Psicologia Escolar Na Educação Infantil: Atuação E Prevenção em Saúde Mental
Psicologia Escolar Na Educação Infantil: Atuação E Prevenção em Saúde Mental
Psicologia Escolar Na Educação Infantil: Atuação E Prevenção em Saúde Mental
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Viviane Vieira
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC - Brasil
Janete Hansen
Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC - Brasil
Resumo
A psicologia no contexto escolar sofreu diversas modificações durante sua história.
Compreendida somente como ligada á psicometria, hoje a psicologia escolar vem ao encontro
da política de prevenção em saúde mental. O psicólogo necessita se inserir no contexto e
tornar-se próximo tanto dos profissionais do local como das crianças e de suas famílias. Este
artigo relata uma experiência de estágio em psicologia na educação infantil em uma creche
em Santa Catarina. Com esse relato objetiva-se enriquecer as práticas da psicologia escolar,
especialmente na educação infantil, e transmitir a experiência positiva vivenciada pelas
estagiárias. Os focos de intervenção foram diversos, envolvendo a adaptação dos bebês, a
prontidão para a alfabetização e os grupos com crianças. Além das ações específicas, também
é relatado como foi realizada a inserção no contexto e quais atividades faziam parte da rotina
das estagiárias de psicologia. Durante o período do estágio foi possível perceber que a posição
do estagiário necessita ser rotineira, colocando-se à disposição das necessidades da instituição
e focada na prevenção. As diversas intervenções resultaram em melhoras no relacionamento
da creche-família e contribuíram para explicitar o papel do psicólogo no contexto escolar,
principalmente relacionado à prevenção em saúde mental.
Palavras-chave: Psicologia escolar, Educação infantil, Saúde mental.
A pré-escola é cada vez mais comum na realidade brasileira (SANTOS & MOURA,
2002). Antigamente as creches eram vinculadas ao atendimento de comunidades carentes e
tinham um cunho mais assistencial, voltados ao cuidado, à alimentação e à segurança das
crianças. Atualmente, a existência de creches públicas desempenha um papel significativo de
proteção à infância e de assistência à criança em situação de risco (LORDELO, 2002). A
instituição de educação infantil vem ganhando espaço entre as formas de cuidado à criança de
zero a seis anos, passando a ser uma opção viável para os pais e, juntamente com a família,
constitui-se como um dos principais contextos de desenvolvimento dessas crianças.
As creches no Brasil têm recebido crescente atenção, uma vez que cada vez mais
mulheres, de diferentes camadas sociais, estão assumindo trabalho e outras atividades fora de
casa e necessitam de auxílio no cuidado e na educação dos filhos (OLIVEIRA, MELLO,
VITÓRIA & ROSSETI-FERREIRA, 1994). Nesse sentido, ressalta-se a importância da
creche enquanto mecanismo de promoção da igualdade de oportunidades para as mulheres,
possibilitando a sua inserção e manutenção no mercado de trabalho (LORDELO, 2002). No
caso das famílias provenientes de classes menos favorecidas, a creche também se constitui
como uma possibilidade e oportunidade de mudança de vida, uma vez que permite que tanto
pai e mãe possam trabalhar e garantir uma renda melhor para a família, ao mesmo tempo
deixando seus filhos em um local seguro e de confiança.
A partir dessas mudanças e do aumento da preocupação com as crianças na educação
infantil, vários profissionais de diversas áreas começaram a se inserir nesse contexto com o
intuito de dar sua contribuição para essas instituições de educação. Um desses profissionais é
o psicólogo.
A Psicologia Escolar é uma área da Psicologia que tem suscitado inúmeras reflexões
acerca da identidade dos profissionais que nela atuam, sobretudo a necessidade de uma
redefinição do papel do psicólogo na escola e de reestruturação da formação acadêmica
(ALMEIDA, 1999).O surgimento da área esteve ligado à psicometria e à aplicação de testes,
com o predomínio de um modelo clinico de atuação do psicólogo escolar. De acordo com
Jobim e Souza (1996), há a necessidade de se refletir sobre a especificidade desse profissional
devido ao fato de existir uma superposição de papéis e funções dentro da escola, em que
vários profissionais reivindicam o mesmo espaço.
A alternativa mais adequada para a intervenção do psicólogo no contexto escolar,
sugerida por Andaló (1984), é aquela em que, sem excluir as contribuições da Psicologia
A adaptação pode ser facilitada a partir de algumas ações, realizadas tanto pelos
familiares como pela própria instituição educacional. Inicialmente, podem-se destacar os
sentimentos dos pais sobre o ingresso do filho na creche. Caso os membros da família
apresentem sentimentos ambivalentes, nervosismo e apreensão, a criança percebe e reage a
esses sinais. É muito comum o sentimento de culpa por parte dos pais fazer parte desse
processo (RAPOPORT & PICCININI, 2001). Além disso, o apoio social que a família possui
o tipo de configuração familiar, a proximidade com a família de origem, os estressores
familiares e as expectativas em relação ao seu filho também são fatores decisivos que
influenciam no modo pelo qual a adaptação ocorre (RAPOPORT & PICCININI, 2001;
RAPOPORT & PICCININI, 2004; SANTOS E MOURA, 2002).
A instituição também tem fatores que contribuem ou atrapalham o período de
adaptação, especialmente relacionado à qualidade do atendimento. Crianças muito novas
exigem cuidados diferenciados dos mais velhos como: alimentação específica, horários de
descanso mais frequentes, presença de menos crianças, espaço físico adequado para o
desenvolvimento, rotina diária e constância do cuidador (RAPOPORT & PICCININI, 2001;
RAPOPORT & PICCININI, 2004). Pais que confiam, e se sentem tranquilos com a qualidade
da creche, facilitam a adaptação possibilitando que o bebê também passe por esse período
mais facilmente (RAPOPORT & PICCININI, 2001; RAPOPORT & PICCININI, 2004).
Uma das atividades que a literatura aponta como facilitadoras da adaptação é a
presença dos pais na creche, especialmente nas primeiras semanas. A presença da mãe no
local proporcionará melhor conhecimento das preferências da criança. A criança se sente
segura quando a mãe está por perto e normalmente se sente mais relaxada e tranquila para
interagir no ambiente com uma presença conhecida (RAPOPORT & PICCININI, 2001).
Além disso, é importante se considerar as individualidades de cada criança que deverão ser
respeitadas pela cuidadora e pelos pais. Algumas crianças irão se adaptar mais rapidamente;
outras irão demorar mais (RAPOPORT & PICCININI, 2001; RAPOPORT & PICCININI,
2004).
Outro momento delicado ocorre na saída das crianças da educação infantil, com a
entrada na educação fundamental. Diversas são as diferenças entre esses dois contextos,
muitas sentidas pelas crianças e por suas famílias, que vão desde a estrutura física e o contato
com as professoras à rotina escolar. Além disso, é esperado que as crianças apresentem a
prontidão escolar (ANDRADA, 2007).
& CAPOVILLA, 2004). Estudos mostram que esses tipos de avaliação são importantes no
que concerne ao próximo passo da educação formal após a pré-escola: a alfabetização
(PEREIRA & ALVES, 2002; CAPOVILLA, GUTSCHOW & CAPOVILLA, 2004).
Esse tipo de avaliação deve ser feito ainda na pré-escola, pois há maneiras de se
estimular as áreas envolvidas nas habilidades para a alfabetização. Nesse momento entra a
atuação do psicólogo na área escolar que, além da competência em instrumentos avaliativos,
tem a compreensão da importância da adaptação ao novo período do ciclo de vida que as
crianças pré-escolares têm que enfrentar ao final da pré-escola.
A atuação do profissional psicólogo nesses momentos vem com o intuito de prevenir a
saúde mental das crianças, assim como das famílias. Como dito anteriormente, o psicólogo
não mais atua somente diante das dificuldades, mas também na prevenção, retirando aquele
papel do profissional curativo imposto no passado (CARDOSO, 2002; RUTSATZ &
CÂMARA, 2006).
Prevenção em saúde mental, segundo Murta (2007), diz respeito a intervenções que
visam reduzir a ocorrência de problemas futuros de ajustamento e promovem a construção de
competências associadas à saúde mental, “de modo a produzir processos protetivos no curso
de desenvolvimento que possam favorecer o desempenho saudável das tarefas
desenvolvimentais típicas de cada idade” (p.2). Essas ações podem focar tanto no contexto
como um todo, quanto em uma população de risco específica (crianças e adolescentes com
dificuldades escolares, ambientes negligentes, fases estressoras, entre outros).
As intervenções propostas em saúde mental, quando realizadas com todas as pessoas
de uma determinada população (como de uma escola), não estigmatizam nem discriminam os
“problemáticos” dos “normais” (MURTA, 2007). Assim, todos podem se beneficiar de
programas estabelecidos para prevenção a problemas emocionais e comportamentais, e a
saúde é entendida de forma integral.
O entendimento atual da atenção integral à saúde – especialmente no contexto escolar
– aparece no Decreto do Poder Executivo Brasileiro, número 6286/2007, em que o Programa
Saúde na Escola é instituído no Sistema Único de Saúde (SUS). O Programa criado por este
documento legal demonstra que a compreensão da criança e do adolescente na escola não está
somente direcionada à saúde física, mas também ao desenvolvimento psicossocial (BRASIL,
2007). Assim, o SUS atualmente vai ao encontro das práticas de prevenção em saúde mental
no contexto escolar, oportunizando aos profissionais da área educacional uma visão focada na
em saúde mental. Esses novos fazeres, como aponta Murta (2007), devem ser amplamente
divulgados, especialmente para que esse conhecimento possa contribuir nas intervenções dos
psicólogos. Com isso, o objetivo deste artigo é relatar uma intervenção psicológica em uma
instituição de Educação Infantil que visou à atuação e à prevenção da saúde mental, buscando
enriquecer, assim, as práticas dos profissionais da educação.
Intervenções Realizadas
As intervenções realizadas ocorreram em uma instituição de Educação Infantil, de
natureza filantrópica, que atende a uma comunidade de baixa renda. A creche acolhe em torno
de 150 crianças divididas, com o critério idade (quatro meses a seis anos), em seis turmas.
Além do convênio com a prefeitura local, a instituição sobrevive de doações da comunidade e
de contribuições que os pais das crianças fornecem. No momento do estágio não havia o
serviço de Psicologia próprio do local, contudo as intervenções só foram possíveis devido a
um estágio de Psicologia anterior nessa mesma instituição – no qual a comunidade foi
conhecida mais a fundo e as demandas da creche identificadas. Com essas informações
obtidas, o estágio foi planejado já no ano anterior, com inserção das estagiárias no final desse
mesmo ano. Além de se tornar rostos conhecidos, essas inserções possibilitaram também
conhecer novas demandas e aprofundar reflexões sobre a população-alvo, além de verificar
quais seriam as dificuldades e facilidades no contexto. Esse conhecimento e respeito pela
demanda da instituição é pré-requisito para a correta inserção e melhor aceitação da escola-
foco (ANDRADA, 2005a), gerando uma abertura para a discussão e elaboração dos fazeres
possíveis nesse contexto de educação infantil.
Algumas das intervenções ocorreram com o intuito de aproximar as próprias
estagiárias ao contexto e a demais atividades da instituição. Essa inserção ocorreu no início do
ano, contudo várias intervenções perduraram no decorrer do mesmo. Uma das atividades foi a
participação nas Paradas Pedagógicas, que eram reuniões mensais com toda a equipe nas
quais se discutiam temas diversos sobre educação e relação interpessoal dos profissionais. As
estagiárias de Psicologia participavam frequentemente desses momentos através da
apresentação de propostas de atuação e de resultados já alcançados. Além disso, as estagiárias
também apresentaram alguns temas específicos solicitados pela instituição, como abuso
sexual infantil e relação família-creche.
Além das Paradas Pedagógicas, a instituição também promovia espaços para discussão
com reuniões semestrais com as famílias. Nesses encontros, as estagiárias participaram com o
objetivo de se apresentar para as famílias e conhecer como ocorre a comunicação creche-
família. Também houve duas reuniões anuais por sala, em que somente as famílias dos alunos
de determinada sala participavam e as professoras da turma que organizavam e coordenavam.
As estagiárias participaram de todos esses momentos, no sentido de observar ou contribuir
com determinados assuntos abordados. Essa inserção objetivou conhecer as famílias e a
relação dessas com a creche. Nessas reuniões foi possível apresentar e disponibilizar o serviço
de Psicologia para as famílias, buscando mostrar-se presente para os pais caso os mesmos
desejassem atenção do serviço.
Em relação ao atendimento das famílias das crianças, as estagiárias estavam à
disposição dos familiares e/ou responsáveis pelas crianças para tratar de assuntos relacionados
às crianças e a seu desenvolvimento. Essa atividade abarcava todas as turmas da creche. Em
alguns casos, partiu das estagiárias um convite para que algum familiar pudesse vir até a
creche para conversar sobre a criança. No decorrer do estágio, foram atendidas em geral mães
que vinham com alguma questão relacionada ao desenvolvimento de seu filho, a
preocupações com seu bem-estar e a sua integridade física e psicológica.
Outra intervenção das estagiárias de Psicologia foi na adaptação de duas turmas
específicas da creche, na adaptação da entrada dos bebês na creche, e na transição da última
turma para o Ensino Fundamental. A participação das estagiárias na adaptação dos bebês
ocorreu por meio de uma entrevista com as famílias e de acompanhamento diário das
professoras na sala de aula.
Para a entrevista, um dos pais era chamado pelo serviço de Psicologia para que
pudesse haver uma conversa sobre sua criança e para algumas informações importantes
durante esse processo de adaptação; esse procedimento ocorria de forma privada e individual.
A entrevista semiestruturada era composta de quatro partes: dados sociodemográficos, perfil
familiar, perfil da criança e relação com a creche, com duração média de uma hora. Essa
atividade foi realizada na própria instituição e as famílias podiam optar ou não pela
participação.
Das 21 crianças, 14 famílias participaram. Apenas um pai foi entrevistado, e em todas
as outras a mãe que participou. Como essa entrevista foi realizada no início do ano letivo,
muitas das informações foram ricas e colaboraram com a adaptação tanto da mãe quanto dos
Discussão e Conclusão
A inserção do psicólogo escolar no contexto em que intervém é de extrema
importância. A etapa de conhecer a instituição, sua filosofia pedagógica, seu Projeto Político-
Pedagógico e a comunidade atendida é necessária para que o trabalho e as ações sejam
coerentes e efetivas. Esse comprometimento dos profissionais é pré-requisito para a boa
prática do psicólogo no contexto da educação (ANDRADA, 2005a, ANDRADA, 2005b).
A participação das Paradas Pedagógicas faz parte dessa inserção do profissional no
contexto atendido. Esse momento de discussão e reflexão sobre o cotidiano é um espaço
precioso para o psicólogo se inserir e participar, possibilitando tanto um conhecimento sobre
as demandas reais da instituição como uma oportunidade para que paradigmas e rótulos sejam
discutidos e reavaliados (ANDRADA, 2005a). Assim, o profissional pode reavaliar e
melhorar suas ações, sempre com o objetivo de ser coerente com o contexto, ao mesmo tempo
em que desafia concepções consolidadas e paradigmas estigmatizantes.
Também como objetivo de se inserir no contexto, a participação das reuniões
possibilitava um melhor conhecimento sobre as práticas da relação família-creche, pois as
reuniões ainda são, infelizmente, o maior contato que a instituição tem com os familiares
(BHERING & DE NEZ, 2002; POLONIA & DESSEN, 2005). Também nesse momento a
Psicologia era vista como presente e participante para os pais e cuidadores. A relação da
Psicologia com as famílias é muito rica para um melhor conhecimento da comunidade
atendida e das dinâmicas estabelecidas entre creche e família (ANDRADA, 2005a).
Além de uma boa aproximação com as famílias, o bom relacionamento com outros
profissionais que atuam no mesmo ambiente é fundamental. A troca entre as diversas áreas de
conhecimentos contribui para um bom trabalho e para integração de vários profissionais,
portanto, de vários saberes (ANDRADA, 2005a; ANDRADA, 2005b; LIMA, 2007). O
desenvolvimento infantil para poder auxiliar neste processo. Entretanto estes pais, muitas
vezes, precisam de alguma orientação para de fato ajudarem seus filhos. Nesse sentido, após a
compilação dos resultados da aplicação de um instrumento, as famílias foram chamadas para
que pudessem receber informações sobre o desenvolvimento, bem como orientações de como
auxiliar seus filhos. As informações na primeira devolução foram repassadas individualmente
com o auxílio de uma de cartilha onde cada área que o teste abrangia era relatada. Nesse
momento também foram repassadas informações sobre como os pais poderiam auxiliar no
processo da pré-alfabetização de forma simples e lúdica. Com isso, o trabalho pode aproximar
mais as famílias desse momento e, em conjunto, atuar no melhor desenvolvimento da criança
(BHERING & DE NEZ, 2002; POLONIA & DESSEN, 2005). Já na segunda devolução, os
pais receberam os resultados dos seus filhos, podendo observar sua evolução durante todo o
ano. As famílias também receberam agradecimentos e foram parabenizadas pelo trabalho que
não teria tido sucesso sem a ação das famílias. Esse agradecimento novamente enfatiza a
importância da divulgação das ações em saúde mental, que devem envolver e informar toda a
comunidade, foco da intervenção (MURTA, 2007).
Nesses momentos com os pais também foi enfocado como eles podem responder ou
contribuir com informações sobre a nova escola, incluindo visitas e conversas com outras
crianças já inseridas no ensino fundamental (irmãos, primos, amigos, vizinhos) sobre esse
novo momento de sua vida. Angústias e dúvidas também foram acolhidas nessas devoluções.
No último momento da intervenção, foram realizados três grupos com a turma na qual
foi aplicado o Lollipop. Essa atividade buscou instrumentalizar as crianças sobre a realidade
que enfrentariam no próximo momento escolar. Foram investigadas crenças e fantasias sobre
o novo colégio, dramatizado cenas possíveis no contexto da primeira série e demonstrado
objetivamente, com fotos, como irá ser estruturalmente o novo ambiente escolar.
Assim, a atuação do psicólogo na área escolar que, além da competência em
instrumentos avaliativos, entende a importância da adaptação ao novo período do ciclo de
vida que as crianças pré-escolares têm que enfrentar ao final da pré-escola, em que são
exigidas várias tarefas novas como: desempenho acadêmico, o ajustamento no novo ambiente
e a capacidade de formar amizades, entre outras (ANDRADA, 2007).
Para a atividade de adaptação das crianças da última turma da creche para o ensino
fundamental, bem como a intervenção de adaptação dos bebês à instituição, foram convidadas
todas as crianças e famílias para participarem, e não apenas selecionados casos nos quais já
havia alguma demanda específica. Segundo Murta (2007), é possível e desejável em ações de
prevenção em saúde mental atender a todas as pessoas de uma população (como das turmas
citadas), o que faz com que todos se beneficiem e que não se estigmatizem crianças já
rotuladas como problemáticas.
Outra intervenção do estágio foi o atendimento aos pais das crianças. De acordo com
Polonia e Dessen (2005), cada escola deve encontrar uma maneira própria de aproximar as
relações com a família. Nesse estágio, uma das formas de aproximação foram os
atendimentos aos pais que vieram procurar o serviço de Psicologia por algum motivo que
estava interferindo no processo de desenvolvimento de seu filho. Em alguns casos, em que as
estagiárias consideraram fundamental fazer um trabalho próximo às famílias, essas foram
contatadas e atendidas. O relacionamento, desta forma, se fez específico e compatível para os
envolvidos, trazendo benefícios para todos.
Dentro da própria instituição, outra atuação foi o acompanhamento individual e
coletivo das crianças. A inserção nas diversas turmas ocorreu de forma tranquila e foi uma
atividade considerada importante para que as estagiárias pudessem conhecer o funcionamento
particular de cada turma. Andrada (2005a) afirma que é interessante o psicólogo criar um
espaço de escuta onde possam aparecer as demandas do cotidiano da instituição. Essas
entradas nas salas foram feitas de acordo com essa idéia. Poderiam ser também um momento
para as professoras falarem de alguma questão do dia a dia na instituição.
O acompanhamento coletivo ocorreu o ano todo, sempre que chamado, o serviço de
Psicologia se fez presente nas diversas turmas e ambientes em que era requisitado. Nesses
monitoramentos, as estagiárias entravam nas turmas e observavam o funcionamento geral da
sala, a relação professora-criança e a relação criança-criança. Além disso, era analisada
também a forma com que as crianças reagiam frente a atividades e brincadeiras propostas
pelas professoras. O acompanhamento no próprio ambiente da criança é interessante de ser
realizado, pois, segundo Andrada (2005a), o sujeito é sempre relacional e deve ser visto como
tal. Dessa forma, é positivo observá-lo nas relações e nos ambientes dos quais ele participa.
Dentre os monitoramentos individuais, um deles ocorreu com a retirada de uma
criança da sala por algumas vezes para trabalhar questões específicas apresentadas pela
coordenação pedagógica. Nesses atendimentos, foram verificadas questões sobre o
desenvolvimento da criança e sobre a queixa apresentada para o serviço de Psicologia. O
outro acompanhamento individual pôde ser feito com a criança na sua própria sala e em sua
Abstract
Psychology in the school context has been under several changes during its
history. Understood only as related to psychometrics, educational psychology today is in
favor of the policy of prevention in mental health. The psychologist needs to insert
within and become near both local professionals, and children, and their families. This article
reports an internship in psychology at childhood education in a nursery in Santa Catarina.
With this report aims to enrich the practice of school psychology, especially in early
childhood education and forward positive experience experienced by the trainees.
Focuses intervention were diverse, involving the adaptation of the babies, the readiness
for literacy and groups with children. In addition to specific actions, the insertion in the
context and what activities were parts of routine
of interns in psychology was reported. During the period of probation was possible to
understand that the position of the trainee needs to be routine by placing the provision
of institution's needs and focused on prevention. The various interventions resulted in
improvements in the relationship of family-care center and contributed to clarify the role of
the psychologist in the school context, especially related to prevention in mental health.
Keywords: Educational psychology, Early childhood education, Mental health.
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Sobre os autores:
Viviane Vieira é Psicóloga formada pela Universidade Federal de Santa Catarina. Integrante do Núcleo de
Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento Infantil.
Janete Hansen é Psicóloga formada pela Universidade Federal de Santa Catarina. Integrante do Núcleo de
Estudos e Pesquisas em Desenvolvimento Infantil.
Mauro Luís Vieira é Pós-doutor, coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Desenvolvimento Infantil. É
Professor do departamento de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina.