Capitulo Livro PDF
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São
Paulo: Martinari, 2014.
O sistema urinário
Saturnina A. S Martins
Regina Aleixo Vecchi
Waldeir Abner de Lima
Aspásia Basile Gesteira Souza
Os ureteres são túbulos que ligam a pelve renal à bexiga e são divididos em
ureter abdominal e pélvico. Com cerca de 30 cm de comprimento em adultos, drenam a
urina por meio da gravidade e do peristaltismo de sua musculatura lisa, que também
formam a bexiga.
A bexiga é um órgão oco, flexível, localizado na porção anterior e inferior do
peritônio chegando até a cavidade abdominal. Quando em repleção, tem capacidade
média para armazenar de 700 a 800mL de urina, em adultos. No trígono da bexiga,
ligam-se o óstio dos ureteres e o colo da bexiga, de onde se origina a uretra. 1-5
A uretra é um canal tubular, que liga a bexiga ao meio externo.
Nos homens, a uretra possui, em média, vinte centímetros de comprimento e é
divida em três porções prostática, membranosa e peniana. Além de eliminar a urina
também é utilizada para a passagem de células e para as secreções dos órgãos
reprodutores.
Nas mulheres, o comprimento da uretra é de apenas 5 centímetros, o que as
expõem a um maior risco de infecção por contaminação de agentes presentes na vulva
e região perianal. A passagem da urina durante a micção com um fluxo turbulento,
associado ao funcionamento da musculatura uretral, funciona como uma barreira para
infecção exógena. A uretra é circundada por músculos lisos e esqueléticos, além de
possuir uma membrana mucosa e glândulas que secretam muco para seu interior. 1-5
Fisiologia renal
Os rins são os órgãos responsáveis pela manutenção do volume e composição
dos líquidos corporais. São também órgãos endócrinos (vide unidade: Sistema
endócrino) e responsáveis pelo controle da pressão arterial, por meio da produção de
renina, que estimula a síntese de angiotensina I e II, este um potente vasoconstritor e
estimulador da produção de aldosterona que absorvem sódio no néfron distal,
aumentando a retenção de água, quando necessário. Além disso, os rins produzem a
urina, solução resultante pela filtração de sangue, onde se encontram os restos do
metabolismo celular. A urina é composta principalmente por: ureia, creatinina,
eletrólitos, água, ácidos e bases. 6
A formação de urina se dá no glomérulo, onde a filtração do sangue alcança uma
velocidade de cerca de 1.200 mL por minuto – Fluxo Sanguíneo Renal (FSR). Os rins
recebem 25% de todo o volume sanguíneo, mediado pelo Fator Relaxante Derivado do
Endotélio (EDRF), que controla o fluxo renal e a resistência vascular. Esse aporte de
fluxo resulta em uma filtração glomerular de 125 mL de plasma por minuto. Desse
filtrado, uma pequena parte se transforma em urina (1.500 – 2.500 mL/dia).6
O ultrafiltrado é formado através da membrana capilar glomerular pelas forças de
filtração-reabsorção de Starling: gradiente de pressão hidrostática transcapilar,
gradiente de pressão oncótica (das proteínas) transcapilar, coeficiente de filtração
glomerular. Os capilares glomerulares são permeáveis à água e às moléculas de baixo
peso.
Os néfrons são perfundidos pelas arteríolas aferentes, que se ramificam e
formam os capilares dos glomérulos; ligam-se às arteríolas eferentes e formam os
capilares peritubulares, até que desaguem nas vênulas, e sigam o fluxo venoso. 7-12
O aparelho justaglomerular, importante para o controle do fluxo sanguíneo e taxa
de filtração glomerular do néfron, é composto por uma arteríola aferente, arteríola
eferente e túbulo contorcido distal, além das células da mácula densa, que respondem
às alterações no fluxo tubular, à composição do líquido tubular e no controle da
liberação de renina por células granulares, que por sua vez desencadeiam uma série de
mecanismos regulatórios, o sistema renina-angiotensina-aldosterona. Alguns fatores
podem alterar o processo de filtração, como os hormônios e as fibras simpáticas
noradrenérgicas, que inervam as arteríolas, influenciando a produção de angiotensina I
7-9,12
e II. Assim, os vasodilatadores aumentam o fluxo renal e os vasoconstritores o
diminuem, controlando, também, a filtração dos glomérulos.
O sangue entra na cápsula de Bowman, onde o líquido formado pelos
componentes do plasma, com exceção às proteínas, atravessa o endotélio capilar, a
membrana basal e a camada de células epiteliais. O retorno do líquido filtrado pela
função tubular é realizado na “zonula occludens”, uma região específica da membrana
celular, que separa o espaço intercelular da luz e de outras células. Assim, ambos os
lados da membrana permitem o transporte passivo no túbulo contorcido proximal; 30 a
40% restante do que foi filtrado são isosmóticos e passam para alça de Henle. 7-9,12
Na alça de Henle, o ramo descendente é mais permeável e a água a atravessa
passivamente, devido à hipertonicidade do líquido intersticial da medula renal. O ramo
ascendente tem baixa permeabilidade e nele ocorre a reabsorção de 20% a 30% do
sódio (Na+). O líquido é ainda mais diluído no túbulo distal, devido ao transporte ativo
de NaCl associado a impermeabilidade da “zonula occlodens”. Diversos túbulos distais
desaguam nos túbulos coletores, que, em sequencia, deságuam nos ductos coletores.
A zonula occlodens apresenta baixa permeabilidade para os íons, assim como para a
água, sendo influenciada por hormônios como aldosterona, que aumentam a
reabsorção de Na+, a excreção de potássio (K+) e a vasopressina, também conhecida
como hormônio antidiurético (ADH) controlador de absorção de água. 8,9,12
Após a ponta das pirâmides renais desembocarem nos dutos coletores
medulares, as estruturas que levam a urina para fora do corpo, a saber: pélvis renal,
ureteres, bexiga e uretra, não se modificam mais. 9
A micção
O controle do armazenamento e a eliminação da urina são realizados por
estruturas neurológicas e musculares. Em indivíduos adultos, a bexiga armazena cerca
de 600-800mL de urina; porém, até mesmo 150 mL podem ser suficientes para a
produção dos impulsos sensoriais que se comunicam com o centro da micção,
localizado na medula espinal sacral, entre as vértebras sacrais S2 e S4, por fibras
parassimpáticas que respondem ou ignoram esse estimulo, o que faz da micção um ato
de controle voluntário. Em condições extremas, em que há excesso de urina na bexiga,
pequenas quantidades podem ser eliminadas, devido à alta pressão vesical. 8-11
Assim, o aumento do volume de urina na bexiga e os impulsos sensoriais
causados pelas fibras nervosas, associados ao desejo voluntáriodo indivíduo (ligado a
fatores ambientais e sociais), estimulam o esfíncter urinário externo formado por
músculo estriado junto aos músculos do assoalho pélvico e elevatórios do ânus
relaxam, permitindo a passagem da urina. 8-11
O músculo detrusor é formado por uma musculatura lisa com feixes longitudinais,
circulares e espirais e se prolonga até a uretra, constituindo o esfíncter uretral interno,
inervado por fibras simpáticas originadas da coluna intermediolateral entre a 10ª
torácica e a 3ª lombar. O músculo é responsável pela contração que ocasiona o
esvaziamento da bexiga com eficiência. 8-11
2-Proteinúria
Diariamente são filtrados pelos glomérulos cerca de 180 litros de plasma. De
modo geral, as proteínas identificadas na urina são de baixo peso molecular e em
quantidade menor de 100 mg, em 24 horas. Uma excreção urinária de proteínas
superior a 150 mg caracteriza a proteinúria, que pode variar desde pequenas
quantidades até perda maciça de proteínas. 16 Apresenta alta sensibilidade na detecção
de doença renal inicial.
O grau de proteinúria correlaciona-se com a intensidade da lesão renal: entre
150-500 mg/dia a proteínúria é leve; entre 500 mg-1 g, moderada; entre 1-3,5 g é
intensa e acima disso é considerada maciça. Pode ocorrer por aumento patológico da
permeabilidade glomerular; por doenças que ocasionam incapacidade do túbulo
proximal de reabsorver proteínas; por produção excessiva; por microalbuminúria. A
proteinúria ortostástica ou postural, mais rara, ocorre em indivíduos jovens, que
permanecem muitas horas em pé. Estado febril, insuficiência cardíaca e hepática
também levam a quadros de perda proteica.6
A principal proteína observada na urina de pacientes com doença glomerular é a
albumina, geralmente relacionada a uma lesão na barreira de filtração, por alterações
estruturais16. A utilização de fita reagente pode detectar de 20 a 1.000 mg/dL de
proteína; este método deve ser empregado apenas como um teste de triagem, pois a
concentração da urina, pH, hematúria e materiais de radiocontraste afetam os
15
resultados . O resultado negativo indica menos de 20 mg/dL; 1+ de 21-100 mg/dL; 2+
de 101-300 mg/dL; 3+ de 301-1.000 mg/dL; 4+ acima de 1.000 mg.6
2
Clearence de creatinina segundo idade e sexo (em mL/minuto/1,73 m .
Referências
1- Dângelo JG, Fattini CA. Anatomia humana básica. São Paulo: Atheneu, 2004.
2- Drake RL, Vogl AW, Mitchell AWM. Atlas de Anatomia. Rio de Janeiro : Elsevier, 2009.
3- Moore KL, Dalley AF, Agur AMR, Moore ME. Anatomia orientada para a clínica. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2007.
4- Tank PW, Gest TR. Atlas de anatomia humana. Porto Alegre: Artmed, 2009.
5- Tortora, GJ, Grabowski SR. Corpo humano. 6ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.
6- Souza CAM et al. Sistema urinário e órgãos genitais. In: Porto CC. Semiologia médica. 6ª. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. p 791-813.
7- Ajzen H, Schor N. Guia de medicina ambulatorial e hospitalar de nefrologia 2ª ed. Barueri: Manole, 2005.
8- Berne RM, Levy MN, Koeppen BM, Stanton BAV. Fisiologia. 6ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
9- Curi R, Araújo Filho, JP. Fisiologia básica. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan, 2009.
10- Craven RF, Hirnle CJ. Fundamentos de enfermagem. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan, 2006.
11- Potter PA, Perry Agriffin. Fundamentos de enfermagem. Rio de Janeiro:Elsevier, 2009.
13- Strasinger SK, Lorenzo MS. Urinálise e fluídos corporais. São Paulo: LMP. 2009.
14- Sato AF et al. Nitrito urinário e infecção do trato urinário por cocos gram-positivos. Jornal Brasileiro de
Patologia e Medicina Laboratorial, 2005. 41(6): 397-404.
15- Smeltzer CS, Brenda G. Brunner & Suddarth. Tratado de enfermagem médico cirúrgica. 10ª ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan. Unidade 9, 2005.
16- Henry JB. Diagnósticos clínicos e tratamentos por métodos laboratoriais. 19ª ed. São Paulo: Manole,
1999.
17- Riella MC. Princípios de nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos. 4ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2008.
18- Oliveira IRS, Castro CC, Guida CC, Rocha PCD. Imagenologia em nefrourologia. In: Cruz J, Praxedes
JN, Cruz HMM. Nefrologia. 2ª ed. São Paulo:Sarvier São Paulo, 2006.
O paciente com distúrbios urinários
Saturnina A. S Martins
Regina Aleixo Vecchi
Waldeir Abner de Lima
A- Pielonefrite
Caracteriza-se pela infecção bacteriana da pelve renal, túbulos e tecido
intersticial 3, geralmente por via ascendente (uretra, bexiga, ureter, rim). A pielonefrite
pode ser aguda ou crônica, sendo que a aguda normalmente se caracteriza por rins
aumentados e sinais de inflamação, muitas vezes acomete mulheres que já tiveram
cistite; já na crônica, os rins se apresentam cicatrizados, contraídos e afuncionais.1,3
Assim, em geral, caracteriza-se por cistites de repetição, refluxo vesicouretral e
alterações renais. É um processo infamatório, que pode acometer o interstício renal e
as cavidades pielocaliciais, sendo normalmente decorrente de infecções bacterianas.
São sintomas frequentes no adulto, a dor lombar, a febre e a bacteriúria. 4,5
O tratamento da pielonefrite deve ser rigorosamente seguido, recomendando-se
a internação para a instituição de terapia parenteral, por 2 ou 3 dias. Os medicamentos
orais normalmente são recomendados quando o cliente encontra-se afebril e com
melhora clínica. O paciente será submetido à tomografia e ultrassonografia, além da
urocultura com antibiograma, essencial para determinar qual antimicrobiano será
prescrito pela equipe médica. 3
A pielonefrite aguda de repetição frequentemente leva a um quadro de
pielonefrite crônica, que pode não apresentar sinais de infecção. Outros sintomas
prováveis são: fadiga, cefaleia, inapetência, poliúria, perda de peso e sede excessiva
(polidipsia). O quadro recorrente está ligado à insuficiência renal. 3
B- Uretrite
É uma inflamação da uretra, podendo ser decorrente de uma infecção, inclusive
aquelas decorrente do ato sexual. A dor durante a miccão é o sintoma principal. Mais
frequente em mulheres. Os processos inflamatórios são decorrentes de traumas
internos (masturbação) ou externos (cateterização).
A uretrite infecciosa é causada por bactérias, principalmente de origem intestinal
e por doencas sexualmente transmissivel (DSTs), como gonorreia (blenorragia),
Chlamydia trachomatis e Ureaplasma urealyticum.
Os sintomas compreendem dor, ardor e prurido ao urinar, polaciúria (aumento na
frequência) e sensação de urgência miccional. Nas DST a leucorreia pode estar
presente. Um antibiótico é prescrito pelo médico, em dose única ou por alguns dias nas
infecções bacterianas. O uso de preservativos é indicado como forma de prevenção. Os
parceiros são tratados concomitantemente.
C- Cistite
3
Caracterizada pela inflamação da mucosa vesical. O termo é utilizado para se
referir a uma infecção do trato urinário sintomática. Geralmente, ocorre por
contaminação da urina devido à proximidade da uretra ao ânus. Acomete
especialmente o sexo feminino, pois a mulher tem a uretra mais curta e o meato uretral
mais próximo ao períneo. A roupa também pode ser um fator de risco; assim,
recomenda-se evitar o uso de vestes justas, apertadas, confeccionadas em material
sintético, úmidas, além de contraindicar papel higiênico perfumado, sabonete, banhos
de espuma e pulverizadores íntimos. 3,4
O uso de antibiótico em dose única (fosfomicina) e recomendações gerais como
a higiene perineal, o uso de papel higiênico no sentido da frente para trás, o aumento
da ingesta de líquidos e o aumento na frequência urinária fazem parte do tratamento.
As cistites de repetição, assim como as outras formas de infecção urinária,
devem ser investigadas.
Urolitíase
É caracterizada pela dilatação da pelve renal e cálices, estando por sua vez,
associada à atrofia renal, decorrrente, em geral, por obstrução do fluxo urinário, por
cálculos, por exemplo. 5
Rim policístico
Os portadores também podem apresentar hematúria, infecção, dor, obstrução
urinária, hipertensão arterial sistêmica e até perda da função renal. 5
Outros exames diagnósticos incluem: radiografia simples do abdome, urografia,
pielografia, tomografia, angiografia, ressonância magnética, ultrassonografia dos rins e
vias urinárias.
A opção pelo tratamento varia de acordo com as condições clínicas do paciente,
além de estudo das imagens obtidas nos exames do portador de cistos renais. O
urologista optará pela intervenção cirúrgica quando o paciente vem apresentando
quadro de infecção, dor, hipertensão, hemorragia, obstrução do sistema coletor ou risco
de malignidade. Atualmente, o tratamento cirúrgico tem impactos invasivos mínimos,
sendo efetivo para o sucesso terapêutico, trazendo melhor qualidade de vida para o
3,4,8
paciente, com menores taxas de morbidade e mortalidade. Entre os tratamento,
destacam-se:
-Punção percutânea e escleroterapia: é um procedimento minimamente invasivo, que
através da ultrassonografia e da tomografia computadorizada, permite aspirar ao
conteúdo do cisto e utilizar substâncias esclerosantes.3,4,8
-Cirurgia percutânea: dilatação transcutânea do trajeto com balões dilatadores, utiliza-
se a escleroterapia com energia elétrica ou fibras de laser no interior do cisto. O índice
de morbidade e internação hospitalar é maior. 3,4,8
-Cirurgia videolaparoscópica: procedimento que ganha cada vez mais espaço, realizado
no centro-cirúrgico, através de uma punção supraumbilical com agulha específica
(Veress), além de outras abordagens, onde o cisto é identificado e dissecado, seu
conteúdo é aspirado para prováveis estudos laboratoriais. 5
Diagnósticos e respectivos objetivos e intervenções presentes nos portadores de alterações no sistema urinário.
Diagnóstico de Enfermagem (NANDA) Meta/Resultado (NOC) Intervenções/Atividades de enfermagem (NIC)
Gravidade da infecção
Controle de infecção
Proteção contra infecção
Administração de medicamentos
Controle de infecção: transoperatória
Cuidados de ambiente
Cuidados com lesões
Cuidados com local da incisão
Interpretação de dados laboratoriais
Monitoração de sinais vitais
Supervisão da pele
1- Pereira ERS, Souza CAM. Doenças dos rins e das vias urinárias. In: Porto CC. Semiologia médica. 6ª ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. p 813-28.
3- Smeltzer SC, Bare BG. Brunner & Suddarth. Tratado de enfermagem médico cirúrgica. 10ª ed. Rio de
Janeiro:Guanabara Koogan. 2005. Cap 45: Tratamento de pacientes com distúrbios urinários, p 1385-
1435.
4- Figueiredo NMA, Viana DL, Machado WCA. Tratado prático de enfermagem. 2ª ed. São Caetano do Sul:
Yendis, 2009.
6- Malagutti W, Ferraz RRN. Nefrologia, uma abordagem multidisciplinar. Rio de Janeiro: Rubio, 2011.
7- Ajzen H, Schor N. Guias de medicina ambulatorial hospitalar da UNIFESP – EPM. Nefrologia. 3ª ed. São
Paulo: Manole, 2010.
8- Cruz JN, Praxedes JN, Cruz HMM. Nefrologia. 2ª ed. São Paulo: Sarvier, 2006.
9- Zatz R. Série fisiopatologia clínica. Fisiopatologia Renal. 2ª ed. São Paulo: Atheneu, 2000.
10- Neto RAB, Martins HS, Neto AS, Velasco IT. Prescrição de medicamentos em Enfermaria. São Paulo:
Atheneu. 2007.
11- Daurgidas JT, Blake PG, Ing TS. Manual de diálise. 4ª ed. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan, 2008.
12- Johnson M, Bulechek G, Dochterman JM, Maas M, Moorhead S. Diagnósticos, resultados e intervenções
de enfermagem: ligações entre NANDA, NOC e NIC. Tradução Ana Thorell. Porto Alegre: Artmed, 2005.
O paciente em tratamento dialítico
Saturnina A. S Martins
Regina Aleixo Vecchi
Waldeir Abner de Lima
Os métodos dialíticos
A hemodiálise
- Equipo arterial (linha ou set arterial): material estéril de baixa aderência ao sangue,
responsável por conduzir o sangue até o capilar, por meio de uma bomba. Este equipo
também permite a coleta de exames, utilizando técnica asséptica; a via não é indicada
para administração de medicamentos injetáveis.
Complicações da hemodiálise1,4,5
Durante e após o procedimento de hemodiálise, podem ocorrer diversas
intercorrências. As complicações podem ser agudas ou crônicas. Entre elas destacam-
se:
√Hipotensão: em geral, estão relacionadas ao grande ganho de peso interdialítico
(retirada brusca de líquidos do espaço intravascular), solução de diálise com baixa
concentração de sódio, hiperaquecimento da solução de diálise, uso de anti-
hipertensivo antes do procedimento, cálculo de peso “seco” (pós procedimento)
inadequado, hemorragia, septicemia, cardiopatias, vasculopatias e hematócrito baixo.
Sinais e sintomas: escurecimento visual; tontura; náuseas e vômitos; palidez; apatia;
frio ou calor; mal estar geral; sudorese; taquicardia; dispneia.
Os cuidados de Enfermagem nos episódios de hipotensão são: comunicar
intercorrência ao médico e enfermeiro da unidade; infundir rapidamente soro fisiológico
0,9%, conforme prescrição médica e ou protocolo institucional; zerar ultrafiltração;
colocar o paciente em posição de Trendelemburg e lateralizar a cabeça (evitar risco de
broncoaspiração em caso de apresentar emese); instalar oxigenoterapia conforme
indicação médica; aferir pressão arterial a cada quinze ou trinta minutos até
estabilização.
Posição de Trendelemburg.
√Caimbras: ocorrem quando o paciente está abaixo de seu peso seco, apresenta
hipotensão ou se a solução dialítica estiver com diminuição de sódio e potássio. Essas
alterações levam a quadros de contração intensa e involuntária da musculatura
esquelética.
Os cuidados de enfermagem são: comunicar médico responsável, realizar
massagens locais, corrigir a causa desencadeante, conforme prescrição.
Hipernatremia Hiponatremia
Sede intensa; Dor lombar, sangue de aspecto escuro
Cefaleia; no sistema, calafrios, dispneia, cianose
Náuseas e vômitos; pré-labial e extremidades;
Pressão arterial elevada; Mal estar, cefaleia, náusea e vômitos,
Agitação. espasmos musculares e confusão
mental.
√Embolia gasosa: uma das complicações mais graves e temidas. Ocorre por entrada de
ar no sistema extracorpóreo ou falha técnica: ruptura de linha arterial e/ou venosa,
conecções mau adaptadas, clampeamento inadequado das linhas do sistema
extracorpóreo ou baixo fluxo sanguíneo arterial. Sinais e Sintomas: tosse seca; dispneia
cianose; pressão no peito; agitação psicomotora; hipotensão arterial.
Cuidados de enfermagem: interromper a diálise; comunicar médico e o
enfermeiro; instalar oxigenoterapia conforme prescrição médica; posicionar o paciente
em Trendelemburg e decúbito lateral esquerdo; aferir sinais vitais; manter carro de
emergência próximo para intervenção imediata se necessário; administrar medicações
conforme prescrição médica; solucionar a causa que levou a embolia; aguardar
desaparecimento dos sintomas; se possível após restabelecimento do paciente reiniciar
o procedimento de hemodiálise; checar vaga na unidade de terapia intensiva, se
necessário.
√Ruptura do equipo arterial e/ou venoso: as possíveis causas podem ser ajuste
inadequado do equipo na bomba de sangue, fluxo de sangue arterial insuficiente,
manuseio inadequado no reprocessamento, defeito de fabricação. Os sinais que podem
surgir são: extravasamento de sangue, entrada de ar no sistema extracorpóreo, alarme
de detecção de bolhas e alarme de queda da pressão arterial e venosa do sistema
extracorpóreo. O equipo deve ser trocado; rever o fluxo arterial e venoso do acesso
vascular; solicitar ajuste técnico da bomba de sangue.
A-Cateteres
Os cateteres de duplo ou triplo lúmen são acessos venosos centrais, em geral
utilizados como acessos vasculares temporários, tendo como vantagem seu uso
imediato, após implantação; os mais conhecidos na prática clínica são os cateteres
duplo lúmen não-tunelizados tipo Shiley® ou Quinton-Mahurkar ®; apresentam menor
taxa de recirculação sanguínea quando utilizados em hemodiálise, em comparação com
os de único lúmen.
Preferencialmente, os cateteres duplo lúmen são inseridos na veia jugular interna
direita, devido a menos riscos de complicações. Outros opções de veias incluem:
jugular externa direita, jugulares externa e interna esquerda, subclávias, femurais e
cava inferior, por acesso translombar.
A utilização da veia subclávia acompanha-se de taxa de obstrução e estenose
venosa em torno de 42% a 50%.
A veia femoral pode ser utilizada para acesso vascular, especialmente nos
pacientes portadores de insuficiência respiratória que não toleram decúbito baixo no
momento da punção, ou por dificuldade para acesso central superior. Embora este
procedimento seja relativamente fácil, está associado a elevado risco de trombose
venosa profunda e infecção. O uso desse cateter não deve ser superior a 5 dias,
devendo ser de uso restrito a pacientes acamados.
As complicações com cateteres podem ser agudas e crônicas.
Complicações agudas: punção arterial acidental (carótida e subclávia);
sangramento venoso; hematoma cervical compressivo; pneumotórax por punção da
região de ápice pulmonar; hemotórax; hidrotórax; lesão laríngeo recorrente (levando a
disfonia) ou do plexo braquial; arritmia cardíaca; perfuração cardíaca; hemomediastino
Complicações crônicas: infecção; sangramento; trombose do cateter; trombose
venosa profunda; embolia pulmonar; estenose de veia subclávia.
O cateter de duplo lúmen semi-implantado de longa duração, tipo Permicath®,
geralmente confeccionado de silicone, colocado cirurgicamente (Centro cirúrgico ou
setor de Hemodinâmica), em veias de grande calibre através da veia jugular interna,
veia subclávia ou veia femoral. Caracteriza-se por ser tunelizado e possuir “cuff”
subcutâneo, também denominado de filtro de dracom, que promove uma fibrose,
permitindo a fixação do cateter e o isolamento do meio externo, o que diminui os riscos
de infecção.
B-Fístula arteriovenosa
A fístula arteriovenosa (FAV) é considerada um acesso vascular permanente e
está indicada em pacientes com insuficiência renal crônica terminal; é o melhor tipo de
acesso para hemodiálise crônica. Consiste em uma anastomose subcutânea de uma
artéria com uma veia; após alguns meses o ramo venoso se dilata e suas paredes se
espessam, permitindo a inserção repetida das agulhas de hemodiálise (figura 15.xxx).
Pseudoaneurisma de FAV.
C-Prótese de PTFE
A prótese possibilita uma fístula arteriovenosa com interposição de segmento de
politetrafluoretileno expandido (PTFE). É realizado o implante do segmento de PTFE
entre uma artéria e uma veia, independente do local anatômico (fístula entre os vasos
tradicionais, artéria axilar com veia cava, outras). Este artefato possui um custo mais
elevado e está associado a uma taxa de trombose e estenose superior a FAV; as
infecções surgem com maior frequências. A opção por uma prótese é restrita aos
pacientes nos quais as tentativas para a realização de uma FAV autóloga foram mal
sucedidas ou quando as condições dos vasos são desfavoráveis, como em idosos,
obesos e diabéticos.
Prótese de PTFE.
Hemodiálise e legislação9,10
A Portaria n. 82, de 3 de janeiro de 2000, regulamenta o funcionamento dos
serviços de diálise e as normas para seu cadastramento, junto ao Sistema Único de
Saúde (SUS, vide Unidade 2).
Esta portaria, em seu capítulo 2, preconiza as atribuições gerais dos serviços de
diálise, a saber:
a) uma exposição mínima aos riscos decorrentes do próprio tratamento, em relação aos
benefícios obtidos;
b) um monitoramento permanente da evolução do tratamento, assim como de seus
efeitos adversos;
c) que o tratamento de diálise a que se submete tenha como consequência a melhora
geral do seu estado de saúde.
Todos os pacientes em terapia renal substitutiva são submetidos a uma série de
exames laboratoriais e de imagem no período admissional e ao longo do tratamento
dialítico, de acordo com a mesma portaria:
a) Exames mensais: hematócrito, dosagem de hemoglobina, ureia antes e após cada
sessão de diálise, creatinina, potássio, cálcio, fósforo, transaminase glutâmica pirúvica
(TGP), antígeno superficial de hepatite B (HBsAG), anticorpos de hepatite C (anti-HCV),
e glicemia para pacientes diabéticos;
b) Exames trimestrais: hemograma completo; medição da saturação da transferrina;
dosagem de ferritina, ferro sérico, anticorpo superficial de hepatite B (anti-HBs),
proteínas totais e frações e fosfatase alcalina;
c) Exame semestral: dosagem de párato-hormônio;
d) Exames anuais: dosagem de anticorpos para HIV e do nível sérico de alumínio.
A coleta do sangue dos pacientes para a realização dos exames deve ser feita
precedendo a sessão de diálise, ao final do maior período interdialítico, salvo indicação
em contrário.
1- RiellaI MC. Princípios de nefrologia e distúrbios hidroeletrolíticos. 4ª. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2008.
2- Abensur H, Castro MCM. Métodos dialíticos. In: Cruz J, Praxedes JN, Cruz HMM. Nefrologia. 2ª. ed.
São Paulo: Sarvier, 2006.
3- Malagutti W, Ferraz RRN. Nefrologia: uma abordagem multidisciplinar. Rio de Janeiro: Rubio, 2011.
4- Daugirdas J, Ing TS. Manual de diálise. 4ª. ed. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 2008.
5- Lima EQ, Burdmann EA. Nefrologia. 2ª. ed. São Paulo: Sarvier, 2006.
6- Smeltzer CS, Brenda G. Brunner & Suddarth. Tratado de enfermagem médico cirúrgica. 10ª ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. Cap 44, p 1345-84.
7- Jornal Brasileiro de Nefrologia. Relatório do censo brasileiro de diálise de 2010. v33 (4), 2011.
9- Brasil. Ministério da Saúde. Portaria SAS/MS n. 432, de 06 de junho de 2006. Política Nacional de
Atenção ao Portador de Doença Renal.
10- Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 82, de 3 de janeiro de 2000. [acesso 2012 mar 10].
Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/82_00.htm