Analise Do Dircurso PDF

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Análise do

Discurso
Livro Didático Digital
Diretor Executivo
DAVID LIRA STEPHEN BARROS
Gerente Editorial
ALESSANDRA VANESSA FERREIRA DOS SANTOS
Projeto Gráfico
TIAGO DA ROCHA
Autoria
ADRIANA FERREIRA SERAFIM DE OLIVEIRA
PATRÍCIA VALÉRIA VIEIRA DA COSTA
AUTORIA
Adriana Ferreira Serafim de Oliveira
Olá. Meu nome é Adriana Ferreira Serafim de Oliveira. Sou Doutora
em Educação pela UNESP - Rio Claro, com foco em inclusão social,
direitos fundamentais e políticas públicas para as mulheres vítimas de
violência de gênero. Estágio doutoral em Psicologia Social com bolsa
PSDE - CAPES na “Universidad Complutense de Madrid - Facultad de
Ciencias Políticas y Sociología” com pesquisas desenvolvidas em Madrid
e cercanias quanto aos serviços públicos de atendimento à mulher vítima
de violência de gênero e quanto à legislação dessa temática a pesquisa
foi desenvolvida com a orientação de professor da “Facultad de Derecho
de la Universidad Complutense de Madrid”. Tem experiência em trabalhar
com a metodologia qualitativa. Mestra em Direitos Fundamentais Difusos
e Coletivos pela UNIMEP de Piracicaba, com foco em Direitos Humanos
e Direito Internacional, com bolsa do programa PROSUP-CAPES. Pós-
graduada em Política e Relações Internacionais pela Fundação Escola de
Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP). Bacharel em Direito pela
Instituição Toledo de Ensino de Bauru (ITE). Pós-doutorado em curso pela
FD-UPM. Revisora e parecerista de periódicos qualificados. Professora
universitária. Advogada

Patrícia Valéria Vieira da Costa


Olá. Meu nome é Patrícia Valéria Vieira da Costa. Sou formada
em Letras com habilitação em Língua Portuguesa, pela Universidade
Estadual da Paraíba, possuo Mestrado em Literatura e Interculturalidade
e atualmente faço Doutorado em Literatura e Interculturalidade, ambos
pela mesma instituição. Tenho experiência docente no ensino básico, por
meio das disciplinas de Literatura e Produção de textos, passando por
turmas do ensino Fundamental II ao ensino Médio. Sou apaixonada pelo
que faço e adoro transmitir minha experiência de vida àqueles que estão
iniciando em suas profissões.

Por isso fomos convidadas pela Editora Telesapiens a integrar seu


elenco de autores independentes. Estamos muito felizes em poder ajudar
você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte conosco!
ICONOGRÁFICOS
Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez
que:

OBJETIVO: DEFINIÇÃO:
para o início do
desenvolvimento houver necessidade
de uma nova de apresentar um
competência; novo conceito;
NOTA: IMPORTANTE:
quando necessárias as observações
observações ou escritas tiveram que
complementações ser priorizadas para
para o seu você;
conhecimento;
EXPLICANDO VOCÊ SABIA?
MELHOR: curiosidades e
algo precisa ser indagações lúdicas
melhor explicado ou sobre o tema em
detalhado; estudo, se forem
necessárias;
SAIBA MAIS: REFLITA:
textos, referências se houver a
bibliográficas necessidade de
e links para chamar a atenção
aprofundamento do sobre algo a ser
seu conhecimento; refletido ou discutido;
ACESSE: RESUMINDO:
se for preciso acessar quando for preciso
um ou mais sites fazer um resumo
para fazer download, acumulativo das
assistir vídeos, ler últimas abordagens;
textos, ouvir podcast;
ATIVIDADES: TESTANDO:
quando alguma quando uma
atividade de competência for
autoaprendizagem concluída e questões
for aplicada; forem explicadas;
SUMÁRIO
A Linguística Imanente Versus Linguística do Discurso............... 12
A Linguística Imanente ............................................................................................................... 12

Estruturalismo.................................................................................................................. 13

Gerativismo........................................................................................................................ 14

A Linguística do Discurso........................................................................................................... 16

Linguística Cognitiva ................................................................................................. 16

Sociolinguística Variacionista .............................................................................. 18

A Língua Enquanto Objeto da Linguística- Consequências dessa


Perspectiva Teórica .................................................................................... 21
A Subjetividade da Linguagem ............................................................................................ 22

A enunciação .....................................................................................................................................25

O Discurso Enquanto Objeto de Estudo da Linguística (a Análise


do Discurso) – Consequências Dessa Perspectiva Teórica........28
A interpretação ................................................................................................................................ 30

Condições de produção e Interdiscurso .......................................................................34

Outros Aspectos Relevantes à Análise do Discurso ..................... 37


Formação Discursiva.................................................................................................................... 38

O discurso se constitui em seus sentidos: ............................................... 38

Ideologia e Sujeito.......................................................................................................................... 39
Análise do Discurso 9

01
UNIDADE
10 Análise do Discurso

INTRODUÇÃO
Você sabia que a área da Linguística é uma das mais importantes
para o conhecimento da Língua? Desde o início do Século XX que
linguistas de variados países mergulham nessa área, com o intuito de
desvendar os mistérios que circundam a linguagem. Nesta disciplina,
você conhecerá o percurso teórico que se inicia com o famoso Saussure,
considerado o “O pai da linguística moderna”, até as concepções mais
contemporâneas relativas aos estudos sobre a linguagem. Nessa primeira
unidade, apresentaremos a você um estudo convidativo a conhecer a
Linguística Imanente, bem como a Linguística do Discurso, chegando ao
interessante conteúdo que é objeto da nossa disciplina em questão: A
Análise do discurso. Ao longo desta unidade letiva você vai mergulhar
neste universo!
Análise do Discurso 11

OBJETIVOS
Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 1. Nosso objetivo é auxiliar
você a atingir os seguintes objetivos de aprendizagem até o término desta
etapa de estudos:

1. Compreender as diferenças entre a Linguística Imanente e a


Linguística do Discurso;

2. Entender como a Língua se torna objeto da enunciação para a


Linguística moderna, e como a compreensão da enunciação interfere
positivamente na origem da Análise do Discurso;

3. Conceber a Análise do Discurso enquanto resultante dos estudos


que a antecedem, além de assimilar como essa perspectiva amplia as
compreensões linguísticas anteriores;

4. .Investigar como a Análise do Discurso se tornou uma perspectiva


crítica, nos contextos históricos, sociais, econômicos e etc., para o estudo
da linguagem.

Então? Preparado(a) para conhecer o fantástico mundo da Análise


do Discurso? Vamos ao trabalho!
12 Análise do Discurso

A Linguística Imanente Versus Linguística


do Discurso
OBJETIVO:

Caro aluno(a), ao término deste capítulo, você será capaz


de entender como funciona a Análise do Discurso. Isso será
fundamental para a compreensão de uma das grandes
correntes de estudo do curso de Letras, responsável por
grande parte das pesquisas na área, bem como contribuirá
para exercício de sua docência em sala de aula. E então?
Motivado para desenvolver essa competência? Vamos lá.
Avante!

A Linguística Imanente
Desde a antiguidade, o homem passa por motivações práticas que o
leva a refletir sobre a estrutura das línguas e seus usos. Apesar de Pêcheux
(1990, p.38) afirmar que a “reflexão sobre a linguagem não tem evidentemente,
começo histórico assimilável”, desde o antigo Egito, passando por Fenícios
e Hindus, além de outros povos, o registro escrito é problematizado pela
tomada de consciência, geralmente empírica, da estrutura da língua para
fins de comunicação. Essa realidade nos leva a compreensão da imanência
da língua, ou, mais propriamente, sua realidade material. Formalmente,
a linguística imanente está para a “teoria da linguagem”, como coloca o
dinamarquês Hjelmslev, em seu livro “Prolégomenès à une théorie du
langage” (Prolegômenos a uma teoria da linguagem).

Como, então, consideramos as Linguística Imanente nos dias de hoje?

Hoje em dia, a linguística Imanente é um dos princípios do que


chamamos mais comumente de Linguística formal, que antecede e
ilumina o posterior surgimento da Linguística do discurso.

Em se tratando de Linguística formal, é necessário compreender


que essa concebe a língua enquanto estrutura. Sendo assim, “A língua
é entendida como um objeto autônomo independente das intenções de
uso e da situação comunicativa (MALELOTTA, 2008, p.87). No contexto
Análise do Discurso 13

formalista, surgiram duas vertentes: O estruturalismo, do suíço Ferdinand


Saussure, que inaugura a Linguística moderna; e o Gerativismo, do norte-
americano Noan Chomsky (1957).

Estruturalismo
Preparado (a) para conhecer o famoso “Pai da linguística moderna”?
Vamos lá!

A teoria Saussuriana ganha espaço nos estudos linguísticos por


meio da publicação póstuma do “Curso de Linguística geral” (1916), um
compilado de escritos de Saussure efetivado por seus alunos Charles
Bally e Albert Sechehaye. Para Fiorin (2002), apesar de, no livro, não estar
claramente exposto dessa forma, os estudiosos costumam dividir a teoria
saussuriana em quatro princípios ou dicotomias, são elas:

Sincronia versus Diacronia

Indo de contra ao estudo da evolução histórica das línguas, a


diacronia, (vigente até fins do século XIX), Saussure prioriza a descrição
sincrônica, objetivando descrever a estrutura de uma determinada língua
em seu recorte temporal, sem levar em consideração seu processo
evolutivo. Sobre essa perspectiva, Fiorin (2002, p. 79) comenta que:
Contrariamente ao estudo da mudança linguística, o
ponto de vista sincrônico vê a língua como um sistema
em que um elemento se define pelos demais elementos.
No estudo sincrônico, um determinado estado da língua é
isolado de suas mudanças através do tempo de e passa a
ser estudado como um sistema de elementos linguísticos.
Esses elementos são estudados não mais em suas
mudanças históricas, mas nas relações que eles contraem,
ao mesmo tempo, uns com os outros.

Língua versus fala

Saussure elege a língua como seu objeto de estudo na linguística, já


que a considera sistêmica e coletiva. Para ele, a língua define-se enquanto
um sistema composto por signos linguísticos, encadeados para formar
um todo organizado em que cada signo é interdependente e definido por
sua ordem e função.
14 Análise do Discurso

Significado versus significante

Para o estudioso, essa é a dicotomia mais importante, posto que


forma o signo linguístico acima mencionado. Para Saussure tudo é signo, já
que tudo significa algo. Sendo assim, significante seria a imagem acústica,
material, de algo, como por exemplo escrever a palavra “computador”. Já
o significado é o conceito imaterial disso, ou seja, as interpretações que
competem a esse signo: aparelho tecnológico; meio comunicacional, etc.

Sintagma versus paradigma

O Paradigma é o conjunto de componentes do qual o sujeito pode


se valer para compor seu enunciado; já Sintagma é a escolha. Por exemplo,
um sujeito pode dizer “A água está fria”. A palavra “fria” poderia facilmente
ser substituída por “temperatura”, por exemplo. No entanto, a escolha feita
foi “água”, o que caracteriza o eixo do sintagma. Já os outros termos como
“temperatura”, etc., que poderiam ser escolhidos, constituem o paradigma.

........................................................................................................................................................Como
vimos, o Estruturalismo Saussuriano pode ser pensado como o estudo da
língua enquanto um sistema fechado em si mesmo, sem interferência de
fatores extralinguísticos como o contexto situacional, dentre outros. Críticas
à parte, o Estruturalismo influenciou diversas vertentes da produção de
conhecimento linguístico no decorrer do século XX.

Gerativismo
A partir da segunda metade do século XX, surgiu uma nova
abordagem linguística, o Gerativismo. Formulado pelo linguista Chomsky,
manifestou-se como uma nova proposta de investigação da linguagem.
Esse estudioso optou por uma postura racionalista para formular sua
teoria dos estudos linguísticos. Para Chomsky (2005), a língua deve
ser estudada de forma lógica e abstrata. Nesse contexto, essa passa a
constituir um sistema de regras e princípios compostos na mente humana,
considerando que qualquer sujeito exposto a um ambiente apropriado
pode adquirir (a gramática de) qualquer língua.
Análise do Discurso 15

Pragmático, Chomsky tem como base da gramática gerativa três


questões básicas, a saber: “a) O que constitui o conhecimento da Língua?
b) Como é adquirido o conhecimento da Língua? c) Como é usado o
conhecimento da língua?” (CHOMSKY, 1994, p.23). A resposta a essas
questões, para o pesquisador, está na mente humana, que possui uma
gramática internalizada, explicada de duas maneiras: Gramática enquanto
dicionário mental de formas da língua; gramática enquanto sistema de
regras e princípios que atuam sobre as formas. Nesse ínterim, a gramática
une-se com os demais sistemas conceituais mentais para articular o som.
No processo formal, as expressões primeiro passam pelas regras para só
depois ganharem significação.

Para o Gerativismo, o ser humano nasce com um conjunto de


princípios relacionados ao funcionamento da língua, ou seja, a aquisição da
linguagem torna-se uma herança genética. Se genético, portanto, comum
entre todas as línguas. Assim, a abordagem gerativa busca as características
gerais da linguagem, explicando e descrevendo propriedades que
compõem o que o Chomsky chama de Gramática Universal (GU).

Considerado um dos maiores teóricos contemporâneos, Chomsky


contribuiu de diversas maneiras para os estudos linguísticos. Apesar de
formalista tal como Saussure, o estudioso não concorda com a concepção
de que a língua é uma convenção social, mas sim um fenômeno biológico
humano. Ambos, Saussure e Chomsky, aproximam-se quando consideram
a língua uma forma homogênea e idealizada. No entanto, diferem-se
quando, por exemplo, para o primeiro, a língua é um conjunto de signos
sociais; enquanto que, para o segundo, ela é um conjunto de sentenças
formuladas com bases biológicas.
16 Análise do Discurso

A Linguística do Discurso
A linguística do discurso ultrapassa os limites da linguagem
enquanto um sistema formal, passando a valorizar os usos da língua em
situações reais de comunicação, além das relações entre função e forma.
Ou seja, para a Linguística do discurso a língua é uma estrutura formal
perpassada por realidades subjetivas tanto históricas quanto sociais, que
influenciam e são influenciadas pelo sistema.

Essa nova perspectiva motivou o surgimento de diversas vertentes


que, apesar de suas particularidades, de uma maneira geral:
(...) considera a língua em uso, observando os fenômenos
de variação e mudança linguísticas, as interpretações
face a face (e de outros tipos) entre falante e ouvinte, as
influências sociais e psicossociais na estrutura da língua, a
ideologia e a construção da subjetividade, os atos de fala
no lugar de frases e sentenças verdadeiras e gramaticais,
as implicaturas conversacionais entre outros fatores.
(MARTELLOTA, 2008, p.88)

Dentre muitas vertentes, ressaltaremos duas das principais, a


saber: a Linguística cognitiva e a Sociolinguística variacionista, refletindo
proximidades e distanciamentos em relação ao paradigma formalista.

Linguística Cognitiva
O que seria a Linguística cognitiva?

Surgiu no final da década de 1970, na Califórnia, a Linguística


Cognitiva, resultante de rupturas teóricas de alguns dos gerativistas. Nesse
período, se destacaram nomes como George Lakoff e Charles Fillmone.
Com o tempo, essa abordagem passou a ser chamada de Sociocognição,
visando destacar o poder do contexto social para a linguagem (já
não mais autônoma): Cultura e sociedade como bases da cognição
humana, da compreensão do mundo. Portanto, essa vertente não separa
conhecimento linguístico do conhecimento não linguístico, assumindo
uma postura que vai de contra a visão racionalista do gerativismo.
Análise do Discurso 17

Para a Sociocognição, os interlocutores são o centro da construção


de sentido, ou seja, a comunicação entre indivíduos em situações reais de
interação discursiva é o ponto chave.
A linguagem deixa de ser um sistema que independe
do falante ou um conjunto de regras finitas e ganha uma
dimensão social e cognitiva cuja função é possibilitar
a seus usuários meios para reportar o discurso alheio,
influenciar outras pessoas, narrar acontecimentos, fazer
avaliações, ser impreciso, falsear informações, predizer o
futuro, expressar sentimentos. (SALOMÃO, 199, p.65)

Para Lakoff & Johnson (1999), a mente não é separada do corpo, assim,
muitos dos significados se dão por meio da estrutura corporal humana,
chamados teoricamente de pensamentos corporificados. Aqui, consideramos
a soma da inferência conceptual à inferência sensório-motora.

EXPLICANDO MELHOR

Quando usamos expressões relativas ao espaço, sendo


que esse significa tempo. Vejamos:
Dias atrás estive em São Paulo.
Temos acima, originalmente, a palavra “atrás” como um
referente espacial (atrás de algum lugar, posicionamento).
No entanto, no contexto dessa oração a palavra sublinhada
refere-se a um tempo anterior, sensorial.

Como vimos, a mente humana desenvolve um processo de


reelaboração de informações que surgem inicialmente de domínios
cognitivos distintos. A esse processo damos o nome de “mesclagem”, em
que relações sintáticas abrem margem para os aspectos semânticos, em
busca de sentido (s).
18 Análise do Discurso

Observe a figura abaixo:


Figura 1: Modelo esquemático do processo de mesclagem conceptual Baseado em
Fouconnier e Turner (2002). Fonte: o autor.

Segundo Fouconnier e Turner (2002), esse processo se dá por pelo


menos a conexão de quatro domínios: dois inputs de entrada; um esquema
genérico (possibilidade de interação) e a mescla (o novo significado).

Podemos perceber, portanto, que a Sociocognição ultrapassa


o Formalismo em diversos aspectos. Dentre eles, a crítica à limitação
gerativa, posto que apesar de se aproximar das ciências cognitivas, o
Gerativismo entende a linguagem como autônoma, priorizando a sintaxe,
enquanto que a Sociocognição valoriza a semântica por meio da utilização
dos sentidos para o processo de construção da linguagem.

Por fim, enquanto que na linguística formal o sujeito é irrelevante,


na Sociocognição o sujeito é o centro na construção de sentido, ou seja,
o homem significa o mundo de acordo com suas experiências pessoais,
sociais, econômicas e culturais.

Sociolinguística Variacionista
As pesquisas em torno da Variação linguística surgiram nos
Estados Unidos na década de 60, pela iniciativa de Willian Labov.
Para Labov (2008), um dos principais intuitos dessa nova perspectiva
Análise do Discurso 19

é identificar, descrever e interpretar as variações da língua levando em


consideração grupos étnicos, etários, regionais, de gênero, etc., que
compõem a sociedade.
Segundo Wenreich, Labov & Herzog (2006), a sociolinguística
enfoca a língua em seu contexto usual. Para tanto, torna-se relevante
aspectos linguísticos formais, sociais e culturais quando da necessidade
de investigação sobre variações e mudanças linguísticas, principalmente
pela consciência de que a variação em seu uso não ocorre de maneira
aleatória, mas sim condicionada por um arcabouço de regras organizadas
pela divisão social em classes.
É possível identificar, primeiramente, dois grandes grupos: O da
norma padrão, linguagem de prestígio social, regida, comumente, pelo
domínio da gramática normativa, geralmente trabalhada de maneira
intensiva nos ambientes escolares, principalmente por estar articulada,
sobretudo, à ascensão social dos indivíduos; e a norma não padrão,
geralmente estigmatizada por não oferecer os mesmos acessos
socioeconômicos que a padrão disponibiliza aos sujeitos.
No combate a construção de estigmas linguísticos, a Sociolinguística
elege a diversidade linguística, que considera não só as regras da língua
como, sobretudo, as relações de poder. Essa consideração é resultado da
ciência da língua enquanto instituição social locada historicamente e que,
por isso, funciona em diversos contextos situacionais.

Vejamos a tirinha abaixo:

Claro que não, Bento!

Fessora a senhora ia mi Inda bem, fessora,


castiga pur arguma coisa pruque eu num fiz a lição
que eu num fiz? di casa, hoje!

Fonte: Adaptado de https://bit.ly/32E3C16


20 Análise do Discurso

Chico Bento é um personagem cujo modo de falar difere da norma


culta padrão, já que caracteriza, em sua fala, uma variação regional.
A tirinha, para registrar esse modo de fala, reproduz a linguagem
proveniente do contexto social a que ele está inserido. No diálogo com a
professora (que domina a norma padrão, o que lhe garante status social
para exercer o cargo que ocupa) percebemos que o “susto” dela se deve
não aos supostos “erros” linguísticos cometidos por Chico, mas sim,
pela sua esperteza em se livrar da hipótese de um castigo, revelando a
compreensão da professora não só do uso oral da língua, como também
o domínio das Variações linguísticas.

Em relação ao Estruturalismo, a Sociolinguística se aproxima dessa


linha de pensamento ao, como Saussure, considerar a linguística como
um fenômeno social. Apesar disso, as diferenças são mais reconhecíveis.
Dentre elas, o fato Sociolinguística Variacionista fazer uso de uma reflexão
diacrônica (diferentemente de Saussure) já que essa valoriza os processos
sócio históricos influenciadores das mudanças da língua. Além disso,
diferentemente do Gerativismo, para a Sociolinguística é fundamental a
coleta do maior número de dados de falantes possível em situações de
fala reais, por meio de recursos de áudio.

SAIBA MAIS

Para aprofundar seus conhecimentos em torno da


Sociolinguística, recomendamos os livros “A língua de
Eulália”, bem como “Preconceito linguístico”, ambos de
Marcos Bagno.
Análise do Discurso 21

A Língua Enquanto Objeto da Linguística-


Consequências dessa Perspectiva Teórica
OBJETIVO:

Anteriormente vimos que Saussure, considerado “pai”


da Linguística moderna, em suas dicotomias, privilegia a
língua, já que essa “é um sistema supra individual utilizado
como meio de comunicação entre membros da sociedade”
(COSTA, 2008, p.116). Ela se faz, para o estudioso, enquanto
parte essencial da linguagem, posto que, sem ela, é
impossível conceber o contato entre indivíduos de uma
mesma sociedade, daí surge seu caráter social. A fala, nesse
contexto, tem um papel secundário, já que é considerada
específica de cada indivíduo.

Aprendemos, no decorrer dos estudos entre Linguística imanente


e Linguística do Discurso que a língua, bem como a fala, tomam maiores
amplitudes conceituais que ultrapassaram as concepções estabelecidas
por Saussure, conforme os estudos linguísticos foram avançando durante
o século XX, o que não tira de Saussure a iniciativa ter colocado a língua
como um dos principais objetos da linguística moderna.

A partir de Saussure, muitos estudiosos debruçaram-se sobre o


estudo da língua. Dentre eles temos o linguista francês Èmile Benveniste,
e porque vamos enfocá-lo? A escolha por esse teórico justifica-se, pois,
apesar de partir de Saussure, ele conseguiu ampliar a concepção de
língua por meio da possibilidade de análise de sua particularidade à luz
de outras grandes ciências, como a Psicologia social, Filosofia, Pragmática
e a Antropologia, por exemplo. Assim, Benveniste contribuiu de maneira
significativa para o legado da língua e para consequências positivas no
sentido da ampliação desse conceito no âmbito da linguística.

Vamos conhecê-lo? Vejamos o trecho a seguir:


Não atingimos nunca o homem separado da linguagem e
não o vemos nunca inventando-a [...]. É um homem falando
que encontramos no mundo, um homem falando com
22 Análise do Discurso

outro homem, e a linguagem ensina a própria definição do


homem (BENVENISTE, 2005, p. 285)

Ou seja, para Benveniste a linguagem é natural, compõe a natureza


humana, portanto, é nela que se faz o sujeito, é por meio dela que se pode
emergir um “eu”, subjetivo, consciente de sua existência. A subjetividade
é, para o linguista, norte para a compreensão da linguagem e, por isso,
daremos ênfase a ela agora.

A Subjetividade da Linguagem
Para compreender a concepção do homem enquanto sujeito,
Benveniste elabora uma relação dialética em que o “eu” cria uma
interdependência com o “tu”, chamada de “eco”. Essa polaridade
constituída torna-se a condição fundamental da linguagem, já que existe
no homem para fazê-lo sujeito, na medida em que o “eu”, marca absoluta
de subjetividade, é transcendente ao “tu”, ou seja, necessita de um tu
para estabelecer sua existência. É nesse ponto que Benveniste concebe
a língua enquanto categoria de maior importância enunciativa. Isso
porque “eu” e “tu”, pronomes pessoais existentes em todas as línguas, não
existem por si mesmos, mas sim, pela atribuição de uma referência. Em
outras palavras, Benveniste quis dizer que o “eu” não existe sozinho, há a
necessidade de um outro, o “tu”, para afirmar a existência do sujeito e vice-
versa, portanto, é a língua, na enunciação, que concretiza a existência.

Na subjetividade da linguagem os pronomes “eu” e “tu” são


essenciais. Vejamos esta colocação de Juchem (2008, p.17):
Esses pronomes, assim como outros indicadores
autorreferenciais, diferem de todos outros signos
linguísticos por terem como referência o sujeito que
enuncia e a instância de discurso em que são enunciados.
Eu e tu só têm referência na “realidade do discurso”, sendo
o eu a pessoa que enuncia a instância de discurso que diz
eu em referência a um tu, dada a situação de alocução. Eu
e tu sofrem um duplo processo: de eu referente enquanto
enunciado e de eu referido enquanto tu enuncia, assim
sucessivamente. Pode-se dizer que eu e tu transitam
entre os locutores nas instâncias de discurso porque se
pressupõem.
Análise do Discurso 23

Portanto, “eu” e tu”, instituídos pela língua, constituem, por meio


da linguagem, o sujeito e seu interlocutor e vice-versa. Para Benveniste
(2005), a subjetividade reside na ciência de que o “eu” só existe quando
tem consciência de si por meio da enunciação, permitindo ao “tu” que
esse também seja “eu”, como um retorno.

EXPLICANDO MELHOR

Para esclarecer essa concepção, vejamos a tirinha a seguir:

As vezes me pergunto
Você também se
por que estou aqui.
pergunta por que
está aqui?

As vezes eu me per- Eu me pergunto


gunto a mesma coisa por que você está
aqui

Fonte: Adaptado de https://bit.ly/31H8bIF

Repare que o “eu” e o “tu” trocam de posição durante o


diálogo, e é exatamente a essa consciência subjetiva da
existência de dois indivíduos por meio da língua, ou seja,
eles existem por meio da linguagem.

Além dos pronomes pessoais supraditos, Benveniste (2005) conclui


que há, nas instâncias do discurso, enunciados que rementem ao que
chamamos de situações objetivas, representadas pela terceira pessoa,
assim, “o membro não marcado da correlação de pessoa [...] sendo o
único modo de enunciação possível para as instâncias de discurso que
não devam remeter a elas mesmas” (ibid., p. 282). Exemplificando, existem
quatro propriedades que diferenciam a terceira pessoa “ele”, do “eu” e
“tu”: a) de combinar com qualquer referência de objeto; b) de não refletir
a instância de discurso; c) de ter uma grande variação pronominal ou
demonstrativa; d) de não se equiparar ao aqui-agora. Nesse contexto, o
pronome “ele” “não remete a nenhuma pessoa, porque se refere a um
objeto colocado fora da alocução. Ele só existe e se caracteriza por
oposição a pessoa eu. (BENVENISTE, 2005, p. 292).
24 Análise do Discurso

RESUMINDO

Até agora vimos que, para Benveniste, uma das formas de


organização da língua se dá pelo par dialético eu/tu, que
subjetivamente constitui sujeitos quando esses enunciam.

Além do par opositivo eu/tu, Benveniste elege também, para a


organização das línguas, a noção de tempo. Se é no exercício da língua
que encontramos sua subjetividade, logo, o tempo é presente a todo
instante, posto que é “O tempo em que se fala”. É no presente em que se
manifesta o “eu” e tudo atribuído a ele. O tempo, portanto, marca o aqui-
agora da linguagem.
Figura 2 – Os tempos

Eu Tu

Quadro da
Enunciação
Aqui / Agora /
Espaço Tempo

Fonte: @Slideshare

Acima, temos o quadrinômio eu-tu-aqui-agora, representado


pelo quadro da enunciação, perspectiva basilar dos estudos da língua
propostos por Benveniste que veremos com mais profundidade a seguir.
Análise do Discurso 25

A enunciação
Para Benveniste, a enunciação é definida como “o colocar em
funcionamento a língua por um ato individual de utilização” (BENVENISTE,
2006, p. 82). Ou seja, enunciar é o ato de colocar a linguagem em
funcionamento. Segundo Juchem (2008, p.18), ela é vista por meio de três
principais aspectos:
a) o primeiro remete à realização vocal da língua, possível
por um ato individual no interior da fala, sendo que, nem
mesmo para o mesmo sujeito essa realização é idêntica,
ainda que sobre a mesma experiência vivida; logo, a
irrepetibilidade da enunciação ocorre até para o próprio
locutor; b) dessa produção individual decorre o segundo
aspecto, que supõe “a conversão individual da língua em
discurso”, processo definido como semantização da língua,
segundo Benveniste (ibid., p. 83)11; c) a terceira abordagem
pretende traçar um quadro formal da enunciação sob
consideração do ato em si, as situações e os instrumentos
de sua realização.

Essencial para a existência da enunciação é o interlocutor: sem ele


só há apenas uma possibilidade de língua, não o ato concreto. Entretanto,
o interlocutor só existe se houver, da parte do locutor, uma apropriação
da língua que estabelece um movimento de referência e correferência, já
que um pede o outro, um “tu”, uma via de mão dupla. Em outras palavras,
é na enunciação que o “eu” apropria-se da língua, concretizando-se no
tempo, o presente. Para Benveniste (2006), passado e futuro não fazem
parte da enunciação, pois o enunciado é sempre atualização. Assim, o
tempo é sempre presente, contínuo e coextensivo, um aqui-agora que só
existe pelo ser.

Dessa maneira, podemos entender a referência como importante


para o enunciado, já que o “eu” se encontra no centro da língua, marcado
pelo presente. Nesse âmbito, se toda língua perpassa o sujeito, toda
ela tem referenciação, ou seja, todos os signos estão ligados ao “eu” e
são, portanto, referenciais. A língua, na teoria da enunciação, é sempre
referência, não diretamente ao mundo, mas sim em relação ao sujeito
com o mundo.
26 Análise do Discurso

REFLITA

Se a língua é referência, como, então, os signos são


referenciados na enunciação?

A resposta é simples. Para Benveniste há, na língua, um aparelho


de “funções”, que se adequa ao contexto comunicacional da enunciação.
Essas funções são a intimação, interrogação e asserção, e todas denotam
sentidos específicos de comunicação.

RESUMINDO

O quadro formal da enunciação, para Benveniste, é o eu-


tu-aqui-agora, considerando índices de pessoa, espaço/
tempo, referindo-se, sempre, a enunciação. Flores e
Teixeira (2005, p.36) esclarece que “o aparelho formal da
enunciação é uma espécie de dispositivo que as línguas
têm para que possam ser enunciadas. Esse aparelho nada
mais é que a marcação da subjetividade na estrutura da
língua”. O aparelho pode ser sempre universal, porém, seu
uso é sempre individual, mesmo que o propósito da teoria
enunciativa não seja o sujeito em si, antes, as suas marcas
no ato da enunciação.

ACESSE

Tem curiosidade em entender ainda mais sobre o


processo de enunciação de Benveniste? Acesse https://bit.
ly/2YHlYNv, disponível no Youtube.
Análise do Discurso 27

Colocadas as concepções de Benveniste sobre a língua, resta-nos


a pergunta: Quais as consequências dessa perspectiva teórica? Podemos
listar algumas, vejamos:

1. Diferentemente da linguística formal, Benveniste reconhece


o sujeito como pertencente ao sistema da língua; além disso,
o linguista considera a natureza da subjetividade, marcando a
necessidade de reconhecer a língua enquanto instância(s) do
discurso, não apenas um repertório de signos como outrora
colocado por Saussure;

2. Benveniste atribui à língua o status de significação, que só se dá


por vias do discurso, ou seja, na enunciação. Flores (2008, p. 12)
exemplifica com clareza essa perspectiva quando diz que “É no
uso da língua que um signo tem existência; o que não é usado
não é signo; e fora do uso o signo não existe. Não há estágio
intermediário; ou está na língua, ou está fora da língua”;

3. Para Benveniste o foco é o sujeito, é ele quem atualiza o sistema


linguístico, articulando e significando. Desse modo:

A língua- Subjetividade

Sujeito- Intersubjetividade

(Relembramos aqui a relação interdependente entre os pronomes


pessoais “eu” e “tu”)

4. Por fim, Benveniste inaugura um pensamento novo sobre a língua:


A enunciação, que contribuirá, mais a frente, para os pressupostos
da Análise do Discurso estudada na contemporaneidade e
proposta por essa disciplina.
28 Análise do Discurso

O Discurso Enquanto Objeto de Estudo


da Linguística (a Análise do Discurso) –
Consequências Dessa Perspectiva Teórica
OBJETIVO:

Até então, os capítulos anteriores propuseram um percurso


dos estudos linguísticos até que pudéssemos chegar, de
maneira mais clara, ao ponto central de nossa disciplina: A
Análise do Discurso. Vamos conhecê-la?

Como vimos anteriormente, existem muitas maneiras de estudar


a linguagem: a língua enquanto sistema de signos; as diferentes normas
de linguagem (lembremos da norma culta e da variação linguística); a
enunciação, dentre outras. Essa variedade expõe muitas maneiras de
significar, e foi a partir dessa ciência que surgiu a Análise do Discurso.

O que seria então, caro aluno (a), a Análise do Discurso?

Considerada enquanto uma teoria política de Leitura, A análise do


Discurso nasce na França na década de 1960, tendo como Fundador o
estudioso Michel Pêcheux. Para Orlandi (2007 p. 15) essa perspectiva,
como seu próprio nome refere:
Não trama a língua, não trata da gramática, embora todas
essas coisas lhe interessem. Ela trata do discurso. E a
palavra Discurso, etimologicamente, tem em si a ideia de
curso, de percurso, de correr por, de movimento. O discurso
é assim palavra em movimento, prática de linguagem: com
o estudo do discurso observa-se o homem falando. (Grifo
nosso).

Ou seja, a Análise do discurso, diferente de algumas das concepções


anteriores, não trabalha com a língua na qualidade de um sistema abstrato.
Ela procura entender a língua enquanto sentido (s), como um trabalho
simbólico, parte constitutiva do homem e da história desse. Nesse âmbito,
por meio dessa perspectiva surge a oportunidade de entender o que
faz o homem ser o que é, compreender sua capacidade de significar e
significar-se. Portanto, na Análise do Discurso a linguagem (o discurso)
torna-se mediadora entre o homem e sua realidade individual e social.
Análise do Discurso 29

O que interessa à Análise do Discurso é o movimento: as maneiras de


significar; pessoas se comunicando e trocando experiências, compreendendo
sentidos, compreendendo seu lugar na sociedade, por meio da interpretação.
Se o meio em que o discurso é produzido é significativo, vale à Análise do
Discurso a consideração da linguagem à sua exterioridade. Assim, ela se
materializa na ideologia, ou seja, ela tem, em parte, uma ordem própria (as
regras de uso, as gramáticas); em outra, uma relativa autonomia (o campo da
semântica, das possibilidades de interpretação).

Exemplo:

Para compreender melhor a questão ideológica, atentemos para a


charge abaixo:

Fonte: @Wordpress

Se analisássemos a charge acima à luz de unicamente de seu


conteúdo, leríamos de maneira literal, e seu objetivo (a crítica à corrupção
por meio da sátira), não seria atingido. A Análise do Discurso propõe
olhar o texto acima unindo sentidos e contexto situacional, considerando
a compreensão da ideologia que lhe cerca: a linguagem pode sugerir
múltiplos efeitos de sentido em um único texto. Assim, essa perspectiva
sugere interpretar as linguagens que produzimos e que lemos/ ouvimos/
vemos e etc.
30 Análise do Discurso

A interpretação, nessa conjuntura, é o primeiro destaque que


daremos no estudo da Análise do Discurso.

A interpretação
Para Orlandi (2007, p. 25),
A proposta intelectual em que se situa a Análise do
Discurso é marcada pelo fato de que a noção de leitura é
posta em suspenso. Tendo como fundamental a questão
do sentido, a Análise do Discurso se constitui no espaço
em que a Linguística tem a ver com a Filosofia e com
as Ciências Sociais. Em outras palavras, na perspectiva
discursiva, a linguagem é linguagem porque faz sentido. E
a linguagem só faz sentido porque se inscreve na história.

Ou seja, a perspectiva discursiva enfatiza a questão do contexto


(Social, histórico, político, econômico) enquanto peça chave para haver
sentido e, assim, linguagem. Nesse sentido, a interpretação ganha espaço
por permitir a leitura e compreensão desses variados contextos.

A Análise do Discurso, por esse viés, acaba por teorizar a


interpretação, colocando-a como uma proposta de análise que não se
fecha em si, mas trabalha seus mecanismos, limites, como partes do
processo de construção de significação. Na interpretação proposta pela
perspectiva discursiva não há um sentido verdadeiro, único, revelado por
um método. Há, sim, uma construção de dispositivos teóricos capazes de
dar conta das mais diversas produções emergidas da linguagem.
Análise do Discurso 31

EXPLICANDO MELHOR

Para compreender como funciona a perspectiva discursiva


com mais clareza, vamos agora distinguir inteligibilidade,
interpretação e compreensão, unido as explicações à
exemplos.
Inteligibilidade
A inteligibilidade faz referência ao sentido da língua.
Vejamos este exemplo: “Ela pediu esse”. Essa frase é
inteligível, basta dominarmos o português para ler esse
enunciado. Entretanto, ela não pode ser interpretada, pois
não conseguimos chegar à conclusão de quem era ela e/
ou o que ela pediu.
Interpretação
Pensemos na seguinte situação hipotética:
Maria vai ao restaurante com seu noivo, Carlos, e sua amiga,
Júlia. Enquanto Júlia vai ao banheiro, Maria solicita ao garçom
um dos pratos do Menu. Ao voltar à mesa, Júlia pergunta
a Carlos o que Maria pediu e ele prontamente responde,
indicando com os dedos no Menu: “Ela pediu esse”.

Pelo exemplo acima podemos perceber que a interpretação


necessita de um co-texto (as outras faces do texto) e o
contexto em si. Interpretando, ela é Maria e esse é o prato
solicitado.
Compreensão
Utilizando a mesma situação hipotética, nas palavras
de Carlos poderíamos compreender que Júlia pediu
determinado prato porque gosta mais, ou porque pode ter
alguma restrição alimentícia, por exemplo. A compreensão,
nesse sentido, é entender como um objeto simbólico (texto,
pintura, enunciado, etc.), produz sentidos. É compreender
como funcionam as interpretações. Quando interpretamos
já estamos presos a um sentido. Assim, a compreensão
procura explicitar os processos de significação presentes
na situação comunicacional para que assim possam ser
entendidos outros sentidos possíveis.
32 Análise do Discurso

RESUMINDO, a Análise do Discurso, para Orlandi (2007, p. 26):

Visa a compreensão de como um objeto simbólico produz


sentidos, como ele está investido de significância para
e por sujeitos. Essa compreensão, por sua vez, implica
explicitar como o texto organiza os gestos de interpretação
que relacionam sujeito e sentido. Produzem-se assim
novas práticas de leitura.

Se a interpretação é um dispositivo teórico de análise da Análise do


Discurso há, portanto, o analista e o método produzido no alcance teórico
da perspectiva discursiva. Cada analista necessita formular uma questão
que desencadeie uma análise, e cada material de análise pede que seu
analista eleja conceitos que outro analista não elegeria, criando assim
conceitos diferentes de análises. Embora a teoria ilumine a análise, essa é
escolhida dentre tantas pelo analista, em sua liberdade para a construção
de interpretações.

O Analista analisa e compreende o processo discursivo, podendo, então,


interpretar seus resultados de acordo com os instrumentos teóricos escolhidos
dos campos disciplinares dos quais ele optou. Dessa maneira, o analista do
discurso desfaz a ilusão da transparência da linguagem, já que passou por um
processo material de constituição e significação do (s) sujeito (s).

É desse estudo detalhado, metódico, teórico e principalmente


interpretativo que deriva, Para Orlandi (2007, p. 28), a riqueza da Análise do
Discurso “ao permitir explorar de muitas maneiras essa relação trabalhada
com o simbólico, sem apagar diferenças, significando-as teoricamente.”

Nesse contexto, o que se dizemos não são apenas mensagens a


serem decodificadas, mas sim:
Efeitos de sentidos que são produzidos em condições
determinadas e que estão de alguma forma presentes no
modo como se diz, deixando vestígios que o analista de
discurso tem de apreender. São pistas que ele aprende a
seguir para compreender sentidos aí produzidos, pondo
em relação o dizer com sua exterioridade, suas condições
de produção. Esses sentidos têm a ver com o que é dito,
e com o que poderia ser dito e não foi. Desse modo, as
marfes do dizer, do texto, também fazem parte dele.
(ORLANDI, 2007, p.30)
Análise do Discurso 33

Para compreender melhor, vejamos o exemplo a seguir:

Exemplo:

Mais cedo ou mais tarde sua esposa


vai dirigir.
Esta é uma das razões para você pos-
suir um Volkswagen
Fonte: Adaptado de https://bit.ly/2QxUUfc

Enquanto analista do Discurso, quais vestígios precisamos


apreender para interpretar o anúncio acima?

Considerando o universo dos anúncios, propagandas, não basta


apenas decodificar a linguagem verbal. Há de se levar em consideração o
contexto situacional; as escolhas linguísticas; o texto não verbal; dentre outros.

No exemplo acima nos deparamos com um anúncio publicitário


dos anos 60. Na época era comum e, inclusive, engraçado, sentenças
que maculassem a imagem da mulher. O texto verbal, portanto, pode ser
interpretado como uma “piada” em relação às capacidades limitadas da
mulher ao fato de dirigir. A empresa, em contrapartida, oferece um produto
que “alivia” a preocupação masculina, já que possuí peças baratas e fáceis
de encontrar. Ou seja, o homem não precisaria se preocupar com mais
esse “problema”: a WV se preocupa por ele.
34 Análise do Discurso

Fica claro aqui como a condição de produção de um discurso


afeta a construção da linguagem. Se hoje, no século XXI, o mesmo
anúncio publicitário fosse veiculado em jornais, revistas e internet, muito
provavelmente seria tachado como machista e anacrônico, e a empresa
sofreria as represálias cabíveis.

Portanto, as condições de produção e Interdiscurso são de grande


significado para o analista do discurso e, mais amplamente, para a Análise do
Discurso em geral. Assim, cabe-nos agora aprofundar essas perspectivas.

Condições de produção e Interdiscurso


Para Orlandi (2007), as condições de produção compreendem
sujeitos, situação e a memória. Essa última, inclusive, bastante significativa,
como veremos mais à frente.

As condições de produção, para a autora, consideram duas


circunstâncias: o contexto imediato e o contexto sócio histórico, ideológico.
No último exemplo que apresentamos (o caso do fusca da Volkswagen), o
contexto imediato é o “simples” anúncio de um carro e a sugestão de que
esse é resistente e acessível e, por isso, deve ser comprado. Já o contexto
amplo é o que revela efeitos de sentidos inerentes do funcionamento
da nossa sociedade, como por exemplo o mercado automobilístico e a
antiga cultura de que veículos eram destinados a homens, já que à mulher
destinava-se o lar. Nas entrelinhas, observamos que a suposta aceitação de
uma mulher dirigindo, reação lenta do Feminismo no decorrer do século XX,
vem transvestida do machismo que reinava com todas as forças naquele
contexto em particular. O anúncio, assim, revela um posicionamento sócio
histórico social comum à época em que fora publicado.

É aqui que o conceito de memória ganha forças quando pensada


em relação ao discurso. No contexto teórico da Análise do Discurso,
inclusive, podemos chamá-la de Interdiscurso:
Definido como aquilo que fala antes, em outro lugar,
independentemente. Ou seja, é o que chamamos de
memória discursiva: o saber discursivo que torna possível
todo dizer e que retorna sob a forma do pré-construído, o
já-dito que está na base do dizível, sustentando cada palavra.
(ORLANDI, 2007, p.31)
Análise do Discurso 35

Ora, só conseguimos, hoje, interpretar de maneira significativa o


anúncio produzido no século XX graças a nossa memória discursiva: o
discurso do machismo não é novo, é um já-dito não só naquela época,
como se perpetua na nossa. Lá nos anos 60, o texto verbal anunciava
uma forma de pensamento traduzida discursivamente que antecede
sua produção. Assim, o texto a que tivemos contato caracteriza-se
como um interdiscurso, um conjunto de formulações já existentes sócio
historicamente que se traduzem em um novo texto.

Assim como a interdiscursividade, enquanto memória, nos faz


considerar acontecimentos passados como matéria para os novos,
também é esquecimento, outro aspecto importante da Análise do
Discurso que conheceremos agora.

ACESSE

Quer saber mais sobre a interdiscursividade na Análise


do Discurso? Acesse ao vídeo “Interdiscurso e memória
discursiva”, disponível no Youtube por meio do Link: https://
bit.ly/3jtiypH
36 Análise do Discurso

Para Pêcheux (1975) existem dois tipos de esquecimento no


discurso, são eles:

1. O esquecimento número dois, da ordem da enunciação:


Ao falarmos sempre optamos por uma forma e não
outra. No entanto, o que dizemos sempre poderia se
dito de outra maneira, com outras escolhas linguísticas.
Ao falarmos “Feliz”, poderíamos ter optado por “alegre”
ou “contente”, por exemplo. Entretanto, nós nem sempre
temos consciência disso. Este “esquecimento” é parcial,
semiconsciente, que exemplifica que o modo de dizer
tudo tem a ver com os sentidos.

2. O esquecimento número um, ou esquecimento ideológico:


Instância do inconsciente, é resultante do modo como
somos afetados ideologicamente. Por ele temos, quando
elaboramos um discurso, a ilusão de sermos originais,
os primeiros a dizer/escrever/falar, etc. No entanto,
quando nascemos, os discursos já estão em processo,
apenas entramos no movimento. Na verdade, a língua se
materializa em nós e o esquecimento é, voluntariamente,
uma necessidade para que a linguagem funcione na
produção de sentidos e sujeitos: retomando palavras já
existentes como se fossem deles e, assim, movimentando
as possibilidades da linguagem.
Análise do Discurso 37

Outros Aspectos Relevantes à Análise do


Discurso
OBJETIVO:

Além dos aspectos supraditos, outros se fazem importantes


para uma compreensão mais completa em relação à análise
do Discurso, são eles: Paráfrase e Polissemia; Formação
Discursiva e Ideologia e sujeito. Iremos, agora, vê-los um
por um, antes de concluirmos nosso estudo.

Paráfrase e Polissemia
Quando pensamos a linguagem de maneira discursiva, é impossível
dissociar essa compreensão da tensão entre processos parafrásticos e
polissêmicos. Para Orlandi (2007, p.36):
Os processos parafrásticos são aqueles pelos quais
em todo dizer há sempre algo que se mantém, isto é, o
dizível, a memória. A paráfrase representa assim o retorno
aos mesmos espaços do dizer. Produzem-se diferentes
formulações do mesmo dizer sedimentado. A paráfrase
está do lado da estabilização. Ao passo que, a polissemia,
o que temos é deslocamento, ruptura com os processos
de significação. Ela joga com o equívoco.

Ou seja, sempre falamos algo dito, porém, pela polissemia, esse


algo dito se transforma em outro. É assim que os sujeitos (re) significam
e (se) significam a todo instante. Dessa maneira, acabamos por concluir
que a incompletude é condição para a linguagem: os discursos (sujeitos e
sentidos) já estão prontos, contudo, eles estão sempre se refazendo, em
um movimento constante da história e do simbólico.
38 Análise do Discurso

Formação Discursiva
A noção de Formação Discursiva é basilar na Análise do Discurso, e
o porquê é simples: é ela que permite entender o processo de produção
de sentidos e sua relação com as questões ideológicas.

A formação discursiva é definida por meio de uma formação


ideológica dada, ou seja, a partir de um contexto sócio histórico dado,
que define o que pode e/ou deve ser dito. Para compreendermos melhor
como isso funciona, prestemos atenção nos dois pontos a seguir:

O discurso se constitui em seus sentidos:


Isoladas, as palavras não possuem sentido nelas mesmas, é
necessária uma conjuntura na qual o sujeito se insere em uma dada
formação discursiva e não em outra, para atingir um sentido ao invés
de outro. Ou seja, as formações ideológicas são representadas pelas
formações discursivas que as inscrevem. Daí vem o peso da ideologia.
Para Orlandi (2007p. 43):
Os sentidos sempre são determinados ideologicamente.
Não há sentido que não o seja. Tudo o que dizemos tem,
pois, um traço ideológico em relação a outros traços
ideológicos. E isto não está na essência das palavras mas
na discursividade, isto é, na maneira como, no discurso, a
ideologia produz efeitos, materializando-se nele. O estudo
do discurso explicita a maneira como a linguagem e
ideologia se articulam, se afetam em sua relação recíproca.

EXPLICANDO MELHOR

Ou seja, todas as nossas escolhas discursivas, tudo o que


falamos ou escrevemos, a maneira como nos posicionamos,
sempre estará correlacionada a uma determinada
ideologia. As ideologias regem, portanto, nossas formações
discursivas.
Análise do Discurso 39

Os diferentes sentidos são assimilados pela refe-


rência a uma formação discursiva:
As palavras, mesmo sendo iguais, podem significar coisas diferentes
dependendo da formação discursiva em que estão. Por exemplo, a palavra
“Floresta” não significa a mesma coisa para um produtor rural, para um
índio ou um cidadão. Além disso, alterada sua letra inicial entre maiúscula
e minúscula, podemos obter novos sentidos.

O analista do discurso, aqui, tem papel fundamental para a


compreensão: ele precisa observar as condições de produção do texto,
verificando sempre o funcionamento da memória; além disso, ele
necessita verificar o porquê dessa formação discursiva (ao invés de outra),
para assimilar os sentidos ali presentes.

Para Orlandi (2007), o sentido que, na verdade, é efeito ideológico,


não nos deixa perceber, em uma primeira análise, seu fundo material,
histórico. Porém, todo sujeito, carregado de ideologia traz, obviamente,
uma historicidade em construção que alimenta essa mesma ideologia.
Assim, Ideologia e sujeito caminham juntos e, por isso, a partir de agora,
caro aluno, iremos conhecer um pouco mais sobre esses dois princípios
importantes à Análise do Discurso.

Ideologia e Sujeito
É interessante perceber como a Análise do Discurso ressignifica a
noção de ideologia por meio dos estudos da linguagem. Dessa forma, a
ideologia passa a ser definida ideologicamente e é isso que veremos a seguir.

Segundo Orlandi (2007, p.44), o fato de que não há sentido sem o


movimento de interpretação evidencia a presença da ideologia. Sempre,
em contato com um objeto simbólico, há no homem a motivação para se
perguntar: “o que isso quer dizer?”. Nesse contexto, no ato de interpretar
o sentido surge como evidência, como se ele sempre tivesse estado lá.
O trabalho da ideologia, nesse contexto, é colocar o homem em uma
relação imaginária com suas condições existenciais e materiais.
40 Análise do Discurso

A ideologia, portanto, passa a ser condição para a constituição de


sujeitos e sentidos. Para Orlandi (2007, p.46):
O indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia para
que se produza o dizer. Partindo da afirmação de que a
ideologia e o inconsciente são estruturas-funcionamentos,
M Pêcheux diz que sua característica comum é a de
assimilar sua existência no interior do seu próprio
funcionamento, produzindo um tecido de evidências
“subjetivas”, entendendo “subjetivas” (...) como “nas quais
se constitui o sujeito.”

Assim, a subjetividade, enquanto constituinte do sujeito, está para


a ideologia do que ele pretende dizer. Entretanto, ao se colocar enquanto
sujeito, muitas vezes o homem apaga o fato de que é interpelado pela
ideologia. Esse apagamento já nos foi colocado acima: o homem acredita
estar dizendo algo novo, nunca antes pronunciado.

Para o analista, nesse sentido, entender ideologia enquanto relação


necessária entre mundo é linguagem é fundamental.

Exemplo:

Enquanto analistas, podemos nos perguntar: Como a ideologia atua


na charge abaixo?

Oi, Miguelito! Coisa


boa na TV?

Acabei de ligar

Mas parece que se você passa


desodorante, depois come sal-
sichas e aí compra uma máqui-
na de lavar roupas, só não é
feliz se for muito idiota

Fonte: Adaptado de https://bit.ly/2Z3rier

Considerando o “esquecimento”, para nós, enquanto sujeitos, a


resposta de Miguelito poderia ser inocentemente a compreensão de um
todo original, “novo” do que está passando na TV. Entretanto, a charge
acima ultrapassa esses limites ao ironizar a ideia de felicidade vendida nas
propagandas e programas de TV.
Análise do Discurso 41

Nesse sentido, a formação discursiva, se analisada por esse viés,


revela um sentido novo pertencente a uma ideologia dominante nos dias
atuais que está aparentemente velado na resposta do personagem: O
consumo, incentivado como gerador de felicidade em nossa sociedade
capitalista das mais diversas formas.

Para Orlandi (2007, p.47) o sentido,


É assim uma relação determinada pelo sujeito-afetado
pela língua- com a história. É o gesto da interpretação
que realiza essa relação do sujeito com a língua, com a
história, com os sentidos. Esta é a marca da subjetivação
e, ao mesmo tempo, o traço de relação da língua com a
exterioridade: não há discurso sem sujeito. E não há sujeito
sem ideologia.

EXPLICANDO MELHOR

Nós, enquanto sujeitos, somos formados pela ideologia e


história que nos cerca, e esses dois elementos são, mesmo
que inconscientemente, norteadores do nosso discurso.
Muitas vezes é só pela interpretação, na busca pelo sentido
do que dissemos, falamos ou agimos, que compreendemos
a (s) origem (s) daquele discurso.

Por fim, é importante esclarecer que o trabalho com


a ideologia é um trabalho baseado na memória-
esquecimento. É justamente o esquecimento que motiva
a iluminação de qualquer discurso proposto. No pensar,
por exemplo: “Por que ‘fulano’ se colocou dessa forma?”;
“Por que eu me posicionei dessa maneira”? temos o
primeiro passo para a investigação da formação discursiva
de determinado contexto, chegando às conclusões
ideológicas na construção de sentidos.
42 Análise do Discurso

Após essa produtiva imersão teórica em relação à Análise do


Discurso, nos perguntamos: Quais as consequências dessa perspectiva
teórica? Iremos, agora, indicar algumas:

1. A Análise do discurso, ao unir campos de conhecimento, rompe


suas fronteiras e elege um novo recorte de disciplinas, constituindo
um novo objeto de estudo: o discurso;

2. Para a Análise do Discurso, não há apenas transmissão


de informação, muito menos linearidade nos elementos
comunicacionais. Para ela, a língua não é apenas um mero código,
em que se separa emissor e receptor; em que um fala e outro,
na sequência, decodifica. Não há transmissão de informação
apenas, há um complexo processo de formulação de sujeitos que
produzem constantemente sentidos;

3. A língua, para a Análise do Discurso, tem sua ordem própria,


porém, é relativamente autônoma;

4. Na perspectiva discursiva, o sujeito da linguagem se constitui


enquanto descentralizado, pois é afetado pelo real da língua,
bem como o real da história, e o modo como essas o afetam não
pode ser controlado por ele. Isso possibilita concluir que o sujeito
discursivo age pela ideologia e inconsciente;

5. Por fim, podemos concluir que na Análise do Discurso “Em seu


quadro teórico, nem o discurso é visto como uma liberdade em ato,
totalmente sem condicionantes linguísticos (...) nem a língua como
fechada em si mesma, sem falhas ou equívocos.” (ORLANDI, 2007,
22). A língua, assim, sempre será condição para a oportunidade do
discurso.
Análise do Discurso 43

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