Apoio 5 - Interferência Medicamentosa em Exame Laboratorial

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INTERFERÊNCIAS MEDICAMENTOSAS EM EXAMES

LABORATORIAIS

Luan Araujo Bezerra1


Diana Jussara do Nascimento Malta2

Biomedicina

ISSN IMPRESSO 1980-1769


ISSN ELETRÔNICO 2316-3151

RESUMO

Na ocorrência de resultados inesperados nos testes laboratoriais, pode-se considerar a


existência de uma interferência medicamentosa, influenciada por um grande número de
drogas terapêuticas capaz de alterar os exames laboratoriais, através de seus efeitos. Neste
contexto, este artigo teve como objetivo realizar um levantamento bibliográfico referente
às principais interferências medicamentosas que podem causar possíveis alterações nos
exames laboratoriais. O conhecimento de tais interferências é de suma importância para
analistas clínicos, uma vez que determinadas alterações promovem a liberação de laudos
com resultados errôneos que interferem diretamente na vida do paciente.

PALAVRAS – CHAVE

Medicamentos. Interferências medicamentosas. Exames laboratoriais.

Ciências biológicas e da saúde | Recife | v. 2 | n. 3 | p. 41-48 | Jul 2016 | periodicos.set.edu.br


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ABSTRACT

In the event of unexpected results of the laboratory tests, it is taken into account
consideration the existence of interference drug, whereby a large number of drug
therapies is capable of influencing the test results. In this context, this article aims to
conduct a literature review related to major drug interference that may cause possi-
ble changes in laboratory tests. Knowledge of such interference is critical to clinical
analysts, since certain changes promote the release of reports with erroneous results
that directly interfere in the life of the patient.

KEYWORDS

Drugs. Drug interference. Laboratory tests.

1 INTRODUÇÃO

Na rotina laboratorial, o uso de medicamentos em análises clínicas assume pa-


pel importante devido à interferência nos ensaios e modificação no diagnóstico clíni-
co laboratorial (MARTINELLO, 2003). Quando há alterações inesperadas nos exames
laboratoriais, pode ser considerada a existência de uma interferência medicamento-
sa, pois um grande número de fármacos terapêuticos pode influenciar os resultados
(KROLL, ELLIN, 2005).

Profissionais da saúde como médicos, analistas clínicos, farmacologistas e certa-


mente todos aqueles que trabalham no campo da patologia estão cada vez mais alerta
sobre os efeitos de fármacos em testes laboratoriais. Estes efeitos podem, no entanto,
passar despercebidos, uma vez que testes laboratoriais são frequentemente solicitados
sem a informação sobre tratamento farmacológico concomitante (GIACOMELLI, 2001).

Muitos fármacos exercem efeitos in vivo ou por efeito fisiológico (quando o me-
dicamento causa alterações a nível corporal) e analítico (quando alguma propriedade
física ou química da droga interferem com a reação do teste) (FERREIRA et al., 2009).
Como exemplo de interferência analítica pode-se citar o falso aumento dos valores
de frutosamina no soro de pacientes utilizando o captopril. Já na interferência por
efeito fisiológico ou in vivo se pode citar as drogas enalapril e a hidroclorotiazida que
provocam alterações nas dosagens de ácido úrico no soro. É possível citar ainda outro
exemplo de interferência por efeito fisiológico que é a utilização do propranolol e/ou
levotiroxina na realização do exame de tiroxina (T4) livre no soro (YOUNG, 1995).

Os metabólitos e substâncias inativas da composição dos medicamentos admi-


nistrados por qualquer vias de administração podem com grande probabilidade reagir
com reagentes ou analíticos na prova laboratorial (MUNIVE, 2009).

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A intervenção de substancias endógena e exógena nos ensaios clínico-analíti-


cos é um problema comum no laboratório clínico. Há quatro compostos endógenos
de grande importância que consistem em interferentes nos resultados laboratoriais:
hemoglobina, lipídios e paraproteínas (GIACOMELLI, 2001).

As maiores fontes exógenas de interferências são as drogas prescritas aos pacien-


tes, existindo vários mecanismos que afetam os testes clínico-laboratoriais. Como exem-
plo de alteração pode-se citar a hiperglicemia ocasionada por vários fármacos como as
tiazidas, os corticosteroides ou os contraceptivos orais (TRAUB, 2006; MUNIVE, 2009).

Neste contexto, este artigo tem como objetivo realizar um levantamento biblio-
gráfico através de uma revisão de literatura referente às principais interferências me-
dicamentosas que podem causar possíveis alterações nos exames laboratoriais. O co-
nhecimento destas permite aos analistas ficarem mais atentos na liberação dos exames,
diminuindo a quantidade de erros e beneficiando, sobretudo, a saúde do paciente.

2 METODOLOGIA

As buscas foram realizadas em bases de dados — Scielo, Pubmed, Bireme, Medli-


ne. Foram selecionados artigos publicados e escritos na língua portuguesa e inglesa.
A busca foi realizada tendo como palavras-chave: Interferências Medicamentosas;
Exames Laboratoriais; Fármacos. O tipo de revisão de literatura empregada foi a nar-
rativa. Foram pesquisados 35 artigos publicados para análise, e dentre eles, 14 foram
selecionados para desenvolvimento da pesquisa por possuírem conteúdo mais apro-
priado sobre o assunto.

3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 INTERFERENCIA MEDICAMENTOSA EM TESTES BIOQUÍMICOS

O uso de altas doses de vitamina C (ácido ascórbico), particularmente, tornou-


-se um agravante para os analistas clínicos. O ácido ascórbico é facilmente absorvi-
do e atinge níveis séricos relativamente elevados. Quando presente em amostras
biológicas por ser um potente agente redutor, pode, em alguma etapa química,
interagir com os constituintes dos reagentes analíticos utilizados na determinação
do parâmetro bioquímico, causando um falso resultado na análise (MARTINELLO,
2003; MILLER, 1996).

O ácido ascórbico é um conhecido interferente nas reações bioquímicas que


envolvem os sistemas indicadores com oxidases e peroxidases, como a reação de
Trinder. Esta reação é utilizada na quantificação de componentes séricos como glico-
se, colesterol, triglicerídeos e ácido úrico. Além de inibir esta reação, o ácido ascórbico

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pode, também, interferir nas reações para a determinação de bilirrubina, creatinina,


fósforo, ureia e enzimas aminotransferases, lactato desidrogenase e fosfatase alcalina
(MARTINELLO, 2003).

Além da interferência do ácido ascórbico, pode-se citar também a avaliação da


função renal que é realizada principalmente através das dosagens séricas e clearence
da creatinina e ureia. O rim é um órgão bastante susceptível a alterações metabólicas
e induzidas, como a formação ou excreção acelerada ou retardada de uma determi-
nada substância química, supressão ou estimulação de enzimas nos processos de
degradação, competição pelos sítios de ligação. O clearence da creatinina na urina
de 24 horas e a creatinina sérica são os métodos mais utilizados para avaliação da
capacidade de filtração glomerular (MERCATELLI, 2000). Como exemplo, é possível
citar as cefoxicitinas e as cefalotinas que são excretadas via renal causando efeitos in
vivo e in vitro. Os efeitos in vivo causam a disfunção renal, ocasionando o aumento da
concentração da creatinina, podendo ser observadas interferências 20 minutos após
a administração da droga, dependendo da concentração do fármaco e da disposição
do paciente; e os efeitos in vitro, interagem com a solução de picrato alcalino aumen-
tando a concentração da creatinina de 1,5 a 8,5 vezes (GIACOMELLI, 2001).

3.2 INTERFERÊNCIAS MEDICAMENTOSAS EM TESTES HEMATOLÓGICOS

As interferências medicamentosas hematológicas são de extrema importância,


mesmo quando pouco comuns, podem possivelmente provocar alterações hemato-
lógicas graves, como a agranulocitose, aplasia de medula óssea, trombocitopenias,
especialmente a trombocitopenia induzida por heparina, entre outras (JUNQUEIRA,
2012). Tem-se a neutropenia induzida por medicamentos (NIM) que é um distúrbio
raro, esporádico e transitório.

Os medicamentos mais comuns associados com NIM são antitireoidianos, anti-


convulsivantes e antibióticos, embora a patogênese da NIM ainda não esteja esclare-
cida (LEE et al., 2009; FERREIRA, 2013).

A heparina tem sido utilizada há mais de setenta anos na prática médica, e


continua sendo a substância anticoagulante mais empregada em pacientes hospita-
lizados. Um dos efeitos adversos mais importantes ocasionados pelo uso da heparina
é trombocitopenia induzida pela mesma. A trombocitopenia induzida por heparina
(TIH) é uma reação imunológica mediada por anticorpos contra o fator plaquetário 4
(PF4), com formação induzida pela administração de heparina exógena. Essa reação
imunológica pode ser grave e resultar na formação de trombos arteriais ou venosos.
A esse tipo de efeito adverso é significativamente mais comum em pacientes tratados
pela heparina bruta, não fracionada, de baixo peso molecular. O uso mais frequente
da heparina de baixo peso molecular na profilaxia e na prevenção das tromboses con-
tribuiu para redução na incidência de TIH (FERREIRA et al., 2013).

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Os anticoagulantes também provocam interferência relevante em exames he-


matológicos, visto que podem aumentar os seus efeitos e, consequentemente, au-
mentam o tempo de protrombina e outros testes que avaliam o sistema hemostático.
O uso de aspirina e anti-inflamatórios não esteroides afetam a função plaquetária
inibindo a produção de vasoconstritores diminuindo e a tendência de agregação pla-
quetária, ocorrendo assim uma interferência significativa no resultado de testes de
função plaquetária e tempo de sangramento (FERREIRA et al., 2009).

3.3 OUTRAS INTERFERÊNCIAS MEDICAMENTOSAS

3.3.1 Hipertensão Arterial

No tratatamento da hipertensão arterial existem diversos medicamentos que po-


dem ser prescritos de acordo com cada paciente, dentre eles pode-se citar quatro prin-
cipais: captopril, enalapril, hidroclorotiazida e propranolol. O captopril pode proporcionar
resultados falso-positivos em cetonas na urina; O enalapril pode interferir no fator antinú-
cleo positivamente; E a hidroclorotiazida que aumenta a concentração da ureia in vivo e
o propranolol que pode provocar níveis elevados de ureia (FERREIRA et al, 2009).

3.3.2 Hipotireoidismo

O hipotireoidismo é a alteração da função tireoidiana mais frequente e geralmente


de diagnóstico e tratamento simples. Tem como causa mais comum a tireoidite autoimune
em todas as suas formas de apresentação. O tratamento do hipotireoidismo consiste na
reposição de hormônio tireoidiano, em geral com levotiroxina sódica que pode interferir na
pesquisa da tiroxina 4 (T4) livre no soro (SILVA, SOUZA, 2005; FERREIRA et al., 2009).

3.3.3 Usos prolongados de plantas medicinais

De acordo com relatos encontrados na literatura, o uso prolongado de plan-


tas medicinais contendo compostos cumarínicos (camomila e guaco) pode interferir
causando um falso aumento na determinação do tempo de sangramento, tempo de
protrombina e tempo de tromboplastina parcial ativada. O sangramento ocasionado,
mesmo que reduzido, pode interferir em exames, tais como exame de urina (hemo-
globinúria ou hematúria) e pesquisa de sangue oculto nas fezes (PSOF) (falso positi-
vo). O uso de tais plantas deve ser considerado ainda, como causa de interferência em
hemogramas (pancitopenia) (PASSOS et al., 2009; FERREIRA et al., 2013).

4 CONCLUSÃO

A ação dos medicamentos como fator interferente nos testes laboratoriais


pode levar a diagnósticos falsos e a intervenções clínicas erradas. Identificar essas

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interferências é função do analista clínico responsável pelo laboratório, sendo esta


informação de grande importância.

Como os métodos terapêuticos e suas drogas aumentam em complexidade e


as avaliações fisiológicas e da função metabólica tornam-se mais harmoniosas, há
um aumento das chances de ocorrer efeitos danosos pelos fármacos nos resultados
dos testes clínico-laboratoriais. Mas muitas vezes, é desconhecido o mecanismo pelo
qual os valores dos testes laboratoriais aparecerem alterados.

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Data do recebimento: 25 de Abril de 2016


Data da avaliação: 25 de Abril de 2016
Data de aceite: 26 de Maio de 2016

1. Aluno do Bacharelado em Biomedicina da Faculdade Integrada de Pernambuco.


E-mail: [email protected]
2. Docente da Faculdade Integrada de Pernambuco.
E-mail: [email protected]

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