Cap 04 PDF
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DESENVOLVIMENTO
E ENVELHECIMENTO
HUMANO
Introdução
A segunda infância é marcada por grandes transformações físicas e cog-
nitivas com implicações nas relações sociais estabelecidas pela criança.
É uma fase de constante aprendizado e muitas experiências novas. Nesse
período, a criança passa a ter maior noção de si mesma e de sua posição
no ambiente que a cerca, o que permite a construção do conceito do eu
e do convívio social, ainda que restrito.
Neste capítulo, você vai aprender quais são as principais alterações
relacionadas às mudanças físicas e motoras, as fases do desenvolvimento
cognitivo e como o pensamento se estrutura nessa fase, além de saber
quais são os principais aspectos na segunda infância do desenvolvimento
psicossocial.
2 Segunda infância: desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial
Pictório Pictório
inicial tardio
Desenvolvimento cognitivo
O estágio pré-operatório do desenvolvimento cognitivo ocorre por volta dos 2
aos 7 anos, e é caracterizado pelo maior uso do pensamento simbólico ou da
capacidade representacional. Nesse período, há um crescente entendimento
pela criança das noções de espaço, causalidade, identidade e categorização
dos números.
Além disso, por intermédio da função simbólica, a criança passa a responder
não mais por estímulos sensórias ou motores, como ocorria no estágio anterior.
Essa evolução possibilita à criança fazer referência a partir de imagens mentais
e atribuir a elas significados específicos.
Segundo Faria (1998), entre as atividades mais comuns na utilização da
função simbólica estão as brincadeiras de faz-de-conta, a imitação diferida e
a própria linguagem exercida por meio de símbolos ou palavras.
A capacidade cognitiva do entendimento da causalidade apresenta em seu
desenvolvimento uma característica ainda generalista, ou seja, a criança começa
a ser capaz de entender a relação entre dois objetos ou entre eventos, mas sem
a flexibilidade necessária para que as respostas possam variar. Um exemplo
é quando a criança associa a atitude de fazer bagunça com a consequência
do castigo e, ao ver um adulto ou outra pessoa fazendo algo similar a uma
bagunça, ela determinará que a consequência será o castigo. Outro processo no
entendimento da causalidade é a transdução. Neste, a criança tende a vincular
mentalmente determinados fenômenos, havendo ou não uma relação causal
lógica entre eles (FARIA, 1998).
Na categorização ou classificação, a criança desenvolve a capacidade
de identificar similaridades e diferenças, estabelecendo também a noção de
identidades. Entre as categorizações existentes, uma delas é a capacidade de
distinguir coisas vivas de inanimadas, contudo, é muito comum nesse período
atribuir vida a objetos inanimados, o que é conhecido como animismo.
O pensamento pré-operatório é também caracterizado pelo processo da
centração, no qual a criança apresenta a tendência a concentrar-se em um
aspecto único de uma situação, passando a negligenciar os outros aspectos.
Isso ocorre porque as crianças nessa fase não sabem descentrar, ou seja, não
conseguem pensar em diversos aspectos de uma situação ao mesmo tempo
(PAPALIA, 2013).
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Desenvolvimento psicossocial
Uma das características no desenvolvimento psicossocial é a formação do
autoconceito, uma construção cognitiva baseada em um sistema de represen-
tações descritivas e avaliativas a respeito de nós mesmos, nossas capacidades
e traços. A partir dessa representação é que definimos como nos sentimos
sobre nós mesmos e como iremos nos portar diante da vida (DESSEN; COSTA
JÚNIOR, 2005).
O autoconceito inicia sua formação ainda na primeira infância e, à medida
que a criança se desenvolve e passa a ter maior autoconsciência, ele se amplia
cada vez mais. Entre os 5 e 7 anos de idade, a criança tende a mudar a forma
como constrói seu autoconceito. Antes disso, até os 4 anos, ela descreve
principalmente comportamentos concretos e observáveis, características
externas do seu aspecto físico e ações concretas. Um exemplo é quando a
criança fala inicialmente que é alguém que gosta de pular ou de correr; com
o desenvolvimento do autoconceito, ela passa a se referir como alguém que
gosta de brincar (COLL; MARCHESI; PALÁCIOS, 2004).
Essa forma inicial de autodescrição é chamada de representações únicas,
sendo compostas por declarações sobre si mesmo de maneira unidimensional.
O pensamento característico nesse momento não possui uma conexão lógica e
há uma dificuldade para entender que é possível que aspectos contraditórios
sobre si mesmo coexistam. Além disso, há uma confusão entre a identidade
real e a identidade ideal.
Com o desenvolvimento do autoconceito, a criança entra na fase das asso-
ciações representativas e começa a fazer associações lógicas entre um aspecto
de si mesma e das pessoas do seu convívio. A interação social torna-se uma
referência para o estabelecimento de sua identidade e do seu autoconceito. De
acordo com Coll, Marchesi e Palácios (2004), a imagem de si mesmo ainda é
expressa em termos extremos, ou seja, a criança ainda não consegue perceber
que pode ser boa em algumas atividades e não tão boa em outras.
A terceira fase, chamada de sistemas representacionais, ocorre após os 7
anos, e nela a criança começa a integrar aspectos específicos de sua identidade
em um conceito geral e multidimensional (COLL; MARCHESI; PALÁCIOS,
2004).
Outro processo em desenvolvimento é a autoestima, uma autoavaliação
que a criança realiza a partir de seu autoconceito. É o julgamento que ela faz
sobre seu valor geral e que se baseia em um desenvolvimento crescente de sua
capacidade cognitiva em definir a si própria (FARIA, 1998).
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Nutrição
Deficiências e excessos alimentares de forma crônica podem ter um papel
muito forte nos padrões de desenvolvimento. Essas alterações irão depender da
duração e do momento em que ocorre a subalimentação ou superalimentação.
De fato, crianças que apresentam uma alimentação pobre e insuficiente até os
4 anos de idade tenderão a não atingir o mesmo desenvolvimento cognitivo
quando comparado com crianças bem alimentadas (GALLAHUE; OZMUN;
GOODWAY, 2013).
Quando se fala em má nutrição, deve-se considerar não só a quantidade,
mas também a qualidade alimentar. Deficiências em minerais e vitaminas
podem ser altamente prejudiciais para o desenvolvimento físico das crianças,
ou até mesmo contribuir para o surgimento de doenças que irão afetar esse
desenvolvimento. Como exemplo, pode-se citar a falta de vitamina D na dieta,
que pode resultar em raquitismo (Figura 2), uma condição que se apresenta
8 Segunda infância: desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial
Figura 2. Raquitismo.
Fonte: Adaptada de Accelarated Ideas (2018).
Outros fatores
Existe uma série de outros fatores que podem influenciar no processo de
desenvolvimento, incluindo doenças, clima, alterações emocionais e outras
condições incapacitantes. Os males causados por doenças na infância irão
depender de sua duração, gravidade, estado do indivíduo e estado nutricional.
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50
Porcentagem de óbitos entre crianças abaixo de
40 Geral
Americanos brancos
Afro-americanos
Hispano-americanos
5 anos no Estados Unidos
30 Americanos asiáticos
Americanos nativos
20
10
0 Defeitos Defeitos
Acidentes Câncer Homicídio Infecções
congênitos cardíacos
Figura 4. Diferenças entre grupos étnicos nas causas de morte entre crianças com menos
de 5 anos.
Fonte: Adaptada de Boyd e Bee (2011)
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Leituras recomendadas
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