Resenha - As Estátuas Também Morrem
Resenha - As Estátuas Também Morrem
Resenha - As Estátuas Também Morrem
Com o foco em recorrer as origens da cultura africana e sua desconstrução por parte do
ocidente, o documentário francês aborda de forma poética, confrontadora e pacífica ao
mesmo tempo as nuances de uma cultura esquecida e enfraquecida por séculos de
influência ocidental, com uma crítica incisiva e direta, a narrativa não esconde sua
inconformidade com o passado abolido e sufocado, com as raízes e histórias que se
tornaram cerceadas diante de artefatos e esculturas, que apesar de falarem por si só, não
podem descrever os acontecimentos no qual foram feitos.
Esculturas, pinturas, máscaras, palácios, reinos, tudo o que remete a força africana, a
sabedoria, a morte, a destreza, a Ascenção, tudo! Mesmo sendo levado ao tribunal
ocidental sem acusações, a não ser a única acusação de existir, não seria suficiente para
destruir a cultura, que não pode ser ofuscada nem por mil bestas francesas, ou mil
flechas inglesas. A cultura como conhecemos manifestada pelo o que vemos, e o que
está oculto,
Por reinos escondidos debaixo de escombros no mar mediterrâneo, ou em florestas,
campinas e vilas por todo continente africano, está pouco a pouco reconciliando com a
sua própria história, diante de um arrependimento atrasado do ocidente, vamos as
lembranças de uma hierarquia que não podemos confrontar ou pesquisar, pois o que foi
permitido ser deixado: A escrita, a economia, a arte, o modo de vida, ainda é uma
sombra do que sabemos da Suméria, Egito e Oriente asiático.
Isso não impede de forma alguma, de admirar aquilo que restou, e não foi pouco: A
sutileza com o que a arte se assemelha com o dia a dia, desde a beleza de uma simples
colher, até os vasos rebuscados para se parecer vegetais, tudo funciona muito bem, tudo
está em seu lugar, tudo encontra propósito, tudo é sagrado. E ainda sim, nem tudo está
ligado ao culto, por hora o objeto é próprio culto, a própria prece, sem a necessidade de
explicação, de um significado, algo que o ocidente não suporta, o suficiente para
encontrar mais uma justificativa: Idólatras! O que não se compreende com a razão, não
poderia ser explicado com a emoção; E mesmo assim, o ódio perdura, ou o medo, medo
de desconhecer o que não foi explicado, medo de não ser a exceção no universo, de
contracenar o palco com outros deuses, de perder o senso de continuidade diante do que
foi contado, do que foi afirmado, sendo assim: o que eu não sei explicar, ameaça a visão
que eu entendi, e só ela basta.
Por fim, por ser tão subestimada e sufocada, a arte negra é comercializada, exposta
como alegoria de um reino conquistado, expondo suas cabeças derrotadas na torre do
palácio imperial, para dar de exemplo que quem mexe com o império será diluído a
exposição e vergonha, ao entretenimento, a diversão, a submissão. Um povo a mercê do
seu senhor buscando sobreviver aos “encantos” imperialistas, sendo adaptado a mistura
cristã para se parecer mais civilizado, menos ofensivo ao ideal branco, reduzindo o belo
do negro a uma réplica da sinfonia de Beethoven, pode parecer, mas não é, nossas
dádivas são traidoras e nos impede de ter aquilo que poderíamos admirar, se não fosse o
medo de se reinventar.