Fichamento - GROPIUS, Walter. Minha Concepção Da Ideia de Bauhaus

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GROPIUS, Walter. Minha concepção da ideia de Bauhaus.

In: A Bauhaus e a nova


arquitetura. São Paulo: Perspectiva, 2001

Após a brutal interrupção, todo indivíduo pensante sentia necessidade de uma


mudança intelectual de linha. No seu campo de atividade específica, cada qual tentava
contribuir a fim de que fosse transposto o abismo entre realidade e idealismo. (pág 30)

Compreendi que era preciso uma equipe inteira de colaboradores e assistentes,


homens que não trabalhassem como um conjunto orquestral, que se curva a batuta do
maestro, e sim independentemente, ainda que estreita cooperação, a serviço de um
objetivo comum. (pág 30)

Assim, em 1919 foi inaugurada a Bauhaus. Seu escopo específico era


concretizar uma arquitetura moderna que, como a natureza humana, abrangesse a
vida em sua totalidade. (pág 30)

Isto significa o desenvolvimento de objetos e construções projetos


expressamente para a produção industrial. Nosso alvo era o de eliminar as
desvantagens da máquina, sem sacrificar nenhuma de suas vantagens reais. (pág 30)

A experimentação tornou-se, uma vez mais, o centro da arquitetura; e isto


requer um espírito e coordenante, e não o tacanho e limitado especialista. (pág 32)

O que a Bauhaus propôs, na prática, foi uma comunidade de todas as formas de


trabalho criativo, e em sua lógica, interdependente de um para com o outro no mundo
moderno. (pág 32)

Nossa ambição consistia em arrancar o artista criador de seu distanciamento do


mundo e restabelecer sua relação com o mundo real do trabalho, assim como relaxar e
humanizar, ao mesmo tempo, a atitude rígida, quase exclusivamente material do
homem de negócios. (pág 32)

É da apaixonada participação nesses debates que deriva o interesse vivo da


Bauhaus pelo processo de configuração de produtos técnicos e pelo desenvolvimento
orgânico de seus processos de manufatura. (pág 32)
Estandardização da maquinaria prática da vida não significa robotização do
indivíduo, mas, pelo contrário, alívio de um lastro supérfluo de sua existência, para que
ele possa desenvolver-se mais livremente em um nível superior. (pág 32)

Um “estilo Bauhaus” significaria recriar no academismo estéril e estagnado,


contra o qual precisamente criei a Bauhaus. (pág 33)

Que eu saiba, a Bauhaus foi a primeira instituição do mundo que ousou


apresentar este princípio em um programa de ensino definido. (pág 33)

Só bem mais tarde, algumas personalidade, que almejavam o desenvolvimento


da forma, reconheceram nesta confusão que arte e produção só voltariam a
harmonizar-se de novo quando também a máquina fosse aceita e posta a serviço do
designer. (pág 33)

A indústria continuou a lançar no mercado um sem-número de produtos mal


enformados, enquanto que os artistas lutavam em vão para aplicar projetos platônicos.
(pág 33)

O artesão, por outro lado, tornara-se com o correr do tempo um apagado


decalque daquele vigoroso e autônomo representante da cultura medieval, que
dominara de seu tempo e que era técnico, artista e comerciante em uma só pessoa.
(pág 33-34)

O artesão perdeu, pois, também, sua capacidade de formar discípulos; os


jovens aprendizes emigraram gradualmente para as fábricas. (pág 34)

O único remédio está em uma atitude diferente para o trabalho, que parta do
reconhecimento racional de que o progresso da técnica mostrou como uma forma de
trabalho coletivo pode conduzir a humanidade a uma produção total maior do que um
trabalho autocrático de cada indivíduo. (pág 34)

O fato de ainda não dominarmos suficientemente nossos meios de produção e,


por causa disso, sofremos ainda sob a sua ação, não pode naturalmente ser
argumento contra sua necessidade. (pág 34-37)

Em vez de desperdiçar suas capacidades em um processo de multiplicação


puramente mecânico, dar-lhes-á aplicação no trabalho experimental de laboratório e no
desenvolvimento de ferramentas. Seu campo de atuação tornar-se-á parte orgânica da
unidade de produção da indústria. (pág 37)

Com a ajuda do artista, produz artigos que nos mostram apenas nuances
decorativas de tendência cambiantes de gosto, mas que, a despeito de uma certa
qualidade, não mostram um progresso mais aprofundado no sentido do
desenvolvimento estrutural, que brota do conhecimento dos novos meios de produção.
(pág 37)

Somente em casos isolados foram criados institutos de formação cuja meta era
a de gerar esse novo tipo de colaborador industrial, que reúna em sua pessoa as
peculiaridades do artista, do técnico e do homem de negócios. Uma tentativa assim de
retomar contato com a produção industrial e formar jovens quer no trabalho artesanal e
mecânico quer no projeto. (pág 37)

Era objetivo da Bauhaus formar pessoas com talento artístico para serem
designers na indústria, artesãos, escultores, pintores e arquitetos. Servia de base um
bem organizado adestramento manual, tanto do ponto de vista técnico como formal,
tendo por meta o trabalho em equipe na construção. (pág 37-38)

A base dessa formação era um curso preparatório no qual o aluno entrava em


contato com experimentos sobre proporção e escala, ritmo, luz, sombra e cor. (pág 38)

A censura de uma formação tão geral, em nosso mundo de economia industrial,


constitui um extravagante desperdício de tempo, não é, na minha opinião e
experiência, sustentável. (pág 38)

Visto que tanto o futuro artesão quanto o futuro artista eram submetidos, na
Bauhaus, à mesma formação básica, esta base tinha de ser tão ampla que cada
talento pudesse encontrar seu próprio caminho. (pág 38)

A instrução na moldagem da forma principiava ao mesmo tempo que os


primeiros exercícios com material e ferramentas. (pág 39)

Além de receber uma formação técnica e artesanal, o designer, deve aprender


uma linguagem da forma a fim de poder exprimir suas ideias visualmente. (pág 39)
Essa teoria não é naturalmente nenhuma receita para a produção de obras de
arte, porém o meio objetivo mais importante para a realização de qualquer trabalho de
design em grupo. (pág 39)

A academia, cuja tarefa foi desde o princípio (quando ainda era uma força vital)
a de desenvolver esta teoria para as artes visuais, malogrou porque perdeu o contato
com a realidade. (pág 39)

Cada estudante da Bauhaus tinha de trabalhar, no curso de sua formação, em


uma oficina por ele escolhida, depois de haver concluído com êxito o preparatório. (pág
40)

Era preciso que passasse por dois professores diferentes, pois não havia
artesãos que possuíssem suficiente fantasia para dominar problemas artísticos, nem
artistas que possuíssem suficientes conhecimentos técnicos para dirigirem uma seção
de oficinas. (pág 40)

A formação artesanal nas oficinas da Bauhaus não constituía um fim em si, mas
um meio de educação insubstituível. A meta dessa formação era produzir designers,
que por seu conhecimento exato do material e dos processos de trabalho estivessem
em condições de influir na produção industrial de nosso tempo. (pág 40)

As oficinas eram sobretudo laboratórios, onde modelos para tais produções


eram cuidadosamente desenvolvidos e constantemente melhorados. (pág 40)

Desse modo surgiu uma influência recíproca, que encontrou expressão em


produções valiosas, cuja qualidade técnica e artística foi reconhecida igualmente pelo
produtor e consumidor. (pág 41)

A criação de tipos padrões para artigos de uso diário é um imperativo social. O


produto standard não é de modo algum uma invenção de nossa era, apenas os meios
de produção é que diferem hoje em dia. (pág 41)

A Bauhaus atribuía especial valor, em seu trabalho conjunto com a indústria, à


tarefa de levar os alunos a um contato íntimo com os problemas econômicos. (pág 41)
Toda a estrutura da instrução dada na Bauhaus mostra o valor educacional que
foi atribuído a problemas práticos, os quais forçam de fato o estudante a vencer
finalmente todas as dificuldades internas e externas. (pág 41-42)

A aplicação prática, nessa construção, e muitos modelos novos confeccionados


em nossas oficinas, convenceu de tal modo os industriais, que diversos contratos em
bases percentuais foram firmados com a Bauhaus, contratos que, com a crescente
aceitação dos produtos, se tornaram valiosas fontes de renda. (pág 42)

Após três anos de instrução no campo do artesanato e da projeção, o estudante


prestava um exame não só perante os mestres da Bauhaus mas também perante os
mestres da câmara artesanal, para receber sua carta de oficial. (pág 42)

Estágio em canteiro de obras, experiência prática com novos materiais de


construção, cursos de desenho técnico e de engenharia, ministrados juntamente com
com os de projeto, levaram ao diploma de Mestre da Bauhaus. (pág 42)

O ensino gradativo e diversificado da Bauhaus habilitava-os a se concentrarem


precisamente na espécie de trabalho que melhor combinasse com suas capacidades.
(pág 42)

As formas que os produtos Bauhaus assumiram não são pois resultado de uma
moda, mas sim de uma combinação artística e de inúmeros processos de pensamento
e trabalho no domínio técnico, econômico e da criação formal. (pág 43)

O êxito de qualquer ideia depende da personalidade dos responsáveis por sua


execução. A sua escolha do professor adequado é decisiva para os resultados que um
instituto de formação visa a obter. (pág 43)

Quando se deseja ganhar para um instituto homens de capacidades artísticas


extraordinárias, é preciso dar-lhes desde o principio tempo e espaço para que possam
fomentar, nas mais amplas bases, seu desenvolvimento pessoal através do trabalho
privado. (pág 43)

Na verdade, a arte não é um ramo da ciência que possa ser aprendida passo a
passo em um livro. (pág 44)
As aulas que tenham por finalidade dar rumo e apoio ao trabalho artístico do
indivíduo e dos grupos não necessitam de modo algum ser numerosas, desde que
contribuam com elementos essenciais, que realmente estimulem os estudantes. (pág
44)

O virtuosismo e a habilidade manuais não geram ainda a arte. Apenas a


formação artística alimenta a imaginação e as forças criativas. (pág 44)

O motivo pelo qual a sementeira de ideias Bauhaus não vingou mais depressa
talvez resida no fato de as pretensões quanto a capacidade de mudanças da natureza
humana terem sido demasiado grandes, durante a geração passada. (pág 44)

Um novo campo cultural de ideias não pode expandir-se e desenvolver-se mais


rapidamente do que a nova sociedade em si, a qual deve servir. (pág 44)

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