Percepção e Perspectivas Sobre o Turismo Comunitário Na Resex Prainha Do Canto Verde, Beberibe - Ceará - Brasil
Percepção e Perspectivas Sobre o Turismo Comunitário Na Resex Prainha Do Canto Verde, Beberibe - Ceará - Brasil
Percepção e Perspectivas Sobre o Turismo Comunitário Na Resex Prainha Do Canto Verde, Beberibe - Ceará - Brasil
CENTRO DE CIÊNCIAS
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
FORTALEZA
2018
SUSANA DANTAS COELHO
FORTALEZA
2018
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Universitária
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________
Profª Dra. Adryane Gorayeb Nogueira Caetano (Orientadora)
Universidade Federal do Ceará – UFC
__________________________________________________________
Profª Dra. Anna Érika Ferreira Lima
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE
__________________________________________________________
Profº Dr. Marcius Tulius Soares Falcão
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE
__________________________________________________________
Profº Dr. Jader de Oliveira Santos
Universidade Federal do Ceará - UFC
__________________________________________________________
Profº Dr. Christian Brannstrom
Texas A&M University - TAMU
Dedico este trabalho a Deus, à minha avó
Dulce Dantas, à minha mãe Heliette Dantas,
minhas filhas Marianna Dantas e Giovanna
Dantas e ao meu marido, Rodrigo Freitas.
AGRADECIMENTOS
À Deus, por permitir que eu siga meus caminhos, sempre com êxito.
À minha avó Dulce Maia Dantas e minha mãe Heliette Maia Dantas, por sempre
fazerem o possível em prol dos meus estudos, me possibilitando estudar em condições
favoráveis ao aprendizado.
Ao meu marido Rodrigo Freitas Guimarães, que sempre incentivou minha
trajetória profissional e acadêmica, me fazendo enxergar novos horizontes possíveis.
Às minhas filhas Giovanna Dantas Guimarães e Marianna Dantas Guimarães, pela
compreensão nos dias em que deixei parcialmente de realizar minhas obrigações de mãe para
poder realizar minhas atividades do doutorado.
À minha amiga Rachel Costa Sabry, sempre incentivadora de minhas escolhas.
À minha amiga Conceição Malveira Diógenes, pelo incentivo e torcida pela
minha aprovação nesta tese de doutorado.
À minha sogra Maria Luiza Moreira de Freitas pelo intermédio com a Prefeitura e
Secretaria de Turismo e Cultura de Beberibe e por sempre estar disposta a me ajudar.
Aos amigos Francisco Otávio Landim Neto e Nátane Oliveira da Costa, que
sempre me ajudaram com materiais e informações importantes, além da torcida de sempre.
À Ana Larissa Freitas pela grande ajuda com os mapas.
À minha amiga e Chefe de Departamento Rúbia Valério Naves de Souza, que
sempre compreendeu minha correria e sempre se colocou solidária com minha situação.
Aos amigos e coordenadores Francisca Margareth Gomes de Araújo, Júlio César
Ferreira Lima, Luiz Régis Azevedo Esmeraldo e Antônio Ulisses de Sousa Jr, pela
compreensão nos dias em que estive ausente da coordenação, realizando atividades do
doutorado.
Àqueles que direta e indiretamente contribuíram para a realização deste estudo.
Ao amigo Ricardo da Silva Pedrosa, sempre disponível em ajudar no que
precisava. Foi importantíssimo nas discussões sociológicas desta tese.
Aos amigos, de uma forma geral, que torceram por mim aguardando minha
conquista.
Aos alunos que passaram por mim durante essa caminhada, sempre solícitos e
compreensíveis com minha falta de tempo.
Às alunas Júlia Gabriela Bezerra Souza e Rafaele Cavalcante Silva pela ajuda no
inventário turístico da Prainha do Canto Verde.
À minha segunda casa, IFCE, onde trabalho e dedico algumas horas diárias, pelo
acolhimento e por me proporcionar dias tranquilos e felizes, importantes para a conclusão da
minha pesquisa.
Ao professor Fábio Perdigão Vasconcelos, que sempre acreditou no meu potencial
e me incentivou a fazer a seleção da Pós em Geografia da UFC.
À professora Luzia Neide Coriolano, pelos puxões de orelha e contribuições
decisivas para a escolha do tema.
À minha amiga e orientadora, Adryane Gorayeb Nogueira Caetano, que sempre
esteve disposta a ajudar nos momentos difíceis, acreditando e confiando no meu potencial,
não me deixando desistir dos meus objetivos.
Aos professores que tive ao longo das disciplinas, permitindo-me absorver um
pouco mais de geografia.
Ao amigo e professor Jader de Oliveira Santos, pela coleta de informações e
materiais ao longo desse caminho, além de me dar a honra de tê-lo em minha banca.
Ao professor José Levi Furtado Sampaio, não só pelas maravilhosas aulas que me
fizeram aprender e refletir muito, mas pela disponibilidade em me atender sempre que
precisei.
Ao professor Alexandre Queiroz Pereira, pelas contribuições durante os
seminários e por contribuir com meu trabalho.
À minha amiga e professora Dra. Anna Érika Ferreira Lima, por ter sido sempre
tão solícita em me ajudar com material, nas pesquisas de campo e por me dar a honra de tê-la
em minha banca.
Ao meu amigo e professor Dr. Marcius Tulius Soares Falcão, pela contribuição
com material, por me ajudar no inventário turístico da Prainha do Canto Verde e por me dar à
honra de compor minha banca.
Ao Professor Dr. Christian Brannstrom, pela disponibilidade em compor minha
banca e pelas considerações feitas ao meu trabalho.
À Secretaria de Turismo e Cultura de Beberibe, na pessoa da secretária Sra.
Meridiana Queiroz, pela prontidão em aceitar e gravar a entrevista.
Ao ICMBIO, em especial a Hueliton Ferreira e Thiago Beraldo, sempre dispostos
a contribuir com meu trabalho.
Aos moradores da Prainha do Canto Verde que se colocaram a disposição para me
ajudar na coleta de dados.
Ao Senhor Roberto e à senhora Rosiane, líderes comunitários da Prainha do Canto
Verde, pelas conversas e receptividade.
Ao Senhor Beto, membro do Conselho de Turismo da Prainha do Canto Verde,
pela entrevista concedida e pela gentileza em sempre tirar dúvidas quando precisei.
Ao Senhor Luiz, presidente da Associação de Moradores da Prainha do Canto
Verde, pela disponibilidade em me atender, além de manter-me atualizada sobre o que vem
acontecendo na comunidade.
Ao Projeto PRONEM CNPq/ FUNCAP Processo PNE - 0112 00068.01.00/16
"Análise Socioambiental dos Impactos de Parques Eólicos no NE: Perspectivas para a
sustentabilidade da geração de energia renovável", pelo financiamento de minha pesquisa.
Ao Projeto PGPSE/ CAPES Processo 88887.123947/2016-00 "Sistemas
Ambientais costeiros e ocupação econômica do Nordeste", pelo financiamento de minha
pesquisa.
RESUMO
Por muitos anos, o turismo comunitário no Brasil, teve um sentido distorcido, distante do que
se idealizava como um turismo de referência e almejado pela maioria. Compreendendo a
importância desse novo tipo de turismo e, principalmente, a participação da comunidade nas
tomadas de decisão, escolheu-se a RESEX Prainha do Canto Verde, Beberibe/CE, como
objeto de estudo por estar inserida nessa realidade desde 1988. Indicou-se como objetivo geral
avaliar o turismo comunitário na Prainha do Canto Verde e como específicos, tem-se: (i)
diagnosticar junto à comunidade as atividades turísticas que vêm sendo realizadas, bem como
identificar a oferta e infraestrutura turística existente; (ii) conhecer a percepção do poder
público municipal e dos representantes das duas associações existentes, dentro de um recorte
temporal de 2016 a 2017; (iii) identificar como o turismo comunitário se integra e reage às
demandas e necessidades do mercado turístico globalizado. Para responder a tais indagações,
optou-se pelo método dedutivo, focado no conceito de percepção a fundamentar uma
metodologia de cunho quanti-qualitativo do tipo estudo de caso. Na fase exploratória da
pesquisa foram realizadas visitas à localidade em estudo, com entrevistas e conversas
informais com representantes do poder público municipal, moradores da comunidade e
representantes das duas associações. Para a coleta de dados optou-se pela aplicação de
questionários e análise de registros fotográficos da localidade. Constatou-se que o turismo
comunitário não é percebido como principal fonte de renda das famílias, mas envolve
questões culturais, sociais e ambientais oriundas de modelos distintos de desenvolvimento da
atividade turística, num contexto em que o turismo comunitário acaba não envolvendo a
comunidade em seus processos decisórios e participativos. Por outro lado, a ausência de
estrutura para o desenvolvimento de uma oferta turística mais competitiva denota relevância a
essa atividade, com apoio e presença do poder público no suporte à oferta do turismo
comunitário, acaba polarizando as relações socioculturais e os interesses econômicos
presentes na vida cotidiana da comunidade. O estudo foi considerado relevante por contribuir
com o planejamento das atividades turísticas na comunidade, com vistas a uma melhor gestão
e um desenvolvimento harmônico, envolvendo turistas e comunidade.
For many years, community tourism in Brazil had a distorted meaning, far from what was
conceived as a referential tourism and sought by the majority. Understanding the importance
of this new type of tourism and, especially, the participation of communities in decision
making, we chose RESEX Prainha do Canto Verde in Beberibe / CE, as the object of study
because the place has been inserted in this reality since 1988. The general objective was to
evaluate community tourism in Prainha do Canto Verde and as specific objectives, it is
necessary: (i) to diagnose through the community the tourism activities that are being carried
out, as well as identify the existing tourism offer and infrastructure; (ii) to know the
perception of the local public power and of the representatives of the two existing
associations, within a temporal cut from 2016 to 2017; (iii) to identify how local-based
tourism integrates and responds to the demands and needs of the globalized tourism market.
In order to respond to such questions, we opted for the deductive method, focused on the
concept of perception to base a quantitative-qualitative methodology of the case study type. In
the exploratory phase of the research, visits were made to the location under study, for having
interviews and informal conversations with representatives of the municipal public power,
community residents and representatives of the two associations. For data collection, we
opted for the application of questionnaires and analysis of photographic records of the place.
It was found that community tourism is not perceived as the main source of income for
families, but it involves cultural, social and environmental issues coming from different
models of tourism development, in a context where community tourism ends up not involving
the community in its decision-making and participatory processes. On the other hand, the
absence of a structure for the development of a more competitive tourism offer denotes
relevance to this activity, with support and participation of the public power to offer
appropriate community tourism, ends up polarizing the socio-cultural relations and economic
interests in the community’s daily life. The study was considered relevant for contributing to
the planning of tourism activities in the community, with a view to better management and
harmonious development, involving tourists and the community.
1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 18
2 METODOLOGIA........................................................................................ 26
2.1 Procedimentos técnico-metodológicos......................................................... 26
2.2 Referencial teórico........................................................................................ 28
2.2.1 Percepção e imagem como forças simbólicas do turismo comunitário....... 28
2.2.2 Desenvolvimento sustentável, autogestão e comunidade ............................ 48
3 TURISMO COMUNITÁRIO NA PRAINHA DO CANTO VERDE:
RELAÇÕES ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA NOS DIAS ATUAIS 80
3. 1 A Infraestrutura básica e turística da Prainha do Canto Verde.............. 84
3.2 A percepção do turismo comunitário na visão do poder público, dos
envolvidos no turismo comunitário e dos moradores da Prainha do
Canto Verde.................................................................................................. 115
1 INTRODUÇÃO
Motivados por esse cenário, surgem os arranjos produtivos locais, que na visão da
RedeSist (2003, p. 18) se definem como sendo “o local ou a complexa rede de relações sociais
em uma área geográfica limitada que intensifica a capacidade de inovação local através de um
processo de aprendizado sinergético e coletivo. Consideram-se não apenas as relações
econômicas, mas também sociais culturais e psicológicas”, que vêm recebendo uma atenção
especial de governos e da iniciativa privada por se configurar como uma alternativa singular
direcionada ao fomento da competitividade e ao desenvolvimento econômico do país, em
especial de algumas pequenas localidades. O que antes era considerado sem valor, hoje é visto
como oportunidade de atrair turistas, que buscam a simplicidade, o contato humano e as novas
experiências.
Outras importantes ações também foram relevantes, como a possibilidade de uma
roteirização turística, incentivando a criação de novos destinos turísticos, fomento à produção
associada, agregando valor à oferta turística e potencializando a competitividade dos produtos
turísticos, integração e dinamização dos Arranjos Produtivos do Turismo, aumento do tempo
de permanência do turista nos destinos e roteiros turísticos e, por fim, a dinamização das
economias locais (PNT, 2013).
Compreendendo a importância desse novo tipo de turismo e, principalmente, a
participação da comunidade nas tomadas de decisão, definiu-se a Prainha do Canto Verde,
localizada no distrito de Paripueira, no município de Beberibe/CE, 126 km a leste de
Fortaleza (Figura 1), como objeto de estudo por estar inserida nessa realidade do turismo
comunitário desde 1988, quando parte da comunidade optou por desenvolver tal atividade
econômica.
Nesse cenário, entende-se que o potencial do turismo comunitário enquanto
mitigador de situações de vulnerabilidade social, miséria ou mesmo de enfraquecimento da
cultura local é importante e, devido a isto, o supracitado objeto de estudo se configura como
uma referência de organização e de governança responsável, já que passou de uma
aglomeração de famílias e posteriormente pela miscigenação de nativos e visitantes
(TUPINAMBÁ, 1999), hoje representando uma opção de turismo comunitário no estado,
sendo referência para o país.
21
Figura 1 – Mapa de localização da Prainha do Canto Verde, Ceará, Brasil.
Diante deste cenário, surgem perguntas de partida que margeiam a presente tese:
Existe turismo comunitário na Prainha do Canto Verde? Quais os impactos dessa atividade na
comunidade? Quem se beneficia desse modelo de turismo desenvolvido na comunidade?
Diante de tais inquietações indicou-se como objetivo da pesquisa: avaliar o
turismo comunitário na Prainha do Canto Verde, com o intuito de compreender a abrangência
desta atividade.
Como objetivos específicos, tem-se: (i) diagnosticar junto à comunidade as
atividades turísticas que vêm sendo realizadas, bem como identificar a oferta e infraestrutura
turística existente; (ii) conhecer a percepção do poder público municipal e dos representantes
das duas associações existentes, dentro de um recorte temporal de 2016 a 2017; (iii)
identificar como o turismo comunitário se integra e reage às demandas e necessidades do
mercado turístico globalizado.
Dessa forma, após responder a tais questionamentos, buscou-se refletir sobre
como se dá o processo de autogestão da comunidade no território; este que se materializa
enquanto uma característica marcante do turismo desenvolvido na Prainha do Canto Verde.
Assim, para responder a tais indagações, foi importante refletir que o turismo configura-se
como fenômeno complexo, inter-relacionado com diversas variáveis simultaneamente,
provocando incertezas e ocorrências indesejadas, como as ocupações irregulares,
transformações culturais e descaracterização da cultura e da paisagem quando desenvolvido
sem planejamento adequado, ocasionando mudanças no território dos lugares onde se insere.
O estudo é considerado relevante por contribuir com o planejamento do turismo
na localidade e do ponto de vista social, permite a descoberta de experiências com outras
formas de vida, superando as relações consumistas características do capitalismo e
estimulando a relação harmoniosa entre turista e comunidade receptora, onde ambos são
responsáveis por uma nova forma de desenvolvimento. Para a academia, representa um tema
em evidência, estando constantemente discutido por teóricos do turismo e da Geografia, além
de significar importante fonte de consulta para estudantes e pesquisadores.
Para atender aos objetivos propostos, buscou-se a aplicação de questionários e
entrevistas semiestruturadas, envolvendo quatro sujeitos principais: moradores envolvidos
diretamente com o turismo, associações, lideranças comunitárias e poder público municipal, a
fim de conhecer as várias visões acerca do mesmo tema.
No Brasil, a noção de cooperação produtiva tem sido expressa principalmente
pela abordagem desses arranjos produtivos locais, considerados aglomerados territoriais de
empresas ou produtores, especialmente de pequeno porte, que podem se valer da ação
23
2 METODOLOGIA
Com base nas leituras preliminares, pautadas em autores como Coriolano (2006a),
Cañada; Gascon (2007) e Bartholo (2009), que pesquisam a integração do turismo com as
comunidades e Raffestin(1993), Haesbaerth (2004) e Santos (2001), que contribuíram para
estabelecer o debate sobre espaço e território associada às visitas de campo levantou-se a
hipótese de que existe uma experiência de turismo comunitário na Prainha do Canto Verde, a
qual teria beneficiado uma parcela dos moradores, proporcionando melhores condições
financeiras por meio da renda complementar e fortalecido o território, por outro lado esta
mesma experiência têm promovido insatisfação para aqueles que não estão incluídas nela por
conflitos, discordâncias e uma inexistente unicidade na proposta. O Apêndice A apresenta a
autorização para atividades com finalidade científica conseguida junto ao Instituto Chico
Mendes de Conservação e Biodiversidade - ICMBio
O levantamento preliminar de dados em campo foi realizado através do
instrumento de pesquisa do MTur (2015), denominado de Inventário da Oferta Turística
(INVTUR), que se configuram como o resultado da revisão e atualização de documentos
anteriores e de ajustes, correções e adequações conceituais, metodológicas, operacionais e
técnicas, refletindo a dinâmica contemporânea da economia do turismo exigida pela sociedade
e pelos setores produtivos. É importante ressaltar que estão alinhadas ao Plano Nacional de
Turismo 2013-2016 (PNT), além de visão e diretrizes do MTur (BRASIL, 2006a).
Foram realizadas ainda nessa fase exploratória, entrevista com o poder público e
aos representantes das redes de turismo solidário e associações comunitárias, seguindo um
roteiro semi-estruturado (Apêndices B e D). Estas foram estruturadas com um roteiro
previamente estabelecido, gravadas em formato mp3.
Durante essa etapa foram levantadas informações sobre os serviços turísticos
como meios de hospedagem, alimentação, atrativos naturais, culturais e infraestrutura básica
disponível na localidade. A partir dessas informações, organizou-se um diagnóstico, com a
análise das informações levantadas pelo documento, visando identificar as potencialidades e
vocações das localidades que trabalham ou pretendem investir no turismo, contemplando
áreas rurais e urbanas do território estudado, como alternativa de desenvolvimento
socioeconômico. Ainda nessa etapa, a pesquisadora realizou uma observação assistemática,
utilizando os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade sem planejamento
27
prévio, visando captar situações diversas. Utilizou-se esse instrumento principalmente para a
familiarização com o objeto de estudo e moradores.
A segunda etapa da pesquisa foi destinada à aplicação de questionários (Apêndice
C) com o intuito de instrumentalizar o pesquisador de dados empíricos e aprofundar
discussões qualitativas acerca do turismo comunitário. Os questionários foram organizados a
partir de um ordenamento de perguntas, respondidas por escrito pelo próprio pesquisador. Os
questionamentos foram objetivos, divididos em blocos temáticos e abrangeram perguntas
abertas (a fim de conhecer a opinião do participante), fechadas (composta de resposta sim ou
não) ou de múltiplas escolhas (fechadas com uma série de respostas possíveis).
Nesse sentido, foram realizadas 8 (oito) visitas à comunidade, sendo duas como
turista e 6 (seis) como pesquisadora, nas quais se buscou construir uma visão mais crítica em
relação ao que se propusera pesquisar. Em tais momentos foram entrevistados representantes
da Secretaria de Turismo e Cultura de Beberibe, um representante do grupo de turismo e oito
donos de estabelecimentos hoteleiros, incluindo-se aqueles que alugam suas casas para
turistas.
Para a obtenção destes dados quanti-quanlitativos, realizou-se em 30 de maio de
2017 a aplicação de 100 (cem) questionários na Prainha do Canto Verde, Beberibe-CE,
compondo uma amostra equivalente a um terço (1/3) das famílias que residem na
comunidade, ou seja, 33% da população pesquisada. Os questionários foram aplicados por 12
alunos do curso de Bacharelado em Turismo do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará – Campus Fortaleza, os quais cursavam no período da pesquisa, as
disciplinas de Turismo Sustentável e Meio Ambiente e Gestão Ambiental.
Para participarem da coleta dos dados, tais aplicadores participaram de uma
oficina intitulada de I Worshop de Pesquisa, ministrada pela professora doutora Anna Érika
Ferreira Lima. Com quatro horas de estudos teóricos e práticos, a oficina foi o momento em
que os estudantes puderam conhecer o conteúdo dos questionários e a técnica da aplicação do
mesmo, além do primeiro contato com informações sobre a comunidade na qual estariam
inseridos.
O documento foi composto por 12 questionamentos, divididos em cinco partes:
Parte I – Dados socioculturais, Parte II – Dados socioeconômicos, Parte III – Questões
socioambientais, e por fim, Parte IV – Turismo.
A terceira etapa da pesquisa teve um viés propositivo, visando inventariar a
Prainha do Canto Verde, a fim de propor um melhor gerenciamento ou planejamento da
atividade do turismo comunitário na Prainha, sendo realizado a partir da comparação entre a
28
literatura da área do turismo que estabelece padrões de qualidade dos serviços, adaptados pela
autora para esta pesquisa, com a análise dos resultados das entrevistas e dos questionários
aplicados nas etapas anteriores, que possibilitaram a compreensão da visão da comunidade
acerca do turismo comunitário.
Os trabalhos de campo foram realizados nos períodos de 03 de março de 2016 a
30 de maio de 2017, sendo considerada uma ferramenta necessária para o aprofundamento das
investigações. Na Geografia sua importância é ampliada, pois é nesse momento que o
pesquisador entra em contato direto com a realidade estudada, interagindo com os sujeitos e
podendo perceber como estes se comportam diante dos fatos (MATOS; PESSÔA, 2009).
Nessa perspectiva, buscou-se por meio da observação direta em campo, ter
contato real com o objeto estudado, desta feita, buscando sem alterar o quadro do fenômeno,
constatar, analisar e concluir utilizando-se de instrumentos de investigação que respondam às
inquietudes do problema detectado. No que se refere à coleta de dados, essa foi abrangente
com fotografias e diário de campo, visando à interpretação da realidade percebida,
identificação e representação dos fenômenos socioeconômicos e culturais que influenciam na
atividade turística local (MATOS; PESSÔA, 2009).
Depois de cumpridas as etapas metodológicas propostas, foram reunidas as
informações coletadas, organizadas e sistematizadas para posterior análise.
Na etapa de tabulação e apresentação dos dados, utilizaram-se recursos
computacionais para obter cálculos estatísticos, gráficos, tabelas e quadros, além da
transcrição de depoimentos orais realizados nas entrevistas gravadas por meio de gravador.
Tendo por base uma análise estatística descritiva, obtida através de tabulação
manual dos dados e com gráficos gerados através da ferramenta Microsoft Excel, durante a
discussão dos resultados, buscou-se confrontar os dados quantitativos e os dados qualitativos,
com o objetivo de confirmar ou rejeitar a (s) hipótese(s) ou os pressupostos da pesquisa. Além
da ferramenta tecnológica, teve-se a contribuição de um professor da área da Estatística, no
sentido de escolher os gráficos que mais se adequam aos questionamentos.
do Canto Verde, residentes, na maioria deles, envolvidos com a pesca, renda e agricultura,
complementam sua renda por meio do turismo comunitário, buscando ações sustentáveis,
envolvendo a comunidade e os turistas.
Diante disso, como a percepção está configurada como o ato de perceber, adquirir
conhecimento a partir de algo por meio dos sentidos, compreender e ouvir torna-se
indispensável na fase inicial do planejamento a fim de organizar os caminhos a serem
seguidos em prol do desenvolvimento sustentável. Dessa forma, a percepção assume o papel
de captar informações acerca dos atores sociais, oriundos da realidade do meio externo e de
sua própria interação com o mundo material que os cerca, configurando-se como um processo
cognitivo/cultural que envolve mecanismos de percepção externa (os cinco sentidos) e a
elaboração mental (AMANTE, 2001).
Mais especificamente, a percepção ambiental facilita o entendimento e a
compreensão das inter-relações entre o meio ambiente e os atores sociais envolvidos,
tornando clara sua visão acerca da realidade em que vive, expressando desejos e anseios, além
de visualizar como o homem enxerga, interpreta, convive e se adapta à realidade do meio em
que vive, principalmente em se tratando de ambientes instáveis ou vulneráveis socialmente e
naturalmente (OKAMOTO, 1996).
O estudo da percepção torna possível desenvolver ações de base local, partindo da
realidade do público alvo, expressando sua visão de como percebem o ambiente em que
vivem, além de suas fontes de satisfação e insatisfação (FAGGIONATO, 2005).
De acordo com a UNESCO (1973, p. 11),
[...] uma das dificuldades para a proteção dos ambientes naturais está na existência
de diferenças nas percepções dos valores e da importância dos mesmos entre os
indivíduos de culturas diferentes ou de grupos socioeconômicos que desempenham
funções distintas, no plano social, nesses ambientes (UNESCO, 1973, p. 11).
vontade de terem voz ativa e determinar o que desejam para comunidade, se organizam em
prol de uma melhora da qualidade de vida. São pessoas que se mobilizam pela preservação
desses locais, a partir de atividades turísticas compatíveis com a preservação ambiental, visto
que a degradação do meio ambiente vem tomando grandes proporções a nível mundial
(PNUD, 2014).
As tendências sustentáveis1 aliadas a uma nova forma de pensar o turismo,
baseada na valorização do ambiente natural, do modo de vida cotidiano e da preservação do
meio ambiente, fez com que o turismo comunitário ganhasse mais visibilidade por
proporcionar a interação entre comunidade e visitante, embora se acredite que o turismo não
esteja associado apenas àquele indivíduo que deseja realizar uma experiência, mas à toda uma
interação com a comunidade, em diversos níveis, envolvendo serviços de hospedagem,
alimentação, transporte, entre outros (RUSCHMANN, 1999).
Configura-se como força econômica que gera fenômenos de consumo,
estimulando a política financeira a nível nacional e internacional, transformando
consideravelmente o espaço, levando-se em consideração dois fatores importantes: o interesse
dos turistas e da comunidade em receber turistas e juntas, representam resultados referentes à
circulação monetária, o aumento no consumo de bens e serviços, elevação nas condições
econômicas da população e o aparecimento de empreendedores do turismo (BRASIL, 2006a).
Diante disso, o turismo pode se configurar como possível mitigador de problemas
sociais em algumas comunidades, fortalecendo a política e a economia a fim de garantir
melhores condições de vida aos moradores. Na visão de Falcão (1996) o turismo comunitário
se expande com a produção de bens (infraestrutura, construções, alimentos e produtos
diversos) e serviços (transportes, hospedagem, alimentação, etc.), que se integram para o
consumo final, oferecendo o mercado de consumo e as ‘condições de acessibilidade’ a
determinado lugar, onde o espaço, na dimensão do lugar, assume caráter de objeto de
consumo e, como tal, é (re) produzido e comercializado (FALCÃO, 1996, p. 65).
Nessa perspectiva, a Prainha do Canto Verde enquanto território acrescido de um
valor simbólico, associado à infraestrutura territorializada (meios de hospedagem,
restaurantes, vias de acesso, etc.), se transforma em produto e como tal, é vendido e
1
Entende-se por tendências sustentáveis, a incorporação do desenvolvimento sustentável aos espaços de decisão,
onde o conceito de responsabilidade empresarial começa a ceder lugar ao de sustentabilidade, materializado em
novas direções e gerências nas estruturas das companhias. As empresas que pensam em longo prazo percebem
que, para sobreviver, terão que lidar com questões referentes à mudança climática e integrar valores sociais e
ambientais ao mercado (CEPAL, 2011).
34
consumido, embora por turistas ‘selecionados’ a partir do perfil que os moradores buscam
receber.
Cabe assim perceber os principais conceitos, princípios e premissas fundamentais
do turismo comunitário. Pois a percepção ora em estudo incide justamente sobre esse universo
simbólico específico, com suas regras particulares de encadeamento de ideias e práticas.
Em meio às muitas opções de turismo existentes no mundo contemporâneo,
àquelas voltadas para as trocas de experiências estão se tornando cada vez mais comuns entre
os turistas. Trata-se de uma forma diferenciada de fazer turismo, baseando-se não mais apenas
no bem-estar do turista, mas principalmente, na comunidade visitada, que passa a desfrutar
das vantagens do turismo enquanto atividade econômica e se, bem planejado, gera emprego e
renda. É uma oportunidade de renda complementar para o morador, principalmente quando se
trata de uma comunidade extrativista como a Prainha do Canto Verde que depende da pesca.
As discussões acerca do turismo comunitário vêm se destacando por sua dimensão
no contexto mundial, que para Irving (2009), iniciaram-se a partir da junção de vários
critérios surgidos em âmbito nacional e internacional.
Dentre esses critérios, destaca-se: (i) o turismo como uma alternativa para a
inclusão social; (ii) o fortalecimento de temas como a participação social e a governança
democrática; (iii) a existência do capital social e o compromisso de “stakeholder engagement”
como elementos fundamentais nas ações empreendidas por projetos internacionais; (iv) a
inclusão do turismo nas pautas de organismos oficiais internacionais, associado à questões
socioambientais; (v) mudança no perfil dos turistas, agora mais comprometidos com a
responsabilidade socioambiental; (vi) planejamento turístico responsável a fim de evitar a
exclusão social nas comunidades a serem visitadas, e (vii) a urgência de discussões acerca de
“turismo e sustentabilidade”.
Percebe-se que os critérios destacados por Irving (2009), como a inclusão social,
participação, governança, capital social, “stakeholder engagement2”, compromissos
socioambientais, sustentabilidade, etc., configuram-se como premissas básicas ao
desenvolvimento do Turismo de Base Comunitária (TBC), trazendo a discussão da periferia
para o centro, rompendo as barreiras acadêmicas e penetrando no universo político e
midiático.
2
O Diálogo com Grupos de Interesse (Stakeholder Dialogue ou Stakeholder Engagement) é uma metodologia de
consulta social participativa, que identifica e caracteriza cada um dos stakeholders da empresa, captando sua
percepção e suas expectativas sobre a empresa, em particular, e sobre a atividade de exploração, em geral
(VINHA, 2002).
35
Desta forma, motivados por tais premissas, turistas e visitantes buscam contribuir
com essas comunidades, convivendo com suas realidades, valorizando o local, efetivando o
intercâmbio cultural e a troca de experiências.
Alguns estudiosos como Blackstock (2005), que desenvolveu um estudo na
comunidade de Port Douglas, na Austrália, apresentou no artigo intitulado “A critical look at
community tourism”, as limitações do TBC na sua abordagem sobre o desenvolvimento
comunitário. Já Mitchell e Muckosy (2008), no artigo “A misguided quest: Community based
tourism in Latin America”, apresentou um olhar crítico do TBC e seu desenvolvimento na
América Latina.
Diante disso, constatou-se que, para muitos estudiosos como Blackstock (2005),
Hall (1996), Illich (1976), entre outros, o turismo comunitário, se configura não só como uma
ajuda mútua, mas principalmente, pela junção de saberes e fazeres, de forma impactar
positivamente a comunidade, dentro dos limites impostos pelos próprios residentes.
Embora órgãos, entidades e instituições busquem conceituar turismo comunitário,
o Ministério do Turismo (BRASIL, 2010), afirma que este deve estar associado à
heterogeneidade das experiências, com a formação do território e as intenções políticas das
organizações não governamentais (ONGs), responsáveis por organizar e viabilizar a
experiência. O que se percebe é a falta de consenso sobre a conceituação de turismo
comunitário, embora o órgão aponte princípios comuns entre as diversas conceituações,
como:
Hiwasaki (2006) define TBC em seu estudo como um conjunto de atividades que
devem objetivar, primeiramente, a capacitação dos membros comunitários e a apropriação de
meios de produção e de consumo que se dará por meio da conscientização da comunidade
local e da participação ampliada dos agentes do planejamento turístico e na gestão das
atividades turísticas (HIWASAKI, 2006).
37
onde 80% das iniciativas ocorrem nas proximidades, no interior ou contêm áreas protegidas,
seja em unidades de conservação de proteção integral ou de uso sustentável e áreas de
preservação permanente (APP) (BURSZTYN, 2009).
Algumas características são peculiares ao turismo comunitário e fazem da
atividade turística uma experiência diferenciada em algumas comunidades. É importante
destacar que no turismo comunitário, visitantes e nativos dividem um mesmo espaço e
desfrutam dos mesmos atrativos naturais, culturais e convivenciais do lugar.
Na maioria das experiências de turismo comunitário, observam-se parcerias com
ONGs e universidades, para a realização do planejamento, estruturação e operação do
turismo, ou seja, o turismo é pensado e executado com ajuda externa, que através desse
suporte e apoio financeiro, passa a unir-se com essas comunidades em busca de um modo de
gestão democrática, em que o nativo (seja por meio de cooperativa ou organização familiar)
possa gerir seus empreendimentos de diversas formas, embora sempre apresentando
atividades de planejamento do turismo de base comunitária e necessitando prestar contas do
que vem sendo realizado (LTDS, 2011).
No contexto latino-americano, o turismo comunitário surge no auge de mudanças
socioeconômicas e políticas associadas às novas preocupações inerentes ao desenvolvimento
sustentável e responsabilidade social de empresas.
Algumas iniciativas contribuíram para o fortalecimento da rede como a criação de
federações, ONGs e instituições que subsidiaram o crescimento das redes de turismo
comunitário na América Latina. Na Guatemala, por exemplo, a criação da Federação Nacional
de Turismo Comunitário da Guatemala – FENATUCGUA teve como objetivos apoiar
projetos, marketing, gestão, realização de eventos e de parcerias com ONGs a favor do
Turismo Rural em comunidades (BARBOSA, 2011).
Na Nicarágua, a criação da Rede Nicaraguense de Turismo Rural – RENITURAL
junto ao Instituto de Turismo da Nicarágua, aprova em 2009, a política de promoção do
Turismo Comunitário, regularizando a atividade e oferecendo assistência técnica às
comunidades integrantes da rede, promovendo a imagem desses destinos, além de contribuir
com a melhoria da infraestrutura rodoviária (INTUR, 2010).
A contribuição da Costa Rica está na parceria entre populações de comunidades, a
criação do Consórcio Cooperativo Rede Ecoturística Nacional - COOPRENA e da Associação
Costarriquense de Turismo Rural Comunitário – ACTUAR, que impulsionam o Turismo
Rural Comunitário no país que, mediante financiamentos internacionais, provenientes do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD e do Fundo para o Meio
40
Alguns projetos comunitários ganham mais destaque que os outros, dentre eles
está a Acolhida na Colônia, em Santa Catarina, Ecoporé, em Rondônia, Palmatur, no Ceará,
Parque Regional do Pantanal, no Mato Grosso do Sul, Aldeia dos Lagos, no Amazonas e o
objeto desse estudo, a Prainha do Canto Verde, também no Ceará, todos participantes do
Fórum Internacional de Turismo Solidário – FITS, em Marseille – França (BARBOSA,
2011).
Embora o turismo comunitário estivesse tendo grande impulso, em 2003, novas
discussões se iniciaram, mas dessa vez com novos objetivos: a proposta de cooperação
internacional e a criação da Rede Brasileira de Turismo Comunitário.
A principal característica da Rede Turisol é a união de diversas organizações no
Brasil que desenvolvem projetos de turismo solidário e buscam, através da união e troca de
experiências, fortalecer as iniciativas existentes e despertar outras comunidades para a
construção de um turismo diferente (TURISOL, 2010).
Para garantir o funcionamento harmônico da Rede Turisol, esta se organiza em
um colegiado que inclui sete entidades participantes. São elas: Fundação Memorial Casa
Grande do Homem Kariri, em Nova Olinda, Ceará; Associação de Agroturismo Acolhida na
Colônia, em Santa Catarina; Rede TUCUM, no Ceará; Pousada Aldeia dos Lagos, na região
Amazônica, Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, em Tefé, no Amazonas;
Projeto Bagagem, em São Paulo; Projeto Saúde e Alegria, na região da Amazônica
(TURISOL, 2010).
No Ceará, as comunidades se encontram articuladas em redes nacionais e
internacionais de turismo, que buscam fortalecer e dar visibilidade às experiências de turismo
comunitário do estado, como a Rede de Turismo Comunitário – Rede Tucum, estando
interligadas à rede Brasileira de Turismo Comunitário – TURISOL e Rede de Turismo
Comunitário da América Latina – REDTURS. É importante ressaltar que na realidade da
Prainha do Canto Verde, objeto desse estudo, existe um grupo de turismo atuante no turismo,
porém, não vinculado oficialmente à Rede TUCUM, por discordaram dos requisitos pré-
estabelecidos pela rede local, o que reflete em muitos conflitos existentes na comunidade
estudada.
Na realidade cearense, as comunidades desenvolvem o turismo de base local a
partir da formação de cooperativas e associações comunitárias, visando a organização da
atividade e a contenção do turismo globalizado, pautado na padronização, no luxo e no
consumismo, característicos do século XXI.
44
conhecida gire em torno de uma comunidade com forte presença de indivíduos com biotipo
diferente dos nativos do litoral cearense, os quais possuem forte traços indígenas. Na
localidade habitam descendentes de espanhóis e holandeses, de olhos claros e cabelos loiros.
turismo comunitário independentes da Rede TUCUM e das ONGs a ela ligadas, embora
interagindo com comunidades que dela fazem parte (BARBOSA, 2011).
Como forma de divulgação de seus atrativos enquanto comunidade turística
elaboram pacotes de forma a facilitar e organizar o turismo na localidade, incorporando
serviços de hospedagem, alimentação e algumas vezes até transporte, conforme mostra a
Figura 3.
No sítio da REDETURS, é possível encontrar uma descrição muito favorável e
atrativa do turismo comunitário na Prainha do Canto Verde:
Dessa forma, é importante que a divulgação realizada pela rede local, cearense,
também se faça atrativa a fim de atrair mais turistas e adeptos do turismo comunitário na
Prainha do Canto Verde, resgatando seus valores e incentivando sua disseminação perante à
sociedade, principalmente por contribuir no processo de preservação do patrimônio natural e
cultural e no desenvolvimento sustentável das comunidades.
Figura 3 – Pacote de carnaval em uma das comunidades participantes da rede
Voltando para a visão do turismo, seria interessante adequar mais aos padrões
turísticos apenas no sentido de expor mais detalhes sobre acomodação, alimentação, valores,
horário de entrada e saída dos hóspedes, pois mesmo sendo comunitário, segue alguns
modelos utilizados no turismo convencional. Outra característica que deve ser ressaltada
sobre esse folder é a falta de descrição dos atrativos oferecidos na localidade, porém, isso se
dá pelo fato de o folder ser geral a todas as localidades de turismo comunitário pertencentes a
Rede Tucum, o que pode diminuir a motivação ao conhecer determinado destino, já que o
turista não sabe em específico o que irá conhecer.
3
O Protocolo de Quioto constitui um tratado complementar à Convenção - Quadro das Nações Unidas sobre
Mudança do Clima, definindo metas de redução de emissões para os países desenvolvidos e os que, à época,
apresentavam economia em transição para o capitalismo, considerados os responsáveis históricos pela mudança
atual do clima. Criado em 1997, o Protocolo entrou em vigor no dia 16 de fevereiro de 2005, logo após o
atendimento às condições que exigiam a ratificação por, no mínimo, 55% do total de países-membros da
Convenção e que fossem responsáveis por, pelo menos, 55% do total das emissões de 1990 (MINISTÉRIO DO
MEIO AMBIENTE, 2017).
51
não vemos em grande parte do litoral nordestino, quando resorts e hotéis de grande porte são
construídos próximos a praia, impossibilitando a passagem de moradores e turistas, que
acabam perdendo o direito de usufruir desta, cercadas por muros e seguranças.
O Professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Vicente da Silva (2004),
reforça afirmando que uma das premissas básicas do desenvolvimento sustentável é a
autogestão consciente e participativa da comunidade, embora o conceito utilizado na
atualidade se baseie na visão do mundo e sua filosofia de vida.
Dentro da perspectiva do turismo voltado para a apreciação e o contato com a
natureza, além da participação da comunidade nas tomadas de decisão, em 2002, foi realizada
a La Cumbre Mundial Del Ecoturismo, em Quebec (Canadá), tendo como resultado a
“Declaração de Quebec” sobre Ecoturismo, que norteia, a partir de diretrizes, a prática do
ecoturismo, visando contribuir para o desenvolvimento do capital humano, físico, econômico
e social (OMT, 2002).
A Declaração de Quebec, com base no Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA) e a Organização Mundial do Turismo adotam o conceito de turismo
sustentável, apontando como princípios fundamentais a conservação do patrimônio natural e
cultural e a inclusão das comunidades locais no planejamento, desenvolvimento e exploração
do turismo.
Isso contribuiu para que a bandeira da sustentabilidade fosse levantada, tornando-
se parte integrante das discussões sobre turismo sustentável em algumas localidades, além da
inserção em projetos turísticos, levando em consideração a possibilidade contínua de
condições iguais ou superiores de vida para um grupo de pessoas e seus sucessores em um
ecossistema (VICENTE DA SILVA, 2004).
Para Bartholo; Sansolo e Bursztyn (2009, p. 28),
4
O ecodesenvolvimento pode ser entendido como um estilo de desenvolvimento que, em cada ecorregião,
insiste nas soluções específicas de seus problemas particulares, levando em consideração seus potenciais
ecológicos e culturais, além de buscar a satisfação das necessidades imediatas e de longo prazo (SACHS, 1986,
p. 18).
53
do controle social sobre o Estado, pela gestão participativa, a co-gestão e a interface entre o
Estado e a sociedade (DAGNINO, 1994).
Assim, cita-se Teixeira (2001, p. 27), que define participação como sendo:
‘fazer parte’, ‘tomar parte’, ‘ser parte’ de um ato ou processo, de uma atividade
pública, de ações coletivas. Referir ‘a parte’ implica pensar o todo, a sociedade, o
Estado, a relação das partes entre si e destas com o todo e, como este não é
homogêneo, diferenciam-se os interesses, aspirações, valores e recursos de poder
(TEIXEIRA, 2001, p. 27).
5
De acordo com Cole (1949), existem 8 princípios fundamentais de Rochdale postas em prática em experiências
pré-cooperativas diversas, são elas: controle democrático; adesão livre; distribuição de um juro fixo sobre o
capital investido; repartição dos excedentes sob forma de retorno; venda a contado; venda de produtos seguros e
de boa qualidade;educação dos membros e promoção do comércio mutualista; neutralidade política e religiosa.
56
[...] o princípio da harmonia de vida e não o da luta pela vida; [...] a cooperação é
uma ação das classes laboriosas da nação; [...] a emancipação das classes operárias
se faz por iniciativa própria de interesses; a prestação de serviços sem interesse de
lucro; a ideia de grande organização federativa: as unidades cooperativas não são
consideradas isoladamente, mas como [...] organização federativa posta a serviço do
interesse geral; [...] organização cooperativa de economia social: o objetivo do
movimento é a transformação do regime econômico social atual em outro baseado
na organização cooperativa da economia social (JUV NCIO; ANDRADE;
PANZUTTI, 2000, p. 15).
Diante disso, observa-se por toda sua evolução, que ainda existem as cooperativas
que buscam uma gestão democrática, contestando o trabalho assalariado e a severa divisão do
trabalho, embora também existam àquelas em que o objetivo final é apenas o lucro, contexto
observado no cooperativismo dos dias atuais, mesmo este tendo se baseado em ações
solidárias em prol do coletivo, porém apropriado pela lógica capitalista que, através da
alienação e exploração dos trabalhadores, expõe sua visão capitalista.
Desta forma, percebe-se que as cooperativas de produção, embora estando em
competição, encontra-se em desvantagem diante das empresas de maior porte, podendo ter
algum tipo de vantagem diante apenas das empresas menores.
Quanto à autogestão, visualiza-se que esta se encontra dentro das premissas
básicas da sustentabilidade, mas torna-se um problema quando beneficia apenas a uma parcela
da comunidade. Deve, sobretudo, organizar os atores locais, muitas vezes tornando-se uma
utopia diante dos diversos pontos de vista presentes em uma só comunidade. Nesse cenário,
surgem atores externos, que gozam de ideias transformadoras a serem aplicados na localidade,
assim os nativos inclinam-se aos forasteiros que passam a gerir as ações, muitas vezes sem a
aprovação da população.
Nesse contexto a autogestão no Turismo Comunitário se dá a partir da
participação dos membros da comunidade, desenvolvendo um processo de desenvolvimento
da consciência crítica e um processo de empoderamento da comunidade, quando a
participação passa a ser associada às necessidades do povo, refletida em seu território
identidade (HAESBAERT, 2004) por meio de ações coletivas e dialogadas. De acordo com
Bordenave (1984), “a participação é uma capacidade que se aprende e se aperfeiçoa” (p. 102),
embora quando utilizada de forma inadequada, torna-se ferramenta nas mãos de uma minoria
que se favorece disso e se sobrepõe à comunidade, dificultando ou até mesmo
impossibilitando a formulação de decisões a serem tomadas pela população.
A participação não significa apenas ouvir e ser ouvido a fim de decidir, mas,
principalmente, consiste a mobilização das pessoas que estão inseridas em uma comunidade,
no sentido de gerar ideias que viabilizem o desenvolvimento harmônico da comunidade,
57
6
A obra de Max Weber descreve a burocracia como empenhada nas funções racionais e no contexto peculiar da
sociedade capitalista centrada no mercado, cuja racionalidade é funcional e não substantiva, sendo a última um
componente intrínseco do ser humano (RAMOS 1989, p. 06).
58
Para que isso ocorra, devem existir novas formas de relações sociais, que Oliveira
(1997) ressalta ser de suma importância desenvolver alternativas capazes de estabelecer laços
de solidariedade, que consubstanciam formas coletivas de trabalho, instituindo uma lógica
diferente nas relações sociais. A participação ativa da comunidade pode contribuir para o
fortalecimento de uma relação pautada nos interesses comuns de toda a comunidade e a forma
como os sujeitos conduzem esta relação é que determinará a participação, ampliando ou
limitando este processo.
Assim, planejar o que se pretende deve fazer parte das ações que antecedem a
operacionalização do turismo comunitário, a fim de viabilizar a participação dos residentes no
processo de planejamento da atividade, e com isso, melhorar a relação turista e residente,
minimizando impactos e aumentando possibilidades de intercâmbio positivo entre culturas.
Entretanto, a oferta do turismo de base comunitária também precisa ser planejado
levando em consideração a dinâmica externa à comunidade. Do planejamento à
operacionalização, a participação ativa da comunidade acontece no intercurso das diversas
interações entre o turista e o residente. Cabe portanto entender a dinâmica organizativa dos
sujeitos que tomam a frente da prática do turismo comunitário, sobretudo no interior de
associações e grupos organizados com interesses comuns.
As reuniões de associação dos moradores ocorrem na maioria das vezes na
associação de moradores ou em cooperativas, com frequência variável entre encontros
semanais, mensais ou anuais, dependendo na necessidade da comunidade. Pode envolver
apenas lideranças formais como também membros da comunidade e até mesmo pessoas
externas à localidade, como professores, pesquisadores, profissionais da área do turismo, entre
outros de interesse da comunidade, que são avisados com antecedência, a fim de serem
incluídos seus assuntos na pauta.
Na maioria das comunidades, o turismo nem sempre é vislumbrado como
atividade principal, ou seja, é visto como uma economia que contribui para o
desenvolvimento da localidade, embora se visto como motivo de sucesso, seja capaz de
transformar a comunidade no que se referem aos seus hábitos, rotinas e forma de encarar o
mundo, visto que os impactos turísticos gerados nas localidades receptoras podem ser tanto
benéficos quanto maléficos, surgindo como consequência da interação entre o turista,
comunidade e os meios receptores (RUSCHMANN, 1999). De acordo com a mesma autora
(1999) serão expostos os impactos, econômicos, sociais, culturais, e sobre o meio ambiente
natural.
60
7
Governo de Tasso Jereissati (1986), início no poder de um grupo de empresários advindos do Centro Industrial
do Ceará (CIC).
63
tratar bem o turista para que ele tivesse vontade de retornar. Dessa forma, o turismo passa ser
responsabilidade de todos, não mais só do poder público, ou seja, os moradores passavam a
contribuir com o bom atendimento e com a manutenção da cidade e dos atrativos turísticos.
Na visão de SAMPAIO (2002),
além dos aspectos referidos, a construção do discurso do “Governo das Mudanças”
tem como objetivos: a) acabar com a pobreza, a miséria e a fome; b) estimular a
renovação política, através de novas lideranças oriundas do meio empresarial e dos
profissionais liberais; c) administrar o Estado com base técnico-científica,
eliminando o velho favoritismo e impondo uma ética empresarial para gerir o
público; e d) reconstruir a economia (SAMPAIO, 2002).
para os moradores que não estão envolvidos diretamente com o turismo (BURSZTYN et all. ,
2003).
O projeto de ecoturismo comunitário da Prainha do Canto Verde repercutiu
internacionalmente e foi vencedor, em 1999, do prêmio TO DO!998, concedido pela ONG
alemã Studienkries für Tourism und Entwicklung9, para projetos de turismo socialmente
responsável, sendo motivo de diversas matérias jornalísticas no Guia The Community Tourism
Guide de 2000 e recebeu o Prêmio TOURA D’OR 2000, pelo melhor documentário sobre
Turismo Sustentável (MENDONÇA, 2004).
Ao contrário do que vem ocorrendo em outras comunidades próximas a Prainha
do Canto Verde, como Canoa Quebrada, os moradores persistem na escolha de um tipo de
turismo que pudesse ser gerido pela própria comunidade, atendendo os anseios do povo,
focando no turismo comunitário como uma renda complementar à da pesca, não agredindo o
território.
Os turistas que buscam a Prainha do Canto Verde como destino turístico a veem
como um paraíso, dotado de tranquilidade e belezas naturais. Compreendem que para que a
comunidade siga sua rotina com harmonia, necessita da compreensão daqueles que a visitam,
no sentido de não romperem as regras e interesses locais, isso faz com que a praia seja
respeitada enquanto destino turístico sustentável.
No que se referem aos sujeitos locais, estes estão ligados por uma relação de
identidade com o mar, terra e outros elementos que compõem seu território. Em relatos de
sujeitos locais, identifica-se a luta da comunidade entorno da pesca da lagosta e em defesa da
terra, a fim de garantir os direitos da comunidade e a satisfação da população local. Dessa
forma, foi criada uma comissão a fim de estudar as possibilidades de implantação do turismo
comunitário e seus benefícios a partir de experiências de outras comunidades bem-sucedidas.
São muitos os envolvidos no turismo comunitário desenvolvido na Prainha do
Canto Verde, dentre eles o nativo morador, as associações que estão ligadas diretamente com
a atividade turística, as lideranças comunitárias, além do poder público, instituições de ensino,
pesquisadores, turistas, empreendedores e sobretudo, o Conselho de Turismo, o qual é
8
Prêmio concedido pela Instituto de Turismo e Desenvolvimento da Alemanha, em 1999, durante a 43o. Feira
Internacional de Turismo, considerada a maior da Europa. No Brasil, somente a Rede Tucum, no Ceará foi
agraciada com o prêmio (DIÁRIO DO NORDESTE, 2009).
9
Organização Não Governamental, sem fins lucrativos, que em português significa Instituto de Turismo e
Desenvolvimento. Disponível em: <https://translate.google.com.br/translate?hl=pt-
BR&sl=de&u=http://www.studienkreis.org/&prev=search). Acesso em 20 mar 2017.
66
responsável pela articulação entre nativos e turistas a fim de organizar o turismo comunitário
na Prainha. Atualmente o Conselho é formado por membros da comunidade, nativos e um
suíço que mora há muitos anos na localidade.
Canto Verde se localizada em uma região turística denominada de Costa do Sol
Nascente, que contempla praias bastante frequentadas por turistas há mais de 20 décadas. A
localização geográfica da Prainha do Canto Verde possibilita a conexão com outros destinos
turísticos já consolidados, como Beberibe e suas famosas praias como a Praia das Fontes e
Morro Branco, bem como a proximidade com Aracati e a praia de Canoa Quebrada, destinos
explorados mundialmente por turistas. Porém, essas praias já são consideradas turísticas e já
possuem um fluxo massificado, fortalecido pelos pacotes oferecidos aos visitantes de forma
descontrolada e aleatória, intensificados pelas operadoras de turismo; o que difere do objeto
de pesquisa da presente Tese.
Nesse sentido, a pesquisa dialoga com uma nova forma de fazer turismo, baseada
na experiência e na vivência realizada por turistas em comunidades que abriram suas portas
para o Turismo. Além disso, o fortalecimento desse tipo de turismo representa para o estado
uma alternativa de preservação dos ambientes, pois a grande maioria das comunidades tem
em seus moldes de sobrevivência o extrativismo de subsistência, a pesca e o artesanato
produzido a partir de sementes da flora nativa, dependendo, portanto, dos ambientes em bom
estado de conservação (LOUREIRO; GORAYEB, 2013).
No Ceará, o Turismo Comunitário vem se consolidando e se fortalecendo sob a
liderança do Instituto Terramar, que fornece apoio institucional à Rede Cearense de Turismo
Comunitário (Rede Tucum). A Rede Tucum é composta por 12 experiências de Turismo
Comunitário, sendo dez no litoral (Tatajuba em Camocim, Curral Velho em Acaraú, Caetanos
de Cima em Amontada, Flecheiras, Jenipapo-Kanindé em Aquiraz, Batoque em Aquiraz,
Prainha do Canto Verde em Beberibe, Assentamento Coqueirinho em Fortim, Ponta Grossa e
Tremembé em Icapuí) e duas na capital Fortaleza (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST-Fortaleza) e Conjunto Palmeiras em Fortaleza) (LOUREIRO; GORAYEB,
2013).
Importante frisar que o turismo e o desenvolvimento sustentável nessa atividade,
pois durante algumas décadas o turismo vem se apresentando como incentivador ao
desenvolvimento sustentável de algumas localidades, todavia, seus impactos negativos são
responsáveis por muitas transformações nas comunidades, as quais se mostram contrárias a
essa forma de desenvolvimento.
67
10
Para Barretto (1995, p.48), esse mesmo tipo de turismo se dá conforme o tamanho da demanda, ou seja, em
locais onde a procura para a visitação é alta, se tem um turismo de massa. Desse modo, o turismo de massa vem
crescendo com o passar dos anos desde as épocas mais remotas até os dias atuais. Há evidências históricas que
comprovam a existência de deslocamentos em massa para os mais diversos locais e com inúmeros fins
(BARRETO, 1995, p. 48).
68
Organização Mundial do Turismo (OMT) (OMT, 2001) define como sendo atividades que as
pessoas realizam durante viagens e estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual, por
um período inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras (OMT, 2001).
Ainda a partir de dados disponibilizados pela OMT (1999), a busca pelo turismo
se deu por meio dos componentes da demanda turística, um dos pilares do crescimento do
Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos, quando o consumo das famílias, com
disponibilização de crédito farto, baixos níveis de inadimplência e inflação sob controle,
permitiu que as pessoas investissem mais em viagens de lazer.
No Brasil, em 2012, o setor de turismo gerou mais de 100 milhões de empregos,
correspondendo a 3,4% do número de empregos totais no mundo. De acordo com o órgão, a
estimativa é que, em 2020, o turismo seja responsável por 7.900.000 empregos, impulsionado
pelos grandes eventos até 2016 (WTTC, 2013).
De acordo com a OMT (2014), a América Latina recebeu cerca de 8% do fluxo de
turistas internacionais, sendo que 2,6% das chegadas correspondem à América do Sul e 0,6%
ao Brasil, destacando-se por seus atrativos destinos, ultrapassando a Argentina (OMT, 2013).
A partir desses dados, percebe-se a relevância da atividade turística no cenário
econômico mundial, configurando-se como uma das atividades econômicas mais importantes
no mundo, expressada por Trigo (1998), quando afirma ser o turismo uma força
transformadora do mundo pós-industrial, que, alinhado às novas tecnologias tem o poder de
redesenhar estruturas mundiais, impactando a globalização e novos blocos econômicos.
Embora os números do turismo apontam um momento de transformação na
economia mundial, o crescimento da pobreza também é acelerado. De acordo com dados do
Relatório de Desenvolvimento Humano (PNUD, 2002), em 1999, 2,8 milhões de pessoas
viviam com menos de dois dólares por dia, 1,2 milhão das quais mal sobreviviam às margens
de subsistência, com menos de um dólar por dia.
Referidos dados nos mostram um quadro de grande contraste entre o turismo e a
pobreza mundial, caracterizando a concentração de renda, que Kripendorf (2002) descreve em
“Cartão Vermelho para o Turismo?”, mostrando que no mercado turístico globalizado, os
mais prejudicados são aqueles que vivem em comunidades impactadas pelo turismo, dentre
estes, as comunidades tradicionais, onde a pesca artesanal, a renda e a agricultura ainda são
consideradas como principal atividade geradora de renda para os moradores. Essas pessoas
muitas vezes se veem ameaçadas pelas forças externas e transformadoras que, instaladas na
localidade, ganham posição e destaque, enfraquecendo os moradores no que se refere à
preservação da cultura e a não perda da identidade.
69
Sob a mesma ótica, Irving (2002a, p. 19) corrobora afirmando que o turismo está
se implantado com grande velocidade principalmente em regiões menos favorecidas,
revestido em um discurso socioeconômico, fortalecido pelo potencial do patrimônio cultural e
ambiental. Ainda Segundo Irving (2002a, p. 19):
o avanço turístico, no entanto, nem sempre ocorre a favor das populações locais e,
frequentemente, é responsável por fenômenos significativos de exclusão social,
descaracterização cultural e degradação ambiental (IRVING, 2002, p. 19).
novas culturas, não buscando luxo, mas sim gozar de acolhimento informal e humanitário,
fugindo da rotina do dia a dia.
No decorrer da história da humanidade, o espaço foi associado às relações sociais,
agregando valores de uso, troca, valor de produção e reprodução contínua, configurando-se
como uma relação de poder uma vez que abrange um indivíduo ou um grupo social. Esse
pensamento é complementado por Raffestin (1993, p. 52), que afirma:
[...] que é preciso compreender por poder primeiro a multiplicidade das relações de
força que são imanentes ao domínio em que elas se exercem e são constitutivas de
sua organização (...). O poder é parte intrínseca de toda relação.
Multidimensionalidade e imanência do poder em oposição à uma
unidimensionalidade e à transcendência: ‘o poder está em todo lugar; não que
englobe tudo, mas vem de todos os lugares’. Por tanto, seria inútil procurar o poder
‘na existência original de um ponto central, num centro único de soberania de onde
irradiaria formas derivadas e descendentes, pois é o alicerce móvel das relações de
força que, por sua desigualdade, induzem sem cessar a estados de poder, porém
sempre locais e instáveis’ (RA ESTIN, 1993, p. 52).
O trabalho de parceria entre poder público e turismo ganha importância visto que
tende, entre outras medidas, regular a atividade a fim de que ocorra um desenvolvimento
econômico e sociocultural equilibrado. Para Lickorish & Jenkins (2000 p. 237), a “função do
governo é um aspecto importante e complexo do turismo e envolve políticas e filosofias
políticas”, pois causa impactos nas atividades, movimentando a economia de uma região.
Para Hall (2001 p. 39),
retorno financeiro obtido, ou seja, os danos causados podem ser irreversíveis, tornando-se um
problema para a comunidade. Além disso, o deslocamento (contato de turistas com residentes)
podem ocasionar mudanças no cotidiano da localidade visitada. Diante disso, o turismo
interfere e modifica dinâmicas locais, produzindo impactos positivos e negativos nos destinos
visitados. Assim, pode-se dizer que o turismo interfere e altera as dinâmicas locais,
produzindo impactos ora positivos, ora negativos. Isso ocorre principalmente nos destinos em
que há predominância do turismo de massa, proporcionando um aumento do número de
pessoas que o experimentaram, proporcionando não só a elite de usufruí-lo, mas também a
classe média, como reforça Ruschmann (2000) “[...] o turismo já não é uma prerrogativa de
alguns cidadãos privilegiados; sua existência é aceita e constitui parte integrante do estilo de
vida para um número crescente de pessoas em todo o mundo” (p.13).
Para Boyer (2003), esse tipo de turismo não alterou a concepção de atrativo
turístico e lugares visitados, apenas passou-se de uma minoria aos grandes grupos, uma vez
que estas tendiam a equiparar-se às práticas elitistas, embora no Brasil o turismo ainda seja
usufruído por uma pequena parcela da população. Nesse novo contexto do turismo, os grupos
de turistas marcaram a evolução da atividade, principalmente no que se refere aos grandes
fluxos turísticos, acompanhados de viagens parceladas em cartões de crédito, programas de
milhagens e sistema de compra coletiva.
De acordo com Ruschmann (2000), percebe-se que não está associado apenas
àquele indivíduo que deseja realizar uma experiência, mas à interação com a comunidade,
envolvendo serviços de hospedagem, alimentação, transporte, entre outros, configurando-se
como força econômica que gera fenômenos de consumo, estimulando a política financeira a
nível nacional e internacional, transformando consideravelmente o espaço, levando-se em
consideração dois fatores importantes: o interesse dos turistas e da comunidade em receber
turistas e juntas, representam resultados referentes à circulação monetária, o aumento no
consumo de bens e serviços, elevação nas condições econômicas da população e o
aparecimento de empreendedores do turismo (BRASIL, 2006a).
A partir do aumento da procura por determinada localidade há uma tendência que
aponta para uma possível cobrança dos moradores por melhorias na infraestrutura, a fim de
atender e receber melhor esses turistas passa a ser mais efetiva, sendo necessários
investimentos no que se refere ao fornecimento de energia elétrica, água, saneamento básico,
ou seja, infraestrutura, a fim de suprir as necessidades dos moradores e dos visitantes. Isso se
deve ao fato do retorno financeiro que o turismo pode promover em uma localidade, gerando
emprego e renda complementar para residentes.
76
11
É importante ressaltar que o desenvolvimento o qual se refere está voltando para as questões socioambientais,
diante uma visão sustentável, que teve suas raízes na Cúpula Mundial de Meio Ambiente, em 1992 (Rio 92),
onde o novo paradigma de desenvolvimento foi apresentado, embora vinte anos depois, os resultados ainda
sejam bastante limitados. É fundamental mencionar que dentre os grupos sociais que têm um modo de vida e
uma economia sustentável, a maioria pertence a povos e a comunidades tradicionais (NARCISO, 2015).
12
Organização Mundial do Turismo.
77
do ser humano, onde ocorre a relação homem x natureza, onde o homem habita e passa pelo
desenvolvimento humano. Na visão de Edson Vicente da Silva (2004), todos têm direito à
convivência familiar e comunitária, e consequentemente à constituição de uma vinculação
orgânica, biológica, simbólica, afetiva e social, processo em que as comunidades se
organizam e utilizam suas capacidades para o cuidado ambiental e para a satisfação de suas
necessidades sociais econômicas (IUCN/UNEP/WWF, 1991).
Para Mielke (2009), quando a comunidade é organizada politicamente e possui
avançado estágio de cooperação e empoderamento13, a inserção desta comunidade no turismo
acontece de forma mais segura. Nesse caso, tem-se a princípio alguns processos geográficos,
sendo o primeiro, o de territorialização, marcado pela criação de um território. Do contrário,
em casos em que o turismo se insere na comunidade de forma mal planejada, onde a
comunidade se vê subordinada a novos sujeitos sociais, que contribuem negativamente com a
perda de simbologias e características peculiares de um determinado território,
proporcionando um ambiente desconfortável, descaracterizado, tem-se um processo de
desterritorialização, marcado pela destruição (por mais que seja temporária) desse território.
Dessa forma, se a atividade turística busca resgatar essas características e o modo
de vida antes substituído, têm-se um processo de reterritorialização, marcado pela recriação
do espaço e pelo processo de espacialização das iniciativas materializadas no Estado do litoral
leste ao litoral oeste, as quais constituem um movimento que promove a formação de um
território legitimado pelas relações que hora se estabelecem no mesmo.
É importante ressaltar que os movimentos sociais na busca pela espacialização,
pelo lugar de produção e reprodução tendem a constituir resistências com o intuito de
delimitar seus territórios a fim de não perdê-lo ou descaracterizá-lo pelas investidas do
capital. Esses espaços delimitados compreendem espaços rurais, urbanos, litorâneos ou
serranos que já foram apropriados.
É bem verdade que esses processos organizados por movimentos reivindicatórios
do espaço não têm apenas como foco o espaço em si, mas o seu movimento e sua
transformação em território como espaço de produção e vivência. Essa formação territorial é o
que garantirá a identificação de núcleos de resistência contra as investidas do capital como se
pode observar em locus que desenvolvem o turismo convencional, onde parte da população
13
Há dois sentidos de empoderamento mais empregados no Brasil: um se refere ao processo de mobilizações e
práticas que objetivam promover e impulsionar grupos e comunidades na melhoria de suas condições de vida,
aumentando sua autonomia; e o outro se refere a ações destinadas a promover a integração dos excluídos,
carentes e demandatários de bens elementares à sobrevivência, serviços públicos etc. em sistemas geralmente
precários, que não contribuem para organizá-los, pois os atendem individualmente através de projetos e ações de
cunho assistencial (GOHN, 2006).
79
não é ouvida, nem tampouco participa das tomadas de decisão, sendo levadas a concordar ou
apenas aceitar imposições advindas de sujeitos externos, que se aproveitam da fragilidade de
algumas comunidades.
Assim, o grau de envolvimento da comunidade pode ser mensurado a partir da
percepção dos residentes, daí a contribuição de várias pesquisas e estudos que mostram esses
resultados, visto que os sujeitos sociais possuem valores simbólicos de interesse comum para
a comunidade.
80
A Resex Prainha do Canto Verde, foi instituída após estudos técnicos realizados
pelo IBAMA (2015) e ICMBio (2011), estando entre as treze reservas extrativistas do Brasil,
84
tendo sido apontada a necessidade da criação de uma reserva extrativista mediante atributos
ambientais e sociais, pois parte da área é utilizada pelos pescadores e comunitários para
moradia, convivência social, construção e conserto de embarcações, redes e marambaias,
guarda de material, práticas religiosas, pequenas agriculturas, coleta de frutas e madeiras entre
outros (ICMBIO, 2011).
Dessa forma, foi criada através do Decreto s/n° de 05 de junho de 2009, com uma
área de aproximadamente 29.794,44 ha, localizada no Município de Beberibe, no Estado do
Ceará, sendo 29.216,71 ha no mar e 577,55 ha de área terrestre, embora posteriormente à sua
criação, esses limites tenham sido contestados, gerando conflito e discórdia na comunidade,
dificultando a gestão da unidade de conservação. Diante desse cenário, foi indicado pelo
grupo de trabalho instituído para articular a criação da RESEX, a realização de um termo de
compromisso com os proprietários de residências de veraneio, não beneficiários da RESEX,
que lhes dá permissão para que possam continuar utilizando as benfeitorias (ICMBIO, 2011).
Após a implantação da RESEX, o movimento local foi ampliado, dando uma
maior dimensão à luta, ampliando parcerias a partir da troca de experiências, ganhando
notoriedade do Estado e país, tendo em vista as questões de sustentabilidade da pesca e do
combate à pesca predatória, bandeiras de relevância dessa categoria.
Embora a RESEX tenha impactado positivamente a comunidade no sentido de
produzir uma nova visão aos seus participantes, o trabalho coletivo realizado entre lideranças,
sujeitos e assessores externos deve atingir toda a comunidade, proporcionando o surgimento
de ações que visam novas atitudes.
relativos ao destino da água negra (sanitário) eram: 30% dos moradores utilizavam fossa
séptica, 46% fossa rudimentar, 25% lançavam no próprio terreno e nenhum morador utiliza
canal de drenagem. Já quanto ao destino da água cinza (chuveiro, lavatório), 0% utilizava a
fossa séptica, 10% a fossa rudimentar, 58% eram lançadas no próprio terreno, 0% utilizavam
o canal de drenagem e 32% reaproveitavam para aguar plantas (BOTTO, 2005).
Segundo um pescador entrevistado, nos últimos cinco anos houve uma maior
conscientização da população em implantar fossa verde (Figura 6) em suas propriedades
visando uma melhoria na qualidade de vida dos moradores.
Quanto à saúde pública, a comunidade não conta atualmente com posto de saúde
próprio, utilizando uma casa alugada pela prefeitura de Beberibe como ponto de apoio para a
realização de curativos, consultas médicas e consultas de pré-natal. Os diagnósticos que
demandam exames e tratamentos específicos são encaminhados para ao município de
Beberibe, pois o atendimento realizado pelo médico só acontece uma vez por semana no posto
de saúde, o qual também visita a comunidade a partir do Programa Saúde da Família. Os
entrevistados se queixam da ausência de uma ambulância na própria comunidade, sendo
necessário chamar a de Beberibe quando preciso for.
86
dois aparelhos de som, quatro computadores para uso na sala de informática e dois para uso
dos alunos. A escola conta com vinte e nove funcionários e possui acesso à internet. Oferece
ensino regular, conta com creche de 0 a 3 anos, e pré-escola de 4 a 5 anos, além do ensino
fundamental. A escola disponibiliza merenda escolar aos alunos, produzida na própria escola
por merendeira.
Para obter gêneros de vestimentas, calçados, eletrodomésticos, móveis, entre
outros gêneros necessários, os moradores se dirigem até os maiores centros comerciais, no
caso Beberibe e Aracati. Na Prainha do Canto Verde existem algumas lojinhas de artesanato,
porém, destinadas a vender artesanato e souvenirs para os turistas que visitam a comunidade.
Foram detectados cerca de 5 mercadinhos, com limitação de produtos mas que atendem as
primeiras necessidades dos moradores. Vendem produtos de higiene pessoal, material de
limpeza, gêneros alimentícios, entre outros.
Por meio da Cooperativa de Produção e Comercialização Agroecológica e
Solidária - COAPSOL, a Bodega é um espaço de comercialização de produtos artesanais,
higiene pessoal, confecções, produtos alimentícios e agroecológicos, produzidos na
comunidade e também em outras que fazem parte da cooperativa. A comercialização
participativa é feita diretamente ao consumidor com preço acessível já acrescida uma taxa de
12% destinada ao fundo para garantir a sustentabilidade do espaço.
Quanto às práticas religiosas, Canto Verde conta com dois templos religiosos,
sendo uma Igreja evangélica Assembleia de Deus e uma Igreja Católica. O terreno para a
construção do templo da Assembleia de Deus foi solicitada pelos senhores José Ramos,
Anderson Dantas e pela senhora Mirtes Dantas à Associação dos Moradores, o qual se iniciou
em 10 de agosto de 2000, com inauguração em 17 de Fevereiro de 2001.
Os trabalhos para a comunidade são mensais e possuem a seguinte programação:
1ª Terça-feira – Culto de Doutrina
2º Domingo – Culto da Família
2ª Terça-feira – Culto de Crianças
2ª Quarta-feira – Culto de Senhoras
3º Domingo – Culto de Missões
3ª Terça-feira – Culto de Santa Ceia
Último Sábado – Culto de Mocidade
Todo Domingo – Escola Bíblica Dominical
Toda Sexta-feira – Círculo de Oração
88
do tipo self service, devendo ser contratado com antecipação, mediante pagamento de 50% do
valor. O cardápio inclui pratos da culinária nordestina, dando ênfase nos pescados devido à
produção de peixes na região. O preço em 2016 está em uma média de R$35,00 por pessoa
para um grupo a partir de 15 pagantes e dá direito a suco de frutas da estação e sobremesa (à
base de frutas da estação). O espaço não aceita cartões de crédito ou débito.
Conforme dados disponibilizados pela Secretaria de Cultura - SETCULT –
Beberibe, alguns estabelecimentos da Prainha do Canto Verde são cadastrados como
empresas fornecedoras de alimentação como mostra a Tabela 1:
O acesso até a Prainha do Canto Verde é pela rodovia CE-040, porém, o ônibus
intermunicipal deixa os passageiros na entrada da estrada de acesso à Praia. A empresa é a
São Benedito, que possui saídas diárias da capital Fortaleza, com destino à Fortim e Aracati e
parada na estrada para àqueles que o destino é Canto Verde. A passagem custa R$18,00 até a
localidade de 4 Bocas. Desse ponto até o centro da Prainha, existem moto táxis e carros de
aluguel que fazem o percurso por R$5,00.
93
Segundo moradores existem carros que fazem frete e serviço de traslado para
moradores até Beberibe e Fortaleza, com média de preço de R$ 15,00 por passageiro.
No que se refere aos serviços de transporte turístico, a Prainha do Canto Verde
possui cerca de 6 buggys de passeio (4 deles pertencem à bugueiros vinculados ao Conselho
de Turismo e 2 da associação independente), que realizam passeios pela beira da praia, Morro
da Cacimba, Córrego do Sal, Parajuru, entre outros destinos, despertando o olhar do turista
sobre a localidade.
Além dos passeios turísticos na região, são disponibilizados traslados como
Aeroporto Internacional Pinto Martins/Canto Verde, sob o valor de R$200,00 para até 4
pessoas. Outros passeios são oferecidos ao turista como Beberibe (R$150,00 com motorista),
Morro Branco (R$120,00 + R$50,00 para o motorista), Aracati (R$110,00 + R$50,00 para o
motorista), Canoa Quebrada (R$150,00 + R$50,00 para o motorista), Ponta Grossa (R$200,00
+ R$50,00 para o motorista), Coqueirinho (R$80,00 + R$50,00 para o motorista).
Os meios de hospedagem se configuram como serviços remunerados, prestados
por estabelecimentos que oferecem alojamento e serviços necessários ao conforto do hóspede
como recepção, guarda de bagagem, manutenção, arrumação e limpeza das áreas, instalações
e equipamentos, etc.
O Decreto Federal de nº 5.406, de 30 de março de 2005, considera os meios de
hospedagem de turismo àqueles estabelecimentos que possuem licença de funcionamento para
prestar serviços de hospedagem expedida por autoridade competente. Ainda segundo esse
Decreto, são serviços de hospedagem àqueles prestados por empreendimentos ou
estabelecimentos empresariais administrados ou explorados por prestadores de serviços
turísticos hoteleiros, que oferecem alojamento temporário para hóspedes, mediante adoção de
contrato de hospedagem.
Para Andrade (2002) independentemente do nível, gabarito ou classificação, um
hotel é o edifício onde se exerce o comércio da recepção e da hospedagem de pessoas em
viagem ou não, onde podem ser oferecidos serviços parciais ou completos, de acordo com o
tipo de empreendimento e as necessidades de seus clientes.
É importante ressaltar que os meios de hospedagem da Prainha do Canto Verde
são considerados alternativos por não fazerem parte da classificação oficial da EMBRATUR e
do Ministério do Turismo, visto que não atendem aos padrões de classificação quanto a
conforto, serviços disponibilizados, atrativos, dentre outros itens necessários. Além disso,
somente uma pousada (Recanto da Mãezinha) solicita o preenchimento da ficha nacional de
94
registro de hóspedes – FNRH (Figura 10), o que dificulta o controle do fluxo turístico e o
conhecimento do público.
Quanto às pousadas, embora não existam parâmetros predefinidos para classificar
as pousadas, pode-se considerar que esse tipo de empreendimento é a versão contemporânea
das hospedarias do passado. Representam uma alternativa de hospedagem mais acessível, sem
que isso signifique ausência de conforto. Em sua estrutura possuem unidades habitacionais
individualizadas e decoração identificada com a localidade.
Os meios de hospedagem podem ser classificados de acordo de acordo com a
Embratur, pelas características das suas instalações, em função do nível de conforto que
oferecem, bem como pela qualidade de serviços e pelos preços cobrados.
De maneira simplificada, a classificação dos meios de hospedagem serve como
modelo para a padronização dos produtos e serviços hoteleiros, facilita a sua fiscalização e
manutenção do padrão de qualidade.
Em resumo, a classificação hoteleira objetiva orientar:
a) ciedade em geral – em relação aos aspectos físicos e operacionais que
distinguem um meio de hospedagem de outro;
b) entes-hóspedes – para que possam avaliar a compatibilidade entre a
qualidade oferecida e os preços cobrados;
c) eiros – orientando os padrões que devem seguir os seus projetos para alcançar
determinada classificação;
d) gãos ou empresas responsáveis pelo controle e fiscalização dos meios de
hospedagem – definindo requisitos e padrões que devem ser observados para manutenção da
qualidade.
95
a) Sol e Mar
A Pousada Refúgio da Paz conta com boa estrutura, mas também não
disponibiliza serviço de recepção, gerando as mesmas dificuldades. Oferece 9 leitos, café da
manhã incluso no valor da diária (R$ 80,00/casal) ou apartamento com cozinha
(R$100,00/casal). A pousada não possui área de lazer e recreação. O uso da TV é comum a
97
todos os hóspedes e não possuem restaurante. Não possui serviço de alimentação, e quando
necessário, indicam a Pousada Sol e Mar. Os hóspedes podem usar a cozinha da dona da casa
e preparar suas próprias refeições. Não aceita cartões de débito ou crédito.
c) Recanto Verde
A Pousada Recanto Verde também conta com boa estrutura, porém, não
disponibiliza serviço de recepção, gerando as mesmas dificuldades. Oferece 6 leitos, café da
manhã incluso no valor da diária (R$140,00/casal). A pousada não possui área de lazer e
recreação. O uso da TV é comum a todos os hóspedes e não possui restaurante, sendo
necessário o hóspede realizar suas refeições em outro estabelecimento. Não aceita cartões de
débito ou crédito.
d) Chalé Coqueiral
f) Casa Cangulo
g) Casa Bajurau
h) Pousada Comunitária
i) Casa da Gorete
14
Utiliza-se o referido nome pois é a forma como a hospedagem é divulgada para o público em geral.
100
Figura 13 – Grelha onde o pescador Roberto assa peixe para seus hóspedes
de hospedagem no mercado e podem não retornar. Por se tratar de uma localidade com
limitações de uso do espaço, empreendedores tendem a investir pouco, o que reduz a oferta de
melhores comodidades.
É importante ressaltar que outras opções de hospedagem podem ser encontradas
na localidade, mas estas são as mais indicadas pelos moradores. Após a implantação da
RESEX, alguns estabelecimentos antes existentes se desvincularam do Conselho de Turismo,
desta forma, estabelecendo uma nova associação com novas regras, embora continuem
fazendo parte da oferta turística da Prainha do Canto Verde.
Outro ponto importante é que as pousadas filiadas ao Conselho de Turismo
cobram uma taxa de turismo de R$2,00 reais por dia, visando ajudar na manutenção da
organização comunitária. Os serviços prestados pelo Conselho de Turismo para os afiliados
incluem serviços como o receptivo, gastos de marketing e promoção de venda, gastos de
pessoal, capacitação, infraestrutura, comunicação, limpeza e outros.
Em suma, elaborou-se uma tabela com os principais meios de hospedagem na
Prainha do Canto Verde, levando em consideração não só os que fazem parte do turismo
comunitário, mas também àqueles que oferecem serviço de hospedagem convencional.
Outro artesanato que vem sendo feito pelos moradores são as esculturas naturais,
feitas com corais encontrados na praia, além de animais esculpidos em quenga de coco
(Figura 15) e outros utilizando galhos secos e fuxicos de tecido.
Toda essa variedade mostra a importância do artesanato para a comunidade e sua
geração de renda complementar, proporcionando a criação e o incremento de novas
oportunidades. Além disso, estimula os moradores à investir na criatividade a fim de recriar e
reinventar novas formas de expressão.
Algumas manifestações culturais são identificadas na Prainha do Canto Verde na
forma de músicas e brincadeiras de roda, dentre elas a Dança da Carrapeta e a Viuvinha,
Terezinha de Jesus, Fui à Espanha, Cai no Poço, Eu sou pobre e a tradição das Quadrilhas,
sendo reinventadas pela escola desde 1996, alegrando as comemorações de São João.
Outra manifestação ensinada pela finada Maria Pimenta, moradora de Fortim
eram os dramas, realizados aos sábados somente por mulheres e respeitando um período de
quinze em quinze dias. Como se trata de uma representação bastante antiga, poucos
moradores ainda a realizam, estando registrada apenas na memória dos mais antigos.
O Bumba Meu Boi também é realizado na Prainha do Canto Verde, atraindo
moradores de comunidades próximas e conta a lenda de Catarina, que grávida desejou a
língua de um boi. Os brincantes se organizam e encenam a brincadeira na escola no mês de
agosto, embalados por um momento de descontração e boas lembranças.
Embora sejam várias as manifestações culturais que ainda se mantém vivas na
memória da comunidade, a mais conhecida e consolidada até os dias atuais aparece durante as
festividades da Semana Santa, onde brincantes da própria comunidade além de queimarem o
Judas no sábado de aleluia saem às ruas fantasiados, mascarados e vestidos com roupas feitas
de palha (Figura 16), pelos próprios brincantes, além de fantasias improvisadas (Figura 17).
Estes saem às ruas, animando aos que assistem, envolvendo-os em uma mistura de insulto e
medo, fazendo com que todos brinquem e participem.
Segundo moradores, a brincadeira perdura por mais de 40 anos na comunidade e
se configura como uma das mais apreciadas, sendo muitas vezes representada também no
Encontro promovido pelo Serviço Social do Comércio - SESC e intitulado Povos do Mar, que
está na sua 5a edição e envolve comunidades litorâneas e suas expressões culturais.
106
A Prainha possui beleza natural de grande valor, ressaltando o branco das dunas,
coqueirais e a cor do mar, embora as trilhas se configurem como atrativo relevante histórico-
paisagístico. Existem três trilhas para o turista conhecer:
Essa trilha tem cerca de 4 quilômetros de extensão e pode ser realizada pela praia
ou pelas dunas. Seu principal atrativo é o pôr do sol, comparado por alguns visitantes ao da
Praia de Jericoacoara, no Ceará. No caminho podem ser contempladas a flora local, além de
aves nativas. O passeio pode ser guiado por um condutor local e custa para 1 a 2 pessoas,
R$17,00 e de 3 a 5 pessoas, R$25,00.
111
- Passeios Náuticos
Atrativos Naturais
comum nas praias arenosas e cava suas tocas acima da área de maré, as tartarugas marinhas,
que utilizam as restingas como locais de desova e os maçaricos de praia, aves migratórias.
Praia de paisagem natural exuberante, composta por dunas, coqueirais, lagoas
(figura 18) e mar verde-acinzentado compõem um sistema de paisagens e ecossistemas
costeiros e marinhos em bom estado de conservação, de interesse ecológico e social
(ICMBIO, 2011).
tampouco a quem iria beneficiar, mas surge um questionamento: quantas pessoas utilizam a
câmera fria? Teria sido doada em troca de terra?
Além dos problemas relacionados com a pesca, os moradores enfrentam
problemas referentes à posse e à manutenção de suas territorialidades, desde a década de
1980.
Ainda buscando novas formas de organização e, consequentemente, a mitigação
de problemas referentes à falta de emprego, geração de renda e desenvolvimento da
comunidade, iniciaram-se várias discussões acerca da possível implantação de um turismo
consciente e sustentável na localidade.
As atividades turísticas deveriam ser conduzidas pelos moradores e a renda
distribuída entre os seus membros. Foi criado um fundo para financiar cursos de capacitação
para os moradores que não estavam envolvidos diretamente com o turismo visando a
qualidade do serviço prestado (BURSZTYN; DELAMARO, SAVIOLO & DELAMARO,
2003).
O projeto de ecoturismo comunitário da Prainha do Canto Verde repercutiu
internacionalmente e foi vencedor, em 1999, do prêmio TO DO!99, concedido pela ONG
alemã Studienkries für Tourism und Entwicklung, para projetos de turismo socialmente
responsáveis, sendo motivo de diversas matérias jornalísticas no Guia The Community
Tourism Guide de 2000, além de receber o Prêmio TOURA D’OR 2000, pelo melhor
documentário sobre Turismo Sustentável (MENDONÇA, 2004).
Os turistas que buscam a Prainha do Canto Verde como destino turístico a veem
como um paraíso, dotado de tranquilidade e belezas naturais. Compreendem que para que a
comunidade siga sua rotina com harmonia, necessita da compreensão daqueles que a visitam,
no sentido de não romperem as regras e interesses locais, nesse contexto, isso faz com que a
praia seja respeitada enquanto destino turístico sustentável.
Em 2009, por iniciativa da própria comunidade junto à Associação de Moradores
da Prainha do Canto Verde (AMPCV), foi instituída uma reserva, denominada de RESEX,
assegurando que as residências não podiam ser vendidas, utilizadas apenas com fins de
moradia, não podendo também expandir o comércio, pois este não devia impactar no
ambiente local.
O turismo comunitário na Prainha do Canto Verde até este ano de 2018 é
organizado e gerido pelo Conselho de Turismo, composto por 9 membros da comunidade, o
qual é responsável pela articulação junto ao Poder Público, outras comunidades, além da
articulação entre nativos e turistas. O conselho conta com o apoio da Associação de
117
geração a fim de não extingui-las. Como atrativos, a localidade deve oferecer tranquilidade,
ambiente favorável ao visitante para que possa conhecer sua cultura, gastronomia, modo de
vida, onde possa participar e valorizar a rotina diária do nativo. É importante dizer que na
visão do poder público, esta forma de turismo é a menos invasiva e pode trazer bons frutos
para a comunidade.
Quanto ao público alvo, são pessoas que buscam um ambiente tranquilo, sair do
caos da cidade, além das pessoas que gostam de contemplar o meio ambiente e viver
próximas à natureza. Essas pessoas buscam conhecer o modo de vida simples do nativo, sua
cultura e identidade. Em relação aos moradores, entende que devem ser conscientes sobre a
importância da comunidade. Devem se sentir pertencentes à mesma, pois dessa forma, a
tendência é que passem a preservá-la mais. Devem interagir positivamente com o visitante de
forma a cativá-lo. O turismo comunitário é diferente dos outros tipos de turismo, os quais o
objetivo principal é a contratação de serviços profissionais e de qualidade.
De acordo com a secretária, os pontos positivos do turismo comunitário na
Prainha do Canto Verde estão associados à própria localidade, rica em belezas naturais e locus
de um vida simples, mas cheia de significado. Como ponto negativo, a secretária de turismo
cita a forma como o turismo é conduzido pelos moradores, fechada e inflexível, dificultando
as articulações entre o poder público e a comunidade. Completa afirmando que isso pode
dificultar a injeção de recursos públicos e ações que visam melhorar a qualidade do turismo
desenvolvido na região. Ressalta ainda que as tomadas de decisão não são fáceis por
envolverem várias pessoas, com pensamentos diferenciados, o que torna uma decisão simples
em algo complexo.
No tocante da oferta turística na Prainha do Canto Verde, afirma já existir
pousadas com o mínimo de estrutura, embora ainda sejam consideradas deficientes por alguns
visitantes. Somente uma pousada oferece piscina ou qualquer atividade de lazer para crianças,
enquanto a maioria opta por oferecer acomodação mais simples, livre de luxo e das tendências
do turismo massificado. Quanto à alimentação, relata a respeito de uma precariedade,
característica da falta de estabelecimentos alimentícios que atendam ao turista, principalmente
no que se refere aos horários de funcionamento, onde na maioria, só funciona até às 17 horas.
Corrobora afirmando que pela noite, deveriam ser realizadas atrações que
atraíssem o visitante como apresentações culturais, shows com artistas locais (repentistas,
poetas e contadores de estórias) e que pudessem contribuir com o entretenimento dos
hóspedes, pois em algumas outras comunidades, moradores se beneficiam dessas
apresentações quando expõem artesanatos e comercializam comidas típicas, o que
119
através de orçamento federal, que visa oferecer cursos nas mais variadas áreas, que vão desde
turismo, gastronomia, cultura e pesca até língua estrangeira. A secretária relata ainda que
desde 2013, são ofertados cursos nas comunidades, fazendo com que os interessados não
precisem se deslocar até a sede do município. Vale ressaltar que outras secretarias também
ofertam cursos de capacitação para os moradores e que alguns destes se relacionam com o
turismo.
Tabela 4 – Relatório de capacitações do SENAC em 2014, contemplando a Prainha do
Canto Verde.
CURSO PERÍODO Nº DE ATEND. TURNO LOCAL
VAGAS
Agente de informações 19/02 a 02/06/14 30 22 Manhã Uruaú
turísticas
Agente de informações 19/02 a 02/06/14 30 22 Tarde Parajuru
turísticas 19/02 a 02/06/14 20 Noite Morro
Agente de informações Branco
turísticas
Condutor de Turismo e 19/02 a 02/06/14 30 23 Manhã Prainha
Aventura do Canto
Verde
Condutor de Turismo e 19/02 a 02/06/14 30 30 Tarde Barra da
Aventura Sucatinga
Condutor de Turismo e 19/02 a 02/06/14 30 22 Noite Morro
Aventura Branco
Recepcionista em Meios de 19/02 a 02/06/14 30 26 Manhã Sucatinga
Hospedagem
Recepcionista em Meios de 19/02 a 02/06/14 30 22 Tarde Sede
Hospedagem
TOTAL 240 187
uma localidade complexa (risos), mas que deseja que o turista ao visitar a
comunidade, se sinta acolhido, pois as pessoas que procuram conhecer a Prainha do
Canto Verde desejam tranquilidade, um turismo sossegado, voltado para a
contemplação da natureza. Os moradores se mostram abertos à receber os turistas
mesmo que ainda não tenham conhecimento suficiente ou se percam um pouco na
questão da ideologia dos dois grupos, porém são pessoas boas, que querem o melhor
para a comunidade, pois o que os turistas mais gostam na Prainha do Canto Verde é
a tranquilidade e o que menos gostam é a pouca infraestrutura turística
(SECRETÁRIA DE TURISMO E CULTURA, 2016).
2%
5% 9% 6% 1 pessoa
26% 2 pessoas
23% 3 pessoas
4 pessoas
29%
5 pessoas
6 pessoas
0 pessoas
Indagados sobre seus locais de nascimento, percebeu-se que 37% dos sujeitos da
pesquisa são da Prainha do Canto Verde. A soma das porcentagens referentes a locais de
125
1% 2% 1%
2% 2%
2% 4% 4%
3% 37%
3%
1%
5%
8%
2% 22%
1% Fundamental
incompleto
1%
Fundamental
1% 1%
completo
18% Nível médio
36%
Superior incompleto
42%
Superior completo
Pós graduação
incompleta
Pós graduação
completa
familiar, 76% dos entrevistados relatam que apenas uma pessoa contribui na composição da
renda familiar, 20% indicam que duas pessoas compunham a renda e a soma das demais
respostas somam 4%, fato este que pode vir a comprometer a qualidade de vida da família,
pois conforme identificado na pesquisa, a maioria dos entrevistados possuem mais de três
pessoas morando em casa.
Desta forma, os gastos com as primeiras necessidades são maiores, afetando
diretamente o poder de compra dos moradores, influenciando seu modo de vida. Percebe-se,
portanto, quando estes relatam que apenas uma pessoa contribui com a composição da renda
familiar, a ausência de uma distribuição de papéis dentre esses núcleos familiares. Como se
verá mais à frente, a atividade do turismo comunitário não implica numa divisão de atividades
principais a partir das quais as famílias possam se sustentar. Tal atividade vem como um
complemento, não causando um aprofundamento da profissionalização da oferta turística por
parte dos sujeitos da comunidade.
Ao serem questionados se, atualmente, trabalhavam em alguma atividade
relacionada ao turismo, 64% responderam que não. Dos entrevistados, 21% responderam que
além de não estarem, também não procuravam empregos nessa área. Isso consolida a ideia de
que o turismo realmente não é a atividade principal dos moradores da comunidade, sendo a
ocupação de apenas 8% dos entrevistados. Esses dados permitem uma reflexão importante: a
maioria não se engaja no turismo porque considera que sua atividade principal realmente deve
ser outra ou não estão inseridos na atividade turística desenvolvida na comunidade, daí não
entrarem na estatística?
Observando o Gráfico 4 têm-se ainda uma pequena parcela de 3% que diz não
trabalhar com o turismo embora tenha interesse e 4% que afirma trabalhar com o turismo,
embora precise complementar a renda com outra atividade. Dentro dessa alternativa, foram
citadas a pesca, o funcionalismo público, educação, saúde e trabalhos temporários como
faxina e trabalhos manuais.
A oferta do turismo comunitário não é percebido enquanto atividade capaz de
gerar dividendos econômicos e assim levar a uma elevação do status social dos habitantes da
comunidade. É, isso sim, uma forma de abertura da comunidade àqueles que buscam desfrutar
das belezas naturais e culturais da Prainha do Canto Verde. Esta percepção, se por um lado
permite e subsidia a preservação do modo de vida da comunidade, também implica numa
ausência de estruturação baseada da oferta de produtos e serviços com foco no mercado
turístico.
128
Não
3% 4% Trabalho e é essa a
principal fonte de renda
familiar.
21%
Não trabalho nem estou
8% 64% procurando emprego nessa
área.
Não Sim
69
Existe lixo espalhado na região
31
30
Existe mau cheiro na região
70
63
A região é afetada por enchentes
37
Sim
Não
Associação dos moradores da Prainha do Canto Verde -
Associação Independente –
37%
33% 67%
30%
9%
28% Semanalmente
63%
Mensalmente
Nenhuma
Se fazem parte de uma associação, por que estão distantes dessas reuniões?
Podemos verificar que essa resposta pode estar associada às respostas expostas no Gráfico 8,
o qual mostra a atuação da associação em relação à solução dos problemas presenciados na
comunidade, onde 40% consideram fraca a atuação e 36% avaliam como muito fraca. Aqueles
que consideram muito boa a atuação são minoria, perfazendo apenas 2% dos entrevistados,
cabendo indicar ainda os que consideram essa atuação boa (12%) ou razoável (10%).
Muito
2% boa
Boa
12%
36% 10% Razoável
40%
Drogas
Marginalidade
2% 1% Prostituição
16% Miséria
12%
Exclusão social
15%
15% Desemprego
4%
Conflitos por terra
2%
Alcoolismo
Exploração sexual
menores
Violência doméstica contra
mulher
Outros. Qual?
valorizem tais questões, pois, quando se tem um número maior de pessoas na localidade, o
acúmulo de lixo é maior. De acordo com o Entrevistado A,
Com a fala do morador, se percebe que estas pessoas vivem dentro do pouco que
lhes são oferecidos, aguardando por melhorias que não devem estar vinculadas com o turismo
na comunidade, pois fazem parte do grupo de necessidades primárias. Verificou-se que 67%
das pessoas que responderam o questionário avaliam a infraestrutura básica como sendo
regular, ou seja, nem somando as que responderam as demais alternativas não se consegue
superar o Regular.
A situação do meio ambiente na Prainha do Canto Verde nos últimos 5 anos
também foi tematizada na pesquisa. Dos entrevistados, 77% dos entrevistados percebem que a
situação permaneceu a mesma, o que mostra uma estagnação. Das pessoas entrevistadas, 17%
entendem que a situação melhorou e a soma dos que consideram que piorou ou piorou muito,
totalizam 6%.
Neste fator foram agrupadas as variáveis que compuseram parte dos comentários
abertos dos moradores como modificação da paisagem natural, ocupação irregular de lotes,
escassez da lagosta, entre outros citados em menor quantidade.
Isso se dá pela pouca ou inexistência de políticas públicas e ações voltadas para a
preservação e manutenção do meio ambiente, que gera problemas como o crescimento
desordenado da comunidade no sentido da entrada de pessoas de fora, paisagem natural
modificada; vandalismo; poluição dos córregos; falta de segurança pública; marginalidade e
entrada de drogas na comunidade.
Indagou-se também sobre de quem seria a responsabilidade pela solução dos
problemas enfrentados pelo meio ambiente na Prainha do Canto Verde. Nesta indagação, a
grande maioria indicou a prefeitura municipal como órgão a ser responsabilidade (77%).
Organizações não governamentais e o poder público federal e estadual não foram indicados
expressivamente como tendo essa responsabilidade.
Na Parte IV do questionário, houve 12 questionamentos abertos, envolvendo a
temática turismo na Prainha do Canto Verde.
Decidiu-se iniciar as questões objetivas da parte IV do questionário com a
indagação sobre a percepção da existência ou não do turismo na Prainha do Canto Verde. Em
134
resposta, constatou que 66% por cento dos entrevistados afirma que existe o turismo,
enquanto que 22% afirmam a não existência. Destes, 12%, a minoria, respondeu que existe
apenas parcialmente. Já em relação ao conhecimento da prática do turismo comunitário na
comunidade, 89% dos entrevistados considera que existe a prática de turismo comunitário na
Prainha do Canto Verde, enquanto que 11% responderam desconhecer a prática. Ou seja, para
os entrevistados, o turismo comunitário é uma prática perceptível e com implicações na vida
cotidiana da comunidade. Ainda que sob o termo genérico de “existente”, isso mostra certo
grau de presença no imaginário coletivo de um modelo de prática do turismo.
Em seguida, os entrevistados foram indagados sobre outras comunidades que
viessem a concorrer com o turismo na Prainha do Canto Verde. Respostas apresentadas no
Gráfico 10 mostram uma diversidade de outras localidades percebidas como concorrentes.
Não estando muito dispersas as respostas, tal percepção revela certa falta de conscientização
da comunidade enquanto espaço potencialmente turístico.
Acaraú
6% Ponta Grossa
6% 12%
6% Praia das Fontes
12%
12% Camocim
Morro Branco
17%
12% Praia das Fontes
17%
Uruarú
Portal do Maceió
Pargem
movimenta o comércio local, aumenta o fluxo dos passeios de jangada, além de facilitar o
intercâmbio de culturas.
eu acho que através do turismo, a gente pode conhecer pessoas de outros lugares, ter
outras experiências. Claro que não podemos deixar de falar nos problemas que
aparecem como exploração sexual, mudança nos hábitos dos moradores para agradar
aos turistas e principalmente, a entrada de drogas na comunidade (Entrevistado C,
2017).
Já o Entrevistado E (2017) é enfático ao dizer que “o turismo não muda a minha vida
nem a de ninguém aqui. Poucas pessoas vivem desta atividade e as que vivem é o grupo que domina
isso”. Diante de tais colocações, pode-se perceber que o turismo é percebido por alguns como
uma atividade que complementa a renda e que pode ser considerada uma atividade que além
da infraestrutura básica, envolve outras atividades como a elaboração de roteiros
desenvolvidos comunidade, estimulando a interação entre morador e visitante, passeios de
jangada, todos com vistas às práticas de Educação Ambiental para os turistas.
moldes tradicionais, vivendo da pesca e da agricultura, longe da correria dos lugares turísticos
massificados e distante das mazelas sociais advindas da miscigenação de culturas e pessoas.
Buscam viver em harmonia, vivendo de forma simples e com qualidade e que isto não é
possível quando o turismo convencional é inserido em uma comunidade. Junto a eles chegam
os investidores, o tráfico de drogas, a especulação imobiliária e a miscigenação cultural, que
transforma o lugar.
Em relação a abrangência do turismo comunitário, o presidente afirma ser este o
responsável pela complementação da renda de muitas famílias que viviam exclusivamente da
pesca e agora possuem outra forma de obter renda extra. Assim, hospedam em suas casas
turistas que buscam a tranquilidade e as belezas da Prainha, bem como viver a experiência de
conviver alguns dias com a comunidade, não propriamente como turista, mas como um
membro da família. Complementa afirmando que essa experiência só é possível nesse tipo de
turismo, pois visa o bem estar da comunidade, não se preocupando em oferecer luxo aos
visitantes.
Quanto questionado sobre a especulação imobiliária na localidade, relata que esta
ainda não tomou conta da comunidade por causa da RESEX. Muitas pessoas vem de fora,
principalmente capital estrangeiro para investir na comunidade, com a promessa de que irão
melhor a qualidade de vida dos moradores, além de melhorias referentes a infraestrutura
básica e acessibilidade. Em relação a isso, coloca que a comunidade sente falta de
investimentos na comunidade no sentido de melhorar a educação e a saúde, visto que a escola
da comunidade só atende o ensino fundamental e o posto médico possui várias limitações no
atendimento, dentre elas, dias, horários e profissionais da área para atender aos pacientes.
No que se refere aos benefícios do turismo comunitário, o entrevistado afirma
serem muitos: desde o fortalecimento da comunidade em relação à terra até a renda
complementar proveniente da atividade. Em relação a isso, reconhece que essa modalidade
ainda é pouco difundida, principalmente por ser pauta de muitas discussões relacionadas aos
beneficiários. Afirma que na Prainha dá certo, embora a participação da comunidade seja
dividida em três formas de pensar, ou melhor, três grupos diferentes: àqueles que fazem parte
da associação tradicional, os que fazem parte da independente e àqueles neutros, que não
influenciam e não expõem seus sentimentos em relação aos conflitos pela terra na
comunidade.
Aproveita para reforçar que o turismo comunitário vem crescendo, tomando forma
e ganhando adeptos, embora reconheça os pontos fracos, os quais estão relacionados à falta de
divulgação, de propagandas atrativas que venham a atrair o visitante, além de criar
139
expectativa acerca do que vai conhecer. Outro problema citado é a falta de fidelização desse
turista, que nem sempre volta, não por não gostar do lugar, mas pela falta de planejamento do
grupo, que é envolvido com outras atividades e que precisa se envolver com outros problemas
que devem ser mitigados pela associação.
Afirma sentirem a necessidade de ajuda externa, principalmente do apoio do
poder público e de pessoas ligadas ao turismo que pudessem fazer um plano de marketing
para divulgar a comunidade, dentro do que é decidido pelos moradores. É importante ressaltar
que a divulgação é realizada pelos próprios envolvidos com o turismo comunitário, a partir de
uma página do facebook e através da propaganda boca a boca realizada por quem já conheceu
a Prainha e pela Rede Tucum e Instituto Terramar.
Em relação ao lixo, o presidente ressaltou que esse é um problema que vem sendo
pensado, mas que o lixo não está espalhado pela comunidade e sim, concentrado em uma casa
que fica na entrada da praia. Em dias específicos o caminhão do lixo passa e recolhe, levando
ao seu destino final.
Ressaltou que muitas famílias utilizam a fossa verde em suas residências, o que
diminui a produção de resíduos, já que a Prainha é deficiente no saneamento. Complementou
sua fala afirmando que as belezas naturais da Prainha se destacam principalmente por ser uma
localidade limpa, ainda bem primitiva, sem poluição visual e sonora.
Quanto à sua visão acerca da RESEX, afirma que esta foi implantada para garantir
a tranquilidade na Prainha, a organização e os direitos dos moradores. Enfatiza que estes não
desejam forasteiros na comunidade, que não querem turismo massificado, carros de som e
drogas fazendo parte de seu dia a dia. Fazem questão da vida simples, marcada pela cultura
local, pela história de luta da comunidade e que os outros destinos que permitiram a entrada
de investidores sofrem com problemas sociais proveniente das drogas, marginalidade e
prostituição.
conhecimento que a reserva seria continental e marinha e que não seria responsável apenas
por controlar o mar, mas também a ocupação e o uso da terra pelos moradores.
Em relação à sua visão acerca do turismo na Prainha, informa que falta
divulgação, que as regras impostas pela RESEX impossibilitam o desenvolvimento das
pousadas, que poderiam atrair mais turistas para a comunidade. A mesma aponta ainda a falta
de articulação com o poder público, que se encontra entre duas visões distintas das duas
associações. É importante destacar que a fala da presidente destaca pontos importantes não
destacados na fala do representante da outra associação, como a importância da qualificação
da mão de obra local, onde cita que investe na contratação de estagiários de turismo para
atuarem na pousada, a qual é proprietária. Destaca ainda a boa qualidade dos serviços
oferecidos, que devem ser condizentes com a beleza local e à hospitalidade dos moradores.
No que se refere à abrangência do turismo comunitário, a mesma afirma não
beneficiar uma boa parte dos moradores, relata até casos de miséria na comunidade, pois
alguns moradores que viviam da pesca da lagosta sofreram as consequências da pesca
predatória realizada pelos barcos pesqueiros vindos de outros lugares. Relata que algumas
pessoas percebem a importância do turismo na comunidade, pois atrai visitantes que se
hospedam, se alimentam e compram artesanato feito na própria comunidade. Corrobora
relatando que a associação independente é formada por pessoas mais jovens, com ideias
inovadoras, que possuem experiência com turismo e detém conhecimento de outras
experiências exitosas, as quais poderiam ser introduzidas na comunidade.
Sobre o tema especulação imobiliária, esta afirma ainda não ser um problema na
comunidade, mas que os proprietários de terrenos deveriam ter o direito de comprar e vender
quando julgassem necessário, pois após a RESEX não puderam mais. Conforme a
entrevistada,
elaborar propostas de gestão desses segmentos e discuti-las com 40 membros que fazem parte
da assembleia.
Alguns questionamentos foram realizados a um dos membros, atualmente
responsável pelo segmento de Passeios/guiamento/traslados, que mostram a percepção do
conselho sobre a prática do turismo na região. A seguir, discutimos tais falas relacionando-as
com as outras percepções sobre o turismo na Prainha do canto Verde.
divisão de tipo de turismo. Dos 5 (cinco) entrevistados, somente 1 disse que o turismo era
fechado, concentrado apenas naqueles que conseguiam atrair turistas a partir de
propagandas, de indicações ou de panfletagem. Os outros 4 (quatro) responderam que
recebem o apoio do Instituto Terramar, Associação Caiçara e fazem propaganda em redes
sociais, expondo pacotes para finais de semana e feriado e que conseguem, dentro da medida
esperada, atrair e receber turistas. Todos foram unânimes em responder que necessitam de
mais apoio da Prefeitura de Beberibe e uma maior divulgação por parte das ONGs e
associações que desenvolvem trabalhos dentro da comunidade.
O que podemos perceber é que sobre o turismo desenvolvido esses
empreendedores estão satisfeitos mas reconhecem que poderia ser melhor, principalmente
quando se fala em divulgação. Poderiam atrair mais pessoas e divulgar melhor a proposta do
turismo na localidade.
O segundo questionamento foi voltado para a questão da organização do
turismo, de como eles organizavam e geriam seus empreendimentos. Dos 5 (cinco)
entrevistados, 3 (três) responderam que eles próprios se organizavam, principalmente pelo
fato de não fazerem parte do turismo comunitário. Relataram divulgar suas pousadas em
sites de reservas de hotéis, divulgavam em agências de viagens de pequeno porte, nas redes
sociais e por boca a boca. Os outros 2 (dois), recebem turistas a partir de divulgação
realizada pela Rede Tucum, no site da Associação de Moradores, por meio do Conselho de
Turismo e através de parcerias com agências de viagens. Estes dois ressaltaram ainda que
seria interessante que a Secretaria de Turismo de Beberibe fizesse uma divulgação mais
intensa em suas redes sociais e site, pois têm turistas que desconhecem a proposta do
turismo comunitário na Prainha do Canto Verde.
O terceiro questionamento versou sobre os benefícios do turismo na
comunidade, que tipos de benefícios a atividade possibilita? Os 3 (três) entrevistados
envolvidos com o turismo convencional afirmaram que o turismo que vem sendo realizado
na comunidade não beneficia quase ninguém, pois só quem participa são os próprios
organizadores, os membros da associação tradicional e os do Conselho de Turismo que
prestam serviços de buggy e condutor turístico. Salienta que boa parte das pessoas que
acolhem em suas residências vivem da pesca e recebem turistas esporadicamente. Não
possuem estrutura turística nem têm estrutura para oferecer serviços de qualidade como os
que os turistas necessitam.
Já os outros 2 (dois) entrevistaram responderam que o turismo comunitário
beneficia àquelas pessoas que quando não estão pescando ou fazendo renda, recebem
145
turistas em suas casas. Além de renda extra, trocam experiências significativas com os
turistas, fazem amizades e estabelecem um intercâmbio cultural importante para as relações
nativo x turista.
O que se percebe é a diferença significativa das visões daqueles que estão
envolvidos com o turismo comunitário e daquelas do turismo convencional. O que aparenta
é um ter a visão mais mercantilista que o outro, compreendendo as relações de troca tão
inerentes ao capitalismo.
Percebeu-se ainda que os envolvidos com o turismo comunitário possuem um
discurso pautado nas premissas do turismo praticado, ainda que não executadas em sua
totalidade, mas que estão alinhadas com o que teoricamente devem ser.
Na quarta pergunta, abordou-se sobre o que esperavam do turismo na Prainha do
Canto Verde e sobre como poderiam colaborar com a atividade no sentido de que esta fosse
uma opção viável e responsável para a comunidade. Os 5 (cinco) entrevistados foram
unânimes em dizer que o turismo na Prainha precisa se mais organizado, mais participativo e
abranger mais pessoas. Muitos moradores poderiam contribuir para esse processo de
desenvolvimento, porém, se limitam ao que é permitido pelas associações, Conselho de
Turismo e ONGs que atuam na localidade, além de estarem distantes do que vem sendo
praticado em outras comunidades. Uma das entrevistadas cita Ponta Grossa e Parajuru, onde
as pessoas participam mais ativamente das tomadas de decisão, da elaboração de estratégias
de divulgação, dos preços praticados e dos atrativos disponíveis para contemplação e
visitação.
O que se percebeu foi a unanimidade em relação à insatisfação quanto à ausência
de participação ativa das pessoas, muito embora isso se dê pelo conflito existente entre as
duas associações, envolvendo diversos moradores. A comunidade se vê dividida, limitada às
decisões de um grupo de pessoas participantes do Conselho de Turismo, que de acordo com
os entrevistados, decidem por toda a comunidade. Por outro lado, as assembleias são abertas
e comunicadas com antecedência aos moradores e estes participam quando desejam. O
importante é que estejam cientes de que as conquistas das associações devem beneficiar a
todos da comunidade de uma forma geral.
No quinto questionamento buscou-se conhecer como são planejados e calculados
os valores praticados em seus estabelecimentos. Os (três) entrevistados que trabalham com o
turismo convencional afirmaram planejar suas atividades individualmente mas que
estabelecem uma média de preços a serem praticados. Entendem que o turismo na Prainha
do Canto Verde se equipara a outras comunidades do litoral leste e que por esse motivo
146
devem ser competitivos com os de outras praias. Já os outros 2 (dois), responderam que o
planejamento da atividade é realizado junto à associação de moradores, com preços
estabelecidos após discussões com o grupo, se baseando nos valores praticados em outras
comunidades que praticam o mesmo tipo de turismo.
É importante salientar que esse planejamento deve estar alinhado com o que a
comunidade deseja em relação ao turismo, visando desenvolver ações eficazes e eficientes
no sentido de fortalecer a comunidade em relação aos conflitos existentes e preservação de
suas raízes, viabilizando a inclusão social, a governança democrática e o desenvolvimento
sustentável.
O sexto e último questionamento foi pautado nas perspectivas futuras associadas
ao turismo na Prainha do Canto Verde. Nessa pergunta houveram cinco respostas diferentes,
baseadas na forma de enxergar o turismo de cada pessoa entrevistada. O primeiro
entrevistado relatou que espera um futuro mais tranquilo para a Prainha, com harmonia entre
as duas associações, a fim de buscar o melhor para a comunidade. Acredita em um turismo
mais humano, pautado na inclusão social, nos valores e princípios da comunidade.
Já o segundo entrevistado, não vê muito futuro para o turismo, pois afirma ser
uma atividade muito controlada pela associação e indiretamente pela RESEX, relata ainda
que as pessoas não possuem autonomia para melhorar seus empreendimentos, diversificar
suas ofertas, praticar valores como desejado, além das limitações na divulgação da
localidade.
O terceiro entrevistado enxerga um futuro promissor, baseado nos interesses da
comunidade, no bem estar social e na capacidade dos que gerem o turismo na comunidade.
Entende que muito deve ser melhorado, porém, com a experiência, o tempo e a construção
gradativa do turismo na localidade, deve-se chegar ao esperado muito em breve.
A quarta entrevistada afirma ser muito bem intencionada em relação ao que
desenvolve na comunidade, que pretende cada dia mais investir em seu empreendimento,
que não desiste da luta e que cada dia mais busca parcerias em prol do desenvolvimento do
turismo na Prainha. Ressalta que o turismo ideal é aquele que traz benefícios a todos e que
serve de renda e de melhoria de vida para as pessoas. Ressalta que as pessoas que vivem na
miséria pelo fato de não quererem se comprometer com uma forma de turismo diferenciada,
são pessoas que não sabem administrar, pois quando se tem uma oportunidade nas mãos,
têm-se que aproveitar as oportunidades.
E por fim, o quinto e último entrevistado entende que a solução para a Prainha
está associada a RESEX, ao fato de voltar atrás no que foi implantado. Entende que o
147
morador deve ser o dono exclusivo de sua terra e que se não se sente bem na comunidade,
tem o direito de se desfazer do seu terreno e vender para quem desejar. Enfatiza relatando
que as pessoas na comunidade são bastante antigas e que conhecem a realidade de todos.
Que ajuda externa é sempre bem vinda, principalmente de pessoas que estão dispostas a
ajudar beneficiando os moradores.
Diante de tais falas, percebeu-se o quão importante são as relações na
comunidade e o quão importante deveria ser a harmonia dos moradores. Os conflitos
existentes são, na maioria das vezes, determinantes de toda a situação vivida e que motivam
descontentamentos diantes outros sujeitos. O turismo local se integra ao turismo globalizado
com muitas ressalvas, várias limitações determinadas pela própria comunidade. Os
moradores conhecem os problemas experienciados por outras comunidades turísticas e
compreendem que na maioria das vezes o turismo é responsável indiretamente pelos
problemas sociais existentes.
Nesse aspecto, os sujeitos da Prainha interagem com o que chega até eles, com o
que dispõem para melhorar de vida mas compreendem que precisam de mais. Conhecer a
realidade da Prainha nos faz pensar que o turismo implantado deveria ser organizado e
voltado para as necessidades dos moradores de uma forma geral.
No intuito de estabelecer uma reflexão sobre as formas de desenvolvimento do
turismo na comunidade, buscou-se mostrar como o Poder Público, as duas Associações de
Moradores e o Conselho de Turismo dialogam entre si (ou não) e utilizam (ou não) as
estratégias propostas pela Rede Tucum (Tabela 5).
148
Tabela 5 – Comparativo das percepções teóricas e dos envolvidos direta e indiretamente com o turismo comunitário da Prainha do Canto Verde
Critérios do Turismo
Estratégias da Rede Poder Público Associação dos Moradores da Associação Independente dos
Comunitário (IRVING, Conselho de Turismo da PCV Moradores
Tucum (TUCUM, 2010) (Secretaria de Turismo e Cultura de Beberibe) PCV Moradores da PCV
2009)
A associação independente
Formação de atores entende que a inclusão social
sociais na perspectiva é importante mas que o Os moradores consideram a inclusão social um fator significativo para
A associação compreende que O grupo gestor vê no turismo
de empoderamento das Considera relevante e necessária à inclusão social morador deve escolher pelo qualquer comunidade, mas acreditam ainda não fazer parte da realidade do
a inclusão social é necessária comunitário a possibilidade da
INCLUSÃO lideranças comunitárias na comunidade, principalmente no sentido de tipo de turismo que deseja turismo na Prainha do Canto Verde. Afirmam conhecer experiências
para que possa haver o inclusão social sem distinção de
O turismo como uma e desenvolvimento de fortalecer o turismo comunitário, formando pessoas trabalhar. A comunidade exitosas mas ainda em pouca proporção. Corroboram afirmando que é
empoderamento das pessoas. cor, raça, nível de instrução, com
alternativa para a inclusão habilidades e com habilitadas e competentes para gerir o turismo deve ser preservada e necessário que haja uma maior participação da comunidade nas decisões e
Devem se sentir responsáveis isso, o empoderamento da
social; competências voltadas atendendo os desejos e interesses dos moradores em valorizada pelos turistas mas organização do turismo a nível comunitário. Quanto ao poder público,
pela escolha de inserir ou não comunidade a fim de gerir a
para o consonância com o poder público. que isso não impede que mencionam a ausência de participação em temas relacionados ao turismo
o turismo em suas rotinas de atividade de forma a atender suas
desenvolvimento do outro tipo de turismo possa na Prainha do Canto Verde. Desta forma, participam pouco de reuniões e
vida. necessidades e anseios.
turismo; ser realizado na comunidade. muitas vezes se percebem desestimulados com a política local.
Entende que isso é uma
questão de consciência.
A Secretaria de Turismo e Cultura de Beberibe
busca sempre a participação social por meio de
reuniões com os moradores, formação de grupos de
A associação visa sempre
Melhoria das trabalho, além de estimular o fortalecimento da
participar junto à comunidade
infraestruturas governança democrática. Afirma estimular a
de todas as benfeitorias O Conselho de Turismo
PARTICIPAÇÃO DA turísticas, como produção de artesanato e renda, as quais são
realizadas na comunidade, A associação independente compreende que as tradições
COMUNIDADE acessibilidade aos divulgadas em feiras de turismo e cultura, inclusive
buscando sempre a busca sempre participar de devem ser preservadas e para isso,
O fortalecimento de temas pontos turísticos, com a participação das próprias rendeiras da Os moradores devem participar de tudo, principalmente na hora de tomar
participação social, feiras e eventos a fim de desenvolve junto à comunidade
como a participação social sinalização turística, comunidade. Em relação às melhorias referentes ao cedisões que envolvem o futuro da comunidade.
empoderando grupos para divulgar a localidade e o um trabalho de conscientização,
e a governança criação de centros de turismo, estas dependem de recursos, os quais são
desenvolver um trabalho de patrimônio material da principalmente para que os
democrática; artesanatos como divididos com outros municípios de Beberibe.
qualidade, voltando para comunidade. moradores se sintam pertencentes
fatores que incentivam Afirma que os problemas de escassez de água e a
atender as demandas dos ao território.
a participação. educação são responsáveis, muitas vezes, pelo
moradores de uma forma
pouco investimento no turismo da região. Afirma
geral.
que o litoral é composto de belas praias, mas
também possui regiões próximas a Beberibe que
carecem de infraestrutura emergencial.
Parte dos moradores alertaram para o fato de os protagonistas serem um
A Secretaria de Turismo e Cultura de Beberibe
A associação dos moradores grupo fechado, que decidem nas assembleias, embora estas sejam
PROTAGONISMO entende que deve haver pessoas envolvidas na A associação independente
busca em consonância com o O Conselho de Turismo busca comunicadas antecipadamente e abertas à comunidade. Entendem que o
A existência do capital Melhoria nas governança, que estejam em condições de se busca constantemente
Poder Público, atrair políticas constantemente participar das sujeito deve fazer parte de todo o processo mas não devem ser o objeto do
social e o compromisso de infraestruturas urbanas articular com outras comunidades, buscando apoio melhorias junto ao poder
públicas para a comunidade, discussões acerca da processo. Durante essa fala, alguns citam o empresário que busca investir
“stakeholder engagement” básicas, como e fomento para o desenvolvimento de programas e público local, além de
no intuito de melhorar a infraestrutura na comunidade, nas terras da omunidade, que procura se envolver no processo, mas está
como elementos acessibilidade, escolas, ações que visem o bem estar da comunidade. Além parcerias com pessoas
qualidade de vida das pessoas, bem como realizar um esforço inserido no conflito que envolve a comunidade. Cabe ressaltar que os
fundamentais nas ações postos de saúde; do apoio do poder público, se faz necessário o dispostas a contribuir com a
para isso, cobra melhorias na contínuo para que o turismo entrevistados na associação independente discordam desse posicionamento
empreendidas por projetos apoio e a consultoria de outras qualidade de vida dos
infraestrutura básica da contribua com isso. por acreditarem na proposta de melhorias na comunidade oferecidas pelo
internacionais; pessoas/associações/órgão/ONGs. moradores.
comunidade. empresário. Afirmam que o investimento dele as vezes é mais eficaz que o
da própria prefeitura.
Já na Prainha do Canto Verde, o que se visualiza são pessoas divididas entre dois
grupos, mas que possuem grande potencial no que se refere à integração entre membros locais
e visitantes. Quando isso acontece, no ambiente em que ambos passam a buscar diferentes
processos e acordos relacionais, o resultado é satisfatório e saudável, traduzindo-se no
surgimento de uma rede social articulada para desenvolver projetos turísticos, fundamentados
nas necessidades da comunidade, de modo a desenvolverem estruturas baseadas na economia
solidária e visando a participação comunitária. Isso se dá pela complexidade de gestão
comunitária, que envolve membros da comunidade, poder público e comunidade externa
(professores, pesquisadores, ONG’s, entre outros), que devem lidar com os desafios de gestão
da atividade turística.
Estudos relevantes sobre a Reserva Extrativista Marinha da Prainha do Canto
Verde tangenciam a temática do comunitário em comunidades tradicionais, como o faz Costa
(2016) ao expor a importância da apropriação das cartografias sociais pela comunidade como
ferramenta de empoderamento. Porém, são poucas as pesquisas sobre o protagonismo dos
moradores e suas necessidades em iniciativas locais específicas em relação a integração da
atividade turística na economia local. É sabido que o turismo comunitário envolve a
participação social como compromisso central do planejamento e gestão da atividade.
Nesse sentido, em Coelho, Ceatano e Santos (2016) discute-se outros impactos
positivos que o turismo proporcionou na comunidade como os destacados na Tabela 6, a
partir da qual pode-se observar que além de uma atividade econômica são marcantes as
alterações socioculturais ocorridas na região. O ponto central da discussão, portanto, deixa de
ser a presença ou a ausência dessas alterações para se focar nas formas como os moradores se
apropriam dessa dinâmica.
152
4 CONCLUSÕES
Parte dos entrevistados neste estudo não concorda com a criação da RESEX da
Prainha do Canto Verde, pois entendem que ela contribuiu para impor limitações no
desenvolvimento da comunidade. As restrições de implantação de novas infraestruturas de
turismo, como a venda de terras para empreendimentos hoteleiros, por exemplo, argumenta-se
que isso estimulou os moradores à viveram exclusivamente da pesca e que, na dificuldade
desta, se submetem às diversas formas de sub-trabalho, como os conhecidos bicos e empregos
temporários. Isso, portanto não condiz com o objetivo de sustentar as práticas tradicionais da
comunidade, mas apenas sustenta relações laborais precárias, sustando inclusive a
manutenção dessas tradições.
Assim, o turismo desenvolvido e praticado na Prainha do Canto Verde é pouco
desenvolvido, limitado a pouca estrutura existente e já foi gerenciado por pessoas estrangeiras
que moram na comunidade. Percebeu-se a preocupação dos moradores em relação ao
desenvolvimento da atividade turística que provoque alterações socioculturais, econômicas e
ambientais na localidade, provenientes, sobretudo da especulação imobiliária estimulada com
a prática turística. Uma das formas seguras de se garantir que não exista especulação na
comunidade é a limitação imposta pela Resex, o que não ocorre em outros locais. No entanto,
ademais exista tal legislação federal que garanta a preservação da Prainha do Canto Verde,
outras esferas do poder público (municipal e estadual) não são percebidas como atuantes na
comunidade.
Diante disso, observaram-se opiniões contrastantes que vão desde um desconforto
com os que estão envolvidos até insatisfação com a gestão municipal. Tal situação acarreta
conflitos entre os mesmos, os quais apontaram a ausência de participação no planejamento do
turismo comunitário local e nas tomadas de decisões. Desta forma, partindo do princípio que
o turismo é uma atividade econômica que envolve planejamento e gestão, entende-se que a
falta de participação da comunidade desperta um sentimento de não pertença, podendo
inviabilizar o comprometimento das pessoas com o bom desenvolvimento da atividade. Isso
implica numa situação de vulnerabilidade diante dos interesses de mercado que incidem sobre
a comunidade.
Evidenciou-se o interesse por parte dos moradores pelo engajamento em
alternativas que possam oportunizar experiências turísticas que fomentem o desenvolvimento
social em âmbito local e interpessoal com base nos conceitos do TBC. O estreitamento de
relações entre visitantes e moradores, quando estes primeiros compreendem seu papel e o
impacto que causam na comunidade e o segundo quando entende seu papel de protagonista
159
dos arranjos produtivos do turismo, forma uma cadeia harmônica capaz de fomentar boas
práticas na área do turismo.
Por conseguinte, conhecer a participação e a percepção da comunidade acerca do
turismo comunitário desenvolvido na comunidade contribui para identificar e propor um
ideário de sustentabilidade que faz com que o turismo comunitário se distancie e se diferencia
daquele considerado de massa. É importante relatar que a pesquisa identificou que a pessoas
da comunidade desejam e devem atuar no turismo desenvolvido na Prainha do Canto Verde,
mas para isso, devem compreender seu poder de intervir e influenciar na atividade a partir da
participação no planejamento e execução dos serviços oferecidos.
Desta forma, os resultados foram alcançados, pois a proposta de avaliar a
percepção foi atendida, uma vez que se conheceu a visão dos moradores, visto que a maioria
dos estudos realizados foca nos turistas e pessoas envolvidas com o turismo e negligencia a
voz do morador. Além disso, verificou-se que o turismo comunitário causa impactos positivos
na comunidade pois atraem turistas que se hospedam, consomem, compram nos mercadinhos
e realizam passeios turísticos. E o mais importante, trocam experiências culturais com os
moradores e criam um senso de responsabilidade na preservação daquela comunidade.
Propõe-se uma maior participação da comunidade no planejamento e na gestão da
atividade, com um incremento das atividades cujo envolvimento oportunize interação entre as
duas associações existentes, embora estas possuam interesses que se diferem entre si. Outra
proposta seria o acompanhamento, seja por iniciativa pública ou particular, por parte de um
profissional da área, que possa prestar consultoria no que se refere ao marketing de
divulgação utilizado, de forma a atrair turistas com o perfil desejado e que percebam a
atratividade do local sem o interesse de impactar negativamente na localidade.
Deve-se salientar ainda que o perfil e as dinâmicas de relacionamento entre
turistas e moradores mudam rotineiramente, principalmente quando a comunidade se envolve
e torna clara sua intenção ao receber o visitante.
Ademais tenham ocorrido circunstâncias desafiadoras, pode-se ao final do estudo
evidenciar que a proposta de um turismo comunitário que respeite a vida coletiva da
comunidade, com suas tradições e cultura, não pode se confundir com a oferta de serviços
precários ou a inexistência de uma estrutura capaz de subsidiar a imersão do turista na
comunidade. Cabe engajar moradores que atuam direta e indiretamente com o turismo nesse
processo de fortalecimento dos laços entre comunidade e poder público, no sentido de
estruturar propostas capazes de resistir ao longo do tempo frente à demandas de mercado cujo
160
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Nelson; BRITO, Paulo Lúcio de; JORGE, Wilson Edson. Hotel: planejamento e
projeto. 2. ed. São Paulo: Senac, 2002.
BORDENAVE, Juan Díaz. O que é participação?. 8ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
BRASIL. Lei Nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o art. 225, parágrafo 1º, incisos
I, II, III e VII da Constituição Federal, institui o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza - SNUC. Diário Oficial da República Federativa do Brasil,
Senado Federal, Brasília, DF, 19 de jul. 2000.
BRASIL, Ministério do Meio Ambiente. Projeto Orla: fundamentos para gestão integrada. 2ª
Brasilia: Mma, 2006. 1 v. (Projeto Orla). Disponível em:
http://www.mma.gov.br/estruturas/orla/_arquivos/11_04122008111238.pdf Acesso em: 04
abr. 2016.
CASTELLI, Geraldo. Turismo: atividade marcante. 4.ed. Caxias do Sul - RS: Educs, 2001.
CASTRO, Iná Elias de. Geografia e Política: território, escalas de ação e instituições. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
CEPAL. Comissão Econômica para a América Latina. Panorama Social de América Latina
- 2011. Santiago de Chile: CEPAL, 2012.
COLE, George. A Century of Co-operation. Oxford: George Allen & Unwin for The Co-
operative Union Ltd., 1949.
164
COOPER, Chris et al. Turismo princípios e práticas. São Paulo: Bookman, 2001.
CRUZ, Rita de Cássia (Org.). Turismo espaço, paisagem e cultura. São Paulo: Editora
Hucitec, 1996.
DECLARAÇÃO DE SÃO JOSÉ. Sobre Turismo Rural Comunitário. Disponível em: <
http://www.redturs.org/inicio/docu/DeclaracionSan-Jose-Espa.pdf. Acesso em 29 dez 2015.
DIAS, Genebaldo. Educação Ambiental Princípios e Práticas. 5. ed. São Paulo: Global,
1998.
FRANÇA FILHO, Genauto. Economia popular e solidária no Brasil. In: FRANÇA FILHO,
Genauto; LAVILLE, Jean Louis; MEDEIROS, Alzira; MAGNEN, Jean Philippe. (orgs.).
Ação pública e economia solidária: uma perspectiva internacional. Série Sociedade e
Solidariedade. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2006.
FURIÓ, Elies. Economía, turismo y medio ambiente. Valencia: Tirant lo Blanch, 1996.
GALDINO, José Wilson. Reserva extrativa marinha (resex) da prainha do canto verde: a
comunidade concretizando um sonho. Raízes, v.32, n.2, 2012 153-165p.
GRIMM, Isabel J.; LOOSE, Eloisa B.; SAMPAIO, Carlos Alberto. Turismo, comunicação e
sustentabilidade: reflexões e possibilidades para educação ambiental. Caderno de Estudos e
Pesquisas do Turismo, v. 2, 2013.
GRÜN, Mauro. Ética e educação ambiental: a conexão necessária. Campinas, SP: Papirus,
1996.
HABERMAS, Jürgen. Soberania popular como procedimento. In: Novos Estudos. Cebrap:
São Paulo, 1990.
HART, Pearl. Sustainable Community Indicators Training Course [on line]. University of
Massachusetts/ Lowell Center for Sustainable
Production: USA, 1997 [12 de julho de 1997]. Acesso: http://www.sustainablemeasures. com
/indicators/HTML.
IRVING, Marta de. Turismo Ética e Educação Ambiental. In: Turismo: o desafio da
sustentabilidade. IRVING, M. A.; AZEVEDO, Julia. São Paulo: Futura, 2002a.
IRVING, Marta de. Reinventando a reflexão sobre turismo de base comunitária - inovar é
possível? In: BARTHOLO, Roberto.; SANSOLO, Davis.; BURSZTYN, Ivan. (Orgs.).
Turismo de base comunitária: Diversidade de olhares e experiências brasileiras. Rio de
Janeiro: Letra e Imagem, 2009.
KRIPPENDORF, Jost. Sociologia do Turismo: Para uma nova compreensão do lazer e das
Viagens. 3 ed. São Paulo: Editora Aleph, 2003.
KRIPPENDORF, Jost. Sociologia do Turismo: para uma nova compreensão do lazer e das
viagens. São Paulo: Aleph, 1989.
PEREIRA, Raquel. Expansão urbana e turismo no litoral de Santa Catarina: o caso das
microrregiões de Itajaí e Florianópolis. Revista Interações, Campo Grande, v. 12, n. 1 p. 101-
111, jan./jun. 2011.
PINHO, Diva. A doutrina cooperativa nos regimes capitalista e socialista. São Paulo:
Pioneira, 1965.
RAFFESTIN, Claude. Por Uma Geografia do Poder. São Paulo: Ática, 1993.
RAMOS, Alberto. A nova ciência das organizações. (trad. Mary Cardoso) – 2. ed. – Rio de
Janeiro: Ed. FGV, 1989.
REDTURS. Rede de Turismo Sustentável da América Latina. Portal das Culturas Vivas.
Disponível em: http://www.redturs.org/. Acesso em: 20 nov 2015.
SAMPAIO, Carlos Alberto. Turismo como fenômeno humano: princípios para se pensar a
socioeconomia. Santa Cruz do Sul (SC), EDUNISC, 2005.
SANTOS, C. O Conceito de Extenso. In: SANTOS, Milton & SOUZA, Maria Adélia de
(Orgs.). A construção do espaço. São Paulo: Nobel. 1986.
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São Paulo:
HUCITEC, 1997b.
SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. Brasil: território e sociedade no início do século
XXI. Rio de Janeiro: Record, 2001.
SAWYER, D.; LOURENÇO, J. Novos rumos para a pesquisa científica. Revista SEBRAE,
n.2, dez., 2001.
SIQUEIRA, Deis. História social do turismo. Rio de Janeiro, Garamond; Brasília (DF), Ed,
Vieira, 2005.
TISDEL, Clem; McKEE, David. Tourism as an industry for the economic expansion of
archipelagoes and small island states. In: TISDELL, Clem. (Ed.). Tourism economics, the
environmental and development: analysis and policy. Cheltenham, UK: Edward Elgar, 2001.
TOSUN, C. Roots of unsustainable tourism development at the local level: the case of
Urgup in Turkey. Tourism Management, v.19, n.6, p.595-610, 1998.
UNESCO. Final report of the expert panel on project 13: perception of environmental
quality. Paris: UNESCO, 1973. (Series of reports of MAB).
WEEKS, Jeffrey. “Rediscovering Values”. In: Judith Squires (orgs), Principled Positions.
Londres: Lawrence and Wishart, 1993.
ZAOUAL, Hassan. Globalização e diversidade cultural. São Paulo: Editora Cortez, 2003.
ZAOUAL, Hassan. Nova economia das iniciativas locais: uma introdução ao pensamento
pós- global. Tradução de Michel Thiollent. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2006.
QUESTIONÁRIO: Comunidade
RESPONSÁVEL PELO PREENCHIMENTO:
DATA DE APLICAÇÃO: / /
6) Tem filhos?
[ ] Não [ ] Sim. Quantos?
7) Local de nascimento:
8) Local de residência: _
9) Quantos irmãos você tem? .
10) A qual religião pertence? [ ] Católica
[ ] Evangélica
[ ] Espírita Kardecista
[ ] Umbanda
[ ] Candomblé
[ ] Acredita em Deus, mas não tem religião. [ ] É ateu/ não acredita em
Deus/ é agnóstico
[ ] Outra. Qual? .
11) Com quem mora atualmente? [ ] Com pais/parentes.
[ ] Com esposo/filhos.
[ ] Com amigos
[ ] Sozinho
10) Quantos membros da família moram com você? .
11) Qual seu nível de instrução?
[ ] Fundamental incompleto [ ] Fundamental completo
[ ] Nível médio
[ ] Nível superior
[ ] Superior incompleto
[ ] Superior completo
[ ] Pós graduação incompleta [ ] Pós graduação completa
183
13) Se você cursou o ensino médio em que tipo de escola, o fez? [ ] Pública
[ ] Particular
14) Se você cursou o ensino superior em que tipo de instituição, o fez? [ ]
Pública
[ ] Particular
Parte II – Dados socioeconômicos
1) Qual seu tipo de moradia? [ ] Própria
[ ] Alugada
[ ] Doada
[ ] Outros.
2) Você utiliza algum meio de transporte? [ ] Carro próprio
[ ] Carro da família
[ ] Moto
[ ] Bicicleta
[ ] Ônibus
[ ] Outros.
3) Quais dos itens abaixo, há em sua casa?
[ ] TV. Quantas? .[ ] Computador.
Quantos? .[ ] Aparelho celular.
Quantos? .[ ] Aparelho de
DVD. Quantos? .[ ] Geladeira.
Quantas? .[ ] Freezer. Quantas?
.
[ ] Fogão. Quantos? .
[ ] Máquina de lavar roupa. Quantas? .
[ ] Ar condicionado. Quantos? .[ ] Ventilador.
Quantos? .
[ ] Acesso à internet
[ ] TV por assinatura
[ ] Telefone fixo
[ ] Pescador
[ ] Artesão
[ ] Só estuda
[ ] Aposentado/pensionista
[ ] Outros:
7) Atualmente, você está trabalhando? [ ] Não trabalho
[ ] Não trabalho mas estou procurando emprego. [ ] Trabalho mas
recebo ajuda da família
[ ] Trabalho e me sustento
[ ] Trabalho e contribuo com o sustento da família
[ ] Trabalho e sou o principal responsável pelo sustento da família
8) Qual seu vínculo de emprego? [ ] Estágio
[ ] Emprego fixo privado
[ ] Emprego fixo público
[ ] Emprego autônomo (sem carteira assinada) [ ] Empregador (mais de
dois funcionários)
9) Em que você trabalha atualmente? [ ] Indústria
[ ] Agricultura
[ ] Comércio, banco, transportes ou outros serviços. [ ] Funcionário
público
[ ] Professor de ensino fundamental [ ] Professor de ensino técnico
[ ] Professor de ensino superior [ ] Turismo
[ ] Trabalha em casa com serviços (comida, costura, artes, aulas
particulares, etc).
10) Com que idade você começou a trabalhar?:
11) Qual sua renda mensal? (Salário mínimo: R$ 788,06) [ ] Nenhuma
[ ] Meio salário mínimo
[ ] 01 salário mínimo
12) O que você faz com o lixo que não é removido pela Prefeitura? [ ] Queima
[ ] Enterra
[ ] Descarta no açude
[ ] Despeja direto no lixão da cidade [ ] Separa para reciclagem
[ ] Outros (especifique)
13) Você participa de algum tipo de organização social (associação, partido
político, etc.)?
[ ] Sim
[ ] Não
Se sim, qual (quais)?
11) Com que frequência você participa de reuniões nestas associações? [ ]
Semanalmente
187
[ ] Quinzenalmente
[ ] Mensalmente
[ ] Semestralmente
[ ] Anualmente
12) Quando foi a última vez que você participou de uma reunião? E o que
foi discutido?
13) Como você avalia a atuação da associação da qual você faz parte em relação
à solução dos problemas que você presencia em sua comunidade?
[ ] Muito boa
[ ] Boa
[ ] Razoável
[ ] Fraca
[ ] Muito fraca
14) Você considera que a situação do meio ambiente na Prainha do Canto Verde
nos últimos 5 anos:
[ ] Melhorou muito
[ ] Melhorou
[ ] Permaneceu a mesma
[ ] Piorou
[ ] Piorou muito
15) De quem você considera que seja a responsabilidade pela solução dos
problemas enfrentados pelo meio ambiente na Prainha do Canto Verde?
[ ] Prefeitura Municipal
[ ] Governo Estadual
[ ] Governo Federal
[ ] População
[ ] ONGs e associações
[ ] Prefeitura, Estado, Governo Federal, população, ONGs e associações.
188
[ ] Outros
Parte IV - Turismo
1) Você acha que existe turismo na Prainha do Canto Verde? [ ] Sim
[ ] Não
[ ] Parcialmente
2) Você conhece a prática de turismo em alguma outra comunidade próxima a
Prainha do Canto Verde?
[ ] Sim
[ ] Não
Se sim, que outra comunidade você enxerga como concorrente do turismo na Prainha do
Canto Verde?
[ ] Parcialmente
7) Por favor, liste algumas atrações turísticas da Prainha do Canto Verde que
considera como sendo únicas e incomparáveis à outras comunidade.
12) V cê c d q s c á ss “ sf d d s” P ainha do
Canto Verde?
[ ] Sim
[ ] Não
[ ] Parcialmente
Se sim, de que forma?
190
2. A partir do modelo adotado, existe algo que você considera como entrave ao
desenvolvimento local?