RESUMO - O Fungo Stenocarpella Macrospora (Sin. Diplodia Macrospora) É Um
RESUMO - O Fungo Stenocarpella Macrospora (Sin. Diplodia Macrospora) É Um
RESUMO - O Fungo Stenocarpella Macrospora (Sin. Diplodia Macrospora) É Um
v7n2p129-139
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Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/USP, CX. P. 09, Piracicaba/SP, 13418-900,
[email protected]
2
EMBRAPA / CPAMN;
3
Universidade de Ponta Grossa;
4
Dow AgroSciences
Os fungos Stenocarpella maydis [(Berk.) comercialização dos grãos para o consumo e das
Sutton] [Sin. Diplodia maydis (Berk.) Saccardo], sementes para o plantio (Ribeiro et al., 2005).
D. zeae [(Schweinitz) Leveille], Stenocarpella Poucas são as informações existentes
macrospora (Earle) Sutton [Sin. D. macrospora sobre danos causados por podridões de colmo
(Earle)], Fusarium verticillioides [(Saccardo) do milho, no mundo. Shurtleff (1992) relatou
Nirenberg] (Sin. Fusarium moniliforme J. danos de 10 a 20%, em híbridos suscetíveis,
Sheld), F. graminearum (Schwabe) são pató nos Estados Unidos, sendo que os mesmos
genos associados às podridões do colmo podem chegar a mais 50%, sob condições am
(Pereira et al., 2005; Reis et al., 2004) e espiga, bientais favoráveis. No Brasil, a ocorrência
sendo frequentemente encontrados colonizando dessa doença é frequente e os danos podem
grãos e sementes desse cereal (Casa et al., 1998; ser comparados àqueles descritos por Shurtleff
Pinto, 1998). A maior intensidade de podridões (1992), ocasionando queda na produtividade
de espiga normalmente ocasiona maior dos campos e prejuízos à economia do país
ocorrência de grãos ardidos, indesejáveis na (Balmer & Pereira, 1987; Reis & Casa, 1996).
Dentre os patógenos causadores de podri renças significativas entre esses híbridos quanto
dões de colmo e espiga, destaca-se o fungo ao seu nível de resistência às duas espécies,
S. macrospora, que ocorre em quase todas as aventando a possibilidade de que a resistência
regiões produtoras de milho, notadamente nos a S. macrospora e a S. maydis tenham controles
estados de Minas Gerais, Goiás, São Paulo, genéticos distintos.
Bahia e Mato Grosso e no Sul (Casela et al., Considerando a importância de S. macros
2006). Além das podridões, esse patógeno pora como agente patogênico à cultura do milho
também causa a mancha foliar de diplodia e a inexistência de trabalhos que relatem o seu
(Pereira et al., 2005), doença que tem aumentado efeito sobre a germinação, este trabalho obje
de importância e adquirindo caráter epidêmico, tivou avaliar a correlação entre a severidade
a partir de 1995 (Mario et al., 1997). foliar da doença em diferentes híbridos e a sua
A semente infectada é um dos principais incidência nos grãos, assim como seu efeito
veículos de disseminação desse patógeno, sobre a germinação desses grãos.
sendo responsável pela sua introdução em
novas áreas de cultivo, mesmo distantes de Material e Métodos
seu local de produção. Antes do aumento
da ocorrência da mancha foliar de Diplodia Os experimentos de campo foram condu
macrospora, os relatos de incidência nas zidos nas safras de verão de 2002/2003 e de
sementes se restringiam à espécie S. maydis, 2003/2004, na estação experimental da Dow
provavelmente pela dificuldade em separar as AgroSciences, localizada no município de
espécies pelo método do papel de filtro. Em tra Uberaba-MG, onde as condições são favorá
balho realizado por Mario & Reis (2001), os veis à ocorrência de infecção natural, não sendo
autores descrevem um método para diferenciar necessária a realização de inoculações artificiais.
essas espécies, possibilitando que Mario et al. Foram testados 16 híbridos no primeiro
(2003) constatassem incidência de 3,25% e ano e 20 no segundo. A parcela experimental
12,36% de S. maydis, e 12,32% e 23,15% de S. constou de quatro linhas de quatro metros cada,
macrospora, nos anos de 1995/96 e 1996/97, com 20 plantas em cada linha. Os tratamentos
respectivamente. foram dispostos em blocos ao acaso, com
O uso de sementes sadias ou tratadas ade duas repetições. A severidade da doença foi
quadamente e o plantio de híbridos resistentes avaliada nas duas linhas centrais da parcela,
são medidas recomendadas para o controle da quando as plantas atingiram o estádio de grão
doença (Lucca Filho, 1987; Casa et al., 2006). leitoso a farináceo. Utilizou-se, para isso, uma
Segundo Casa et al. (2006), no Brasil, poucos são escala de notas com valores de 1 (0% de área
os relatos sobre a resistência genética de híbri foliar afetada; híbrido altamente resistente) a 9
dos comerciais às espécies de Stenocarpella. (acima de 50% de área foliar afetada; híbrido
Mario et al. (1997), avaliando 196 genótipos de altamente suscetível) (AGROCERES, 1996).
milho, encontraram 37% resistentes à mancha No ponto de colheita, as duas fileiras
foliar de Diplodia. Analisando a incidência de centrais de cada parcela foram colhidas e
S. maydis e S. macrospora em sementes de seis amostras de 1 kg dos grãos foram coletadas,
híbridos, Mario et al. (2003) constataram dife secadas e levadas ao Laboratório de Patologia
FIGURA 1. Correlação entre severidade foliar de S. macrospora e incidência nos grãos (A),
incidência nos grãos e germinação dos grãos (B) e entre germinação dos grãos e porcentagem de
grãos não germinados (C), no ano agrícola de 2002/2003.
Neste experimento, o híbrido DAS10 foi ano. Isso pode ser explicado pela utilização
o que apresentou a mais baixa severidade, não de diferentes genótipos, trazendo consigo dife
diferindo estatisticamente de 2C577, DAS12, rentes fatores genéticos. Híbridos com alta
P30K75, FORT, DAS3052, DAS657, DKB350, incidência de S. macrospora nos grãos tiveram
DAS08, DAS06, P30F33, DAS8480, DAS05, menor porcentagem de germinação, como
DAS69 e STRIKE. Mesmo considerando esses o híbrido DAS13. Outros, como o híbrido
híbridos como os mais resistentes, os valores DAS657, apresentaram alta porcentagem de
médios de severidade da doença nos mesmos os germinação de grãos sem ocorrência do pató
classificam como moderadamente resistentes. geno. Em relação à porcentagem de grãos não
Esses resultados se assemelham aos obtidos germinados, a correlação também foi alta,
por Mario et al. (1997), os quais constataram porém positiva, demonstrando o prejuízo fisio
que mais de 63% dos 196 híbridos avaliados lógico ocasionado pela colonização do patógeno
quanto à reação de resistência a S. macrospora nos grãos de milho, assim como sugerido por
apresentaram reação intermediária a suscetível. Pereira et al. (2005) e Lucca Filho (1987), para
Os híbridos mais suscetíveis foram DAS13, S. maydis.
P30F90, DAS19, DAS9560 e 2C599, sendo Todos os dados foram produzidos a partir
que esses dois últimos foram os que obtiveram de observações em grãos de milho, uma vez que
maiores valor de severidade média. foram produtos da multiplicação de híbridos.
Houve diferenças significativas entre No entanto, esses dados podem perfeitamente
os híbridos para as variáveis incidência de S. ser extrapolados para sementes.
macrospora nos grãos, germinação e grãos Este parece ser o primeiro trabalho com
não germinados (Tabela 2). O híbrido DAS13 provando as diferenças entre severidade de
apresentou a maior incidência média de S. S. macrospora nas folhas e sua incidência
macrospora nos grãos, não diferindo estatis nos grãos, bem como o efeito negativo da
ticamente de DAS9560, P30F90, STRIKE, colonização do fungo nos grãos ou sementes
DAS06, P30K75, DKB350 E FORT (Tabela de milho.
2). Assim como no ano anterior, não houve cor
relação entre severidade da doença e incidência Conclusões
do patógeno nos grãos (Figura 2). Entretanto,
para alguns genótipos, essa correlação parece Não houve correlação entre as variáveis
ser negativa, como no caso do DAS13 e severidade foliar e incidência de S. macrospora
DAS657. O primeiro apresentou um dos nos grãos de milho.
maiores níveis de resistência à doença na parte A correlação entre a incidência de S.
aérea e alta incidência nos grãos. O segundo, macrospora nos grãos e a porcentagem de germi
ao contrário, mostrou-se altamente suscetível nação foi alta e negativa, e entre a incidência
ao patógeno na parte aérea e não apresentou de S. macrospora nos grãos e a porcentagem
incidência do fungo nos grãos. de grãos não germinados foi alta e positiva, no
A correlação entre incidência do fungo segundo ano, evidenciando que esse patógeno
nos grãos e germinação dos grãos foi alta e afeta a germinação de grãos ou sementes de
negativa, diferindo do ocorrido no primeiro milho.
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Severidade da doença em planta inteira, medida por meio da escala de notas adaptada de Agroceres (1996) – 1
(altamente resistente) a 9 (altamente suscetível).
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Médias seguidas de letras iguais, na coluna, não diferem entre si, ao nível de 5% de probabilidade, pelo teste de
Tukey.
FIGURA 2. Correlação entre severidade foliar de S. macrospora e incidência nos grãos (A),
incidência nos grãos e germinação dos grãos (B) e entre germinação dos grãos e porcentagem de
grãos não germinados (C), no ano agrícola de 2003/2004.