A Produção Do Território Goiano: Economia, Urbanização, Metropolização
A Produção Do Território Goiano: Economia, Urbanização, Metropolização
A Produção Do Território Goiano: Economia, Urbanização, Metropolização
Reitor
Edward Madureira Brasil
Vice-Reitor
Eriberto Francisco Bevilaqua Marin
Diretora-Geral
Maria das Graças Monteiro Castro
Conselho Editorial
Heleno Godói de Sousa, Jesus Carlos da Mota, Joffre Rezende Filho,
José Rildo de Oliveira Queiroz, José Antunes Marques,
Robervaldo Linhares Rosa, Tadeu Pereira Alencar Arrais
Diretor-executivo
Cláudio Rodrigues Leles
Conselho Deliberativo
Jesiel Freitas Carvalho (presidente), Ana Paula Junqueira Kipnis,
Cecília Maria Alves de Oliveira, Divina das Dores de Paula Cardoso,
Magda de Miranda Clímaco, Marco Aurélio Carbone Carneiro,
Nélson Aníbal Lesme Orué, Noé Freire Sandes, Rosidalva Lopes Feitosa da Paz
Conselho Fiscal
Antônio Tavares Dias Lage (presidente), Edvânia Braz Teixeira Rodrigues,
Ricardo Caetano Rezende, Wenismar Pereira de Lima
Tadeu Alencar Arrais
11 Prefácio
13 O território produzido
25 Economia
Geografia econômica
Integração econômica
Economia contemporânea
97 Urbanização
Conceito de urbanização
Primórdios da urbanização
Urbanização contemporânea
145 Metropolização
Conceito de metropolização
Formação territorial
Região Metropolitana de Goiânia
195 Conclusão
199 Referências
A ordem global é “desterritorializada”, no sentido de que separa
o centro da ação e a sede da ação. Seu “espaço”, movediço
e inconstante, é formado de pontos, cuja existência
funcional é dependente de fatores externos. A ordem local,
que “reterritorializa”, é a do espaço banal, espaço irredutível,
porque reúne numa mesma lógica interna todos
os seus elementos: homens, empresas, instituições,
formas sociais e jurídicas, e formas geográficas.
O cotidiano imediato, localmente vivido, traço de
união de todos esses dados, é a garantia da comunicação.
Cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global
e de uma razão local, convivendo dialeticamente.
Milton Santos
Prefácio
1
A expressão “ilusão cartográfica” é encontrada em Ohmae (1996, p. 14) e Badie
(1995, p. 14). Para o primeiro, os indícios “são tão exaustivos como perturbado-
res: em uma economia sem fronteiras, os mapas focalizados nas nações que costu-
mamos utilizar para entender a atividade econômica são totalmente enganadores.
14 Mas qual o propósito desse discurso? Para a América Latina, o de-
bate foi acompanhado da palavra “desregulamentação”, o que abriu
caminho para duas estratégias políticas articuladas. A primeira propa-
gou a ampliação das trocas internacionais por meio da falsa ideia de
abertura das fronteiras, o que aumentou a drenagem de renda comer-
cial dos países periféricos por meio de um sistema de trocas desiguais.
A segunda colocou as privatizações dos setores estratégicos da econo-
mia, sobretudo as telecomunicações e a produção de energia, como
condição sine qua non para a retomada do crescimento econômico.
De repente, dispor dos ativos fundamentais para a economia nacio-
nal, seja no Brasil ou na Argentina, tornou-se um excelente negócio.
As duas estratégias, somadas ao ajuste fiscal, formaram o tripé de sus-
tentação do discurso sobre a crise do Estado-nação.2 Fiori (1997, p.
12) assim resume esse receituário:
3
Sobre a genealogia da nação, ver Hobsbawm (1990), e, sobre a relação entre Esta-
do e neoliberalismo, ver Harvey (2008).
Mas o Estado, visto por dentro das fronteiras, também está longe
de constituir-se de uma planície isotrópica, pois nele encontramos as
mesmas contradições e conflitos próprios do capitalismo. Está aí outra
propriedade do Estado, que é a de lidar com a produção de territórios
desiguais. E não se trata de uma desigualdade natural, que abranja fa-
tores como vegetação, relevo, hidrografia e povoamento, mas de uma
desigualdade produzida histórica e espacialmente e que demanda uma
ação territorial de sua parte para combater, por meio do planejamento,
as chamadas desigualdades regionais. Na história política e econômica
brasileira, a desigualdade regional surgiu naturalizada e o planejamen-
to, nas suas diferentes escalas, carregado de positividade.
Em clássico trabalho sobre o planejamento e a Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), Oliveira (1977, p. 24) defen-
de que o planejamento foi uma forma de “racionalização da reprodu-
ção ampliada do capital”. Sua análise deve ser compreendida a partir
do contexto político e econômico próprio do último quartel do sécu-
lo XX, quando o planejamento passou a ser alvo de críticas movidas
por vários espectros ideológicos. Por um lado, não há como negar que
a expansão do capitalismo e a necessidade de modernizar o territó-
rio brasileiro, como prerrogativa política, abriu pouca margem para
a participação popular nas decisões. Por outro, a própria noção de
intervenção foi associada, negativamente, a problemas como o déficit
público, reproduzindo uma visão de que as demandas da sociedade, a
exemplo do consumo e do emprego, seriam resolvidas pelo mercado.
Souza (2002, p. 45) assim explica a crítica ao planejamento:
Objetos não agem, mas, sobretudo, no período histórico atual, podem nascer
predestinados a um certo tipo de ações, a cuja plena eficácia se tornam indis-
pensáveis. São as ações que, em última análise, definem os objetos, dando-lhes
um sentido. Mas hoje, os objetos “valorizam” diferentemente as ações, em
virtude de seu conteúdo técnico. (Santos, 1997, p. 70).
4
Para Weber (1992, p. 40), a ação social, “como toda ação, pode ser: 1) racional
com objetivos: determinada por expectativas no comportamento tanto de obje-
tos do mundo exterior como de outros indivíduos, e utilizando essas expectativas
como condições ou meio para chegar aos fins racionalmente planejados e persegui-
dos. 2) racional com base em valores: determinada pela crença consciente no valor
– ético, estético, religioso ou de qualquer outra forma com que se lhe interprete
– próprio e absoluto de uma determinada conduta, sem relação alguma com o re-
sultado, ou seja, puramente no mérito do valor. 3) afetiva, especialmente emotiva,
determinada por afetos e estados sentimentais atuais, e 4) tradicional: determinada
por um costume arraigado”.
5
A expressão “ator social” designa um conjunto que engloba os segmentos econô-
micos, os movimentos sociais, o Estado, a sociedade civil etc. À revelia de as tipo-
logias terem, sobretudo, uma função didática, nosso foco é demonstrar a qualidade
da ação na produção do território, o que nos distanciou delas nesse momento.
Vasconcelos (2011) adota a expressão “agentes sociais” e propõe uma lista de vinte
denominações úteis para aqueles que optarem por uma análise tipológica.
6
Haesbaert (2004, p. 40) sintetiza assim as vertentes do conceito de território: “− polí-
tica (referida às relações espaço-poder em geral) ou jurídico-política (relativa também
a todas as relações espaço-poder institucionalizadas): a mais difundida, onde o terri-
tório é visto como um espaço delimitado e controlado, através do qual se exerce um
determinado poder, na maioria das vezes – mas não exclusivamente – relacionado ao
poder político do Estado. – cultural (muitas vezes culturalistas) ou simbólico-cultural:
prioriza a dimensão simbólica e mais subjetiva, em que o território é visto, sobretudo,
como o produto da apropriação/valorização simbólica de um grupo em relação ao
seu espaço vivido. – econômica (muitas vezes economicista): menos difundida, enfa-
tiza a dimensão espacial das relações econômicas, o território como fonte de recursos
e/ou incorporado no embate entre classes sociais e na relação capital-trabalho, como
produtivo na divisão ‘territorial’ do trabalho, por exemplo”.
Geografia econômica
7
Segundo Santos (1979, p. 16), o circuito superior “originou-se diretamente da
modernização tecnológica e seus elementos mais representativos hoje são os
8
Furtado (1983, p. 5) assim sintetiza os dois principais marcos da teoria do de-
senvolvimento econômico: “A teoria do desenvolvimento trata de explicar, numa
perspectiva macroeconômica, as causas e o mecanismo do aumento persistente
da produtividade do fator trabalho e suas repercussões na organização da pro-
dução e na forma como distribui e utiliza o produto social. Esta tarefa explica-
tiva projeta-se em dois planos. O primeiro – onde predominam as formulações
abstratas – compreende a análise do mecanismo propriamente dito do processo
de crescimento, o que exige a construção de modelos ou esquemas simplificados
dos sistemas econômicos existentes, baseados em relações estáveis entre variáveis
quantificáveis e consideradas de importância relevante. O segundo – que é o plano
histórico – abrange o estudo crítico, em confronto com uma realidade dada, das
categorias básicas definidas pela análise abstrata. Não basta construir um modelo
abstrato e elaborar a explicação do seu funcionamento”.
9
A divulgação dos quadros estatísticos econômicos, demográficos e sociais requer
a adoção de recortes que facilitem sua comparação temporal e espacial. Quem se
dispõe a trabalhar com os quadros estatísticos brasileiros se depara com diferentes
modos de agregação estatística, resultado das formas de divisão administrativa e
da regionalização adotadas ao longo dos tempos. Em 1872, ainda quando Goiás
era província, os dados populacionais foram agregados a partir da divisão em pa-
rochias, como a de Santana de Goyaz e a do Divino Espírito Santo de Entre Rios.
Naquele período, as informações populacionais ainda incluíam o número de ho-
mens livres e escravos (Brasil, 1872). Os recenseamentos da década de 1920 apre-
sentavam informações em escala estadual e municipal. No censo demográfico de
1940 (IBGE, 1950), encontramos informações sobre população de fato, população
de direito e moradores presentes na data do levantamento. No censo demográfico
de 1960 (IBGE, 1960), além dos municípios, a novidade foi a agregação das infor-
mações nas chamadas zonas fisiográficas. Goiás foi regionalizado em onze dessas
zonas, das quais a mais conhecida é Mato Grosso de Goiás. Em 1970, as zonas
fisiográficas deram lugar a microrregiões homogêneas, e Goiás foi regionalizado
em quinze regiões (IBGE, 1970d). Atualmente, o IBGE reconhece as microrregiões
geográficas e as mesorregiões geográficas.
10
Em algumas regiões brasileiras, ainda sobrevivem práticas de transformação
e armazenamento de gêneros alimentícios típicas das fazendas tradicionais. A
carne de lata e a fabricação de sabão a partir da banha do porco são exemplos
disso. No primeiro caso, a carne de porco, depois de frita, é depositada em um
recipiente – geralmente uma lata de 18 litros – com banha derretida que logo
endurece, o que conserva a carne por meses. O sabão, por sua vez, é fabricado
a partir do derretimento da banha do porco e da mistura com soda cáustica.
Essas atividades marcaram a paisagem da fazenda tradicional e formaram, jun-
tamente com as manifestações culturais e as práticas produtivas e de criação,
um modo de vida que perdurou em parte significativa do território goiano até
bem pouco tempo. O uso intensivo de tecnologia, a monocultura, o assalaria-
mento, dentre outros processos, substituíram essas práticas. É difícil imaginar
que trabalhadores assalariados de uma grande propriedade de cultivo de soja
ou de cana-de-açúcar, por exemplo, dediquem tempo para o processamento da
gordura do porco, quando o mais comum é adquirir óleos vegetais na cidade.
Não se trata de uma escolha do trabalhador, mas de uma estratégia de maxi-
mização da exploração da mão de obra no campo, agora dedicada às culturas
consideradas lucrativas pelos grandes grupos econômicos. Mas não deixa de
ser irônico que a carne de lata, atualmente, seja uma iguaria valorizada no
mercado nacional.
50ºW
Formosa
IA
UA
Jaraguá
AG
Goyaz Pirenópolis Boa Vista
AR
MA
Santa Planaltina
Corumbá
RAN
Luzia
Anápolis
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Campinas Couto Magalhães
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100 km
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50
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Estabelecimentos M Sítio d’Abadia
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20
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1.700.000
1.000.000
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400.000
100.000 Jatahy
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50ºW
0 100 200 km
50ºW
Formosa
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Jaraguá
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Pirenópolis Planaltina Boa Vista
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Goyaz Corumbá Santa
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Anicuns Campinas Luzia Couto Magalhães
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Grimpas Bela Vista
Pedro Afonso
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100 km
TOCANTINS
Morrinhos
Buriti Alegre Caldas Novas
50 Porto Nacional
Corumbaiba Catalão
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Sta. Rita do Paranaiba São José
0
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Ilha Natividade
do Peixe
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Conceição do Norte
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Cavalcante Domingos
Vila
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Estrada de ferro
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planejada
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Estrada de rodagem
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População
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0 100 200 km
800.000
700.000
Toneladas 600.000
500.000
400.000
300.000
200.000
100.000
São Paulo
Minas Gerais
Goiás
Pará
Maranhão
Brasil
Rio Grande
do Sul
40.000.000
35.000.000
30.000.000
25.000.000
Cabeças
20.000.000
15.000.000
10.000.000
5.000.000
0
Goiás
Bahia
São Paulo
Piauí
Brasil
Minas Gerais
Mato Grosso
Rio
de Janeiro
11
Mato Grosso de Goiás é caracterizado por Faissol (1952, p. 7) como “uma
extensa região florestal situada na parte centro-sul do Estado de Goiás. A área
de mata original ainda não está calculada precisamente, mas pode-se avaliá-la
em mais ou menos 20.000 quilômetros quadrados. Ela começa nas proximida-
des da cidade de Anápolis e continua até o oeste até a base da Serra Dourada,
na região do Córrego do Ouro; no sentido norte-sul, vai das proximidades de
Brasília
LEGENDA
Araguari - Roncador (1909 -1914)
Posto do Ipé
Ramal de Ouvidor (1913 -1922)
Luziânia
Pires do Rio - Leopoldo de Bulhões (1922-1931)
Anápolis
Ramal de Anápolis (1931-1935)
Engenheiro Castilho
General Curado Monte Carmelo - Ouvidor (1942)
Santa
Marta Bonfinópolis Engenheiro Valente
Centro Silvânia Leopoldo de Bulhões - Goiânia (1950 - 1964)
Campinas Leopoldo de
Senador
Canedo Bulhões Ramal de Brasília (1967 - 1978)
Goiânia Vianópolis
Ponte Funda Trecho desativado
Caraíba
Estações na Sede Municipal do período
Egerineu Teixeira
Estações fora da Sede Municipal do período
Engenheiro Balduíno
Pires do Rio
Capital do Estado
Roncador Novo
Roncador
Urutaí
Cidade
Ipameri
Veríssimo 48.166
Anhaguera Três
Ranchos Sistema de Coordenadas Geográficas
Datum Horizontal: SAD-1969
Amanhece
Mato Grosso de Goiás em evidência, com 182 dos 459 silos registrados
em Goiás. Em relação ao crédito de entidades governamentais, Mato
Grosso de Goiás registrou 43.690 contratos, a Vertente Goiana do Pa-
ranaíba, 43.613 e a Serra do Caiapó, 33.322. Os municípios com maior
número de contratos foram Rio Verde, Santa Helena e Itumbiara, com
19.971, 12.750 e 7.429 contratos, respectivamente (IBGE, 1970b).
Os investimentos, diferencialmente distribuídos no território goiano,
não atenderam às mesmas demandas, mesmo porque a estrutura fundiá-
ria de Mato Grosso de Goiás era distinta daquela da Vertente Goiana do
Paranaíba e da Região do Caiapó, essa última correspondendo ao atual
Sudoeste Goiano, região que já se preparava para atender ao chamado
nacional. Daí a positividade do discurso da modernização agrícola es-
tar relacionada às necessidades econômicas nacionais, como o equilíbrio
das contas públicas a partir da ampliação da pauta de exportações pri-
márias. Tal perspectiva está presente no II Plano Nacional de Desenvol-
vimento (PND), documento que qualifica o Centro-Oeste como celeiro
nacional – uma velha função que, na divisão internacional do trabalho,
era reservada aos países periféricos (Brasil, 1973). A partir da década de
1970, especialmente com a lógica dos chamados Complexos Agroindus-
triais (CAI), tornou-se mais difícil separar a agricultura da indústria.
A mudança ocorrida no Sudoeste Goiano a partir da década de
1970 esteve relacionada aos condicionantes ambientais e à oferta de
terras, o que permitiu ampliar a produção de soja em curto intervalo
de tempo (Tabela 2). Contribuíram para esse fato a abertura para o
mercado internacional e a diversificação do consumo de soja, espe-
cialmente de produtos elaborados e semielaborados, como o óleo ve-
getal que substituiu a gordura animal − produtos presentes na pauta
de exportação das décadas anteriores. A ampliação ocorreu, primeiro,
horizontalmente, com o aumento da área plantada, e por isso o esto-
que de terras foi fundamental. Em seguida, a produtividade aumentou
verticalmente, com a adaptação das sementes às condições edafocli-
máticas e a evolução dos implementos agrícolas e do maquinário.
13
Segundo Carvalho (2008, p. 4), de modo geral, “o nitrogênio (N), o fósforo (P) e
o potássio (K) são os nutrientes com a maior representatividade econômica para
as indústrias de fertilizantes, de modo que outros nutrientes utilizados no processo
produtivo – em função da baixa quantidade demandada – não possuem expressão
para o setor”.
14
Eis o art. 2º do Decreto n.º 76.593, de 14 de novembro de 1975 (Brasil, 1975), que
institui o Proálcool: “A produção do álcool oriundo da cana-de-açúcar, da man-
dioca ou de qualquer outro insumo será incentivada através da expansão da oferta
de matérias-primas, com especial ênfase no aumento da produtividade agrícola, da
modernização e ampliação das destilarias existentes e da instalação de novas uni-
dades produtoras, anexas a usinas ou autônomas, e de unidades armazenadoras”.
20
Vestuário, calçados e 79
artefatos de tecidos 145
28
Mobiliário 57
335
25 Anápolis
45
Madeira
478 Goiânia
58 Goiás
Transformação de 104
produtos minerais 950
não metálicos
26
Produtos alimentícios 224 1.796
Em 1990, a queda na variação do PIB goiano não foi tão brusca quanto a na-
cional, porque o setor agropecuário possuía alta participação na composição
do PIB. Os efeitos perversos da abertura comercial, em primeira instância, fo-
ram menos pujantes nesse segmento. Desse modo, a agricultura cresceu 2,5%,
compensando a redução do setor industrial, que caiu 2,9%.
Ano
Gênero
1987 1988
Metalurgia 465 381
Construção 829 945
Mecânica 870 685
Mobiliário 1.048 635
Vestuário, calçados e artefatos de tecidos 2.156 1.763
Produtos alimentícios 2.854 1.192
Demais gêneros 1.733 451
Total do estado 9.955 7.138
Fonte: Goiás (1989).
60
50
Porcentagem
40
1980
30
1984
20
1988
10
0
Indústria Agropecuária Serviços
15
De acordo com relatório gerencial do FCO (Banco do Brasil, 2010), entre janeiro e
setembro de 2010 foram contratados 25.435 projetos, no valor total de 1.128.589
reais. Desse total, 552.138 reais foram destinados ao setor empresarial e 576.451
reais, ao setor rural. Nesse mesmo período, o montante representou 38% do total
destinado ao Centro-Oeste.
Economia contemporânea
48º O
46º O
52º O
50º O
Pará
T O C A
N T I N S
or
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13º S
Salva
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153
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Brava Domingos
Serra da
Mesa
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164
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15º S
Ri o Rubiataba Vila Boa
O
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T
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Carmo do 020
Itapuranga Rio Verde
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Matrinchã
Porto DF
070 Seco
16º S
070 153 060
S
á
Cuiab 158
A I
Inhumas
060 Anápolis Corumbá IV 040
Silvânia
G E R
Anicuns
Goiânia
17º S Senador 050
184 Jandaia 060 Canedo Be
Palmeiras lo
C uiabá de Goiás Ho
riz
Montividiu Paraúna on
Acreúna Edeia Pontalina 153 Ipameri te
Perolândia 364 Vicentinópolis
Rio Sto.
Verde Antônio
Porteirão Morrinhos
Corumbá I 18º S
Jatai
Mineiros
452 Goiatuba
Sta. Helena
Paranaíba Catalão
Serranópolis 364
Itumbiara
Chapadão
do Céu
Ri o
Quirinópolis
Emborcação
São P
49º O
53º O
L M Escala gráfica
LEGENDA
Usina de etanol
Ferrovia implantada (em operação; produção
Gasoduto
de álcool em mil litros)
Ferrovia planejada/
em construção Principais 135.000 a 195.306
usinas hidrelétricas
(mil kw) 119.680 a 50.000
Hidrovia existente
Abaixo de 48.600
DF
52º O
O
164
S Porto
S
070
Seco
O
16º S R
G Montes Claros
153 060
á de Goiás 070
C uia b
158
Anápolis
O
060
A T
040
Silvânia
M
184 050
Goiânia Senador
Paraúna
Canedo
Caiapônia Montividiu 060
Portelândia
Indiara Ipameri
Perolândia
Acreúna
153
Cuiabá
Rio Verde Turvelândia
Campo
364 Sta. Helena Vicentinópolis Alegre
de Goiás Morrinhos
Mineiros
Jataí Goiatuba
Maurilândia 452
Itumbiara Catalão
Castelândia Bom Jesus Paranaíba
Serranópolis 364 de Goiás
Chapadão
São P
do Céu
Quirinópolis Cachoeira S
Dourada I
060 A
R
Araguari
aulo E
Porto de Inaciolândia G 19º S
19º S M AT
O GRO São Simão
SSO São
DO A S
o
Simão I N
Ri
SU M Projeção policônica
L
52º O
50 50 100 150 km
50º O
Escala gráfica
LEGENDA
Integração multimodal:
rodoviário,hidroviário, Cooperativas
ferroviário e naval.
Ferrovia implantada Caramuru Comigo
Ferrovia planejada/ Armazéns
em construção
Agroindústrias
Gasoduto
Hidrovia existente
Capacidade de armazenagem (ton.)
Rodovia federal 360.000
250.000
150.000
Rodovia estadual
50.000
Porto 5.000
A figura indica os municípios onde estão presentes elementos técnicos que permitem
a produção e o consumo de produtos da Cooperativa Mista de Produtores Rurais do
Sudoeste Goiano (Comigo) e da Caramuru. O ponto comum entre atores que atuam em
várias escalas e nas diversas partes da cadeia produtiva é a possibilidade de manejo de
estoques, o que acarreta maior lucratividade em um mercado globalizado.
16
“Principal eixo de conexão ferroviária entre as regiões Nordeste, Sudeste e Centro-
-Oeste do Brasil, a FCA é controlada pela Vale, que detém 99,9% de suas ações.
Criada em 1996, com o processo de desestatização da Rede Ferroviária Federal
(RFFSA), a FCA opera aproximadamente 12 mil vagões e 500 locomotivas moni-
toradas via satélite (GPS). Em seus 8.023 quilômetros de extensão, a ferrovia passa
por 316 municípios em sete estados brasileiros (Minas Gerais, Espírito Santo, Rio
de Janeiro, Sergipe, Goiás, Bahia, São Paulo) e no Distrito Federal. Atualmente, a
FCA se destaca como um importante corredor logístico de carga geral. Com acesso
a portos localizados nos estados da Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, a malha
da ferrovia está na área de influência do Terminal Marítimo Inácio Barbosa, em
Sergipe. A FCA também está interligada com as principais ferrovias brasileiras,
permitindo a conexão com os maiores centros consumidores do país. A variedade
de vagões utilizados na ferrovia permite o transporte de produtos diversificados
com a máxima segurança. Entre eles, álcool e derivados de petróleo, soja, cimento,
ferro-gusa, bauxita, clínquer, fosfato e cal, além de produtos siderúrgicos e petro-
químicos” (Vale, 2010).
São Miguel
do Araguaia
Niquelândia
Aruanã
Britânia Ceres
Goiás DF
DF
Anápolis
Luziânia
Goiânia Inhumas
Anapólis
Cristalina
Trindade Goiânia
Aparecida
Itumbiara
Chapadão
do Céu
LEGENDA
Consumo total de energia Principais consumidores
por município (Mwh) por município (%)
Sistema de Coordenadas Geográficas
1.450 - 23.598 210.468 - 337.312 Datum Horizontal: SAD-1969
Outros Residencial
Elaboração: Cristiano Martins da Silva
24.569 - 77.758 519.549 - 700.565
Figura 11. Consumo de energia total dos municípios goianos e principais consumi-
dores por município, em 2010.
Fonte: Goiás (2010b); IBGE (2010a).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.
4.000.000
3.500.000
Free on Board (FOB)
3.000.000
2.500.000
2.000.000
1.500.000
1.000.00
500.000
0
Semimanu- Manu-
Total Básicos
faturados faturados
2000 544.864 404.071 114.876 25.916
2005 1.817.393 1.519.953 185.833 111.607
2009 4.091.752 3.486.608 360.122 244.527
3.000.000
2.500.000
Free on Board (FOB)
2.000.000
1.500.000
1.000.00
500.000
0
Básicos Semimanu- Manu-
Total
faturados faturados
2000 374.289 32.199 26.866 315.223
2005 724.009 20.422 77.579 626.008
2009 3.049.986 2.118.200 296.783 2.635.048
no caso europeu, por Veltz (1999). Tal perfil, marcado pelo predomí-
nio de um grande grupo econômico, é mais suscetível aos impactos de
crises econômicas, tendo em vista que as economias municipais são
dependentes. Ademais, as empresas tornam-se atores sociais hegemô-
nicos nesses municípios, influenciando seu destino político.
A leitura territorial, pela ótica da balança comercial, auxilia na com-
preensão dos padrões de localização regional dessas atividades, o que
se mostra relevante no caso de Goiás. Muito se escreveu na literatura
regional sobre a especialização das atividades ligadas ao setor agrope-
cuário goiano. É comum a referência ao Sudoeste Goiano como celeiro
regional de grãos, em contraste com outras microrregiões, como o Vão
do Paranã. O expediente metonímico, entretanto, prejudica a visão da
totalidade. Na verdade, a produtividade regional (agrícola, pecuária,
2.500.000
2.000.000
1.500.000
Hectares
1.000.000
500.000
0
Cana-
Soja Arroz de- Milho
açúcar
1995 1.265.511 264.382 115.073 880.318
2008 2.181.571 100.870 403.970 905.710
17
“Mais recentemente, tem aumentado a produção obtida na safrinha, ou segunda
safra. A safrinha refere-se ao milho de sequeiro, plantado extemporaneamente, em
fevereiro ou março, quase sempre depois da soja precoce, predominantemente na
região Centro-Oeste e nos estados do Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Verifica-
-se nas últimas safras um decréscimo na área plantada no período da primeira
safra, mas que tem sido compensado pelo aumento dos plantios na safrinha e no
aumento do rendimento agrícola das lavouras de milho. Embora realizados em
uma condição desfavorável de clima, os sistemas de produção da safrinha têm sido
aprimorados e adaptados a essas condições, o que tem contribuído para elevar os
rendimentos das lavouras também nessa época” (Embrapa, 2010).
51º O
49º O
53º O
47º O
T O C A
N T I N S
13º S
São Miguel
do Araguaia
50 0 50 100 150 km
Escala gráfica
I A
14º S
O
S Flores
B A H
São João
de Goiás
S
D’Aliança
O
Água Fria
R
15º S
G
Vila de Goiás
Propício
Uruana
O
T
Cidade
A
de
M
16º S Goiás
S
Luziânia
A I
Santa Helena
Doverlândia de Goiás
Goiâni a Silvânia
G E R
Caiapônia Paraúna 8 Cristalina 17º S
Piracanjuba
Montividiu Edeia Ipameri Campo Alegre
Perolândia
7 de Goiás
Mineiros
Rio Verde Porteirão Morrinhos
18º S Catalão
Jataí Goiatuba
Bom Jesus
4 de Goiás 1- Quirinópolis
Chapadão Quirinópolis Itumbiara
2 2- Santa Helena de Goiás
do Céu Gouverlândia 3- Gouverlândia
A S 6
M AT 5 I N 4- Porteirão
O GR M 5- Bom Jesus de Goiás
OS S 1 6- Itumbiara
OD 7- Goiatuba
OS 3
UL
52º O
8- Edeia
49º O
LEGENDA
Produção (toneladas)
3.100.000 Produtos
Arroz
1.870.000
Cana-de-
açúcar
1.000.000
Feijão
508.000
Milho
193.000
65.000 Soja
4.000
Figura 15. Produção agrícola dos dez maiores municípios produtores de bens selecio-
nados em Goiás, em 2009.
Fonte: IBGE (2010a).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.
51º O
49º O
53º O
47º O
T O C A
N T I N S
13º S
São Miguel
50 0 50 100 150 km do Araguaia
Escala gráfica
I A
14º S
O
São João
Flores
B A H
D’Aliança
de Goiás
S
O
R
15º S
G
Cidade
A
de
M
16º S Goiás
S
Luziânia
A I
Santa Helena
Doverlândia de Goiás
Goiânia
G E R
Caiapônia Paraúna Silvânia Cristalina 17º S
Piracanjuba
SU
49º O
L 9- Jataí
LEGENDA
Área colhida (hectares)
3.100.000 Produtos
Arroz
1.870.000
Cana-de-
açúcar
1.000.000
Feijão
508.000
Milho
193.000
65.000 Soja
4.000
Figura 16. Área colhida dos dez maiores municípios produtores de bens selecionados
em Goiás, em 2009.
Fonte: IBGE (2010a).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.
60
Porcentagem das toneladas
50
40
30 24,86 24,69
20
13,61
10
0
inglesa
Alho
Café
Cebola
Feijão
Tomate
Trigo
Batata
Fonte: <http://www.jbs.com.br>.
Fonte: http://www.jbs.com.br/. Acesso em 24/12/2010. Acesso em 20/11/2010.
51º O
49º O
53º O
47º O
T O C A
N T I N S
13º S
São Miguel
do Araguaia
50 0 50 100 150 km
I A
14º S O Nova
Crixás
S
B A H
S
O
R
15º S
G
Jussara
O
4
T
A
M
16º S
Itaberaí
S
Inhumas
Leopoldo
A I
Anicuns
de
Goiâni Bulhões
a
Caiapônia 5 2
G E R
Cristalina
Bela Vista de Goiás 17º S
3 Pires
do
Mineiros Montividiu Santo Antônio Piracanjuba Rio Urutaí
da Barra
Ipameri 1
18º S Morrinhos
Jataí Rio Verde
1- Urutaí
Aparecida do 2- Pires do Rio
Rio Doce 3- Bela Vista de Goiás
Quirinópolis
A S
M AT
O GR I N 4- Itaberaí
O
M 5- Rio Verde
SSO
DO
SU
L
52º O
49º O
LEGENDA
Produção (cabeças)
12.000.000
Efetivos
Aves
3.000.000
Bovinos
1.000.000 Suínos
500.000
15.000
Figura 18. Produção pecuária dos dez maiores municípios produtores de Goiás, em
2009.
Fonte: IBGE (2010b).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.
“Portos secos são recintos alfandegados de uso público, situados em zona secundá-
ria, nos quais são executadas operações de movimentação, armazenagem e despacho
aduaneiro de mercadorias e de bagagem, sob controle aduaneiro. As operações de
movimentação e armazenagem de mercadorias sob controle aduaneiro, bem assim a
prestação de serviços conexos, em porto seco, sujeitam-se ao regime de concessão ou
de permissão. A execução das operações e a prestação dos serviços conexos serão efeti-
vadas mediante o regime de permissão, salvo quando os serviços devam ser prestados
em porto seco instalado em imóvel pertencente à União, caso em que será adotado o
regime de concessão precedida da execução de obra pública”.
Fonte: <http://www.receita.fazenda.gov.br/Aduana/LocaisRecintosAduaneiros/PortosSecos/De-
fault.htm>.
48º O
47º O
46º O
52º O
51º O
53º O
50º O
Pará
T O C A
N T I N S
do r
13º S
Salva
153
uaia
Minaçu
A ra g
Alto
Horizonte
O
14º S 164
I A
S
010
B A H
O
R
Niquelândia
G
15º S Crixás
Ri o
O
Barro Alto
T
A
020
M
070 DF
16º S Porto Seco 16º S
Americano 070 153 060
S
á
Cuiab 158 do Brasil Anápolis
A I
060
Goiânia 040
G E R
Senador
17º S 050 17º S
Canedo
184 060 Be
lo
C uiabá Ho
riz
on
153 te
364
Catalão
18º S
452
Paranaíba
364 Ouvidor
São P
GRO M
aulo
49º O
53º O
LEGENDA
Minérios Convenções
Arrecadação (R$)
Amianto Crisotila Ferrovia implantada
21.000.000,00
Níquel Ferrovia planejada/
em construção
Minério de níquel
Hidrovia existente
Fosfato
7.000.000,00
Hidrovia planejada
Cobre
Apatita 2.000.000,00 Rodovia federal
18
“A Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais, estabelecida
pela Constituição de 1988, em seu Art. 20, § 1º, é devida aos Estados, ao Distri-
to Federal, aos Municípios, e aos órgãos da administração da União, como con-
traprestação pela utilização econômica dos recursos minerais em seus respectivos
territórios. [...] As alíquotas aplicadas sobre o faturamento líquido para obtenção
do valor da CFEM variam de acordo com a substância mineral. Aplica-se a alí-
quota de 3% para: minério de alumínio, manganês, sal-gema e potássio. Aplica-se
a alíquota de 2% para: ferro, fertilizante, carvão e demais substâncias. Aplica-se a
alíquota de 0,2% para: pedras preciosas, pedras coradas lapidáveis, carbonados e
metais nobres. Aplica-se a alíquota de 1% para: ouro” (Brasil, 2010b).
19
Considera-se microempresa o empreendimento com faturamento igual ou inferior
a 240 mil reais; a pequena empresa, por sua vez, tem faturamento superior a 240
mil reais e inferior a 1,8 milhão de reais (Goiás, 2010b).
48º O
46º O
47º O
49º O
52º O
51º O
53º O
50º O
T O C A
N T I N S
13º S 13º S
São Miguel
do Araguaia Porangatu
Cavalcante
I A
14º S 14º S
O
Alto
Horizonte Posse
B A H
Niquelândia
S
O
Crixás
R
15º S 15º S
G
Ceres
O
T
DF
A
Cidade
de
DF
M
S
do Descoberto
Luziânia
A I
Iporá
Goiânia
G E R
17º S 17º S
Caiapônia
Cachoeira Itumbiara
Alta
A S
M AT
O GR I N
19º S OS S
M 19º S
OD 50 0 50 100 150 km
OS
U L
46º O
52º O
50º O
53º O
Escala gráfica
Agropecuária Comércio 9
Serviços Serviços 11
Agropecuária 23
Comércio
Indústria 39
Número de municípios
Gasto mensal R$
Produtos Quantidades Variação %
Nov. 2009 Nov. 2010
Carne 6 kg 66,3 88,62 33,67
Leite 7,5 l 12,98 15,3 17,87
Feijão 4,5 kg 10,35 21,02 103,09
Arroz 3 kg 5,07 5,43 7,1
Farinha 1,5 kg 2,6 2,97 14,23
Batata 6 kg 11,4 9,9 -13,16
Tomate 9 kg 19,62 11,43 -41,74
Pão 6 kg 38,16 42,3 10,85
Café 600 g 6,3 6,57 4,29
Banana 7,5 dz 15,08 12,6 -16,45
Açúcar 3 kg 4,53 5,67 25,17
Óleo 900 ml 2,41 2,54 5,39
Manteiga 750 g 11,15 11,96 7,26
Total da cesta 205,95 236,31 14,74
Fonte: Dieese (2010).
20
Sobre a relação entre região e regionalização, ver Haesbaert (2010).
Conceito de urbanização
21
Para Santos (2008, p. 19), nos países europeus “a urbanização é antiga. Foi fei-
ta lentamente, ao ritmo de sucessivas revoluções tecnológicas. Tanto as cidades
quanto as redes urbanas se organizaram lentamente”. Já a urbanização nos países
subdesenvolvidos é caracterizada como terciária, com pouca incorporação tecno-
lógica e inclinação para o consumo, especialmente nas grandes cidades.
22
Williams (1989, p. 11), em seu estudo sobre a cidade e o campo na Inglaterra do
século XIX, ilustra bem as representações negativas sobre a cidade: “Em torno
das comunidades existentes, historicamente bastante variadas, cristalizaram-se e
generalizaram-se atitudes emocionais poderosas. O campo passou a ser associado
a uma forma natural de vida – de paz, inocência e virtudes simples. À cidade as-
sociou-se a idéia de centro das realizações – de saber, comunicações, luz. Também
constelaram-se poderosas associações negativas: a cidade como lugar de barulho,
mundanidade e ambição; o campo como lugar de atraso, ignorância e limitação. O
contraste entre campo e cidade, enquanto formas de vida fundamentais, remonta
à Antigüidade clássica”.
Esse “Novo Rural”, como bem o temos denominado, pode ser também re-
sumido em três grandes grupos de atividades: a) uma agropecuária moder-
na, baseada em commodities e intimamente ligada às agroindústrias; b) um
conjunto de atividades não-agrícolas, ligadas à moradia, ao lazer e a várias
atividades industriais e de prestação de serviços; c) um conjunto de “novas”
atividades agropecuárias, localizadas em nichos especiais de mercados.
Mas então não existiria mais separação entre “cidade” e “campo”? É a “ur-
banização generalizada”? Na realidade, esta problemática não tem sentido
(outro que ideológico) como tal, colocada nos termos em que se coloca mais
freqüentemente. Porque ela pressupõe já a distinção e mesmo a contradição
entre rural e urbano, oposição e contradição que não tem sentido no capita-
lismo. Os espaços de produção e consumo na fase monopolista do capitalis-
mo estão fortemente interpenetrados, imbricados, segundo a organização e o
desenvolvimento desigual dos meios de produção e dos meios de consumo,
não se fixando enquanto espaços definidos senão num dos pólos da divisão
social ou técnica do trabalho.
23
A urbanização deve ser analisada considerando-se a formação econômica social
dos diferentes territórios. É possível, por exemplo, falar em urbanização arcaica
do território goiano no período colonial, especialmente na economia mineradora.
Entre 1690 e 1740 surgiram inúmeros arraiais, vilas e povoados. Muitos desses
assentamentos urbanos tinham em comum, além de uma paisagem marcada por
elementos construtivos da imagem colonial escravista, um sítio próximo dos locais
de extração de ouro. Segundo Palacín (1994), bastavam água e ouro para se fundar
uma vila. Assim foram fundadas Meya Ponte (1731), Traíras (1735), Porto Real
(1738), Vila Boa (1739), Arraias (1740), Cavalcanti (1740), Pilar (1741), Santa
Luzia (1746) e Cocal (1749), dentre tantas outras nas porções centro e nordeste
do território goiano. Muitas dessas aglomerações urbanas concentravam funções
administrativas e judiciárias, além de serem centros comerciais, e por isso reuniam
uma parcela significativa da população do estado.
60.000.000
50.000.000
40.000.000
Habitantes
30.000.000
20.000.000
10.000.000
0
1940 1950 1960 1970
Urbana 12.880.182 18.782.891 32.004.817 52.904.744
3.000.000
2.500.000
2.000.000
Habitantes
1.500.000
1.000.000
500.000
0
1950 1960 1970 1980
Urbana 245.667 575.325 1.237.108 2.401.098
3.500.000
3.000.000
2.500.000
2.000.000
Habitantes
1.500.000
1.000.000
500.000
0
Total Urbana Rural
1970 2.468.537 1.141.016 1.327.521
24
Gomes, Teixeira Neto e Barbosa (2004, p. 63) assinalam a mineração, a ativida-
de agropastoril e as estradas como fatores decisivos de povoamento do território
goiano. Além desses, citam fatores secundários, assim descritos: “a) Postos adua
neiros e de fiscalização. Antigamente eram conhecidos pelo nome de registros. Ge-
ralmente eram instalados nas regiões fronteiriças do território ou em pontos de
passagem de rios e em entroncamentos importantes de estradas e caminhos. Em
volta da maioria deles era comum surgir pequenas aglomerações – habitadas prin-
cipalmente por pequenos comerciantes –, algumas das quais se tornaram cidades
importantes, como, para citar apenas um exemplo, Itumbiara, no sul de Goiás. b)
Postos de policiamentos e vigia do território. Eram conhecidos inicialmente pelo
nome de presídios e, como os registros, localizavam-se em pontos estratégicos, so-
bretudo ao longo de rios, como Aruanã, em Goiás, e Araguacema, no Tocantins. c)
Pousos de tropas de boiadas. Eram pontos de paradas de rebanhos e tropeiros em
direção a outros estados para comercializar produtos goianos – gado em pé, couro,
carne seca, rapadura. Piracanjuba, a antiga Pouso Alto, no sul-sudeste de Goiás,
teve origem em ponto de pouso de tropas. d) Aldeamentos. Estes estabelecimentos
foram previamente construídos para que os religiosos catequizadores dos séculos
XVII e XVIII confinassem índios sob o pretexto de protegê-los contra a ação dos
predadores ou capitães-de-mato, que os capturavam para transformá-los em escra-
vos ou simplesmente eliminá-los a mando de ricos fazendeiros que queriam ocupar
suas terras. Dentre outras cidades, São José do Duro (Dianópolis), no estado do
Tocantins, e Mossâmedes, em Goiás, surgiram de aldeamentos indígenas”.
50ºW
M
Araguaína
AR
Goiás
ANHÃO
Filadélfia
RÁ
Goiatins
PA
Guaraí Pedro
Anápolis Araguecema Afonso
Lizarda
Goiânia
Pium Porto Nacional
Ponte Alta
do Norte
Gurupi
Cristalândia
Natividade
0 100 km
BAH I A
Peixe
Paranã Arraias
13º S
S O
LEGENDA Uruaçu
Cavalcante
O S
População (habitantes)
G R
Crixás Niquelândia
390.000
100.000
50.000 Formosa
20.000 Goiás Distrito
5.000
O
Federal
1.000
IS
T
Luziânia
A
RA
M
GE
Urbana
Caiapônia Cristalina
Rural Rio
Mineiros
0
% Jataí
Verde
75 25
Quirinópolis
MA S
50 TO MINA
G
DO ROSS 0 100 200 km
50ºW
SUL O
Escala gráfica
25
Paviani (1987, p. 37) descreve o processo de incorporação de áreas do município
de Luziânia: “Assim, é a partir dos anos 70, principalmente após 1975, que se dá
a grande expansão rumo à periferia do DF. Claro está que, ao longo da década de
1960, muitas transações imobiliárias se efetuaram em Luziânia, mas elas tiveram o
primeiro efeito de quebrar o uso da terra anterior, basicamente agropecuário. Era
como se os primeiros movimentos de um gigantesco tabuleiro de xadrez ensejas-
sem os atrativos iniciais para um movimentado jogo posterior”.
26
A intensa migração pendular de pessoas dos municípios do Entorno para o Distrito
Federal provoca reações diversas, especialmente nos discursos políticos, sobre os
problemas gerados. Tais reações, não raro, invertem a lógica, culpando os migran-
tes pelos problemas da região. Arrais (2008b) levanta algumas questões sobre essa
discussão, dentre as quais a dependência do Distrito Federal no abastecimento de
água e no fornecimento de energia que provêm do território goiano, além do fluxo
de mão de obra que implica consumo nas diferentes regiões do Distrito Federal.
48º O
49º O
47º O
48º O
49º O
47º O
Água Fria de Goiás
Vila Boa 15º S
Mimoso de Goiás
Padre
Vila Propício Bernardo
Planaltina
de Goiás
Formosa
Águas Lindas
de Goiás
Cocalzinho
de Goiás
Brasília
DF Cabeceiras
Pirenópolis
Corumbá de Goiás 16º S
I S
Abadiânia do Descoberto
Valparaíso
G E R A
LEGENDA
Limites municipais – 1940
Luziânia
Pirenópolis
Corumbá de Goiás
Cristalina
Luziânia
Planaltina
17º S
Formosa
Cristalina S
A
Limites municipais – 2005 N
I
M
Escala gráfica
20 20 40 60km
Projeção policônica
27
Santos (1994a, p. 43) assim se refere à relação cidade-campo: “O capital cons-
tante que, antes, era um apanágio das cidades, sobretudo naquelas onde se
concentrava a produção industrial, passa, também, a caracterizar o próprio
campo, na forma de implementos, fertilizantes e inseticidas, máquinas e semen-
tes selecionadas”.
8.000
6.000
4.000
2.000
0
Caldas Pirenó- Rio Três Alto
Novas Goiás polis Quente Aruanã Ranchos Paraíso
20.633
Novo Gama
21.433
Formosa
23.048
Trindade
Valparaíso 38.021
de Goiás
51.798
Águas Lindas
33.464
Luziânia
59.950
Rio Verde
46.528
Anápolis
119.365
Aparecida
de Goiânia
201.685
Goiânia
53.759
Águas Lindas
Santo Antônio 1.584
de Goiás
3.518
São João D’Aliança
31.294
Senador Canedo
1.214
Rio Quente
4.544
Flores de Goiás
1.444
Baliza
1.541
Alto Horizonte
15.347
Goianira
Chapadão 3.226
do Céu
Figura 31. Municípios goianos com maior incremento populacional relativo, de 2000
a 2010.
Fonte: Brasil (2009); IBGE (2011).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.
“No meio rural, a terra é meio de produção. O preço no mercado é definido pela apropria
ção, propriedade, características do solo, trabalho produtivo nela empregado, rentabilidade,
tipo de produto, localização, máquinas e utensílios agrícolas, produtos químicos utilizados.
A terra rural é também utilizada para outros usos como moradia, estradas, escolas, postos
de saúde, inclusive para represamento de águas utilizadas no urbano, tanto como fonte de
energia como de abastecimento. Contudo, a sua função primordial está relacionada ao setor
primário da economia. Na cidade, a terra é fundamentalmente suporte de atividades do
secundário, terciário, concentra diferentes tipos de edificações, equipamentos e os meios
de consumo coletivo (hospitais, escolas, postos de saúde etc.), meios de circulação e, em
especial, moradias, que em geral ocupam mais de 70% do solo urbano. O preço da terra
urbana, das edificações, no mercado, é definido pela apropriação, propriedade, parcela-
mento, edificação, localização dos terrenos, edificações, equipamentos, infraestrutura, zo-
neamento, áreas de preservação histórica, ambiental e normas de ordenamento territorial,
elaboradas pelo poder municipal” (Rodrigues, 2007, p. 95).
A figura mostra uma propriedade rural localizada na divisa entre Goiânia e Goianira. Ao
fundo ainda é possível ver, entre os postes de concreto, o cultivo de milho. Na área da
propriedade estão previstos 2 mil lotes com área média de 23o metros quadrados. Cada
lote é comercializado por aproximadamente 60 mil reais, o que significa que o negócio
fundiário renderá, sem considerar os juros e reajustes anuais, 120 milhões de reais. Difi-
cilmente essa propriedade, se comercializada de porteira fechada, atingiria tal valor.
48º O
46º O
47º O
49º O
52º O
53º O
51º O
50º O
T O C A
N T I N S
13º S 13º S
I A
14º S 14º S
O
S
B A H
S
O
R
15º S 15º S
G
O
T
A
DF
M
16º S 16º S
S
A I
G E R
17º S 17º S
18º S
A S
M AT
O GR I N
19º S OS
M 19º S
SO
DO 50 0 50 100 150 km
SU
L
46º O
52º O
50º O
53º O
Escala gráfica
LEGENDA
Habitantes
Acima de 500.000
101.000 a 500.000
50.001 a 100.000
20.001 a 50.000
10.001 a 20.000
5.001 a 10.000
0 a 5.000
a cidade não pode produzir nem os alimentos para sua população nem a ma-
téria-prima para sua indústria. As atividades que fornecem tais produtos – a
agricultura e a indústria extrativa – têm que ser desenvolvidas junto aos re-
cursos naturais, o que impõe uma ampla dispersão dos que nelas ocupam o
espaço. Elas são, por isso, incompatíveis com as condições urbanas (pelo me-
nos enquanto a produção sintética de alimentos e matérias-primas não estiver
completamente desenvolvida).
Por isso, trata-se de uma visão sistêmica que torna possível com-
preender os rebatimentos da economia no espaço por meio da análise
dos fluxos e das hierarquias constantemente reconstruídas. Tais hie-
rarquias são determinadas a partir da verificação do número e da in-
tensidade dos relacionamentos entre as cidades. Em alguns casos, essa
perspectiva de análise resultou numa visão naturalizada das redes. Es-
tudos da rede urbana foram e são competentes no sentido de definir
Sua rede, abrangendo quase todo o estado de Goiás, estende-se também pelo
leste de Mato Grosso e vai ganhando área de Salvador no planalto ocidental
baiano por sua ação conjugada com Brasília. Tem uma área de 920.941 qui-
lômetros quadrados, população de 3.226.501 habitantes e densidade de 3,5
habitantes por quilômetro quadrado. (IBGE, 1972, p. 23).
55º O
50º O
5º S
45º O
Imperatriz
Tocantinópolis MA
PA Xinguara
Araguaína
Balsas
Redenção
Colinas do
Tocantins PI
Pedro Afonso
Miracema
do Tocantins Palmas
Paraíso 10º S
do Tocantins Porto Nacional
Gurupi TO
Barreiras
Dianópolis
BA
MT
Campos Belos
Porangatu
GO Posse
Ceres
Formosa 15º S
Barra do Garças
Inhumas
DF
Iporá Anicuns Unaí
Anápolis
Brasília
São Luiz
dos Montes Belos Goiânia Paracatu
Morrinhos
Mineiros
Jataí Rio Verde Catalão
Itumbiara MG
MS
Escala gráfica
0 150 300 450km
Projeção policônica SP 20º S
Tr ópico de
Brasília
C apric
órnio Muito forte
670 1.340km Médio
Escala gráfica
Médio p/ fraco
50º O
70º O
Fraco
Figura 33. Níveis de centralidade das cidades goianas e de Brasília e respectivas regiões
de influência, em 1993.
Fonte: IBGE (1993).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.
Marabá
55º O
50º O
Imperatriz 5º S
45º O
Xinguara MA
PA Tocantinópolis
Araguaína
Balsas
Redenção Colinas do
Tocantins
PI
Pedro Afonso
Gurupi TO
Dianópolis
Barreiras
Por
to MT BA
Velh
o Campos Belos
Porangatu
GO Posse
Uruaçu
Muito forte
Equador
Forte
Forte p/ médio
Médio
Médio p/ fraco
GO Brasília (metrópole nacional)
20º S
Tr ópico de Máximo
C apric
órnio
Forte p/ médio
670 1.340km
Médio p/ fraco
Figura 34. Níveis de centralidade das cidades goianas e de Brasília e respectivas regiões
de influência, em 2007.
Fonte: IBGE (2007b).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.
A ideia de rede urbana como expressão de movimento territorial não é nova. O próprio
conceito de rede remete às noções de movimento, fluxo, cruzamento, nó e cartograma.
A figura extraída de um clássico estudo de Geiger (1963) revela as áreas de influência das
regiões urbanas. Observa-se que a parte meridional do território goiano, com uma rede ur-
bana em processo de estruturação, encontrava-se sob a influência da região de São Paulo.
O que o Autor parece ignorar é que cidade e campo se diferenciam pelo con-
teúdo das relações sociais neles contidas e estas, hoje, ganham conteúdo em
sua articulação com a sociedade urbana, o que demonstra, por exemplo, o
desenvolvimento do que chama pluriatividade. Portanto há na conclusão do
Autor uma inversão: no Brasil a constituição da sociedade urbana caminha
de forma inexorável, não transformando o campo em cidade, mas articulan-
do-o ao urbano de um “outro modo”, redefinindo a antiga contradição cida-
de/campo: este é a meu ver o desafio da análise. Significa dizer que o processo
atual de urbanização não se mede por indicadores referentes ou derivados da
taxa anual de crescimento da população urbana, e muito menos pela estrita
delimitação do que seria urbano e rural, como faz o Autor.
Conceito de metropolização
28
Nas duas últimas décadas surgiu uma série de conceitos que procura decifrar as
formas de desenvolvimento territorial, tendo como foco a cidade. Dentre esses
conceitos podemos citar “cidades globais”, de Sassen (1998), “cidades regiões-glo-
bais”, de Scott et al. (2001), “Estados-regiões”, de Ohmae (1996) e “metápoles”,
de Ascher (1998), além da “pós-metrópole”, de Soja (2008). Em comum entre
todos esses conceitos estão as seguintes ideias: a cidade é um ambiente inovador,
existem dificuldades institucionais no trato das demandas locais e, por isso mesmo,
a análise e a caracterização do espaço, seja para intervenção ou reflexão, devem
incluir os contextos regionais.
29
Ao referir-se ao processo de democratização e à institucionalização das metrópo-
les, Villaça (1997, p. 3) declara: “De qualquer maneira, criou-se no Brasil a ilusão
de que a instituição de regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas traria, por
si só, alguma vantagem ou ‘status’ aos municípios delas integrantes. Não há, em
nossa legislação, nada nesse sentido. Nem na federal nem nas dos estados (pelo
menos dentre os principais)”.
Jaraguá
Goyaz Pirenópolis Corumbá
53º00´ Oeste
Itaberaí São Francisco
16º00´ Sul 53º00´ Oeste
Goialina
Mossâmedes Catingueiro N. S. da
Grande Abadia
Inhumas
Anicuns Annapolis
Cerrado
São
Geraldo
Nazário
Pouso Alto
Sto. Antônio
do Alegrete Pires do Rio
Santa Rida
do Pontal
30
Os vários decretos da década de 1930 são encontrados, na forma de anexos, nos li-
vros Como nasceu Goiânia (Monteiro, 1979) e Goiânia global (Sabino Júnior, 1980).
31
Relatório apresentado por Solon de Almeida, Superintendente da Seção Cadastral,
em junho de 1936, revela que, em 1934, foram comercializados 65 lotes (44 na
zona residencial e 21 na zona comercial) e, em 1935, 763 lotes (276 na zona co-
mercial, 485 na zona residencial e 1 na zona industrial). Os dados, apresentados
por Monteiro (1979), demonstram um forte aumento nas transações imobiliárias.
Figura 37. Terras adquiridas pelo estado de Goiás para a implantação de Goiânia.
Fonte: Daher (2003).
60.000
50.000 48.166
Habitantes
40.000
26.065
30.000
20.000
9.738
10.000 5.299 5.604 1.455
0
Município Cidade Hidrolândia Ribeirão São Geraldo Trindade
500.000
450.000
400.000
350.000
300.000
Habitantes
250.000
200.000
150.000
100.000
50.000
0
1970 1980 1991 2000 2010
7.470 42.632 178.320 336.390 442.970
Senador Canedo
10% 12%
Guapó
19% Goianira
17%
Brazabrantes
7%
11% Bonfinópolis
Abadia de Goiás
Figura 41. Deslocamento para trabalho e estudo de pessoas com mais de dez anos
de idade em municípios selecionados da Região Metropolitana de Goiânia, em 2000.
Fonte: IBGE (2001).
32
Villaça (2001, p. 20) aborda a imprecisão semântica do termo “intraurbano”, con-
siderando “espaço urbano” como mais satisfatório: “A distinção mais importante
entre espaço intraurbano e espaço regional deriva dos transportes e das comuni-
cações. Quer no espaço intraurbano, quer no regional, o deslocamento da matéria
e do ser humano tem um poder estruturador bem maior do que o deslocamento da
energia ou das informações. A estruturação do espaço regional é dominada pelo
deslocamento das informações, da energia, do capital constante e das mercadorias
em geral – eventualmente até da mercadoria força de trabalho. O espaço intraurba-
no, ao contrário, é estruturado fundamentalmente pelas condições de deslocamento
do ser humano, seja enquanto portador da mercadoria força de trabalho – como
deslocamento casa/trabalho –, seja enquanto consumidor – reprodução da força de
trabalho, deslocamento casa-compras, casa-lazer, escola, etc”.
Figura 42. Trechos da GO-219 (da esquerda para a direita: Hidrolândia-Bela Vista de
Goiás, Trindade-Abadia de Goiás e Hidrolândia-Aragoiânia), em janeiro de 2011.
Fotografia: O autor.
primeiras décadas do século XX, ainda era utilizada como rota para
o escoamento de mercadorias como arroz, gado e fumo, já que servia
de ligação entre a região e a estrada de ferro, na altura de Vianópolis.
Atualmente é utilizada para a circulação das comunidades rurais e o es-
coamento da produção agrícola e pecuária, especialmente de leite, bem
como para a esporádica circulação intermunicipal.
A partir da análise da Figura 43 e da Tabela 9, é possível identificar
algumas diferenças nos municípios da Região Metropolitana de Goiâ-
nia. À primeira vista, o destaque é para o incremento populacional ab-
soluto de Aparecida de Goiânia, Senador Canedo e Trindade. Entretan-
to, ao considerarmos o incremento populacional relativo, notamos que
municípios como Aragoiânia, Bela Vista de Goiás, Brazabrantes, Calda-
zinha, Goianira, Hidrolândia, Santo Antônio de Goiás e Terezópolis de
Goiás tiveram acréscimo populacional, entre 2000 e 2010, de 96,50%,
99,8%, 88,04%, 178,22%, 88,55%, 122,02%, 82,91% e 81,47%, res-
pectivamente. É possível que municípios com tal perfil demográfico – a
maior parte com população inferior a 20 mil habitantes – demandem
serviços públicos, infraestrutura urbana e moradia, agendas próprias
de cidades mais populosas. Outro dado a observar é o perfil rural de
alguns municípios, a exemplo de Bela Vista de Goiás, Caldazinha, Hi-
drolândia e Aragoiânia, que ainda dispõem de considerável estoque de
terras rurais. O município de Goianira, resultado da expansão da Re-
gião Noroeste de Goiânia, assiste a um processo semelhante àquele do
primeiro anel de expansão da região metropolitana, representado por
Senador Canedo, Aparecida de Goiânia e Trindade. Inhumas, apesar do
incremento populacional inferior ao dos demais municípios, passa por
intensas transformações no espaço urbano, expressas pelas negociações
imobiliárias, pela densificação do centro e pelo crescimento do setor de
serviços, que inclui concessionárias, agropecuárias, alimentação e vare-
jo em geral. Na produção agropecuária, o destaque é para o setor su-
croalcooleiro, que registrou, em 2009, uma produção de 480 mil tone-
ladas de cana-de-açúcar em uma área de 6.386 hectares (IBGE, 2010a).
Itaberaí
153
Verde
Damolândia
Inhumas de Goiás Campo
Limpo
Anápolis
Nova
Araçu 070
Veneza Nerópolis
Brazabrantes
Terezópolis Gameleira
Caturaí de Goiás
Goianira S. Antônio
16º30’ S
16º30’ S
de Goiás Leopoldo
de Bulhões
Goianápolis
Sta. Bárbara Trindade Bonfinópolis 010
de Goiás
060
Senador
Goiânia 019 330
Silvânia
Canedo Caldazinha
Abadia
Campestre
de Goiás de Goiás Aparecida
de Goiânia
Guapó Bela Vista
de Goiás
060 São Miguel do
Passa Quatro
Aragoiânia
17º00’ S
Varjão Hidrolândia 153
020
Cezarina 040
Professor Piracanjuba
Jamil
49º30’ W
0 10 20 30 40km
Escala gráfica
LEGENDA
População
(Hab.) População urbana
1.300.000
População rural
500.000
Sede municipal
100.000 Área urbana
50.000 Condomínios fechados
(segunda residência e chácaras)*
20.000 153
Rodovias federais
5.000
1.000 020 Rodovias estaduais
* Exceto Goiânia
Figura 43. População por local de residência e área urbana na Região Metropolitana
de Goiânia, em 2010.
Fonte: IBGE (2011); Goiás (2010a).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.
33
Os dados sobre a formalização do emprego são necessários, mas não suficien-
tes para explicar a dinâmica econômica metropolitana. É preciso considerar a
importância do trabalho informal na metrópole, assim como as formas de pre-
carização que o acompanham. Até nesse caso os municípios estão integrados,
uma vez que é comum o fato de vendedores ambulantes – sejam aqueles que
atuam em locais específicos, como camelódromos, os que vendem produtos nos
sinaleiros (água mineral, carregadores de celular, guarda-sol, frutas, mel, balas
etc.) ou os que povoam as avenidas centrais, comercializando uma infinidade
de “novidades” – residirem nos municípios periféricos. Mesmo marcados pela
invisibilidade, esses sujeitos transformam a paisagem da metrópole, criando uma
arquitetura própria, também compartilhada por outras cidades do planeta. For-
mam verdadeiras “cidades ocasionais”, termo que designa “diferentes formas de
ocupações temporárias do espaço público, quer sejam de caráter comercial, lúdi-
co, sexual, quer de outra índole, tendo a característica comum de deixar apenas
um rastro e de autogerir as aparições e desaparições” (Peran, 2009).
Nova Veneza
Brazabrantes
Goianápolis
12.538
4.926
34
“A partir do conceito mais amplo de necessidades habitacionais, a metodologia
desenvolvida pela FJP trabalha com dois segmentos distintos: o déficit habitacio-
nal e a inadequação de moradias. Como déficit habitacional entende-se a noção
mais imediata e intuitiva de necessidade de construção de novas moradias para a
solução de problemas sociais e específicos de habitação detectados em certo mo-
mento. Por outro lado, o conceito de inadequação de moradias reflete problemas
na qualidade de vida dos moradores: não estão relacionados ao dimensionamento
do estoque de habitações e sim a especificidades internas do mesmo. Seu dimensio-
namento visa ao delineamento de políticas complementares à construção de mo-
radias, voltadas para a melhoria dos domicílios existentes. Com a preocupação de
identificar as carências, principalmente da população de baixa renda, os números
do déficit e da inadequação dos domicílios são explicitados para diversas faixas de
renda familiar, como feito nas versões anteriores do estudo. Eles têm como enfoque
principal famílias com até três salários mínimos de renda, limite superior para o
ingresso em grande número de programas habitacionais de caráter assistencial”
(Brasil, 2009, p. 15).
Domicílios
Média de
Total de Domicílios particulares não Domicílios não
Município pessoas por
domicílios particulares ocupados de uso ocupados vagos
domicílio
ocasional
Goiânia 482.973 482.587 10.108 49.194 2,69
Aparecida de Goiânia 156.522 156.464 1.701 18.119 2,91
Trindade 34.956 34.888 568 2.309 2,98
Senador Canedo 27.786 27.769 731 2.728 3,03
Goianira 12.056 12.045 307 1.387 2,82
Inhumas 17.312 17.291 463 1.500 2,78
Bonfinópolis 3.004 3.002 177 447 2,50
Cidade de Goiás 2.217.654 2.212.991 113.446 206.851 2,70
35
O programa Minha Casa Minha Vida, regulamentado pela Lei n.º 11.977/09,
abrange, prioritariamente, regiões metropolitanas e municípios com mais de
100 mil habitantes, onde se localiza o principal déficit habitacional brasileiro.
Segundo informações da Caixa Econômica Federal (2010), o programa funcio-
na da seguinte forma: “União aloca recursos por área do território nacional e
solicita apresentação de projetos; estados e municípios realizam cadastramento
da demanda e após triagem indicam famílias para seleção, utilizando as infor-
mações do cadastro único; construtoras apresentam projetos às superintendên-
cias regionais da CAIXA, podendo fazê-los em parceria com estados, muni-
cípios, cooperativas, movimentos sociais ou independentemente; após análise
simplificada, a CAIXA contrata a operação, acompanha a execução da obra
pela construtora, libera recursos conforme cronograma e, concluído o empreen-
dimento, realiza a sua comercialização”.
Fonte: Foto O
Fotografia: doautor
autor.(jan.
Janeiro de 2011.
2011).
“Os condomínios exclusivos são o símbolo máximo do que se pode designar como auto-
-segregação, a qual representa o contraponto da segregação induzida (que se refere basi-
camente aos loteamentos irregulares das periferias urbanas e às favelas; no caso, a segre-
gação é induzida pela própria pobreza, pelo menor poder aquisitivo, que força uma parcela
considerável da população a se sujeitar a morar em espaços quase desprovidos de infraes-
trutura, negligenciadas pelo estado e até mesmo insalubres” (Souza, 1996, p. 54).
Nos últimos anos, a expressão “condomínio fechado” tem sido utilizada de forma dife-
renciada pelo mercado imobiliário. Desde o clássico condomínio Alfaville retratado na
figura, com amplas áreas verdes e espaços de recreação privados, até loteamentos para
camadas populares têm recebido tal epíteto. Apesar das diferenciações nos padrões ur-
banísticos dos condomínios e idílicos das residências, a expressão ainda guarda certa po-
sitividade, demarcando espaços que aliam, teoricamente, segurança, conforto ambiental
e acessibilidade.
36
A Lei n.º 2.711/2007 institui o incentivo à industrialização no município de Apa-
recida de Goiânia e dá outras providências. Eis o art. 1: “Fica instituído no muni-
cípio de Aparecida de Goiânia como incentivo à industrialização e incremento à
instalação de empresas em geral, Instituições Filantrópicas, Entidades Religiosas
e Organizações Não Governamentais, visando o desenvolvimento do Município,
tanto nos parques industriais públicos, quanto nas áreas onde são permitidas essas
instalações, em conformidade com a legislação municipal em vigor, o atendimento
pela prefeitura com os seguintes serviços: a) terraplenagem; b) base para pavimen-
tação; c) fornecimento de materiais para aterramentos” (Aparecida de Goiânia,
2007). Muito embora a lei seja de 2007, identificamos um aumento dos incentivos
fiscais em Aparecida de Goiânia a partir de 1998.
Inhumas
Nova Veneza
Neropólis Terezópolis
Brazabrantes de Goiás
Caturaí Santo Antônio
de Goiás
Goianira
Goianápolis
Trindade Bonfinópolis
Goiânia
Senador
Canedo
Caldazinha
Abadia de
Goiás Aparecida
de Goiânia
Guapó
Bela Vista de Goiás
Aragoiânia
Hidrolândia
Difel, 1977.
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Revisão
Gisele Dionísio da Silva
Editoração eletrônica
Alanna Oliva