MONOGRAFIA
MONOGRAFIA
MONOGRAFIA
Curitiba
2022
1
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................. 3
CAPÍTULO I - SECULARIZAÇÃO E LAICIDADE: ASPECTOS GERAIS ....... 5
IGUALDADE ................................................................................................ 7
......................................................................................................................... 22
2
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objetivo realizar uma análise referente ao direito
de liberdade religiosa, sabendo-se que esta foi consagrada como um direito
fundamental do indivíduo, analisando a postura do Estado enquanto laico sobre esse
direito.
Analisaremos como ocorreu o processo de concessão do direito à liberdade
religiosa ao indivíduo, estando essa questão diretamente ligada a história do país em
que vivemos e seu desenvolvimento ao longo dos anos.
Incialmente, no capitulo I, é tratado a imposição religiosa que ocorre no brasil
devido a colonização portuguesa. Passando para o processo de secularização, que
se deu a separação do estado e da igreja, o como no brasil isso ocorreu logo após a
proclamação da independência, na constituição de 1824, onde foi também instituído
um princípio de liberdade religiosa. também é abordado a questão como a questão da
intolerância religiosa ficou cada vez mais evidenciado com a possibilidade de um
pluralismo religioso. Passando para o ponto da laicidade estatal e de como o estado
deve manter um posicionamento de neutralidade.
3
Próximo, no capítulo seguinte, passasse a ser tratado a religião e da liberdade
religiosa, passando a apontar um conceito do que significa esse direito e como fora
assegurado o título de direito fundamental, a previsão normativa desse direito e como
foi se desenvolvendo conforme a promulgação de diferentes constituições e
finalmente seus limites.
4
CAPÍTULO I - SECULARIZAÇÃO E LAICIDADE: ASPECTOS GERAIS
1
NOGUEIRA, Lísias Negrão. PLURALISMO E MULTIPLICIDADES RELIGIOSAS NO BRASIL
CONTEMPORÂNEO Lísias Nogueira Negrão. Artigo recebido em 10 abr. 2008 e aprovado em 6 jun.
2008.
2
Ibid., p. 262
5
Apesar de ainda haver uma religião oficial no país na época, houve, com a
vinda da família real veio para o Brasil, um relaxamento quanto a proibição de cultos
que não fossem católicos em solo brasileiro, sendo permitido a realização de cultos
voltados ao protestantismo, desde de que não pregassem blasfêmias contra a religião
oficial.
Com o acontecimento da proclamação da república, foram-se criando melhores
condições para que existisse uma sociedade laica e pluralista, na qual não se tinha
mais uma relação do estado com a igreja.
3
BERGER, Peter. O dossel sagrado: elementos para uma teoria sociológica da religião. São Paulo:
Paulus. 1985. P. 119
6
para a religião considerada oficial, no caso o catolicismo, ficando garantido ao
indivíduo uma liberdade de crença e de culto.
Apesar de haver uma liberdade de religião e de culto, as religiões descendentes
de cristo continuam vigente e com força na atualidade, onde muitas vezes os
dirigentes de centros religiosos propagam discursos que oprimem e deterioram
religiões diferentes daquela que fazem parte, como as religiões de origem africana.
Um exemplo que pode ser apontado deste tipo de ataques são os discursos
feitos pela Igreja Universal do Reino de Deus. Escreveu Ricardo Mariano:
Há uma tentativa por parte do estado de punição, por meio de sanções, a esses
que propagam esses discursos, entretanto mesmo que ocorra uma condenação a
líderes religiosos, estes ainda impõe suas crenças sobre aqueles que os seguem,
impondo que sua crença é a única viável a ser seguida e aqueles que não optam por
seguir os dogmas impostos por ele sofre uma pressão e represália de tamanha
proporção que não conseguem aguentar a pressão e sedem ao que estão tentando
impor ou mesmo sofre intolerância.
4
Texto apresentado por MARIANO, Ricardo. Pentecostais em ação: a demonização dos cultos afro-
brasileiros. In: Silva, Vagner Gonçalves da (org). Intolerância Religiosa: Impactos do
neopentecostalismo no campo religioso afro-brasileiro. São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo. P. 135
7
A religião pode fazer parte da vida, da identidade de um indivíduo, podendo
esta ditar como irão acontecer muitos aspectos de seu cotidiano e também auxiliar em
sua perspectiva moral, social e até mesmo política da vida.
Assim como a religião sempre esteve presente, a intolerância também pode ser
constatada como presente desde muito tempo dentro da sociedade, podendo ser
comprovada através de registros e relatos de eventos de intolerância, desrespeito e
até mesmo perseguições que ocorreram através da história, tendo esses fatos
ocorrido por diversos motivos, inclusive religiosos, podendo ser citado como exemplo
o caso de Jesus, que foi acusado e condenado por não seguir as regras do judaísmo5.
No Brasil pode-se dizer que a questão da intolerância teve início com a vinda
dos portugueses e junto deles o catolicismo que eles trouxeram e impuseram sobre
os que aqui habitavam, não tolerando que cultos de religiões diferentes da deles
ocorressem. Alexandre Brasil Fonseca e Clara Jane Adad falam que
5
Bíblia Sagrada Almeida Século 21: Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2008.
Evangelho de João, capítulos 18 e 19.
6
Relatório sobre intolerância e violência religiosa no Brasil (2011- 2015): resultados preliminares /
Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos ; organização,
Alexandre Brasil Fonseca, Clara Jane Adad. – Brasília: Secretaria Especial de Direitos Humanos,
SDH/PR, 2016.
8
como sendo crime essas atitudes intolerantes, tendo por sua finalidade a tentativa de
diminuir o número de indivíduos que sofrem ataques por questões religiosas e assim,
possam seguir sua religião sem o medo constante de sofrer opressão. Luciano
Odebrecht relata que
[...] essa liberdade de culto e crença tem sido desrespeitada até os dias
atuais, seja de forma explicita ou de forma velada. A intolerância religiosa,
assim como a discriminação de raça, origem, estética, econômica, entre
outras existe até os dias de hoje, inclusive no Brasil; até porque o ser humano
sempre quer prevalecer sobre o outro humano, não existindo a figura do “bom
selvagem”, e sim, a necessidade de se ensinar e aprender a respeitar o outro,
uma vez que os freios inibitórios são colocados através de uma educação
voltada para a tolerância, igualdade e solidariedade.7
7
ODEBRECHT, Luciano. Liberdade Religiosa. Londrina: Redacional Livraria, 2008. P.46
8
LOCKE, John. Carta sobre a tolerância. Lisboa: Edições 70, 1965, p. 10
9
referiase, pois, ao comportamento do superior em relação ao inferior,
conotação ainda presente em muitos dicionários. Este sentido de tolerância
expressa a ideologia do conquistador e colonizador europeu em seu projeto
de dominação universal. Assim, tolerância está ligada à atitude de admitir
algo ou alguém fora do paradigma, da regra. 9
Assim sendo, a tolerância pode não ter um conceito propriamente definido, vez
que o entendimento do que se trata esse ato muda seu conceito de acordo com o
entendimento trazido por diferentes autores. Entretanto, uma informação que pode ser
tratado como comum dentro os diferentes conceitos produzidos, é de a tolerância
sempre vai se tratar de uma busca por um respeito a liberdade individual do ser, uma
vez que ela é importante para o convívio e manutenção da paz, já que se se existem
diferentes religiões e todas partem do mesmo princípio, que é o princípio da igualdade.
9
CARDOSO, Clodoaldo Meneguello. Fundamentos para uma educação na diversidade. Disponível
em:https://acervodigital.unesp.br/bitstream/unesp/155243/3/unespnead_reei1_ee_d01_s02_texto01.p
df. 9 ANDRADE, Marcelo. Tolerar é pouco?: Pluralismo, mínimos éticos e prática pedagógica. Rio de
Janeiro: Nova América, 2009., p. 186.
10
ANDRADE, Marcelo. Tolerar é pouco?: Pluralismo, mínimos éticos e prática pedagógica. Rio de
Janeiro: Nova América, 2009
11
FORST, Rainer. Os limites da tolerância, Novos estudos - CEBRAP, São Paulo, 2009. p. 18.
Disponível em:
https://www.scielo.br/j/nec/a/qn3hSHZzYJdr6tv9Xq44spG/?format=pdf&lang=pt
10
Disposto no artigo 5° 12 ,caput, da constituição federal de 1988, esse artigo
aclara a posição de igualdade de todos perante a lei. Portanto, resta garantido que o
Estado não poderá distinguir as pessoas entre si, assegurando-lhes suas liberdades
e direitos de igual maneira e magnitude.
Canotilho diz que “O princípio da igualdade, no sentido de igualdade na própria
lei, é um postulado de racionalidade prática: para todos os indivíduos com as mesmas
características devem prever-se, através da lei, iguais situações ou resultados
jurídicos.” 13
Assim, tratando-se de um princípio fundamental, o Estado deve zelar por este
princípio, garantindo que este seja aplicado tanto na esfera particular quando na
esfera social do indivíduo.
Dentro do âmbito da liberdade religiosa, o princípio da igualdade tem um dever
de proteção para com as minorias religiosas frente ao poder das maiorias, visando
amparar essas minorias das desigualdades existentes e afastar do sistema jurídico,
não com a finalidade de eliminar toda e qualquer diferença que existe entre estes
indivíduos, mas sim tentar manter e preservar as diferenças culturais, de forma que
consiga também manter a tolerância e a manutenção da paz.14
Apesar de existir o princípio da igualdade dentro da liberdade religiosa, esta
deve ser tratado de maneira a respeitar toda doutrina e costumes de todas as religiões,
de maneira que se tratar de uma, esta não prejudique outra.
A Assembleia Geral das Nações Unidas, sobre os assuntos, adotam os
seguintes posicionamentos: sobre a igualdade “Nenhum indivíduo ou nação deve ser
privado da possibilidade de se beneficiar do desenvolvimento. A igualdade de direitos
e de oportunidades entre homens e mulheres deve ser garantida.” 15 . Sobre a
tolerância
12
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
13
CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 7ª ed.
(reimpressão). Coimbra: Almedina, 2003, pg. 426/427
14
ODEBRECHT, Luciano. Liberdade Religiosa. Londrina: Redacional Livraria, 2008.
15
A Assembleia Geral das Nações Unidas, Declaração da Cúpula do Milênio das Nações Unidas.
Acesso em
>https://crianca.mppr.mp.br/pagina 407.html#:~:text=Aprovada%20na%20C%C3%BApula%20do%2
0Mil%C3%AAnio,de%20sempre%20 de%20dirigentes%20mundiais.<
11
Os seres humanos devem respeitar-se mutuamente, em toda a sua
diversidade de crenças, culturas e idiomas. Não se devem reprimir as
diferenças dentro das sociedades, nem entre estas. As diferenças devem,
sim, ser apreciadas como bens preciosos de toda a humanidade. Deve
promover-se ativamente uma cultura de paz e diálogo entre todas as
civilizações.”16
16
Assembléia Geral das Nações Unidas, Declaração da Cúpula do Milênio das Nações Unidas. Op.
Cit.
17
Santos, Michel Ferrari Borges dos. A configuração constitucional do direito fundamental à liberdade
religiosa e do princípio da laicidade: uma análise pautada na jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal / Michel Ferrari Borges dos Santos. – Joaçaba: Editora Unoesc, 2020, P.25
18
Art. 5. A Religião Catholica Apostolica Romana continuará a ser a Religião do Imperio. Todas as
outras Religiões serão permitidas com seu culto domestico, ou particular em casas para isso
destinadas, sem fórma alguma exterior do Templo. 17 MIRANDA, Jorge. Estado, liberdade religiosa e
laicidade
19
MIRANDA, Jorge. Estado, liberdade religiosa e laicidade.
20
Decreto n. 119-A, de 1890. Proíbe a intervenção da autoridade federal e dos Estados federados em
matéria religiosa, consagra a plena liberdade de cultos, extingue o padroado e estabelece outras
providências. (BRASIL, 1890a).
12
O Estado Brasileiro tornou-se desde então laico, ou não confessional. Isto
significa que ele se mantém indiferente às diversas igrejas que podem
livremente constituir-se, para o que o direito presta a sua ajuda pelo
conferimento do recurso à personalidade jurídica21.
21
BASTOS, Celso Ribeiro e MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil – volumes
1 e 2. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2001. P. 336
22
SANTOS JUNIOR. A Liberdade de Organização Religiosa e o Estado Laico Brasileiro. 2007. P. 63
23
Frosi, Julio Cesar. Liberdade religiosa e a teoria da justiça de John Rawls / Julio Cesar Frosi. –
Joaçaba: Editora Unoesc, 2017. – (Série Dissertações e Teses, v. 12). P. 91
24
BRÉCHON, Pierre. Institution de la laïcite ete dechristianion de la société française. P.1. Tradução
Ingrid Fonseca. Acesso em 01 outubro 2022. Acesso em 01 de outubro de 2020. Disponível em:
https://journals.openedition.org/cemoti/1687 <
13
para que estes possam afirmar e promover seus valores que lhe servem de base,
conforme diz Machado. 25.
Assim, diante da óptica de Machado, fica estipulado ao Estado o dever de não
determinar nada sobre qualquer que seja a religião ou mesmo negar sua existência,
a fim de não influenciar os cidadãos, garantindo a estes a liberdade de exercício de
crença26. Quanto a neutralidade do Estado, Schmitt afirmava que
O Estado ao ser laico e assumir uma postura de neutralidade, não assume, por
consequente, uma postura de antirreligiosidade, pois este assegura ao cidadão o
direito de exercer sua liberdade de religião, seu direito de culto e até mesmo assegura
a tolerância religiosa entre as religiões, de maneira equivalente a todos. 29
O princípio da laicidade varia de acordo com o país, gerando a necessidade do
esclarecimento do que deve ser entendido por separação e laicidade, pois existem
países onde o Estado e a religião não são separados de maneira formal, entretanto,
quando se refere a forma política, estes baseiam-se na soberania popular e não a
partir de doutrinas religiosas. Assim sendo, um país sendo formalmente separado não
25
MACHADO, Jónatas E. M. Estado Constitucional e Neutralidade Religiosa: entre o teísmo e o
neo(ateísmo). 1ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2013.
26
MACHADO, 2013. Op. Cit.
27
SCHMITT, Carl. O conceito do político. 1. ed. Petrópolis, Vozes, 1992. P. 124
28
PINZANI, A. Estado laico e interferência religiosa. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, v.14, Pg. 294
29
SANTOS, Michel Ferrari Borges dos. A configuração constitucional do direito fundamental à liberdade
religiosa e do princípio da laicidade: uma análise pautada na jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal
14
implica que este seja laico, assim como, pode vir a ser laico sem que esteja
expressamente o Estado e a religião, sendo isso feito através de uma clausula
chamada “clausula de separação”. 30
Este princípio tem como fundamento principal garantir o direito de liberdade
religiosa, e conforme o local de que se refere, este irá ser tratado conforme a
institucionalização do local e suas concepções.31
Quando tratado este tema na Constituição Federal Brasileira atual, está
estipulado no artigo 19 e incisos32 sobre a função do estado em se manter neutro, a
fim de se ter uma proteção os direitos de liberdade religiosa, tratando a laicidade como
princípio.
Para que se houvesse a construção da laicidade como princípio, necessitou-se
que houvesse o estabelecimento de algumas diretrizes. Segundo Huaco, ao aplicar
os direitos de religião, deve ser feito de maneira harmônica com os valores e os
princípios fundamentais da constituição. Devendo, em caso de os direitos de religião
entrar em conflito com algum direito fundamental, o operador de direito oferecer
alguma solução a fim de solucionar o problema, de forma que favoreça estes.33
O estado enquanto laico deve prezar pela sua neutralidade, não se envolvendo,
sem a devida necessidade, em questões envolventes quanto a liberdade de religião e
os direitos que advém desta.
Entretanto, o Estado pode produzir medidas necessárias em se tratando de
proteger os direitos dos cidadãos, inclusive tem capacidade para interferir na questão
da liberdade religiosa quando, se fazendo utilizar deste direito, indivíduos prejudicam
ou ameaçam a segurança pública, como diz Alexy.34
30
SANTOS, 2020 Op. Cit.
31
SANTOS. 2020, ibid.
32
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: I - estabelecer cultos
religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus
representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de
interesse público; II - recusar fé aos documentos públicos; III - criar distinções entre brasileiros ou
preferências entre si.
33
HUACO, Marcos. A laicidade como princípio constitucional do Estado de Direito. In: LOREA, Roberto
Arriada (org.); ORO, Ari Predo et al. Em Defesa das Liberdades Laicas. Porto Alegre: Livraria do
Advogado Editora, 2008. Cap. 2, p. 33-80
34
ALEXY, Robert. Colisão de Direitos Fundamentais e Realização de Direitos Fundamentais no
15
Soriano esclarece que as atitudes que tenham por objetivo uma ilicitude
atentatória contra a liberdade de terceiro, à ordem e à segurança pública, é passível
uma intervenção na intenção de coibir.
O autor ainda completa dizendo que o Estado, quando referido a religião, deve
manter seu status de laicidade, não devendo portanto, dizer o que é certo e o que é
errado, devendo somente se ater ao combate de abuso do direito de liberdade, se
atendo para que não inviabilizar a legitimidade quanto ao direito de liberdade
religiosa35.
Com base nos entendimentos modernos, a religião pode ser entendida como
uma coisa independente, que tem uma ligação ao social e psicológica com o sujeito,
detento sua própria estrutura36.
A liberdade, direito que é fundamental ao homem, adquiriu sua existência
baseada na capacidade pensante do homem.
A partir desse pensamento, a religião é considerada uma forma de consciência,
a liberdade religiosa é uma forma de se expressar essa consciência, podendo cada
um de forma individual escolher qual vai seguir com base em seus valores de crença,
pois mais que abranger somente o direito de culto, essa liberdade alcança o direito de
crenças religiosas, a liberdade para se reunir em prol da religião e também a
associação/ organização religiosa 37 . Ao falar das modalidades de liberdade, Júlio
Cesar Frosi fala que
Estado Democrático de Direito. Luis A. Heck (trad.), Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, Vol.
17, 1999. p. 203-214. apud WEINGARTNER NETO, Jayme. Liberdade Religiosa na Constituição:
fundamentalismo, pluralismo, crença, cultos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. p. 193
35
SORIANO, Aldir Guedes. Liberdade Religiosa no Direito Constitucional e Internacional. São Paulo:
J. de Oliveira, 2002
36
Gaarder, Jostein, 1952- O livro das religiões / Jostein Gaarder, Victor Hellern, Henry Notaker ;
tradução Isa Mara Lando ; revisão técnica e apêndice Antônio Flavio Pierucci. — São Paulo:
Companhia das Letras, 2000. P.
37
Frosi, Julio Cesar. Liberdade religiosa e a teoria da justiça de John Rawls. P. 47
16
liberdade de descrença, o agnosticismo e a liberdade de ser ateu; b) a
liberdade de culto diz respeito à exteriorização do sentimento sagrado, de
praticar os ritos, orar em casa ou em público, e ter seus templos; c) a
liberdade de organização refere-se a possibilidade de uma determinada
religião ter uma estrutura organizacional, inclusive de personalidade jurídica,
até para suas relações com o Estado.38
Ainda, pelo direito a religião ser tratado como um direito fundamental, está
constante a hipótese da colisão de direitos, situação na qual Luciano Odebrecht fala
“[...] havendo colisões de direitos, deve prevalecer o princípio da razoabilidade e da
proporcionalidade para a solução do caso em concreto, mas usualmente, deve se
atribuir a mais ampla e possível liberdade para a pratica do ritual religioso”.41
38
Frosi, Julio Cesar. Liberdade religiosa e a teoria da justiça de John Rawls. P .60
39
MÜLLER, Friedrich. Metodologia do Direito Constitucional. 4. ed. São Paulo: RT, 2010 apud
ALEXY, 2006, p. 78
40
MÜLLER, Friedrich. 2010, Op. Cit. P. 78
41
ODEBRECHT, Luciano, 2008, ibid. 119
17
2.2 – PREVISÃO NORMATIVA DA RELIGIÃO E DA LIBERDADE RELIGIOSA
NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO
42
RIBEIRO, Milton. Liberdade religiosa: uma proposta para debate. São Paulo: Mackenzie, 2002.
P.9
43
REIMER, Haroldo. Liberdade Religiosa na História e nas Constituições do Brasil. São Leopoldo:
Oikos, 2013. P. 57
18
questão da inviolabilidade da liberdade de consciência e de crença, o livre exercício
dos cultos religiosas, e o reconhecimento do casamento religioso.44
As outras constituições, assim como a emenda constitucional de 69,
mantiveram com a seguridade do direito de liberdade religiosa, assegurando o direito
de culto e da liberdade de consciência.
Referente a constituição federal de 1988, a atual constituição vigente, Moraes
diz que “A conquista constitucional da liberdade religiosa é verdadeira consagração
de maturidade de um povo”.45
Portanto, na constituição de 1988 já se tem uma total separação do estado e
da igreja, assim como é impedido ao estado privilegiar alguma religião em especifico,
pois o Brasil agora se trata de um país laico. Passou também a liberdade religiosa a
fazer parte do rol do artigo 5°, que trata dos direitos fundamentais, sendo assegurado
o direito do indivíduo o livre exercício de culto, a proteção dos locais de culto.
Machado descreve que, a liberdade religiosa tratada na Constituição Federal
de 1988, será um tema que deve ser abordado visando os valores constitucionais de
uma ordem livre, plural e democrática46, assim como também os princípios dispostos
no artigo 1°, incisos II, III e V.47
Santos diz que não se deve, a liberdade religiosa, fazer-se valer de uma
“verdade religiosa”, para que possa ser melhor analisado a questão da
igualdade de liberdade concedida a cada indivíduo, fazendo esses o direito de
escolher um dogma religioso para si e segui-lo. 48
Ainda no tocante, Leite elucida uma dificuldade quanto a interpretação do
direito fundamental a liberdade religiosa perante os direitos fundamentais, pois existe
uma problemática quanto a inclusão de religiões que não são fiéis aos dogmas de
uma religião majoritária. 49
44
MANGUEIRA, Hugo Alexandre Espínola. Acordo Brasil-Santa Sé: uma análise jurídica. João Pessoa:
Ed. Universitária UFPB, 2009
45
Moraes, Alexandre de. Direito Constitucional. 12. ed. – São Paulo: Atlas, 2002, p. 73.
46
MACHADO, Jónatas Eduardo Mendes. Liberdade religiosa numa comunidade constitucional
inclusiva: dos direitos da verdade aos direitos do cidadão. Coimbra, Portugal: Coimbra Editora, 1996.
47
1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...]. II - a
cidadania III - a dignidade da pessoa humana; [...]. V - o pluralismo político. [...]
48
Santos, Michel Ferrari Borges dos. A configuração constitucional do direito fundamental à liberdade
religiosa e do princípio da laicidade: uma análise pautada na jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal / Michel Ferrari Borges dos Santos. – Joaçaba: Editora Unoesc, 2020
49
LEITE, Fábio Carvalho. Estado e religião: a liberdade religiosa no Brasil. Curitiba: Juruá, 2014,
19
Santos complementa dizendo que deve ser utilizado do princípio da dignidade
da pessoa humana “como valor jurídico-político na interpretação do direito
fundamental à liberdade religiosa de forma a se olhar para religiões minoritárias sob
uma perspectiva inclusiva e empática”.50
Quanto a essa empatia que deve existir, Michel Ferrari Borges dos Santos diz:
A constituição federal acaba por vedar que ocorra por parte do Estado um
favorecimento de uma religião em detrimento das outras, pois o indivíduo possui o seu
direito a liberdade religiosa. Santos Junior diz sobre a não possibilidade de privilegiar
uma religião em detrimento da outra, pois caso aconteça, ocorre um ferimento quanto
a igualdade quanto a expressão da crença do indivíduo52.
No tocante a aplicabilidade dos direitos fundamentais contidos no artigo 5° da
Constituição Federal, aplicabilidade que se da de forma imediata. Steinmetz afirma
ser imediata a aplicabilidade do direito de liberdade por se tratar de uma relação entre
particulares 53 . Ainda sobre esta questão, Santos complementa que “o direito
fundamental à liberdade religiosa vincula os particulares mesmo sem a existência de
norma de direito ordinário que o discipline.54”
Além de ser um direito que tem como característica a aplicabilidade imediata,
também faz-se valer de outras como a capacidade de vinculação entre entidades
públicas e privadas, o procedimento para uma possível restrição a esse direito tem
um procedimento dificultoso55, dentre outras.
50
Santos, Michel Ferrari Borges dos. A configuração constitucional do direito fundamental à liberdade
religiosa e do princípio da laicidade: uma análise pautada na jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal / Michel Ferrari Borges dos Santos. – Joaçaba: Editora Unoesc, 2020
51
Santos, Michel Ferrari Borges dos, op. cit. P. 57
52
SANTOS JUNIOR, Aloísio Cristovam dos. A Liberdade de Organização Religiosa e o Estado Laico
Brasileiro. São Paulo: Mackenzie, 2007
53
STEINMETZ, Wilson. A vinculação dos particulares a direitos fundamentais. São Paulo: Malheiros,
2004
54
Santos, 2020, op. Cit
55
MACHADO, Jonatas Eduardo Mendes. Liberdade religiosa numa comunidade constitucional
inclusiva,
20
O direito a liberdade de religião vincula diversos direitos a ele elencados, e
sobre essa perspectiva de diversidade de funções, HESSE diz:
56
HESSE, Konrad. Elementos de direito constitucional da república federativa da Alemanha. P. 298-
299
57
TERAOKA, Thiago Massao Cortizo. A liberdade Religiosa no Direito Constitucional Brasileiro. 2010.
Tese de Doutorado em DIREITO – Universidade de São Paulo (FDUSP), 2010.
21
i) A de estabelecer e manter comunicações com indivíduos e
comunidades sobre questões de religião ou convicções no âmbito nacional
ou internacional
58
ADRAGÃO, Paulo Pulido. A Liberdade Religiosa e o Estado. Coimbra: Livraria Almedina, 2002. P.
90-92
59
WEINGARTNER NETO, Jayme. Liberdade Religiosa na Constituição: fundamentalismo, pluralismo,
crença, cultos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.
60
Santos, Michel Ferrari Borges dos. A configuração constitucional do direito fundamental à liberdade
religiosa e do princípio da laicidade: uma análise pautada na jurisprudência do Supremo Tribunal
Federa. 2020.
22
caso concreto que levaram os dois princípios a colidirem entre si, ficando um dos
princípios por ceder espaço para que o outro.61
Michel Ferrari Borges dos Santos quanto a esta teoria chegou à conclusão de
que
61
STEINMETZ, Wilson. 2004, ibid.
62
Santos, Michel Ferrari Borges dos. 2020. op. cit;
63
WEINGARTNER NETO, Jayme. Liberdade religiosa na Constituição: fundamentalismo, pluralismo,
crenças, cultos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.
64
ALEXY, Robert. Colisão de Direitos Fundamentais e Realização de Direitos Fundamentais no
Estado Democrático de Direito. Luis A. Heck (trad.), Revista da Faculdade de Direito da UFRGS, Vol.
17, 1999. p. 203-214. apud WEINGARTNER NETO, Jayme. Liberdade Religiosa na Constituição:
fundamentalismo, pluralismo, crença, cultos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.
65
Santos, Michel Ferrari Borges dos. A configuração constitucional do direito fundamental à liberdade
religiosa e do princípio da laicidade: uma análise pautada na jurisprudência do Supremo Tribunal
Federa. 2020.
66
Santos, Michel Ferrari Borges dos. A configuração constitucional do direito fundamental à liberdade
religiosa e do princípio da laicidade: uma análise pautada na jurisprudência do Supremo Tribunal
Federa. 2020.
23
Weingartner Neto alega que as limitações feitas frente ao direito fundamental à
liberdade religiosa resultam da leitura feita pelo legislador do teto constitucional em
um “quadro de concretização” 67 . Também elucida a importância da haver uma
harmonia entre os valores e princípios, dizendo que
Por fim, Michel Ferrari diz sobre as limitações feitas ao direito de liberdade
religiosa
67
WEINGARTNER NETO, Jayme. Liberdade religiosa na Constituição: fundamentalismo, pluralismo,
crenças, cultos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.
68
WEINGARTNER NETO, Jayme. 2007. Op. Cit. P.198
69
Santos, Michel Ferrari Borges dos. A configuração constitucional do direito fundamental à liberdade
religiosa e do princípio da laicidade: uma análise pautada na jurisprudência do Supremo Tribunal
Federa. 2020. P.110/111
70
SORIANO, Aldir Guedes. Direito à liberdade religiosa sob a perspectiva da democracia liberal. In:
SORIANO, Aldir; MAZZUOL1, Valério (Org.). Direito à liberdade religiosa: desafios e perspectivas
para o século XXI, Belo Horizonte: Editora Fórum, 2009.
24
Assim, os limites da liberdade religiosa devem ser confrontados frente aos
demais direitos previstos na constituição federal e o caso concreto.
Nas discussões sobre a amplitude dos direitos e princípios que determinam que
o Brasil seja considerado um país laico, pode-se encontrar algumas controvérsias em
determinados assuntos quando se trata da liberdade religiosa, como por exemplo o
ensino religioso em escolas públicas, o sacrifício religioso de animais ou o uso de
símbolos religiosos dentro de espaços públicos, pois não se tem uma maneira fácil de
determinar os limites dessas ações e determinar a possível interferência do Estado.
Por tal motivo, será abordado cada questão separadamente, na tentativa de obter um
melhor esclarecimento sobre tais assuntos.
71
CHEHOUD, Heloísa Sanches Querino. A liberdade religiosa nos Estados Modernos. 2. ed. São
Paulo: Almedina, 2017. pag.112.
72
Giumbelli, Emerson. A presença do religioso no espaço público: modalidades no Brasil, 2008
25
A norma do ensino religioso deve guardar rigorosa obediência e sintonia com
os limites e termos da laicidade estatal pelo que a adoção da norma
infraconstitucional que permitiu o financiamento público do ensino religioso,
bem como a ingerência estatal nesta área (Lei nº 9.475/97)117 afigura-se
irremediavelmente inconstitucional. 73
Assim, o autor entende que deve partir da escolha do aluno cursar ou não tal
matéria, sendo oferecida de maneira facultativa, conforme prevê o artigo 210, § 1º da
constituição federal, que dispõe que
Com o intuito de analisar a forma como o ensino religioso seria ministrado nas
instituições de ensino público de modo a não se ter um caráter confessional, foi
instaurada Ação Direta de Inconstitucionalidade de número 4.439, sendo analisada
pelo Supremo tribunal Federal, tendo os dispositivos da lei de Diretrizes e Bases da
75
Educação como o objeto de controle de constitucionalidade.
A lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n° 9.349/ 1996,
regulamenta a facultatividade do ensino religioso em escolas públicas brasileiras no
ensino fundamental. Em seu texto original, o artigo 33 de tal lei, que antes determinava
que seria ministrado o ensino religioso de maneira confessional ou interconfessional,
sendo essas aulas ministradas por aqueles que detinham credenciais advindas da
igreja.76
73
SILVA JÚNIOR, Hédio. A liberdade de crença como limite à regulamentação do ensino religioso.
Doutorado em Direito, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2003 69 BRASIL.
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
74
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
75
Santos, Michel Ferrari Borges dos. A configuração constitucional do direito fundamental à liberdade
religiosa e do princípio da laicidade: uma análise pautada na jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal / Michel Ferrari Borges dos Santos. – Joaçaba: Editora Unoesc, 2020.
76
art. 33 - O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários 25 normais das
escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem ônus para os cofres públicos, de
acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou por seus responsáveis, em caráter: I -
Confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou do seu responsável, ministrado por
professores ou orientadores religiosos preparados e credenciados pelas respectivas igrejas ou
entidades religiosas;
II - interconfessional, resultante de acordo entre as diversas entidades religiosas, que se
responsabilizarão pela elaboração do respectivo programa."
26
Entretanto, posteriormente houve alteração na redação do artigo 77. A lei 9.475/
1997 determinou a respeito da diversidade cultural religiosa do brasil, sendo
vedado a conversão de alunos a certas causas ou religiões, passando as aulas a
serem ministradas por professores aptos através de remuneração.
Com o intuito de obter uma melhor resolução para a Ação direta de
inconstitucionalidade proposta pela Procuradoria Geral 78, vez que o assunto que está
sendo versado engloba diferente nichos, foi promovido uma audiência pública
buscando um diálogo entre sociedade e Corte, dialogo este que teve como resultado
uma concordância, por parte da maioria, ao discurso feito dela Procuradoria Geral.
A partir dos votos proferidos pelos ministros do Supremo tribunal Federal, que
se deram, principalmente, resguardando os fundamentos da laicidade e do direito
fundamental à liberdade religiosa, Michel Ferrari Borges dos Santos conclui que
77
Art. 33 - O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formação básica do
cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental,
assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de
proselitismo.
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dos conteúdos do
ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissão dos professores. § 2º Os
sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída pelas diferentes denominações religiosas, para
a definição dos conteúdos do ensino religioso
78
Busca, por meio de métodos educacionais que englobem diferentes religiões, a adoção do modelo
de ensino religioso não confessional.
79
Santos, Michel Ferrari Borges dos. A configuração constitucional do direito fundamental à liberdade
religiosa e do princípio da laicidade: uma análise pautada na jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal / Michel Ferrari Borges dos Santos. – Joaçaba: Editora Unoesc, 2020. P. 128
27
escolar, igualmente ao ensino religioso, deverão merecer, da parte da escola
para os pais ou alunos, a devida comunicação, a fim de que estes possam
manifestar sua vontade perante uma das alternativas. Este exercício de
escolha, então, será um momento importante para a família e os alunos
exercerem conscientemente a dimensão da liberdade como elemento
constituinte da cidadania.”80
Assim sendo, tem-se que o ensino religioso ser facultativo é uma maneira de
tentar não ofender o princípio da laicidade.
80
CURRY, Carlos Roberto Jamil. Ensino Religioso na Escola Pública: o retorno de uma polêmica
recorrente. Revista Educação brasileira. Acesso em 25 de setembro de 2022. Disponível em >
https://doi.org/10.1590/S1413-24782004000300013 <
81
DE LIMA, Kellen Josephine Muniz; DE MATOS OLIVEIRA, Ilzver. Liberdade religiosa e a polêmica
em torno da sacralização de animais não-humanos nas liturgias religiosas de matriz
africana/Religious freedom and the controversy around sacralization of non-human animals in liturgies
of african-rooted religions. Revista Brasileira de Direito, v. 11. P. 102. Acesso em 25 de setembro de
2022. Disponível em > http://www.pos.imed.edu.br/index.php/revistadedireito/article/view/833 <
82
MANCINI, Fernanda Ferreira. Liberdade religiosa: questões polêmicas da atualidade. Curitiba:
Universidade Tuiuti do Paraná, 2013
83
Santos, Michel Ferrari Borges dos. A configuração constitucional do direito fundamental à liberdade
religiosa e do princípio da laicidade: uma análise pautada na jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal, 2020.
28
No âmbito Brasileiro, são recorrentes os projetos de lei que afetam as práticas
de cultos de matriz africana, muitas vezes gerando uma mobilização das comunidades
afrorreligiosas no âmbito político e social dizem Carvalho e Scuro84.
O início ao debate sobre o assunto se deu no estado do Rio Grande do Sul,
fazendo-o chegar até o Supremo Tribunal Federal.
Propondo a criação de um de um Código Estadual de Proteção aos Animais, o
deputado estadual e também pastor evangélico Manoel Maria dos Santos apresentou
este projeto de lei em 2003.
Em uma primeira versão, o projeto de lei declarava a proibição da realização
de cerimonias religiosas que envolvessem o uso de animais, conforme texto do artigo
2° do projeto de lei n° 447/1991, que foi inicialmente apresentado. 85
A redação de tal projeto acabou elencando debates nos meios afrorreligiosos
e afropolíticos, vez que o texto do projeto fazia menção a “cerimonias religiosas” e
“feitiços”, deixando claro o objetivo de atingir religiões de matrizes africanas, pois
estas são praticantes de tais cultos e utilizando-se do sacrifício de animais. A partir
disso, o deputado autor de tal projeto ficou obrigado a alterar o texto, tendo que redigir
uma nova versão do artigo.86
Após alterado, o artigo passou a ter o seguinte teor:
84
CARVALHO, Erico Tavares de; ORO, Ari Pedro; SCURO, Juan. O sacrifício de animais nas
religiões afro-brasileiras: uma polêmica recorrente no Rio Grande do Sul. Religião e Sociedade, Rio
de Janeiro, v. 37, n. 2, p. 234, 2017.
85
“Art. 2° - É vedado: realizar espetáculos, esporte, tiro ao alvo, cerimônia religiosa, feitiço,
rinhadeiros, ato público ou privado, que envolvam maus tratos ou a morte de animais, bem como
lutas entre animais da mesma espécie, raça, de sua origem exótica ou nativa, silvestre ou doméstica
ou de sua quantidade”
86
CARVALHO, Erico Tavares de; ORO, Ari Pedro; SCURO, Juan. O sacrifício de animais nas
religiões afro-brasileiras: uma polêmica recorrente no Rio Grande do Sul. Religião e Sociedade, Rio
de Janeiro, v. 37, n. 2. 2017. P.232
29
fizessem valer do sacrifício de animais para tal, tendo entretanto, determinado que
praticas que causassem dano ou sofrimento aos animais não dispunham de validação,
tendo a morte do animal que ser, portando, ser rápida e sem sofrimento.87
Mesmo com esta nova redação, houveram o surgimento de temores referentes
a possíveis proibições de práticas de sacrifício. Foi então que o deputado Edson
Portilho apresentou o projeto de lei 282/2003, objetivando o acréscimo de uma
exceção permissiva no artigo 2° da lei 11.91588, o qual buscava um meio pelo qual os
cultos de matrizes africanas não encontrassem obstáculos para a realização de tais
práticas, não podendo então, serem caracterizados pelas proibições dispostas no
referente artigo, o qual foi aprovado através da lei 12.131/2004.
Com a aprovação do projeto de lei, foi ajuizada uma Ação direta de
Inconstitucionalidade89 pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul, buscando que
fosse retirado o acréscimo auferido ao artigo 2°, que foi promovido pela lei
12.131/2004. Entretanto, restou reconhecida a constitucionalidade da lei pelo Tribunal
de Justiça, dispondo que
87
CARVALHO; ORO; SCURO, 2017. Loc. Cit.
88
Foi acrescentado parágrafo único ao artigo 2°, o qual tinha o seguinte texto: Não se enquadra
nessa vedação o livre exercício dos cultos e liturgias das religiões de matriz africana.
89
Ação Direta de Inconstitucionalidade 70010129690 no Tribunal de Justiça estadual
90
ROBERT. Yannick Yves Andrade. Sacrificio de animais em rituais de religiões de matriz africanas.
Tese de graduação em direito. Acesso em 09 de outubro de 2022. Disponível em
https://www.pucrio.br/ensinopesq/ccpg/pibic/relatorio_resumo2008/relatorios/ccs/dir/yannick_yves_an
drade_robert.pdf
91
Santos, Michel Ferrari Borges dos. A configuração constitucional do direito fundamental à liberdade
religiosa e do princípio da laicidade: uma análise pautada na jurisprudência do Supremo Tribunal
30
Através de Recurso Extraordinário 92 interposto perante o Supremo Tribunal
Federal, pois esta é denominada como guardiã dos direitos fundamentais que dispõe
sobre este tema, o Ministério Público do Rio Grande do Sul alegou que a norma,
perante aquela corte, teria o caráter inconstitucional pois a lei estadual determina que
é permitido o sacrifício de animais no exercício de religiões especificas, portanto esse
fato seria um afronte ao princípio da isonomia e também seria não seria compatível
com o Estado laico.93
Quanto ao posicionamento perante tal recurso, restou este conhecido e
desprovido pela Procuradoria Geral, sendo o teor da decisão:
[...] Os votos cuja tese venceu entenderam que o sacrifício de animais faz
parte da religiosidade de várias crenças e é uma prática legítima, mas que a
menção às “religiões de matriz africana” é constitucional porque são elas que
sofrem estigmatização social.95
Federal / Michel Ferrari Borges dos Santos. – Joaçaba: Editora Unoesc, 2020. P. 146
92
Recurso Extraordinário 494.601
93
Santos, Michel Ferrari Borges dos. Op. cit
94
Presidência do Ministro Dias Toffoli. Plenário, 28.03.2019. (BRASIL. Recurso Extraordinário RE n.
494601, Relator Min. Marco Aurélio. DJ:28/03/2019, grifo nosso).
95
Santos, Michel Ferrari Borges dos. A configuração constitucional do direito fundamental à liberdade
religiosa e do princípio da laicidade: uma análise pautada na jurisprudência do Supremo Tribunal
Federal. 2020. P. 150
96
Santos. 2020, op. Cit. P. 155
31
A constituição federal busca uma proteção quanto a fauna e a liberdade
religiosa, tema este que pode encontra uma difícil solução pois o exercício de um põe
em risco a existência do outro. Existem aqueles que defendem a predominância da
liberdade religiosa em seu preceito constitucional
Manoel Jorge e Silva Neto esclarecem quanto a existência dos limites dessa
liberdade religiosa
97
CARVALHO, Ana Beatriz Gonçalves de; CÂMARA, Delano Carneiro da Cunha. Multiculturalismo e
colisão de direitos: A liberdade religiosa e o sacrifício de animais em rituais religiosos de matriz
africana. Jus Navigandi, Teresina, ano 19, n. 3928, 3 abr. 2014. Acesso em: 25 de setembro de 2020.
Disponível em: < https://jus.com.br/artigos/27281/multiculturalismo-e-colisao-de-direitos >
98
NETO, Manoel Jorge e Silva. Curso de Direito de Constitucional. p. 682 e 683
32
Esses questionamentos partem dos ditames impostos pelo artigo 19 da
Constituição Federal, que, baseando-se no princípio da laicidade, preconiza pela
separação do Estado e da Igreja.
Sobre a presença de símbolos religiosos em espaços que são considerados
públicos, partindo do pressuposto que o Estado é laico, Antonio Pinzani diz:
O Estado enquanto laico tem o dever de preconizar pela sua neutralidade, pois
ao exibir, em locais de repartições públicas, símbolos religiosos, especialmente o
crucifixo, que é o símbolo utilizado e mantém uma posição de exposição em locais de
destaque, acaba por mostrar que ainda existe a presença de uma relação do Estado
com a religião; também acaba por causar um sentimento de coação sobre aqueles
que não são adeptos a aquela doutrina, assim como tem um caráter discriminatório
para com as demais religiões, tornando estas secundarias a aquela que é exposta
pelo Estado.100
A permanência de símbolos religiosos em repartições públicas apenas constata
a existência de uma latente discriminação com as minorias religiosas, pois
constantemente os dogmas apresentados pela religião a qual o símbolo representa,
detém um preconceito e/ ou discriminação perante essas minorias. Sobre essa
prática, Daniel Sottomaior diz:
“Esses símbolos não foram afixados como resultado da busca pelo bem
comum, ou considerando o respeito à diversidade, à igualdade ou aos direitos
humanos, que são objetivos de Estado bem posteriores a essa prática. Pelo
contrário, eles eram parte integrante de um amplo processo de
homogeneização da prática e do pensamento religioso e do sequestro do
Estado pelos interesses religiosos. Esse cenário é próprio de um país regido
por uma fé obrigatória, não o de uma pátria multicultural.”101
99
PINZANI, A. Estado laico e interferência religiosa. Pg. 280
100
SOTTOMAIOR, Daniel. O Estado Laico, São Paulo, 2014
101
SOTTOMAIOR, Daniel. Op. Cit., pg. 59
33
Ainda se referir sobre essa interferência na liberdade de crença causada pelo
uso de símbolos em locais públicos, Sarmento dispõe: “[...] a promiscuidade entre os
poderes públicos e qualquer credo religioso, por ela interditada, ao sinalizar endosso
estatal de doutrinas de fé, pode representar uma coerção, ainda que de caráter
psicológico, sobre os que não professam aquela religião.”102
Para uma busca de uma total neutralidade do estado perante as religiões
existentes, faz-se necessário que haja um tratamento totalmente igualitário entre as
elas, ainda sobre o assunto, Sottomaior complementa:
102
SARMENTO, Daniel. O Crucifixo nos Tribunais e a laicidade do Estado. In: LOREA, Roberto
Arriada (Org.). Em Defesa das Liberdades Laicas. Porto Alegre: Livraria do advogado, 2008
103
Sottomaior, Daniel. O Estado Laico. 2014. P. 57
104
MANDADO DE SEGURANÇA – Autoridade Coatora – Presidente da Assembléia Legislativa do
Estado – Retirada de crucifixo da sala da Presidência da Assembléia, sem aquiescência dos
deputados – Alegação de violação ao disposto no artigo 5º, inciso VI da Constituição Federal, eis que
a aludida sala não é local de culto religioso – Carência decretada. Na hipótese não ficou demonstrado
que a presença ou não de crucifixo na parede seja condição para o exercício de mandato dos
deputados ou restrição de qualquer prerrogativa. Ademais, a colocação de enfeite, quadro e outros
objetos nas paredes é atribuição da Mesa da Assembléia (Artigo 14, inciso II, Regulamento Interno),
ou seja, de âmbito estritamente administrativo, não ensejando violência a garantia constitucional do
artigo 5º, VI da Constituição da República. (TJ/SP, Mandado de Segurança nº 13.405-0, Relator
Desembargador Rebouças de Carvalho, julgado em 02.10.1991 -0)
105
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: VI - e inviolável a liberdade de
consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na
forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
34
a religião privilegiada, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo
alguém em erro, mediante artifício[...]”106
Ainda na tentativa de retirada dos crucifixos das salas de assembleia, foi
solicitado pelo Concelho Nacional de Justiça que fossem tomadas providencias
quanto a esse tocante. Entretanto, com base nos argumentos a seguir ditos por Daniel
Sarmento, o pleito foi rejeitado:
Em uma opinião oposta a esta, pode-se ser elucidada a de Paulo Roberto Lotti
Vecchiatti que diz que
106
Sottomaior. Ibid. p. 62
107
SARMENTO, Daniel. O crucifixo nos tribunais e a laicidade do estado. In: MAZZUOLI, Valério de
Oliveira; SORIANO, Aldir Guedes (Coord.) Direito à liberdade religiosa: desafios e perspectivas para
o século XXI. Belo Horizonte: Fórum, 2009. p. 212.
108
VECCHIATTI, Paulo Roberto Iotti . Laicidade Estatal tomada a sério.REVISTA JUS NAVIGANDI,
ISSN 1518-4862, Teresina, ano 13 , n. 1830, 5 jul. 2008 . Acesso em 27 de setembro de 2020.
Disponível em: https://jus.com.br/artigos/11463/laicidade-estatal-tomada-a-serio
109
SOTTOMAIOR, Daniel. O Estado Laico, p. 59
35
minorias religiosas por não obterem os mesmos tratamentos igualitários que são
impostos.
Esse grupo faz o uso da bíblia, inclusive sendo está a origem de seu nome, e
inclusive reconhecendo esta como única autoridade.
O caso que envolve as testemunhas de Jeová é a problemática da transfusão
de sangue para eles, pois eles não podem aceitar sangue de ninguém, tendo inclusive
passagem na bíblia falando sobre essa problemática:
Gênesis 9:4. “Mas não comam carne com sangue, que é vida.” Embora
tivesse permitido que Noé e sua família passassem a se alimentar de carne
animal após o Dilúvio, Deus os proibiu de comer o sangue. Ele disse a Noé:
“Somente a carne com a sua alma — seu sangue — não deveis comer.”
Desde então, isso se aplica a todos os humanos, porque todos são
descendentes de Noé;
Levítico 17:14. Porquanto a vida de toda a carne é o seu sangue; por isso
tenho dito aos filhos de Israel: Não comereis o sangue de nenhuma carne,
porque a vida de toda a carne é o seu sangue; qualquer que o comer será
extirpado. “Não deveis comer o sangue de qualquer tipo de carne, porque a
alma de todo tipo de carne é seu sangue. Quem o comer será decepado da
vida.” Para Deus, a alma, ou vida, está no sangue e pertence a Ele;
110
A SENTINELA, 2008, p. 3, revista que é publicada pelas testemunhas de Jeová.
36
Atos 15:20. “Abstenham-se do sangue.” Deus deu aos cristãos a mesma
proibição que deu a Noé. A História mostra que os primeiros cristãos não
consumiam sangue, nem mesmo para fins medicinais.
Ao olhar da sociedade, esse grupo é muito julgado por essa passagem, sendo
muitas vezes vítimas de intolerância religiosa. O motivo pelo qual as testemunhas
tomam essa decisão é por acreditarem que seus corpos são de propriedade de Deus
e que este tratamento pode acarretar em sua própria contaminação.
Quando se tratado do direito de recusar a transfusão de sangue no Brasil, este
direito está arrolado na classificação do direito geral de liberdade no rol de direitos
fundamentais, mais especificamente no artigo 5°, que dispõe que “ninguém será
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”, assim sendo
pode-se concluir que o direito à liberdade é um direito disponível podendo restar
restrito caso o estado demonstre que se trata de uma restrição legitima 111. Sobre a
exceção desse direito
111
Frosi, Julio Cesar. Liberdade religiosa e a teoria da justiça de John Rawls / Julio Cesar Frosi. –
Joaçaba: Editora Unoesc, 2017. – (Série Dissertações e Teses, v. 12). P 87
112
PRADO, 2007,P. 50 apud Frosi. ibdi, P.88
113
Frosi, 2017, P. 88
114
Ibid. P. 89
37
Assim, a manifestação de vontade do sujeito prevalece devido a predominância
da autonomia presente na dignidade da pessoa humana, sendo o consentimento para
a realização de procedimentos médicos sempre necessários que não se enquadram
com as suas liberdades de religião e de consciência.
115
GARRIDO, Rodrigo Grazionoli, SABINO, Bruno Duarte. Ayahuasca: entre o legal e o cultural.
Saúde, Ética & Justiça 14(2), 2009. P. 44
116
Gomes, Bruno Ramos. O uso ritual da ayahuasca na atenção à população em situação de rua /
Bruno Ramos Gomes. - Salvador: EDUFBA, 2016. P. 17
117
Garrido e Sabino. Ibid. p. 45
118
Gomes, 2016. Ibid. p. 18 114
119
Gomes. Loc.cit. p. 18
38
O uso do chá permitiu a Irineu que em uma das suas “mirações” tomasse
contato com uma mulher chamada Clara, que se dizia Nossa Senhora da
Conceição, a Rainha da Floresta3, o que mostra a influência das crenças
católicas populares trazidas pelos nordestinos migrantes na Doutrina do
Santo Daime que se iniciava. Foi nesta revelação que Irineu recebeu o nome
da bebida, “Santo Daime”, e as normas para o ritual. O nome estaria
relacionado ao próprio verbo “dar”, no sentido de servir aos necessitados.
Tanto que, segundo Bettencourt3 , são expressões típicas desta doutrina
“Daime amor, Daime luz, Daime força”.120
Quanto ao uso do chá do santo daime, Garrido e Sabino elucidam que “o uso
não é mais restrito às tribos, tem se estendido a vários movimentos místicos como a
União do Vegetal (UDV) e o Centro Espírita e Culto de Oração Casa de Jesus Fonte
de Luz (Barquinha), além dos participantes da própria doutrina do Santo Daime” 121
O consumo do chá, para quem participa desta religião, se da em rituais
religiosos, praticando meditações, cantos cristãos e rezas católicas.122
A regularização do uso da Ayahuasca é tratada de forma diferente, dependendo
de casa região da sociedade do mundo, podendo ser o seu uso ritualístico proibido ou
não. No Brasil, o processo para a regulamentação para o uso do chá, rendeu o
nascimento de resoluções que permitiriam o uso de forma ritualística do chá, abrindo
possibilidade para que houvessem estudos sobre a sua utilização em diversas áreas
e também sobre o uso terapêutico dele123.
As resoluções feitas sobre o uso do chá por parte do CONAD (conselho
nacional de políticas sobre drogas) são as resoluções de número 4 feita em
04/11/2004 e a resolução número 1, feita em 25/01/2010.
Na resolução de número 4, o CONAD aprovou o parecer da Câmara de
Assessoramento Técnico-Científico que, por meio de parecer, reconheceu a
legitimidade, jurídica, do uso da ayahuasca de forma religiosa124. Um dos argumentos
considerados pelo CONAD foi
120
GARRIDO, Rodrigo Grazionoli, SABINO, Bruno Duarte. Ayahuasca: entre o legal e o cultural.
Saúde, Ética & Justiça 14(2), 2009. P. 45
121
GARRIDO e SABINO, 2009. Op. Cit.. p. 45
122
. Ibid. p. 46
123
Gomes, Bruno Ramos. O uso ritual da ayahuasca. P. 6
124
CONAD. Acesso em 06 de outubro de 2022. Disponível em:
https://www.normasbrasil.com.br/norma/resolucao-4-2004_100851.html
39
públicos e pela experiência comum, recolhida nos diversos segmentos da
sociedade civil.125
125
CONAD. Ibid.
126
CONAD, 2010. Acesso em 06 de outubro de 2022. Disponível em:
https://www.normasbrasil.com.br/norma/resolucao-1-2010_113527.html
127
CONAD. Ibid.
128
CONAD. 2010, Ibid.
40
CONSIDERAÇÕES FINAIS
41
mesmo não existindo um pré-estabelecido, a colisão com outros direitos, sendo o
respeito aos demais direitos fundamentais a base para que seja feitas intervenções,
devendo prevalecer o princípio da razoabilidade e da proporcionalidade para a
solução do caso em concreto, mas usualmente, deve se atribuir a mais ampla e
possível liberdade para a pratica do ritual religioso.
42
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