialmente sentido nas questões
afetas à concretização do direito à saúde e à assistência terapêutica, pois o Poder Judiciário
brasileiro padece com o aumento constante e exponencial do número dessas demandas
judiciais, que, longe de resolverem os problemas da saúde pública, consomem os escassos
recursos materiais e humanos das estruturas administrativa e judiciária.
Esse significativo incremento do número de demandas postulando prestações
materiais de assistência terapêutica não é eficaz no enfrentamento dos problemas afetos à
saúde pública brasileira, em especial ao direito de acesso à saúde da camada mais carente da
população, pois ao analisar os processos trazidos à sua apreciação, o Poder Judiciário limita-
se a verificar as condições e peculiaridades daquele determinado caso concreto, sem atentar às
consequências sociais e econômicas de suas decisões.
Por conseguinte, juízes e Tribunais acabam por proferir julgados dissociados da
realidade, que, além de ameaçarem o equilíbrio financeiro e econômico do Estado,
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O Centro Cochrane do Brasil cuida-se de “organização não governamental, sem fins lucrativos e sem fontes de
financiamento internacionais, que tem por objetivo contribuir para o aprimoramento da tomada de decisões em
Saúde, com base nas melhores informações disponíveis” (COCHRANE, apud UNIMED, 2013). Para tanto, o
Instituto, que é ligado à Pós-graduação em Medicina Interna e Terapêutica da Escola Paulista de Medicina -
Universidade Federal de São Paulo (EPM-UNIFESP), mantém e divulga revisões sistemáticas de ensaios
clínicos randomizados, que representam o melhor nível de evidência para as decisões em Saúde.
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São Paulo (Fesp), criou a cartilha do Comitê de Apoio ao Judiciário (Caju), reunindo textos
simplificados e claros sobre as melhores evidências e condutas médicas a serem tomadas em
diversos temas importantes, objetivando oferecer aos magistrados “um material que o auxilie
com informações científicas isentas e da mais alta qualidade, quando for tomar uma decisão
que envolva a saúde” (UNIMED, 2013).
Segundo as conclusões do Centro Cochrane, lançadas na mencionada cartilha,
14
A substituição de medicamentos já consagrados por novas fórmulas, com reduzida variação química efetiva, é
expediente corriqueiro na indústria farmacêutica, empregado para incrementar os lucros dos laboratórios, na
medida em que as novas drogas lançadas no mercado apresentam, invariavelmente, custo mais elevado. Salienta-
se, nesse sentido, que, entre os anos de 1998 e 2002, a FDA – Food and Drug Administration – aprovou 415
novos medicamentos, dos quais apenas 133 (32%) eram novas entidades moleculares, sendo o restante variações
de medicamentos já existentes. E desses 133, somente 58 eram drogas de inspeção prioritária, o que resulta em
apenas 12 medicamentos inovadores por ano: “Não apenas essa produção é muito baixa, mas, ao longo desses
cinco anos, ela foi piorando. Tanto em 2001 como em 2002 somente sete medicamentos inovadores foram
aprovados em cada ano, em comparação com nove em 2000, 19 em 1999 e 16 em 1998” (ANGELL, 2010, p. 71-
72).
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Justiça Comum Estadual Gaúcha inúmeras ações postulando – em face do Poder Público – o
fornecimento gratuito do medicamento Lucentis.
As pretensões são invariavelmente acolhidas, inclusive (e normalmente) sem o
deferimento de produção de provas, sob o argumento de que o médico que acompanha o
paciente possuiu competência para determinar a urgência e especificar qual o tratamento
correto e a forma de promovê-lo. Uma espécie de solipcismo médico!!
Isto é, a Corte Gaúcha vem acolhendo os pedidos de fornecimento do
medicamento Lucentis, para o tratamento da degeneração macular, fundamentando seu
entendimento na recomendação do médico assistente do paciente, sem atentar, porém, à
possibilidade de sua substituição por fármaco semelhante e sensivelmente mais barato, no
caso, o Avastin.
Mesmo advertido da ausência de superioridade entre os medicamentos,
permanece o TJRS determinando o fornecimento do Lucentis em detrimento do Avastin,
conforme despacho proferido nos autos do agravo de instrumento n. 70070059168104:
Nesse processo, oriundo da Comarca de Soledade, Rio Grande do Sul, onde foi
autuado sob o n. 036/1.14.0001149-2 (RIO GRANDE DO SUL, 2014), houve o
indeferimento da tutela de urgência que objetivava o fornecimento gratuito do medicamento
Lucentis, sob o argumento de que poderia ser substituído pelo similar Avastin sem qualquer
prejuízo ao paciente:
15
Nesse aspecto, salienta-se que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) está avaliando a
regularização do uso da bevacizumabe para o tratamento da Degeneração Macular Relacionada à Idade, a fim de
que sua utilização deixe de operar off-label (ANVISA, 2015).
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“Condroitina e glucosamina são dois componentes importantes das cartilagens. A suplementação dessas
substâncias na forma de comprimidos diários (Condroflex®, Artrolive®, Artico®) tem sido indicada para ajudar
a diminuir dores articulares de portadores de osteoartrite, a um custo aproximado de R$ 200 mensais, uso
contínuo” (UNIMED, 2013).
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Salienta-se a existência de antecedentes pontuais, oriundos do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do
Sul, julgando improcedente a pretensão de fornecimento do complemento glucosamina+condroitina, por
reconhecer sua ineficácia para o tratamento da artrite reumatoide. Como exemplo é possível citar a apelação
cível n. 70062139035, de 26 de novembro de 2014, assim ementada: “APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO
HUMANO À SAÚDE. MEDICAMENTOS. SULFATO DE GLICOSAMINA E CONDROITINA.
EFICÁCIA CONTROVERTIDA. LAUDO PERICIAL DO DMJ. Em que pese a responsabilidade
estatal (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) ao fornecimento de medicamento aos que dele necessitam
– sem restrição às listas do SUS -, na forma do que dispõem os artigos 196 da Carta Magna e 241 da
Constituição Estadual; demonstrada a ineficácia do tratamento prescrito pelo médico da autora, imperativa é a
reforma da sentença de procedência. APELAÇÃO PROVIDA.”.
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Nesse sentido, citam-se as apelações cíveis n. 70063282578, 70063473128 e 70063058184, julgadas pelo
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.
19
É possível citar, nesse sentido, a apelação cível n. 70064135882, julgada em 31 de março de 2015, na qual a
Desembargadora Relatora, Dra. Marilene Bonzanini, refere que “A declaração do médico da parte autora não
pode sucumbir diante de afirmação em abstrato de ineficácia do tratamento, levando-se em conta o fato de o
medicamento possuir indicação para a moléstia na bula e estar devidamente registrado na ANVISA. A
orientação exarada pelo DMJ é genérica, sem a análise da situação individual do paciente, razão pela qual não
pode prevalecer sobre o atestado elaborado pelo médico assistente da parte autora”.
20
A Portaria n. 710/2013, do Ministério da Saúde e, portanto, de caráter nacional, estabelece o conceito geral da
artrite reumatoide, seus critérios de diagnóstico, inclusão e exclusão, assim como o tratamento e os mecanismos
de regulação, controle e avaliação, a serem utilizados pelas Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios. Em seus anexos, amparada por amplo estudo técnico-científico, a mencionada Portaria
estabelece um tratamento escalonado da artrite reumatoide, composto por diversas classes e espécies de
medicamentos, que, portanto, são disponibilizados pelo SUS. Todavia, mesmo após a ampla avaliação técnica da
Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS - CONITEC, do Departamento de Assistência
Farmacêutica e Insumos Estratégicos - DAF/SCTIE/MS e do Departamento de Atenção Especializada –
DAE/SAS/MS, o complemento glucosamina+condroitina não foi incorporado ao tratamento em questão.
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Embora o mencionado processo não tramite sob segredo de justiça, os nomes da parte demandante e de seu
médico assistente serão omitidos no intuito de preservar o paciente e em atenção à questionável eticidade do
proceder do profissional médico.
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com utilização de Onix, não abrangido pelo SUS, por ser portador de má formação
arteriovenosa dos vasos cerebrais – CID Q 28.2 – e não possuir condições econômicas para
custear o tratamento com recursos próprios.
A inicial foi instruída com um único orçamento, subscrito pelo médico assistente
da parte autora, que estimou o procedimento em R$ 160.725,80 (cento e sessenta mil,
setecentos e vinte e cinco reais e oitenta centavos), dos quais R$ 60.725,80 referiam-se aos
materiais a serem utilizados e R$ 100.000,00 aos honorários médicos.
A pretensão foi prontamente despachada pelo MM. Juízo, que concedeu a tutela
de urgência determinando ao RS o fornecimento gratuito do procedimento, no prazo de
quinze dias, sob pena de sequestro de valores nos cofres públicos para seu custeio. Também
restou determinada, uma vez decorrido o prazo para cumprimento voluntário da medida, a
intimação da parte autora para acostar ao processo outros dois orçamentos do procedimento
cirúrgico postulado, a fim de possibilitar o bloqueio de valores pelo menor preço.
Citado, o RS contestou a pretensão asseverando que os materiais específicos
solicitados pelo médico assistente não são contemplados pelo SUS, mas que o tratamento
endovascular poderia ser realizado no Sistema, desde que utilizados os equipamentos
disponibilizados pela rede pública. Também impugnou o único orçamento apresentado, pois
exarado pelo médico que assiste a autora e, portanto, interessado na realização do
procedimento cirúrgico e no consequente recebimento dos honorários respectivos.
O Ente Público Estadual sustentou, ainda, sua ilegitimidade passiva, arguindo a
responsabilidade da União pelo fornecimento do procedimento, haja vista sua complexidade e
encerrou sua defesa postulando autorização para encaminhar o paciente ao atendimento via
SUS, com os materiais disponibilizados pela rede pública, assim como a intimação da parte
adversa para providenciar a juntada aos autos de outros dois orçamentos do procedimento
cirúrgico vindicado.
O paciente então novamente compareceu aos autos afirmando a impossibilidade
de obtenção de outros orçamentos da cirurgia e reiterando a necessidade de imediato
cumprimento da medida deferida em sede de antecipação de tutela, haja vista seu grave estado
de saúde.
Após outras providências administrativas, em 19.12.2013 foi determinado o
sequestro de R$ 160.725,80 da conta única do RS e, dessa forma, realizado o procedimento
cirúrgico postulado.
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A Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM) é o resultado do trabalho
conjunto da Associação Médica Brasileira (AMB), de suas Sociedades de Especialidades e do Conselho Federal
de Medicina, na elaboração de uma lista hierarquizada e ética de procedimentos, contemplando todas as
especialidades médicas e remunerando dignamente os serviços profissionais (AMB, 2014). De acordo com a
AMB, portanto, “a CBHPM serve como referência para estabelecer faixas de valoração dos atos médicos pelos
seus portes, fixando, assim, os patamares mínimos de remuneração do profissional médico: A pontuação dos
procedimentos médicos, que foi realizada por representantes das Sociedades Brasileiras de Especialidades com
assessoria da FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, está agrupada em 14 portes e três subportes
(A, B e C). Os portes anestésicos (AN) permanecem em número de oito e mantém correspondência com os
demais portes. Os portes de atos médicos laboratoriais seguem os mesmos critérios dos portes dos
procedimentos, mas correspondem a frações do menor porte (1A). Quanto aos custos, estabeleceu-se a unidade
de custo operacional (UCO), que incorpora depreciação de equipamentos, manutenção, mobiliário, imóvel,
aluguéis, folha de pagamento e outras despesas comprovadamente associadas aos procedimentos médicos. Este
custo foi calculado para os procedimentos de SADT de cada Especialidade. Custos operacionais referentes a
acessórios e descartáveis serão ajustados diretamente e de comum acordo entre as partes. A valoração dos portes
e da UCO ficará sujeita a alteração sempre que modificadas as condições que nortearam suas fixações, sendo
admitida banda de até 20%, para mais ou para menos como valores referenciais mínimos, em respeito à
regionalização e a partir destes, os valores deverão ser acordados por livre negociação entre as partes” (AMB,
2014).
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Nesse aspecto, salienta-se que a Unidade de Custo Operacional (UCO) válida a partir de outubro de 2015 é de
R$ 15,15, atribuindo-se ao procedimento de embolização de aneurisma cerebral (porte 11B) o valor de R$
1.315,40, conforme comunicado oficial da CBHPM (CBHPM, 2015).
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A Resolução n. 1.956/2010, do Conselho Federal de Medicina disciplina a prescrição de materiais
implantáveis, órteses e próteses e determina a arbitragem de especialista quando houver conflito, salientando-se,
haja vista a abordagem deste estudo, as prescrições e vedações constantes dos artigos 1º a 6º: “Art. 1° Cabe ao
médico assistente determinar as características (tipo, matéria-prima, dimensões) das órteses, próteses e
materiais especiais implantáveis, bem como o instrumental compatível, necessário e adequado à execução do
procedimento. Art. 2° O médico assistente requisitante deve justificar clinicamente a sua indicação, observadas
as práticas cientificamente reconhecidas e as legislações vigentes no país. Art. 3° É vedado ao médico assistente
requisitante exigir fornecedor ou marca comercial exclusivos. Art. 4° As autorizações ou negativas devem ser
acompanhadas de parecer identificado com o nome e número de inscrição no Conselho Regional de Medicina do
médico responsável pelo mesmo. Art. 5° O médico assistente requisitante pode, quando julgar inadequado ou
deficiente o material implantável, bem como o instrumental disponibilizado, recusá-los e oferecer à operadora ou
instituição pública pelo menos três marcas de produtos de fabricantes diferentes, quando disponíveis,
regularizados juntos à Anvisa e que atendam às características previamente especificadas. Parágrafo único. Nesta
circunstância, a recusa deve ser documentada e se o motivo for a deficiência ou o defeito material a
documentação deve ser encaminhada pelo médico assistente ou pelo diretor técnico da instituição hospitalar
diretamente à Anvisa, ou por meio da câmara técnica de implantes da AMB ([email protected]), para as
providências cabíveis. Art. 6° Caso persista a divergência entre o médico assistente requisitante e a operadora ou
instituição pública, deverá, de comum acordo, ser escolhido um médico especialista na área, para a decisão. §
1° Esta decisão não deverá ultrapassar o prazo de cinco dias úteis, contados a partir do conhecimento do
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responsável pela arbitragem. § 2° Cabe arbitragem mesmo nas situações de emergências, quando não for
possível pré-autorização e tenha sido usado o material implantável, órtese ou prótese. § 3º O médico que atua
como árbitro tem direito a remuneração.”
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Diante da ausência de condenação dos investigados pela “Operação Bones” e, portanto, em respeito ao
princípio da presunção de inocência inserto no artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal, serão omitidos os
nomes das pessoas físicas e jurídicas envolvidas.
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A partir das irregularidades apuradas pela “Operação Bones”, foi instaurada, em 31.03.2015, Comissão
Parlamentar de Inquérito objetivando “investigar as irregularidades e os crimes relacionados aos procedimentos
médicos de colocação de órteses e próteses no País, desde a indicação e execução dos procedimentos até a
cobrança pelos produtos e serviços prestados” (SENADO FEDERAL, 2015).
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A forma pela qual o Poder Judiciário vem tratando as demandas judiciais,
sobretudo aquelas que versam sobre assistência terapêutica, contribui para fraudes como essa,
na medida em que, ao acolher indiscriminadamente os pedidos que lhe são deduzidos, muitas
vezes em sede de antecipação de tutela e, portanto, sem oportunizar à parte adversa o
exercício de seu direito constitucional à ampla defesa, abre-se espaço para os excessos
apontados e, ainda, para o desvirtuamento da concretização judicial do direito fundamental à
saúde. Não estamos aqui atacando a judicialização em si, mas a sua distorção, o decisionismo.
Essa judicialização da política de saúde pública, inaugurada a partir de meados
dos anos 1990, encontrou seu ápice nos tempos atuais, pois os números obtidos a partir dos
dados do Conselho Nacional de Justiça e da Procuradoria do Estado do Rio Grande do Sul
permitem concluir pela existência de uma verdadeira “epidemia”, consistente no ajuizamento
maciço de demandas objetivando as mais diversas prestações em matéria de saúde e de
assistência terapêutica.
Além do abarrotamento do Poder Judiciário, essa crescente judicialização da
política traz perniciosas consequências às finanças públicas, na medida em que destina boa
parte do orçamento disponível à concretização de prestações individualizadas em matéria de
assistência terapêutica, deixando em segundo plano a implementação de políticas públicas
voltadas ao atendimento universal e isonômico da população.
Não se olvida, porém, da reponsabilidade do Poder Público pela efetiva
concretização do direito fundamental à assistência terapêutica, pois corolária dos princípios
que fundamentam o Estado Democrático de Direito. A questão que se apresenta diz, porém,
com a proporcionalidade e a razoabilidade dessa atuação desmedida do Poder Judiciário, não
raras vezes travestida de ativismo.
De fato, é necessário diferenciar a judicialização, fenômeno político e social, do
pernicioso ativismo judicial, produto de um ato volitivo por parte do Poder Judiciário voltado
à satisfação da vontade do intérprete no momento da concretização do direito e que resulta em
uma “justiça lotérica”, pois submetida ao arbítrio do julgador.
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enfrentar a judicialização na Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro e a experiência
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