Direito Civil Contratos em Espécie Passei Direto
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1. CONCEITO
Desde o direito romano se proclama que ninguém pode locupletar-se, sem causa ou razão
jurídica, com o alheio (nemo potest locupletari detrimento alterius).
Por essa razão, preceitua o art. 876 do Código Civil de 2002, primeira parte:
“Todo aquele que recebeu o que lhe não era devido fica obrigado a restituir”.
O Código Civil de 1916 não continha nenhuma regra genérica sobre o enriquecimento sem
causa. Todavia, aplicava o aludido princípio em dispositivos esparsos, adotando sempre
soluções destinadas a afastar o locupletamento ilícito de uma pessoa à custa de outra,
especialmente quando tal fato ocorria em decorrência de um pagamento indevido. Somente o
pagamento indevido foi disciplinado sistematicamente, em uma das seções do capítulo
concernente ao pagamento, que é o modo normal de extinção das obrigações.
Aduz o aludido art. 876 do Código Civil, na segunda parte, que a mesma obrigação de restituir.
Como a prestação só se torna exigível após a ocorrência de evento futuro e incerto, ela não
pode ser reclamada antes de tal fato, pois, como enfatiza Clóvis, a obrigação condicional ainda
não existe e, assim, cumpri-la é dar o que por enquanto não é devido.
►Entretanto, não será obrigado a restituir o que recebeu o pagamento antes do termo,
porque é lícito ao devedor renunciar a ele e pagar a dívida antes do vencimento (CC, art. 133),
sem poder alegar que o credor enriqueceu indevidamente.
“Àquele que voluntariamente pagou o indevido incumbe a prova de tê-lo feito por erro”.
Inexistindo erro, portanto, mas ato refletido e consciente, afastado fica o direito à repetição. O
ônus da prova é, como se vê, do “sol vens”.
“Se o pagamento foi voluntário, porém efetuado “ad cautelam”, não poderemos qualificar esse
ato de coação “stricto sensu”, mas identificável será o constrangimento, impelindo o “solvens”
a pagar com o intuito de resguardar-se de eventual constrição patrimonial ou penalidade. Em
situações como essa afastada fica a voluntariedade do pagamento”.
Silvio Venosa afirma que não deve provar erro não só o “solvens” que pagar sob coação, senão
também o que “for colocado em uma situação na qual não tinha outra saída, como o caso de
pagamento de tributos não devidos. Neste caso, o não pagamento acarretaria uma série de
consequências nefastas para o contribuinte e não ser ia justo, do mesmo modo, recusar a
repetição de indébito ao solvens”.
►Se o pagamento não foi efetuado espontaneamente, mas em virtude de decisão judicial,
incabível se mostra a ação de repetição de indébito, ainda que se trate de quantia não devida,
sendo adequada a ação rescisória do julgado.
A doutrina entende que efetua uma liberalidade e não tem direito à repetição aquele que
deliberadamente satisfaz o que sabe não devido.
►Em caso de dúvida, deve o “solvens” consignar o pagamento, sob pena de assumir o risco de
pagar mal e não poder invocar o art. 877 do Código Civil. A jurisprudência tem dispen sado a
prova do erro e deferido a restituição ao “solvens” quando se trata de pagamento de
impostos, contentando -se com a prova de sua ilegalidade o u inconstitucionalidade.
Também tem proclamado que a correção monetária é devida a partir do indevido pagamento
e não apenas a contar do ajuizamento da ação de repetição do indébito. Entretanto, o Código
Tributário Nacional estabelece que os juros só sejam devidos desde o trânsito em julgado da
sentença (art. 167, parágrafo único).
►A Súmula 322 do Superior Tribunal de Justiça:
“Para a repetição de indébito, nos contra tos de abertura de crédito em conta corrente, não se
exige a prova do erro”.
Quando o “solvens” paga dívida inexistente (indébito absoluto), mas que supunha
existir,
Quando o débito que já existiu, mas se encontra extinto,
Quando paga dívida pendente de condição suspensiva ainda não implementada; ou,
ainda,
Quando paga mais do que realmente deve;
Quando se engana quanto ao objeto da obrigação e entrega ao “accipiens” uma coisa
no lugar de outra.
Exemplos: 01 - quando alguém, por engano, paga dívida da empresa da qual é sócio, supondo
que se tratava de dívida pessoal; 02 - ou de quem, por engano, deposita o pagamento na conta
bancária de quem não é o verdadeiro credor, mas seu irmão cujo nome é semelhante ao
daquele.
Desse modo, aquele que recebe de boa-fé, pagamento indevido, sendo obrigado a restituí-lo, é
equiparado ao possuidor de boa-fé, fazendo jus aos frutos que percebeu da coisa recebida, à
indenização pelas benfeitorias necessárias e úteis, podendo levantar as voluptuárias, e ao
direito de retenção pelo valor daquelas, não respondendo pela perda ou deterioração da coisa
(CC, arts. 1.214, 1.217 e 1.219).
O ”accipiens" de má-fé, todavia, não tem direito aos frutos e respondem por eles, inclusive
juros e deteriorações, desde o recebimento da coisa.
No tocante às benfeitorias, será ressarcido somente pelas necessárias, sem direito de levantar
as voluptuárias e de poder valer-se do “jus retentionis”.
(CC, art. 1.220). Faz jus à indenização das benfeitorias necessárias porque, caso contrário, o
“solvens” experimentaria um enriquecimento indevido.
“Se aquele que indevidamente recebeu um imóvel o tiver alienado em boa-fé, por título
oneroso, responde somente pela quantia recebida; mas, se agiu de má-fé, além do valor do
imóvel, responde por perdas e danos”.
Parágrafo único. “Se o imóvel foi alienado por título gratuito, ou se, alienado por título
oneroso, o terceiro adquirente agiu de má-fé, cabe ao que pagou por erro o direito de
reivindicação”.
O dispositivo em tela cuida, especificamente, das hipóteses em que aquele que recebeu o
imóvel em pagamento (de obrigação de dar coisa certa ou sob a forma de dação em
pagamento, p. ex.) tenha em seguida efetuado nova alienação, a título oneroso ou gratuito, a
terceiro de boa ou má-fé.
►Às vezes, no entanto, o “accipiens” já o alienou a terceiro. Se o fez em boa-fé, por título
oneroso, responde somente pela quantia recebida; mas, se agiu de má-fé, além do valor do
imóvel, responde por perdas e danos.
►Se o terceiro adquiriu o imóvel a título oneroso e de boa-fé, o proprietário, que o entregou
indevidamente em pagamento, não obterá sucesso na reivindicação.
A lei, nesses casos, protege o terceiro de boa-fé. O “solvens” terá direito, apenas, ao preço
recebido do terceiro pelo “accipiens”, que ainda responderá por perdas e danos, se obrou de
má-fé, como supramencionado.
Tendo que optar entre proteger o direito do proprietário, que pagou por seu próprio erro, e o
do terceiro que agiu de boa-fé, sendo conduzido a um negócio por circunstâncias que
induziriam qualquer pessoa, o legislador preferiu resguardar o deste último, que não
colaborou para aquela situação de fato e poderia, caso contrário, sofrer um prejuízo
injustificado.
“fica isento de restituir pagamento indevido aquele que, recebendo-o como parte de dívida
verdadeira, inutilizou o título, deixou prescrever a pretensão ou abriu mão das garantias que
asseguravam seu direito; mas aquele que pagou dispõe de ação regressiva contra o verdadeiro
devedor e seu fiador”.
Trata o dispositivo do recebimento, de boa-fé, de dívida verdadeira, paga por quem descobre,
posteriormente, não ser o devedor.
Se o título foi inutilizado, o credor não está obrigado a restituir a importância recebida, porque
não poderá mais, sem título, cobrar a dívida, do verdadeiro devedor.
Contra este o “solvens, que não deve ser prejudicado, dirigirá a ação regressiva, para evitar o
enriquecimento indevido do réu”. Assim também ocorrerá se o “accipiens” de boa-fé deixou
prescrever a pretensão que poderia deduzir contra o verdadeiro devedor, ou se abriu mão das
garantias de seu crédito.
É natural que, recebendo pagamento de dívida verdadeira, efetuado por quem se julga
devedor, o “accipiens” não tenha interesse em conservar-lhe o título comprobatório, o use
que de inerte, permitindo se consume a prescrição em curso.
Tendo de escolher entre o interesse do “solvens”, que pagou por erro, e o do “accipiens”, que
teve um comportamento normal e isento de censura, prefere o legislador o deste último e o
desobriga de restituir o que recebeu.
“Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação
judicialmente inexigível”.
Quem paga obrigação natural, judicialmente inexigível, como dívida de jogo, cumpre um dever
moral, que se encontra em seu íntimo. Não pode afirmar que pagou indevidamente, nem que
o “accipiens” experimentou enriquecimento sem causa.
Embora inexigível, a dívida, paga voluntariamente, existia. O mesmo ocorre com a dívida
prescrita.
“Não terá direito à repetição aquele que deu alguma coisa para obter fim ilícito, imoral, ou
proibido por lei”.
Se alguém, por exemplo, contrata uma pessoa, pagando-lhe certa importância para que
cometa um crime, não terá direito de repetir se esta embolsar o dinheiro e não cumprir o
prometido.
Mesmo que, nesse caso, possa haver um enriquecimento ilícito do criminoso, que embolsou o
pagamento, não assiste ao “solvens” direito à repetição, pois o legislador deu prevalência ao
princípio de que ninguém pode valer-se da própria torpeza (Nemo auditur propriam
turpitudinem allegans).
Nesse caso, “o que se deu rever terá em favo r de estabelecimento local de beneficência, a
critério do juiz”, como estatui o parágrafo único do supratranscrito dispositivo.
Preceitua ainda o art. 42, parágrafo único, do Código de Defesa do Consumidor que.
“o consumi dor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do in débito, por valor
igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo
hipótese de engano justificável”.
1. CONCEITO
O princípio que veda o enriquecimento sem causa, fundado na equidade, já era conhecido e
aplicado no direito romano.
As ações destinadas a evitar o locupletamento de coisa alheia, sem causa jurídica, recebiam o
nome genérico de “condictiones”.
Tais ações constituem espécies do gênero das ações de “in rem verso”.
O Código Civil de 2002 dedicou um capítulo específico ao enriquecimento sem causa (arts. 884
a 886), no título concernente aos “Atos Unilaterais”.
Dispõe o art. 884 do aludido diploma:
Aquele que, sem justa causa, se enriquecer a custa de outrem, será obrigado a restituir o
indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários.
Parágrafo único. Se o enriquecimento tiver por objeto coisa determinado, quem a recebeu é
obrigado a restituí-la, e, se a coisa não mais subsistir, a restituição se fará pelo valor do bem na
época em que foi exigido.
A propósito desse instituto, salienta Caio Mário que “toda aquisição patrimonial deve decorrer
de uma causa, ainda que seja ela apenas um ato de apropriação por parte do agente, ou de um
ato de liberalidade de uma parte em favor de outra. Ninguém enriquece do nada”.
O sistema jurídico não admite que alguém obtenha um proveito econômico à custa de outrem,
sem que esse proveito decorra de uma causa juridicamente reconhecida.
A causa para todo e qualquer enriquecimento não só deve existir originariamente, como
também deve subsistir, já que o desaparecimento superveniente da causa do enriquecimento
de uma pessoa, à custa de outra, também repugna ao sistema (CC, art. 885).
Na I Jornada de Direito Civil promovida pelo Conselho da Justiça Federal, foi aprovado o
Enunciado 35, de seguinte teor: “A expressão ‘se enriquecer a custa de outrem’ do art. 884 do
novo Código Civil não significa, necessariamente, que deverá haver empobrecimento”.
São muito comuns, em um negócio, um dos contratantes lucrar e o outro perder. Mas não se
pode falar em enriquecimento sem causa, por que houve um contrato entre ambos, uma
causa jurídica para o lucro obtido.
Se “A” deve a “B”, mas por engano paga a “C”, este experimentará um enriquecimento sem
causa, porque não era parte no contrato. Fica, por isso, obrigado a restituir o que
indevidamente recebeu (CC art. 884).
“a restituição é devida, não só quando não tenha havido causa que justifique o
enriquecimento, mas também se esta deixou de existir”.
Só cabe ação de “in rem verso” quando inexiste ação específica. Tem ela, pois, caráter
subsidiário ou residual.
“não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros meios para se
ressarcir do prejuízo sofrido”.
►Se deixou prescrever a pretensão específica, também não poderá socorrer-se desta última.
Caso contrário, as demais ações seriam absorvidas por ela.
Não tendo, todavia, a nova lei se referido expressamente ao pagamento indevido, entende-se
que o prazo extintivo para a ação dele derivada seja o geral, de 10 anos (art. 205).
O STJ já firmou posição a esse respeito. Com efeito, proclamou a Segunda Turma que.