Frei Pedro Sinzig - OFM - O Mês de Maria e A Folhinha
Frei Pedro Sinzig - OFM - O Mês de Maria e A Folhinha
Frei Pedro Sinzig - OFM - O Mês de Maria e A Folhinha
O MES DE MARIA
E
A FOLHINHA
1 9 4 2
EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA S. A.
Distribuidora
Rua do Ouvidor, 94 - Rio
IMPRIMATUB.
NIHIL OBSTAT.
Censor ad hoc.
PODE IMPRIMIR-SE.
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Em nome do Padre e do Filho e C:.o
MA I O Espírito Santo. Amen.
1
Só depois de termos invocado a
Deus, dirigimo-nos à SS. Virgem; é
a ordem justa.
Esforcei-me, nos anos passados, por
transmitir aos devotos de Nossa Senhora
idéias salutares, explicando-lhes orações marianas como
a Ladainha Lauretana, a Ave Maria, ora o Padre Nosso,
oração ensinada por seu divino Filho, ora o Credo, b ase
da nossa fé, ou aincfa trechos da S . Escritura.
Entretanto, por mais que eu fizesse, vinham à porta
da igreja outros pensamentos apoderar-se dos que saiam.
Prefiro, pois, um assunto que, durante o dia, vos seja
lembrado, mesmo que eu esteja longe. Achei-o, graça:,
a Deus.
E' alguem de vossa residência, de vossa oficina, do
escritório, da repartição, cfo quartel, da casa de negócio,
da cosinha. Em toda parte o encontrareis a lembrar-vos
a meditação da manhã que ora instituímos. Este alguem
não cobra nada pelo serviço ; não é padre, não é freira,
não é vivalma; é mudo de nascença e a-pesar disso fala
alto, fala a qualquer hora, quer lhe atendam, quer não.
Esse alguem é. . . a folhinha.
Um grande 1 marca o cria de hoje, primeiro do mês.
O 1, sem o qual não há 2, nem 3 e muito menos 10,
100 e mais, essa unidade, base de tudo, princípio mesmo
da vida, é imagem eloquente de Deus. Esse 1 e tão
grande, que para escreve-lo, não chegam as letras gar-
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6 FREI PEDRO SINZIG O. F. M.
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Se Deus, o infinito, o imenso, o,
MAIO eten10, é o número um, sem o qual não
2
há nenhum dois, nem tres, nem cem ou
mil, ao número 2 poc!'emos pensar em
nós. Mas, que contraste! Ele tem tudo,
de sí ; nós não temos cousa alguma de
nós. A nossa própria existência é pre
sente, para o qual em nada concorremos.
Entretanto, preocupamo-nos tanto conosco, como se
fôssemos nós o n. 1, e Deus o n . 2. Não se trata de
saber o que outros pensam de nós, mas sim o que somos,
aos olhos de Deus.
UIT' homem que passa, é chamado dowtor. Ele o é;
quer. ..iizer, recebe de seus semelhantes esse título que
siJr,iífica boa dose de conhecimentos no terreno da medi
.:ina, do direito, da engenharia, etc. Acaso esse título
será ratificado por Deus? O doutor será doutor tambem
no conhecimento da Majestade divina e dos mistérios
da Religião, doutor em praticar heroismos cristãos, dou
tor no terreno da caridac!'e, da pureza e das demais vir
tudes? Se o fôr, felizardo! E' o juízo de Deus que decide
sobre a eternidade, sobre felicidade e desgraça sem limi
tes ! . . . E se o homem em religião não é nada, naC::a sabe·
e nada faz, que lhe adeanta o pergaminho passado por
mãos humanas? ...
Num ponto de parada do bonde quer subir uma
joven elegante, bela, atraente. Não há lugar. Mas eis.
que se levanta um cavalheiro, oferece-lhe o lugar e fica
nos estribos. Por que o faz? Te-lo-ia feito se, em lugar
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10 FREI PEDRO SINZIG O. F. M.
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Quantas recordações nos desperta
M A I O a data Ge hoje! O descobrimento do
3
Brasil, o encontro da Santa Cruz, a tri-
logía mística de fé, esperança e cari
dacle; o tríplice mistério c:o céu, do pur
gatório e do inferno. Nenhuma, porem,
tão importante, tão fundamental como
a que é evocada ao sinal da cruz : Pai, Filho, Espírito
Santo - um só Deus em 3 pessoas distintas.
O tempo não nos permite tentar descrever o mais
profunc.'o dos mistérios. Vamos, pois, logo ao lado prá
tico: ver o que nos ensina a breve oração a que chama
mos pequena doxologia e que assim reza : Gloria Patri
e.! Fílio et Spiritui Sancto; sicut erat in princ-ipio et
nunc et semper et in taecula saeculorum. Amen.
Deus é o único que merece glorificação eterna, sem
princípio nem fim. Ele não precisa de nós para ser feliz.
Uno na essência e trino nas pessoas, ele encontra em sí
próprio a felicidade simplesmente perfeita.
Deus não está no nosso caso, de pobres creaturas.
Isolados e sósinhos, nós nos sentiríamos em situação
insuportavel. Deus criou o homem necessitado da mu
lher, e a· esta como tendo seu complemento no homem.
A convivência dos dois pode ser um pedacinho G'e céu,
ou então um bom pedaço de inferno.. Mesmo no pri
meiro caso, e ainda que venham filhos, a convivência
não satisfará de todo : precisam ocupar o espírito e aten
der a outros desejos: daí a leitura do jornal nas primei
ras horas do dia, e a ida ao cinema nas últimas, a neces-
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O MÊS DE MARIA E A FOLHINHA
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Estão circulando no Brasil umas
M A I O cartas particulares da Europa confla-
4
grada. Correm de mão em mão. E todo
mundo, não satisfeito com os comuni
cados oficiais e com os telegramas das
agências de notícias, quer saber o que
acham e o que dizem os próprios mora
dores daquele continente, que observam tudo de perto.
Ora, por mais que sejam importantes as guerras,
por mais que alterem costumes, súbvertam fortunas,
recuem ou avancem fronteiras, época não houve de influ
ência tão radical, de fatos tão excepcionais, como a vinda
de Cristo a este mundo, sua vida, sua morte, ressurrei
ção e obra. Quem nos d:éra tambem possuir cartas, ouvir
pessoas daquela éra, a nos contarem o que viram, ouvi
ram, pensaram e fizeram!
E si eu vos disser que as possuimos, e autênticas,
reconhecidas pela mais rigorosa ciência e das quais a
própria Igreja, em nome de Deus, declara serem fide
dign as e até inspiradas pelo Divino Espírito Santo ! ...
São cartas de pessoas conhecidíssimas da época :
um, coletor, ou publicano - como então se chamava -
que chegou a oferecer um jantar a Jesus e mais tarde
morreu por ele : chamava-se Mateus; - outro chamado
Marcos, cujo nome ocorre com frequência nos Atos C:.os
Apóstolos; - um terceiro, Lucas, médico de profissão,
cujo estilo revela não ter sido judeu, mas grego muito
culto; - e por fim João, o apóstolo predileto de Nosso
Senhor.
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18 FREI PEDRO SINZIG O. F. M.
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O M�S DE MARIA E A FOLHINHA 19
se habilitarem nas matérias exigidas. E nós, concorren
tes a um lugar vitalício no céu, quer dizer, lugar defini
tivo , eterno, interessamo-nos por tudo, menos pela banca
examinadora que é a de Cristo. Não nos queixemos, de
pois, das consequências ! consequências estas que ceixarn
a inifinita distância aquilo que, nesta nossa efêmera
vida humana, com tanto susto chamamos "consequências".
Muitos herejes, protestantes há que, sem possuirem,
como nós, uma Igreja que lhes dê garantia e certeza
sobre a fé, veneram, estudam, lêem e procuram seguir
os evangelhos e a Escritura, ciosos que são deste tesouro.
Dão boa lição a grande número de católicos. Reparai
que não disse: à Igreja Católica. Esta recebeu a Santa
Bíblia das mãos dos apóstolos e evangelistas, conservou-a,
zelou com rigor e vigilância jamais contestada pela sua
integrid·ade; obriga os seus sacerdotes, sob pecado, a
lerem diariamente trechos dela na recitação do breviário;
manda explicar os santos evangelhos às crianças das esco
las e dos catecismos, aos adultos nas santas missas domi
nicais. Portanto a Igreja dá-lhes o lugar que lhes com
pete. Ao passo que muitos católicos não sabem de que
se privam, deixando-os d·e lado.
Que singular estímulo poderiam os homens tomar
daquilo que os contemporâneos de Jesús narram dele e
de sua santíssima mãe! Ou serão, porventura, tão ricos
e tão santos que já de nada careçam?
No tempo de Nossa Senhora ainda não havia evan
gelhos, mas ela viveu só para Jesús. E dela diz S. Lucas.
que "guardava todas estas cousas em seu corac:;ão'' ( 2.51).
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Somos pecadores. Se Deus proceder
M A I O conosco segundo merecemos, que será
5
de nós? Imaginei que, em lugar de mi•
nha voz se ouvisse, subitamente, a de
Deus, ameaçando assim : "Em castigo
do pecado, um de vós, ao sair da igreja
perde rá a luz dos olhos!" Que pavor
por to6'a parte. Qual seria o desditoso? "Eu fico", pensa
um, pensa outro, pensam 10, 20 e mais. Acabada a úl
tima missa, ninguem quer sair. Vão se retirando só algu
mas crianças. Todo mundo olha atraz. delas, a ver se
alguma começa a clamar a perda da vista. Tudo ca!mo.
Cada qual deseja que os outros saiam primeiro. Saem
tambem algumas mães de família; o dever as chama;
cm casa os filhos as esperam; de qualquer forma não
po6'e m ficar. E vão conservando a vista. Saem outros,
de passos vacilantes, soluçando . . . Tan-fuem n:ão eram
eles! Ficam poucos. Deve ser algum destes . . . 8, saem
mais 4, mais 2; fica, afinal, um. - "Sou eu! Não quero
cegar! Antes vegetar aqui, vendo, do que cégo lá fora!"
E passa o dia todo na igreja. Pede que lhe tragam de
comer; que o deixem a noite, o dia seguinte ...
- Mas, homem, não é possível! ...
- Quer então que fique cego?! . . . Perdendo a
vista, ninguem no muncfo é capaz de me dar outra !
E a vista é um só dos 5 sentidos que Deus nos deu !
Olhai a vossa mão, sêde ou instrumento de outro
sentido, o tato, 5 dedos, outras tantas maravilhas para
tocar, sentir, apalpar, experimentar, pegar, trabalhar,
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22 ll'REI PEDRO SINZIG O, B', M.
6
seria aclamada como jamais cousa ou
pessoa alguma o foi no Brasil.
E' tão diferente de tudo quanto se
chama repartição pública, fábrica, casa
de negócio, oficina de trabalho, ou con
gênere! N�stas, os empregados ou operários têm que
comparecer à hora marcada e trabalhar determinaé.'o nú
mero de horas, sob pena de sofrerem desconto nos seus
salários, os quais aliás, costumam não ser grande cousa
e mal permitem uma reservasinha na Caixa Econômica
para o caso de aumento da família ou de enfermidade.
Contra 6 dias de trabalho, um único G'e descanso.
Assim mesmo, pela necessidade de sustentar a própria
vida e , talvez, uma família, esses lugares são disputados,
sendo comum a desoladora informação: "Não há vaga".
Que coisa diferente estoutra empreza a que me referi a
principio!
Tambem nela se trabalha, mas não seis dias, e sim
um só dia. Não haja espanto, porque não me enganei:
nesta empreza bemd'Íta, o trabalho é dum só dia, e o
descanso ou folga, de seis dias.
- Mas então, pensareis de certo, pagam mal, muito
mal ! Onde é que se viu? Que empreza J>Ode prosperar
em semelhantes condições ?!
- Ninguem se assuste. A de que falo é cousa só
lida que nunca fracassou e que tem bases tão fortes, que
o seu futuro está garantido como o de nenhuma outra.
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26 FREI PEDRO SINZIG O. F. M.
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O vocábulo grego "poly" entrou
M A I O na composição de grande número de
7
palavras. A impressão a várias côres
chama-se "policromia"; a escola para
engenheiros : "politécnica" ; uma clínica
que não atende só a um mal do corpo,
mas a muitos, tem o nome de "policlí
nica". Paremos aqui. O nosso corpo, a maior obra de
arte que jamais se idealizou e se realizou, no correr dos
anos vai precisando de consertos, reformas e providên
cias cada vez mais frequentes e completas. Bemdita poli
clínica! Se os olhos já não enxergam bem, o oculista os
trata e lhes fornece óculos que não cansam a vista.
Dentes estragados são substituídos, podendo haver toda
uma dentaéura nova de cima e· de baixo. Para estômago,
coração, pulmões, rins, há remédios, e só o doente com
preende a bênção que parte do médico e de sua ciência.
Ora, o corpo, por admiravel e estupendo que seja,
fica à longa distância da essência e das perfeições da
alma. Tambem esta está sujeita a males humanos, a per
seguições diabólicas; tambem ela padece fome e sede.
Haverá para ela policlínica que atenda a todas as enfer
midades, e sanatório onde recuperar as forças? Si há!
Nosso Senhor em pessoa tratou disto, estabelecenc�o a
mais gigantesca das policlínicas, sempre moderna e à
altura. anexa a um sanatório como não há igual.
A divisão não é por especialidades de vista e ouvido,
pulmões, dentes, etc., a menos que o seja em sentido
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O MÊS DE MARIA E A FOLHINHA 31
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Permitir-me-ão falar, esta vei,
M A I O dwna cousa, pela qual muita gente anda
8
apaixon�da? de música?. . . Não pode
ser grande mal, já que a S. Escritura
inúmeras vezes manda pegar em flautas
e saltérios, em cítaras e címbalos ;
manda cantar, e fala tantas vezes em
musica no céu. Da Igreja não digo nada: esta chega a
possuir o seu instrumento próprio, o orgão, e ordena
o canto em todas as bênçãos C::o Santíssimo, em todas as
missas solenes, e dispõe duma arte especial, o canto gre
goriano.
Vamos, pois, desta vez, sem receio nem hesitação,
à música. A data de hoje, na forma de oitava, mostra
lhe a importància. Talvez já tenhais ouvido sinos verda
deiramente bons e artísticos. Os _da igreja de N. Senhora
da Paz é'e Ipanema, p. ex., fundidos de bronze, res
soam longe e cativam irresistivelmente o· coração. Por
que será? Os sinos não produzem um único som. Tan
gidos, mandam para longe as vibrações de todo um con
junto de sons. Alí há, antes de tudo, o som principal,
por exemplo, sobre a nota fá, som ainda bastante grave
e solene. Ouçam a badalada, forte, enérgica. Reconhecem
logo o fá? Hesitam, quando se lhes pergunta, porque,
atenG:endo bem, de fato ouvem, alem do fá, vários ou
tros tons. Antes de mais nada, o mais lindo de todos :
o fá grave, urna oitava mais baixo. Este cria o funda
mento para tudo mais, corno o pedal para o orgão.
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O l\tÊS DE l\lARIA E A FOLHI:N'HA 35
Desafinação insuportavel aos ouvidos d:e Deus que não
deixará impune essa profanação dum sino _cristão.
Sicrano conseguiu um bom emprego. Recebe satisfeito
o rico ordenado, mas trabalha mal, serve mal a quem o
paga. Desafinação ! Oitava terrivelmente falsa. Ou ele a
afinará, trabalhando conciensiosamente, ou pagará na
eternidade, onde não se admitem desafinações.
Dona X. faz mil sacrifícios pelos filhos; ad:ora-os,
mas . . . não lhes castiga as faltas, nem os atém ao cum
primento dos deveres religiosos. Que conjunto de deshar
monias. Deus o toleraria? Nunca!
Dona Y. sofre, mas, em vez de oferecer tudo calada
a Deus, faz outros pagarem o mal que não fizeram.
Não serve. Desafinações sobre desafinações.
O Sr. B. acha a religião muito boa para mulher e
filhos; ele próprio não se confessa nem assiste à Missa
dominical, nem guarda dias c!·e abstinência. E julga-se
alguem, um poço de virtude ! Sino rac'.-!ado é que é!
Os bons sinos como as vidas diferem em beleza. Só
uma houve, de harmonia tão perfeita, que a Igreja ex
clama: Totci pulchra es, Maria! Nunca soou uma diver
gência da base estabeleciáa por Deus!
Diminuamos as nossas divergência. Afinemos cora
ção, vontade e atos pela eterna oitava, ancorada por
Deus no fundo da nossa conciência ! Não dá certo espe
rarmos com a afinação até a hora da morte. O ouvido
então já não percebe as vibrações. Façamo-lo agora, em
pleno vigor, e estabeleçamos em nós os 8 estados que
Nosso Senhor chama de ''oito bemaventuranças".
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A d.ata de hoje arrebata ao alto o
MAIO espírito humano, e deixa entrever os se
9
res mais lúcidos, mais ful gurantes e
mais belos que já povoaram as paragens
celestiais, antes, muito antes de na terra
pulsar um coração humano: os nove
córos de anjos ... Por sedutor, porern,
que seja quedar em tão nobre companhia, vê-la, admi
rá-la e travar amizade com ela, o mesmo nÚmero 9 da
data de hoje reclama nossa atenção, t oe.a e exclusiva
mente, não só hoje, senão cada dia à hora nona, isto é,
às três horas da tarde, para o fato mais grave de todo
o mundo, o fato que mais nos humilha, envergon!"Ja e
cobre de culpas ; ao mesmo tempo o fato que mais re
vela a ilimitada bond.ade de Deus: fato que o mundo
só presenciou uma vez. e que nunca mais poderá ver,
porque não há, alem do Cristo, outro Deus que possa
morrer na Cruz ...
Durante milênios, a grande família humana, sem
possuir normas de conduta tão claras como hoje, gemeu
e chorou perseguida, doente, desesperada, pediu e bra
dou:
"Oh, vinde enfim, Filho de Deus!
Descei, descei dos altos céus!
Germine a terra o Salvador,
Nuvens, chovei Nosso Senhor !"
Cristo veio. "E os seus - queixa-se o evangelista
São João em frase lapidar - os seus o não receberam".
}'ior. Depois qe tê-lo ouvido durante 3 anos, presenciado
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38 FREI PEDRO SINZIG O. F. M.
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O dia 10 evoca a memória daquele
MAI O fato único na história, em que a Majes-
1O
tade &e Deus se manifestou claramente,
no alto do monte Sinái, promunlgando
os 10 mandamentos, obrigatórios para
grandes e pequenos, cultos e ignoran-
tes . . . Só vos terei que dizer louvores,
se hoje e todos os dias vos ocupais sériamente do De
cálogo, Código pelo qual se processará o Juizo Final.
Não quero, porem, deter -me nele. Prefiro levar a
palestra para 10 moças, das quais refere Nosso Senhor
que, sendo convidadas para denioisellcs d'honneur, 5 se
revelaram prudentes e 5 loucas. Reparai que não se reve
laram 5 formosas e 5 feias, nem 5 honestas e 5 levianas,
mas : 5 pmdentes e 5 loucas. Como se deu isso? ·
O casamento seria à noite, muito tarde. Porisso as
10 levaram cada qual a sua lâmpada, acenderam-na e
ficaram à espera. Coitadas! Os noivos demoraram de
mais. As lâmpadas apagaram-se e as donzelas cfe honra
entraram a cochilar.
De repente, à meia noite, grande celeuma anunciou,
afinal, a chegada dos noivos. Levantaram-se todas e pro
curaram acender as lâmpadas. Inutil. Elas estavam sem
azeite. 5, prudentes, não se apoquentaram. Tinham-no
trazido num vaso à parte. Encheram, pois, as lâmpadas
que deram a luz de costu!Ile. As outras 5, loucas, não
contando com semelhante demora, e receiando por seus
vestidos novos, não tinham trazido reserva de azeite.
Pediram, pois, às outras, lhes dessem um pouco do delas.
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42 FREI PEDRO SINZIG O. F. M.
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. Em menino e moço, sentia eu certa
MA I O pena do.!lúmero· 11. E' que o ligavam
11
com pessoas que não reguiavam bem,
ou que tinham manias ou eram franca
mente loucas. Parece-me que o pobre
do 11 gosa por aquí de melhor repu-
tação. Se não, quero contribuir, na me
dida do possivel, para a sua rehabilitação. Vêde, este
número vale muito mais do que parece. 1 mais 1 se
rão 2? Reparai bem na folhinha, e vereis que 1 e 1, ao
lado wn do outro, valem 11. Brincadeira? Oh, não!
Nii vida inúmeras vezes é assim.
Casa-se um rapaz. Ele vale 1, e ela 1. Entretanto,
a mudança de posição, . as atenções da sociedade, e até
mesmo os favores da lei são tamanhos, que nos permite
dizer : 1 e 1 são 11 . E os dois sabem disso. Como mar
cham felizes e orgulhosos, c·e braço dado, à igreja, ao
cinema, ou pela rua do Ouvidor! Têm um geitinho es
pecial de dar a perceber, nos encontros com amigos, a
aliançr!, que trazem no dedo. Falam em '.'nossa casa",
"nosso lar", como se já o tivessem há dez anos ou mais.
De fato, sua união, suposto que baseada na fideli
dade a Deus e no reciproco amor e respeito, vem bene
ficiar a ambos de maneira nada vulgar. Repartinc�o ale
grias e dissabores, aquelas parecem dobradas, estes dimi
nuídos. Quero crer que já tenham adquirido ou em. breve
adquiram a alta sabedoria de não estarem a censurar-se
mutuamente, com frequência e regularidade de relógio,
mas que, ao invés, corram cada um antes e cada vez, o&
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46 FREI PEDRO SINZIG O. F. M.
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O MÊS DE MARIA E A FOLHINH.1. 47
Que bom, agradavel e justo, a mulher preocupar-se
com o mariC-:·o aflito ou enfermo e procurar desfazer-lhe
as causas do mal! Que bom, agradavel e justo, que de,
ao voltar para casa, deixe de fóra todos os aborrecimen
tos, que traga grande provisão de commlo e alegria, que
venha só matar e deixar matar saudade! Mas não é
tudo. . . Falta o principal : e a alma? não precisará esta
de nada?
E' imiispensavel que cad� um dos consortes saiba
a quantas anda o outro com Deus. Como poderá, sem
isso, haver tranquilidade? Quem de fato tem amor ao
marido, à esposa, por força há de querer que ele, ela,
esteja bem com Deus; que não tenha e!. receiar nem
mesmo o caso sempre possível duma morte súbita.
Poderá custar muito a estabelecer esta intimidade
de um penetrar o jardim fechad:o da alma llo outro. Mas
não esqueçamos que é esta a intimidade mais s:mta, mais
bemfazeja, mais consoladora. Nienhum faça exig'.ências
ao outro; dirija-as todas a sí mesmo: o efeito será ótimo.
V.ão juntos à igreja confessar-se e comungar; levem
mais tarde consigo os filhos.
Ora, nem todos são pai e mãe. Certo é. port·m, que
quasi tqdos têm alguem, vários ou muito;;, aos quais
possam aplicar o papel de pai e mãe, cuidando de sua
alma, preocupando-se, aconselhando, guiand0, assistin
do. . . 1 e 1 no casamento com facilidade se transformam
em 11; se ela fôr o anjo da guarda dele, é mais :nn à
esquerda; se ele fizer outro tanto, é outro um: ao toc!'O
1 . 111 ; e se os filhos seguirem o exemplo dos pais, o
número sobe a dezenas, centenas de milhares, quiçá a
1 milhão. Que bom, este número 11 ! Que bom q•1ar,do,
na despedida de um dos dois para a eternidade, se re
novar a cena da morte de S. José que morreu com a
sua esposa ao lado e nos braços do Filho ! Maria e José,
os modelos em tudo!
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Há muitas cousas que a data de
M A I O hoje vem nos lembrar: as 12 tribus do
12
povo eleito de Israel, de tanta importân-
eia no correr da história ; a popular
"dúzia" da vida d-e cada dia, a figura
de Pio XII que se impõe ao mundo
em guerra, os 12 mezes do ano -que cor
rem tão velozes. Deixemos tudo de lado, e pensemos nos
12 homens escolhidos por Nosso Senhor, para lhe con
tinuarem a obra: os apóstolos.
Talvez não haja entre vós quem não tenha notado
o orgulho, às vezes desmediC:'O, com que certos cidadãos
apontam sua família, como sendo da alta aristocracia do
sangue ou do dinheiro, como beneméritos da sociedade
ou dá pátria, como luminares da ciência ou como estre
las da arte. Que seja. Não impeG'e que tambem estas
aristocracias te.hham começado pequenas, muito humil
des, e que, depois de alguem se ter distinguido, o� filhos
já não possuam outra virtude e outro mérito, se não o
de terem pai importante.
Os caminhos de Deus não são os nossos, e vice
versa. Façamos de conta que, vivendo na época de Cristo,
i:io povo e na terra C:-e Israel, J esús nos tivesse consul
tado previamente sobre os que deveria escolher para for
mar o seu reino e para ser o Salvador do mundo. Muito
honrados com a consulta, teriamas dado conselhos se
gundo a sabedoria humana: "Toma pelo menos 2 dos
sacerdotes do nosso povo, Senhor, eles são os mais pol1e
rosos ; com eles irás longe. E não te esqueças do Ibraím ;
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50 FREI PEDRO SINZIG O. F. M.
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O MÊS DE MARIA E A FOLHINH.l 51
quantos não teriam seguido os discípulos?. . . Era o
prelúdio. Um dia Cristo .5eria preso. Um apóstolo o trai
ria, todos fugiriam, Pedro o negaria ...
E foram estes mesmos apóstolós que, depois de
iluminados pelo Espírito Santo, deixaram de receia r
juC:-eus, juízes, cárcere, flagelações e morte ! Começaram
pequeninos, acabaram herois. Elevaram o nome de apos
tolo à maior apoteose, à glória na terra e no céu. Mos
traram a gregos e troianos que, sem Cristo, sem o Espí
rito Santo, nada eram; mas com Cristo, com o Espírito
Santo, reformaram o mundo. Suportaram, por Deus e
por nós, t•balhos, perseguições, deshonras, pobreza e
morte. Não merecerão nada c!·a nossa parte? Não mere
cerá nada aquela que, em verdade, é a rainha dos Após
tolos, seu modelo, sua inspiradora, sua consoladora?...
Eles conquistaram o mundo. E tú, meu irmão, já
conquistaste pelo menos uma alma? uma só? A caridade
cobre multidões de pecados. Salvando almas, salvarás a
tua. Cristo por elas deu a vida; Maria SS. deu sacri
fício semelhante; "Seu filho e tal Filho, - então supor
tais - cruel soledade, - bemdita seja= s !" Olhai em
redor de vós: sêde apóstolos em casa, com a família, com
os empregad:os, na oficina, no escritório. na fábrica, na
repartição, no caminho, no bonde e no trem. .. Apósto
los menos por palavras; mais pelo exemplo, pela mo-
déstia cristã, pela firmeza de ferro onde for preciso.
O 12 da fo'.hinha seja como um apelo contínuo e
vibrante: sê apóstolo!
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Num hotel estão indicando a um
MAIO hóspede recemchegado o quarto que ele
13
previamente encomendara. Este?
Nem por nada! - Mas tem vista es
plendida, é o mais arejacfo, um dos mais
espaçosos. - Eu, ficar no número 13?
• Não sou louco, não! ...
Dizem-me que esta cena, assim, não ocorre mais.
Por uma razão bem simples. De há muito, os hoteleiros
introduziram uma nova aritmética, em que o n . 13 foi
suprimido. Deixou de existir na face da terra. O quarto
visinho do 12 é o 14. Superstição? Sem dúvida. Seria
divertido, e daria assu�to para longas palestras, enume
rarmos apenas as principais superstições que constituem
o "crecfo" de tanta gente culta, moderna, bem mundana.
Prefiro, porem, fazer outra cousa: falar do que não é
superstição.
Não é superstição, por exemplo, a realidaae do de
mônio. E eis subitamente mudadas al!I posições. Agora
são os mundanos, os gozadores da vida, pessoas cultas
num ou noutro terreno, que olham para nós, aterradas,
como se fôssemos vítimas de imaginação, d·e crendices
supersticiosas. "Ao diabo, - diz um espirituoso escri
tor, - a gentinha não sente· nunca, mesmo que já lhes
segure a guela". O demônio não é nenhuma invenção
para assustar crianças; é terrivel realidade. Sem ele -
antigo anjo do céu, rebelado e por isso transformado em
demônio, - o mwido não seria o vale de lágrimas que
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54 Frrnr pgnno SINZIG º· F. M.
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Se corrermos os olhos pela nave·
M,A I O da igreja, encontramos uma série de 14
14
quadros, comemorativa de certas fases
<fa. Paixão de Nosso Senhor, chamada
VIA SACRA.
E' de justiça que ela alí esteja.
O que NossoSenhor sofreu, foi p0r nós
que o sofreu. Nós eramos os culpados ; entretanto foi
ele quem pagou por nós. Quem tiver um restinho de
senso justiceiro, e possuir coração, nunca mais se esque
cerá de que tudo deve a Jesus. Tudo : existência, corpo
e alma, inteligência e saude, pais e filhos e pátria e bens
deste mundo, e, sobretudo, a liquidação duma divida
tão g_!'ande que, com todas as fortunas deste mundo, seria
impossivel pagar: a dívida do pecado, que Cristo chamou
a sí, entregancl'o a vida para ver extinta a nossa culpa.
Isso de Via Sacra nas igrejas e capelas, nos mos
teiros e em vias públicas, é cousa boa, ótima, mas não
substitue o lugar, onde devem encontrar-se todas as 14
estações : o nosso coração.
Vou rezar a Via Sacra, dizemos nós. Talvez fosse
mais exato dizer : vou caminhá-la. Em todo caso, quem
primeiro a caminhou, foi Nosso Senhor. Terrível e assus
tadora realidade! E em toda a Via Crucis acampanhou-o
sua SS. Mãe. Não havemos nós de fazer companhia a
ambos?
Tudo nesta santa via se desenvolve num crescendo·
contínuo. As cênas são mais e mais dramáticas, culmi
nando na morte de Jesus e seu enterro. Não há quem.
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58 FREI PEDRO SINZIG O. F. M.
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No último dia da primeira quinzena
,.. A I O
...., do mês, é conveniente olharmos para
15
trás, a ver o que fizemos, e reafirmar
mos para a 2.ª quinzena as nossas in
tenções.
Quão pouco sabemos da vida de
Nossa Senhora, Rainha elo céu e Mãe
,de Deus! A Sagrada Escritura refere mais de õUtras
pessoas, por exemplo de São Paulo, do que de Maria
Santíssima. Mas que surpresa um dia, quando, na vida
eterna, virmos desenrolar-se deante de nossos olhos, como
no mais imponente filme sacro, a vida da criatura mais
perfeita deste mundo!
Por ora a Igreja nos ajuda a pensar nela e a com
preender-lhe melhor a grandeza única, dand:o-nos os 15
mistérios do rosário. 15 cenas. E'. pouco, mas sempre
encerram muito alimento para a alma, e sempre são
capazes de elevar-nos acima de toda vulgaridade, até
mesmo à perfeição.
O 1.0 desses mistérios deve ser, e é, particularmente
importante, tanto que a Igreja nô-lo apresenta aos olhos
3 vezes ao dia, ao soar das Ave-Marias. "E ele concebeu
do Espirita SanitoN. Exquisito: Nenhuma referencia à
vida anterior da SS. Virgem. Sua importância parece
começar com a data da AnW1ciação.
E' misteriosa a origem do homem. No paraíso Deus
mesmo lhe formou o corpo, de barro da terra, inspiran
do-lhe, depois, a alma. Na criação de Eva fez novo corpo
do de Adão. Para a existência d:e todos os demais seres
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62 FREI PEDRO SINZIG O. F. M.
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O MÊS DE MARIA E A FOLHINHA 63·
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Na primeira das devoções do mês
M A I O de Maria buscava eu alguem, de for a da
16
igreja que, durante o dia recordasse o
assunto da meditação ou prática d'o dia.
Compreendí que poderia ser a folhinha,
desde que eu soubesse ligar um assunto
religioso com a data. Tentei fazê-lo.
Estamos agora no dia 16, inaugurando outra série de
16 dias do mês de Maria. Mas esse algarismo não se
dignou lembrar-me cousa alguma que servisse. Impaci
ente in;;istí com a data e, súbito, os dois números troca
ram de posição: do 16 se fez um solene e importante 61.
Não precisava eu de mais nada ...
Imaginem os meus ouvintes que eu, agricultor, cul
tivando um pomar, venda frutas a 16$000 o cento. Dará
trabalho, e a compensação não é grande cousa; mas tal
vez dê para viver. Consigo, porem, por caprichos do
mercado, venc.·er o mesmo cento já não por 16$000, mas
por 61$000. E' outra cousa, agora. As despezas são as
mesmas, mas multiplicam-se os lucros. Se isso continuar
durante algum tempo, terei bons depósitos na Caixa
Econômica. Já antevejo urna casinha minha, em terreno
próprio, pois tudo isso, com uma receita 3 a 4 vezes
maior do que antes, só será questão de tempo.
- Sonho, Sr. padre!, - dir-me-ão. - Nestes tem
pos bicudos só ladrão faz, de 16 ... 61$000. Para gente
honesta, Oi 16 podem até muito bem reduzir-se a 1$éi00 ...
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66 FREI PEDRO SINZIG O. F. M.
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o Mês DE MARIA m A FOLHINHA 6í
de seus aspetos. Vêdes alguem aflito e lhe dirigis a pa
lavra animadora - eis uma caridade que será recom
pensada na porcentagem de 100 por 1.
Encontrais um casal desunido, e o fazeis pruden
temente voltar à harmonia doméstica. . . ah! como Deus
o pagará!
Vêdes um lar prestes a ser dissolvido, a ruir por
terra, preferindo ao saneamento a praga do divórcio; ...
falais a um e a outro, invocais a memória da mãe, do
pai falecido, lembrais a gravidade do passo, o manda
mento C:·e Deus que não deixa impunemente brincar
consigo, sujeitais-vos a inúmeras humilhações e dissa
bores. até serenar a atmosféra e conseguirdes a recon
ciliação com Deus e a mútua entre os dois. Felizes de
vós ! A vossa caridade cobrirá uma multidão de pecados.
Obtereis 100 por 1.
Vosso bairro não possue igreja. Daí faltas à missa
dominical, adiamento de batizados, �e confissões e co
munhões, uniões ilícitas, mortes sem Extrema-Unção.
Lançais mão à obra. Custa sacrifícios ingentes, ingrati
dões, suspeitas, invejas, mas um dia a igreja lá está, e
todo o bem alí feito através de anos, decênios e talvez
séculos, aumentará a vossa felicidade temporal e eterna.
Encontrais um analfabeto, daqueles muitos que vi
vem em palácios e ensinam nas Faculclac!·es, escrevem nos
jornais, dirigem grandes emprezas, analfabetos em reli
gião.· Custa ensiná-:o, dispô-lo a uma vida interior, pre
pará-lo à confissão e à 1.'-' Comunhão. Mas não desistis .
E todo o bem que ele depois fizer e que outros por inter
médio dele fizerem, vos será cred:tado eternamente .
61 µor 16. E' pouco? Deus dá 100 vezes mais •..
e isso mesmo com a generosic:ade divina que nfo reco
nhece limites. Maria deu-lhe tudo quanto tinha, e Deus
pagou com o infinito, o eterno. Caridade, caridad(I ! E' o
que a folhinha vos pede.
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A folhinha de hoje apresenta um
M A I O desses nt'uneros que não querem saber
17
da longa série dos que lhes são infe-
riores e que, por isso, se arrogam o
pomposo nome de números primos, di
visiveis somente por sí e pela unidade.
Ele não mantem boas relações com ne
nhum dos outros. Querem dividí-lo por 2? Fica um
resto. Por 3? Idem. O 4 não é mais bem sucedido, nem
o S nem o 6. Quem sabe o 7, por causa da semelhança?
Inutil, sobra resto. Com 8? Sobra ainda. O 9 duplicado
ultrapassa o 17, e os seguintes servem muito menos .
Assim fica o 17 merecidamente isolado. Que se arranje.
Todos quantos o precedem não querem saber dele.
Não há gente assim? Muita até? Quem sabe se at�
não fazemos parte dela? Reparem aquele senhor casado
que constantemente confunde seu papel de marido e pai,
com o dttm tira.nete, se não com o dum tirano bem desen
volvido. Ái da mu:her se o café da manhã não chegar
justamente na hora em que ele entende c'.e acordar ou
de se levantar! Ái dela, se o não trouxer bem no ponto,
nem quente demais nem de menos, temperado nem de
mais nem de menos! . . . ái dela se as peças de roupa
não estiverem à mão!
Mas isso é apenas o começo. Se chove, a culpa é
da mulher. Se o sapato lhe aperta o pé, os de casa o
pagam. A ladainha de queixas e de acusações iria muito
mais longe que a de Todos os Santos, e não sem termos
ofensivos, proferidos com voz muito mais forte do que
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70 FREI PEDRO SlNZIG O. F. M.
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No ano d'ezoito depois de Cri�to,
MAIO quer dizer quando Jesus tinha 18 anos
18
de idade, o procurador romano Vale-
rius Gratus nomeou um sumo-sacerdote,
chamado José, a quem se deu o sobre
nome ou apelido de Caifás. Iniciando o
seu cargo no ano 18, reinou 18 anos,
sendo c!'estituido em 36 pelo legado da Síria, Vitellius.
Sumo Sacerdote ! . . . Que dignidade distinta ! Era
chamado tambem príncipe dos sacerdotes ou sacerdote
ungido, por ser ungido com os santos óleos. Tinha,
como os nossos bispos, vestes especiais. Por cima a tú
nica azul-marinho, caindo até os joelhos, com campainhas
de ouro e pequeninas romãs nas cores litúrgicas; hume
ral ( efod), cíngulo, ao peito uttl caixilho com 12 divi
sões e 12 joias engastadas que traziam os nomes das 12
tribus de Israel ; turbante precio�o com a inscrição:
"Santidade de Jahvê". Assim d'istinguido, o Sumo Sa
cerdote era obrigado a maior virtude e perfeição. Tinha
a suprema direção do Templo, do pessoa l cio culto, dos
ofícios divinos, dos holocaustos e era ele que, em casos
especiais, c!'evia consultar a Jahvê (Deus) sobre o que
havia que se fazer.
Ao chegar Caifás a exercer seu alto c.a.rgo, Jesus
tinha 18 anos. Vivia oculto, trabalhando na pequena ofi
cina de seu pai legal. Caifás nunca teria ouvido falar
dele? Não teria transpirado nada dos singulares aconte
cimentos que se deram no seu natal? da música do alto,
do canto dos anjos? da vinda dos magos do Oriente? da
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74 FR!ll PEDRO SINZIG O. F. M.
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' Aliaram-se, para marcar a data de
19 ·
M A l; O . hoje, 0 menor :de todos os algarismos
que existem, e o i;naior. Menor do que a
unidaC:.'e não há. O zero é negação, e só
. quando tiver outro algarismo à frente
chega a valer. Maior do que o 9 tambem
não existe. O cíclo então se repete,
;tecorrendc. a agrupamentos e composições. Que linda
imagem, esse 1 e o 9 unidos ! Como representam bem a
união <lo alfa e do oméga, primeira e última letra do
alfabeto grego. Imagtm magnifica daquele que é o prin
cípio e o fim: Deus!
Procurai quantos números quizerdes, os maiores
que puderdes imaginar: não encontrareis um elemento
novo siquer; é sempre a mesma série G'e 1 a 9, com
inclusão, às vezes, do zero humano. Percorrei a terra,
subí aos astros do firmamento, descei à. mais insondavel
profundeza do oceano, nada encontrareis que não pro
venha desse 1, que não deva a sua existência a Deus.
Posso ignorar quem fez o soalho que pisamos, as
paredes que limitam este espaço, o teto que nos protege,
o altar que está à nossa frente, a imagem da Virgem
que prende nossa atenção. Mas não me resta nenhuma
dúvida de que alguem o tenha feito, que tudo aquilo
não tenha caído um dia do céu, ou aparecido feito sem
intervenção humana. Disso ninguem jamais duvidou.
E <luvidariamos ao subirmos mais, ao perguntarmos pelas
últimas causas? ao querermos saber quem fez o homem ,
a terra, o mar, o firmamento, o sol e os astros? quem oi.
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78 FREI PEDRO SINZIG O. F. M.
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O M:fi:S DE MARIA E A FOLHINHA 79
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Estamos no século 20. . . Vis)vel
:M A I O satisfação transparece do orador, do
2O
articulista, do homem do povo, quando
emprega esta expressão. Parece até que
é mérito nosso, e muito nosso, este sé
c ulo ter chegado e nós vivermos nele.
Na verdade somos tão inocentes disto
como os recemnascidos.
Por que tanta ostentação? Evidentemente pela supo
sição de hoje ser tudo, ou quasi tudo melhor do que
antes e de termos motivo para nos compadecermos da
pobre gente que teve de viver em século anterior. Apon-
tam-se progressos indiscutiveis e julga-se a questão liqui
dada. Não é bem assim. A arquitetura moderna, com
suas ciclópicas construções não se atreve a dizer que está
essencialmente acima das esfinges e das pirâmides, para
nem mencionar as cateGTais da Idade Média; a escul
tura conserva até hoje certas estátuas gregas, de Venus,
de Apolo, como verdadeiros ideais; a.· pintura admira
ainda esses retratos perfeitos que nos vieram dos sar
cófagos do Egito e que constituem grandes preciosidades
<!os museus; os fabricantes de vitrais lamentam ter-se
perdido a fórmula antiga de certas tintas.
Desejaria eu saber quem, em ciência, excede um
Aristóteles, um Santo Agostinho, um Santo Tomáz de
Aquino. . . Mas, para que enumerar tantos terrenos de
atividade humana, quando esta, afinal, não é a questão?
E' justo que se deseje real e grande progresso e se cola-
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82 FREI PEDRO SINZTG O. li'. M.
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Enquanto pequenina, a criança e
M A I O dos pais. Não conhece nem estima senão
21
a e les, os innãosinhos e os de casa.
Cresce. E vai sentindo-se mais estrei
tamente ligada a pai e mãe. Estes. por
sna vês, exercem com prazer tanto os
direitos como os deveres que a paterni
dac!e lhes acarreta. O filho é seu, a filha sua. Querem
nos tanto que se enternecem ao simples pensamento de
uma possivel separação. Retardam o mais possível a
hora, que venha pôr termo à mútua convivência.
Esta hora, entretanto, geralmente vem. Todos s a
bem: a vida ... a necessidade de ganhar o pão, disper
sam o idílio familiar. Tambem a carreira que se escolhe,
o casamento, a vida religiosa... Quem sabe se a abra
çam até contra a vontade dos pais, a quem o filho ou a
filha lembram, lacônicamente: "Sou maior Ge idade;
tenho 21 anos!'' Oh! este 21 que é o pavor de tantos
pais! De fato não deixa de ser triste para eles, ver como
os filhos, dantes inteiramente seus, passam a cogitar
mais de sí mesmos, e quiçá de mais alguem que escolhe
ram para companheiro do resto da vida. Oxalá sintam
esses pais pelo menos a satisfação de terem educaGo os
filhos de modo tal, que estes jamais possam esquecer
a casa paterna e o coração do pai e da mãe !
Na verdade, nem aos 21 anos os filhos ficam dis
pen�dos do respeito e do amor aos pais. Apenas a obe
diência c!-evida a eles se reveste duma forma de respeito
e amor ainda maiores, sem prejuizo da liberdade de esco-
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g6 1'1Ull PEDRO l!!INZIG O. 1'. :U:.
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Que pensaram os meus ouvintes,
MAIO ao verem a folhinha de hoje? Eu me
22
lembrei dos colégios, onde este número
tem certa influência. Duas vezes o
mesmo algarismo. Duas a duas vão as
meninas ; em colunas de 2 os rapazes .
Até na vida dos grandes há disso. São
duas as alas nas procissões, nas comunidaC:'es religiosas
vai-se, 2 a 2, à igreja, à mesa da Comunhão. E' a título
de ordem e de disciplina que assim se procede.
Ordem? Que temos nós com a ordem ? Podemos
dispensá-la ...
Não o podemos. Sem orGem, não há vida calma,
segura, feliz. Daí a legislação que nunca mais acaba, e
que se refere a tudo, regulando tudo. Leis da ordem.
Leis, por exemplo, ela propriedade: Esta casa é de Fu
la.no; não posso invadi-la sem sua licença, muito menos,
reclamá-l a para mim. Em compensação, Fulano respeita
a minha casa. O próprio governo cria e mantem polícia,
para me garantir esse direito.
Dois a dois é geralmente a ordem em que a gente
passa neste mundo. Um casal, e mais um e mais outro,
assim por diante: sempre 2 que caminham juntos .
Nunca deve ser um e duas, ou uma e dois. Até à morte
cada qual tem que andar com o par que um dia escolheu.
Só se um dos dois morrer, poderá o sobrevivente ver
como o substitua, nunca, porem, antes, por menos que
os gênios combinem. Dois a dois aqui, acolá, por toca
parte !Saltar fora desta linha pode não ter graves con-
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90 FREI PEDRO SINZIG O, J!'. M.
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O lll� DE MARIA E A FOLHINHA. 91
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Estamos a 23 de Maio. Se entre
M A I O os dois algarismos passarmos um traço
23
vertical ou obliquo, deixa-se de ler 23,
para ler "2/3". Embora extremamente
reluzida, esta fração adquiriu há pou•
cos anos notavel influência na sociedade,
em particular nas empresas comerciais
e industriais. E' que uma lei do Governo ordenou. fossem
ocupados 2/3 dos lugares de empregados, funcionários,
etc., por filhos do país, podendo ser admitiG'Os estran
geiros para o restante terço.
A lei teve grande repercussão na organização de
muitas empresas e na vida de muitas famílias. Aquelas,
com pessoal especializado, tiveram que vencer não pou
cas dificuldades. Das famílias, umas se alegraram, por
ter chegado oportunicfa.de de emprego; outras choraram,
porque o chefe ou outra pessoa perdeu a colocação, sendo
mais dif1cil, com a nova lei, encontrar outra.
N)ão discuto a lei, cuja base evidentemente é justa.
Pennito-me apenas tirar algumas deduções.
Não temos nenhum ·mérito em sermos filhos deste
país, porque para isso não concorremos nem um pouco.
Foi a Providencia divina que assim o dispôs. Mérito te
remos em sendo bons brasileiros, que honram o país,
que contribuem para o seu progresso, que prestam servi
ços reais aos conterrâneos.
No terreno espiritual não ha outra coisa. Não temos
mérito algu m em termos nasciG'O católicos. N'ão fosse a
Providência de Deus, seríamos hoje pagãos. judeus, pro-
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94 FREI PEDRO SINZIG O. F. :M.
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O ll,d:s DE MARIA E A FOLHINHA 95
ferência, em caso de igualdade de condições, operários,
empregados, casas de negócio, empresas, médicos, advo
gados, etc. católicos? Não são eles propriamente nossos
irmãos?.. . E os católicos pobres, órfãos e demais ne
cessitacfos católicos? ... · Esta frase: "Vejam como eles
se amam!" teria valido só para os cristãos dos primeiros
séculos?
No Brasil, como em outros países, houve um cha
mado "Socorro aos católicos refugiados". Seu fundador,
alma de elite, modelo de atividade católica , não só dedi
cou à obra grande parte do seu tempo e de seu repouso,
mas até , quando falharam os auxilios prometidos, deu
da própria fortuna dezenas e dezenas de contos de réis,
afim de proporcionar aos refugiados um teto, roupa e
comida, enquanto não ganhassem por sí. Esgotados
todos os recursos, pediu <linheiro emprestado, ficando
como fiador. Quando os compromissos ultrapassavam
por muito de 100 contos de réis, como todos os apelos
fossem em vão, teve que fechar as portas, dissolvendo o
pessoal. Chegam, entretanto, novos refugiados, sem
meios, e os antigos ainda não desaprenderam a comer,
vestir-se e abrigar-se sob um teto. Chegam a um país
católico praticante da soliGariedade civil, brasileira, mas
não o suficiente da católica. Um antigo auxiliar da obra,
austríaco, pobre, contou-me há dias a situação desespe
radora: "Todos querem comer e não há nada. Eu já não
compro sapatos nem roupa de que necessito. Almóço e
janto em restaurante chinês, por ser mais barato; dou o
que tenho, mas não é nada. Hoje é uma felicidade um
refugiac!·o poder dizer: "Sou judeu", pois esses encon
tram q�1em os ajude". Palavras que ferem como azor
rague.
E a solidariedade católica? E a história do samari
tano? ...
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Ingressando, menino, no colégio
M A I O seráfico para ser franciscano, vi muita
24
novidade surpreendente. Uma delas foi
o grande relógio dum correcor, que
trazia, na parede, bem legíveis estas
palavras:
Destas vinte e quatro horas - Uma
põe-te o termo à vida./ - Vive puro, pois, e santo, -
Digno de tua Mãe querida!
Esta mesma lição das 24 horas ví repetida mais
tarde em muitos conventos da Ordem, e penso que ela
não calha mal em parte alguma do mundo.
Puxamos do relógio tantas veses ao dia, ou consul
tamo-lo na pulseira. Não sei se o fazemos sempre, ou
ao menos muitas veses, atentando na fugacidade do
tempo, no seu valor, na sua brevíssima duração. Se as
sim fosse, a consulta do cronômetro se transformaria
em benefício para o corpo e para a alma, e até para a
família · e para o Estado.
O tempo pode tornar-se terrivelmente longo: quando
dóe a cabeça, uma ferida, um dente ; quando arde uma
queimadura; quando se espera decisão imediata e deci
siva para a vida; quando se ::tguarda a chegada dum
trem oµ dum avião, cuja demora inspira as mais graves
apreensões; numa noite de insônia, quando se sente dôr
contínua, difícil de suportar. Um minuto ão martírio
de São Lourenço na grelha, de Santo Inácio nas garras
G'o leão, de Santa Apolónia ao serem-lhe triturados Oi
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98 FREI PEDRO SINZIG O. F. M.
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O MÊS DE MARIA E A FOLHINHA 99
sim, um não, proferid.·o em menos dum segundo, pode
dar outro rumo a toda a nossa vida e à vida de outrem;
rumo bom, ou então rumo que nunca se poderá deplo
rar bastante.
Por que, então, nos agarramos às cousas deste
mundo, quando o tempo influe direta e essencialmente
sobre o nosso futuro eterno? "Destas 24 horas - Uma
;bõe-te o termo à vida! - Vive puro, pois, e santo, -
Digno de tua lYlãe quen'da!" - Um criminoso caido nas
mãos da justiça que expia na cruz os seus malefícios,
na última hora da vida olha para Jesus igualmente cru
cificado e pede-lhe: "Lembra-te de mim, Senhor, quando
entrares no teu reino!" Tal pedido, pronunciado em me
nos dum minuto, produziu muC:ança� radicais: apagou
as culpas do celerado; restituiu-lhe a pureza dalma;
transformou-o, pelo arrependimento, de facínora em
santo; e fê�lo chegar, no mesmo dia, com Nosso Senho1
ao paraizo.
Um outro criminoso seguiu caminho diferente.
Traira o Mestre, mas, em vês de lançar-se-lhe aos pés
e pedir perdão, foi comprar uma corda e enforcou-se .
Assim morreu um apóstolo, Judas Iscariotes ...
Seguiremos a este ou àquele? Ou a nenhum dos
dois? Receio que não faltem culpas e_m nossa vida.
A questão é, pois, apagá-las em vês de agravá-las. Não
nos faltam meios para tanto_, mas ign oramos por quantc
tempo ainda nos será dado dispôr deles. "Destas 24 ho
ras - Uma põe-te um termo à ·uida. - Vive pu-ro,
pois, e sctnto, - Digno de tua. lvlãe rrurrida!" Aprovei
temos. Seguro, dizem, morreu G.'e velho. Antes hoje do
que no incerto amanhã. - tJm dia hão de parar, para
nós, todos os relógios. Nião baterão mais nem moverão
para a frente seus ponteiro. Não haverá mais nascer
nem pôr de sol. Pára o tempo, e não haverá mais que
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100 FREI PED"ltO SJNZIG O. F. M.
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Numa <las igrejas paroquiais da ca·
M A I O pital, trabalha-se ativamente. Mãos ha-
25
beis transformam o altar de Nassa St.:-
nhora em mar de flores. No côro um
grupo de cantores faz o último ensaio
para a manhã seguinte. O vigário con-
tinúa na sacristia; quer estar só, para
se preparar para a alocução que terá que fazer. E' que
no dia seguinte se festejarão as bodas de prata dum
bemfeitor da igreja, 25 anos de casados . . . 25 anos são
muitos anos. Nem todos chegam a ver tantos. . . Dai a
satisfação dos filhos e dos amigos, e a resolução de ini
ciar as comemorações com uma Missa em ação d·e graças.
Seria só de casamento que se festejam 25 anos?
Não. O professor universitário, aos 25 anos de sua
nomeação, encontrará a sua cátedra coberta de flores,
os colegas prontos para abraçâ-lo, os alunos todos a pos
tos para apresentar-lhe os parabens. No comércio. na
indústria, no funcionalismo público, em toda parte, o 25°
aniversário provoca manifestações de apoio, apreço, gra
tidão, solidariedade. Digam-no os próprios padres, o
que há, quanco completam 25 anos de sacerdócio.
25 anos é muito na curta vida do homem. Há que
somar muitos minutos, muitas horas, muitos dias, sema
nas, meses, e anos, para perfazer o total do jubileu de
prata. A bondade dos amigos então sempre encontra
belas cousas que enumerar. Podem os 25 anos de casa
mento ter sic!·o antes uma guerra do que uma trégua ou
paz de 25 anos; não importa. Esquecem-se os males e
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102 FREI PEDRO SINZIG O. li'. M.
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O Mf:S DE MARIA E A FOLHINHA 103
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No ano 26 da era cnsta, isto e,
MAIO quando Jesus tinha 26 anos de idade,
J erusalem teve a sua sensação ; foi no
26 meac!·o novo governador romano, o õ.•
da série, Pôncio Pilatos. Não tardaram
todos a saber que era homem severo.
Mais de um motim dos judeus foi aba
fado por ele a sangue.
Tinha Pi'atos jã. a experiência de 7 anos de governo
quando, no ano 33 - era uma sexta feira - os judeu:!>
levaram a seu tribunal o homem mais falado da terra, o
Cristo, que pregava e exigia obel'iência como Filho de
Deus. Aliás, ele provara esta sua qualidade com estu
pendos milagres feitos à vista de todo o povo. Oh!
que desprezo votava Pilatos aos Sumos Pontífices e à
gente deles, elementos invejosos, cubiçosos e orgulhosos
em excesso!
Por duas veses, com intervalo de 10 anos entre uma
e outra vês, tive ocasião de presenciar a célebre Paixão
de Cristo de Oberammergau, na Baviera. Que regalo,
ver Pilatos G·esvendar as intrigas dos inimigos de Je:.us l
Com altivês de ge.Jmino r omano desmascarou ele a trama.
recusou-se a participar da injustiça e proclamou a ino
cência de Jesus. O imenso auditório, composto de milha
res de pessoas de todas as partes do mundo, fremia de
satisfação, vendo esse juiz, com a firmeza e perspicácia
c!'e esgrimista experimentado. Parecia impossível que os
judeus viessem a arrancar de Pilatos a sentença de
morte contra Cristo.
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106 FREI PEDRO SINZIG O. F. M.
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Imaginemos que a Providência d1-
M A I O vina tivesse escolhido a nossa época
27
para a vinda do Messias e a salvação
do mundo. Cristo poC:'eria fal(er seus
milagres, · digamos na Polônia: a cen
sura arranjaria que nada ou quasi nada
chegasse ao nosso conhecimento, nem
mesmo ao dos demais povos europeus. E se fosse na
Dinamarca, na Noruega, na Holanda, . nos Balcans, na
própria Itália. . . os apóstolos poderiam pregar quanto
quizessem, não chegaria ao conhecimento dos outros;
aos poucos a obra morreria de inanição. Censura, pas
saportes, vistos, recusa de permanência, matariam tudo;
A J UG'éia era terra pequenina. E5colhida para berço,
cenário e túmulo do Filho de Deus, era mister que o
próprio Deus criasse as condições para que os fatos
tivessem a maior repercussão possivel no universo conhe
cido.
Esta obra foi feita pela Providência divina e é tão
grande, tão surpreendente, que um sábio ela nossa época,
Franz Meffert, diz: "Deverão saber que, nos dias vin
douros, o combate ao cristianismo já não será feito com
as armas gastas das ciências naturais, mas sim com as
Go arsenal da história da Relegião. A melhor defesa do
cristianismo é a apresentação dos fatos". Outro histo
riador, Johannes von Mueller, completa, dizendo que
a súbita compreensão desta preparação do mundo para
a vin<la de Cristo e a pregação dos apóstolos, foi para
ele como a luz que, no caminho de Damasco, fez do
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110 FREI PEDRO SINZIG O. F. M.
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O MÊS DE MARIA E A FOLHINHA 111
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Nas matas virgens, e algures nas
M A I O fazendas, há árvores macróbias de 200,
28
300 e mais anos. Em compensação há
flores que duram dias apenas. Da tar
taruga afirmam que atinge várias centê
nas de anos, e ao papagaio atribuem a
longevidade ce dois séculos, ao contrário
de certos inseto�, cuja vida se conta por dias ou por
horas. E' evidente, nese caso, que, para estes últimos,
cada minuto vale o que para nós valem dias, semanas,
meses ou até anos.
Os meses alcançam, no máximo, 31 dias. Nenhum
excede, nem em ano bissexto. Cada dia vale, portanto,
muito. Um mês há que, de constituição mais franzina,
sente chegar o fim mais cec!'o. Estando pelos 25, 26 dia!!,
vai definhando. Por mais que se lhe queira aplicar oleo
canforado ou injeções fortificantes, não adianta; à meia
noite do dia 28, morre, e só de 4 em 4 anos sucede-lhe
sobreviver mais 24 horas.
Quanta gente não está no caso de fevereiro! Desa
parece com 28 dias de existência, quanc!·o os colegas todos
chegam a 30 ou 31 . Valerá aquele menos do que os
outros meses? Não, mas tal é a sua sina.
Já não falo das criancinhas que morrem com pou
cos dias ou meses; são o ái-Jesus de suas mães, cujas
lágrimas custam a secar, mas ainda não têm influencra
direta sobre a sociedade. Nem sempre é assim.
Não há muito, uma joven, na flor dos anos, de
família bem situada, assistia a uma �nta Missa em São
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114 FREI PEDRO SINZIG O. F. M.
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O M�S DE MARIA E A FOLHINHA 115
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Aproximamo-nos do íim do mes:
M A I O 29, é o que diz a data de hoje. Faça-
2-9
mos ainca uma vês o que já fizemos
noutra data ( dia 23:) : passemos um
traço horizontal ou oblíquo entre os
dois algarismos, e t_eremos, em lugar· do
elevado 29, apenas uma fração inferior
à unidade: dois nonos. Que redução terrível, a de 29
para 2/9 !. ..
E não é que ela se dá muitas veses na vida? Fulano
está à frente de grand.'e empresa industrial. Surgem
dificuldades, diminuem os lucros, sobem os compromis
sos. Vendem-se títu!os, concluem-se negóci()s pouco van
tajosos, só para dar trabalho à fábrica. Fazem-se ern
prestimos, diminue-se o pessoal. Em vão. Um dia as
porta s são fechadas e lacradas. A fábrica passa a outra�
mãos_ A família do ex-proprietário tem que abandouar
não só os seus automóveis e a assinatura é.a estação
lírica, no Teatro, mas vê-se ohrigada a sair de seu pala
cete, a passar para uma casinha, onde antes talvês jamais
teria entrado. Despede a criadagem, tem que fazer a
limpeza da casa e os sen·iços da casinha, e procura em
pregos indispensaveis para poder viver.
Que redução terrível, de 29 para 2/9, da opulência
para as privações ! Será caso tão raro? Não. Tocl:os nós
conhecemos exemplos, e temos pena da pobre gente que
deu tamanha queda na escala social. Sentimos com eles
que os amigos anteriores se retraiam, que já não os co
nheçam, não os visitem, muito menos os auxiliem; sen-
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118 :!!'REI PEDRO SINZIG O. F. M.
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O MÊS DE MARIA E A FOLHINHA 119
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Os caminhos de Deus são cl.iferen
MAIO tes dos que nós escolhemos. Quando
30
Adão e Eva foram expulsos do Paraiso,
saindo da felicidade para as lágrimas,
para o suor, as fadigas e os desesperos
da vida, Deus lhes leu uma esperança
para o seu doloroso caminho: Uma
mulher, a SS. Virgem, esmagaria a cabeça da serpente,
Satanás. Era a promessa dum Salvador que, dada a imen
sidade da culpa, só podia ser o Imenso, Deus.
E' sabido que os antigos, contanG.'o com o Messias,
e pedindo que a terra o brotasse, as nuvens o chovessem,
faziam dele as mais diferentes idéias. Era comum tê-lo
como restaurador futuro das glórias de Israel, como
valoroso chefe que levaria de roldão os inimigos, fa
zendo os povos se curvarem deante cfo único povo esco
lhido.
Se tivesse havido concurso internacional, para res
ponder à pergunta: "Que fará o Mes!?ias do mundo?",
que respostas desencontradas não teriam surgido! A jul
gar pelos fatos e pela experiência, a maior parte dos ju
deus teria votado por um homem superior que esmagasse
os inimigos para sempre, e erguesse um trôno em Israel
como igual nunca se vira; que fizera com que caê.'a filho
do povo escolhido ficasse rico a mais não poder; feliz,
invejado por todos os povos.
E duvido que houvesse um só que atinasse com a
realidade: a descida de Deus para ser o Messias . . . Esse
pensamento estava demasiaê.amente fora de todo o ai�
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122 FREI PEDRO SINZIG O. li'. M.
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O MÊS DE MARIA E A FOLHINHA 123
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Por mais que encontrássemos assun
MAIO tos devéras simpáticos em analogia com
31
a data de hoje, preponG:era todavia um
pensamento. E' este : de estarmos no
fim, no último dia de Máio, mês de
Maria. Depois de um mês de estadia
nos jardins da Rainha do céu, tornare
mos á. prosa cotidiana Ga vida.
Levaremos para o futur? algum proveito real ?
Oxalá os dias com suas datas continuem recordando-nos
assuntos de nossa alma! Lembro-me nesta ocasião dum
costume talvês medieval que encontrei na Ordem Fran
ciscana. São Francisco foi o primeiro organizador dum
grande presépio vivo. Seus filhos fe:;tejam até hoje o
Natal como festa de família, festa G'e coração, e até
mais : como festa do amor de Deus. Assim é que, nos
conventos onde se reza em comum o oficio divino, na
manhã da vigília, 24 de dezembro, todos deixam o côro
depois do martirológio, indo para o refeitorio. Lá o mais
novo G'os irmãos, se bem que nunca em vida tenha pre
gado, faz um pequeno sermão sobre o Menino Deus.
No noviciado, fui eu o mais moço, com 16 anos de idade.
Encarregaram-me, por isso, do tradicional sermão aos
religiosos, dos quais alguns venerandos em idade. Pre
parei-me e falei o melhor que pude. No fim, sem nenhum
aplauso, tive que ajoelhar-me - costume traGicional
tambem - e pedir perdão por ter falado tão mal sobre
o Menino Deus. E o superior despachou-me com s11a
bênçã(I,
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126 FREI PEDRO SINZIG O. F. :M.
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INDICE
PAG.
1.• - Deus ... Um só Deus .. .. . . 5
2.• - Deus, e eu .. .. .. .. . . .. . . .. 9
-3.0 - Deus uno e trino. - Glori!lcações .. il.3
4.0 - O que nos contam os Evangelistas .. 17
5.0 - Os dedos da mão. - Mãos perfuradas 21
,6.• - Os dias uteis .. . . . . .. .. .. .. . . 26
'/.• - O.s sacramentos .. . . .. . . .. .. 29
8.0 - A música dos sinos . . .. 33
9.0 - A hora da morte de Jesus .. .. 37
.10.• - ''Demo!selles d'honneur" .. .. . . 41
11.• - Como transformar pouco em muito .. 45
12.0 - Escolhlidos :por Cristo .. 49
13.0 - O que não é superstição 53
14.• - O caminho da cruz 57
15.• - Um mistério .. 61
16. • - Cem por um .. . . 65
17.• - "Sái, azar!" .. .. 69
18.• - Carreira brilhante, mas. .. . . . . 73
19.0 - "Alfa" e "omega" .. .. .. .. .. 77
20.• - No século das luzes .. .. .. .. .. .. 81
21.0 - Novos direitos .. .. .. 85
22. • - Sempre na Unha .. .. .. .. 89
23.0 - Uma lei de brasilidade . . . . 93
24.• - Disparada vertiginosa. .. .. . . 97
25.0 - Jubileo de prata .. .. .. .. 101
26. • - Mar de sangue .. .. .. .. 105
27.• - Um governo, - uma lingua, - paz .. 109
28.0 - Fim prematuro . . . . . . .. . . . . . . 113
29. • - Do aJto para o abismo .. .. . . 117
30.• - Vida oculta . . .. .. .. .. .. . . 121
31.0 - A mais bela das certezas 125
Epilogo .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 129
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