QUADROS Suellen F.-LIBRAS II PDF
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Boa leitura!
Sumário
Apresentação
2. Literatura Surda
Conclusão
Referências
Apresentação
Olá! Eu sou a professora Suellen Fernanda de Quadros Soares.
Mestra em Letras e suas interfaces entre Língua e Literatura pela
Universidade Estadual do Centro-Oeste (2019). Especialista em Edu-
cação Especial pelo ESAP (2013). Graduada em Letras Português Es-
panhol e suas respectivas literaturas pela FAFIT – SP (2012). Tradutora
intérprete de Libras/ Língua Portuguesa – TILS – certificada desde o
ano de 2009, sendo a última certificação obtida no PROLIBRAS, 2015.
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Compreendendo essa fase inicial de estudos da Libras como cru-
cial para a formação de um excelente profissional da educação de
surdos, organizei o presente material com conceitos teóricos funda-
mentais, divididos capítulos, os quais apresentam, respectivamente,
(i) a história, a cultura e a identidade surda; (ii) a literatura surda; (iii)
os aspectos linguísticos da Libras; e um capítulo que apresenta links
de vídeos com sinais contextualizados, por meio dos quais espero
que ampliem o vocabulário de sinais.
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1. História, Cultura e Identidade Surda
Nós éramos chamados de surdos-mudos, mudos,
objetos de piedade, surdos e estúpidos, dos
semimudos, objetos de uso e agora, ouvidos
danificados. Nós éramos descritos como “um dos
filhos dos homens mal compreendidos entre os
filhos do homem” Alguns de nós são surdos e alguns
de nós são Surdos. Alguns de nós usamos a Língua
de Sinais Americana e alguns de nós não. A nossa
presença não é revelada e a maior parte da história
é desconhecida. Esta é a história americana... Através
dos “olhos” surdos.
Jack R. Gannon (tradução Dra Ana Regina Campello e Souza)
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Por muito tempo, os Surdos foram vítimas de uma
concepção equivocada que vinculava a surdez com a falta
de inteligência, levando-os a serem marginalizados, a partir
da crença hegemônica de que, como não poderiam falar,
não desenvolveriam linguagem, não poderiam pensar e,
portanto, não existiriam possibilidades de aprendizagem
formal (FERNANDES, 2007, p. 28).
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Os discursos clínicos, por sua vez, pautavam-se em torno da
medicalização da deficiência e eram fortemente disseminados na
sociedade, legitimando uma normativa ouvinte em busca da rea-
bilitação desses sujeitos. Ou seja, sempre houve um cuidado pater-
nalista, uma vigilância e controle desses corpos “defeituosos”, que
prezou pela insistência na “normalização” dos corpos era vista como
necessária para que fossem aceitos no âmbito social. A terminologia
‘surdo-mudo’ provavelmente é a mais antiga denominação dada a
esses sujeitos. Com a evolução das pesquisas na área médica, a sur-
dez passou a ser categorizada em graus e os surdos como ‘doentes’
e ‘deficientes’ (FERNANDES, 2007).
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ção precoce de aparelhos de amplificação sonora individuais, inter-
venções cirúrgicas como o Implante Coclear etc. com o objetivo de
“integrar” a pessoa surda, através da “normatização” da fala, em um
mundo projetado para pessoas ouvintes.
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Figura 1: Contexto histórico do povo surdo
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Para saber mais sobre a história dos surdos, com um foco mais
voltado à educação de surdos, veja vídeos a seguir.
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Para Hall (1997), somos interpelados pela cultura e é através dela
que constituímos a nossa forma de ver, de ser, de explicar e de com-
preender o mundo. Cuche (2002, p. 10), por sua vez, afirma que “a
cultura permite ao homem não somente adaptar-se ao seu meio,
mas também adaptar este meio ao próprio homem, a suas necessi-
dades e projetos. Em suma, a cultura torna possível a transformação
da natureza”.
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Para nós, ouvintes, o modo como os sujeitos surdos compreen-
dem o mundo e o modificam, muitas vezes, causa um certo receio
equivalente ao de estarmos diante de uma cultura estrangeira. Po-
rém, é de suma importância que nos aproximemos e passemos a
vivenciar essa cultura de perto para que muitos estereótipos pos-
sam ser deixados de lado.
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• Identidades surdas de transição: surdos que vivem um momen-
to de transição, propriamente dita, entre a cultura ouvinte e a
cultura surda;
• Identidades Surdas de Diáspora: surdos que mudam de país,
de estado ou até mesmo de um grupo de surdos para outro.
• Identidades intermediárias: surdos que apresentam uma por-
centagem de surdez, mas levam uma vida como a dos ouvintes.
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Identidades Surdas (PERLIN, 2001)
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Artefato cultural: experiência visual
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Diante disso, devemos defender a garantia desse artefato a todas
crianças surdas desde a primeira idade, sendo o ambiente familiar
essencial para que os processos linguísticos se efetivem, “em razão
de que oportunizam as primeiras interações comunicativas aconte-
çam, com base às futuras operações simbólicas e interiorização de
significados compartilhados socialmente” (FERNANDES, 2007, p. 103).
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O Milagre de Anne Sullivan - 1
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espaço que tem retratado cada vez mais o empoderamento dos su-
jeitos surdos no campo das artes e, atualmente, é possível encontrar
muitos surdos atores, mímicos, clown, drags, comediantes, poetas e
tradutores, que não só ocupam os palcos de grandes teatros, mas
também vão às ruas para expressar sua arte, como por exemplo por
meio de Slam de resistência surda.
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Figura 3: I Mostra de Arte Surda Figura 4: I Mostra de Arte Surda
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Artefato cultural: política
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Mais tarde, em 1971, um grupo de surdos de São Paulo retoma
as atividades da associação, porém sem sucesso. Nos anos 70, criou-
-se a Federação Nacional de Educação e Integração do Deficiente
Auditivo – FENEIDA, fundada por profissionais ouvintes que atua-
vam na área da surdez, dando lugar mais tarde à Federação Nacio-
nal de Educação e Integração dos Surdos – Feneis, a qual passa a
ser liderada por surdos e a ter uma nova perspectiva de trabalhar e
olhar sobre o povo surdo, permanecendo até os dias atuais em mui-
tos estados brasileiros à frente das lutas dos surdos em prol a uma
educação bilíngue e à garantia de seus direitos linguísticos.
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2. Literatura Surda
Neste capítulo, conheceremos um pouco mais do artefato cul-
tural Literatura Surda, o qual tem se destacado e alcançado espaços
que outrora eram restritos à cultura e à literatura ouvinte.
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Além disso, ela exerce um papel fundamental na educação de
surdos, consolidando-se como um ponto de partida para o desen-
volvimento desses sujeitos e para a construção de sua identidade.
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Teoricamente, de acordo com Mourão (2011), a literatura surda di-
vide-se em três formas, sendo elas: adaptações (clássicos adaptados
pelos autores com valores culturais do povo surdo), criações (consis-
tem em histórias criadas a partir das experiências visuais, reflexões
e emoções dos próprios surdos) e traduções (obras traduzidas da
língua portuguesa para a Libras).
Adaptações
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• Patinho surdo (Rosa; Karnopp, 2003) – o texto aborda as dife-
renças linguísticas na família e na sociedade, além de apresen-
tar a importância do intérprete na comunicação entre surdos e
ouvintes;
• Adão e Eva – os autores narram a origem da língua de sinais e
traçam uma reflexão sobre as possibilidades de uso das línguas
de sinais por diferentes comunidades, surdas e ouvintes.
Criações
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Traduções
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De acordo com Mourão (2011), muitos são os contadores de his-
tórias, poetas, atores, escritores, e artistas surdos, espalhados pelo
mundo, que buscam recontar através da literatura surda as expe-
riências do povo surdo, principalmente no diz respeito às relações
entre surdos e ouvintes, narrando-as como conflituosas, benevolen-
tes, de aceitação ou opressão.
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Artigo 2: Produções culturais de surdos: análise
da literatura surda
Piada surda
Emergência em Libras
Contação de História
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3. Aspectos linguísticos da Libras
Afinal, Libras? Que língua é essa? (GESSER, 2009). Neste tercei-
ro capítulo, tentamos responder a essa indagação que, por muitas
vezes, se passa em nossa cabeça quando iniciamos os estudos da
Libras. Buscando mostrar, para além dos sinais, a sua estrutura que
lhe atribui o status de língua.
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Um dos muitos equívocos que cometemos durante o aprendi-
zado inicial da Libras é relacionar o sinal à imagem do objeto que
ele representa. Ou seja, pensamos que ele deve ser uma foto desse
objeto, o que não é verdadeiro, pois, assim como nas línguas orais,
a maioria dos sinais estabelecem uma relação arbitrária com a rea-
lidade a que se referem. É claro que os sinais icônicos existem, mas
não podemos achar que somente eles compõem a língua. Deve-
mos entender que a Libras se constitui a partir de dois formatos: a
iconicidade e a arbitrariedade.
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Figura 4: Sinais icônicos Figura 5: Sinais icônicos
Fonte: renta-libras.blogspot.com
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Ainda conforme Strobel; Fernandes (1998), os sinais arbitrários
compõem um dos princípios básicos de uma língua, a arbitrarieda-
de. Trata-se daqueles sinais que não mantêm nenhuma relação en-
tre significante e referente, e são incontáveis.
Figura 7: Sinais arbitrários
Fonte: renta-libras.blogspot.com
Figura 8: Sinais arbitrários
Fonte: renta-libras.blogspot.com
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Podemos compreender, portanto, que a Libras apresenta um
sistema linguístico independente da Língua Portuguesa, e sua or-
ganização contempla todos os níveis gramaticais: fonológico, mor-
fossintático, semântico e pragmático.
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Figura 9: Parâmetros principais da Libras
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Para uma melhor compreensão de como a Libras está estrutu-
rada, realizamos uma síntese do material apresentado por Strobel;
Fernandes (1998).
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• A estrutura sintática da Libras pode estudada conforme sua
subdivisão:
i. Sistema pronominal – pronomes pessoais (singular, dual,
trial, quatrial, plural); pronomes demonstrativos; pronomes
possessivos; pronomes interrogativos; pronomes indefini-
dos;
ii. Tipos de verbos - direcionais, não-direcionais, ancorados no
corpo e incorporados no objeto;
iii. Tipos de frases (conforme já destacado junto aos compo-
nentes não-manuais);
iv. Noção temporal - marcada pelo acréscimo de sinais que
indicam os tempos presente, passado e futuro.
v. Classificadores – ajudam a construir a estrutura sintática da
Libras através de recursos corporais que possibilitam rela-
ções gramaticais abstratas. Eles dividem-se quanto à forma
e tamanho dos seres (tipos de objetos) e quanto ao modo
de segurar certos objetos, contando totalmente com o uso
das expressões faciais para transmitir a ideia pretendida.
vi. Role-play – recurso utilizado nas contações de história para
posicionar diferentes personagens e realizar a incorporação.
• Quanto à formação de sinais em Libras, eles podem ocorrer: por
processos de derivação, composição ou empréstimo linguístico
do português. Assim, temos:
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i. Sinais simples, compostos, compostos com formatos, com-
postos por categorias;
ii. Gênero masculino e feminino (utiliza-se os sinais de HO-
MEM e MULHER);
iii. Adjetivos;
iv. Numerais e quantificação;
v. Formas de plural;
vi. Intensificadores e advérbios de modo;
vii. Advérbios de tempo;
viii. Polissemia (consiste nos diferentes significados que um
mesmo sinal pode apresentar);
ix. Gíria.
• O alfabeto manual, (também conhecido como soletramento
digital ou datilologia) é apenas um recurso de representação
alfabética utilizado pelos falantes da Libras.
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presa ao que se denomina “português sinalizado” (exemplificando,
o português sinalizado na Libras seria equivalente a um “portunhol”
- expressão utilizada para referir-se ao uso de um espanhol mistu-
rado com o português), o que é prejudicial ao surdo, uma vez que
essa forma desconsidera as especificidades linguísticas da Libras e
a importância que a visualidade tem para que os surdos entendam
a informação repassada.
Parâmetros da Libras
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4. Vocabulário: vamos treinar?
Embora essa disciplina tenha sido pensada em um caráter mais
teórico da Libras, teoria e prática são indissociáveis. Partindo desse
pressuposto, reservei esse espaço para possibilitar o enriquecimento
de vocabulário a partir de alguns vídeos que não apenas ensinam
sinais fechados em “caixinhas” temáticas, mas que ampliam nossa
visão por meio dos contextos apresentados.
Classificadores
Redes Sociais
Supermercado I
Supermercado II
Instrumentos musicais
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Sites para busca de sinais acadêmicos:
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CONCLUSÃO
Quando eu aceito a língua de outra
pessoa, eu aceitei a pessoa... A língua é
parte de nós mesmos... Quando aceito
a língua de sinais, eu aceito o surdo,
e é importante ter sempre em mente
que o surdo tem direito de ser surdo.
Nós não devemos mudá-los; devemos
ensiná-los, ajudá-los, mas temos que
permitir-lhes ser surdos...
(Terje Basilier, psiquiatra norueguês, 1993).
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Mostramos ainda o caráter humanizador que a literatura exerce.
E, conhecemos um pouco mais desse artefato cultural, por meio do
qual os surdos expressam suas lutas, conquistas, desafios, subjetivi-
dades e identidades, tendo como marca principal a visualidade.
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REFERÊNCIAS
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E... Cjp / Ed. Brasiliense, 1989.
CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: EDUSC, 2002.
Galeria I Mostra de Arte Surda. CAS Regional Oeste Guarapuava. Disponível em <https://
casguarapuava.com/galeria>. Acesso em: 28 de maio de 2020.
GESSER, Audrei. LIBRAS? Que língua é essa? : crenças e preconceitos em torno da língua
de sinais e da realidade surda. São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
KARNOOP, Lodenir; MACHADO; QUADROS, Ronice Müller de. Língua de Sinais Brasileira.
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45
MOURÃO, C. H. N. Literatura Surda: produções culturais de surdos em Língua de sinais.
Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRS.
Porto Alegre, 2011.
PERLIN, Gladis. O lugar da cultura surda. In: THOMA, Adriana da Silva; LOPES, Maura
Corcini (Org.), A invenção da Surdez: Cultura, alteridade, Identidade e Diferença no campo
da educação. Santa Cruz do Sul, EDUNISC, 2004.
STROBEL, Karin. Surdos: vestígios culturais não registrados na história. Tese (Doutorado
em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Santa Catarina, 2006.
STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: Ed. Da UFSC,
2008.
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE DO PARANÁ
UNICENTRO
Fabíola de Medeiros
Apoio Pedagógico
Murilo Holubovski
Designer Gráfico
Fev/2021
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