A Produção Do Território Goiano: Economia, Urbanização, Metropolização

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A produção do território goiano

economia, urbanização, metropolização


Universidade Federal de Goiás

Reitor
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Vice-Reitor
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Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação


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Diretora-Geral
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Conselho Editorial
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Coordenador do Concurso (Edital Funape nº 01/2011)


José Marques Teixeira, Rogério Santana

Comitê da Área de Geografia, História, Economia e correlatas


Eguimar Felício Chaveiro, Ivanilton José de Oliveira, Noé Freire Sandes

Diretor-executivo
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Conselho Deliberativo
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Cecília Maria Alves de Oliveira, Divina das Dores de Paula Cardoso,
Magda de Miranda Clímaco, Marco Aurélio Carbone Carneiro,
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Conselho Fiscal
Antônio Tavares Dias Lage (presidente), Edvânia Braz Teixeira Rodrigues,
Ricardo Caetano Rezende, Wenismar Pereira de Lima
Tadeu Alencar Arrais

A produção do território goiano


economia, urbanização, metropolização
Coleção Funape

A Fundação de Apoio à Pesquisa da Universidade Federal de Goiás (­Funape)


ocupa hoje uma posição de destaque na execução de projetos e na consoli-
dação da infraestrutura e do desenvolvimento institucional da UFG. É tam-
bém uma parceira constante no desenvolvimento de programas de outras
instituições científicas e tecnológicas de Goiás e do Brasil.
Ao completar três décadas de contínuo trabalho em prol do desenvolvi-
mento da pesquisa em Goiás, a Funape tem o prazer de apresentar A pro-
dução do território goiano: economia, urbanização, metropolização, de Tadeu
Alencar Arrais, um dos dez livros selecionados no concurso Edital F ­ unape
n° 01/2011, pertencentes a diversas áreas do conhecimento. A Fundação
reafirma, assim, o compromisso com os pesquisadores de divulgar seu
principal produto, o conhecimento.
A coleção ora apresentada atesta que o livro é resultado de um trabalho
que envolve uma complexa rede de interlocutores e atores. E a Funape se
orgulha de ser partícipe desse processo como parceira da UFG, contribuindo
para o desenvolvimento científico, social e cultural do estado de Goiás.
Sumário

11 Prefácio
13 O território produzido
25 Economia
Geografia econômica
Integração econômica
Economia contemporânea
97 Urbanização
Conceito de urbanização
Primórdios da urbanização
Urbanização contemporânea
145 Metropolização
Conceito de metropolização
Formação territorial
Região Metropolitana de Goiânia
195 Conclusão
199 Referências
A ordem global é “desterritorializada”, no sentido de que separa
o centro da ação e a sede da ação. Seu “espaço”, movediço
e inconstante, é formado de pontos, cuja existência
funcional é dependente de fatores externos. A ordem local,
que “reterritorializa”, é a do espaço banal, espaço irredutível,
porque reúne numa mesma lógica interna todos
os seus elementos: homens, empresas, instituições,
formas sociais e jurídicas, e formas geográficas.
O cotidiano imediato, localmente vivido, traço de
união de todos esses dados, é a garantia da comunicação.
Cada lugar é, ao mesmo tempo, objeto de uma razão global
e de uma razão local, convivendo dialeticamente.

Milton Santos
Prefácio

¶ Este livro é resultado de estudos inéditos sobre o território goiano.


O objetivo foi construir uma narrativa ao mesmo tempo global e re-
gional. Global porque as mudanças na economia e na política nacio-
nal e mundial produzem efeitos no território goiano, uma vez que as
políticas cambiais e até mesmo as barreiras fitossanitárias e comer-
ciais em uma economia com perfil agropecuário influenciam os cená-
rios de decisões dos atores sociais. Regional porque a globalização,
longe de apresentar-se como um processo homogeneizador, encontra-
-se estreitamente articulada aos processos agrícolas e industriais que
criaram, por seu turno, especializações produtivas regionais.
No decorrer de nossa reflexão, lançamos mão de dados secun-
dários (demográficos e econômicos) que se estendem do início do
século XX até a atualidade, complementados por fontes documen-
tais como leis, estudos técnicos e relatórios corporativos. A litera-
tura geo­gráfica permitiu a compreensão de conceitos que aparecem,
sempre, relacionados aos processos territoriais: os de rede, intraur-
bano, urbanização e metropolização, dentre outros. Alguns traba-
lhos de campo foram úteis para aprimorar a percepção das rápidas
12 transformações na agropecuária e na estrutura fundiária metropo-
litana. Mapas, gráficos e imagens facilitam a compreensão dos pro-
cessos territoriais a partir da visualização, por exemplo, da forma
de atuação de diferentes atores sociais, como as incorporadoras e os
grupos ligados ao segmento agroindustrial.
Quanto à estrutura do texto, optamos por uma linguagem menos
árida, por acreditar que uma narrativa técnico-científica não pode es-
tar descolada das questões que envolvem o cotidiano. Um texto dessa
natureza deve estimular a capacidade de problematização, além de ser
inteligível, sem que isso resulte em reducionismo. Por isso, não dis-
pensamos a descrição por acreditarmos que ela faz parte do traba-
lho do geógrafo. Contudo, neste livro ela assume uma linha distinta
daquela própria do empirismo geográfico, especialmente por articular
conceitos aos dados secundários. Em suma, não se trata de um estudo
sobre conceitos geográficos, mas sim de um estudo sobre a produção
do território goiano que faz uso de insumos teóricos da geografia. E
produção implica, sempre, considerar as relações entre política e eco-
nomia como dimensões inseparáveis na análise territorial.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


O território produzido

¶ Os anos 90 marcaram a emergência de um discurso na América Lati-


na, anunciado na década anterior na Europa e nos Estados Unidos, so-
bre o fim do poder regulamentador dos Estados nacionais. Para ampa-
rar tal discurso, fruto de uma estratégia geopolítica, disseminou-se uma
ampla bibliografia no cenário político e acadêmico mundial. Ohmae
(1996), em seu livro com o sugestivo título O fim do Estado-nação,
ilustra essa linha de pensamento que selava a união entre as consul-
torias econômicas internacionais, as grandes corporações e um con-
junto de intelectuais engajados organicamente na missão de provar a
ineficiên­cia, em todos os meridianos, do Estado-nação. Em um mundo
globalizado, de intenso fluxo de capitais, não haveria lugar para essa
representação caduca, adjetivada por Ohmae de “ilusão cartográfica”.1

1
A expressão “ilusão cartográfica” é encontrada em Ohmae (1996, p. 14) e Badie
(1995, p. 14). Para o primeiro, os indícios “são tão exaustivos como perturbado-
res: em uma economia sem fronteiras, os mapas focalizados nas nações que costu-
mamos utilizar para entender a atividade econômica são totalmente enganadores.
14 Mas qual o propósito desse discurso? Para a América Latina, o de-
bate foi acompanhado da palavra “desregulamentação”, o que abriu
caminho para duas estratégias políticas articuladas. A primeira propa-
gou a ampliação das trocas internacionais por meio da falsa ideia de
abertura das fronteiras, o que aumentou a drenagem de renda comer-
cial dos países periféricos por meio de um sistema de trocas desiguais.
A segunda colocou as privatizações dos setores estratégicos da econo-
mia, sobretudo as telecomunicações e a produção de energia, como
condição sine qua non para a retomada do crescimento econômico.
De repente, dispor dos ativos fundamentais para a economia nacio-
nal, seja no Brasil ou na Argentina, tornou-se um excelente negócio.
As duas estratégias, somadas ao ajuste fiscal, formaram o tripé de sus-
tentação do discurso sobre a crise do Estado-nação.2 Fiori (1997, p.
12) assim resume esse receituário:

Precisamos, tanto os gerentes como os formadores de políticas, encarar finalmente


a verdade embaraçosa e desconfortável: a velha cartografia já não funciona. Ela
se tornou apenas uma ilusão”. Para o segundo, a ilusão cartográfica “já não é
suficiente para dissimular esta pluridimensionalidade das relações, que já só abusi-
vamente são internacionais. As relações entre nações – aliás, cada vez mais difíceis
de territorializar – passaram a ser apenas um aspecto do funcionamento de uma
cepa mundial feita também de redes de relações, de proliferação e de volatilidade
de alianças, elas próprias inscritas em diversos espaços”.
2
Boron (1994, p. 199) explica as questões sobre a América Latina da seguinte for-
ma: “A discussão sobre a crise do Estado assistencialista tem que ser enquadrada
à luz destes parâmetros porque, em caso contrário, se reduziria a uma simples
contraposição abstrata de preferências doutrinárias que pouco tem a ver com a
realidade efetiva das coisas. A ofensiva neoliberal prescinde desses dados e se apóia
em uma visão profundamente ideologizada do funcionamento do capitalismo que
ignora o papel central que o Estado joga no processo de acumulação. Sua retóri-
ca antiestatista não se compatibiliza com a maciça presença do gasto público e
as sutis, mas penetrantes formas de intervenção estatal que caracterizaram desde
sempre o funcionamento dos capitalismos realmente existentes”.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


Um programa de estratégia sequencial em três fases: a primeira consagrada à 15
estabilização macroeconômica, tendo como prioridade absoluta um superá-
vit fiscal primário envolvendo invariavelmente a revisão das relações fiscais
intergovernamentais e a reestruturação dos sistemas de previdência pública;
a segunda, dedicada ao que o Banco Mundial vem chamando de “reformas
estruturais”; liberação financeira e comercial, desregulação dos mercados, e
privatização de empresas estatais; e a terceira etapa, definida como a da reto-
mada dos investimentos e do crescimento econômico.

A eficácia do discurso da globalização econômica pressupôs que


todos, por um lado, acreditavam que o território nacional existia
fora da história e, por outro, fechavam os olhos à realidade, es-
pecialmente a dos grandes centros urbanos, que sentiam as conse-
quências da chamada década perdida: o desemprego, a galopante
inflação e o aumento da pobreza. Hirst e Thompson (1998) ali-
nhavam uma série de pontos sugestivos do conteúdo ideológico da
globalização: a internacionalização da economia tem precedentes
históricos, as empresas genuinamente transnacionais parecem ser
relativamente raras e os fluxos financeiros globais continuam con-
centrados na tríade Europa-Japão-América do Norte. Os autores
acrescentam ainda que os mercados globais se inscrevem no âmbito
da regulação e do controle do Estado.
O que estava e está em jogo, na verdade, é a disputa pelo ter-
ritório nacional, e seu suposto fim era um indicativo de que isso
se tornara imprescindível para as estratégias dos grupos econômi-
cos internacionais e do capital financeiro, assim como das grandes
potências, especialmente os Estados Unidos. Nem mesmo o discur-
so da soberania, próprio da territorialidade westfaliana, serviria
mais à nova ordem geopolítica mundial, pois a persistência desse
discurso implicava admitir que os recursos naturais (especialmente
os energéticos), o mercado de consumo e a propriedade intelectual
eram protegidos pelo manto nacional.
No plano concreto, a exploração de recursos minerais, o estímulo à
ocupação de terras para fins de colonização, a ampliação da fronteira

[Tadeu Alencar Arrais]


16 agrícola, além da exploração energética são claros indicativos de seg-
mentos em que a importância do Estado ainda é destacada. Entretanto,
este atua também na garantia da circulação, a partir da regulação e/
ou do investimento direto em rodovias, ferrovias, hidrovias, aeroportos
etc. Por isso, age tanto como ente regulador quanto como investidor
direto no território, o que gera críticas em razão da concepção do dis-
curso neoliberal de que existe uma falsa separação entre os interesses
imediatos do mercado e a regulação estatal.
Por que, então, a estratégia neoliberal logrou resultados na déca-
da de 1990? A questão é que sempre fomos acostumados a conce-
ber o território nacional como algo natural e não como um produto
da história.3 A estratégia de secularização impediu que o pensás-
semos a partir dos conflitos, pois a imagem de geometrias coesas
sempre foi de mais fácil compreensão; tal imagem é reforçada pelos
vários “mitos de fundação” − para utilizar a expressão de Chaui
(1982) − que fracionam e selecionam a história para operar uma
imagem positiva sobre o passado e o futuro de uma dada forma-
ção territorial. A análise histórica demonstra que o surgimento do
território nacional esteve vinculado ao projeto de modernidade e
ao processo de expansão do capitalismo, o que torna difícil a sepa-
ração entre os conceitos de território e de Estado. Seus valores são,
portanto, aqueles construídos na modernidade, e a utilização do
adjetivo “nacional” no contexto da modernidade agradou à nascen-
te burguesia. Portanto, a criação dos Estados nacionais definiu uma
cartografia aparentemente homogênea, delineada a partir da ideia
de soberania nacional que pressupunha a capacidade de intervir na
infraestrutura, de controlar a economia e as políticas fiscais, assim
como de garantir a unidade nacional. Entretanto, independente-
mente do discurso e das práticas neoliberais vigentes em diferentes

3
Sobre a genealogia da nação, ver Hobsbawm (1990), e, sobre a relação entre Esta-
do e neoliberalismo, ver Harvey (2008).

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


contextos, os Estados nacionais ainda exercem forte poder de regu- 17

lação territorial. Harvey (2005, p. 79) assim trata a questão:

Atualmente, há pouquíssimos aspectos da produção e do consumo que não


estão profundamente afetados, direta ou indiretamente, por políticas do Esta-
do. No entanto, não seria correto afirmar que o Estado apenas recentemente
se tornou agente central para o funcionamento da sociedade capitalista.

Mas o Estado, visto por dentro das fronteiras, também está longe
de constituir-se de uma planície isotrópica, pois nele encontramos as
mesmas contradições e conflitos próprios do capitalismo. Está aí outra
propriedade do Estado, que é a de lidar com a produção de territórios
desiguais. E não se trata de uma desigualdade natural, que abranja fa-
tores como vegetação, relevo, hidrografia e povoamento, mas de uma
desigualdade produzida histórica e espacialmente e que demanda uma
ação territorial de sua parte para combater, por meio do planejamento,
as chamadas desigualdades regionais. Na história política e econômica
brasileira, a desigualdade regional surgiu naturalizada e o planejamen-
to, nas suas diferentes escalas, carregado de positividade.
Em clássico trabalho sobre o planejamento e a Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), Oliveira (1977, p. 24) defen-
de que o planejamento foi uma forma de “racionalização da reprodu-
ção ampliada do capital”. Sua análise deve ser compreendida a partir
do contexto político e econômico próprio do último quartel do sécu-
lo XX, quando o planejamento passou a ser alvo de críticas movidas
por vários espectros ideológicos. Por um lado, não há como negar que
a expansão do capitalismo e a necessidade de modernizar o territó-
rio brasileiro, como prerrogativa política, abriu pouca margem para
a participação popular nas decisões. Por outro, a própria noção de
intervenção foi associada, negativamente, a problemas como o déficit
público, reproduzindo uma visão de que as demandas da sociedade, a
exemplo do consumo e do emprego, seriam resolvidas pelo mercado.
Souza (2002, p. 45) assim explica a crítica ao planejamento:

[Tadeu Alencar Arrais]


18 Largamente desacreditado e associado a práticas maléficas e autoritárias na
esteira da “crise do planejamento (urbano e regional)” que, inicialmente em
um plano ideológico, chegou ao Brasil nos anos 80 (sob influência das críticas
de corte marxista iniciadas na Europa e nos EUA nos anos 70), a própria pa-
lavra planejamento deveria, para vários analistas, ser banida e, na melhor das
hipóteses, substituída por outras.

Não há dúvidas de que o planejamento, em suas diversas modali-


dades − urbano, regional, territorial etc. −, envolve relações assimétri-
cas de poder, muito embora ainda persista um discurso que advogue
sua neutralidade. O poder, portanto, encontra-se na gênese analítica
do conceito de território. Ele resulta de relações assimétricas entre
atores sociais com força desigual na arena política, o que significa que
não ocorre no vazio; dessa forma, um dos objetivos da análise territo-
rial é revelar como essas ações se manifestam territorialmente. O estu-
do das mudanças na paisagem regional agrícola, como a substituição
de cultivos de soja e milho por cana-de-açúcar, revela relações de po-
der manifestadas, por exemplo, pela instalação de usinas, por contra-
tos de arrendamento, circuitos de fornecedores regionais, exploração
de mão de obra, sistemas de irrigação etc. Os objetos técnicos que
compõem a paisagem regional, portanto, são funcionalizados para
atender às demandas do modelo produtivo hegemônico. Tais objetos
têm uma história que quase sempre é esquecida em função do conteú-
do da modernidade que encerra.

Objetos não agem, mas, sobretudo, no período histórico atual, podem nascer
predestinados a um certo tipo de ações, a cuja plena eficácia se tornam indis-
pensáveis. São as ações que, em última análise, definem os objetos, dando-lhes
um sentido. Mas hoje, os objetos “valorizam” diferentemente as ações, em
virtude de seu conteúdo técnico. (Santos, 1997, p. 70).

O conceito de poder tem sido amplamente debatido na geogra-


fia, como atestam os trabalhos de Claval (1979), Raffestin (1993),
Souza (1995) e Castro (2005). A noção de um poder que emana

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


exclusivamente do Estado aponta para uma ultravalorização dessa 19

forma institucional, tradição que remonta tanto às linhas liberais


quanto a algumas matrizes marxistas. Raciocínio semelhante ocor-
re quando se analisa o poder a partir da consideração das classes
sociais hegemônicas e homogêneas que disputam a dominância −
para utilizar uma linguagem bastante comum na década de 1970
− no aparelho estatal. A expressão “Estado burguês” resumia bem
essa compreensão.
O poder, para Foucault (1979), deve ser concebido menos como
uma propriedade e mais como uma estratégia, o que o torna relacio-
nal. Mas não se trata de negar, no campo da política, a construção de
hegemonias tácitas nem a capacidade de alguns atores sociais de atuar
de forma mais incisiva no território. Partimos do princípio de que é a
qualidade da ação que revela os predicados dos atores sociais respon-
sáveis pela produção de um dado território.4 A literatura, especial-
mente a urbana, destinou energia para a construção de tipologias so-
bre os atores sociais, como podemos verificar em Vasconcelos (2011).
As tipologias são comumente acompanhadas de uma descrição mode-
lística das diferenciações no quadro de ações dos atores sociais que se
enquadram, em linhas gerais, nas ações com objetivos racionais, como

4
Para Weber (1992, p. 40), a ação social, “como toda ação, pode ser: 1) racional
com objetivos: determinada por expectativas no comportamento tanto de obje-
tos do mundo exterior como de outros indivíduos, e utilizando essas expectativas
como condições ou meio para chegar aos fins racionalmente planejados e persegui-
dos. 2) racional com base em valores: determinada pela crença consciente no valor
– ético, estético, religioso ou de qualquer outra forma com que se lhe interprete
– próprio e absoluto de uma determinada conduta, sem relação alguma com o re-
sultado, ou seja, puramente no mérito do valor. 3) afetiva, especialmente emotiva,
determinada por afetos e estados sentimentais atuais, e 4) tradicional: determinada
por um costume arraigado”.

[Tadeu Alencar Arrais]


20 as descritas por Weber (1992).5 A proposição de uma tipologia dos
atores sociais, entretanto, escapa aos nossos objetivos. Ainda assim, é
oportuno destacar alguns pontos.
Em primeiro lugar, a heterogeneidade dos atores sociais não
constitui impedimento para a construção de estratégias comuns que
visem a uma maior eficiência programática. A retomada de um pro-
grama de incentivos fiscais atende tanto ao setor rural quanto ao
setor industrial. De igual modo, é possível que sindicatos trabalhis-
tas apoiem essa estratégia por defenderem uma agenda de geração
de empregos.
Em segundo lugar, o quadro de interesses dos atores sociais é sensí-
vel às mudanças conjunturais econômicas e políticas. As alterações na
política cambial atingem a indústria e o setor agropecuário de modo
diferente, especialmente em um território com economia de base pri-
mária; ao mesmo tempo que a desvalorização cambial facilita as im-
portações de bens de capital, também desvaloriza as commodities.
Em terceiro lugar, a escala de ação é variável, não sendo mais res-
trita à esfera local ou regional. Corporações como a Perdigão, a Uni-
lever, a Cosan e o Carrefour acionam seus estoques e direcionam sua
produção para localidades cada vez mais variadas. O cálculo econô-
mico, portanto, influencia a escala. O mesmo se pode dizer de movi-
mentos sociais de trabalhadores rurais que utilizam, com muita pro-
priedade, as redes de comunicação para atuar no território.
Em quarto lugar, a ação no território invariavelmente impli-
ca relações contratuais e conflitantes com outros atores sociais. A

5
A expressão “ator social” designa um conjunto que engloba os segmentos econô-
micos, os movimentos sociais, o Estado, a sociedade civil etc. À revelia de as tipo-
logias terem, sobretudo, uma função didática, nosso foco é demonstrar a qualidade
da ação na produção do território, o que nos distanciou delas nesse momento.
Vasconcelos (2011) adota a expressão “agentes sociais” e propõe uma lista de vinte
denominações úteis para aqueles que optarem por uma análise tipológica.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


substituição de culturas temporárias, como a da soja pela da cana- 21

-de-açúcar, ou até mesmo a luta pela atração de montadoras – cujo


exemplo mais recente é o apoio para a instalação de uma unidade
da Suzuki no município de Itumbiara – revelam consensos e conflitos
entre os governos estadual e municipal e entre representantes dos seg-
mentos comercial e industrial, dentre outros atores.
Em quinto lugar, dentre a miríade de atores sociais que produzem
o território destaca-se o Estado, na medida em que ele é responsável
pela dotação de infraestrutura, pela regulamentação jurídica e pelo fi-
nanciamento da produção, além de constituir um contínuo palco de
disputa pelo atendimento de diferentes demandas sociais, uma vez
que detém o monopólio do poder político. Castro (2005, p. 77-78)
oferece um argumento que reforça esse contexto:

Afinal, se o poder, enquanto essência da capacidade para fazer ou para ob-


ter algo não está restrito à lógica e ao aparato estatal, o poder político
territorialmente centralizado está. Neste sentido, todas as geografias do po-
der dobraram-se à necessidade de incorporar a forma Estado. Mas mesmo
com esta incorporação elas muitas vezes empobreceram as potencialidades
explicativas dos fenômenos políticos territorialmente institucionalizados,
quando não consideraram a extensão e os limites das relações antinômi-
cas e complexas, porém não mutuamente exclusivas, que existem entre ato-
res estatais burocráticos, atores econômico-financeiros e atores sociais na
constituição do território.

Essas características se encaixam na denominação genérica de ator


sintagmático, descrita por Raffestin (1993, p. 40) da seguinte forma:

O ator sintagmático combina todas as espécies de elementos para “produzir”,


lato sensu, uma ou várias coisas. O Estado é um ator sintagmático por exce-
lência quando empreende uma reforma agrária, organiza o território, constrói
uma rede rodoviária etc. A empresa é um ator sintagmático quando realiza
um programa de produção. Isso significa que o ator sintagmático articula mo-
mentos diferentes de realização de seu programa pela integração de capacida-
des múltiplas e variadas.

[Tadeu Alencar Arrais]


22 Na perspectiva de análise adotada, tanto a noção jurídico-política
de território quanto a econômica analisadas por Haesbaert (2004)
encontram-se imbricadas, o que justifica a centralidade das ações do
Estado em nossa análise.6 O território que está em discussão é, por-
tanto, um recorte do território nacional. Trata-se de um recorte terri-
torial, porque compreende limites intranacionais, mas também políti-
co, pois aborda uma forma jurídico-política dotada de certo nível de
autonomia na distribuição dos recursos, na regulação econômica e no
atendimento das diversas demandas da sociedade goiana.
O importante é perceber que as ações dos atores sociais desenca-
dearam mudanças demográficas, econômicas e sociais, integrando o
território goiano às dinâmicas econômicas nacionais e internacionais.
A decisão de edificar uma nova capital, promovendo a colonização
de áreas “vazias”, criando sistemas de transporte e até mesmo cons-
truindo usinas hidrelétricas não ocorre fora das relações contratuais
e exploratórias de atores sociais com menor poder de negociação na
arena política. A narrativa da construção de Goiânia ou até mesmo a
modernização da agricultura são suficientes para ilustrar os conflitos
que emergem da produção do território. Em ambos os casos, a deci-
são esteve condicionada a arranjos políticos, travestidos muitas vezes

6
Haesbaert (2004, p. 40) sintetiza assim as vertentes do conceito de território: “− polí-
tica (referida às relações espaço-poder em geral) ou jurídico-política (relativa também
a todas as relações espaço-poder institucionalizadas): a mais difundida, onde o terri-
tório é visto como um espaço delimitado e controlado, através do qual se exerce um
determinado poder, na maioria das vezes – mas não exclusivamente – relacionado ao
poder político do Estado. – cultural (muitas vezes culturalistas) ou simbólico-cultural:
prioriza a dimensão simbólica e mais subjetiva, em que o território é visto, sobretudo,
como o produto da apropriação/valorização simbólica de um grupo em relação ao
seu espaço vivido. – econômica (muitas vezes economicista): menos difundida, enfa-
tiza a dimensão espacial das relações econômicas, o território como fonte de recursos
e/ou incorporado no embate entre classes sociais e na relação capital-trabalho, como
produtivo na divisão ‘territorial’ do trabalho, por exemplo”.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


pelo manto jurídico de um Estado laico e democrático, assim como 23

reforçou a integração do mercado interno, atendendo às demandas


da expansão do capitalismo em uma economia periférica. Também
em ambos os casos, tanto a indústria da construção civil quanto a
produção de insumos químicos e mecânicos foram beneficiadas pela
atuação estatal. Um exemplo recente em Goiás foi a construção da Hi-
drelétrica da Serra do Facão, localizada no rio São Marcos, em áreas
dos municípios de Catalão e Davinópolis. No mesmo dia, foram inau-
guradas seis usinas hidrelétricas no território goiano. Em função da
demanda de energia exógena, já que a produção goiana é superavitá-
ria, famílias de pequenos agricultores foram desterritorializadas; além
disso, houve perda da biodiversidade, uma vez que o padrão de alaga-
mento, com a correlata construção de enormes espelhos d’água, tem
ocorrido em porção significativa das bacias hidrográficas do Sul Goia-
no, como frequentemente alertam pesquisadores do Departamento de
Geografia da Universidade Federal de Goiás (Câmpus Catalão), como
Mendonça (2004) e Mesquita (2009).
Em resumo, três princípios nortearam nossa análise. O primeiro
considera que a narrativa sobre a modernização no território goiano
é carregada de certa positividade, de modo a nos fazer acreditar que
sua constituição esteve livre de conflitos. Os sucessivos governos bra-
sileiros fiaram esse discurso, pois o horizonte de crescimento econô-
mico sempre figurou entre suas principais ambições. O segundo com-
preende que a produção do território gerou uma paisagem regional
desigual, condição necessária para a integração ao sistema nacional
e global − integração aqui entendida como eufemismo de subordina-
ção. De acordo com Lipietz (1998), não há parcelas pobres ou ricas
de uma região, mas regiões que dispõem diferencialmente de rique-
za e de pobreza no mesmo território. Isso nos leva a refletir sobre os
geo­grafismos, expressão cunhada por Lacoste (1988) para lembrar
que os espaços não têm propriedade de sujeitos e não existem fora
das relações sociais. Já o terceiro princípio é a noção de totalidade,
que abrange “o conjunto de todas as coisas e de todos os homens, em

[Tadeu Alencar Arrais]


24 sua realidade, isto é, em suas relações, e em seu movimento” (Santos,
1997, p. 94). Sua apreciação, como revela Santos (1997), ainda de-
pende das cisões. Para apreendê-las, procedemos de três formas: um
recorte temporal (formação), um recorte espacial (diferenciação) e um
recorte analítico (categorização).
Enfim, por meio dos estudos sobre economia, urbanização e metro-
polização será possível reconhecer que as dinâmicas contemporâneas
são resultado de processos históricos com repercussão diferencial no
território. Mas a análise só terá sucesso se formos capazes de demons-
trar como essas transformações repercutem em nosso cotidiano. Eis o
maior desafio das páginas seguintes.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


Economia

Geografia econômica

Pierre George (1965) definiu geografia econômica como um campo


cujo objetivo é a espacialização e o estudo das formas de produ-
ção, circulação e consumo. O cerne de seu argumento consiste em
procurar compreender as práticas produtivas a partir das formas
espaciais ao longo do tempo e em escalas variáveis, perspectiva que
difere das análises econômicas clássicas, pautadas, sobretudo, na
consideração do espaço abstrato em oposição ao espaço concreto,
sugestivo das linhas da geografia econômica de caráter descritivo.
O vínculo entre geografia e economia estaria, portanto, na espacia-
lização da produção, do consumo e, especialmente, da circulação.
Fazer essa geografia implicava descrever os tipos de indústria, os
sistemas de geração de energia, a produção de matéria-prima (geo-
grafia industrial), a produção de alimentos e criação (geografia agrí-
cola) e os modais de transporte (geografia da circulação). Esse tipo
26 de estrutura do conhecimento é tributário do período pós-guerra e
dos modelos de desenvolvimento que viam na economia, especial-
mente na industrialização, o caminho para uma sociedade moderna
− daí a presença frequente do tripé analítico industrialização-mo-
dernização-urbanização.
No mesmo período, a forma de compreensão da economia come-
çou a mudar, vítima do próprio esquema de interpretação, das pres-
sões do mercado de consumo urbano, da transferência de tecnologia
e das mutações no mundo do trabalho que atingiram o modelo de
acumulação fordista. Harvey (1992) direcionou sua compreensão
para alterações nesse modelo, tendência compartilhada por Benko e
Lipietz (1994) ao avaliarem a forma de regulação fordista baseada em
vultosos investimentos do Estado e beneficiada pelos efeitos da aglo-
meração. O crescente movimento de internacionalização da economia
exigiu, por seu turno, novos modelos interpretativos, dentre os quais
aqueles pautados nas noções de centro e periferia, associados à teo-
ria da dependência, então bastante em voga. Segundo Oliveira (2003),
essa visão acarretou a valorização das relações de oposição entre as
nações, obliterando a questão das diferenciações internas dos espaços
nacionais. As interpretações econômicas, especialmente ligadas às re-
lações entre as nações, são exemplos de dualidades espaciais.
Na geografia, o encontro com a economia teve um fértil campo de
pesquisa na análise urbana, afinal a cidade passou a ser considerada,
já no terceiro quartel do século XX, uma espécie de sujeito da mo-
dernização e, por consequência, local da indústria moderna, do setor
financeiro, da mão de obra especializada e da inovação. Santos (1979)
pesquisou a economia urbana com base na compreensão das relações
entre o “circuito superior” e o “circuito inferior”, ambos, conforme
o autor, relacionados à modernização tecnológica.7 Em outro estudo,

7
Segundo Santos (1979, p. 16), o circuito superior “originou-se diretamente da
modernização tecnológica e seus elementos mais representativos hoje são os

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


publicado originalmente em 1978, Santos (2003) cita que a aproxi- 27

mação entre a economia e as teorias espaciais ocorreu por intermé-


dio do planejamento. Ao criticar a nova ciência econômica, o autor
declara: “A nova ciência espacial deveria, portanto, basear suas refle-
xões numa ciência econômica a-espacial” (p. 20). O distanciamento
do espaço e o negligenciamento de sua historicidade responderam,
portanto, às demandas da economia capitalista. Tempos depois, a
economia redescobriu o espaço por intermédio da aglomeração, sem
abrir mão, contudo, da análise modelística, movimento conhecido
como “nova geografia econômica”. O título do livro de Fujita, Krug-
man e Venables (2002), Economia espacial: urbanização, prosperi-
dade econômica e desenvolvimento humano no mundo ilustra essa
perspectiva. Segundo os autores,

não deve ser difícil convencer economistas de que a geografia econômica – o


estudo de onde a atividade econômica ocorre e o porquê – é um assunto inte-
ressante e importante. Contudo, até a alguns anos, este era um assunto que a
economia convencional muito negligenciava. Mesmo agora, livros introdutó-
rios parecem descrever uma economia curiosamente sem corpo, sem cidades
ou regiões (a maioria desses textos, de fato, literalmente não faz menção a
questões como as razões da urbanização ou o papel da localização nas deci-
sões econômicas. (Fujita; Krugman; Venables, 2002, p. 15-16).

monopólios. O essencial de suas relações ocorre fora da cidade e da região que


os abrigam e tem por cenário o país ou o exterior. O circuito inferior, formado de
atividades de pequena dimensão e interessando principalmente às populações
pobres, é, ao contrário, bem enraizado e mantém relações privilegiadas com
sua região”. A formulação da teoria dos dois circuitos data da década de 1970.
Como expressa o autor, sua relação com a modernização é determinante, o que
significa que devemos considerar, atualmente, o próprio estatuto da moderni-
zação técnica. Isso altera, em alguns fatos, a teoria. Para uma reflexão crítica
sobre ela, ver Maia (1999).

[Tadeu Alencar Arrais]


28 Na verdade, a importância da questão espacial na análise econô-
mica resulta do reconhecimento da necessidade de se considerar ou-
tros parâmetros como medidas de desenvolvimento ou até mesmo
para o estabelecimento de metas que não visem apenas ao crescimen-
to econômico stricto sensu. No Brasil, a frase “É preciso esperar o
bolo crescer para depois repartir” adquiriu força de premissa na polí-
tica econômica, subjacente à qual persistia uma noção de crescimento
econômico mensurado a partir de indicadores abstratos, próprios dos
modelos neoclássicos. O problema desse entendimento é o cuidado
que se deve ter para que o procedimento metodológico, expresso na
quantificação, não substitua a leitura espacial a ponto de não se com-
preender que as dinâmicas econômicas têm rebatimento no território.
Veio de economistas como Celso Furtado (1983) uma concepção de
economia ligada ao projeto nacional, o que implicou considerar que
as questões estruturais da economia estão vinculadas ao processo his-
tórico de acumulação capitalista, tornando o território, portanto, de-
terminante nas estratégias do Estado e dos grupos econômicos nacio-
nais e internacionais.8

8
Furtado (1983, p. 5) assim sintetiza os dois principais marcos da teoria do de-
senvolvimento econômico: “A teoria do desenvolvimento trata de explicar, numa
perspectiva macroeconômica, as causas e o mecanismo do aumento persistente
da produtividade do fator trabalho e suas repercussões na organização da pro-
dução e na forma como distribui e utiliza o produto social. Esta tarefa explica-
tiva projeta-se em dois planos. O primeiro – onde predominam as formulações
abstratas – compreende a análise do mecanismo propriamente dito do processo
de crescimento, o que exige a construção de modelos ou esquemas simplificados
dos sistemas econômicos existentes, baseados em relações estáveis entre variáveis
quantificáveis e consideradas de importância relevante. O segundo – que é o plano
histórico – abrange o estudo crítico, em confronto com uma realidade dada, das
categorias básicas definidas pela análise abstrata. Não basta construir um modelo
abstrato e elaborar a explicação do seu funcionamento”.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


No que tange a Goiás, acumulamos uma razoável literatura so- 29

bre os aspectos econômicos do território. Em se tratando apenas


dos estudos globais, identificamos uma linha de pesquisa com foco
na avaliação e na descrição dos setores de produção e infraestrutu-
ra (Maia, 1984, 2005), e outra que prioriza a formação econômica
do território goiano, bem representada por Bertran (1978, 1988).
Há também trabalhos verticalizados sobre o papel do Estado na
economia (Costa, 1987) e cujo recorte parte da década de 1970
(Silva, 2007). Estevam (1998) nos oferece uma das mais apuradas
leituras da economia goiana, pois sua perspectiva teórica permite
compreender os condicionantes da formação territorial alinhados
à economia nacional e aos arranjos regionais contemporâneos. Na
geografia, são escassas as obras com foco global na economia de
Goiás. Gomes (1969), no final da década de 1960, publicou um
trabalho pioneiro − abarcando temas que podem ser compartilha-
dos com as modernas linhas de pesquisa da geografia econômica
contemporânea − ao considerar, de maneira global, os aspectos se-
toriais da economia (agricultura, pecuária, mineração, transporte
e comunicação, indústria e comércio). A maior parte dos estudos
econômicos da geografia goiana, entretanto, aborda a formação
econômica regional ancorada em aspectos temáticos, como Barreira
(1997), Deus (2002) e Arrais (2007a).
Mas de que maneira a análise da geografia econômica pode verda-
deiramente contribuir para a compreensão do território goiano? Para
respondermos a essa questão, é necessário primeiramente esclarecer-
mos os princípios que nortearão a presente análise:
a. O marco temporal da análise é a incorporação do território
goiano ao sistema de produção capitalista, o que significa
que a integração é avaliada a partir de tal contexto histórico
− esse viés nos permite reconhecer que a integração ocorreu
subordinada ao regime de acumulação do Sudeste brasileiro,
reforçando o quadro das desigualdades regionais herdado do
período colonial;

[Tadeu Alencar Arrais]


30 b. O atendimento das demandas nacionais relacionadas ao se-
tor agropastoril – programas de colonização, função de fron-
teira agrícola e extração de carvão para siderurgia, Programa
Nacional do Álcool (Proálcool) etc. – ocasionou a perda pro-
gressiva da cobertura vegetal e da biodiversidade do cerra-
do, além do comprometimento dos recursos hídricos, o que
se agravou com a expansão das monoculturas da soja e da
cana-de-açúcar;
c. O desempenho do padrão primário de nossa economia é
influenciado por mudanças conjunturais, como a política
cambial e alfandegária, variações climáticas e questões fitos-
sanitárias, demonstrando a fragilidade do tripé grãos-mine-
ração-carnes;
d. A leitura econômica não deve estar presa a modelos estanques,
que consideram os setores clássicos da economia (primário, se-
cundário e terciário) como algo abstrato e a economia rural e
urbana como realidades desarticuladas;
e. O papel do Estado na capitalização diferencial do território im-
plicou a dotação de infraestrutura de transporte, comunicação e
energia, financiamento via crédito da produção e deslocamento
de plantas industriais, além dos programas de transferência de
renda e previdência rural e urbana que mudaram significativa-
mente o perfil econômico dos municípios brasileiros.
Finalmente, é imprescindível compreender a economia goiana
levando em consideração o processo contemporâneo de urbaniza-
ção. Em 2010, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), apenas a Região Metropolitana de Goiânia e
o Entorno do Distrito Federal aglomeraram mais de 5,5 milhões de
pessoas (IBGE, 2011). Esse dado expõe o mercado de trabalho e o
potencial de consumo dessas regiões, assim como os impactos dos
reveses econômicos estruturais – notoriamente o desemprego, a pre-
carização do trabalho e o déficit habitacional – sobre sua realidade,
de forma mais intensa que no restante do território nacional.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


Integração econômica 31

Do ponto de vista econômico, o território goiano começou a desper-


tar interesse da metrópole portuguesa a partir do primeiro quartel do
século XVIII. Com a economia aurífera, formou-se uma primeira rede
urbana para sustentar as atividades econômicas, o que também ocor-
reu com as lavouras de gêneros básicos e com o gado criado de for-
ma extensiva. Estudiosos como Palacín (1994) assinalam a importân-
cia dos garimpos na dispersão do povoamento do território goiano e
seu vínculo com a economia externa, uma vez que parte do ouro era
drenada para além-Atlântico. A base da economia goiana, no sécu-
lo XIX, constituiu-se, fundamentalmente, pela agricultura de subsis-
tência e pela pecuária extensiva. Ainda assim, esse conjunto de ativi-
dades, pouco diversificado e regionalmente articulado com a rede de
vilas e povoados, não implicou isolamento. Segundo Raymundo José
da Cunha Mattos (1979), governador da Província de Goiás entre
1823 e 1826, o comércio goiano consistia na exportação de produtos
advindos do gado (couro, peles, solas), do café e do algodão, dentre
outros gêneros provenientes da atividade agropecuária; importavam-
-se, como era de se esperar, produtos manufaturados, bebidas, metais,
tecidos, sal etc. A célula dessa sociedade era, sem dúvida, a fazenda,
modelo de organização social com especificidades regionais. Estevam
(1998) a denomina “fazenda goiana”, pois a autossuficiência acarre-
tou a adoção da poliatividade como estratégia de sobrevivência, sem
excluir nenhum grau de transformação primária, como da mandioca
em farinha, do leite em queijo e da banha do porco em sabão.
Essa situação dinamizou-se a partir do primeiro quartel do sé-
culo XX. Bertran (1978, p. 98) lembra que o processo de reintegra-
ção regional ocorreu em virtude de dos fatores: “Primeiro, a ferrovia
transpondo o Paranaíba. Segundo, em 1914, a primeira guerra mun-
dial, vigorosamente sentida em benefício da economia goiana.” Os
dois fatores estão claramente relacionados, pois a ferrovia permitiu a
integração, via ampliação das trocas, com o Sudeste brasileiro.

[Tadeu Alencar Arrais]


32 Mas o que Goiás tinha a oferecer? E, antes disso, como era o arran-
jo regional do território goiano no primeiro quartel do século XX?9
Em 1920 havia 49 municípios dispersos em um imenso território,
que compreendia uma linha longitudinal de aproximadamente 1.400
quilômetros, estendendo-se do rio Paranaíba até o encontro dos rios
Araguaia e Tocantins, no Bico do Papagaio (Figura 1). A parte se-
tentrional era menos povoada, com meios de locomoção precários
e estrutura agrária mais concentrada; diferia, pois, da parte meri-
dional, cujas cidades ensaiavam certo dinamismo econômico, como
Anápolis, Bonfim, Morrinhos e Catalão. O Recenseamento de 1920
apresenta informações sobre o número de estabelecimentos rurais
nos municípios goianos. Constata-se, na Figura 2, a concentração
dos estabelecimentos rurais na parte meridional do território. Em
Morrinhos havia 1.172 estabelecimentos rurais, e, em Catalão, 945.

9
A divulgação dos quadros estatísticos econômicos, demográficos e sociais requer
a adoção de recortes que facilitem sua comparação temporal e espacial. Quem se
dispõe a trabalhar com os quadros estatísticos brasileiros se depara com diferentes
modos de agregação estatística, resultado das formas de divisão administrativa e
da regionalização adotadas ao longo dos tempos. Em 1872, ainda quando Goiás
era província, os dados populacionais foram agregados a partir da divisão em pa-
rochias, como a de Santana de Goyaz e a do Divino Espírito Santo de Entre Rios.
Naquele período, as informações populacionais ainda incluíam o número de ho-
mens livres e escravos (Brasil, 1872). Os recenseamentos da década de 1920 apre-
sentavam informações em escala estadual e municipal. No censo demográfico de
1940 (IBGE, 1950), encontramos informações sobre população de fato, população
de direito e moradores presentes na data do levantamento. No censo demográfico
de 1960 (IBGE, 1960), além dos municípios, a novidade foi a agregação das infor-
mações nas chamadas zonas fisiográficas. Goiás foi regionalizado em onze dessas
zonas, das quais a mais conhecida é Mato Grosso de Goiás. Em 1970, as zonas
fisiográficas deram lugar a microrregiões homogêneas, e Goiás foi regionalizado
em quinze regiões (IBGE, 1970d). Atualmente, o IBGE reconhece as microrregiões
geográficas e as mesorregiões geográficas.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


Contudo, as áreas dos municípios da parte setentrional eram mais 33

extensas. Somente dois municípios, Porto Nacional (8.607.700 hec-


tares) e Pedro Afonso (6.780.600 hectares), com 553 e 121 estabe-
lecimentos rurais, respectivamente, agrupavam uma área equivalen-
te a 23,3% do território goiano (Brasil, 1927). Dados sobre o valor
médio do hectare no Brasil em 1920 colocavam Goiás em penúlti-
mo lugar (8$ réis), na frente apenas do território do Acre (6$ réis).
As terras mais valorizadas localizavam-se no Distrito Federal (510$
réis), São Paulo (161$ réis) e Rio de Janeiro (106$ réis). A valoriza-
ção média era diferente nas zonas de ocupação do território goiano;
ademais, a chegada da ferrovia motivou a valorização fundiária nas
faixas sudeste e sul, como assinala Borges (1990).10

10
Em algumas regiões brasileiras, ainda sobrevivem práticas de transformação
e armazenamento de gêneros alimentícios típicas das fazendas tradicionais. A
carne de lata e a fabricação de sabão a partir da banha do porco são exemplos
disso. No primeiro caso, a carne de porco, depois de frita, é depositada em um
recipiente – geralmente uma lata de 18 litros – com banha derretida que logo
endurece, o que conserva a carne por meses. O sabão, por sua vez, é fabricado
a partir do derretimento da banha do porco e da mistura com soda cáustica.
Essas atividades marcaram a paisagem da fazenda tradicional e formaram, jun-
tamente com as manifestações culturais e as práticas produtivas e de criação,
um modo de vida que perdurou em parte significativa do território goiano até
bem pouco tempo. O uso intensivo de tecnologia, a monocultura, o assalaria-
mento, dentre outros processos, substituíram essas práticas. É difícil imaginar
que trabalhadores assalariados de uma grande propriedade de cultivo de soja
ou de cana-de-açúcar, por exemplo, dediquem tempo para o processamento da
gordura do porco, quando o mais comum é adquirir óleos vegetais na cidade.
Não se trata de uma escolha do trabalhador, mas de uma estratégia de maxi-
mização da exploração da mão de obra no campo, agora dedicada às culturas
consideradas lucrativas pelos grandes grupos econômicos. Mas não deixa de
ser irônico que a carne de lata, atualmente, seja uma iguaria valorizada no
mercado nacional.

[Tadeu Alencar Arrais]


34

50ºW
Formosa

IA
UA
Jaraguá

AG
Goyaz Pirenópolis Boa Vista

AR

MA
Santa Planaltina
Corumbá

RAN
Luzia
Anápolis

HÃO
Campinas Couto Magalhães
Anicuns
Bomfim
Trindade

Á
Bela Campo

R
Crystalina

A
Palmeiras

P
Vista Formoso
Pouso O
Santa

I
R
Alto Cruz
Pedro Afonso

100 km
Caldas
Morrinhos
Novas
Buriti Alegre
Porto Nacional

50
Sta. Corumbaiba
Catalão
Rita do
São José
Paranaiba 0 do Duro
Natividade
Ilha
do Peixe
Bananal

BAH I A
LEGENDA
SO

Conceição do Norte
OS

Taguatinga
Capital do Estado
GR

13º S Arraias
Palma

Cidade Chapéo São


Cavalcante Domingos
Vila São José
IA

O Posse
GUA

T
A do
Estabelecimentos M Sítio d’Abadia
ARA

Qtde. Tocantins Forte


1.200 Pillar
700 I S
300
100
R A
O
RI

20
G E

Área Hectares Mineiros


M I N A S

1.700.000
1.000.000
Rio Verde
400.000
100.000 Jatahy
10.000 Ri
o
Ap o

50ºW

0 100 200 km

Figura 1. Quantidade e área dos estabelecimentos rurais em Goiás, em 1920.


Fonte: Brasil (1923).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


35

50ºW
Formosa

IA
UA
Jaraguá

AG
Pirenópolis Planaltina Boa Vista

AR

MA
Goyaz Corumbá Santa

RAN
RIO
Anicuns Campinas Luzia Couto Magalhães

HÃO
Anápolis
Trindade Bomfim Crystalina

Á
R
Palmeiras Campo Formoso

A
P
Grimpas Bela Vista
Pedro Afonso
Pouso Alto Santa Cruz

100 km

TOCANTINS
Morrinhos
Buriti Alegre Caldas Novas
50 Porto Nacional
Corumbaiba Catalão

RIO
Sta. Rita do Paranaiba São José
0

do Duro
Ilha Natividade
do Peixe
Bananal
SO

LEGENDA

BAH I A
s
Maria

Conceição do Norte
OS

Taguatinga
GR

Palma
Capital do Estado 13º S Arraias

Cidade Chapéo São


das

Cavalcante Domingos
Vila
IA

O São José do Tocantins


GUA

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Rio A Forte
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Estrada de ferro Ri o Sítio d’Abadia


Pillar

Estrada de ferro
I S

planejada
R A
O
RI

Estrada de rodagem
G E

População
M I N A S

Hab. Mineiros Rio Verde


40.000
15.000
6.000
1.500 R i Jatahy
o
Ap o

50ºW

0 100 200 km

Figura 2. População dos municípios goianos em 1920.


Fonte: Brasil (1926).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

[Tadeu Alencar Arrais]


900.000

800.000

700.000

Toneladas 600.000

500.000

400.000

300.000

200.000

100.000
São Paulo

Minas Gerais

Goiás

Pará

Maranhão

Brasil
Rio Grande
do Sul

Figura 3. Produção de arroz no Brasil, em 1920.


Fonte: Brasil (1923).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

40.000.000

35.000.000

30.000.000

25.000.000
Cabeças

20.000.000

15.000.000

10.000.000

5.000.000

0
Goiás

Bahia

São Paulo

Piauí

Brasil
Minas Gerais

Mato Grosso
Rio
de Janeiro

Figura 4. Rebanho bovino no Brasil, em 1920.


Fonte: Brasil (1923).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.
As Figuras 3 e 4 revelam a posição ocupada por dois dos principais 37

produtos da economia goiana em 1920. Ao mesmo tempo que permi-


tiam a integração, a agricultura e a pecuária movimentavam o mercado
inter-regional, no qual o gado era moeda de troca bastante utilizada.
No contexto nacional, Goiás aparecia com o terceiro maior rebanho
bovino em 1920, com 3.020.769 cabeças, e a quarta maior produção
de arroz. Pode-se estabelecer uma relação direta entre a produção e
a estrutura fundiária. Os municípios com maior rebanho bovino, em
1920, eram Jataí (178.720 cabeças), Rio Verde (174.800 cabeças) e Mi-
neiros (87.475 cabeças). Os três municípios, localizados no Sudoeste
Goiano, concentravam 14,6% do rebanho total do estado. O mesmo
padrão de concentração ocorreu com o arroz. Entretanto, os maiores
produtores localizavam-se na área de influência da ferrovia. Apenas Ca-
talão (4.468,60 toneladas), Corumbaíba (3.762,70 toneladas) e Morri-
nhos (3.307,70 toneladas) concentravam 19,7% do total da produção
do território goiano. Ainda é necessário registrar que somente 4,83%
da produção de arroz era beneficiada, gargalo que acompanhou a eco-
nomia goiana durante a primeira metade do século XX.
Parte da produção de arroz e de gado, de fato, atendia a outros es-
tados, como São Paulo; à medida que o mercado se ampliava, efetiva-
vam-se as condições de articulação (estradas e ferrovias) com o Sudes-
te brasileiro. Só o município de São Paulo, em 1920, abrigava 579.033
pessoas, número que subiu para 1.326.261 nos anos 40, o que nos dá
uma ideia da demanda por gêneros alimentícios para esse mercado (Bra-
sil, 1926; IBGE, 1950). Cano (1998, p. 59), ao avaliar o impacto da Cri-
se de 1929 na economia paulista e sua relação com a periferia nacional,
expressa um argumento que se encaixa nessa perspectiva de análise:

Desarticulado o comércio exterior, isto causaria forte reversão no abasteci-


mento interno: as restrições às importações forçariam a periferia nacional a
importar, agora, produtos manufaturados de São Paulo; este, por sua vez, de-
veria, crescentemente, importar mais matérias-primas e alimentos de outros
estados. Passava-se, portanto, a integrar o mercado nacional sob o predo-
mínio de São Paulo. À periferia nada mais restava do que ajustar-se a uma

[Tadeu Alencar Arrais]


38 função complementar da economia de São Paulo, embora mantendo ainda
sua antiga dependência do exterior, através de suas exportações tradicionais.

Retomemos os dois argumentos de Bertran (1978) para consta-


tar que o aumento da produção do arroz no início do século XX se
beneficiou da expansão da ferrovia, o que permitiu a ampliação das
trocas com outros mercados consumidores. O periódico A Informa-
ção Goyana divulgava regularmente dados sobre a economia goiana,
especialmente o balanço de exportações pela ferrovia. Muito embora
Goiás tivesse, no início do século XX, relações comerciais com Pará,
Maranhão, Piauí e Bahia – que incluíam produtos como gado vacum,
cereais, açúcar, borracha, marmelada e fumo –, a maior parte das tro-
cas mercantis ocorria com São Paulo e Minas Gerais, fato que se di-
namizou com a ferrovia, pois a precariedade nas vias de transporte
constituía um gargalo que encarecia as mercadorias, especialmente na
parte setentrional do território goiano. Até mesmo o gado, uma mer-
cadoria autotransportada, era prejudicada pelas dificuldades encon-
tradas nas estradas e pontes, isso sem falar nas tropas e nos carros
de bois. Segundo um artigo de A Informação Goyana (1921), os obs-
táculos impostos aos criadores do Sudoeste Goiano incluíam o aces-
so aos frigoríficos de Barretos e ao circuito de atravessadores – que
abrangia, além de boiadeiros, invernistas, negociantes de gado gordo
e comissários –, resultando em um valor de comercialização quatro
vezes menor do que aquele praticado nas praças do Rio de Janeiro.
Conforme mostra a Tabela 1, houve um aumento no volume das ex-
portações entre 1915 e 1916, o que indica uma ampliação das trocas;
esse dado confirmou-se nos anos seguintes, segundo quadros estatísticos
publicados em A Informação Goyana. A maior parte dos produtos ex-
portados, a exemplo do arroz e do gado, era oriunda da parte meridio-
nal do território, especialmente dos municípios de Catalão, Morrinhos,
Corumbaíba, Bela Vista e Goiás. Em virtude do curto ciclo produtivo e
por constituir-se em um gênero de primeira necessidade, a cultura do ar-
roz predominava nas fazendas. Nota-se, a partir da análise da Figura 5,

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


a disseminação do cultivo do arroz em 1945. O processo de derrubada 39

das matas para a incorporação de novos espaços, com a utilização de


machados e enxadas, era prática comum no território goiano.

Tabela 1. Exportações de Goiás pela Estrada de Ferro Goyaz – 1915-1916.


Produtos 1915 1916 Produtos 1915 1916
Arroz (kg) 3.218.417 5.907.378 Manteiga (kg) 4.688 4.900
Fumo (kg) 133.130 209.984 Milho (kg) 32.960 170.015
Porcos (cabeças) 4.176 7.197 Feijão (kg) - 62.526
Cavallos (cabeças) 25 25 Assucar (kg) - 13.852
Toucinho (kg) 92.703 130.61 Bois gordos (cabeças) - 7.021
Couros (kg) 110.762 213.619 Xarque (kg) - 247.871
Borracha (kg) 8.704 18.403 Peles de veados (kg) - 5.435
Marmelada (kg) 4.688 2.400 Banha (kg) - 27.551
Fonte: A Informação Goyana (1917).

Figura 5. Mapa da distribuição do arroz em Mato Grosso de Goiás, em 1945.


Fonte: Faissol (1952). Adaptado.

[Tadeu Alencar Arrais]


40 Outro dado a observar é um certo gradiente de transformação pri-
mária, pois produtos como o charque, a banha, a borracha, o açú-
car, o fumo, a manteiga e os couros exigiam semielaboração para
serem comercializados nas praças de Goiás, Minas Gerais e São Pau-
lo. Em 1919, segundo dados apresentados por A Informação Goya-
na (1919), houve uma evolução significativa na exportação de arroz
com casca (6.398.183 kg), bois (83.598 cabeças) e charque (724.854
kg), além de outros produtos que não apareciam no levantamento de
1917, como farinha de milho (3.555 kg) e telhas (48.225 unidades).
O que se pode deduzir é que, à medida que a ferrovia avançava para
o centro de Goiás no primeiro quartel do século XIX, aumentavam
as articulações mercantis em duas escalas: primeiro, com as próprias
cidades que margeavam a ferrovia, definindo um perfil urbano de am-
pliação de equipamentos de consumo coletivo e, segundo, com Minas
Gerais e São Paulo, por intermédio das trocas mercantis.
Em linhas gerais, ao adentrar no território goiano via sudeste, a
ferrovia não apenas fundou municípios, como Pires do Rio (1930) e
Leopoldo de Bulhões (1948), mas também dinamizou aqueles existen-
tes, a exemplo de Ipameri e Anápolis, bem como transformou as re-
lações mercantis com a classe de comerciantes do Triângulo Mineiro
(Estevam, 1998). Contudo, na década de 1930, próximo a Anápolis
surgiu Goiânia, o que repercutiu na urbanização e na valorização fun-
diária, processos que alteraram o perfil socioeconômico na faixa oeste
de Mato Grosso de Goiás.11 Nesse período ensaiou-se um arranjo re-
gional, fruto dos dois primeiros quartéis do século XX, cujos fatores
são elencados nos parágrafos seguintes.

11
Mato Grosso de Goiás é caracterizado por Faissol (1952, p. 7) como “uma
extensa região florestal situada na parte centro-sul do Estado de Goiás. A área
de mata original ainda não está calculada precisamente, mas pode-se avaliá-la
em mais ou menos 20.000 quilômetros quadrados. Ela começa nas proximida-
des da cidade de Anápolis e continua até o oeste até a base da Serra Dourada,
na região do Córrego do Ouro; no sentido norte-sul, vai das proximidades de

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


Em primeiro lugar, na faixa de povoamento da Estrada de Ferro 41

Goiás (Figura 6) ocorreu, concomitantemente, a modernização de equi-


pamentos de consumo urbano nas cidades que receberam estações da
ferrovia e a ampliação das relações comerciais com núcleos urbanos
distantes, por meio de uma rede de transportes rodoviários secundá-
rios. Como atesta Borges (1990), grandes firmas comerciais instalaram-
-se em Ipameri, Catalão e Roncador, reforçando as relações mercantis
com o Sudeste brasileiro e, ao mesmo tempo, aumentando a diferencia-
ção entre as partes meridional e setentrional do território goiano.
Em segundo lugar, quando a ferrovia chegou a Anápolis, em 1935,
a cidade se consolidou como polo comercial munido de uma arcaica
indústria de transformação, como pode ser constatado pela concen-
tração de máquinas de beneficiar arroz. O nó comercial foi favorecido
em 1943 pela instalação, no Vale do São Patrício, da Colônia Agrí-
cola Nacional de Goiás (Cang), que estimulou a migração e determi-
nou o padrão fundiário regional.12 Assim, onde terminava a Estrada

Goiânia até um pouco ao norte de Itapaci. Abrange parte dos municípios de


Anápolis, Pirenópolis, Jaraguá, Anicuns, Goiás, Mataúna, Itaberaí e Itapaci. Os
municípios de Trindade e Inhumas estão inteiramente dentro da mata. Sua for-
ma é irregular, com reentrâncias e saliências e com algumas manchas de campo
cerrado dentro da mata. O nome ‘Mato Grosso de Goiás’ foi dado por extensão
a toda a região ora estudada, em virtude de já existir esta denominação para
a parte central (municípios de Inhumas, Itaberaí, Anápolis, Trindade, Goiânia
e parte de Jaraguá). A origem do nome está ligada ao tipo de vegetação e mais
particularmente ao contraste que ele forma em relação ao resto da paisagem.
Desde o tempo que Saint-Hilaire percorreu esta zona, e provavelmente mesmo
antes, já se conhecia esta parte do Estado como sendo ‘Mato Grosso’”.
12
Em Waibel (1958) e Faissol (1952) encontramos referências ao processo de ocu-
pação desencadeado pela Colônia Agrícola Nacional de Ceres, fundada em 1943.
Entretanto, a herança mais significativa da Colônia incluiu a estrutura agrária re-
gional, a menos concentrada do território goiano, e o perfil da população, influen-
ciado pela migração de mineiros. Uma pesquisa contemporânea sobre a região é
encontrada em Castilho (2009).

[Tadeu Alencar Arrais]


42 de Ferro Goiás foi montada uma estrutura de transporte que servia
como ponto de partida para avançar rumo ao Norte Goiano. Waibel
(1958, p. 133), referindo-se ao papel de zona pioneira, assim descreve
uma das funções de Anápolis:

De Anápolis, as mercadorias e as pessoas eram levadas de caminhão para o


norte e para o oeste, num raio de cerca de 150 a 200 quilômetros. Aí, derruba-
vam-se as florestas, cultivavam-se as roças, abriam-se estradas, construíam-se
casas e novos povoados surgiam em lugares que antes não estavam ocupados.

Pouco tempo depois, a partir da década de 1950, Anápolis passou


a ser a cidade goiana de maior articulação com Brasília, servindo de
suporte urbano para a edificação da capital nacional.
Em terceiro lugar, o Norte Goiano, até então com sua urbanização
ligada às dinâmicas ribeirinhas do Tocantins e do Araguaia, começou
a integrar-se à parte meridional do território goiano com o avanço da
BR-014. Valverde e Dias (1967) destacam as mudanças na integração
e na valorização fundiária, bem como os conflitos agrários advindos
do ciclo de implantação da rodovia. À proporção que esta avançava
longitudinalmente, ocorreu a valorização das terras e a multiplicação
dos conflitos agrários, o que demonstra o caráter fundiário da urba-
nização induzida por frentes pioneiras (Guimarães, 1988). Cidades
como Porangatu tiveram seu sítio urbano deslocado para as margens
da rodovia, ao passo que outras tantas cidades ou surgiram com a ro-
dovia ou tiveram seu perfil urbano por ela determinado. Segundo Go-
mes, Teixeira Neto e Barbosa (2004), dado o número de cidades do
antigo Norte Goiano que nasceram em função da rodovia, o estado
do Tocantins pode ser considerado “filho da Belém-Brasília”.
Em quarto lugar, Goiânia se consolidou como mercado de servi-
ços e consumo em Mato Grosso de Goiás, bem como palco de uma
produção incipiente de produtos manufaturados. Segundo Estevam
(2004), antes da edificação de Goiânia o alqueire na região próxima
da capital não alcançava 100 cruzeiros. Com o andamento das obras,

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


o preço do alqueire chegou a 15 mil cruzeiros. Quanto ao perfil eco- 43

nômico da capital, a indústria de transformação – especialmente a


construção civil –, o comércio e os serviços adequaram-se primeiro
à demanda local, uma vez que em 1960 a cidade abrigava mais de
150 mil pessoas; em seguida, adequaram-se à demanda regional, pois
a capital drenava recursos estaduais e o mercado de consumo local, o
que impulsionou a migração, especialmente em virtude da busca por
trabalho na construção civil.

Brasília
LEGENDA
Araguari - Roncador (1909 -1914)
Posto do Ipé
Ramal de Ouvidor (1913 -1922)
Luziânia
Pires do Rio - Leopoldo de Bulhões (1922-1931)
Anápolis
Ramal de Anápolis (1931-1935)
Engenheiro Castilho
General Curado Monte Carmelo - Ouvidor (1942)
Santa
Marta Bonfinópolis Engenheiro Valente
Centro Silvânia Leopoldo de Bulhões - Goiânia (1950 - 1964)
Campinas Leopoldo de
Senador
Canedo Bulhões Ramal de Brasília (1967 - 1978)
Goiânia Vianópolis
Ponte Funda Trecho desativado
Caraíba
Estações na Sede Municipal do período

Egerineu Teixeira
Estações fora da Sede Municipal do período
Engenheiro Balduíno
Pires do Rio
Capital do Estado
Roncador Novo
Roncador
Urutaí
Cidade
Ipameri

População dos principais municípios


Eng. Raul Gonçalves
em 1940

Veríssimo 48.166

Coronel Pirineus Goiandira


39.148
28.011
25.625
Catalão 21.358
17.249
14.728
Cumari 10.265

Anhaguera Três
Ranchos Sistema de Coordenadas Geográficas
Datum Horizontal: SAD-1969
Amanhece

Ararapira Elaboração dos dados: Denis Castilho


Araguari Monte Cartografia digital: Juheina Lacerda R. Viana
Carmelo Finalização: Tadeu Alencar Arrais
0 46 92
km
Escala gráfica

Figura 6. Evolução da malha ferroviária goiana (1909-1978).


Fonte: Brasil (1926); IBGE (1954); Estações (2010).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

[Tadeu Alencar Arrais]


44 De maneira geral, essas regiões, a partir do final da década de
1950, passaram a ser influenciadas pelo processo de urbanização, que
incluiu a edificação de Brasília e projetos nacionais de incorporação
da fronteira agrícola. A oferta de terras, portanto, foi determinante
para o arranjo regional, quando se iniciaram processos conjugados
que mudaram a base técnica e o perfil de exploração econômica das
regiões goianas. A chamada modernização da agricultura deve ser
compreendida na relação espaço-tempo, não sendo aconselhável, por-
tanto, restringi-la às mudanças na base técnica e ao aumento da pro-
dutividade. A redução do volume de cultivos tradicionais, como o ar-
roz, é um indicativo dos reveses da modernização da agricultura, que
prejudica o mercado interno. Também é oportuno considerar a rápida
transformação das condições de trabalho no campo, com a amplia-
ção da concentração fundiária e do assalariamento, além da perda da
biodiversidade, uma vez que as culturas e pastagens passaram a subs-
tituir os diversos estratos de vegetação arbórea dos cerrados. Segundo
Mendonça (2004, p. 151), a modernização da agricultura,

enquanto representação social, elaborou discursos de que o arranjo espacial


precisava ser modificado para assegurar a comodidade e conforto ao serta-
nejo e, para tanto, não havia dúvida quanto à necessidade de introduzir as
novas técnicas e o modo de vida urbano e industrial no “sertão”.

Mas em que consiste a modernização da agricultura? Por que, em


muitos casos, essa expressão é resguardada por uma ótica positiva? Se
entendermos a modernização a partir das mudanças na base técnica,
uma tendência comum é quantificar o consumo de tratores, implemen-
tos e insumos agrícolas, o que no Brasil e em Goiás aumentou significati-
vamente a partir da década de 1950. Nos anos 70, registravam-se 5.692
tratores nas propriedades goianas. Desse total, 1.407 encontravam-se
em propriedades de Mato Grosso de Goiás e 1.971, na Vertente Goiana
do Paranaíba. Os municípios de Itumbiara e Rio Verde concentravam o
maior número de tratores – 514 e 446, respectivamente. A capacidade

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


de armazenagem, pela ótica do número de silos, novamente colocava 45

Mato Grosso de Goiás em evidência, com 182 dos 459 silos registrados
em Goiás. Em relação ao crédito de entidades governamentais, Mato
Grosso de Goiás registrou 43.690 contratos, a Vertente Goiana do Pa-
ranaíba, 43.613 e a Serra do Caiapó, 33.322. Os municípios com maior
número de contratos foram Rio Verde, Santa Helena e Itumbiara, com
19.971, 12.750 e 7.429 contratos, respectivamente (IBGE, 1970b).
Os investimentos, diferencialmente distribuídos no território goiano,
não atenderam às mesmas demandas, mesmo porque a estrutura fundiá-
ria de Mato Grosso de Goiás era distinta daquela da Vertente Goiana do
Paranaíba e da Região do Caiapó, essa última correspondendo ao atual
Sudoeste Goiano, região que já se preparava para atender ao chamado
nacional. Daí a positividade do discurso da modernização agrícola es-
tar relacionada às necessidades econômicas nacionais, como o equilíbrio
das contas públicas a partir da ampliação da pauta de exportações pri-
márias. Tal perspectiva está presente no II Plano Nacional de Desenvol-
vimento (PND), documento que qualifica o Centro-Oeste como celeiro
nacional – uma velha função que, na divisão internacional do trabalho,
era reservada aos países periféricos (Brasil, 1973). A partir da década de
1970, especialmente com a lógica dos chamados Complexos Agroindus-
triais (CAI), tornou-se mais difícil separar a agricultura da indústria.
A mudança ocorrida no Sudoeste Goiano a partir da década de
1970 esteve relacionada aos condicionantes ambientais e à oferta de
terras, o que permitiu ampliar a produção de soja em curto intervalo
de tempo (Tabela 2). Contribuíram para esse fato a abertura para o
mercado internacional e a diversificação do consumo de soja, espe-
cialmente de produtos elaborados e semielaborados, como o óleo ve-
getal que substituiu a gordura animal − produtos presentes na pauta
de exportação das décadas anteriores. A ampliação ocorreu, primeiro,
horizontalmente, com o aumento da área plantada, e por isso o esto-
que de terras foi fundamental. Em seguida, a produtividade aumentou
verticalmente, com a adaptação das sementes às condições edafocli-
máticas e a evolução dos implementos agrícolas e do maquinário.

[Tadeu Alencar Arrais]


46 Tabela 2. Área colhida e produção de soja no Brasil e em Goiás.

Área colhida (ha) Produção (t)


Recorte
1969 1975 1984 1969 1975 1984
Brasil 612.115 8.824.492 9.421.202 715.606 9.693.008 15.582.347
Goiás 1.573 55.600 317.303 1.891 73.392 560.916

Fonte: IBGE (1970b, 1978, 1985).


Nota: Dados trabalhados pelo autor.

O território goiano, ao mesmo tempo que aumentou a produtivida-


de, também reforçou os vínculos com o Sudeste brasileiro, pois insumos
como máquinas e implementos agrícolas, além da cadeia química (espe-
cialmente fertilizantes), eram e ainda são importados. A produtividade
do estado, portanto, colaborou com a industrialização do Sudeste pelo
viés do consumo. A simbiose é completa quando as terras dos chapa-
dões são definitivamente incorporadas, fato comprovado pelo aumento
da produção e do consumo de calcário no Brasil e em Goiás, o que fa-
voreceu o ciclo das oleaginosas. Em Goiás, foram produzidas 731.957
toneladas de calcário em 1975, número que passou para 879.937 tone-
ladas em 1977. Parte da produção era oriunda dos moinhos da Metais
de Goiás S.A. (Metago), localizados em Caldas Novas, Ipameri, Goia-
nésia, Palmeiras de Goiás e Itaberaí, além daqueles particulares em Ja-
taí e Rio Verde (Goiás, 1978). Em 2009, o total da produção de calcá-
rio no território goiano subiu para 2.109,4 toneladas (Abracal, 2009),
o que nos dá uma ideia da expansão da fronteira agrícola, uma vez que
o calcário é imprescindível para a correção da acidez do solo.
É salutar recordar que o aumento da produtividade não se fez sem o
correlato aumento das importações de fertilizantes, realidade tanto re-
gional quanto nacional. Em 2010, como consta de estatísticas divulga-
das pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), a produ-
ção nacional de fertilizantes intermediários foi de 9.339.867 toneladas
e a importação, de 15.269.846 toneladas (Anda, 2011). Já as importa-
ções, especialmente da mistura de nitrogênio, fósforo e potássio (NPK),

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


tiveram maior procedência de países como China, Estados Unidos, Ca- 47

nadá e Rússia.13 Em Goiás, apenas o fosfato é produzido, nos municí-


pios de Catalão e Ouvidor, o que torna comum a presença de empresas
misturadoras que importam parte dos componentes NPK – a exemplo
da Bunge, da Cargil e da Heringer – em municípios como Catalão, Aná-
polis e Rio Verde. Além dos fertilizantes, registra-se um aumento signifi-
cativo no uso de herbicidas, fungicidas, inseticidas etc., mais comum nas
lavouras de soja, milho e cana-de-açúcar. De acordo com dados do Sin-
dicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag),
Goiás foi o quinto maior consumidor de agrotóxicos em 2009, dado
que não deve ser motivo de orgulho, já que o uso intensivo de agrotóxi-
cos causa problemas ao meio ambiente rural e urbano, à qualidade dos
alimentos e ao manejo nas lavouras para os trabalhadores.
A mudança no campo ocorreu concomitantemente ao processo de
urbanização, pois o acesso à base técnica dependeu não apenas de cré-
dito, mas de um padrão fundiário concentrador. Essa mudança excluiu,
por definição, o pequeno produtor, uma vez que a modernização pres-
supõe homogeneidade de técnica, de relações contratuais de trabalho e
de cultivos – enfim, um só modo de produzir por parte de apenas um
grupo de atores sociais, com apoio irrestrito do Estado, já que são con-
siderados os bastiões da modernização. Opera-se no campo, portanto,
uma drástica substituição de densidades. A densidade humana é substi-
tuída pela densidade técnica, porta-voz da modernização. O campo não
se esvazia, ao contrário, ganha em densidade técnico-informativa – si-
los, rodovias, pivôs, galpões de criação, pistas de pouso, aeronaves pul-
verizadoras etc. –, representada pela cadeia de insumos e pelos sempre

13
Segundo Carvalho (2008, p. 4), de modo geral, “o nitrogênio (N), o fósforo (P) e
o potássio (K) são os nutrientes com a maior representatividade econômica para
as indústrias de fertilizantes, de modo que outros nutrientes utilizados no processo
produtivo – em função da baixa quantidade demandada – não possuem expressão
para o setor”.

[Tadeu Alencar Arrais]


48 renováveis implementos agrícolas. A modernização da frota de tratores
e colheitadeiras no campo, em função de novos lançamentos que possi-
bilitam o aumento da produtividade, pode ser constatada nos estandes
de comercialização nas grandes feiras agropecuárias. Segundo release
da Agrishow 2011, realizada em Ribeirão Preto, três instituições finan-
ceiras contabilizaram 1,755 bilhão de reais em negociações de maqui-
nários e implementos agrícolas (Agrishow, 2011).
O campo é considerado um espaço aberto, pois suas rugosidades,
diferentemente das cidades, estavam encravadas durante décadas en-
tre os vales e os diferentes estratos arbóreos do cerrado, que escon-
diam, para os que não queriam ver, uma miríade de atores sociais
com sistemas de produção passados de geração a geração.
Aliás, no debate político nacional, ainda persiste a dificuldade de se
reconhecer, no contexto da diversidade do campo brasileiro, a impor-
tância de atores sociais como os pequenos produtores na cadeia agro-
pecuária, seja no que se refere ao consumo de insumos, à geração de
empregos ou até mesmo à produção para o mercado interno. Teixeira
Neto (2011), em sua cartografia da estrutura fundiária de Goiás, ressal-
ta a importância da agricultura familiar. Do mesmo modo, o relatório
divulgado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) sobre os
resultados do Censo Agropecuário 2006 e da agricultura familiar con-
cluiu que 84% dos estabelecimentos rurais brasileiros são pequenas pro-
priedades, com área média de 18,37 hectares, e que o valor bruto da
produção atingiu 54 bilhões de reais – na ocasião, o valor da agricultu-
ra não familiar havia alcançado a marca de 89 bilhões de reais. São 12,3
milhões de pessoas ocupadas com a agricultura familiar, em comparação
com os 4,2 milhões envolvidos com a agricultura não familiar. Sua par-
ticipação entre os cultivos impressiona, sendo responsável, em 2006, por
87% da produção de mandioca, 70% de feijão, 46% de milho, 38% de
café, 34% de arroz, 21% de trigo e 16% de soja (MDA, 2010).
A contradição do modelo agrícola adotado decorre do fato de que,
apesar de a urbanização forjar um mercado de consumo para produ-
tos considerados tradicionais, especialmente arroz e feijão, bem como

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


para produtos manufaturados, a economia regional pouco se bene- 49

ficiou, pois o padrão de especialização para exportação adotado na


agricultura e a progressiva destruição da pequena propriedade dimi-
nuíram a oferta interna. A verdade é que o mercado externo sempre
foi compreendido como motor da economia, o que resultou em cer-
to desprezo pelo mercado interno. A busca pela exportação de soja
ou até mesmo a produção de cana-de-açúcar no Vale do São Patrício,
adotada para driblar a crise energética internacional com o Proálcool,
são exemplos de ações motivadas por uma agenda internacional.14
Tendo em vista que a modernização desfruta de um status positivo
no discurso político e econômico, é compreensível que os atores da
modernização no território goiano sejam grandes proprietários e gru-
pos agroindustriais, como a Cooperativa Agroindustrial dos Produ-
tores do Sudoeste Goiano (Comigo). Suas atividades começaram no
início da década de 1970, a partir da necessidade de agregar setores
rurais preocupados com a infraestrutura – especialmente com a ar-
mazenagem – e os custos de insumos na região, já que a produção
de arroz e milho ainda era comercializada nas praças do Triângulo
Mineiro. Na escala do bioma cerrado, como destaca Peixinho (2006),
grupos internacionais como a Cargil, a AMD, a Dreyfus, a Bunge e a
Perdigão protagonizaram o processo de modernização.
Na década de 1980, com a incorporação definitiva da soja, deu-se
início à transformação e agregação de valor, por um lado, e à amplia-
ção e diversificação da cadeia produtiva (produção láctea, farelo de soja,
fertilizantes, rações, sementes etc.), por outro, algo comum no setor

14
Eis o art. 2º do Decreto n.º 76.593, de 14 de novembro de 1975 (Brasil, 1975), que
institui o Proálcool: “A produção do álcool oriundo da cana-de-açúcar, da man-
dioca ou de qualquer outro insumo será incentivada através da expansão da oferta
de matérias-primas, com especial ênfase no aumento da produtividade agrícola, da
modernização e ampliação das destilarias existentes e da instalação de novas uni-
dades produtoras, anexas a usinas ou autônomas, e de unidades armazenadoras”.

[Tadeu Alencar Arrais]


50 agroindustrial. À dinâmica da industrialização da agricultura também se
agregou uma rede de insumos, tais como embalagens (papel e plásticos),
que dinamizam as economias municipais. Aqui o padrão de organiza-
ção seguiu, como em outros segmentos, dois princípios: organização em
rede e diversificação das áreas de atuação, com base no conhecimento
acumulado nas áreas de armazenagem e transporte. Com isso, abriu-se
um leque de áreas de atuação para atores sociais empresariais, incluindo
o setor logístico e a indústria de transformação de base primária. As-
sim, a industrialização goiana, em sua gênese, teve como base a produ-
ção de bens de consumo não duráveis, com a cadeia da alimentação e
da transformação de grãos em primeiro lugar. Por conseguinte, não se
deve estranhar o fato de que a intervenção estatal/estadual pauta-se, em
um primeiro momento, na expansão da infraestrutura de circulação e
estocagem e, em um segundo momento, na necessidade de transformar a
matéria-prima para agregar valor, caso específico da trajetória do cultivo
da soja, como destacam Arrais (2007b) e Salgado (2010).
Registros dos Censos Industriais de Goiás de 1960, 1970 e 1975
mostram a predominância da indústria de alimentação (beneficiamento
de grãos como café e arroz, abate de animais em frigoríficos e charquea­
doras, processamento de leite, panificação etc.), seguida da indústria de
transformação de minerais não metálicos (britamento para construção,
extração de pedras, fabricação de cal, telhas, tijolos, lajotas, cimento
etc.) e da indústria de madeira (serrarias e carpintaria). Em 1960, ha-
via 1.596 unidades de indústrias de transformação, número que passou
para 4.309 em 1970 e para 7.035 em 1975 (IBGE, 1970c, 1979). O au-
mento no número de unidades ocorreu na maioria dos segmentos, mui-
to embora ainda permanecesse concentrado, em termos absolutos, nos
setores de alimentação, transformação de minerais não metálicos e in-
dústria madeireira. Merece destaque a relação do setor madeireiro com
a urbanização e a demanda estimulada pela edificação de Brasília. Em
1976 havia 814 serrarias em Goiás. No mesmo ano, do total de 5.602
metros cúbicos de madeira, 3.540 metros cúbicos foram destinados ao
Distrito Federal e 1.080 metros cúbicos, a São Paulo (Goiás, 1978). A

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


construção civil, mais que a movelaria, estimulou o desmatamento do 51

cerrado para atender ao canteiro de obras. No total, não estão compu-


tadas as toras de madeira de lei utilizadas, por exemplo, como postes
de iluminação pública, fim comum a milhares de aroeiras. Ainda hoje
é possível verificar, nos bairros de Goiânia, postes de aroeira servindo
como suporte para a fiação de alta-tensão.
Conforme mostra a Figura 7, os cinco segmentos de maior represen-
tação na indústria da transformação em 1975 concentraram 50,01%
do total no território goiano. Nas décadas de 1960 e 1970, a indús-
tria da transformação concentrava-se na parte meridional de Goiás, em
cidades como Goiânia, Anápolis, Itumbiara, Morrinhos, Jataí, Goiás e
Rio Verde. Na porção setentrional, que incluía o atu­al território tocan-
tinense, destacavam-se Porto Nacional, Araguaína e Jaraguá. A distri-
buição espacial prova a relação entre urbanização e industrialização,
já que a primeira estimulou três demandas, a saber: 1) para a cadeia
da indústria da construção civil, especialmente a metalurgia (lamina-
dos, serralheria, funilaria etc.) e a fabricação de produtos a partir do
processamento de minerais não metálicos; 2) para a cadeia da indús-
tria da alimentação, pois as cidades consumiam uma quantidade cada
vez maior de bens perecíveis, especialmente arroz, feijão, café, doces
e produtos originários da panificação; 3) para a cadeia de vestuário,
calçados e tecidos que abastecia o mercado urbano com a oferta de
manufaturados no varejo local e regional.
A incipiente industrialização iniciou-se nas décadas de 1950 e
1960, assumindo estatuto de meta governamental da década seguinte.
A política dos distritos industriais, cujo exemplo mais claro foi a inau-
guração do Distrito Agroindustrial de Anápolis (Daia) em 1976, é um
indicativo disso. Cunha (2009) descreve vários fatores que levaram à
implantação do Distrito em Anápolis, dentre os quais a logística e os
modais de transporte, aproveitando-se a ferrovia e os entroncamen-
tos, como a BR-414, a BR-153, a BR-060, a GO-330 e a GO-220. Em
1980, as empresas do Daia englobavam cerâmica, produtos de limpe-
za, alimentos, doces, construção e material elétrico. Não por acaso,

[Tadeu Alencar Arrais]


52 Anápolis ocupou o segundo lugar no estado em termos de concentra-
ção industrial, perdendo apenas para Goiânia (Goiás, 1989).

20
Vestuário, calçados e 79
artefatos de tecidos 145

28
Mobiliário 57
335

25 Anápolis
45
Madeira
478 Goiânia

58 Goiás
Transformação de 104
produtos minerais 950
não metálicos
26
Produtos alimentícios 224 1.796

0 500 1.000 1.500 2.000


Unidades

Figura 7. Principais gêneros da indústria da transformação em Goiás, Goiânia e


Anápolis, em 1975.
Fonte: IBGE (1979).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

Em termos espaciais, considerando os setores da indústria des-


critos na Tabela 3, o destaque continuou sendo a produção de ali-
mentos, seguida de vestuário, calçados e artefatos de tecidos. Todos
esses setores se concentram nas grandes aglomerações, a exemplo de
Goiânia e Anápolis, e abrangem produtos como confecções, enlata-
dos, bolachas, açúcar, atomatados etc., que, por sua vez, congregam
frigoríficos, laticínios e usinas de açúcar e álcool. Em 1988, houve re-
tração em vários segmentos, à exceção da construção civil, um reflexo
da anunciada década perdida, sentida em todo o país. Novamente a
economia frágil, marcada pela inexpressiva participação dos setores
químico, metal-mecânico, farmacêutico e de combustíveis, não passou

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


imune aos impactos da década perdida e aos ajustes fiscais resultantes 53

do declínio dos investimentos estatais. Silva (2007, p. 149), em análise


sobre a reverberação desse processo na década de 1990, pondera:

Em 1990, a queda na variação do PIB goiano não foi tão brusca quanto a na-
cional, porque o setor agropecuário possuía alta participação na composição
do PIB. Os efeitos perversos da abertura comercial, em primeira instância, fo-
ram menos pujantes nesse segmento. Desse modo, a agricultura cresceu 2,5%,
compensando a redução do setor industrial, que caiu 2,9%.

Tabela 3. Número e gênero dos estabelecimentos industriais em Goiás, em 1987 e 1988.

Ano
Gênero
1987 1988
Metalurgia 465 381
Construção 829 945
Mecânica 870 685
Mobiliário 1.048 635
Vestuário, calçados e artefatos de tecidos 2.156 1.763
Produtos alimentícios 2.854 1.192
Demais gêneros 1.733 451
Total do estado 9.955 7.138
Fonte: Goiás (1989).

O fato é que, no final da década de 1980, como era de se supor, a


urbanização deu mostras de sua influência na economia. O Produto In-
terno Bruto (PIB) do setor de serviços, como indica a Figura 8, passou
a representar mais da metade do total, e o PIB industrial, que represen-
tava 20% em 1980, declinou para 16,1% em 1984 (Goiás, 1989). A
força do setor público nas grandes cidades, a indústria da construção
civil, a concentração de serviços em áreas especializadas, como saúde e
educação superior, e o setor varejista, dentre outros fatores, reforçaram
o peso do setor de serviços como gerador de renda e emprego.

[Tadeu Alencar Arrais]


54 Muito embora o território goiano tenha apresentado uma traje-
tória de crescimento global, como atesta seu PIB, a concentração de
renda e a polarização da riqueza em determinados espaços regionais
aumentaram. A participação no PIB dos 40% da população de menor
renda, em 1970, foi de 13,4%, caindo para 9% em 1985. Como era
de se esperar, a participação do outro estrato, os 10% da população
de maior renda, passou de 41,4% para 49,3% da renda total do es-
tado. Se as estatísticas servem para demonstrar o crescimento global,
certamente não há motivos para negar o grau de concentração tam-
bém indicado por elas (Goiás, 1989).

60

50
Porcentagem

40

1980
30
1984
20
1988

10

0
Indústria Agropecuária Serviços

Figura 8. Porcentagem do PIB por setor de atividade em Goiás.


Fonte: Goiás (1991).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

O território goiano adentrou o século XXI com uma base econômi-


ca distinta daquela da última década do século XX, especialmente em
relação à transformação da matéria-prima – com reforço da indústria

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


de alimentação e do setor mineral – e ao complexo de fármacos, loca- 55

lizado em Anápolis. Os fatores de estímulo para o crescimento da eco-


nomia, muito embora ainda continuem a ser regionalmente desiguais,
foram o amadurecimento da infraestrutura de circulação e armazena-
mento e o crédito estatal, através de programas como o Fundo de Parti-
cipação e Fomento à Industrialização do Estado de Goiás (Fomentar), o
Programa de Desenvolvimento Industrial de Goiás (Produzir) e o Fun-
do Constitucional do Centro-Oeste (FCO). O Fomentar e o Produzir
oferecem isenção parcial do Imposto sobre Circulação de Mercadorias
e Prestação de Serviços (ICMS), e o FCO financia, com juros que va-
riam de 5% a 10% ao ano, pequenas, médias e grandes empresas.15 Ar-
rais (2007a, p. 182) avalia o padrão de financiamento governamental:

A política de incentivos fiscais ressurge no plano político brasileiro com mui-


ta força a partir de meados da década de 1990, resultado do enfraquecimento
do poder de investimento em infraestrutura e em grandes projetos estatais nas
regiões deprimidas economicamente. O setor automotivo foi um dos ramos
industriais beneficiados pela guerra fiscal. Empresas como a Volkswagen, Re-
nault, Honda, Toyota, Mitsubishi e Hyundai, as duas últimas em Goiás, além
de várias empresas dos segmentos agroindustrial e farmacêutico, beneficia-
ram-se da redução expressiva de impostos.

Muito embora o discurso presente nos programas de financiamen-


to seja o de promover o desenvolvimento harmônico, o que se observa
é que as ações estatais, como assinala Salgado (2010), reforçaram o
padrão de concentração regional, pois a maior parte dos investimen-
tos concentrou-se em municípios como Anápolis, Goiânia, Alexânia,

15
De acordo com relatório gerencial do FCO (Banco do Brasil, 2010), entre janeiro e
setembro de 2010 foram contratados 25.435 projetos, no valor total de 1.128.589
reais. Desse total, 552.138 reais foram destinados ao setor empresarial e 576.451
reais, ao setor rural. Nesse mesmo período, o montante representou 38% do total
destinado ao Centro-Oeste.

[Tadeu Alencar Arrais]


56 Aparecida de Goiânia, Itumbiara e Rio Verde, além de ter privilegiado
empresas de grande porte. De qualquer forma, o papel do Estado na
competitividade das regiões passou a dar a tônica dos discursos polí-
ticos. Enfim, o final do século XX anunciou a competitividade como o
termo mais utilizado no debate político e econômico goiano.

Economia contemporânea

Qual o retrato da economia goiana no século XXI? Ainda é possível


identificar um perfil regional dessa economia? Antes de responder-
mos a essas questões, devemos descrever as condições de realização
da produção, da circulação e do consumo, o que nos direciona para o
campo da logística. A logística moderna consiste no estudo da cadeia
de produção relacionada aos modais e aos custos de transporte em
escala regional e global. Eis a definição de Coró (2003, p. 105):

Em uma acepção moderna, a logística deve ser entendida como o conjunto de


atividades, que orientam, em correlação com um fluxo de informações preci-
so, a movimentação de mercadorias dentro de uma rede produtiva completa.
Em outras palavras, a logística moderna deve ser interpretada como uma in-
fraestrutura estratégica que, reduzindo as barreiras físicas e operacionais en-
tre locais de produção e de consumo, permite organizar a divisão do trabalho
em escala global e em ciclos produtivos espacialmente diferenciados.

As redes de transporte e comunicação permitem a integração


aos diferentes modais de transporte (rodoviário, aéreo, portuário,
ferroviá­rio), influenciando o preço dos produtos e a decisão de gru-
pos econômicos de investir em determinadas cadeias produtivas. Essa
tendência resulta, especialmente, em economias com perfil majorita-
riamente agropecuário que promovem mudanças na paisagem regio-
nal num curto período. Portanto, as noções de tempo e de espaço são
fundamentais para a compreensão da economia contemporânea. Ao
discorrer sobre a unicidade do tempo, Santos (1997, p. 160) lembra
que o uso “adequado e preciso do tempo e do espaço multiplica a

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


eficácia dos processos e o poder das firmas capazes de utilizar essas 57

novas possibilidades”. A eficácia referida pelo autor depende da dis-


posição e do acionamento das redes de comunicação e circulação por
onde mercadorias e informações transitam. Informação e circulação
são predicados imprescindíveis para a produtividade regional em um
mundo globalizado. Nota-se, por exemplo, a relevância das informa-
ções sobre regime pluviométrico ou sobre as variações cambiais para
economias com forte peso de commodities. A economia contemporâ-
nea é caracterizada, segundo Castells (1999, p. 87), por dois atributos:

É informacional porque a produtividade e a competitividade de unidades ou


agentes nessa economia (sejam empresas, regiões e nações) dependem basi-
camente de sua capacidade de gerar, processar e aplicar de forma eficiente a
informação baseada em conhecimentos. É global porque as principais ativi-
dades produtivas, o consumo e a circulação, assim como seus componentes
(capital, trabalho, matéria-prima, administração, informação, tecnologia e
mercados) estão organizados em escala global, diretamente ou mediante uma
rede de conexões entre agentes econômicos.

O que se deduz do entendimento de Castells (1999) é que a produ-


ção do território não está separada da produção das redes de circula-
ção e comunicação por meio das quais o conhecimento é dissemina-
do. Raffestin (1993, p. 209) declara ser conveniente “decifrar as redes
por meio de sua história e do território no qual estão instaladas, por
meio dos modos de produção que permitiram a sua instalação e das
técnicas que lhes deram forma”.
Essa perspectiva de análise implica não naturalizar as redes, ou
seja, não concebê-las como partes naturais de um dado território. Elas
são históricas e controladas por atores sociais que as acionam segun-
do lógicas geopolíticas. São também sociais e políticas (Santos, 1997),
bastando para isso recordar que não foram apenas os dormentes que
adentraram o território goiano na década de 1920, mas uma ideia,
uma construção política que comunicava o progresso por intermédio
da modernização.

[Tadeu Alencar Arrais]


58

48º O

46º O
52º O

50º O

Pará
T O C A
N T I N S

or
d
13º S

Salva
uaia
153

A ra g
Cana São
Brava Domingos
Serra da
Mesa

O
164

I A
S
010
S

B A H
O

Uruaçu
R
G

Itapaci
15º S
Ri o Rubiataba Vila Boa
O

Goianésia
T
A

Carmo do 020
Itapuranga Rio Verde
M

Matrinchã
Porto DF
070 Seco
16º S
070 153 060

S
á
Cuiab 158

A I
Inhumas
060 Anápolis Corumbá IV 040
Silvânia

G E R
Anicuns
Goiânia
17º S Senador 050
184 Jandaia 060 Canedo Be
Palmeiras lo
C uiabá de Goiás Ho
riz
Montividiu Paraúna on
Acreúna Edeia Pontalina 153 Ipameri te
Perolândia 364 Vicentinópolis
Rio Sto.
Verde Antônio
Porteirão Morrinhos
Corumbá I 18º S
Jatai
Mineiros
452 Goiatuba
Sta. Helena
Paranaíba Catalão
Serranópolis 364
Itumbiara
Chapadão
do Céu
Ri o
Quirinópolis
Emborcação
São P

Aporé 060 Cachoeira


Caçu Dourada
19º S M AT O Porto de
Araguari

GRO São Simão Projeção policônica


aulo

SSO 50 50 100 150 km


DO São Simão
A S
SU I N
52º O

49º O
53º O

L M Escala gráfica

LEGENDA
Usina de etanol
Ferrovia implantada (em operação; produção
Gasoduto
de álcool em mil litros)

Ferrovia planejada/
em construção Principais 135.000 a 195.306
usinas hidrelétricas
(mil kw) 119.680 a 50.000
Hidrovia existente
Abaixo de 48.600

Hidrovia planejada 1710 a 2082 Usina de etanol


(em implantação)
1192 a 1275
Rodovia federal Porto
375 a 658

Rodovia estadual Abaixo de 128 Aeroporto

Figura 9. Principais sistemas de circulação e produção de energia e etanol em Goiás.


Fonte: Goiás (2000, 2009a, 2010b).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


59
CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO E UNIDADES PRODUTORAS
DA CARAMURU E DA COMIGO, EM 2010

DF

52º O
O
164
S Porto
S
070
Seco
O

16º S R
G Montes Claros
153 060
á de Goiás 070
C uia b
158
Anápolis
O

060
A T

040
Silvânia
M

184 050
Goiânia Senador
Paraúna
Canedo
Caiapônia Montividiu 060
Portelândia
Indiara Ipameri
Perolândia
Acreúna
153
Cuiabá
Rio Verde Turvelândia
Campo
364 Sta. Helena Vicentinópolis Alegre
de Goiás Morrinhos
Mineiros
Jataí Goiatuba
Maurilândia 452
Itumbiara Catalão
Castelândia Bom Jesus Paranaíba
Serranópolis 364 de Goiás
Chapadão

São P
do Céu
Quirinópolis Cachoeira S
Dourada I
060 A
R

Araguari
aulo E
Porto de Inaciolândia G 19º S
19º S M AT
O GRO São Simão
SSO São
DO A S
o

Simão I N
Ri

SU M Projeção policônica
L
52º O

50 50 100 150 km
50º O

Escala gráfica

LEGENDA
Integração multimodal:
rodoviário,hidroviário, Cooperativas
ferroviário e naval.
Ferrovia implantada Caramuru Comigo
Ferrovia planejada/ Armazéns
em construção
Agroindústrias
Gasoduto

Hidrovia existente
Capacidade de armazenagem (ton.)
Rodovia federal 360.000
250.000
150.000
Rodovia estadual
50.000
Porto 5.000

Fonte: <http://www.comigo.com.br>; <http://www.caramuru.com.br>.

A figura indica os municípios onde estão presentes elementos técnicos que permitem
a produção e o consumo de produtos da Cooperativa Mista de Produtores Rurais do
Sudoeste Goiano (Comigo) e da Caramuru. O ponto comum entre atores que atuam em
várias escalas e nas diversas partes da cadeia produtiva é a possibilidade de manejo de
estoques, o que acarreta maior lucratividade em um mercado globalizado.

[Tadeu Alencar Arrais]


60 Muito se escreveu que o território goiano é privilegiado em função
de sua posição geográfica central. É como se sua situação econômica
não fosse produto da inserção na divisão regional do trabalho, a par-
tir de uma condição periférica. O sucesso econômico seria, portanto,
resultado da união entre a posição geográfica e os atributos naturais
do território. Contudo, a julgar pela modesta participação no PIB na-
cional, que em 2009 foi de 2,88% (Goiás, 2010b), pelo fraco merca-
do de consumo, menos expressivo que os da Bahia e de Pernambuco,
e pela renda per capita do Distrito Federal, tornam-se questionáveis
os argumentos substancialistas que apregoam que o território existe
de forma independente, e até mesmo anterior, às relações sociais, as
quais são, sobretudo, movidas por tensões e equilíbrios de ordem po-
lítica, social e econômica.
O discurso sobre o território goiano, sempre com um olhar para o
futuro, lança como ponto de partida o pressuposto de que a integra-
ção ao mercado nacional não ocorrerá sem passar por Goiás, pensa-
mento esse tributário de uma visão geopolítica da década de 1970,
quando era possível imaginar que o “Brasil Potência” passava pela in-
corporação do Centro-Norte brasileiro e que a integração seguia um
modelo centro-periferia. Tal concepção mudou substancialmente com
a abertura econômica que possibilitou novos nexos de regiões do inte-
rior do país com o mercado internacional, algo destacado por Araújo
(2000). De qualquer forma, essa linha de análise coloca a questão da
circulação em evidência. Vejamos como se organiza a logística a par-
tir de uma breve descrição dos modais rodoviário, ferroviário e hidro-
viário, meios de circulação regional e nacional da produção goiana.
É fácil perceber que a malha rodoviária goiana se concentra na
parte meridional do território, como mostra a Figura 9. A estrutura
radial da rede rodoviária é explicada pela presença de rodovias esta-
duais (GO-010, GO-020, GO-030, GO-040, GO-050, GO-060, GO-
-070 e GO-080), que partem de Goiânia, e federais (BR-010, BR-020,
BR-040, BR-050 e BR-060), que partem de Brasília para diversas re-
giões do estado e para o Centro-Norte brasileiro. O principal eixo

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


de circulação longitudinal é a BR-153, que liga o sudeste ao norte do 61

país. A rodovia latitudinal de maior destaque é a BR-060, que liga


Brasília, Goiânia e Cuiabá, áreas com maior densidade populacional
e maior produção de grãos e de manufaturados. No Sudoeste Goia-
no, a rodovia BR-364, que liga São Simão a Uberlândia, e a BR-452,
que dá acesso à BR-153 no município de Itumbiara, favorecem o
transporte de cargas para o mercado regional e para o Sudeste brasi-
leiro. A partir do sul do Distrito Federal, duas rodovias são respon-
sáveis pelo fluxo de pessoas e mercadorias. A BR-050 drena parte da
produção do Sudeste Goiano, constituindo região de passagem pelo
Triângulo Mineiro, por intermédio de Catalão. Já a BR-040, a partir
de Cristalina, permite acesso a Belo Horizonte. A alta densidade ro-
doviária no Sudoeste e no Sudeste de Goiás justifica-se pela demanda
por transporte de cargas (caminhões), especialmente grãos e farelo de
soja, seja para os portos seja para os armazéns, à espera de melhores
oportunidades de escoamento e de valorização dos produtos.
Basta observar o número de oficinas mecânicas pesadas, revende-
dores de peças e serviços de borracharia, de empresas especializadas
em transporte de grãos, produtos manufaturados e cargas condicio-
nadas a frio, ou até mesmo de caminhoneiros autônomos em busca
de fretes às margens da BR-060, no município de Rio Verde, para
identificar a relevância do modal rodoviário. No Noroeste e Norte do
estado, verifica-se uma menor densidade de rodovias federais. As ro-
dovias estaduais, a exemplo da GO-163, chamada de Estrada do Boi,
são importantes artérias para a circulação da produção regional. São
precárias as vias desse tipo na região, o que constitui um entrave para
a circulação da produção agropecuária. O município de Bonópolis é
um dos poucos do território goiano sem acesso por vias pavimenta-
das. O eixo mais importante no Norte Goiano é a BR-153, que arti-
cula uma rede primária de cidades, como Porangatu, Uruaçu e Nique-
lândia. A circulação regional é dificultada pelas péssimas condições de
trafegabilidade entre o Norte e o Nordeste Goiano, assim como entre
o Noroeste Goiano e o Nordeste Mato-Grossense.

[Tadeu Alencar Arrais]


62 A densidade da malha rodoviária – rodovias federais e estaduais,
assim como estradas vicinais – acompanha, desse modo, o perfil das
atividades econômicas e os eixos de integração nacionais, especial-
mente aqueles que partem de Brasília. Muito embora a descrição do
modal rodoviário tenha sido rápida diante de sua importância para
a economia goiana, não podemos deixar de apontar que inúmeros
problemas nas estradas comprometem a colheita dos cultivos tem-
porários. Quando a colheita da soja coincide com o período de pro-
longamento das chuvas, como ocorreu em março de 2011, há perda
da produtividade no campo, em razão das dificuldades de transporte
e armazenagem dos grãos no Sudoeste Goiano. As estradas vicinais
sem pavimentação dificultam não apenas a circulação da produção
regional – leite, gado, legumes, grãos, frutas etc. –, mas também o
cotidiano de inúmeras comunidades locais, que têm sua mobilidade
restringida em função, para citar um exemplo recorrente, da queda
de pontes no período das chuvas.
A ligação rodoviária com o modal hidroviário ocorre a partir do
Porto de São Simão, no rio Paranaíba, que integra a Hidrovia Tietê-
-Paraná, por onde é escoada, em maior volume, a produção de soja de
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. De São Simão, abaixo da
hidrelétrica homônima, são transportados grãos e farelo de soja, com
destino, especialmente, para o Porto de Santos (SP). Os produtos goia-
nos exportados acionam quatro modais assim conectados: o rodoviário
(rede de circulação do Sudoeste Goiano e do Sul Goiano a partir dos
diversos armazéns ou diretamente das propriedades agrícolas, especial-
mente no período de colheita); o hidroviário (Hidrovia Tietê-Paraná,
passando por Três Lagoas (MS), Presidente Epitáfio (SP) e Mendes
(PR), entre outros municípios); o ferroviário (Ferrovia Bandeirantes) e
o naval (transporte marítimo com destino a países europeus e asiáticos,
assim como aos Estados Unidos). Todavia, o Plano de Desenvolvimento
do Sistema de Transporte do Estado de Goiás (PDTG) destaca proble-
mas nesse sistema de integração, especialmente em relação à navegabi-
lidade de alguns trechos no período de estiagem e ao curto período da

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


safra de soja, o que “torna inviável a disponibilização de elevada quan- 63

tidade de barcaças e empurradores” (Goiás, 2007, p. 30). As operações


nos terminais são de ordem privada, a exemplo do terminal hidroviário
de Caramuru, que escoa a produção de soja e farelo de armazéns loca-
lizados em Mato Grosso e Goiás para o Porto de Santos. A fluidez do
território a partir do modal ferroviário, portanto, encontra-se nas mãos
de atores sociais da iniciativa privada.
A ligação ferroviária é um exemplo da refuncionalização da antiga
Estrada de Ferro Goiás, atualmente incorporada à Ferrovia Centro-
-Atlântica, que pertence à Vale, empresa com tradição no campo da
logística.16 A ferrovia integra uma malha ligando os estados de Minas
Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Sergipe, Goiás, Bahia e São Pau-
lo, possibilitando a ligação com outras ferrovias e com os portos do Su-
deste e do Nordeste. Em Goiás, após atravessar o rio Paranaíba, vinda
de Uberlândia e Araguari, a ferrovia passa por Anhanguera, Cumari e
Goiandira, com ramal para Catalão e Ouvidor. Seguindo para o norte,

16
“Principal eixo de conexão ferroviária entre as regiões Nordeste, Sudeste e Centro-
-Oeste do Brasil, a FCA é controlada pela Vale, que detém 99,9% de suas ações.
Criada em 1996, com o processo de desestatização da Rede Ferroviária Federal
(RFFSA), a FCA opera aproximadamente 12 mil vagões e 500 locomotivas moni-
toradas via satélite (GPS). Em seus 8.023 quilômetros de extensão, a ferrovia passa
por 316 municípios em sete estados brasileiros (Minas Gerais, Espírito Santo, Rio
de Janeiro, Sergipe, Goiás, Bahia, São Paulo) e no Distrito Federal. Atualmente, a
FCA se destaca como um importante corredor logístico de carga geral. Com acesso
a portos localizados nos estados da Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, a malha
da ferrovia está na área de influência do Terminal Marítimo Inácio Barbosa, em
Sergipe. A FCA também está interligada com as principais ferrovias brasileiras,
permitindo a conexão com os maiores centros consumidores do país. A variedade
de vagões utilizados na ferrovia permite o transporte de produtos diversificados
com a máxima segurança. Entre eles, álcool e derivados de petróleo, soja, cimento,
ferro-gusa, bauxita, clínquer, fosfato e cal, além de produtos siderúrgicos e petro-
químicos” (Vale, 2010).

[Tadeu Alencar Arrais]


64 passa por Ipameri, Urutaí e Pires do Rio, onde se bifurca com destino
a Brasília e Leopoldo de Bulhões. A partir dali segue para Senador Ca-
nedo e Anápolis, no Porto Seco, onde chegam produtos para atender às
indústrias locais e regionais. Automóveis, fertilizantes, produtos quími-
cos, peças e equipamentos, remédios etc. são transportados pela ferro-
via, atendendo a demandas de duas ordens: a demanda de municípios
próximos à rede e com perfil minerador, como é o caso de Ouvidor e
Catalão, e a demanda regional, drenada para o Porto Seco, que abrange
a área mais povoada, assim como a indústria de manufaturados da re-
gião. De Anápolis também partirá a Ferrovia Norte-Sul, possibilitando
a integração com o Porto de Itaqui, no Maranhão. Apesar do andamen-
to das obras e do entusiasmo nos discursos políticos, ainda é cedo para
avaliar os impactos desse empreendimento para a economia goiana.
Além dos três modais, é importante salientar o transporte aéreo e
o gasoduto localizado em Senador Canedo, assim como a produção
de energia, insumo indispensável para a realização das atividades
econômicas. Segundo dados da Empresa Brasileira de Infraestrutu-
ra Aeroportuária (Infraero), foram transportados 6.381.157 quilos
em voos domésticos em 2009 (Infraero, 2011). O baixo valor, do
ponto de vista das cargas, denuncia as deficiências aeroportuárias
de Goiânia, que são supridas, em parte, pela proximidade do Aero-
porto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília, de onde saem
voos regulares para todas as capitais brasileiras. Considerando a
regionalização da Infraero, a Superintendência Regional do Centro-
-Oeste (SRCO), que ainda inclui aeroportos do Triângulo Mineiro,
transportou 20.831.290 quilos, valor inferior ao volume de cargas
domésticas do aeroporto de Brasília, que foi, no mesmo ano, de
40.183.623 quilos. Tal fato também se explica pelo perfil da produ-
ção goiana, ligada predominantemente ao setor primário e não ao
setor industrial, de alto valor agregado.
O Gasoduto da Transpetro liga a refinaria de Paulínia, em São
Paulo, e Brasília, com ramal para os municípios de Senador Canedo e
Goiânia. Trata-se de uma rede essencial para a economia goiana, que

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


perfaz mais de 900 quilômetros de extensão. Sua função é armazenar 65

e comercializar gasolina, querosene para aviação (QAV) e gás lique-


feito de petróleo (GLP). A paisagem do município de Senador Cane-
do é marcada por grandes tanques para armazenar diesel, gasolina e
querosene, bem como por esferas para armazenar GLP (Figura 10).
Segundo informações da Transpetro (2010), a capacidade de arma-
zenagem é de 80.893 metros cúbicos para diesel e de 20,32 metros
cúbicos para GLP. É fácil perceber em Senador Canedo e em Goiâ-
nia, no bairro Jardim Novo Mundo, a concentração de distribuido-
ras de combustível e gás. As filas de caminhões-tanque denunciam sua
funcionalidade para a economia regional. Segundo dados da Agên-
cia Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP), em
2009 havia 1.341 revendedores de combustível automotivo em G ­ oiás
(ANP, 2010), o que é compreensível em vista da frota de veículos de
cidades como Goiânia, Anápolis, Aparecida de Goiânia e Luziânia.
Outro dado que comprova a importância de Senador Canedo refere-
-se à distribuição do etanol, uma vez que a produção das usinas, con-
siderando o mercado interno, segue para as distribuidoras localiza-
das em Senador Canedo e Goiânia para, então, chegar ao varejo nos
postos de combustíveis de diferentes bandeiras, também localizados,
ironicamente, nos municípios que abrigam usinas de etanol. A mobi-
lidade automotiva passa a depender, portanto, de Senador Canedo e
de Goiâ­nia, isso sem contar a distribuição de GLP para residências,
estabelecimentos comerciais e indústrias – esse fato reafirma o caráter
geopolítico representado pelo monopólio da fluidez, bem como o pa-
pel das redes assinalado por Raffestin (1993).
A produção de energia hidráulica, principal matriz goiana, resulta
de uma conjunção de fatores, especialmente da relação entre relevo e
hidrografia. O balanço energético de Goiás é positivo, o que signifi-
ca que produzimos mais energia do que o necessário para o consumo
em residências, na agricultura, na indústria e nos demais segmentos
de atuação. Segundo dados da Superintendência de Estatísticas, Pes-
quisa e Informações Socioeconômicas (Sepin), os segmentos que mais

[Tadeu Alencar Arrais]


66

Figura 10. Área de armazenagem de gás e combustível em Senador Canedo, em de-


zembro de 2010.
Fotografia: O autor.

consomem energia são o residencial e o industrial, que somaram, em


2010, mais de 50% do total (Figura 11). Muito embora tenha repre-
sentado apenas 9,6% do total em 2009, o consumo rural é bastante
concentrado em função da irrigação. Mas o que chama a atenção é a
relação entre os setores de transformação mineral e de alimentação e
o consumo de energia, já que a demanda por energia nessas atividades
vem crescendo a cada ano. Entre os seis municípios de maior consumo
no setor industrial em 2010, três (Niquelândia, Alto Horizonte e Ou-
vidor) estão no setor mineral e um (Rio Verde) na indústria de alimen-
tação. Em relação ao setor energético, ainda é preciso registrar a gera-
ção de energia nas usinas que processam etanol e açúcar. Essa geração
atende às demandas das plantas industriais – apenas a Jalles Machado,
em Goianésia, tinha potência para produzir, em 2010, 40 mil quilo-
watts. Considerando os planos de expansão do setor sucroalcooleiro e
a possível integração das redes de transmissão, é possível que, no futu-
ro, o balanço de nossa matriz energética seja alterado. Castilho e Ar-
rais (2011, p. 16, grifo no original), em estudo sobre a modernização
do território goiano e o processo de eletrificação, concluem:

O fato é que o consumo e a produção de energia demonstram, ao mesmo


tempo, a forma de organização da produção do território goiano e a forma

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


de atuação de determinados atores sociais que monopolizam um insumo 67
básico para o funcionamento do território. Se a produção demonstra a ar-
ticulação com o projeto de integração nacional por meio de redes técnicas
de transmissão, por outro lado, o consumo indica a dinâmica de moder-
nização do território goiano, reproduzindo o tripé bastante conhecido de
grãos-carnes-mineração.

As usinas de Itumbiara e São Simão, responsáveis, em 2009, por


33,72% da energia gerada no território goiano, estão, segundo da-
dos da Aneel, entre as dez maiores usinas em operação no Brasil. No
mapa goiano da produção de energia, a bacia do Paranaíba é a mais
importante, pois inclui as usinas de Itumbiara, São Simão, Embor-
cação, Cachoeira Dourada e aquelas localizadas nos rios Corumbá,
São Marcos e Aporé, dentre outras. A paisagem da bacia do Paranaí-
ba impressiona, seja pela falta de vegetação em suas margens – tanto
na vertente goiana quanto na mineira –, seja pelos espelhos formados
por lagos quase conurbados. Os impactos ambientais decorrentes da
matriz energética nacional são constantes, especialmente em Goiás,
assim como os conflitos de uso da água, uma vez que as terras alaga-
das são ocupadas por pequenos agricultores que passam, para utilizar
um conceito trabalhado por Haesbaert (2004), por processo de des-
territorialização. Mais uma vez, o território é acionado para atender a
uma necessidade nacional. É preciso lembrar, ainda, o processo de pri-
vatização de Cachoeira Dourada em 1997, construída na década de
1960 para atender à demanda do Distrito Federal. É difícil imaginar,
fora de um contexto de desmonte do Estado nacional, que uma em-
presa com uma carteira de clientes permanentes e com possibilidades
concretas de expansão acarretaria prejuízos para o erário.
A infraestrutura de redes possibilita e reproduz o modelo de su-
bordinação ao Sudeste brasileiro, vigente desde o início do século XX.
Oliveira et al. (2010), em estudo sobre o fluxo de comércio interes-
tadual com base em dados de 2009, demonstram que 53,3% das
compras e 50,4% das vendas são realizadas no próprio estado. Em
face do fluxo de compra e venda com os demais estados, os autores

[Tadeu Alencar Arrais]


68 constataram forte vinculação com São Paulo, já que “deste estado
provém 48,91% das compras interestaduais e para ele vão 30% das
vendas” (Oliveira et al., 2010, p. 15).
É necessário destacar o monopólio das redes – com exceção da
rodoviária – que se restringe a determinados atores sociais, espe-
cialmente aqueles ligados aos grandes grupos econômicos. Esse
fator é relevante, pois o transporte, em uma economia com forte
participação primária e com igual valorização das exportações, é a
base da eficiência logística. Tal eficiência prevê que grãos, minérios
e carnes cheguem aos portos com pontualidade e sem perdas. A ba-
lança de trocas goiana, apesar de positiva, pauta-se na exportação
de produtos primários e na importação de produtos manufatura-
dos, especialmente bens de consumo duráveis e bens de produção.
A subordinação, antes ligada estritamente ao Sudeste brasileiro,
passou a ocorrer também em escala mundial a partir do final da dé-
cada de 1990, com o processo de globalização. Há poucas dúvidas
de que a economia goiana se internacionalizou nos últimos anos,
bastando para isso averiguar que o número de países de destino das
exportações aumentou de 77, em 2000, para 146, em 2009. O valor
das exportações manteve seu progresso, passando de 544.864 reais,
em 2000, para 4.091.752 reais em 2008, colaborando para um sal-
do positivo na balança comercial (Goiás, 2009a).
A Figura 12 demonstra o peso da exportação de produtos básicos.
Trata-se, especialmente, dos chamados complexo soja e complexo car-
ne que somaram, em 2008, 66,44% do total das exportações goianas
(Goiás, 2009a). Outra fração importante é composta por minérios
­
como cobre, ferroligas, amianto e ouro, que completam o perfil básico
da economia exportadora goiana. O aumento nas exportações resul-
tou em maior pressão nos recursos naturais, com a expansão das mo-
noculturas (soja e cana-de-açúcar) e da mineração. Impressiona que a
participação de produtos industrializados, que era de 25,84% em 2000,
caiu para 16,36% em 2005 e 14,77% em 2008. A análise do perfil das
importações confirma as observações (Figura 13), pois este é formado

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


69

São Miguel
do Araguaia

Formoso São Domingos


Cavalcante

Niquelândia

Aruanã

Britânia Ceres

Goiás DF
DF

Anápolis
Luziânia

Goiânia Inhumas

Anapólis
Cristalina

Trindade Goiânia

Aparecida

Mineiros Catalão de Goiânia


Bela Vista
Rio Verde

Itumbiara

Chapadão
do Céu

LEGENDA
Consumo total de energia Principais consumidores
por município (Mwh) por município (%)
Sistema de Coordenadas Geográficas
1.450 - 23.598 210.468 - 337.312 Datum Horizontal: SAD-1969
Outros Residencial
Elaboração: Cristiano Martins da Silva
24.569 - 77.758 519.549 - 700.565

86.248 - 17.5524 0 30 60 120 180


2.525.294 Industrial Rural km
Escala gráfica

Figura 11. Consumo de energia total dos municípios goianos e principais consumi-
dores por município, em 2010.
Fonte: Goiás (2010b); IBGE (2010a).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

[Tadeu Alencar Arrais]


70

basicamente de produtos industrializados, que representaram, em


2000, 91,39%, e, em 2008, 96,12% do total das importações do es-
tado. O peso das importações está na cadeia automotiva (automóveis
de passeio, carga e transporte, motores a diesel, tratores, acessórios
automotivos para mecânica pesada, caixas de direção etc.) e no setor
farmacêutico. Participam também os insumos agrícolas mecânicos ou
químicos, de tal forma que a agropecuária também contribuiu para o
saldo das importações.
Em relação à cadeia automotiva, as montadoras aparecem na lista
dos maiores importadores e exportadores, como é o caso da MMC Au-
tomotores do Brasil, localizada no município de Catalão. As montado-
ras que atuam no território goiano, em Catalão e Anápolis, importam
peças para fabricação de veículos e colheitadeiras e nacionalizam veícu-
los para comercialização. É possível supor, assim, que a geração de em-
pregos e a remuneração sejam maiores nas matrizes do que nas monta-
doras, isso sem falar no processo de terceirização no chão da fábrica. O
padrão de produção das montadoras, festejado desde a década de 1990,
tem relação com os incentivos fiscais que motivaram o processo de des-
concentração industrial. Santana e Mendonça (2006, p. 12) avaliam o
processo de precarização do trabalho nas montadoras:

No processo de reestruturação produtiva a terceirização é elemento funda-


mental, pois é ela que permitirá a redução de gastos com funcionários e com
equipamentos no processo produtivo. São nas empresas terceirizadas que se
encontram os maiores índices de precarização. Geralmente, os trabalhado-
res das terceirizadas são acessíveis na admissão e são facilmente demitidos
quando o mercado não está favorável. No processo de terceirização podemos
encontrar tanto trabalho extremamente qualificado, como também trabalho
desqualificado. Nas empresas terceirizadas que prestam serviços para Mitsu-
bishi Motors Company encontramos certo grau de precarização. Elas execu-
tam funções degradantes e em sua maioria não possuem os mesmos direitos
que os trabalhadores da Mitsubishi.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


71
4.500.000

4.000.000

3.500.000
Free on Board (FOB)

3.000.000

2.500.000
2.000.000
1.500.000
1.000.00
500.000
0
Semimanu- Manu-
Total Básicos
faturados faturados
2000 544.864 404.071 114.876 25.916
2005 1.817.393 1.519.953 185.833 111.607
2009 4.091.752 3.486.608 360.122 244.527

Figura 12. Perfil das exportações em Goiás.


Fonte: Goiás (2009a).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

A economia dos municípios exportadores revela que, dos dez mu-


nicípios com maior peso nas exportações, as quais representaram, em
2008, 51,77% do volume total exportado pelo estado, três estavam
ligados exclusivamente ao setor de minérios. Outros dois, Palmeiras
de Goiás e Mozarlândia, ligaram-se apenas ao setor frigorífico. Isso
nos permite compreender facilmente que uma caixa de direção e até
mesmo um veículo quatro portas não apenas são mais caros que uma
tonelada de soja, como também agregam maior valor na cadeia de
produção. É possível supor que o impacto do encerramento das ativi-
dades de um frigorífico em Goiânia, cidade com uma economia diver-
sificada, seja menor que em um município de 10 mil habitantes, pois,
além da perda de receita tributária, a absorção da mão de obra é faci-
litada pelo perfil de uma economia de aglomeração – fator assinalado,

[Tadeu Alencar Arrais]


72
3.500.000

3.000.000

2.500.000
Free on Board (FOB)

2.000.000

1.500.000

1.000.00

500.000

0
Básicos Semimanu- Manu-
Total
faturados faturados
2000 374.289 32.199 26.866 315.223
2005 724.009 20.422 77.579 626.008
2009 3.049.986 2.118.200 296.783 2.635.048

Figura 13. Perfil das importações em Goiás.


Fonte: Goiás (2009a).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

no caso europeu, por Veltz (1999). Tal perfil, marcado pelo predomí-
nio de um grande grupo econômico, é mais suscetível aos impactos de
crises econômicas, tendo em vista que as economias municipais são
dependentes. Ademais, as empresas tornam-se atores sociais hegemô-
nicos nesses municípios, influenciando seu destino político.
A leitura territorial, pela ótica da balança comercial, auxilia na com-
preensão dos padrões de localização regional dessas atividades, o que
se mostra relevante no caso de Goiás. Muito se escreveu na literatura
regional sobre a especialização das atividades ligadas ao setor agrope-
cuário goiano. É comum a referência ao Sudoeste Goiano como celeiro
regional de grãos, em contraste com outras microrregiões, como o Vão
do Paranã. O expediente metonímico, entretanto, prejudica a visão da
totalidade. Na verdade, a produtividade regional (agrícola, pecuária,

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


mineral e industrial) deve ser avaliada a partir do estoque de terras, do 73

padrão fundiário, do relevo, da disponibilidade hídrica, da presença de


sistemas de escoamento, das demandas conjunturais da economia, da
mão de obra, das jazidas, da proximidade com o mercado de consumo
e do crédito destinado aos setores produtivos. A conjunção de tais fa-
tores, dentre outros, aplica-se na parte meridional do território goiano,
o que não significa, entretanto, que reverbere na qualidade de vida de
uma parcela significativa da população.

2.500.000

2.000.000

1.500.000
Hectares

1.000.000

500.000

0
Cana-
Soja Arroz de- Milho
açúcar
1995 1.265.511 264.382 115.073 880.318
2008 2.181.571 100.870 403.970 905.710

Figura 14. Evolução da área plantada de culturas selecionadas em Goiás.


Fonte: Goiás (2009a).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

Em face da dispersão das culturas temporárias, como milho, soja,


cana-de-açúcar, arroz e feijão, observam-se diferentes gradientes de con-
centração da produção no território goiano (Figura 14). Muito embora
seja bastante disseminada nas propriedades rurais, a cultura do milho
é uma das que desfrutam de maior concentração, tendo em vista que

[Tadeu Alencar Arrais]


74 57,12% da produção e 54,12% da área total do estado se concentram
em dez municípios. Esse fato é justificado pela demanda estimulada para
a produção de ração para aves e suínos. Não por acaso, os municípios
de Rio Verde e Jataí, maiores produtores de milho, concentravam, em
2009, 30,57% do rebanho de aves do estado. Colabora para a desta-
cada produção de milho no estado de Goiás a prática da safrinha, que,
segundo estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Co-
nab) para 2010 e 2011, atingirá 2.275,5 toneladas, pouco menos que
as 2.721,14 toneladas da safra principal (Conab, 2011). A eficiência da
safrinha do milho depende, principalmente, do calendário da soja, que,
por seu turno, depende do calendário pluviométrico, já que o excesso de
chuvas prejudica a colheita da soja e atrasa o plantio do milho.17
Percebe-se, portanto, que a instalação de um complexo como o
da Perdigão em Rio Verde motiva uma reação em cadeia, geran-
do impacto nos cultivos, no padrão fundiário e no perfil do produ-
tor; afinal, não é possível imaginar uma substituição nessa escala
de produção com a prevalência de atividades típicas do pequeno
produtor. Os novos atores sociais, “produtores integrados”, muitos
deles sem lastros históricos com a terra, agora são profissionais li-
berais, com acesso aos sistemas de crédito que garantem a renta-
bilidade da atividade. Mais uma vez, a informação aparece como
insumo determinante para a economia.

17
“Mais recentemente, tem aumentado a produção obtida na safrinha, ou segunda
safra. A safrinha refere-se ao milho de sequeiro, plantado extemporaneamente, em
fevereiro ou março, quase sempre depois da soja precoce, predominantemente na
região Centro-Oeste e nos estados do Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Verifica-
-se nas últimas safras um decréscimo na área plantada no período da primeira
safra, mas que tem sido compensado pelo aumento dos plantios na safrinha e no
aumento do rendimento agrícola das lavouras de milho. Embora realizados em
uma condição desfavorável de clima, os sistemas de produção da safrinha têm sido
aprimorados e adaptados a essas condições, o que tem contribuído para elevar os
rendimentos das lavouras também nessa época” (Embrapa, 2010).

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


Os dez municípios de maior área no cultivo de soja, em 2009, 75

concentraram 52% da produção e 50,62% da área colhida (Figuras


15 e 16). Apesar da concentração em municípios como Rio Verde e
Jataí, também se destacam municípios do Entorno do Distrito Fe-
deral, como Cristalina e Luziânia, e do Sudeste Goiano, como Ca-
talão e Ipameri. Além do farelo de soja e dos componentes de ra-
ção, é necessário ressaltar a produção de óleo vegetal. A produção
de soja segue, em linhas gerais, as áreas com terras propícias para
a mecanização e próximas dos grandes complexos industriais de
transformação, como os de Jataí, Rio Verde, Itumbiara, Cristalina
e Mineiros. O total da área colhida, que em 2002 era de 1.902.950
hectares, passou para 2.315.888 hectares em 2009, ano em que o
estado ocupou o quarto lugar na produção nacional. De acordo
com dados da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vege-
tais (Abiove, 2011), Goiás ocupou o quarto lugar no processamen-
to de soja em 2009, com 20.050 toneladas/dia, o que representou
12% do total processado no Brasil. Em relação ao refino, foram
computadas 3.560 toneladas/dia, o que resultou na terceira colo-
cação em esfera nacional. As informações ilustram a diversidade de
atividades que envolvem a cadeia da soja e são indicativas da forma
como os grupos econômicos manejam os estoques. A depender da
conjuntura econômica e tributária, a decisão pode ser destinar mais
energia ao refino da soja, à exportação in natura ou até mesmo à
transformação em farelo como componente de ração. Como lembra
Pinazza (2007, p. 41), no começo da década de 1990

a exportação de soja em grãos respondia por apenas 12,4% da demanda


total da soja no Brasil. Até a promulgação da Lei Kandir, esse patamar se
manteve razoavelmente estável. Após a desoneração do ICMS sobre a ex-
portação dos produtos básicos, o ritmo das exportações de soja ganhou
força, crescendo, ano após ano, de tal forma que, no triênio 2003/2005, as
exportações de soja em grãos responderam por 38,2% da demanda total
do produto no País.

[Tadeu Alencar Arrais]


76

51º O

49º O
53º O

47º O
T O C A
N T I N S
13º S

São Miguel
do Araguaia
50 0 50 100 150 km

Escala gráfica

I A
14º S

O
S Flores

B A H
São João
de Goiás
S

D’Aliança
O

Água Fria
R

15º S
G

Vila de Goiás
Propício
Uruana
O
T

Cidade
A

de
M

16º S Goiás

S
Luziânia

A I
Santa Helena
Doverlândia de Goiás
Goiâni a Silvânia

G E R
Caiapônia Paraúna 8 Cristalina 17º S

Piracanjuba
Montividiu Edeia Ipameri Campo Alegre
Perolândia
7 de Goiás
Mineiros
Rio Verde Porteirão Morrinhos
18º S Catalão
Jataí Goiatuba
Bom Jesus
4 de Goiás 1- Quirinópolis
Chapadão Quirinópolis Itumbiara
2 2- Santa Helena de Goiás
do Céu Gouverlândia 3- Gouverlândia
A S 6
M AT 5 I N 4- Porteirão
O GR M 5- Bom Jesus de Goiás
OS S 1 6- Itumbiara
OD 7- Goiatuba
OS 3
UL
52º O

8- Edeia
49º O

LEGENDA
Produção (toneladas)
3.100.000 Produtos
Arroz
1.870.000
Cana-de-
açúcar
1.000.000
Feijão
508.000
Milho
193.000
65.000 Soja
4.000

Figura 15. Produção agrícola dos dez maiores municípios produtores de bens selecio-
nados em Goiás, em 2009.
Fonte: IBGE (2010a).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


77

As figuras retratam formas geométricas semelhantes: na primeira, o estado do Kansas,


no oeste dos Estados Unidos, e, na segunda, o município de Cristalina, no Entorno do
Distrito Federal. Ambas indicam áreas irrigadas por pivô central, de aproximadamente
600 e 240 quilômetros quadrados, respectivamente. O domínio da técnica muda o ciclo
produtivo, resultando em aumento da produtividade. Entretanto, áreas com esse perfil
agrícola são caracterizadas pelo consumo intensivo de água e energia, que aumenta o
passivo ambiental.

[Tadeu Alencar Arrais]


78

51º O

49º O
53º O

47º O
T O C A
N T I N S
13º S

São Miguel
50 0 50 100 150 km do Araguaia

Escala gráfica

I A
14º S

O
São João
Flores

B A H
D’Aliança
de Goiás
S
O
R

15º S
G

Vila Água Fria


Uruana Propício de Goiás
O
T

Cidade
A

de
M

16º S Goiás

S
Luziânia

A I
Santa Helena
Doverlândia de Goiás
Goiânia

G E R
Caiapônia Paraúna Silvânia Cristalina 17º S
Piracanjuba

Perolândia 2 Edeia Ipameri Campo Alegre


Montividiu
4 de Goiás
Mineiros 7
Porteirão Morrinhos
18º S Catalão
Rio Verde Goiatuba
Jataí Bom Jesus
6 de Goiás 1- Quirinópolis
Quirinópolis
Chapadão 5 Itumbiara 2- Santa Helena de Goiás
do Céu Gouverlândia 3- Gouverlândia
9 8 1 A S 4- Porteirão
3 I N 5- Bom Jesus de Goiás
M AT O M
GRO 6- Itumbiara
SSO 7- Goiatuba
DO 8- Rio Verde
51º O

SU
49º O

L 9- Jataí

LEGENDA
Área colhida (hectares)
3.100.000 Produtos
Arroz
1.870.000
Cana-de-
açúcar
1.000.000
Feijão
508.000
Milho
193.000
65.000 Soja
4.000

Figura 16. Área colhida dos dez maiores municípios produtores de bens selecionados
em Goiás, em 2009.
Fonte: IBGE (2010a).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


O cultivo de cana-de-açúcar concentra-se no Sudoeste Goiano. 79

Considerando-se a evolução das culturas temporárias a partir de


1995, esse cultivo obteve o maior aumento, passando de 115.073
hectares em 1995 para 403.970 hectares em 2008 (Goiás, 2009a). O
que impressiona nessa informação é a rapidez das transformações no
campo, que não se reduziram às áreas de cultivo nem aos problemas
ambientais destacados por Barbalho e Campos (2010), Castro et al.
(2010) e Silva (2011). A lógica de implantação segue, de modo geral,
a disposição de áreas próprias para o cultivo, a logística de transpor-
tes e a possibilidade de subsídios. Em 2000, onze usinas produziam
açúcar e etanol, número que passou para 36 em 2009, sem contar
aquelas em fase de implementação. Outros 51 projetos foram apro-
vados pelo programa Produzir, com capacidade prevista de 3.777.566
toneladas de açúcar e 7.704.264 metros cúbicos de etanol. A maior
parte das plantas se concentra nas faixas oeste, sudoeste e sul do ter-
ritório goiano. Entretanto, já existem projetos para os municípios de
São Domingos e Flores de Goiás, no Nordeste Goiano.
Em 2009, segundo dados da Secretaria do Planejamento e De-
senvolvimento do Estado de Goiás (Seplan), foram produzidas
1.738.641 toneladas de açúcar e 2.680.604 litros de álcool (Goiás,
2010b). Itumbiara, Goianésia e Jataí estão entre os municípios com
maior número de destilarias. O que explica a expansão, o aumento
da demanda em virtude do consumo automotivo e a disposição de
terras propícias para o cultivo da cana-de-açúcar é o financiamento
estatal – o caso de Quirinópolis é exemplar. A questão é que até
mesmo o estoque de terras tem seus limites, já que duas culturas
não podem ocupar o mesmo espaço – isso vale, especialmente no
caso de Quirinópolis, para as áreas de pastagem. A área destina-
da ao cultivo de cana-de-açúcar no município aumentou mais de
650% entre 2006 e 2009, ao passo que a do cultivo de arroz caiu
70% e a da soja, 16%. A concentração repercutiu nos cultivos tra-
dicionais, o que resultou em rápidas mudanças na paisagem regio-
nal, bem como nas relações de trabalho e produção.

[Tadeu Alencar Arrais]


80 Em 2010, a população registrada pelo Censo em Quirinópolis foi
de 43.243 pessoas, o que representou um acréscimo de 6.731 pessoas
em relação ao levantamento de 2000. Naquele ano, a população rural
era de 5.690 habitantes e, em 2010, de 5.064 habitantes (IBGE, 2000,
2011). O aumento gradativo da população foi resultado da migra-
ção, especialmente nos últimos três anos, o que gerou demanda por
infraestrutura urbana e habitação no município, bem como a desarti-
culação da produção da pequena propriedade. No entanto, é preciso
registrar que, na lista de propriedades com trabalho escravo divulga-
da pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em dezembro de
2010, são citadas usinas de álcool e açúcar nos municípios de Ceres,
Jataí, Itarumã e Porteirão, onde foram libertados 452 trabalhadores
em condições caracterizadas como de trabalho escravo. Trata-se da
face mais cruel do processo de modernização (MTE, 2011).
Muito embora o arroz, comparado com a soja, a cana-de-açúcar e
o milho, apresente baixo nível de concentração, observa-se uma redu-
ção da área plantada, de 264.382 hectares em 1995 para 100.870 hec-
tares em 2009. Os dez municípios com maior produção concentraram
29,28% da área colhida e 41% do total produzido. É na cultura do
arroz que se encontra uma das maiores diferenças de produtividade em
função das áreas irrigadas, como em Luís Alves, distrito de São Miguel
do Araguaia, e Flores de Goiás. Sempre é bom lembrar que o arroz foi
um dos principais produtos da exportação goiana. Em 1920, segundo
dados do Recenseamento Geral, o grão representava 22,1% da área to-
tal cultivada no estado (Brasil, 1923). Tratava-se de uma cultura disse-
minada em todo o território goiano. Contudo, a produção dessa cul-
tura é insuficiente para atender à demanda interna, o que significa que
grande parte do arroz consumido em cidades como Goiânia, Anápolis
e Aparecida de Goiânia é importado in natura e beneficiado em G ­ oiás.
Embora se tenha registrado, em 2009, uma produção de apenas 60 to-
neladas de arroz em casca, Aparecida de Goiânia, em função de sua po-
lítica de incentivos fiscais para a indústria de transformação, concentra
parte significativa do beneficiamento do arroz consumido em Goiás.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


81
80
75,79
73,3
70 67,26 66,42

60
Porcentagem das toneladas

50

40

30 24,86 24,69
20
13,61
10

0
inglesa
Alho

Café

Cebola

Feijão

Tomate

Trigo
Batata

Figura 17. Participação de Cristalina na produção goiana, em 2009.


Fonte: Goiás (2009a).

No que tange aos cultivos temporários, constata-se a maior concen-


tração do feijão. Os dez maiores municípios produtores concentravam
73% do total produzido e 72% da área colhida do estado. Apenas Cris-
talina e Luziânia, em 2009, foram responsáveis por 39,49% do total do
feijão produzido em Goiás. Colabora para o fato a intensa utilização da
irrigação por pivô central, o que torna o consumo de energia rural de
Cristalina o maior do estado. Para se ter uma ideia, o consumo de ener-
gia rural nesse município, em 2009, foi maior que a soma do consumo
de outros 76 municípios reunidos (Goiás, 2009a). As culturas irrigadas
de batata inglesa, cebola, alho e trigo, conforme destaca a Figura 17,
concentram-se no município e atendem ao varejo de Goiás e do Distri-
to Federal. O resultado, além da alta produção e da produtividade, é a
pressão nos recursos hídricos em um município cuja maior característica
ambiental, além do relevo plano e alto, é a farta rede de drenagem.

[Tadeu Alencar Arrais]


82

Fonte: <http://www.jbs.com.br>.
Fonte: http://www.jbs.com.br/. Acesso em 24/12/2010. Acesso em 20/11/2010.

A figura ilustra a forma de atuação de atores econômicos com capilaridade internacional.


A empresa JBS, que tem sua origem vinculada à atividade frigorífica no estado de Goiás na
década de 1950, ampliou sua capacidade de produção a partir da incorporação de outras
plantas industriais do segmento frigorífico. A multinacional atua em vários segmentos,
como industrialização de carnes, rações, lácteos, couros etc., além do setor financeiro por
meio de um banco homônimo. Na figura estão representados os principais mercados de
atuação, seja na produção, como nos Estados Unidos e no Brasil, seja na exportação por
meio de bases de negociação. Segundo informações da JBS, sua logística contempla: “16
centros de distribuição – Brasil, 9 centros de distribuição – EUA, 5 centros de distribuição
– Austrália, 22 centros de distribuição – EUA, México e Porto Rico – Unidade de Negócios
de Frango, 2 centros de distribuição – Itália, 2 centros de distribuição – Angola, 1 centro de
distribuição – Argélia, 1 centro de distribuição – Congo, 1 centro de distribuição – Repúbli-
ca Democrática do Congo, 1 centro de distribuição – Rússia, subsidiárias no Chile, Egito,
Inglaterra, Japão, Hong Kong, Coreia do Sul, Taiwan e China, responsáveis pela distribui-
ção e comercialização nesses países” (http://www.jbs.com.br/ri). Em Goiás, além dos
frigoríficos, existem unidades de confinamento nos municípios de Nazário e Aruanã, o
que permite a oferta contínua para o abate. O irônico é que, apesar do destacado rebanho
goiano, o preço da carne bovina no varejo registrou significativos aumentos.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


83

51º O

49º O
53º O

47º O
T O C A
N T I N S
13º S

São Miguel
do Araguaia
50 0 50 100 150 km

Escala gráfica Porangatu

I A
14º S O Nova
Crixás
S

B A H
S
O
R

15º S
G

Jussara
O

4
T
A
M

16º S
Itaberaí

S
Inhumas
Leopoldo

A I
Anicuns
de
Goiâni Bulhões
a
Caiapônia 5 2

G E R
Cristalina
Bela Vista de Goiás 17º S

3 Pires
do
Mineiros Montividiu Santo Antônio Piracanjuba Rio Urutaí
da Barra

Ipameri 1
18º S Morrinhos
Jataí Rio Verde
1- Urutaí
Aparecida do 2- Pires do Rio
Rio Doce 3- Bela Vista de Goiás
Quirinópolis
A S
M AT
O GR I N 4- Itaberaí
O
M 5- Rio Verde
SSO
DO
SU
L
52º O

49º O

LEGENDA
Produção (cabeças)
12.000.000

Efetivos

Aves
3.000.000
Bovinos

1.000.000 Suínos
500.000

15.000

Figura 18. Produção pecuária dos dez maiores municípios produtores de Goiás, em
2009.
Fonte: IBGE (2010b).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

[Tadeu Alencar Arrais]


84 O rebanho bovino é menos concentrado que a produção de grãos,
por isso os dez maiores municípios produtores concentraram menos de
20% do total do estado em 2009, conforme mostra a Figura 18. No
total estão contabilizados tanto a criação extensiva quanto o confina-
mento. Verifica-se a importância deste no território goiano pelo fato de
o estado contar com o maior número de membros na Associação Na-
cional de Confinadores (Assocon). São onze propriedades associadas,
localizadas especialmente no Sudoeste Goiano e no Noroeste Goiano.
A disposição dos pastos no Norte Goiano e no Noroeste Goiano, bem
como a estrutura fundiária da parte setentrional do território, influen-
ciam a dispersão. O gado de corte atende à demanda do mercado fri-
gorífico para exportação, para o consumo local e a transformação em
outros estados. O rebanho bovino constitui uma espécie de poupança
regional, especialmente para pequenos agricultores descapitalizados.
Nova Crixás, São Miguel do Araguaia e Porangatu, com 716.100,
490.000 e 308.000 cabeças de gado, respectivamente, abrigavam os
maiores rebanhos em 2009 (Goiás, 2010b). Outro destaque é atribuí-
do ao Sudoeste Goiano, em especial aos municípios de Caiapônia, Rio
Verde, Quirinópolis e Mineiros, que contam com 389.000, 390.000,
330.000 e 320.000 cabeças de gado, respectivamente. A localização
dos frigoríficos em municípios como Goiânia, Inhumas, Hidrolândia,
Palmeiras de Goiás, Mozarlândia, Jataí, Mineiros e Luziânia atende à
lógica do mercado de consumo e da logística necessária para o proces-
samento, já que parte significativa da carne é exportada (Aurélio Neto;
Viana; Almeida, 2011). A empresa JBS, por exemplo, atua em vários
países, o que implica monopólio e, frequentemente, problemas com o
preço da arroba pago ao criador. Como a soja, a carne não escapa da
lógica de produção e comercialização das bolsas de valores.
O rebanho do gado leiteiro, por sua vez, concentra-se no Vale do
Meia Ponte. O padrão das propriedades é menor, e a localização de la-
ticínios – especialmente de leite longa vida, produto consumido em am-
pla escala nas cidades – atende à demanda regional e nacional. A pro-
dução converge no eixo sul da BR-153, nos municípios de Piracanjuba,

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


Morrinhos, Orizona e Itumbiara, com 73.400, 80.010, 48.000 e 33.400 85

vacas ordenhadas, respectivamente. A região, correspondente à linha de


influência da faixa sul da BR-153, ao lado do Triângulo Mineiro, pos-
sui a maior bacia leiteira do Brasil. Segundo Margot Silva (2008), em
estudo sobre a pecuária leiteira de Piracanjuba, os produtores são agri-
cultores familiares, o que significa que a atividade assumiu importância
ímpar no cotidiano de centenas de proprietários e trabalhadores da re-
gião. A autora também assinala, entre outros problemas, a entrada no
mercado goiano de empresas que adquiriram laticínios como estratégia
para o aumento da concentração do mercado, o que resultou na maior
subordinação dos produtores e no aumento dos custos de produção. A
cadeia láctea é mais um exemplo do peso de insumos secundários como
embalagens e transportes, o que diminui a remuneração do produtor,
colocando-o, quase sempre, em condições frágeis nas negociações com
os grupos econômicos de grande porte.
A análise do rebanho de aves e porcos também revela a forma de
atuação de atores sociais como a Perdigão. O município de Rio Verde
foi o maior produtor individual de aves no Brasil em 2009, registran-
do um plantel de 13 milhões de galos, frangas, frangos e pintos e de
1,32 milhão de galinhas. É fácil perceber, portanto, a demanda por
ração, que implica, por sua vez, o aumento da procura por milho e
soja, principais componentes da ração para frangos. A dispersão do
rebanho de aves guarda relação com a localização de granjas e fri-
goríficos, como em Itaberaí, Pires do Rio e Rio Verde. Ao se instalar
em um município, uma empresa que processa carne de frango e suí-
na demanda produtores integrados para garantir o fornecimento de
frangos e leitões, o que torna necessária a participação de produtores
dos municípios vizinhos. Nessa equação, é determinante a distância
da propriedade onde serão instalados os galpões para criação. A Fi-
gura 19, extraída do relatório anual e de sustentabilidade da empresa
Brasil Foods (BRF, 2010), revela o funcionamento da cadeia produti-
va da carne. Os destaques, no caso de uma empresa com o perfil da
Perdigão, são a fabricação de sua própria ração, a industrialização da

[Tadeu Alencar Arrais]


86 carne e o regime de controle de matrizes criado pelos produtores as-
sociados, funções necessárias para o abate diário de dezenas de milha-
res de frangos e suínos.
A simbiose entre agricultura, pecuária e indústria garante não ape-
nas o aumento da produtividade regional, como também a incorpora-
ção da massa salarial em cidades com o perfil de Rio Verde, Mineiros,
Luziânia, Jataí, Itaberaí, Pires do Rio e Bela Vista de Goiás. Esse últi-
mo município é o maior produtor de aves e, por conseguinte, de ovos,
do estado, tendo registrado 28.665 dúzias em 2009 (IBGE, 2010b).

Figura 19. Representação da cadeia produtiva da carne.


Fonte: BRF (2010).

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


87

Pátio da montadora CAOA, em dezembro de 2010. Fotografia: O autor.

Pátio do Porto Seco, em dezembro de 2010. Fotografia: O autor.

“Portos secos são recintos alfandegados de uso público, situados em zona secundá-
ria, nos quais são executadas operações de movimentação, armazenagem e despacho
aduaneiro de mercadorias e de bagagem, sob controle aduaneiro. As operações de
movimentação e armazenagem de mercadorias sob controle aduaneiro, bem assim a
prestação de serviços conexos, em porto seco, sujeitam-se ao regime de concessão ou
de permissão. A execução das operações e a prestação dos serviços conexos serão efeti-
vadas mediante o regime de permissão, salvo quando os serviços devam ser prestados
em porto seco instalado em imóvel pertencente à União, caso em que será adotado o
regime de concessão precedida da execução de obra pública”.
Fonte: <http://www.receita.fazenda.gov.br/Aduana/LocaisRecintosAduaneiros/PortosSecos/De-
fault.htm>.

Um exemplo desse processo é a importação de veículos e peças (kits) automotivos da


matriz sul-coreana da Hyundai. Os veículos chegam ao Brasil pelo Porto de Vitória (ES),
de onde são transportados em carretas para o Porto Seco de Anápolis para concluir o
desembaraço alfandegário. Em seguida, os veículos seguem para o pátio da empresa
representante e de lá são distribuídos para as diversas concessionárias brasileiras. Já as
peças para a montagem dos dois modelos produzidos em Anápolis chegam via ferrovia,
em contêineres. É possível deduzir que as margens de lucro aumentam significativamente
com essas operações, isso sem contar os incentivos fiscais.

[Tadeu Alencar Arrais]


88

48º O

47º O

46º O
52º O

51º O
53º O

50º O

Pará
T O C A
N T I N S

do r
13º S

Salva
153

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Minaçu

A ra g
Alto
Horizonte

O
14º S 164

I A
S
010

B A H
O
R

Niquelândia
G

15º S Crixás
Ri o
O

Barro Alto
T
A

020
M

070 DF
16º S Porto Seco 16º S
Americano 070 153 060

S
á
Cuiab 158 do Brasil Anápolis

A I
060
Goiânia 040

G E R
Senador
17º S 050 17º S
Canedo
184 060 Be
lo
C uiabá Ho
riz
on
153 te
364
Catalão

18º S
452
Paranaíba
364 Ouvidor
São P

060 Projeção policônica


M AT O A S
19º S São Simão I N 50 50 100 150 km
Araguari

GRO M
aulo

SSO Escala gráfica


o
Ri

DO Porto de São Simão


SU
52º O

49º O
53º O

LEGENDA
Minérios Convenções
Arrecadação (R$)
Amianto Crisotila Ferrovia implantada
21.000.000,00
Níquel Ferrovia planejada/
em construção
Minério de níquel
Hidrovia existente
Fosfato
7.000.000,00
Hidrovia planejada
Cobre
Apatita 2.000.000,00 Rodovia federal

Nióbio 500.000,00 Rodovia estadual


Ouro 30.000,00
Porto

Figura 20. Repasses do CFEM referentes às principais substâncias minerais de Goiás,


em 2010.
Fonte: Brasil (2010c); IBGE (2010a).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


A mineração pode ser considerada uma espécie de economia de en- 89

clave, o que vale para a extração de níquel (Niquelândia, Barro Alto e


Americano do Brasil), amianto (Minaçu), ouro (Crixás), cobre (Alto
Horizonte e Americano do Brasil), nióbio (Catalão e Ouvidor) e fos-
fato (Ouvidor e Catalão) – produtos com forte participação na pau-
ta de exportações. Em Goiás, são exploradas economicamente mais
de quarenta substâncias minerais. Do ponto de vista do valor, apenas
nove delas representavam, em 2010, 96,13% do total da riqueza ge-
rada com a mineração. A produção mineral atende a três demandas:
regional, nacional e internacional. No âmbito do mercado regional,
como indica relatório do Departamento Nacional de Produção Mine-
ral (DNPM), a comercialização de produtos como água mineral, areia,
brita e calcário agrícola assume maior relevância (Brasil, 2010a). Os
destaques nacionais são o fosfato, transformado em São Paulo, assim
como o níquel, e os internacionais são o amianto, o nióbio e o ouro.
Ainda de acordo com o relatório do DNPM, 88% do ouro extraído
do território goiano foi destinado à Índia em 2009 (Brasil, 2010a).
Podemos considerar a importância da mineração para a economia
municipal com base no valor dos recursos repassados pela Compen-
sação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM).
Como destaca a Figura 20, nos municípios mineradores, como Alto
Horizonte, a receita proveniente desse imposto chega a ser superior
aos recursos do Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica
(Fundeb). Outro modo de analisar a influência da mineração refe-
re-se aos serviços demandados pelas empresas de mineração, com
graus de especialidade diferentes, que podem ir da mecânica pesada
até a alimentação de trabalhadores. Tomemos como exemplo a em-
presa Anglo American (2008), que atua nos municípios de Catalão,
Ouvidor, Niquelândia e Barro Alto. Seus gastos com fornecedores lo-
cais, em 2008, foram de 17%, 19% e 36%, respectivamente, o que
pressupõe graus diferentes de envolvimento da economia local na
demanda de produtos e serviços oferecidos pela empresa. Entretan-
to, é preciso avaliar os custos ambientais da exploração mineral e a

[Tadeu Alencar Arrais]


90 dependência econômica dos municípios em virtude do tempo útil de
exploração das minas.18
A concentração do setor de transformação, por sua vez, acompa-
nha as áreas mais densas do território goiano. Sua localização é in-
fluenciada por um conjunto de fatores, dentre os quais: a) a oferta
logística e a possibilidade de integração intermodal; b) incentivos
fiscais governamentais; c) proximidade do mercado de consumo; d)
oferta de mão de obra; e) localização da matéria-prima. Consideran-
do o número de estabelecimentos industriais, a maior concentração
de unidades reside nas micro e pequenas empresas, que corresponde-
ram, em 2010, a 61,34% do total no estado (Goiás, 2010b). São esses
empreendimentos, de igual forma, os que mais empregam. Nesse uni-
verso encontram-se empresas do ramo de vestuário, alimentos, move-
laria, bebidas, construção civil etc.19 A maior concentração, do ponto
de vista do número de indústrias, está em Goiânia, seguida de Apare-
cida de Goiânia, Anápolis, Jaraguá, Rio Verde, Catalão, Itumbiara e
Luziânia. Arriel (2010, p. 59-60) faz referência ao deslocamento das
indústrias para o interior do território goiano, citando o declínio da
participação industrial da Região Metropolitana de Goiânia no fatu-
ramento, que passou de 36,41% em 1999 para 21,95% em 2007:

18
“A Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais, estabelecida
pela Constituição de 1988, em seu Art. 20, § 1º, é devida aos Estados, ao Distri-
to Federal, aos Municípios, e aos órgãos da administração da União, como con-
traprestação pela utilização econômica dos recursos minerais em seus respectivos
territórios. [...] As alíquotas aplicadas sobre o faturamento líquido para obtenção
do valor da CFEM variam de acordo com a substância mineral. Aplica-se a alí-
quota de 3% para: minério de alumínio, manganês, sal-gema e potássio. Aplica-se
a alíquota de 2% para: ferro, fertilizante, carvão e demais substâncias. Aplica-se a
alíquota de 0,2% para: pedras preciosas, pedras coradas lapidáveis, carbonados e
metais nobres. Aplica-se a alíquota de 1% para: ouro” (Brasil, 2010b).
19
Considera-se microempresa o empreendimento com faturamento igual ou inferior
a 240 mil reais; a pequena empresa, por sua vez, tem faturamento superior a 240
mil reais e inferior a 1,8 milhão de reais (Goiás, 2010b).

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


No caso de Goiás, os dados apontam para uma tendência de deseconomias de 91
aglomeração na capital, Goiânia, mas o que provocou o ganho de participa-
ção na produção da indústria de outros municípios não metropolitanos, em
grande medida, foi a busca de empresas, as chamadas indústrias weberianas,
de se instalarem próximas às fontes de matéria-prima, além de outras que
procuraram por cidades médias, mas com possibilidades de desenvolver servi-
ços relacionados ao empreendimento industrial.

O padrão de dispersão das indústrias pode ser comprovado pela dis-


tribuição dos empregos formais. Muito embora a indústria de trans-
formação não seja a que mais emprega, sua participação no total de
empregos formais, somada à da construção civil, foi de 20,94% em
2009 (MTE, 2010). No caso da construção civil, a maior parte das em-
presas se concentra em Goiânia, cidade que presencia um forte proces-
so de verticalização, resultado do aquecimento do setor imobiliário. O
número de empregos formais registrados, em novembro de 2010, foi
de 509.775, dos quais 47.078 foram oferecidos pela indústria de trans-
formação, o que representou 9,23% do total. Entre os municípios com
maior destaque proporcional da geração de empregos na indústria de
transformação estão Mozarlândia (62,89%), Ouvidor (57,91%) e Cha-
padão do Céu (46,65%). O destaque da Figura 21, entretanto, é a im-
portância do setor público para a geração de empregos nos municípios
com menos de 20 mil habitantes, fato destacado por Arrais (2011) em
estudo sobre a funcionalidade das transferências de recurso do estado,
entre elas o Bolsa Família, para os municípios goianos.
O desempenho da indústria, seja em Goiânia, Rio Verde, Cristali-
na, Catalão, Itumbiara ou outros municípios, deve ser avaliado a par-
tir da articulação com o setor primário. E não se trata apenas da ofer-
ta de matéria-prima, mas da renda gerada no setor que movimenta as
economias municipais. Por tal motivo, no período de comercialização
da safra, verifica-se aumento dos negócios de imóveis e veículos em
cidades como Jataí, Rio Verde, Itumbiara e Goiânia. Há estreita liga-
ção entre a renda obtida no agronegócio e o aquecimento do mercado
imobiliário e dos bens de consumo duráveis.

[Tadeu Alencar Arrais]


92

48º O

46º O
47º O
49º O
52º O

51º O
53º O

50º O
T O C A
N T I N S
13º S 13º S
São Miguel
do Araguaia Porangatu

Cavalcante

I A
14º S 14º S

O
Alto
Horizonte Posse

B A H
Niquelândia
S
O

Crixás
R

15º S 15º S
G

Ceres
O
T

DF
A

Cidade
de
DF
M

16º S Goiás Valparíso de


Goiás
16º S
Sto. Antônio

S
do Descoberto

Luziânia

A I
Iporá
Goiânia

G E R
17º S 17º S
Caiapônia

Mineiros Rio Verde


Morrinhos
Jataí
Catalão 18º S

Cachoeira Itumbiara
Alta

A S
M AT
O GR I N
19º S OS S
M 19º S
OD 50 0 50 100 150 km
OS
U L
46º O
52º O

50º O
53º O

Escala gráfica

LEGENDA PRINCIPAIS ATIVIDADES GERADORAS DE


EMPREGO FORMAL - 2009
Administração pública
Construção civil 1

Indústria de transformação Extração mineral 3

Agropecuária Comércio 9

Serviços Serviços 11

Agropecuária 23
Comércio
Indústria 39

Extração mineral Administração pública 160

Construção civil 0 50 100 150 200

Número de municípios

Figura 21. Setores de maior participação na geração de empregos formais em Goiás,


em 2009.
Fonte: MTE (2010).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


Uma análise do desempenho do setor varejista é outra maneira de 93

destacar a importância do setor industrial. Nos principais varejistas de


Goiânia (Carrefour, Pão de Açúcar, Walmart, Bretas e Extra), há uma
oferta invariável de produtos, especialmente no setor de alimentação,
cuja transformação é feita no território goiano. Segundo pesquisa rea-
lizada nessas redes por alunos da Universidade Federal de Goiás (UFG)
no âmbito da disciplina Geografia de Goiás, em 2010, de uma lista que
incluía cereais, farinha, café, sal, macarrão, lácteos variados, azeite, re-
frigerantes, produtos de higiene, ovos, folhas, condimentos etc. consta-
tou-se a oferta de produtos de empresas como Ambev, Bunge, Perdi-
gão, Piracanjuba e Unilever. Essa última, com a incorporação da marca
Arisco, dentre outras, foi responsável pela maior oferta registrada por
um mesmo grupo econômico, fato explicado por sua gama de áreas de
atuação, como a produção de alimentos (leite, sorvete, maionese, tem-
peros), produtos de limpeza (sabão em pó, alvejantes) e produtos de hi-
giene pessoal (desodorantes, creme dental, sabonetes). A empresa mul-
tinacional, com sede na Holanda, atua em diversos continentes, o que
torna sua atuação mais eficaz, especialmente em relação ao Mercosul,
pois ela pode manejar os estoques em conformidade com as demandas
regionais. Não é por acaso que encontramos no varejo uma infinida-
de de produtos que vão da alimentação até brinquedos, o que indica o
grau de internacionalização de nossa economia.
O que deduzimos da análise é que estar próximo da matéria-prima
ou de uma agroindústria que processa óleos ou leite nem sempre ga-
rante o menor preço no varejo. Valorização cambial e problemas de
ordem fitossanitária e/ou climática podem resultar em menor oferta
interna. Isso ocorreu em alguns momentos de 2010, quando oscila-
ções no valor do dólar influenciaram não apenas a comercialização
de produtos primários, mas também a decisão de proprietários de in-
vestir em determinados cultivos. O fato é que a decisão de investir em
culturas ou ampliar o plantel bovino também está condicionada a fa-
tores cambiais. Com o dólar em alta, os produtos primários são valo-
rizados, o que implica também um aumento nos insumos importados

[Tadeu Alencar Arrais]


94 e nos bens de produção; tal aumento reverbera no setor industrial.
São questões conjunturais de uma economia globalizada, que têm re-
lação direta com o chão do consumidor.
Se observarmos a cesta básica brasileira, composta por produtos
como carne, feijão, arroz, farinha, açúcar, café, batata, tomate e óleo,
constatamos que tanto a matéria-prima quanto a indústria de transfor-
mação desses produtos estão presentes em diferentes regiões do terri-
tório goiano. Tal fato, no entanto, não é suficiente para conter os su-
cessivos aumentos, a exemplo do açúcar, que teve variação de 25,17%
entre 2009 e 2010, e da carne, cuja variação foi de 33,67% no mesmo
período (Tabela 4). A contrapartida do modelo econômico que torna
o território goiano competitivo no cenário nacional, além dos passivos
ambientais, são os altos preços registrados no varejo.

Tabela 4. Custo da cesta básica em Goiânia.

Gasto mensal R$
Produtos Quantidades Variação %
Nov. 2009 Nov. 2010
Carne 6 kg 66,3 88,62 33,67
Leite 7,5 l 12,98 15,3 17,87
Feijão 4,5 kg 10,35 21,02 103,09
Arroz 3 kg 5,07 5,43 7,1
Farinha 1,5 kg 2,6 2,97 14,23
Batata 6 kg 11,4 9,9 -13,16
Tomate 9 kg 19,62 11,43 -41,74
Pão 6 kg 38,16 42,3 10,85
Café 600 g 6,3 6,57 4,29
Banana 7,5 dz 15,08 12,6 -16,45
Açúcar 3 kg 4,53 5,67 25,17
Óleo 900 ml 2,41 2,54 5,39
Manteiga 750 g 11,15 11,96 7,26
Total da cesta 205,95 236,31 14,74
Fonte: Dieese (2010).

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


De início, nos perguntamos se ainda é possível imaginar um per- 95

fil regional para a economia goiana. É claro que, se observarmos o


mercado de consumo, constataremos sua concentração no eixo da
BR-060, entre Goiânia, Anápolis e Brasília. De certa forma, fomos
condicionados a estabelecer uma leitura regional sem, contudo, ques-
tionarmos os recortes: assim, concebemos o Entorno do Distrito Fe-
deral como uma ampla área de expansão urbana ocupada por um
terciário dependente de Brasília, o Nordeste Goiano como uma re-
gião de menor densidade demográfica e de agricultura tradicional,
o Sudoeste Goiano como uma espécie de celeiro estadual e o Nor-
te Goiano como foco da pecuária e da mineração. Essa visão reflete
apenas uma parte da geografia regional e muitas vezes cristaliza re-
presentações regionais, dificultando a compreensão das verdadeiras
transformações em curso. Menos a noção de região e mais a técni-
ca de regionalização deve ser revista.20 A ideia de permanência não
corresponde mais ao tempo que dilui o “edifício regional”. Santos
(1997, p. 197) argumenta:

As condições atuais fazem com que as regiões se transformem continuamen-


te, legando, portanto, uma menor duração ao edifício regional. Mas isso não
suprime a região, apenas muda o conteúdo. A espessura do acontecer é au-
mentada, diante do maior volume de eventos por unidade de espaço e por
unidade de tempo. A região continua a existir, mas com um nível de comple-
xidade jamais visto pelo homem.

Na verdade, convivemos com uma economia cada vez mais de-


pendente de questões conjunturais, e isso tem toda relação com a
diferenciação regional. Economia e política, portanto, formam os
insumos necessários para a compreensão do processo de globaliza-
ção e seus rebatimentos regionais. Mas não podemos limitar nossos

20
Sobre a relação entre região e regionalização, ver Haesbaert (2010).

[Tadeu Alencar Arrais]


96 olhares para a integração econômica, afinal, no chão da fazenda, as-
sim como no da fábrica, a produção se realiza a partir da exploração
do trabalho. Desse modo, tanto cortadores de cana-de-açúcar quanto
trabalhadores de montadoras terceirizados se inserem na mesma ló-
gica global de produção e realização do valor. Uma geografia econô-
mica útil deve ser capaz de ultrapassar a análise abstrata e revelar, no
horizonte do cotidiano, as contradições que emergem desse modo de
produzir o território.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


Urbanização

Conceito de urbanização

O relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a situa­ção


da população mundial, publicado em 2007, projetou que, já em 2008,
a maior parte da população mundial viveria em cidades (ONU, 2007).
A informação não causa espanto quando se consideram os paí­ses euro-
peus e americanos. O destaque, entretanto, é para a África e a Ásia, que
terão suas populações duplicadas até 2030. A projeção para a Ásia é de
5,2 bilhões de habitantes em 2050 e, para a África, de 1,93 bilhão, nú-
meros preocupantes, dado o déficit de serviços básicos, infraestrutura
urbana e moradia em muitos países localizados nesses continentes. No
Brasil, prognósticos da mesma natureza confirmam o processo diagnos-
ticado estatisticamente pela primeira vez na década de 1970, quando a
maior parte da população passou a viver em cidades. As duas consta-
tações apontam o incremento populacional em aglomerações urbanas,
muito embora se refiram a formações espaciais diferentes – por isso, a
análise dos fatores da urbanização não pode estar dissociada dos con-
dicionantes econômicos e sociais das respectivas formações territoriais.
Dois debates são recorrentes quando nos referimos aos fatores
da urbanização. O primeiro relaciona a urbanização ao processo de
98 industrialização, indutor da migração dos espaços rurais. Nessa nar-
rativa, aos países europeus atribui-se uma urbanização arcaica, e aos
países subdesenvolvidos, uma urbanização precoce.21 Tal debate teve
como pano de fundo a caracterização das redes urbanas (integração
territorial por meio da infraestrutura de transporte e comunicações,
por exemplo) e do incremento demográfico, com a formação de gran-
des aglomerados urbanos em consequência da articulação entre mo-
dernização do campo e industrialização; essa perspectiva de análise
é encontrada em Santos (1965, 1982) e Singer (1987). O segundo de-
bate trata do significado do termo urbanização, o que constitui uma
questão importante, pois a análise do processo não se furta à utiliza-
ção de quadros estatísticos, como alertam Geiger (1963), Clark (1981)
e George (1983). Todavia, o uso desses quadros, em séries temporais
e espaciais, sem a devida contextualização histórica e metodológica,
pode induzir ao erro, sendo o primeiro dos quais aquele que reduz
o conteúdo da urbanização à representação estatística. O problema
é que os estudos comparativos demandam categorias e padrões esta-
tísticos universalizantes, colocando o pesquisador na difícil tarefa de
lidar com fontes secundárias, muitas vezes desatualizadas e metodolo-
gicamente díspares, para pensar processos em constante mutação.
De modo geral, dentre os sentidos mais usuais do termo “urbani-
zação”, encontramos os de natureza normativa, morfológica, cultural
e territorial.
O sentido normativo implica averiguar, em cada país, o significa-
do do urbano a partir de critérios que vão desde a localização e a
extensão do sítio urbano, a densidade demográfica até o número de

21
Para Santos (2008, p. 19), nos países europeus “a urbanização é antiga. Foi fei-
ta lentamente, ao ritmo de sucessivas revoluções tecnológicas. Tanto as cidades
quanto as redes urbanas se organizaram lentamente”. Já a urbanização nos países
subdesenvolvidos é caracterizada como terciária, com pouca incorporação tecno-
lógica e inclinação para o consumo, especialmente nas grandes cidades.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


habitantes. O domicílio, então, passa a ser determinante, pois, para 99

diferenciar um habitante urbano de um habitante rural, basta que o


primeiro resida em áreas definidas legalmente como urbanas. Desse
fator, portanto, resultam diferentes definições de áreas urbanas. Há
países que adotam tipologias baseadas em determinado número de
habitantes, como Angola e Bélgica, e outros que cruzam densidade de-
mográfica com tamanho populacional, a exemplo do Canadá e dos
Estados Unidos (ONU, 2007). No Brasil, população urbana é aquela
que reside em cidades (sede do município) ou em vilas (sede do dis-
trito). Como se percebe, a densidade demográfica e o perfil das ocu-
pações profissionais não são considerados, o que significa que, em
termos estatísticos, um morador da cidade de Anamã, no Amazonas,
cuja população era de 9.833 habitantes em 2010, é tão urbano quan-
to um residente da cidade de São Paulo, com 10.659.386 habitantes
(IBGE, 2011). De modo similar, os 119.126 residentes da área rural
de São Paulo são classificados como rurais, da mesma forma que
aqueles que residem na zona rural de Anamã, a despeito das diferen-
ças significativas entre as duas realidades. Essa definição originou-se
do Decreto-Lei n.º 311, de 2 de março de 1938 (Brasil, 1938).
O sentido morfológico é usado para diferenciar áreas, no sítio ur-
bano, que contem com infraestrutura e serviços classificados como ur-
banos. No caso brasileiro, há uma determinação legal de que alguns
serviços (telefonia, coleta de lixo etc.) e a infraestrutura (asfalto, ilu-
minação pública, esgotamento, água tratada etc.) estejam circunscritos
ao perímetro urbano, o que reforça a visão de que os espaços rurais,
por definição, são arcaicos e atrasados e não necessitam de infraestru-
tura e equipamentos de consumo coletivo. Assim, a urbanização passa
a ser sinônimo de expansão desses serviços, fato demonstrado com fre-
quência em planos de ordenamento urbano. Na página eletrônica da
Prefeitura de São Paulo encontramos, por exemplo, o seguinte infor-
me: “Paraisópolis: projeto de urbanização transformará a favela de Pa-
raisópolis em bairro” (São Paulo, 2009). A ideia é que os investimentos
no sistema viário, a pavimentação de ruas e vielas, além de programas

[Tadeu Alencar Arrais]


100 de moradia, mudarão o perfil da comunidade, o que dota o termo ur-
banização de positividade, especialmente nos discursos políticos.
O sentido cultural nasce da compreensão de que existe uma espe-
cificidade na cultura urbana. Essa concepção é produto de uma tra-
dição que considera uma oposição entre campo e cidade, a qual seria
resultado do processo de fragmentação da vida cotidiana urbana em
oposição à cultura rural, mais coesa e movida por tradições e tempos
de trabalho distintos. Identificamos em algumas dessas leituras certo
romantismo, que nasce, justamente, da negação da cidade. A visão de
oposição fomentou, tanto na literatura e na música quanto na políti-
ca, uma espécie de fobia da grande cidade, identificada como lugar de
relações impessoais. Nesse caso, ela se torna quase sinônimo de metró-
pole, uma noção próxima daquela apregoada por Howard (2002) no
século XIX, quando propôs o chamado Diagrama dos Três Ímãs, que
agrupava o melhor da cidade e o melhor do campo. Como demons-
trou Souza (2006), tanto a cidade quanto o campo, ao longo do século
XIX, serviram como plataformas, para progressistas e conservadores,
de discursos e diagnósticos sobre as saídas para a sociedade capitalis-
ta. De modo geral, a relação campo-cidade passou a ser de oposição
ou até mesmo de subordinação – uma vez que as cidades irradiariam
sistemas de valores hegemônicos –, não de complementaridade, o que
torna o conceito de cultura estático e, por vezes, despolitizado.22

22
Williams (1989, p. 11), em seu estudo sobre a cidade e o campo na Inglaterra do
século XIX, ilustra bem as representações negativas sobre a cidade: “Em torno
das comunidades existentes, historicamente bastante variadas, cristalizaram-se e
generalizaram-se atitudes emocionais poderosas. O campo passou a ser associado
a uma forma natural de vida – de paz, inocência e virtudes simples. À cidade as-
sociou-se a idéia de centro das realizações – de saber, comunicações, luz. Também
constelaram-se poderosas associações negativas: a cidade como lugar de barulho,
mundanidade e ambição; o campo como lugar de atraso, ignorância e limitação. O
contraste entre campo e cidade, enquanto formas de vida fundamentais, remonta
à Antigüidade clássica”.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


O sentido territorial compreende a urbanização como um proces- 101

so e o crescimento urbano como seu sintoma. Trata-se, na verdade,


de um processo de integração territorial, o que implica considerar, no
conceito de urbanização, a modernização da infraestrutura (energia,
comunicações e transporte) e a integração mercantil (ampliação das
trocas comerciais entre diferentes regiões) como condição sine qua
non para a realização da produção no ambiente capitalista. A urbani-
zação esteve, especialmente nos primórdios da Revolução Industrial,
associada ao sistema de redes de transporte viário e naval, que ga-
rantia a articulação entre as cidades e a mobilidade de mão de obra
na Inglaterra vitoriana. Ao analisar um período mais contemporâ-
neo, Santos (1996) aborda a urbanização do território, compreendida
como difusão da modernidade nas cidades, independentemente, mui-
tas vezes, do peso demográfico. A concepção territorial reconhece que
existem especificidades do meio rural, mas estas são compreendidas
a partir do processo de reprodução do capital, que enxerga o rural e
o urbano como espaços integrados. A formação de um mercado inte-
grado, a ampliação das trocas comerciais e a articulação entre firmas
podem ocorrer partindo do rural para o urbano e vice-versa. Existem
argumentos teóricos para essa linha que podem ser encontrados em
Lefebvre (1991, 1999) e Carlos (2004), bem como evidências empíri-
cas alinhavadas sobre as refuncionalidades dos espaços rurais, espe-
cialmente por Silva e Del Grossi (2000, p. 170):

Esse “Novo Rural”, como bem o temos denominado, pode ser também re-
sumido em três grandes grupos de atividades: a) uma agropecuária moder-
na, baseada em commodities e intimamente ligada às agroindústrias; b) um
conjunto de atividades não-agrícolas, ligadas à moradia, ao lazer e a várias
atividades industriais e de prestação de serviços; c) um conjunto de “novas”
atividades agropecuárias, localizadas em nichos especiais de mercados.

Enfim, para além da análise estatística, o debate sobre a urbanização


nos coloca diante das transformações do mundo contemporâneo e requer
uma fuga das armadilhas maniqueístas entre rural e urbano. Pressupõe,

[Tadeu Alencar Arrais]


102 igualmente, a necessidade de observar o processo de produção e reprodu-
ção do espaço em escala mundial e local. Castells (1983), no posfácio de
A questão urbana, faz referência à oposição campo-cidade:

Mas então não existiria mais separação entre “cidade” e “campo”? É a “ur-
banização generalizada”? Na realidade, esta problemática não tem sentido
(outro que ideológico) como tal, colocada nos termos em que se coloca mais
freqüentemente. Porque ela pressupõe já a distinção e mesmo a contradição
entre rural e urbano, oposição e contradição que não tem sentido no capita-
lismo. Os espaços de produção e consumo na fase monopolista do capitalis-
mo estão fortemente interpenetrados, imbricados, segundo a organização e o
desenvolvimento desigual dos meios de produção e dos meios de consumo,
não se fixando enquanto espaços definidos senão num dos pólos da divisão
social ou técnica do trabalho.

Em Goiás, até mesmo no início do século XX, era possível reconhe-


cer as relações de complementaridade entre cidade e campo, entre o
universo da fazenda e o da rua, sendo esta considerada sinônimo de
cidade. Desde então, com a implantação de redes de circulação e co-
municação e com o aprofundamento das trocas regionais, nacionais e
internacionais, as relações entre campo e cidade aumentaram em den-
sidade e complexidade, a ponto de ser difícil – a menos que se adote
uma visão formalista – reconhecer fronteiras rígidas entre ambos. Em
muitos casos, essa fronteira esteve relacionada às ideias de atraso, vazio
populacional e estagnação, visão que não se coaduna com a realidade
heterogênea dos espaços rurais contemporâneos. De igual forma, não
é possível separar os estudos sobre a urbanização dos estudos sobre
a rede urbana, pois essa última fornece uma leitura territorial a partir
das funções urbanas, à proporção que representa a cidade em âmbito
maior que o do sítio urbano; isso favorece a compreensão das relações
urbano-rural-regional. É a partir dessa linha de argumentação que ana-
lisaremos a urbanização do território goiano, em especial porque essas
relações foram precondição para a incorporação econômica de Goiás,
mesmo que em situação periférica, ao mercado nacional.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


Primórdios da urbanização 103

Na genealogia do território goiano, a década de 1970 aparece em des-


taque nas abordagens econômica e geográfica. Tal fato é justificado pela
observação das tendências dos Censos Demográficos de 1960 e 1970,
que já apontavam cenários posteriormente detectados nos anos 80,
quando a maior parte da população goiana passou a residir em cidades
e vilas.23 Naquele período, confirmaram-se taxas de crescimento demo-
gráfico superiores às da média nacional. Era como se, a cada divulga-
ção censitária, o território goiano adquirisse conteúdo diferente pelos fil-
tros estatísticos. A interpretação normativa obliterou e, em alguns casos,
substituiu as interpretações processuais com foco no território. A partir
de meados da década de 1970, passamos a incorporar o adjetivo “urba-
no” e a constatar certo discurso moderno nas discussões políticas. Enfim,
ao mesmo tempo que se enterrava o atraso representado pelas oligar-
quias regionais agrárias, festejava-se a urbanização pela via da moder-
nização. Tal urbanização passa, segundo Harvey (2011), a ser funcional
para a acumulação de capital. Essa concepção faz sentido, especialmente
em face do que Santos (2003, p. 23) compreende por urbanização:

23
A urbanização deve ser analisada considerando-se a formação econômica social
dos diferentes territórios. É possível, por exemplo, falar em urbanização arcaica
do território goiano no período colonial, especialmente na economia mineradora.
Entre 1690 e 1740 surgiram inúmeros arraiais, vilas e povoados. Muitos desses
assentamentos urbanos tinham em comum, além de uma paisagem marcada por
elementos construtivos da imagem colonial escravista, um sítio próximo dos locais
de extração de ouro. Segundo Palacín (1994), bastavam água e ouro para se fundar
uma vila. Assim foram fundadas Meya Ponte (1731), Traíras (1735), Porto Real
(1738), Vila Boa (1739), Arraias (1740), Cavalcanti (1740), Pilar (1741), Santa
Luzia (1746) e Cocal (1749), dentre tantas outras nas porções centro e nordeste
do território goiano. Muitas dessas aglomerações urbanas concentravam funções
administrativas e judiciárias, além de serem centros comerciais, e por isso reuniam
uma parcela significativa da população do estado.

[Tadeu Alencar Arrais]


104

60.000.000

50.000.000

40.000.000
Habitantes

30.000.000

20.000.000

10.000.000

0
1940 1950 1960 1970
Urbana 12.880.182 18.782.891 32.004.817 52.904.744

Rural 28.350.133 33.161.505 30.987.526 41.603.810

Figura 22. Evolução da população rural e urbana no Brasil.


Fonte: IBGE (1950, 1970b, 1980).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

A urbanização é simultaneamente um resultado e uma condição do processo


de difusão do capital. Este destrói autarquias regionais ao penetrá-las e pro-
voca uma especialização especulativa de acelerar as operações monetárias, as
quais crescem em conseqüência das necessidades do capital. A desintegração
das economias regionais, assim como sua extroversão, gera a concentração
urbana, com efeitos cumulativos que as mais das vezes resultam no fenômeno
da macrocefalia. A população que lota estas cidades em rápido crescimento
constitui mão-de-obra barata e, por sua mera presença, garante o estabeleci-
mento de um estoque de capital fixo que é indispensável a uma maior lucrati-
vidade de empreendimentos industriais.

A Figura 22 oferece uma síntese desse argumento para o Brasil e a


Figura 23, para o território goiano-tocantinense. Diferentemente do
que aconteceu em âmbito nacional, a curva urbana ganhou destaque

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


105

3.000.000

2.500.000

2.000.000
Habitantes

1.500.000

1.000.000

500.000

0
1950 1960 1970 1980
Urbana 245.667 575.325 1.237.108 2.401.098

Rural 969.254 1.337.569 1.701.569 1.459.076

Figura 23. Evolução da população rural e urbana em Goiás.


Fonte: IBGE (1950, 1970b).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

em Goiás entre as décadas de 1970 e 1980: a população rural chegou


a 1.459.076 habitantes, representando um decréscimo de 242.493
habitantes, em contraposição ao aumento de 1.163.990 habitantes
no meio urbano. Em 1970, a população urbana representava 42,1%
do total, passando para 62,2% em 1980. A Figura 23 inclui o esta-
do do Tocantins, emancipado em 1988, o que valoriza a participação
rural, já que os municípios da parte setentrional do antigo território
goiano-tocantinense tinham maior participação relativa na popula-
ção rural que os das partes meridional e central. A Figura 24, excluí-
dos os municípios do Tocantins, oferece um retrato mais aproximado
do que aconteceu abaixo do paralelo 13°. Entre 1970 e 1980, houve
um acréscimo de 967.033 pessoas no meio urbano e uma redução de
314.852 pessoas no meio rural.

[Tadeu Alencar Arrais]


106

É fundamental relacionar o quadro de urbanização mundial aos processos políticos e


econômicos e à ação do Estado nacional, pois a crescente concentração populacional
em áreas urbanas exige sua presença para atender às demandas de serviços básicos e
infraestrutura, típicas, em algumas formações sociais, do chamado Estado de bem-estar
social. Vejamos o caso brasileiro. A partir da década de 1930, o Estado começou a montar
uma rede de assistência pública para as áreas de educação e saúde, além de programas
de infraestrutura urbana e serviços sociais. Essa trajetória que data do início do século XX
acompanhou, de certa forma, a cultura de política urbana brasileira, especialmente com
a chamada universalização dos serviços de saúde e educação. Mas o fato é que, apesar
da universalização e, mais recentemente, dos programas de moradia para a população de
baixa renda, parte significativa das grandes cidades brasileiras ainda apresenta déficit ha-
bitacional e problemas de serviços básicos e infraestrutura urbana. Quando comparamos,
por exemplo, a situação brasileira com a de alguns países da África e da Ásia, especial-
mente aqueles inscritos na paisagem política pós-colonial, ficamos a imaginar o significa-
do trágico da urbanização, uma vez que as demandas de infraestrutura básica estão cada
vez mais longe de serem atendidas, a exemplo de Jacarta, retratada na figura acima. Mike
Davis oferece um retrato nada animador desse universo no livro Planeta favela, de 2006.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


107

3.500.000
3.000.000
2.500.000
2.000.000
Habitantes

1.500.000
1.000.000
500.000
0
Total Urbana Rural
1970 2.468.537 1.141.016 1.327.521

1980 3.120.718 2.108.049 1.012.669

Figura 24. População por local de residência em Goiás.


Fonte: IBGE (1980).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

O impacto da migração do campo para a cidade gerou o aumento


da concentração fundiária no campo e o déficit habitacional nas cida-
des. Os processos de valorização fundiária rural e urbana são conse-
quências da urbanização. Naquele momento, os interesses antagôni-
cos de atores sociais como os migrantes e os proprietários fundiários
começavam a se manifestar no universo urbano.
Mas quais são o significado e os motivos do incremento populacio-
nal nas cidades? Um primeiro dado a se avaliar são as diferenças na fe-
cundidade rural e urbana que acompanharam, de certa forma, as taxas
brasileiras. No Brasil dos anos 70, a fecundidade rural era de 7.8 e a
urbana, 4.7, padrão próximo daquele verificado em Goiás, cujas taxas
eram de 7.5 para o meio rural e de 5.2 para o urbano (IBGE, 1970b). A
conclusão é que, mesmo com a maior fecundidade no meio rural, hou-
ve um decréscimo populacional de 314.852 habitantes. Então, a fecun-
didade no meio urbano não seria suficiente para explicar o acréscimo

[Tadeu Alencar Arrais]


108 de 967.033 pessoas, um dado que anuncia a migração como fator pre-
ponderante. Trata-se dos movimentos migratórios campo-cidade esta-
dual, campo-cidade interestadual e cidade-cidade interestadual.24
Outros pontos a serem considerados são a fragmentação municipal e
a criação de áreas urbanas. Os resultados apresentados no Censo Demo-
gráfico de 1980 indicam uma população urbana de 78.824 pessoas para
municípios que não existiam na década anterior (IBGE, 1980). Entre-
tanto, é preciso salientar o impacto das fragmentações das décadas ante-
riores, pois existe uma correlação entre a conversão de áreas urbanas e
a consolidação de áreas de povoamento, a exemplo do Vale do São Pa-
trício. Em 1970, havia 169 municípios em Goiás. Desse total, 35 foram

24
Gomes, Teixeira Neto e Barbosa (2004, p. 63) assinalam a mineração, a ativida-
de agropastoril e as estradas como fatores decisivos de povoamento do território
goiano. Além desses, citam fatores secundários, assim descritos: “a) Postos adua­
neiros e de fiscalização. Antigamente eram conhecidos pelo nome de registros. Ge-
ralmente eram instalados nas regiões fronteiriças do território ou em pontos de
passagem de rios e em entroncamentos importantes de estradas e caminhos. Em
volta da maioria deles era comum surgir pequenas aglomerações – habitadas prin-
cipalmente por pequenos comerciantes –, algumas das quais se tornaram cidades
importantes, como, para citar apenas um exemplo, Itumbiara, no sul de Goiás. b)
Postos de policiamentos e vigia do território. Eram conhecidos inicialmente pelo
nome de presídios e, como os registros, localizavam-se em pontos estratégicos, so-
bretudo ao longo de rios, como Aruanã, em Goiás, e Araguacema, no Tocantins. c)
Pousos de tropas de boiadas. Eram pontos de paradas de rebanhos e tropeiros em
direção a outros estados para comercializar produtos goianos – gado em pé, couro,
carne seca, rapadura. Piracanjuba, a antiga Pouso Alto, no sul-sudeste de Goiás,
teve origem em ponto de pouso de tropas. d) Aldeamentos. Estes estabelecimentos
foram previamente construídos para que os religiosos catequizadores dos séculos
XVII e XVIII confinassem índios sob o pretexto de protegê-los contra a ação dos
predadores ou capitães-de-mato, que os capturavam para transformá-los em escra-
vos ou simplesmente eliminá-los a mando de ricos fazendeiros que queriam ocupar
suas terras. Dentre outras cidades, São José do Duro (Dianópolis), no estado do
Tocantins, e Mossâmedes, em Goiás, surgiram de aldeamentos indígenas”.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


criados em 1953 e outros 39 em 1958, sendo a maior parte instalada na 109

região de Mato Grosso de Goiás. É possível que a criação de municípios


tenha sido estimulada pela promulgação da Constituição de 1946 (Bra-
sil, 1946), que incluiu, além da autonomia municipal, dispositivos de re-
partição uniforme de recursos no território brasileiro. Conforme consta
no art. 15, § 4º, a União “entregará aos Municípios, excluí­dos os das
Capitais, dez por cento do total que arrecadar do imposto de que trata
o nº IV, feita a distribuição em partes iguais e aplicando-se, pelo menos,
metade da importância em benefícios de ordem rural”.
O imposto citado é o de renda e proventos de qualquer natureza. É
compreensível, portanto, que a tendência de crescimento tenha refle-
xo no território nacional, uma vez que foram criados mais de seiscen-
tos municípios no Brasil entre 1940 e 1963. O exemplo descrito ilustra
como uma ação normativa influencia a distribuição de recursos no ter-
ritório. Mas ainda existem os ingredientes regionais, que nos permitem
compreender a concentração populacional de Mato Grosso de Goiás. A
colonização oficial – por meio da Colônia Agrícola Nacional de Goiás,
que deu origem ao município de Ceres –, a oferta de terras baratas e
férteis em toda a região, a ebulição da fronteira – demonstrada pela che-
gada dos trilhos a Anápolis em 1935 – e a posterior ligação com o norte,
por via terrestre, com a construção da BR-153, favoreceram um intenso
povoamento por meio da migração e do posterior processo de emanci-
pação municipal. Essa trajetória foi comum em municípios da região, a
exemplo de Ceres, Rialma, Rubiataba, Carmo do Rio Verde e Uruana.
França (1985, p. 81) concebe formas de povoamento distintas na
medida em que considera duas regiões: “Velho” Mato Grosso de Goiás
e “Novo” Mato Grosso de Goiás. Sua argumentação é precisa:

Até 1910, as terras do Velho “Mato Grosso” foram praticamente apropria-


das pela formação de grandes fazendas. A partir de então, com o início da
construção da ferrovia e na medida em que ela foi se aproximando, as terras
se valorizaram. Os antigos proprietários se viram diante de duas alternativas:
aproveitar altos preços e realizar vantajosos negócios de terra ou integrar-se

[Tadeu Alencar Arrais]


110 no movimento de abertura de novas formas de cultivo. Abria-se, dessa manei-
ra, o mercado de terra com o parcelamento dos antigos latifúndios, geralmen-
te conhecidos como engenhos.

O “Velho” Mato Grosso de Goiás correspondia à região de influên-


cia direta de Goiânia, e o “Novo”, às regiões de Ceres, Jaraguá e Goia-
nésia. Outro ponto fundamental para o povoamento foi, sem dúvida, a
cidade de Anápolis. Não por acaso, seu acréscimo urbano, entre 1970 e
1980, foi menor apenas que aquele registrado na capital. Segundo Fais-
sol (1952), essas transformações econômicas influenciaram o movimen-
to da cidade – o autor cita, por exemplo, o “licenciamento de até duas
construções por dia”.
O aspecto mais interessante da urbanização goiana, entre as dé-
cadas de 1960 e 1980, foi a concentração espacial da população. Em
1960, a maior parte da população urbana residia em cidades da parte
meridional do estado. Na década seguinte, as dez cidades com maior
população urbana concentravam 55,21% do total. Esse porcentual
passou para 56,79% em 1980. Então, até mesmo em 1970, quando
Goiás ainda abrigava uma população rural maior, a concentração
manteve-se no mesmo patamar. A mudança ocorreu nos demais mu-
nicípios, uma vez que, em 1970, das 169 cidades goianas, apenas 22
apresentavam uma população urbana maior que a rural. Em 1980,
esse número subiu para 95 dentre 199 municípios, o que contribuiu
para o acréscimo no total urbano.

Tabela 5. População residente em municípios goianos selecionados, no perío­


do 1970-1980.

População População/1970 População/1980


Município
total/1960 Total Urbana Rural Total Urbana Rural
Goiânia 150.306 389.784 371.772 18.012 714.484 702.858 11.626
Anápolis 63.029 107.539 93.063 14.476 180.015 163.132 16.883

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


111
População População/1970 População/1980
Município
total/1960 Total Urbana Rural Total Urbana Rural
Itumbiara 48.979 64.666 34.343 30.323 73.177 59.024 14.153
Rio Verde 36.980 56.740 27.681 29.059 69.902 54.691 15.211
Jataí 27.985 42.772 27.864 14.908 53.387 42.909 10.478
Goianésia 23.042 41.352 14.524 26.825 32.887 23.526 9.361
Morrinhos 23.237 32.085 14.278 17.807 --- --- ---
Inhumas 21.985 30.444 16.786 13.658 31.423 23.568 7.855
Catalão 23.499 27.809 15.674 12.135 39.168 30.605 8.473
Trindade 13.265 22.749 13.972 8.777 43.296 29.645 13.651
Luziânia 23.247 --- --- --- 80.089 67.297 12.792
Total 455.554 815.940 629.957 185.983 1.317.828 1.197.345 120.483

Fonte: IBGE (1970b, 1980).


Nota: Dados trabalhados pelo autor.

A Tabela 5 serve de exemplo para uma leitura do conteúdo regio-


nal da urbanização, de forma que possamos reconhecer a hegemonia
de Goiânia na oferta de trabalho, bens e serviços, ou seja, de opor-
tunidades para migrantes que rumaram para a jovem capital políti-
co-administrativa. Trata-se, portanto, do primeiro gatilho da urba-
nização do território goiano, acionado pela migração campo-cidade
estadual e campo-cidade interestadual. Em 1970, os dez municípios
mais populosos de Goiás concentravam 77,20% da população urba-
na total, porcentual que passou para 90,85% em 1980. O saldo posi-
tivo em favor do urbano, entre 1970 e 1980, deve-se em muito à par-
ticipação de Goiânia, já que a cidade contribuiu com 331.086 pessoas
em domicílios urbanos, o que representou 34,23% do total da popu-
lação urbana de Goiás (Figura 25). Quando somamos a contribuição
de Anápolis, o total sobe para 41,07%, dado que aponta a concentra-
ção demográfica como uma das principais características do processo
de urbanização e peça-chave para o processo de industrialização.

[Tadeu Alencar Arrais]


112

50ºW

M
Araguaína

AR
Goiás

ANHÃO
Filadélfia


Goiatins

PA
Guaraí Pedro
Anápolis Araguecema Afonso

Lizarda

Goiânia
Pium Porto Nacional
Ponte Alta

do Norte
Gurupi
Cristalândia

Natividade
0 100 km

BAH I A
Peixe

Paranã Arraias
13º S
S O

LEGENDA Uruaçu
Cavalcante
O S

População (habitantes)
G R

Crixás Niquelândia
390.000

100.000
50.000 Formosa
20.000 Goiás Distrito
5.000
O

Federal
1.000
IS
T

Luziânia
A

RA
M

GE

Urbana
Caiapônia Cristalina

Rural Rio

Mineiros
0
% Jataí
Verde

75 25
Quirinópolis
MA S
50 TO MINA
G
DO ROSS 0 100 200 km
50ºW

SUL O
Escala gráfica

Figura 25. População total, urbana e rural de Goiás, em 1970.


Fonte: Brasil (1970b); Arrais (2011).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


Não se trata apenas do deslocamento de pessoas para as cidades, 113

mas do efeito dessa concentração na mão de obra e em novas relações


de trabalho. Nas cidades mais populosas, a especialização funcional
dos trabalhadores correspondeu à fragmentação do espaço para mo-
radia. A divisão do trabalho reverberou na divisão do espaço e o co-
tidiano anunciou a emergência do urbano a partir da concentração
dos elementos para a reprodução do capital e da força de trabalho. A
cidade polariza a escala regional e cria, a seu tempo, centralidades na
escala urbana. Segundo Lefebvre (1969, p. 20), a vida urbana “pres-
supõe encontros, confrontos das diferenças, conhecimentos e reconhe-
cimentos recíprocos (inclusive no confronto ideológico e político) dos
modos de viver, dos padrões que coexistem na cidade”.
Trata-se, primeiramente, de uma concentração de pessoas, o que
significa que Goiânia passou a estimular demandas, nas mesmas pro-
porções, de capitais fixos, bens e serviços, de meios de informação e
da atividade política institucional. Enfim, de uma gama de atributos
da modernização, tanto materiais quanto imateriais, que passaram a
influenciar a produção do território goiano. A reduzida variação do
padrão de concentração populacional indica que a gênese da atual
rede urbana do território já estava desenhada.
A partir de 1980, a migração para Goiânia passou a ser direciona-
da, num movimento de segunda origem, para municípios periféricos
como Aparecida de Goiânia, em função, especialmente, da valoriza-
ção fundiária na capital. Não por acaso, esse município presenciou
um dos maiores incrementos relativos da população urbana em 1980,
passando de 898 pessoas em 1970 para 20.719 em 1980 e 175.555
em 1991 (IBGE, 1991). O mesmo movimento, porém em escala me-
nor, ocorreu em municípios como Trindade e Senador Canedo. O
complexo regional urbano da Região Metropolitana de Goiânia pas-
sou a influenciar, sobremaneira, a urbanização do território goiano.
O Entorno do Distrito Federal, região com matriz de ocupação co-
lonial, preparou-se para uma das maiores transformações por que pas-
sou o território goiano. Em pouco tempo, áreas de pastagem e sítios

[Tadeu Alencar Arrais]


114 urbanos de origem colonial converteram-se conforme um padrão não
apenas urbano, mas metropolitano, já que os municípios se integravam,
em graus distintos, à capital federal. A questão fundiária está no cerne
dessa integração, pois o Entorno atendeu à demanda não solvável dos
migrantes e da população de baixa renda do Distrito Federal. Vejamos
o caso de Luziânia. Em 1970, sua população era de 9.521 habitantes,
passando para 67.297 em 1980 e 194.345 em 1991. A Figura 26 ilustra
o processo de fragmentação territorial. Em toda a região, a população
urbana somava 152.683 habitantes em 1980 e 370.939 em 1991, o que
correspondeu a 11,42% do total do estado, superando os 7,24% de
1980 e os 3,73% registrados em 1970.25 A região concentrava a maior
porcentagem de população não natural de nordestinos em 2000, fato
confirmado no Censo Demográfico de 2010 (IBGE, 2011).
Processo semelhante ocorreu em Águas Lindas de Goiás, eman-
cipada em 1995, ano em que registrou uma população de 105.746
habitantes. A urbanização do Entorno relaciona-se à polarização de
Brasília, pois os serviços na área de saúde, educação e até mesmo de
comércio especializado (eletroeletrônicos, concessionárias etc.), espe-
cialmente na década de 1980, ainda eram bastante concentrados no
Distrito Federal. Na última década, dois processos têm sido recor-
rentes em relação à urbanização do Entorno: o primeiro é a presença
de empreendimentos imobiliários nos municípios do quadrante sul,
a exemplo de Valparaíso de Goiás, que atendem à demanda solvável
do Distrito Federal; o segundo é a construção de centralidades em

25
Paviani (1987, p. 37) descreve o processo de incorporação de áreas do município
de Luziânia: “Assim, é a partir dos anos 70, principalmente após 1975, que se dá
a grande expansão rumo à periferia do DF. Claro está que, ao longo da década de
1960, muitas transações imobiliárias se efetuaram em Luziânia, mas elas tiveram o
primeiro efeito de quebrar o uso da terra anterior, basicamente agropecuário. Era
como se os primeiros movimentos de um gigantesco tabuleiro de xadrez ensejas-
sem os atrativos iniciais para um movimentado jogo posterior”.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


municípios como Luziânia, Formosa, Cristalina e Santo Antônio do 115

Descoberto, que são resultado da dinâmica do mercado de serviços


em associação com a cadeia do agronegócio.26
A urbanização do Sudoeste Goiano e do Sudeste Goiano foi mar-
cada pela emergência de cidades com mais de 50 mil habitantes e
com destacado perfil agropecuário. Jataí e Rio Verde, que apresenta-
vam taxas de incremento urbano desde 1960, consolidaram uma rede
urbana regional e presenciaram, juntamente com seu crescimento, o
processo de conversão de áreas de pecuária extensiva em áreas de cul-
tura temporária – esse fenômeno exigiu, a partir da década de 1960,
intenso processo de tecnificação. São, portanto, resultado da moderni-
zação agrícola, pois a mudança na estrutura regional ocorreu através
da incorporação de insumos e de implementos agrícolas importados.
No Sudoeste Goiano, a migração de mineiros e paulistas foi determi-
nante para o arranjo regional. Itumbiara, ao sul, favorecida pela liga-
ção com Uberaba, no Triângulo Mineiro, desenvolveu-se na fronteira
do rio Paranaíba como ponto de sustentação da atividade agrícola,
função aprofundada nas décadas posteriores. No Sul Goiano, forma-
do por áreas do Sudeste e Sudoeste brasileiros, é que observamos com
mais clareza o perfil de urbanização marcada pela polarização do que
podemos chamar de cidades funcionais, ou seja, cidades com funções
suficientemente concentradas para atender a um mercado regional e
norteadas por serviços especializados em nichos econômicos especí-
ficos, que podem ser agricultura, pecuária ou até mesmo mineração.

26
A intensa migração pendular de pessoas dos municípios do Entorno para o Distrito
Federal provoca reações diversas, especialmente nos discursos políticos, sobre os
problemas gerados. Tais reações, não raro, invertem a lógica, culpando os migran-
tes pelos problemas da região. Arrais (2008b) levanta algumas questões sobre essa
discussão, dentre as quais a dependência do Distrito Federal no abastecimento de
água e no fornecimento de energia que provêm do território goiano, além do fluxo
de mão de obra que implica consumo nas diferentes regiões do Distrito Federal.

[Tadeu Alencar Arrais]


116

48º O
49º O

47º O
48º O
49º O

47º O
Água Fria de Goiás
Vila Boa 15º S

Mimoso de Goiás

Padre
Vila Propício Bernardo
Planaltina
de Goiás
Formosa

Águas Lindas
de Goiás
Cocalzinho
de Goiás
Brasília
DF Cabeceiras
Pirenópolis
Corumbá de Goiás 16º S

Alexânia Cidade Ocidental


Novo
Sto. Antônio Gama

I S
Abadiânia do Descoberto
Valparaíso
G E R A
LEGENDA
Limites municipais – 1940
Luziânia
Pirenópolis

Corumbá de Goiás
Cristalina
Luziânia

Planaltina
17º S
Formosa

Cristalina S
A
Limites municipais – 2005 N
I
M

Escala gráfica
20 20 40 60km

Projeção policônica

Figura 26. Limites municipais da microrregião do Entorno do Distrito Federal, em


1940 e 2005.
Fonte: IBGE (1950, 1991).

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


No Norte Goiano, o conjunto de cidades com população inferior 117

a 10 mil habitantes nas décadas de 1970 e 1980 assistiu à consoli-


dação da BR-153, que adentrou o norte no sentido longitudinal. Em
pesquisa sobre a rede de influência dessa região em 2009, Arrais et al.
(2010) constataram a densidade de relações de troca mercantis en-
tre os pequenos municípios e, ao mesmo tempo, as dificuldades en-
frentadas pelas comunidades rurais, em função, especialmente, das
condições de trafegabilidade das estradas intermunicipais. Porangatu,
Uruaçu, Minaçu e Niquelândia formam, por assim dizer, o quadro de
influência regional, complementado pelos municípios de Ceres, Goia-
nésia e Jaraguá. As populações das quatro primeiras cidades sofreram
pouca variação entre 1970 e 1991, demonstrando quadros mais está-
veis, com peso nos setores de serviços, agronegócio e, particularmen-
te, mineração. Tais cidades inscrevem-se no quadro de influência de
Ceres e Goianésia.
Além das 246 cidades dispersas no território goiano, há centenas
de comunidades reconhecidas por leis orgânicas municipais como dis-
tritos, povoados e aglomerados. A toponímia dessas localidades revela
sua relação com a natureza, com o universo da fazenda e com aspec-
tos religiosos. Nomes como Linda Vista (Cezarina), Alto Alegre (Mai-
riporã), Pedra Funda (Vianópolis), Girassol (Cocalzinho de G ­ oiás),
Campo dos Perdizes (Buriti de Goiás), Lobeira (Paraúna), Santa Ma-
ria (Flores de Goiás), Campo Limpo (Campinaçu) e Lagolândia (Pi-
renópolis) são alguns exemplos da riqueza de denominações e do
equivalente universo de símbolos e sociabilidade que envolve essas
comunidades e suas relações de troca com as cidades. As pequenas
localidades, marcadas pela religiosidade e pelo encontro motivado
pelo calendário festivo, vêm recebendo atenção da geografia goiana
(Silva, R., 2008; Curado, 2011; Lôbo, 2011). Rusvênia Silva (2008,
p. 90-91), com base em um estudo sobre os distritos goianos Cibele
e Caiçara, apresenta um argumento interessante sobre a dinâmica da
vida nessas comunidades, que pode ser generalizado para parte signi-
ficativa do território goiano:

[Tadeu Alencar Arrais]


118 Seja como vila, pouso, patrimônio-agrícola, povoados, ou até mesmo co-
mércio, o que caracteriza a existência desses lugares – além da indefinição
da nomeação – é justamente a multiplicidade de funções que se traduzem,
a cada tempo, nas diferentes atividades neles exercidas. De certo modo, a
convivência entre operações antagônicas: moderno/rudimentar e exporta-
ção/subsistência sempre foi presença constante nestas vilas. A religiosida-
de, a possibilidade do encontro e o estabelecimento de trocas comerciais
e de dádivas existenciais, a realização das festividades, de casamentos, en-
terros e demais rituais domésticos – íntimos e sociais – coletivos produzem
uma dinâmica social que se recria a cada tempo, desenhando no espaço
essas alterações.

É em um território pontilhado por aglomerados, cidades, vilas e


povoados que o urbano é anunciado em Goiás. Mas não se trata de
um urbano que se constrói sob os escombros do rural, mas que se
edifica a partir dele e com ele, seja por meio da conversão de áreas
rurais em áreas urbanas, seja a partir do consumo de insumos e ma-
quinários ou até mesmo da demanda estimulada para atender às ne-
cessidades por alimentação, fornecimento de energia e de água, lazer
etc. Se, na sociedade contemporânea, como anotou Lefebvre (1991),
a técnica adquire um caráter determinante, então é possível imaginar
que os elementos técnicos que possibilitaram a modernização favore-
cem a complexificação das relações cidade-campo, mesmo porque os
espaços rurais são portadores de menor carga de rugosidades (Santos,
1997) e, portanto, estão abertos às inovações.27

27
Santos (1994a, p. 43) assim se refere à relação cidade-campo: “O capital cons-
tante que, antes, era um apanágio das cidades, sobretudo naquelas onde se
concentrava a produção industrial, passa, também, a caracterizar o próprio
campo, na forma de implementos, fertilizantes e inseticidas, máquinas e semen-
tes selecionadas”.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


Urbanização contemporânea 119

A Tabela 6 ilustra situações semelhantes, pois os municípios selecio-


nados têm proporção maior de população urbana. A análise norma-
tiva indica que todos os municípios são urbanos, mas não revela o
conteúdo dessa urbanização porque toma quadros estatísticos como
sinônimos da realidade. Ainda assim, a partir de argumentos distin-
tos, podemos considerá-los urbanos.
Segundo o Censo Demográfico de 2010, Alto Horizonte, no Norte
Goiano, é um dos 154 municípios do estado com população inferior
a 10 mil habitantes (IBGE, 2011). O município figura entre aqueles
com maior participação do setor industrial no PIB em virtude da mi-
neração do cobre, que o tornou, a partir de 2008, um dos maiores
exportadores goianos. A mineração resultou no incremento da receita
municipal e na ampliação dos equipamentos de consumo coletivo e
de infraestrutura urbana. A extração do cobre ocorre em áreas que
distam em média 10 quilômetros do perímetro urbano – entretanto,
é nesse espaço que notamos os impactos sociais e econômicos da ati-
vidade. Dois deles, facilmente percebidos em outros municípios com
perfil minerador, como Nova Crixás, Crixás e Minaçu, são a valori-
zação fundiária e o aumento nas locações de imóveis. O mercado de
trabalho tornou-se mais especializado em função das demandas da
empresa mineradora, que passou a ser um ator social hegemônico no
município. Além da mão de obra local e regional, composta por mi-
grantes de municípios vizinhos, há forte arrefecimento da economia
local, especialmente no setor de serviços, o que impacta a arrecada-
ção do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN). O
repasse da CFEM representa um incremento considerável na receita
municipal. Por exemplo, o valor da cota-parte da CFEM para Alto
Horizonte em fevereiro de 2010, equivalente a 1.357.739,26 reais, foi
superior ao repasse anual do Fundeb, equivalente a 869.703,66 reais.
Municípios com perfil de enclaves da mineração articulam-se com o
mundo por meio das trocas comerciais.

[Tadeu Alencar Arrais]


120 Tabela 6. População residente e pib de goiás, em municípios selecionados.

População – 2010 Participação no PIB por setor – 2009


Município
Total Urbana Rural Serviços Indústria Agricultura
Alto Horizonte 4.505 3.863 642 50.992 211.727 6.775
Alto Paraíso 6.854 5.202 1.662 22.285 3.507 8.890
Goianápolis 10.681 9.677 1.004 32.405 6.966 5.056
Rio Verde 176.502 163.621 12.881 1.448.776 1.062.206 273.425

Fonte: Goiás (2009a); IBGE (2010a).


Nota: Dados trabalhados pelo autor.

O contexto de Alto Paraíso é semelhante aos da Cidade de ­Goiás,


de Pirenópolis e de outros municípios que utilizam os atributos do sí-
tio municipal para estimular o turismo ecológico, histórico e/ou gas-
tronômico. Uma característica marcante é a mobilidade de pessoas
vindas de diversos locais do país, assim como do exterior. Alto Paraíso
abriga o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, repleto de tri-
lhas ecológicas, cachoeiras e formações rochosas com caráter cênico.
O discurso do ecoturismo, nascido de uma demanda urbana moderna,
funcionaliza espaços rurais, e, por conseguinte, comunidades de peque-
nos agricultores passam a agregar valor turístico a suas propriedades.
A análise do perfil ocupacional da mão de obra de Alto Paraíso de-
monstra, ainda, destacada participação nos setores de alimentação, ho-
telaria e serviços suplementares ao turismo. O município convive com
a influência de cidades como Brasília e Goiânia, além de uma agenda
de eventos culturais que a torna bastante frequentada por turistas dos
demais estados brasileiros. Outro ponto a ser destacado nos municípios
com perfil turístico refere-se à presença de domicílios ocasionais. Como
demonstra a Figura 27, Caldas Novas registrou, em 2010, o maior nú-
mero absoluto do território goiano e Rio Quente, o maior número rela-
tivo, chegando a 45,7% do total de domicílios (IBGE, 2011). A segunda
residência, portanto, é um dado a ser considerado no estudo das rela-
ções cidade-campo, especialmente em municípios com perfil turístico.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


121
16.000
14.000
12.000
10.000
Domicílios

8.000
6.000
4.000
2.000
0
Caldas Pirenó- Rio Três Alto
Novas Goiás polis Quente Aruanã Ranchos Paraíso

14.152 1.266 1.180 1.077 907 673 460

Figura 27. Número de domicílios de uso ocasional em municípios goianos seleciona-


dos, em 2010.
Fonte: IBGE (2011).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

Goianápolis é um típico município inscrito na lógica metropolita-


na pelo viés da agricultura. Sua área territorial, de 162 quilômetros
quadrados, não revela sua importância para a agricultura metropoli-
tana. Apesar de apresentar maior população urbana que rural, conta
com uma destacada participação das atividades rurais em sua econo-
mia. Em decorrência disso, sua articulação com a capital é feita a par-
tir das trocas econômicas geradas por sua produção de hortaliças. O
município foi responsável, em 2009, por 10,49% da oferta na Central
de Abastecimento do Estado de Goiás (Ceasa-GO). Seu ponto forte, a
produção de tomates, atende a três demandas: feiras locais de Goiânia,
Ceasa e empresas de alimentação, especialmente de atomatados, loca-
lizadas em Goiânia e Nerópolis. Considerando-se apenas a oferta de
tomate, a ­Ceasa recebeu, em 2009, remessas de 28 municípios, sendo a
maior parte localizada em um raio de 70 quilômetros da capital (Goiás,

[Tadeu Alencar Arrais]


122 2009b). Os espaços rurais próximos a Goiânia, cuja estrutura fundiária
é menos concentrada, atendem à demanda do abastecimento para o pe-
queno e grande varejo, assim como o da indústria de alimentação.
Rio Verde é um exemplo das dificuldades de se separar a cidade
do campo, seja do ponto de vista da localização das unidades indus-
triais, seja do ponto de vista do perfil ocupacional ou até mesmo da
caracterização da paisagem regional. Há muito é possível reconhecer
gradientes de transformação industrial nas áreas rurais. A localização
das agroindústrias nos arrabaldes das cidades ou até mesmo em áreas
rurais – já estamos tratando de complexos que funcionam em redes
e dispõem de armazéns, postos de coleta e processamento – requer
deslocamento de mão de obra assalariada da cidade para o campo.
De igual modo, a economia da cidade se organiza em função da lo-
gística demandada pelo agronegócio, bastando para isso verificar os
serviços especializados que atendem à demanda rural. Por tal moti-
vo, o peso da indústria de transformação é de difícil contabilidade.
Interessante é que, embora Rio Verde figure na lista dos municípios
com a maior produção de grãos e um dos maiores rebanhos de bovi-
nos, suínos e aves, o setor primário exerceu menor influência no PIB,
já que representou 22% do seu total em 2007 (Goiás, 2010b). Con-
siderando o número de empregos formais registrados no município
em dezembro de 2009, constatamos que a indústria da transformação
ofereceu 26,97% do total, o que equivale a 12.251 empregos. Desse
porcentual, a profissão de magarefe – que lida com corte de carnes –
representou 50,59% ou 6.199 empregos formais, o que dá a ideia da
importância do abate de aves e suínos (MTE, 2010).
Diante do exposto, conclui-se que não é mais possível, na análise
econômica, considerar os setores da economia (primário, secundário,
terciário) de forma estanque, sem levar em conta suas capilaridades.
O setor de serviços encontra-se intimamente ligado à agropecuária;
ademais, seria preciso, nessa contabilidade, considerar o perfil do em-
prego a partir do domicílio, pois muitos funcionários das fazendas re-
sidem nas cidades. Quando atuam no espaço municipal e regional, os

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


atores sociais ligados aos grupos agroindustriais não separam o rural 123

do urbano; ao contrário, essas escalas estão presentes em suas estraté-


gias de maximização dos lucros.
Em uma primeira análise, os quatro municípios mencionados, pas-
síveis de generalização para parte significativa do território goiano,
retratam realidades díspares do ponto de vista da forma, mas não das
funções. É a função que revela o conjunto de ações dos diferentes ato-
res sociais, na medida em que tanto campo quanto cidade são refun-
cionalizados para atender às demandas contemporâneas do capital.
Conforme assinala Santos (2008, p. 127), a cidade

torna-se lócus da regulação do que se faz no campo. É ela que assegura a


nova cooperação imposta pela nova divisão do trabalho agrícola. Porque ela
é obrigada a se afeiçoar às exigências do campo, respondendo às suas deman-
das cada vez mais prementes e dando-lhe respostas cada vez mais imediatas.
Como o campo se torna cada vez mais diferenciado pela multiplicidade de
objetos geográficos que o formam, pelo fato de que esses objetos geográficos
têm, conforme já vimos, um conteúdo informacional cada vez mais distinto (o
que se impõe porque o trabalho no campo é cada vez mais carregado de ciên-
cia), tudo isso faz com que as cidades locais deixem de ser a cidade no campo
e se transformem na cidade do campo.

Tais exemplos estariam incompletos sem uma referência ao perfil


regional, o que implica considerar as mudanças conjunturais na eco-
nomia. Santos (1994a) aborda o conceito de socialização dos meios
de produção e consumo. Está certo o autor, pois os circuitos de pro-
dução e consumo ultrapassam – e os exemplos atestam esse fato – os
limites formais entre urbano e rural, que geralmente são baseados em
análises isoladas do domicílio no estudo dos setores da economia ou
no perfil ocupacional da população. Essa hipótese confirma-se quan-
do observamos, na escala regional, o movimento de incremento urba-
no nos municípios, que é explicado, em grande medida, pela emergên-
cia e/ou reestruturação das atividades econômicas. O impacto dessas
atividades é mais relevante nos municípios com menor população e

[Tadeu Alencar Arrais]


124 que são, portanto, mais dependentes, por exemplo, da instalação de
um complexo frigorífico ou de uma empresa mineradora.
Todavia, há outras evidências para demonstrar a complementari-
dade entre campo e cidade. As Figuras 28 e 29 ilustram as relações
de troca a partir da origem dos insumos e do destino da produção
agrícola. São suficientes para evidenciar as relações monetárias não
apenas entre regiões, mas, sobretudo, entre campo e cidade, na me-
dida em que a comercialização e os segmentos burocráticos governa-
mentais de pesquisa, fiscalização e controle da produção agropecuária
se encontram territorializados nas cidades.
Essas figuras, exemplares para parte significativa do território
goiano, revelam que as fronteiras estão permeadas de fluxos de mer-
cadorias e informação, um indicativo das ações dos atores sociais
(empresas do segmento agroindustrial, indústrias química e mecâ-
nica, varejo especializado etc.) na produção do território. Tais fron-
teiras representam não apenas complementaridades, mas, sobretudo,
hierarquia e subordinação, demonstrando um sistema de trocas de-
sigual já anunciado no início do século XX. Representam, de igual
forma, o circuito da cadeia produtiva agropecuária, tendo a cidade
como ponto difusor (técnica, informação, mão de obra etc.); pode-
mos considerar a comercialização de sementes, rações, maquinário,
defensivos e vacinas, além do fornecimento de energia elétrica e óleo
diesel. Para o processo de tecnificação é imprescindível a atuação de
profissionais com formação superior, como veterinários, engenhei-
ros e agrônomos, além de técnicos de nível médio, vendedores espe-
cializados, administradores com formação em finanças, seguridade e
logística etc. O setor agropecuário cria demandas para a indústria,
especialmente de renovação do capital constante, a exemplo das
máquinas de processamento de óleos e leite, das colheitadeiras, dos
tratores etc. O que chega aos consumidores finais, seja no mercado
regional ou internacional, é produto dessas relações de trabalho que
ocorrem tanto no campo quanto na cidade.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


125

Figura 28. Destino da produção agropecuária no Brasil, em 2007.


Fonte: IBGE (2007b).

[Tadeu Alencar Arrais]


126

Figura 29. Origem dos insumos da produção agropecuária brasileira, em 2007.


Fonte: IBGE (2007b).

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


127

20.633
Novo Gama
21.433
Formosa
23.048
Trindade

Valparaíso 38.021
de Goiás
51.798
Águas Lindas
33.464
Luziânia
59.950
Rio Verde
46.528
Anápolis
119.365
Aparecida
de Goiânia
201.685
Goiânia

0 500.000 1.500.000 2.000.000


Incremento Número de habitantes
2010
2000

Figura 30. Municípios goianos com maior incremento populacional absoluto, de


2000 a 2010.
Fonte: Brasil (2009); IBGE (2011).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

A partir dessas relações de hierarquia e complementaridade, a


dinâmica demográfica foi alterada em um curto intervalo de tem-
po, especialmente nos municípios com menos de 20 mil habitantes.
Os dados do Censo Demográfico de 2010 indicam que, entre os dez
municípios com maior incremento demográfico proporcional em re-
lação ao ano 2000, sete abrigam população inferior a 20 mil habi-
tantes (IBGE, 2011). Na verdade, o incremento demográfico deve ser

[Tadeu Alencar Arrais]


128

53.759
Águas Lindas
Santo Antônio 1.584
de Goiás
3.518
São João D’Aliança
31.294
Senador Canedo
1.214
Rio Quente
4.544
Flores de Goiás
1.444
Baliza
1.541
Alto Horizonte
15.347
Goianira

Chapadão 3.226
do Céu

0 50.000 100.000 150.000 200.000

Incremento Número de habitantes


2010
2000

Figura 31. Municípios goianos com maior incremento populacional relativo, de 2000
a 2010.
Fonte: Brasil (2009); IBGE (2011).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

relativizado por dois motivos: primeiro, em face do intervalo de dez


anos, prazo elástico para o estabelecimento de padrões de crescimen-
to demográfico; segundo, em virtude da relação entre o incremento
absoluto total e o relativo, levando em consideração as mudanças
conjunturais na economia que atingem de forma diferente municípios
com menos de 20 mil habitantes ou até mesmo aqueles localizados na
Região Metropolitana de Goiânia e no Entorno do Distrito Federal.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


129

Fotografia: O autor (2010).

“No meio rural, a terra é meio de produção. O preço no mercado é definido pela apropria­
ção, propriedade, características do solo, trabalho produtivo nela empregado, rentabilidade,
tipo de produto, localização, máquinas e utensílios agrícolas, produtos químicos utilizados.
A terra rural é também utilizada para outros usos como moradia, estradas, escolas, postos
de saúde, inclusive para represamento de águas utilizadas no urbano, tanto como fonte de
energia como de abastecimento. Contudo, a sua função primordial está relacionada ao setor
primário da economia. Na cidade, a terra é fundamentalmente suporte de atividades do
secundário, terciário, concentra diferentes tipos de edificações, equipamentos e os meios
de consumo coletivo (hospitais, escolas, postos de saúde etc.), meios de circulação e, em
especial, moradias, que em geral ocupam mais de 70% do solo urbano. O preço da terra
urbana, das edificações, no mercado, é definido pela apropriação, propriedade, parcela-
mento, edificação, localização dos terrenos, edificações, equipamentos, infraestrutura, zo-
neamento, áreas de preservação histórica, ambiental e normas de ordenamento territorial,
elaboradas pelo poder municipal” (Rodrigues, 2007, p. 95).

A figura mostra uma propriedade rural localizada na divisa entre Goiânia e Goianira. Ao
fundo ainda é possível ver, entre os postes de concreto, o cultivo de milho. Na área da
propriedade estão previstos 2 mil lotes com área média de 23o metros quadrados. Cada
lote é comercializado por aproximadamente 60 mil reais, o que significa que o negócio
fundiário renderá, sem considerar os juros e reajustes anuais, 120 milhões de reais. Difi-
cilmente essa propriedade, se comercializada de porteira fechada, atingiria tal valor.

[Tadeu Alencar Arrais]


130 Na Figura 30, como era de se esperar, aparecem em primeiro lugar
os municípios mais populosos do território goiano e inscritos nos am-
bientes metropolitanos, exceto Rio Verde, no Sudoeste Goiano. Já na
Figura 31, verifica-se um padrão de incremento urbano mais heterogê-
neo. A única correspondência refere-se ao município de Águas Lindas
de Goiás, que foi o décimo em crescimento relativo e o quinto em cres-
cimento absoluto. O que se nota é que o incremento relativo foi maior
nos municípios com menos de 20 mil habitantes, como Chapadão do
Céu, Alto Horizonte, Baliza, Flores de Goiás, Rio Quente e São João
D’Aliança. O conjunto de fatores ligados às atividades produtivas, seja
da agricultura, em Chapadão do Céu, seja dos assentamentos, em Flores
de Goiás, seja da mineração, em Alto Horizonte, explicam o incremento
populacional. Mas o fato a que devemos estar atentos é a demanda ur-
bana estimulada nos municípios com esse perfil, uma vez que as respec-
tivas populações necessitam de serviços e infraestrutura urbanos.
A Figura 32, que mostra a tipologia dos municípios, revela pou-
cas mudanças em relação aos anos anteriores, uma vez que a concen-
tração continua presente na Região Metropolitana de Goiânia e no
Entorno do Distrito Federal. Os nove municípios com mais de 100
mil habitantes aglomeram 48,97% da população total do território
goiano, ao passo que os 194 municípios com menos de 20 mil habi-
tantes representam 20,78% do total. O padrão de povoamento segue
os eixos da BR-060 e da BR-153. Aspecto interessante é que, em todas
as regiões do território goiano, há municípios com menos de 10 mil
habitantes, o que confirma a heterogeneidade da ocupação. Contudo,
a Figura 32 não representa as funções, pois estas nem sempre corres-
pondem ao peso da população total.
A correlação entre dinâmica demográfica e economia nos direciona
para o conceito de rede urbana que é demonstrativo das chamadas
interações espaciais. Segundo Corrêa (2010, p. 279), estas

constituem um amplo e complexo conjunto de deslocamentos de ­pessoas, mer-


cadorias, capital e informação sobre o espaço geográfico. Podem apresentar

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


maior ou menor intensidade, variar segundo a freqüência de ocorrência e, con- 131
forme a distância e direção, caracterizar-se por diversos propósitos e se realizar
através de diversos meios e velocidades.

48º O

46º O
47º O
49º O
52º O
53º O

51º O

50º O
T O C A
N T I N S
13º S 13º S

I A
14º S 14º S
O
S

B A H
S
O
R

15º S 15º S
G
O
T
A

DF
M

16º S 16º S

S
A I
G E R
17º S 17º S

18º S

A S
M AT
O GR I N
19º S OS
M 19º S
SO
DO 50 0 50 100 150 km
SU
L
46º O
52º O

50º O
53º O

Escala gráfica

LEGENDA
Habitantes
Acima de 500.000
101.000 a 500.000
50.001 a 100.000
20.001 a 50.000
10.001 a 20.000
5.001 a 10.000
0 a 5.000

Figura 32. Tipologia populacional dos municípios goianos, em 2010.


Fonte: IBGE (2011).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

[Tadeu Alencar Arrais]


132 A análise das interações espaciais, traduzidas em modelos geomé-
tricos de interpretação da rede urbana, revela hierarquias espaciais.
Essa perspectiva de estudo já vigorava na década de 1940, como reve-
la Mombeig (1943, p. 21) em seu balanço sobre a evolução dos estu-
dos da geografia urbana e sobre as funções urbanas:

A função urbana não é menos interessante numa cidade pequena do que


numa capital; é aí menos difícil de estudar e seus diferentes elementos decom-
põem-se mais facilmente. É a função comercial, ligada à presença dos meios
de transporte, mais freqüentemente, a razão de ser das pequenas cidades do
interior: fazendeiros, colonos, sitiantes, aí trazem suas colheitas e aí compram
roupas, possuem postos (produtos químicos, farmacêuticos, casas de fazendas
como as “Pernambucanas”, depósitos de fumo e cigarro etc.).

O estudo da rede urbana, além de demonstrar as articulações entre


campo e cidade, testemunha as transformações econômicas em escala
local, regional, nacional e internacional. Singer (1987, p. 141) alerta
para o fato de que, no estudo da economia urbana, nenhuma cidade
pode ser considerada de forma isolada, pois

a cidade não pode produzir nem os alimentos para sua população nem a ma-
téria-prima para sua indústria. As atividades que fornecem tais produtos – a
agricultura e a indústria extrativa – têm que ser desenvolvidas junto aos re-
cursos naturais, o que impõe uma ampla dispersão dos que nelas ocupam o
espaço. Elas são, por isso, incompatíveis com as condições urbanas (pelo me-
nos enquanto a produção sintética de alimentos e matérias-primas não estiver
completamente desenvolvida).

Por isso, trata-se de uma visão sistêmica que torna possível com-
preender os rebatimentos da economia no espaço por meio da análise
dos fluxos e das hierarquias constantemente reconstruídas. Tais hie-
rarquias são determinadas a partir da verificação do número e da in-
tensidade dos relacionamentos entre as cidades. Em alguns casos, essa
perspectiva de análise resultou numa visão naturalizada das redes. Es-
tudos da rede urbana foram e são competentes no sentido de definir

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


a geometria dos relacionamentos, mas não bastam para identificar o 133

motivo das mudanças nas hierarquias que decorrem de vários fatores,


dentre elas a atuação das forças do mercado e a do Estado. Segundo
Corrêa (2010, p. 20), é através

da rede hierarquizada de localidades centrais, isto é, das numerosas cristaliza-


ções materiais diferenciadas do processo de distribuição varejista de serviços,
que se realiza, em um amplo território sob o domínio do capitalismo, a arti-
culação entre produção propriamente dita e consumo final.

A evolução da rede urbana goiana pode ser compreendida, nas úl-


timas décadas, com base nos estudos realizados pelo IBGE. Em 1972,
foi publicado Divisão do Brasil em regiões funcionais urbanas (IBGE,
1972) e, em 1993, Regiões de influência das cidades (IBGE, 1993).
O mais recente, publicado em 2007, recebeu o mesmo título (IBGE,
2007b). Os dois últimos estão representados nas Figuras 33 e 34. O
estudo de 1972 não apresenta cartogramas, mas sim um sistema de hie-
rarquização em planilhas. Eis sua referência à rede urbana de Goiânia:

Sua rede, abrangendo quase todo o estado de Goiás, estende-se também pelo
leste de Mato Grosso e vai ganhando área de Salvador no planalto ocidental
baiano por sua ação conjugada com Brasília. Tem uma área de 920.941 qui-
lômetros quadrados, população de 3.226.501 habitantes e densidade de 3,5
habitantes por quilômetro quadrado. (IBGE, 1972, p. 23).

Brasília então ocupava a categoria Centro Regional B, juntamente


com Anápolis, sendo Goiânia a cabeça de rede. Contudo, naquele pe-
ríodo, a capital do país ainda estava em processo de estruturação, fato
reconhecido nos estudos posteriores, quando passou a ocupar os mais
altos níveis na hierarquia urbana brasileira, em função, especialmente,
de seu estatuto político-administrativo. Palmas não existia, o que im-
plicou a construção de novas polaridades para o antigo Norte Goia-
no, posteriormente emancipado para a formação do estado do Tocan-
tins. Desde então, outros centros vêm se consolidando, especialmente
ao longo da BR-153, a exemplo de Paraíso, Araguaína e Gurupi.

[Tadeu Alencar Arrais]


134

55º O

50º O
5º S

45º O
Imperatriz

Tocantinópolis MA
PA Xinguara
Araguaína
Balsas
Redenção
Colinas do
Tocantins PI
Pedro Afonso
Miracema
do Tocantins Palmas
Paraíso 10º S
do Tocantins Porto Nacional

Gurupi TO
Barreiras
Dianópolis

BA
MT
Campos Belos
Porangatu

GO Posse

Ceres
Formosa 15º S
Barra do Garças
Inhumas
DF
Iporá Anicuns Unaí
Anápolis
Brasília
São Luiz
dos Montes Belos Goiânia Paracatu
Morrinhos
Mineiros
Jataí Rio Verde Catalão
Itumbiara MG
MS
Escala gráfica
0 150 300 450km
Projeção policônica SP 20º S

Áreas de atuação de Goiânia e Brasília


LEGENDA
Goiânia
Equador Máximo
Forte
Forte p/ médio
Médio
Médio p/ fraco
GO
20º S

Tr ópico de
Brasília
C apric
órnio Muito forte
670 1.340km Médio
Escala gráfica
Médio p/ fraco
50º O
70º O

Fraco

Figura 33. Níveis de centralidade das cidades goianas e de Brasília e respectivas regiões
de influência, em 1993.
Fonte: IBGE (1993).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


135

Marabá

55º O

50º O
Imperatriz 5º S

45º O
Xinguara MA
PA Tocantinópolis

Araguaína

Balsas
Redenção Colinas do
Tocantins
PI
Pedro Afonso

Paraíso Palmas 10º S


do Tocantins
Porto Nacional

Gurupi TO
Dianópolis

Barreiras
Por
to MT BA
Velh
o Campos Belos
Porangatu
GO Posse

Uruaçu

Barra do Garças 15º S


Inhumas Ceres
Cuiabá Anicuns DF
Iporá
Anápolis Brasília
São Luiz Unaí
dos Montes Belos Caldas
Goiânia Novas Paracatu
Mineiros Rio
Verde Morrinhos
Jataí
Catalão MG
MS Quirinópolis
Itumbiara
Escala gráfica 20º S
0 150 300 450km LEGENDA
Projeção policônica Goiânia (metrópole regional)
SP
Áreas de atuação de Goiânia e Brasília
Máximo

Muito forte
Equador

Forte
Forte p/ médio
Médio
Médio p/ fraco
GO Brasília (metrópole nacional)
20º S

Tr ópico de Máximo
C apric
órnio
Forte p/ médio
670 1.340km

Escala gráfica Médio


50º O
70º O

Médio p/ fraco

Figura 34. Níveis de centralidade das cidades goianas e de Brasília e respectivas regiões
de influência, em 2007.
Fonte: IBGE (2007b).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

[Tadeu Alencar Arrais]


Evolução da rede urbana brasileira
136

Fonte: Geiger (1963).

A ideia de rede urbana como expressão de movimento territorial não é nova. O próprio
conceito de rede remete às noções de movimento, fluxo, cruzamento, nó e cartograma.

A figura extraída de um clássico estudo de Geiger (1963) revela as áreas de influência das
regiões urbanas. Observa-se que a parte meridional do território goiano, com uma rede ur-
bana em processo de estruturação, encontrava-se sob a influência da região de São Paulo.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


No estudo de 1993, o nível máximo de centralidade foi atribuído 137

a Goiânia e o nível classificado como forte, a Anápolis, Araguaína e


Imperatriz (MA). No Sul Goiano, o destaque era Itumbiara, que já
consolidara sua rede de inter-relações com o Triângulo Mineiro. Ou-
tro conjunto de cidades, como Rio Verde, Catalão e Ceres, apresentou
grau de influência médio. Do lado leste do território goiano, a influên­
cia majoritária era de Brasília, e Formosa, Posse e Campos Belos ti-
nham polarização fraca no espaço regional.
No estudo publicado em 2007, que seguiu uma metodologia seme-
lhante, Goiânia aparece como Metrópole 1C, cuja região de influência
é superior a 835 mil quilômetros quadrados; esta corresponde a uma
população superior a 6 milhões de habitantes. O espaço de influência
compreende extensas áreas do Tocantins, do sul do Maranhão e do
oeste da Bahia. Palmas é alçada à condição de capital regional, com
ligações capilares com as várias regiões do território tocantinense. Os
centros sub-regionais goianos são Anápolis, Itumbiara e Rio Verde,
este último apresentando, em relação ao estudo de 1993, maior nível
de centralidade.
É por tudo isso que a rede urbana auxilia na análise da urbaniza-
ção, pois expõe as articulações entre os centros urbanos, as do espaço
urbano com o espaço rural e desses com os espaços globais. Não há
mais uma linearidade nas relações, pois até mesmo os espaços rurais
podem se integrar, por intermédio de redes de diversas ordens, aos
espaços globais. Integrar-se significa subordinar-se ao mercado inter-
nacional, na medida em que o próprio vocabulário do produtor mu-
dou para se adequar aos padrões financeiros – não é por acaso que o
termo commodities seja tão utilizado nos círculos produtivos. A ima-
gem, a projeção, portanto, serve para várias escalas (urbana, regional,
nacional, internacional), motivo para negar as visões maniqueístas en-
tre rural e urbano. Ao contrário do discurso sobre o isolamento e o
atraso, componentes discursivos da ruralização, verificamos uma con-
tínua integração, e as três constatações a seguir são suficientes para
rever isso, até mesmo em um território com forte perfil agropecuário:

[Tadeu Alencar Arrais]


138 1. A ampliação da oferta de equipamentos de consumo coletivo
ocorre em todas as regiões do território goiano. As escolas e
os postos de saúde são exemplos dessa tendência nos pequenos
municípios, pois atendem aos espaços rurais e se articulam com
eles, mesmo que, em muitos casos, de forma precária. Institui-
ções de ensino superior com características de polos regionais
estão presentes em todas as regiões do território goiano e em
cidades com perfis econômicos e demográficos diferenciados. A
Universidade Estadual de Goiás (UEG) tem mais de quarenta
unidades, incluindo os polos; os Institutos Federais de Educa-
ção, Ciência e Tecnologia (IFCT) localizam-se em municípios
como Uruaçu, Anápolis, Luziânia, Rio Verde, Jataí, Goiânia e
Itumbiara, assim como a UFG, sem contar as instituições priva-
das que ofertam ensino superior. A oferta de serviços privados
– agências bancárias, lotéricas, bancos postais e lojas de ele-
trodomésticos –, por sua vez, é uma realidade crescente em to-
das as regiões do território goiano. Não é incomum a presença
de revendas de consórcios de motocicletas em municípios com
menos de 30 mil habitantes; esse fato, juntamente com a facili-
dade de crédito, explica a crescente utilização desse veículo no
espaço rural. Constata-se, pois, que esses municípios entraram
para a agenda de atenção dos grupos econômicos financeiros.
2. A ampliação das relações financeiras em todos os municípios
é demonstrada pelo número de cadastros na previdência urba-
na e rural e pelas relações de crédito na área agrícola, mesmo
quando se trata de pequenas propriedades. A previdência rural
e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Fa-
miliar (Pronaf) capitalizaram o campo. Dito de outro modo,
a circulação do dinheiro de pessoas com vínculos com o cam-
po reverbera nas cidades. No Norte Goiano, por exemplo, a
presença dos assentamentos, em vez de remeter a situações de
isolamento, exerce peso político e importante papel no aqueci-
mento da economia municipal. No caso da previdência rural,

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


uma questão é interessante. Em 2009, dos 246 municípios 139

goianos, 143 apresentaram um benefício rural cujo valor supe-


rava o do benefício urbano, muito embora sua população ur-
bana seja maior que a rural (MPS, 2009). O registro de domicí-
lios de agricultores nas cidades justifica essa situação.
3. A ampliação das redes de comunicação e de transporte e a
universalização da eletrificação rural aumentaram significa-
tivamente o consumo de eletrodomésticos e eletroeletrônicos
adquiridos no varejo regional. Em 1995, havia 72.835 consu-
midores de energia elétrica rural em Goiás, número que pas-
sou para 137.458 em 2005 e para 163.099 em 2009 (Goiás,
2009a). Dados do IBGE (2011) apontam que, dos 1.886.264
domicílios do território goiano em 2010, apenas 12.544 não
dispunham de energia elétrica. Dados do Censo Agropecuário
de 2007 revelam que 20.697 propriedades rurais em Goiás têm
televisão com antena comum, 83.796 têm antena parabólica e
4.079 têm computador, das quais 1.344 contam com acesso à
internet (IBGE, 2007a).
Então, além da extrema fragmentação que tornaria possível admi-
tir a existência de cidades isoladas e espaços rurais arcaicos, convive-
mos com uma lógica de ampliação das relações cidade-campo, com-
preensão reforçada pela análise da rede urbana. No lugar de um hiato
entre o campo e a cidade, a contemporaneidade criou uma ponte de
conexões. Isso não significa que não haja diferença, por exemplo, nos
padrões de ocupação do solo urbano ou até mesmo nas atividades
ocupacionais. O padrão fundiário da cidade atende, além das tradi-
cionais atividades produtivas, às demandas por habitação, seu prin-
cipal uso – tanto que foi necessário cunhar a expressão “solo cria-
do”. Em resumo, cria-se espaço nas cidades. No campo, o padrão
fundiário, dominado por atividades primárias – agricultura, pecuá-
ria e mineração –, exige a ocupação de extensas áreas. A dinâmica
que se estabelece no campo, considerando o uso do solo, tem relação
com a ampliação horizontal e vertical da produtividade por meio da

[Tadeu Alencar Arrais]


140 utilização de insumos químicos e mecânicos, além do melhoramento
de sementes. Moraes, Árabe e Silva (2008, p. 26) assim caracterizam o
campo contemporâneo:

Há uma agricultura familiar ultradinâmica, organizada em cooperativas e


multicooperativas. Há uma agricultura familiar vinculada a agroindústrias
processadoras por contratos mais ou menos formalizados, que reduzem incer-
tezas e custos de transação. Há uma terceira agropecuária familiar, também
razoavelmente moderna e capitalizada, que produz para subsistência e para
importantes mercados regionais. Há, enfim, o universo da agricultura de sub-
sistência, que mal chega (quando chega) ao mercado da aldeia vizinha, com
parcos excedentes comercializáveis.

É preciso destacar, ainda, a partir da perspectiva de análise desen-


volvida por Xavier (2010, p. 32) em trabalho sobre os boias-frias no
município de Goianésia, a relação entre o cotidiano e a reprodução
das relações de produção através da apropriação do tempo-trabalho,
da moradia e do lazer:

É na cidade que os “boias-frias” realizam o consumo, pagam por diversas


mercadorias necessárias à reprodução da força de trabalho. Pelo acesso à
água, à energia, ao aluguel. Permitem a sobrevivência de um comércio local,
realizam consultas médicas em clínicas conveniadas à usina, adquirem pro-
dutos de estabelecimentos também conveniados à usina, como farmácias e
outras. Recebem seus salários e movimentam suas contas em um banco de
propriedade dos usineiros. [...] Ademais, são eleitores.

O universo cotidiano de exploração do trabalho e de realização


da mais-valia ocorre em parte significativa do território goiano, tendo
em vista que usinas, granjas, frigoríficos e mineradoras utilizam ex-
pedientes semelhantes para ampliar sua lucratividade. Com isso, não
queremos dizer que a inserção nesse mundo urbano de um residente
da cidade de São Paulo seja a mesma de um habitante de Uirapuru,
no Norte Goiano. E as diferenças podem ser muitas, a começar pela

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


densidade ou, dito de outra forma, a antropização, para lembrar um 141

conceito recorrente em Veiga (2002). Nesse trabalho, o autor assina-


la os problemas da concepção de urbanização brasileira, chegando à
conclusão de que o Brasil é menos urbano do que se pensa. Sua con-
clusão, especialmente para aqueles que não conhecem o conteúdo do
Decreto-Lei n.º 311, de 1938 (Brasil, 1938), pode despertar atenção.
A dúvida que persiste é se o quadro das decisões políticas, no âmbito,
por exemplo, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, do Ministé-
rio da Integração Nacional ou até mesmo do Ministério da Educação
são influenciados pelo filtro do referido decreto-lei ou dos resultados
de agregação estatística do IBGE. Carlos (2004, p. 130), ao criticar o
estudo de Veiga (2002), salienta:

O que o Autor parece ignorar é que cidade e campo se diferenciam pelo con-
teúdo das relações sociais neles contidas e estas, hoje, ganham conteúdo em
sua articulação com a sociedade urbana, o que demonstra, por exemplo, o
desenvolvimento do que chama pluriatividade. Portanto há na conclusão do
Autor uma inversão: no Brasil a constituição da sociedade urbana caminha
de forma inexorável, não transformando o campo em cidade, mas articulan-
do-o ao urbano de um “outro modo”, redefinindo a antiga contradição cida-
de/campo: este é a meu ver o desafio da análise. Significa dizer que o processo
atual de urbanização não se mede por indicadores referentes ou derivados da
taxa anual de crescimento da população urbana, e muito menos pela estrita
delimitação do que seria urbano e rural, como faz o Autor.

A densidade, especialmente aquela traduzida pela fórmula área/ha-


bitante, não revela a natureza das relações sociais nem mesmo da pro-
dução do espaço. Pouco adianta, portanto, perseguir padrões i­deais
de densidade. O mesmo raciocínio se aplica à delimitação do períme-
tro urbano. Abramovay (2000, p.6) afirma, acertadamente, que “a ru-
ralidade é um conceito de natureza territorial e não-setorial”. Com o
urbano ocorre o mesmo. Não é a definição legal que cria e reproduz
espaços urbanos e/ou rurais, mas sim a natureza da produção/apro-
priação do território, que é cada vez mais relacional.

[Tadeu Alencar Arrais]


142 Os processos econômicos influenciam diretamente as dinâmicas demográficas, o que
pode ser constatado pela avaliação do crescimento demográfico, do padrão migratório
ou da estrutura etária populacional de determinado território. Vejamos o exemplo do
município de Campos Verdes, localizado no Norte Goiano. Sua emancipação ocorreu
em 1989, motivada pelo garimpo de esmeraldas que atraiu trabalhadores de diversas
partes do país. Em 1991, sua população era de 16.648 habitantes, passando para 8.057
em 2000 e 5.022 em 2010. A efervescência do garimpo refletiu não apenas na economia,
mas também na ocupação do espaço urbano, que abrigou comércio e serviços privados
dos mais diversos. Atualmente, dos 2.326 domicílios registrados pelo Censo Demográfico
de 2010, 117 foram classificados como de uso ocasional e 530 como domicílios vagos, o
que representa 27,81% dos domicílios do município, porcentagem sem par no território
goiano. Como mostra a fotografia a seguir, na região do garimpo, que dista menos de
um quilômetro da principal avenida da cidade, a paisagem é de desolação, com casas
e comércios abandonados, o que denuncia as sombras da riqueza passada. A estrutura
etária também exemplifica o impacto da migração, já que a proporção de idosos em 2010
cresceu principalmente em virtude do decréscimo populacional nas faixas abaixo de 44
anos, independentemente do gênero, o que indica a migração familiar.

Fonte: Fotos do autor, novembro de 2009.


Fotografia: O autor (nov. 2009).

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


O que nos esforçamos para demonstrar é que a natureza da inte- 143

gração responde às demandas da sociedade contemporânea, levando-


-nos a pensar mais em articulação entre cidade e campo do que em
oposição, seja no sentido ambiental, econômico ou cultural. Intera-
ções ecológicas, vislumbradas por meio da poluição dos recursos hí-
dricos e do consumo intensivo de agrotóxicos no campo, afetam o
meio ambiente urbano, do mesmo modo que o lançamento de esgoto
sanitário e de resíduos industriais em rios que cortam cidades afeta
as área rurais. De forma semelhante, problemas em determinada sa-
fra prejudicam o varejo e a renda local. O calendário festivo urbano
é bastante influenciado pelo universo rural. Vejamos, por exemplo, o
número de festividades em municípios que unem ruralidade e religio-
sidade, como é o caso das folias de reis em Goiânia, documentadas
por Almeida (2011).
Na investigação das relações cidade-campo (realidade material) e
urbano-rural (realidade psicossocial do capitalismo contemporâneo),
não podemos nos comportar como arqueólogos, escavando e procu-
rando nos cantos da cidade uma espécie de homo ruralis. Tal visão ro-
mântica quase sempre é acompanhada de uma narrativa de resistência
à grande metrópole, na busca por uma espécie de enclave que repre-
sentaria uma rejeição ao urbano. Devemos ter a clareza de que campo
e cidade são espaços produzidos com intencionalidades e conflitos e
que uma agenda de mudanças sociais deve conter, sem dúvida, essas
especificidades, sem que incorra em reducionismos e maniqueísmos.

[Tadeu Alencar Arrais]


Metropolização

Conceito de metropolização

Há uma estreita ligação entre o conceito de metropolização e as dinâ-


micas territoriais. Aliás, uma das questões em comum nos estudos da
área é a contextualização da polarização econômica e demográfica nos
diferentes territórios nacionais. Em Veltz (1999), por exemplo, perce-
bemos que o debate francês sobre a metropolização envolveu a centra-
lização dos empregos e da produção, que, por sua vez, acompanhou a
concentração demográfica na Île-de-France. Assim, a problemática da
metropolização se inscreve no campo político, uma vez que a concen-
tração econômica, resultado de políticas de fomento à industrializa-
ção, e os desafios da governabilidade nos espaços metropolitanos são
assuntos recorrentes nos debates. A mesma perspectiva de análise é en-
contrada na literatura brasileira, como atestam os estudos organizados
por Ribeiro (2000, 2004) e os anais de eventos da Associação Nacio-
nal de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional (Anpur).
A palavra “metropolização”, resultado da junção dos substantivos
femininos “metrópole” e “ação”, fornece pistas de que se trata de um
processo de extensão, uma ação, uma atração, um exercício de força
146 sobre determinado território. Observada dessa forma, a metrópole é
transformada em sujeito que exerce uma força centrípeta, influencian-
do, quando não determinando, as relações econômicas e sociais sobre o
território nacional – este compreendido a partir de uma rede hierárqui-
ca de cidades, não dos conflitos resultantes da produção do território.
Todavia, é uma força relacional, pois existem complementaridades de
trocas comerciais e de força de trabalho entre a metrópole e outras ci-
dades inseridas na mesma rede urbana. Por tal motivo podemos definir
metropolização como uma das formas de realização de um processo
maior, que é a urbanização. A emergência da forma metropolitana não
é apenas efeito do ocaso da sociedade agrária, mas da modernização
territorial, que não prescindiu da articulação entre campo e cidade.
Mas quais seriam as especificidades do atual processo de metropo-
lização, já que a compreensão histórica da função das grandes metró-
poles, como Londres, sempre implicou uma relação hierárquica com o
território nacional?
De fato, se analisarmos a influência de Londres com base nas des-
crições de Engels (1985) ou até mesmo de Hobsbawm (1982), nota-
mos, desde muito cedo, a proeminência da metrópole vitoriana, arti-
culando um sistema de redes nas diversas escalas – regional, nacional,
continental e mundial. Entretanto, a questão dos desafios da gover-
nabilidade não é nova, pois Geddes (1994) abordou esse aspecto no
início do século XX. Do ponto de vista histórico, a metrópole abrigou
as mutações no mundo do trabalho e da produção. Não por acaso,
a capital vitoriana era demarcada pela imagem lúgubre das fábricas
e dos cortiços. Se antes, no século XIX, as poucas metrópoles foram
caracterizadas como centros de produção industrial, agora, no século
XXI, são demarcadas pela territorialização, nas dimensões econômi-
cas e culturais, dos processos de globalização e inovação, sem con-
tar ainda o forte peso industrial. Sassen (1998) concebe as metrópoles
contemporâneas a partir dos predicados financeiros, como sedes de
corporações e bancos, além do conteúdo informacional que favorece
o fluxo de capitais, características presentes em cidades como Nova

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


York, Londres, Tóquio, Paris, Frankfurt, Zurique, Amsterdã, Sydney, 147

Hong Kong, São Paulo e Cidade do México.28 Ao se referir à função


dessas cidades, Sassen (1998, p.17) argumenta:

A intensidade das transações entre as cidades citadas, sobretudo através dos


mercados financeiros, investimentos e fluxos dos serviços, aumentou consi-
deravelmente, assim como a ordem e a magnitude do processo. Ao mesmo
tempo, firmou-se uma profunda desigualdade na concentração dos recursos
e atividades estratégicas, entre cada uma dessas cidades e outras cidades do
mesmo país.

No Brasil, o reconhecimento da metropolização esteve atrelado ao


processo de concentração demográfica e de produção em decorrência
da industrialização, fato assinalado por Santos (1979). Seguindo essa
linha de argumentação, é possível identificar a hegemonia da metró-
pole a partir do processo de modernização do consumo, da produção
e da infraestrutura nacional, que permitiu a integração por meio da
ampliação das trocas regionais – fato exemplar no caso de São Paulo.
Na década de 1960, os municípios de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo
Horizonte e Salvador abrigavam uma população total de 6.102.406
habitantes, o que representava 8,6% da população total do Brasil;
esse porcentual subiu para 17,76% em 1970, quando o país atingiu
uma população de 70.121.000 habitantes (IBGE, 1970d). Contudo,

28
Nas duas últimas décadas surgiu uma série de conceitos que procura decifrar as
formas de desenvolvimento territorial, tendo como foco a cidade. Dentre esses
conceitos podemos citar “cidades globais”, de Sassen (1998), “cidades regiões-glo-
bais”, de Scott et al. (2001), “Estados-regiões”, de Ohmae (1996) e “metápoles”,
de Ascher (1998), além da “pós-metrópole”, de Soja (2008). Em comum entre
todos esses conceitos estão as seguintes ideias: a cidade é um ambiente inovador,
existem dificuldades institucionais no trato das demandas locais e, por isso mesmo,
a análise e a caracterização do espaço, seja para intervenção ou reflexão, devem
incluir os contextos regionais.

[Tadeu Alencar Arrais]


148 os números referem-se aos municípios de forma isolada, posto que os
recortes metropolitanos, próprios do início da década de 1970, não
foram considerados. Apenas a Região Metropolitana de São Paulo,
recuando aos recortes administrativos atuais, abrigava 8.139.730
habitantes em 1970. Então, o diagnóstico territorial daquela década
apontava para uma concentração populacional no Centro-Sul brasi-
leiro, com precedentes históricos – São Paulo, desde o final do século
XIX, já assistia a um processo de concentração demográfica acompa-
nhado pela acumulação de capital e, concomitantemente, pela subor-
dinação, via sistema de trocas regionais, das demais regiões brasilei-
ras, processo este analisado por Cano (1977).
A concentração industrial e demográfica, somada aos problemas
resultantes do intenso processo de integração territorial, justificou
o reconhecimento do governo federal, através da promulgação da
Lei Complementar n.º 14, de 8 de junho de 1973 (Brasil, 1973), de
oito regiões metropolitanas, compostas por capitais e outros muni-
cípios: São Paulo (mais 36 municípios), Belo Horizonte (mais treze
municípios), Porto Alegre (mais treze municípios), Recife (mais oito
municípios), Salvador (mais sete municípios), Curitiba (mais treze
municípios), Belém (mais um município) e Fortaleza (mais quatro mu-
nicípios). No entanto, é necessário compreender a estratégia de cen-
tralização das políticas urbanas, própria do período militar, e o con-
dicionamento, descrito no art. 6º da lei, da prioridade de obtenção
de recursos e financiamentos para os municípios que compõem as
­regiões metropolitanas. Os processos de integração territorial foram
reconhecidos na legislação para fins de ação integrada. O art. 5º des-
taca as ações de interesse metropolitano:

I – planejamento integrado do desenvolvimento econômico e social;


II – saneamento básico, notadamente abastecimento de água e rede de esgotos
e serviço de limpeza pública;
III – uso do solo metropolitano;
IV – transportes e sistema viário;

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


V – produção e distribuição de gás combustível canalizado; 149
VI – aproveitamento dos recursos hídricos e controle da poluição ambiental,
na forma que dispuser a lei federal;
VII – outros serviços incluídos na área de competência do Conselho Delibera-
tivo por lei federal. (Brasil, 1973).

Figura 35. Regiões metropolitanas do Brasil, em 2007.


Fonte: IBGE (2009).

[Tadeu Alencar Arrais]


150 Duas questões merecem consideração. A primeira é a perspectiva
homogeneizante que embasou uma mesma política de atuação para
todas as metrópoles, o que antecipou uma das principais agendas da
intervenção metropolitana: a mobilidade coletiva. A segunda é a falta
de referência na legislação à questão habitacional, fato destacado por
Azevedo e Guia (2000). De qualquer forma, é preciso pensar a traje-
tória institucional relacionada aos processos políticos e econômicos,
o que fez, por exemplo, com que a Constituição de 1988 transferisse
a prerrogativa do estabelecimento de regiões metropolitanas, em seu
art. 25º, § 3º, para os estados (Brasil, 1988). Azevedo e Guia (2000, p.
535) abordam tal momento institucional:

Forjada numa conjuntura na qual a grande questão era a celebração de um


novo pacto federativo, institucionaliza mecanismos de descentralização e de-
mocratização da gestão, aumentando consideravelmente a autonomia finan-
ceira dos estados e, especialmente, dos municípios.

O efeito da alteração na legislação foi a mudança da imagem das


regiões metropolitanas brasileiras, como indica a Figura 35. Um claro
exemplo são as recentes regiões metropolitanas do Sudoeste do Ma-
ranhão e do Cariri, cujos municípios de maior peso demográfico, em
2010, eram Imperatriz, com 247.553 habitantes, e Juazeiro do Norte,
com 249.936 habitantes, respectivamente (IBGE, 2011). Outra novi-
dade, prevista no art. 43, consiste na ação prioritária em “complexo
geoeconômico e social, visando a seu desenvolvimento e à redução
das desigualdades regionais”, sob o condicionamento da União (Bra-
sil, 1988). Leis complementares criaram a Região Integrada de De-
senvolvimento do Distrito Federal (Ride-DF), a Região Integrada de
Desenvolvimento de Juazeiro e Petrolina (Ride-Juazeiro e Petrolina)
e a Região Integrada de Desenvolvimento da Grande Teresina (Ride-
-Grande Teresina). Fator em comum entre essas regiões é a convivên-
cia de mais de um nível de institucionalidade. A Ride-DF compreen-
de municípios goianos e mineiros, o governo do Distrito Federal e o

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


governo federal ou até mesmo a Ride-Juazeiro e Petrolina, na frontei- 151

ra da Bahia com Pernambuco.29


É nesse contexto político e econômico que cidades situadas em es-
paços considerados periféricos, como o território goiano, passam a se
inscrever na agenda de discussão metropolitana, por exercerem forte
polarização em relação aos espaços regionais. Além disso, há questões
fundamentais referentes à formação territorial goiana que justificam
nossa decisão de priorizar a discussão sobre metropolização, dentre
as quais destacamos: a) Goiânia, uma cidade planejada, motivou in-
tenso processo de migração e de valorização fundiária, fatores deter-
minantes para a condição de oferta de moradia, especialmente nas
áreas distantes dos perímetros planejados; b) o perfil econômico clás-
sico da metropolização, motivado pela industrialização, não se encai-
xa no quadro urbano e regional de Goiânia, uma vez que os serviços,
o comércio e a administração pública foram e continuam sendo ativi-
dades econômicas de maior proeminência; c) é comum a concepção
de que o planejamento não logrou os resultados esperados em Goiâ-
nia, perspectiva que não localiza o planejamento nos marcos políticos
do processo de acumulação – algo alertado por Vesentini (1987) em
estudo sobre Brasília.
Enfim, para desvendar o processo de metropolização de Goiânia
e sua influência no território goiano, para além da consideração das
tipologias presentes em estudos como Regiões de influência das cida-
des, é preciso lançar mão de uma narrativa que considere os determi-
nantes de sua formação territorial.

29
Ao referir-se ao processo de democratização e à institucionalização das metrópo-
les, Villaça (1997, p. 3) declara: “De qualquer maneira, criou-se no Brasil a ilusão
de que a instituição de regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas traria, por
si só, alguma vantagem ou ‘status’ aos municípios delas integrantes. Não há, em
nossa legislação, nada nesse sentido. Nem na federal nem nas dos estados (pelo
menos dentre os principais)”.

[Tadeu Alencar Arrais]


152

50º00´ Oeste 49º00´ Oeste

Jaraguá
Goyaz Pirenópolis Corumbá
53º00´ Oeste
Itaberaí São Francisco
16º00´ Sul 53º00´ Oeste

S. José de 16º00´ Sul

Goialina
Mossâmedes Catingueiro N. S. da
Grande Abadia

Inhumas
Anicuns Annapolis
Cerrado
São
Geraldo
Nazário

Trindade Campinas Bonfim


Aparecida
Palmeiras
S. Sebastião do
Sto. Antônio Bela Vista
Ribeirão
17º00´ Sul das Grimpas Orizona
Água Limpa 17º00´ Sul

Pouso Alto
Sto. Antônio
do Alegrete Pires do Rio

Santa Rida
do Pontal

Caldas Novas Ipameri


Morrinhos
Águas Quentes
49º00´ Oeste
50º00´ Oeste
LEGENDA
Capital do Estado
0 25 50 km
Sede do município
Distrito,vila ou povoado Projeção policônica
Limite municipal

Estrada de rodagem Cartografia digital: José Vandério Cirqueira Pinto (2008).

Figura 36. Estradas de Goiás, em 1920.


Fonte: Ortêncio (1983); Chaul (1999); Goiás (2003).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


Formação territorial 153

O Recenseamento de 1920 registrou 163 estabelecimentos rurais em


Campinas e 221 em Trindade. Os dois municípios, no mesmo ano,
abrigavam 13.610 pessoas (Brasil, 1926). Ao observarmos a Figura
36, não deixamos de notar as estradas que ligam Campinas ao Sul
Goiano, utilizadas para o transporte de gado, de gêneros alimentícios
e de produtos manufaturados para atender à demanda do comércio
local – a título de exemplo, havia uma estrada que ligava Santa Rita
do Paranaíba (atual Itumbiara) a Trindade.
Mas por que utilizar essas informações no início de um estudo so-
bre a formação territorial de Goiânia, quando o mais convencional se-
ria partir da narrativa da mudança da capital? Há um motivo para
isso. Frequentemente, quando pesquisamos a formação territorial de
Goiânia, encontramos mais referências ao processo de transferência da
capital. É possível deduzir que o discurso construído sobre a genealo-
gia de Goiânia obliterou a história espacial da região, pois essa come-
çaria na antiga capital e não em sua própria latitude, região densa de
relações sociais comuns na parte meridional do território goiano.
A literatura sobre os motivos da mudança da capital é farta, espe-
cialmente em se tratando de história e urbanismo (Chaul, 1997, 1999;
Ribeiro, 2004). De maneira geral, como resumimos em outro momen-
to (Arrais, 2007a), a mudança da capital respondeu a três demandas:
como estratégia geopolítica de transferência e consolidação do poder
representado pela figura de Pedro Ludovico Teixeira, como “supor-
te urbano de uma frente de expansão rural” (Bertran, 1988, p. 98) e
como recurso simbólico representativo de um Brasil integrado, preo-
cupado com o interior.
A nova capital marcou a redenção de um projeto regional – as-
censão das forças modernizantes do Sul Goiano – que foi amparado
e, de certa forma, apropriado pelo discurso de integração nacional
da Marcha para o Oeste, posterior à fundação de Goiânia: para
esse discurso, a nova cidade representaria a busca da brasilidade.

[Tadeu Alencar Arrais]


154 Assim nasce uma cidade compreendida, do ponto de vista da for-
ma, como moderna, porém fincada em um território de tradição
agropastoril, o que não era novidade em parte significativa do terri-
tório nacional (Chaveiro, 2001). O alento da modernidade urbana,
antes de se materializar no chão vermelho, ocupou o discurso de
Godói (1942, p. 47):

A cidade moderna, quando se lhe proporcionam todos os elementos da vida


e ao seu estabelecimento e à sua expansão se prende um plano racional, isto
é, que obedece às determinações do urbanismo, é um centro de cultura, de
ordem, de trabalho e de atividades bem coordenadas. Ela educa as massas
populares, compõe-lhes e orienta-lhes as forças e os movimentos coletivos
e desperta energias extraordinárias entre os que aí vivem e ficam sob sua
influência civilizadora.

A trajetória institucional da nova cidade, compreendida a partir do


Decreto n.º 3.359, de 18 de maio de 1933, que aborda a demarcação
do sítio urbano, do Decreto n.º 3.547, de 6 de julho de 1933, que
estabelece o plano piloto, bem como do Decreto n.º 3.929, de 21 de
outubro de 1933, que normatiza o lançamento da pedra fundamental,
é um indicativo das transformações por que passava a região.30
Quais foram os impactos regionais provocados pela nova cidade?
Em que ela se diferenciava da experiência urbana da época?
A lógica constante da edificação de Goiânia era a de planejar
para evitar os problemas da antiga capital, fato compreensível, já
que tudo na nova cidade deveria ser diferente dos sítios coloniais.
A topografia plana, elemento fundamental na conformação da pai-
sagem urbana, dava a tônica do que a nova cidade deveria ser. Uma
comparação dos perfis topográficos latitudinais da Cidade de G ­ oiás
e de Goiânia demonstra como a topografia poderia influenciar a

30
Os vários decretos da década de 1930 são encontrados, na forma de anexos, nos li-
vros Como nasceu Goiânia (Monteiro, 1979) e Goiânia global (Sabino Júnior, 1980).

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


vida cotidiana. O sítio urbano plano e provido de uma farta rede de 155

drenagem, com campos de cerrado e matas de galeria, logo ganhou


os contornos de avenidas largas e calçadas construídas para carros
que não existiam. As condições ecológicas aliadas ao discurso sa-
nitarista justificavam, no âmbito ideológico, a mudança, ocultan-
do, dessa forma, as disputas oligárquicas regionais. O primeiro Pla-
no Diretor de Goiânia, como consta no relatório de Atílio Correa
Lima (apud Monteiro, 1979), dedicou atenção especial ao traçado,
cuja marca era o aproveitamento da topografia para evitar a velo-
cidade do escoamento das águas e favorecer o efeito de perspectiva
do plano radial concêntrico. Outra novidade era o zoneamento. O
urbanismo da cidade não fugiria às influências da época, pois, do
mesmo modo que a divisão do trabalho nas fábricas, respondia ao
momento político e econômico de um mundo cada vez mais espe-
cializado e funcional.

O zoneamento da cidade é feito procurando satisfazer as tendências moder-


nas, de localizar os diversos elementos da cidade em zonas demarcadas a fim
de não só obter a melhor organização dos serviços públicos, como também,
para facilitar certos problemas técnicos, econômicos e sanitários, não se fa-
lando aqui na estética. (Lima apud Monteiro, 1979, p. 140).

Assim surgiam e foram sendo povoados o Centro Administrativo,


o Centro Comercial, a Zona Industrial e a Zona Residencial. Os ser-
viços e equipamentos de consumo coletivo dispostos no núcleo cen-
tral da cidade lembravam ao passante que aquele município seria a
marca de um novo tempo. Não nascera da atividade industrial, mas
sim da “vontade” de um redentor, e passara a representar não apenas
uma cidade, mas o esforço do estado para entrar na modernidade.
As transformações na paisagem intraurbana oferecem pistas das
transformações regionais, especialmente no que toca à valorização
fundiária. Podemos dizer que Goiânia se constituiu em um “am-
bicioso patrimônio”, pois, por trás das formas urbanas, além da

[Tadeu Alencar Arrais]


156 perspectiva religiosa que encerravam, existia uma estratégia de va-
lorização das terras por parte dos fazendeiros doadores. Do pon-
to de vista do negócio fundiário, sempre foi lucrativo transformar
hectare em metro quadrado e, igualmente, reservar um estoque de
terras para futuros parcelamentos. Goiânia se instalou a partir de
dois processos básicos: doação e venda de terras para construir
o sítio da nova capital. Como consta nos registros de doação re-
produzidos em Monteiro (1979), os fazendeiros abriram mão de
aproximadamente 70 alqueires de terra para formar o perímetro
urbano, o que era pouco quando consideramos a área média das
propriedades do município de Campinas, que era de 97.500 hecta-
res. O Recenseamento de 1920 (Brasil, 1923) e a Ata de Doação de
Terras, lavrada em março de 1932, demonstram as correspondências
entre os doadores e proprietários de fazendas, a exemplo de Maria
Alves Magalhães e Urias Alves Magalhães, proprietários da fazenda
Crimeia, Andrelino de Moraes, proprietário da fazenda Botafogo, Li-
cardino de Oliveira Ney, proprietário da fazenda Catingueiro e Oc-
tavio Tavares de Moraes, proprietário da fazenda Caveiras. A Figura
37 indica a localização das fazendas mais próximas ao plano piloto, o
que corrobora nossa afirmação de que Goiânia se transformou em um
excelente negócio fundiário, tanto para os fazendeiros quanto para o
Estado. Esse fato foi reconhecido pela criação do Departamento de
Propaganda e Vendas de Terras, pelo Decreto n.º 4.739, de 20 de ju-
nho de 1934, que atuava no perímetro do plano piloto.31

31
Relatório apresentado por Solon de Almeida, Superintendente da Seção Cadastral,
em junho de 1936, revela que, em 1934, foram comercializados 65 lotes (44 na
zona residencial e 21 na zona comercial) e, em 1935, 763 lotes (276 na zona co-
mercial, 485 na zona residencial e 1 na zona industrial). Os dados, apresentados
por Monteiro (1979), demonstram um forte aumento nas transações imobiliárias.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


157

Figura 37. Terras adquiridas pelo estado de Goiás para a implantação de Goiânia.
Fonte: Daher (2003).

[Tadeu Alencar Arrais]


158 Tabela 7. Valor das terras de cultura, abrangendo terras de vários tipos, em 1946 (Cr$).

Município Próximo à sede municipal Um pouco afastado Muito afastado


Goiânia 20.000,00 12.000,00 2.200,00
Anápolis 4.000,00 3.500,00 3.000,00
Anicuns 5.000,00 4.000,00 3.500,00
Goiás 500,00 550,00 600,00
Inhumas 4.000,00 3.500,00 2.000,00
Itaberaí 5.000,00 3.000,00 1.500,00
Trindade 5.000,00 3.000,00 1.000,00
Jaraguá 5.000,00 3.000,00 1.000,00

Fonte: Faissol (1952).

A valorização fundiária, na escala regional, reproduziu-se na escala


intraurbana, com o inflacionamento dos lotes. A Tabela 7 mostra que
as terras mais próximas da capital tinham valores nove vezes superio-
res aos das terras afastadas. A valorização ocorreu nos demais municí-
pios indicados, com exceção da Cidade de Goiás, onde as terras mais
afastadas aparecem mais valorizadas. Possivelmente tratava-se de terras
localizadas a leste da antiga capital, portanto mais próximas de Goiâ-
nia. A valorização ocorreu de forma radial, tendo como cume as áreas
centrais da nova capital. A crescente oferta e a consequente valorização
das terras justificavam-se por um fato simples. Goiânia, depois de insta-
lada em 1933, incorporou não apenas a área do município de Campi-
nas, mas também de Hidrolândia, Ribeirão (atual Guapó), São Geraldo
(atual Goianira) e Trindade, que se transformaram em distritos, além de
parte das áreas de Anápolis e Bela Vista de Goiás. Por isso, é possível
supor que a área de Goiânia equivalia, na década de 1940, a mais de
3.500 quilômetros quadrados, superior aos atuais 746 quilômetros qua-
drados. A população da cidade, com a incorporação de Campinas, era
de 26.065 habitantes em 1940, e os demais habitantes eram distribuídos
nos quatro distritos de Goiânia, como indica a Figura 38. É preciso lem-
brar a distância entre Goiânia e as vilas-sedes desses distritos, bem como
as condições de acesso, afinal, 35 e 32 quilômetros de estradas precárias

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


separavam a capital de Hidrolândia e de Guapó, respectivamente. É difí- 159

cil imaginar que, nos primeiros anos da construção, os habitantes de São


Geraldo, Ribeirão, Hidrolândia e Trindade participassem ativamente do
contexto urbano da nova capital, como pode induzir a análise normati-
va que inclui a população total de Goiânia.

60.000
50.000 48.166
Habitantes

40.000
26.065
30.000
20.000
9.738
10.000 5.299 5.604 1.455
0
Município Cidade Hidrolândia Ribeirão São Geraldo Trindade

Figura 38. População de Goiânia e de seus distritos, em 1940.


Fonte: IBGE (1970c).

Uma cidade planejada nos moldes de Goiânia requereria, sobretudo,


uma estratégia de mobilização de mão de obra, demanda solucionada
pelo estímulo à migração. A mobilização paralela, sem tanta importân-
cia para o estado, foi a da moradia, pois quase sempre se acredita que
a condição de migrante seja temporária; isso implica que, ao acabarem
as tarefas, esses trabalhadores se deslocarão para outras áreas. Entre-
tanto, isso não corresponde à verdade, mesmo porque o migrante, pelo
menos em um primeiro momento, compartilhava da representação da
cidade como lugar de progresso, resultado de dedicação e de trabalho
árduo, o que o fazia acreditar na sedentarização. De qualquer forma, a
visão de comunhão em torno de um projeto comum não correspondia
aos conflitos cotidianos e à exploração dos trabalhadores, como revela
a literatura. O fato é que Goiânia, à medida que sua população aumen-
tava, demonstrava não ser diferente, do ponto de vista da natureza do

[Tadeu Alencar Arrais]


160 processo urbano, das demais cidades brasileiras. Eli Brasiliense (2002,
p. 44), no romance Chão vermelho, descreve: “As casas de tábua, onde
o governo assinara decretos de zungu, haviam desaparecido. Cada se-
mana a cidade mudava de feição, esparramava-se para todos os lados,
escorraçando gente pobre do centro”.
Para quem imagina que o crescimento urbano a partir de 1970 foi
uma demonstração inequívoca do processo de segregação espacial,
não há porque duvidar da descrição do romancista, pois o processo
de expansão horizontal foi motivado pela valorização das terras, e aos
pobres, descapitalizados, só restou distanciar-se das áreas centrais. A
ação do mercado, em associação com o estado, colocou reticências na
imagem de uma cidade planejada, bucólica. O papel dos atores sociais
ligados ao setor imobiliário e dos proprietários fundiários foi deter-
minante na configuração do espaço urbano, e a segregação espacial-
-residencial, portanto, está na gênese de Goiânia. Reside aí, de fato,
a novidade na experiência urbana da capital. A escala de segregação,
associada à densidade urbana das áreas centrais e ao contexto de ex-
ploração e disciplinarização do trabalho, diferenciava ­Goiânia das de-
mais cidades do território goiano. A densidade, traduzida em relações
cotidianas movidas pelas necessidades de reprodução da vida urbana,
distintas daquelas da vida rural – a exemplo do lazer em áreas pro-
gramadas e diferenciadas segundo as classes sociais, o fracionamento
do solo, a dinâmica da construção civil, a centralidade político-admi-
nistrativa e a apropriação de espaços públicos –, caracterizava a expe-
riência urbana de Goiânia. O argumento de Bernardes (2009, p. 40)
confirma esse contexto:

Os operários que construíram Goiânia, em sua maioria, participaram de ex-


periências comuns, homogêneas, nas obras, nas vilas onde moravam, nas suas
relações com o comércio nascente, com o Estado, nas formas de representa-
ção e organização. O urbano que aí surge é constituído pela participação de
sujeitos que, embora construtores deste próprio espaço, são privados, em sua
grande maioria, de usufruírem do resultado da produção de seu trabalho.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


A expansão horizontal foi uma das consequências da pressão 161

por moradia, fazendo surgir diversos bairros para as camadas po-


pulares. Ao mesmo tempo, deu-se início à verticalização das áreas
centrais, como o Setor Central e o Setor Oeste. A Figura 39 mos-
tra como as áreas centrais já estavam bastante ocupadas na década
de 1960. De 1960 para 1970, 206.356 novos habitantes incorpora-
ram-se ao sítio urbano, e, de 1970 para 1980, somaram-se outros
336.427 habitantes, o que fez a capital abrigar, em 1991, 922.222
habitantes (IBGE, 1991).

Figura 39. Planta funcional da cidade de Goiânia em 1948.


Fonte: Faissol (1952).

[Tadeu Alencar Arrais]


162 Torna-se necessário compreender esse processo a partir da aná-
lise intraurbana. A noção de intraurbano, associada ao uso do solo,
revela como a dinâmica entre mobilidade e centralidade estruturou
o espaço urbano a partir da década de 1960, quando o zoneamento
funcional, com sua centralidade predeterminada, definitivamente não
mais correspondeu à realidade urbana. Até mesmo antes de 1960, não
era possível imaginar um local para habitação, outro para o comér-
cio e outro para a indústria, cujo limite correspondia, grosso modo,
à faixa da Avenida Independência, onde se instalara a estação ferro-
viária. Nem o bairro operário permaneceu o mesmo, pois a chega-
da de migrantes não cessava, exigindo a incorporação de novas áreas
nos arrabaldes da cidade para atender às camadas não solváveis. O
mesmo raciocínio serve para o Setor Sul, que muito cedo perdeu sua
função de moradia, descaracterizando-se o sistema de becos (cul-de-
-sac) e vielas de circulação na área central, que atualmente servem de
estacionamento ou depósito para os ambulantes. De alguma forma,
os princípios românticos de Howard (2002), que inspiraram o plano
original de Goiânia, desmancharam-se, demonstrando que a ambição
daquele urbanismo era tão frágil quanto seu sucessor, ou seja, o urba-
nismo moderno, com seu zoneamento aparentemente rígido.
O incremento demográfico gerou uma demanda crescente por ser-
viços distribuídos desigualmente no território. Ao mesmo tempo, o
mercado de trabalho foi incapaz de absorver a mão de obra, especial-
mente na construção civil, não restando alternativa para a população
marginalizada senão submeter-se às formas mais precárias de traba-
lho, o que já se percebia na área central da cidade. Esse movimento
agravou-se na década de 1970 e teve como pano de fundo a questão
da habitação, pois as mínimas condições para a reprodução do traba-
lho, dentre elas a habitação, não estavam disponíveis para as camadas
pobres. Em pleno período autoritário e diante da forte presença do
Estado para garantir o direito à propriedade privada, formava-se o
caldo necessário para motivar a organização dos movimentos sociais
na luta por moradia. Moysés (2001, 2004) pesquisou o processo de

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


formação da Região Noroeste de Goiânia a partir da ação de ato- 163

res como o Estado, o mercado imobiliário e os movimentos sociais. A


ocupação da fazenda Caveirinha, no bojo do governo militar, exem-
plifica a efervescência da luta pela moradia. Moysés (2004) enxergou
o período a partir de duas perspectivas. A primeira foi a expansão
da cidade legal, demarcada pela verticalização e ampliação dos lotea-
mentos. A segunda foi a expansão da cidade ilegal.

A cidade também cresceu horizontalmente, porém via loteamentos clandesti-


nos, irregulares e áreas de posse produzidas tanto pelo poder público quanto
pela iniciativa privada. Esses espaços transformaram-se numa arena de confli-
tos entre o poder público, os sem teto e as imobiliárias. A meu ver, é nesse pe-
ríodo que fica mais explícito o perfil da cidade dual, ambas vão ocupar a cena
política, social e ideológica e marcar de forma definitiva a dinâmica urbana
da cidade no período de 1980-95. (Moysés, 2004, p. 172).

Todavia, a luta pela terra não ocorreu somente na periferia e não


teve como resposta apenas a doação de lotes ou de casas de placas
de concreto em regime de mutirão, como na Vila Mutirão. Áreas do
Setor Universitário e do Jardim Novo Mundo foram objeto de ocupa-
ção por movimentos sociais, fato quase imperceptível nos dias atuais,
já que a paisagem foi significativamente transformada. De igual for-
ma, movimentos sociais fomentaram a ocupação de áreas às margens
da Avenida Botafogo, para fins de moradia. Posteriormente, parte
das famílias pobres foi removida para dar lugar à Marginal Botafo-
go. Outra história de ocupação que resultou em conflito ocorreu em
2005, na desocupação do Parque Oeste Industrial. A estratégia de re-
tirada dos moradores foi amparada por forte aparato militar e pela
grande mídia que, historicamente, contribui para a criminalização dos
movimentos sociais. No dia do conflito, 16 de fevereiro, várias pes-
soas foram feridas e duas mortas, além de diversas outras detidas. A
gleba em questão serviu como estoque de terras em uma região de
crescente processo de valorização e verticalização, o que se confirmou
nos últimos anos com a implantação de vários condomínios verticais.

[Tadeu Alencar Arrais]


164 Na história da luta pela terra em Goiânia, não apenas os pobres
usaram do expediente de ocupação – atores sociais de peso econô-
mico ocuparam fundos de vales e áreas públicas para a construção
de residências e empreendimentos imobiliários de caráter comer-
cial, a exemplo de shopping centers (Martins Júnior, 1996). Aliás,
as estratégias de criminalização da miséria, reproduzidas por vários
segmentos da sociedade, encontraram na paisagem urbana um fértil
campo para a disseminação de preconceitos. Não raro, as áreas po-
bres são chamadas de “invasões” e outros termos depreciativos que
camuflam, para lembrar Souza (2011), seu verdadeiro significado
sociopolítico. Em contrapartida, para as edificações de alto padrão
situadas em áreas públicas ou ambientalmente impróprias e, portan-
to, tão ilegais quanto aquelas ocupadas por pobres, não são reser-
vados epítetos semelhantes. Se o urbano é produto das contradições
de nossa sociedade, então é possível admitir, para lembrar Jacobs
(2000), que os preconceitos em relação aos bairros pobres ocultam
não apenas uma visão conservadora que apregoa a necessidade de
reurbanização, mas também a impossibilidade de reconhecer, na di-
versificação dos usos do espaço urbano, uma saída para problemas
como segurança, desemprego e déficit habitacional.
Outro aspecto da estratégia dos atores imobiliários são os con-
domínios horizontais de alto padrão. A trajetória da implantação
desse segmento habitacional em Goiânia não se diferencia, do pon-
to de vista da natureza do processo, daquilo que ocorreu em ou-
tras cidades brasileiras. Segundo dados da Secretaria Municipal de
Planejamento e Urbanismo (Seplam), em 2009 havia 10.169 lotes
nos condomínios horizontais da capital, perfazendo uma área total
de 12 quilômetros quadrados (Goiânia, 2010). Nota-se uma diver-
sificação do padrão arquitetônico e do valor do metro quadrado –
os empreen­dimentos mais valorizados são os complexos Alfaville
e Jardins e o condomínio Aldeia do Vale. A conversão de antigos
estoques de áreas rurais, como aqueles que margeiam a GO-020,
permitiu a expansão desse modelo de empreen­dimento imobiliário.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


Não raro, as áreas recebem generosos investimentos públicos, seja 165

por meio da urbanização de parques, seja pelos deslocamentos de


órgãos públicos, o que colabora para a valorização fundiária. A im-
plantação do Parque Flamboyant, do Centro de Cultura e Convenções
Oscar Niemeyer e do Paço Municipal na Região Sudeste de Goiânia
prova que as obras governamentais valorizam áreas privadas. Aliás, a
valorização fundiária acompanha as políticas de urbanização de par-
ques e bosques. O investimento governamental, portanto, contribui
para a ampliação dos lucros do capital imobiliário.

500.000
450.000
400.000
350.000
300.000
Habitantes

250.000
200.000
150.000
100.000
50.000
0
1970 1980 1991 2000 2010
7.470 42.632 178.320 336.390 442.970

Figura 40. Evolução populacional de Aparecida de Goiânia.


Fonte: IBGE (1970b, 1991, 2011).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

Na medida em que o estoque de terras em Goiânia se inflacio-


nou, a solução, anunciada na década de 1970, além das clássicas
estratégias de remoção da população pobre para áreas sem infraes­
trutura, foi acionar e mobiliar os estoques de terras mais próximos,
ou seja, os municípios vizinhos que haviam se emancipado. A raiz
da Região Metropolitana de Goiânia, portanto, encontra-se na

[Tadeu Alencar Arrais]


166 questão fundiária, e Aparecida de Goiânia constitui o exemplo mais
elucidativo desse processo. Não basta dizer que a migração provo-
cou o rápido incremento demográfico desse município, como indica
a Figura 40. É necessário esclarecer os motivos desse crescimento,
desvendando as ações e estratégias de atores sociais como o Estado
e o capital imobiliário na ocupação dos municípios periféricos. Por
isso, há uma articulação entre os processos espaciais descritos por
Corrêa (1989) – centralização, coesão, especialização, descentrali-
zação, segregação etc. – e o papel dos promotores imobiliários e
dos proprietários fundiários, tanto na escala intraurbana quanto na
metropolitana. As mudanças no uso do solo na metrópole goianien-
se reverberam nos demais municípios.
Como esse processo foi estruturado? A maneira tradicional pau-
tou-se na utilização de mecanismos legais, como a exigência de in-
fraestrutura básica, o que onerou o acesso à terra urbana na capital
e abriu espaço para a demanda solvável. Mais importante do que o
acesso aos locais de emprego e serviços, o acesso à casa própria, por
intermédio de subsídios de lotes afastados das áreas centrais e, não
raras vezes, nos municípios periféricos, foi fator de atração para o mi-
grante descapitalizado. Essa estratégia, pelo aspecto ideo­lógico que
encerra, não encontrou muita resistência, pois o que o Estado ofere-
ceu foi a possibilidade de parte da população pobre realizar o sonho
da casa própria. Ao mesmo tempo, em municípios localizados nas
franjas da capital, o surgimento de lotea­mentos sem infraestrutura e
serviços básicos atestou o estímulo de atender à demanda não solvá-
vel, especialmente aos migrantes que chegavam à capital sem poder
aquisitivo para adquirir residências ou entrar no circuito da locação.
Concomitantemente, a ideia de ilegalidade começou a povoar a po-
lítica urbana, que passou a criminalizar a ocupação de áreas sob o
epíteto de risco ambiental. À medida que o metro quadrado do solo
encarecia em Goiânia e a chegada de migrantes não cessava, ocorreu
uma drenagem da população para os municípios limítrofes sem infra-
-estrutura básica – coleta de esgoto, água tratada, asfalto, iluminação

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


pública etc. – nem serviços públicos na área de educação e saúde. Tal 167

processo, comum em várias regiões metropolitanas brasileiras, foi


interpretado como um sintoma de desmetropolização ou até mesmo
involução metropolitana. A migração para os municípios periféricos,
em grande parte, resultou do deslocamento de segunda origem. Para
utilizar uma expressão vulgar, ao mesmo tempo que Goiânia atraía,
também expulsava.

Tabela 8. Crescimento geométrico de municípios selecionados na Região Metropoli-


tana de Goiânia.

Município 1970-1980 1980-1991 1991-2000

Goianira 2,09 5,07 6,0

Senador Canedo 1,14 20,62 9,27

Trindade 3,12 5,28 4,93

Aparecida de Goiânia 19,03 13,89 7,3

Goiânia 6,57 2,33 1,94

Fonte: IBGE (1980, 1991, 2000).


Nota: Dados trabalhados pelo autor.

A Tabela 8 é a expressão desse processo, pois demonstra que os


municípios selecionados apresentaram, de 1980 a 1991 e de 1991
a 2000, taxas geométricas muito superiores às verificadas na capi-
tal. Enquanto Goiânia cresceu a taxas de 6,57% entre 1970 e 1980,
2,33% entre 1980 e 1991 e 1,94% entre 1991 e 2000, Senador Ca-
nedo cresceu 20,62% entre 1980 e 1991, Aparecida de Goiânia,
13,89% e Goianira, 5,07%; essas taxas caíram no período seguinte,
muito embora ainda continuassem muito superiores à média do es-
tado e da capital. Mas isso não significa, propriamente, que Goiânia
perdeu população, pois a vida de relações – trabalho, estudo e lazer –
continuou tendo fortes vínculos com a capital.

[Tadeu Alencar Arrais]


168
Trindade

Senador Canedo

10% 12%
Guapó

19% Goianira
17%
Brazabrantes

7%
11% Bonfinópolis

13% 11% Aparecida de Goiânia

Abadia de Goiás

Figura 41. Deslocamento para trabalho e estudo de pessoas com mais de dez anos
de idade em municípios selecionados da Região Metropolitana de Goiânia, em 2000.
Fonte: IBGE (2001).

Como mostra a Figura 41, 33,11% e 36,46% da população com


mais de dez anos de idade e residente em Aparecida de Goiânia e Se-
nador Canedo deslocava-se para outros municípios para atividades de
trabalho e estudo no ano 2000. Ao relacionar local de moradia com
perfil profissional em Aparecida de Goiânia, Arrais (2006) demons-
tra que, nos bairros mais distantes e com maior migração pendular
para Goiânia, havia predominância de trabalhadores domésticos
e da construção civil. Impressiona o fato, comprovado pelos dados
do Ministério do Trabalho para 2009, que, entre as ocupações com
maior estoque de emprego formal em Aparecida de Goiânia, estavam
as de vigilante, faxineiro, porteiro de edifício e trabalhador de servi-
ço de limpeza (MTE, 2010). É possível deduzir que as pessoas com
menos renda e qualificação são as que moram mais longe do merca-
do de trabalho e, por isso, gastam mais tempo no deslocamento. Um
trabalhador que resida, por exemplo, no bairro Madre Germana, em

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


Aparecida de Goiânia, e trabalhe no centro de Goiânia gastará apro- 169

ximadamente 3,5 horas do seu dia em deslocamento. Com o crescen-


te peso do custo dos transportes no orçamento familiar, somado às
péssimas condições do transporte coletivo, a restrição à mobilidade
passa a ser forte componente da segregação, retrato generalizado para
a maior parte dos municípios da Região Metropolitana de Goiânia.

Região Metropolitana de Goiânia

Será que uma geografia intrametropolitana seria o resultado da soma


das diversas geografias intraurbanas? Certamente que não. Contudo,
a interrogação nos coloca diante do desafio de pensar o arcabouço
teórico e a escala de análise. Pinto (2009a, 2009b) demonstra o jogo
de escalas na análise metropolitana. Sua interpretação leva à compre-
ensão das transformações no mercado de terras e na oferta de bens e
serviços que geraram a formação de centralidades fora do polo me-
tropolitano. Algo novo em relação à forma, mas previsível na com-
preensão do processo metropolitano, pois a atuação do mercado e do
Estado nos municípios periféricos não difere, do ponto de vista da na-
tureza do processo, daquilo que ocorre em Goiânia.32

32
Villaça (2001, p. 20) aborda a imprecisão semântica do termo “intraurbano”, con-
siderando “espaço urbano” como mais satisfatório: “A distinção mais importante
entre espaço intraurbano e espaço regional deriva dos transportes e das comuni-
cações. Quer no espaço intraurbano, quer no regional, o deslocamento da matéria
e do ser humano tem um poder estruturador bem maior do que o deslocamento da
energia ou das informações. A estruturação do espaço regional é dominada pelo
deslocamento das informações, da energia, do capital constante e das mercadorias
em geral – eventualmente até da mercadoria força de trabalho. O espaço intraurba-
no, ao contrário, é estruturado fundamentalmente pelas condições de deslocamento
do ser humano, seja enquanto portador da mercadoria força de trabalho – como
deslocamento casa/trabalho –, seja enquanto consumidor – reprodução da força de
trabalho, deslocamento casa-compras, casa-lazer, escola, etc”.

[Tadeu Alencar Arrais]


170

Figura 42. Trechos da GO-219 (da esquerda para a direita: Hidrolândia-Bela Vista de
Goiás, Trindade-Abadia de Goiás e Hidrolândia-Aragoiânia), em janeiro de 2011.
Fotografia: O autor.

Após a inclusão dos municípios pela Lei n.º 78, de 25 de março de


2010, o perfil demográfico da Região Metropolitana de Goiânia tor-
nou-se mais diferenciado. Os nove municípios incluídos – Inhumas, Ca-
turaí, Brazabrantes, Nova Veneza, Terezópolis de Goiás, Bonfinópolis,
Caldazinha, Bela Vista de Goiás e Guapó – completam uma espécie de
anel no entorno da capital. Do ponto de vista da forma espacial, a ló-
gica radiocêntrica do plano original de Goiânia reproduziu-se na esca-
la metropolitana, prejudicando a integração paralela entre os demais
municípios. As rodovias GO-010 (acesso para Bonfinópolis), GO-020
(acesso para Bela Vista de Goiás), GO-040 (acesso para Aragoiânia),
GO-060 (acesso para Trindade), GO-070 (acesso para Goianira) e GO-
-080 (acesso para Nerópolis), além da BR-060 e da BR-153, permitem
o acesso à capital. Vejamos o exemplo de Hidrolândia, que dista 36
quilômetros de Goiânia. O município faz fronteira com Bela Vista de
Goiás a oeste e com Aragoiânia a leste. Entretanto, o acesso mais fre-
quente entre esses municípios ocorre a partir de Goiânia, pela GO-020
e pela GO-040, pois não há estradas com boas condições de trafegabi-
lidade que permitam o acesso lateral entre os municípios da porção sul
da Região Metropolitana de Goiânia. A GO-219, estrada não pavimen-
tada, parte de Trindade e passa por Abadia de Goiás, Aragoiânia, Hi-
drolândia e Bela Vista de Goiás (Figura 42). A rodovia constituiu uma

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


importante via de comunicação regional no período colonial e, até as 171

primeiras décadas do século XX, ainda era utilizada como rota para
o escoamento de mercadorias como arroz, gado e fumo, já que servia
de ligação entre a região e a estrada de ferro, na altura de Vianópolis.
Atualmente é utilizada para a circulação das comunidades rurais e o es-
coamento da produção agrícola e pecuária, especialmente de leite, bem
como para a esporádica circulação intermunicipal.
A partir da análise da Figura 43 e da Tabela 9, é possível identificar
algumas diferenças nos municípios da Região Metropolitana de Goiâ-
nia. À primeira vista, o destaque é para o incremento populacional ab-
soluto de Aparecida de Goiânia, Senador Canedo e Trindade. Entretan-
to, ao considerarmos o incremento populacional relativo, notamos que
municípios como Aragoiânia, Bela Vista de Goiás, Brazabrantes, Calda-
zinha, Goianira, Hidrolândia, Santo Antônio de Goiás e Terezópolis de
Goiás tiveram acréscimo populacional, entre 2000 e 2010, de 96,50%,
99,8%, 88,04%, 178,22%, 88,55%, 122,02%, 82,91% e 81,47%, res-
pectivamente. É possível que municípios com tal perfil demográfico – a
maior parte com população inferior a 20 mil habitantes – demandem
serviços públicos, infraestrutura urbana e moradia, agendas próprias
de cidades mais populosas. Outro dado a observar é o perfil rural de
alguns municípios, a exemplo de Bela Vista de Goiás, Caldazinha, Hi-
drolândia e Aragoiânia, que ainda dispõem de considerável estoque de
terras rurais. O município de Goianira, resultado da expansão da Re-
gião Noroeste de Goiânia, assiste a um processo semelhante àquele do
primeiro anel de expansão da região metropolitana, representado por
Senador Canedo, Aparecida de Goiânia e Trindade. Inhumas, apesar do
incremento populacional inferior ao dos demais municípios, passa por
intensas transformações no espaço urbano, expressas pelas negociações
imobiliárias, pela densificação do centro e pelo crescimento do setor de
serviços, que inclui concessionárias, agropecuárias, alimentação e vare-
jo em geral. Na produção agropecuária, o destaque é para o setor su-
croalcooleiro, que registrou, em 2009, uma produção de 480 mil tone-
ladas de cana-de-açúcar em uma área de 6.386 hectares (IBGE, 2010a).

[Tadeu Alencar Arrais]


172
49º30’ W 49º00’ W
Petrolina de
Itauçu 080 Goiás
Ouro Abadiânia

Itaberaí
153
Verde
Damolândia
Inhumas de Goiás Campo
Limpo
Anápolis
Nova
Araçu 070
Veneza Nerópolis
Brazabrantes
Terezópolis Gameleira
Caturaí de Goiás
Goianira S. Antônio
16º30’ S

16º30’ S
de Goiás Leopoldo
de Bulhões
Goianápolis
Sta. Bárbara Trindade Bonfinópolis 010
de Goiás
060
Senador
Goiânia 019 330

Silvânia
Canedo Caldazinha
Abadia
Campestre
de Goiás de Goiás Aparecida
de Goiânia
Guapó Bela Vista
de Goiás
060 São Miguel do
Passa Quatro
Aragoiânia

17º00’ S
Varjão Hidrolândia 153
020
Cezarina 040
Professor Piracanjuba
Jamil

Edeia Mairipotaba Cromínia Cristianópolis

49º30’ W
0 10 20 30 40km

Escala gráfica

LEGENDA
População
(Hab.) População urbana
1.300.000
População rural
500.000
Sede municipal
100.000 Área urbana
50.000 Condomínios fechados
(segunda residência e chácaras)*

20.000 153
Rodovias federais
5.000
1.000 020 Rodovias estaduais
* Exceto Goiânia

Figura 43. População por local de residência e área urbana na Região Metropolitana
de Goiânia, em 2010.
Fonte: IBGE (2011); Goiás (2010a).
Nota: Dados trabalhados pelo autor.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


173

Tabela 9. Dados demográficos da Região Metropolitana de Goiânia.

Área População 2000 População 2010


Município
(km2) Total Urbana Rural Total Urbana Rural
Abadia de Goiás 145.55 4.971 3.096 1.875 6.868 5.072 1.796
Aparecida de Goiânia 288.46 336.392 335.547 845 455.735 455.264 471
Aragoiânia 218.75 6.424 4.262 2.162 8.375 5.529 2.846
Bela Vista de Goiás 1.276.61 19.210 12.278 6.932 24.539 17.945 6.594
Bonfinópolis 122.25 5.353 4.908 445 7.536 7.021 515
Brazabrantes 123.5 2.772 1.723 1.049 3.240 2.179 1.061
Caldazinha 311.68 2.859 1.194 1.665 3.322 1.918 1.404
Caturaí 207.15 4.330 3.117 1.213 4.670 3.655 1.015
Goianápolis 162.38 10.671 9.805 866 10.681 9.677 1.004
Goiânia 739.49 1.093.007 1.085.806 7.201 1.301.892 1.296.969 4.923
Goianira 200.40 18.719 18.064 655 34.061 33.455 606
Guapó 517.00 13.863 9.916 3.947 14.002 11.354 2.648
Hidrolândia 944.23 13.086 7.836 5.250 17.398 10.455 6.943
Inhumas 613.34 43.897 39.976 3.921 48.212 45.079 3.133
Nerópolis 204.21 18.578 17.253 1.325 24.189 23.208 981
Nova Veneza 123.37 6.414 5.354 1.060 8.129 7.026 1.103
Santo Antônio de Goiás 132.80 3.106 2.564 542 4.690 4.258 432
Senador Canedo 244.74 53.105 50.442 2.663 84.399 84.066 333
Terezópolis de Goiás 106.97 5.083 3.616 1.467 6.562 5.677 885
Trindade 713.20 81.457 78.199 3.258 104.506 100.107 4.399
Total 7.397.20 1.743.297 1.694.956 48.341 2.173.006 2.129.914 43.092

Fonte: IBGE (2000, 2011).

[Tadeu Alencar Arrais]


174 Tabela 10. Empregos formais e rendimentos médios da Região Metropolitana de
Goiânia, em 2009.

Número de Rendimento Setor de maior % em relação


Município
empregos formais médio (R$) participação ao total
Administração
Abadia de Goiás 828 790,92 35,99
pública
Aparecida de Goiânia 94.106 914,39 Serviços 47,35
Administração
Aragoiânia 801 769,81 37,32
pública
Indústria de
Bela Vista de Goiás 3.622 940,77 32,38
transformação
Administração
Bonfinópolis 636 782,26 52,83
pública
Administração
Brazabrantes 483 755,47 35,57
pública
Administração
Caldazinha 387 759,28 65,89
pública
Administração
Caturaí 371 853,51 52,56
pública
Administração
Goianápolis 705 944,04 49,50
pública
Administração
Goiânia 509.775 1.503,39 32,10
pública
Indústria de
Goianira 4.087 833,03 27,79
transformação
Administração
Guapó 1.258 868,74 40,30
pública
Indústria de
Hidrolândia 2.500 858,58 34,28
transformação
Indústria de
Inhumas 8.437 821,52 31,61
transformação
Indústria de
Nerópolis 5.378 916,26 41,09
transformação
Indústria de
Nova Veneza 1.493 963,38 27,32
transformação

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


175
Número de Rendimento Setor de maior % em relação
Município
empregos formais médio (R$) participação ao total
Santo Antônio de
1.116 1.979,84 Serviços 56,98
Goiás
Administração
Senador Canedo 6.405 1.131,21 32,86
pública
Indústria de
Terezópolis de Goiás 672 798,89 32,14
transformação
Indústria de
Trindade 11.206 894,98 42,02
transformação

Fonte: MTE (2010); Goiás (2010b).

A correlação da Figura 43 com a Tabela 10 ajuda na compreensão


da economia metropolitana, uma vez que emprego e renda são deter-
minantes para a moradia e o consumo. Observa-se que o rendimento
em Santo Antônio de Goiás é 2,66% superior ao registrado em Bra-
zabrantes. O aumento da massa salarial é resultado do emprego pú-
blico federal, com destaque para a Embrapa Arroz e Feijão, localizada
na GO-462, na zona rural de Santo Antônio de Goiás. O impacto da
massa salarial do funcionalismo público em um município com esse
perfil demográfico é relevante, o que causa uma distorção na análise
e nos faz comparar os rendimentos dos demais municípios com Goiâ-
nia. Os municípios com menor renda (inferior a 800 reais) e número
de empregos formais, como Caldazinha, Brazabrantes e Caturaí, fize-
ram parte da última inclusão da Lei Complementar n.º 78. Bela Vista
de Goiás e Nerópolis são exceções, onde o valor adicionado do PIB,
em 2007, foi maior na indústria. Os laticínios e o processamento de
água mineral, no primeiro município, e a indústria de alimentação
(condimentos e temperos), no segundo, são os principais emprega-
dores. Os demais municípios apresentaram maior peso na compo-
sição do PIB no setor de serviços, incluindo a administração pú-
blica. A maior massa salarial de Goiânia justifica-se pela economia
de aglomeração e pelo peso do setor público – principalmente do

[Tadeu Alencar Arrais]


176 comércio e de serviços que respondem pela maior formalização de
empregos –, ao contrário de Inhumas, onde se identifica uma corres-
pondência entre a população absoluta e o número de empregos for-
mais. Inhumas é o quinto município mais populoso da Região Me-
tropolitana de Goiânia, atrás de Senador Canedo. Contudo, quando
se considera o número de empregos formais, Senador Canedo perde
para Inhumas em virtude do perfil econômico e da dependência em
relação à Goiânia.33
Ainda há um ponto a se destacar relativo à Tabela 10: trata-se da
participação do emprego formal, por setor, na economia municipal.
Em 2009, dos vinte municípios, dez tiveram maior participação na
administração pública, oito no setor industrial e apenas dois no setor
de serviços. O dado é suficiente para confirmar a limitada diversifi-
cação das economias, pois em nove municípios a participação de um
só setor gerou mais de 40% do total de empregos formais. Das cinco
atividades com maior participação, quatro estão no setor de adminis-
tração pública – em Caldazinha (65,89%), Bonfinópolis (52,83%),

33
Os dados sobre a formalização do emprego são necessários, mas não suficien-
tes para explicar a dinâmica econômica metropolitana. É preciso considerar a
importância do trabalho informal na metrópole, assim como as formas de pre-
carização que o acompanham. Até nesse caso os municípios estão integrados,
uma vez que é comum o fato de vendedores ambulantes – sejam aqueles que
atuam em locais específicos, como camelódromos, os que vendem produtos nos
sinaleiros (água mineral, carregadores de celular, guarda-sol, frutas, mel, balas
etc.) ou os que povoam as avenidas centrais, comercializando uma infinidade
de “novidades” – residirem nos municípios periféricos. Mesmo marcados pela
invisibilidade, esses sujeitos transformam a paisagem da metrópole, criando uma
arquitetura própria, também compartilhada por outras cidades do planeta. For-
mam verdadeiras “cidades ocasionais”, termo que designa “diferentes formas de
ocupações temporárias do espaço público, quer sejam de caráter comercial, lúdi-
co, sexual, quer de outra índole, tendo a característica comum de deixar apenas
um rastro e de autogerir as aparições e desaparições” (Peran, 2009).

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


Caturaí (52,56%) e Goianápolis (49,50%) – e uma no setor de ser- 177

viços, em Santo Antônio de Goiás (56,98%). A Tabela 10 reitera a


forte participação do emprego formal do poder público na geração de
renda municipal, o que configura um problema, tendo em vista que
os municípios dependem das transferências governamentais, especial-
mente do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), como de-
monstraram Alencar (2010) e Aurélio Neto, Viana e Almeida (2011).
Por sua vez, os municípios com maior participação na indústria de
transformação dependem de dois ou três grandes empregadores es-
pecializados em alimentação e bebidas, como é o caso de Nerópolis
e Hidrolândia. Nesse último município, os grandes empregadores são
empresas de água mineral, laticínios, frigoríficos e curtume. Em Trin-
dade, além da forte presença da indústria de confecções e similares, a
produção de bebidas é responsável pela oferta de empregos formais
do setor. Ainda é preciso assinalar, no caso desse município, o peso do
setor informal na geração de empregos, que é fortemente influenciado
pelo fluxo de pessoas e, consequentemente, de renda para o Santuário
Basílica do Divino Pai Eterno.
Outra maneira de analisar a economia metropolitana é com
base nas atividades econômicas geradoras de ICMS. A Figura 44
indica a proeminência de Goiânia em relação ao total de ICMS ar-
recadado. Entretanto, no que tange aos porcentuais de impostos re-
passados, observamos, como já o fizemos em outro momento (Ar-
rais, 2008a), o quanto o arranjo tributário, no caso específico do
ICMS, privilegia os municípios menos populosos. Em Caldazinha,
por exemplo, a diferença entre o porcentual tributário recolhido e
o repassado chega a 80%. Outro fato interessante diz respeito às
atividades geradoras. Em Goiânia, o destaque é para o setor de co-
municações e, em Senador Canedo, para o de combustíveis. Essas
duas atividades atendem a demandas que vão além dos referidos
sítios municipais, situação decorrente não apenas do arranjo tribu-
tário, mas, principalmente, da polarização e da especialização eco-
nômicas na região metropolitana.

[Tadeu Alencar Arrais]


178

A figura ilustra aspectos da ocupação do solo no Jardim Atlântico, na divisa de Goiânia


A figura ilustra aspectos
com Aparecida da ocupação
de Goiânia. Dadosdoda solo no JardimdeAtlântico,
Prefeitura Goiânia na divisa de Goiânia
(GOIÂNIA, 2010),
comregistraram
Aparecidaa de presença,
Goiânia.em 2010,
Dados da de 1.518 lotes
Prefeitura particulares
de Goiânia (Goiânia,no bairro. Em outros
2010) registraram
bairros
1.518 lotes próximos,
particularescomo o Faiçalville,
no bairro em 2010. Em o Parque Amazonas
outros bairros e a Vila
próximos, como Rosa, foram
Faiçalville,
registrados,
Parque Amazonasrespectivamente, 2.565,registrados,
e Vila Rosa, foram 933 e 1.173 lotes particulares.
respectivamente, A área
2.565, 933 etotal
1.173desses
lotes
lotes é de Aaproximadamente
particulares. área total desses3.424.404
lotes é de m2. Tomando como
aproximadamente padrão metros
3.424.404 a metragemquadra-de
recentes lançamentos de loteamentos, que raramente ultrapassam os 280 m2, é possível
dos. Tomando como padrão a metragem de recentes lançamentos de loteamentos, que
deduzir que apenas essas áreas poderiam abrigar mais de 12.000 lotes para fins de
raramente
habitaçãoultrapassam
popular. As os 280
áreasmetros quadrados,
em questão sãoé possível
dotadas deduzir que apenasurbana
de infraestrutura essas
áreas poderiam abrigar mais de 12 mil lotes para fins de habitação popular.
(iluminação pública, rede de água e coleta de esgoto, asfalto, telefonia etc.), serviços As áreas em
questão
públicossãodedotadas
saúde edeeducação,
infraestrutura
além urbana
de linhas(iluminação
de transportepública, rederegulares.
coletivo de água eApesar
coleta
dedisso,
esgoto,tanto o poder
asfalto, telefoniapúblico municipal
etc.), serviços quantodea saúde
públicos iniciativa privadaalém
e educação, promovem
de linhasa
deexpansão
transporte horizontal em áreas com
coletivo regulares. Apesar deficiências
disso, tanto emoinfraestrutura
poder públicourbana e serviços
municipal quantode a
consumo
iniciativa coletivo
privada e transporte,
promovem o que onera
a expansão a atuação
horizontal do poder
em áreas compúblico. No dia
deficiências em 20 de
infra-
janeiro de 2010, a Agência Municipal de Meio Ambiente publicou edital número 5.028
-estrutura urbana e serviços de consumo coletivo e transporte, o que onera a atuação do
notificando proprietários de lotes a realizar serviços de limpeza, roçarem e drenagem,
poder
sob público.
pena de Em 20 de
multa janeiro de 2010,
e pagamento a Agência
de taxas Municipal
de serviços pelade Meio Ambiente
limpeza executadapubli-pela
couprefeitura. A primeira lista publicada impressiona e sua análise revela, já quedeaslimpeza,
o Edital nº 5.028, notificando proprietários de lotes a realizar serviços pessoas
físicas e drenagem,
roçagem jurídicas são
sobidentificas no edital,
pena de multa o processo
e pagamento de concentração
de taxas de serviços fundiária
pela limpeza em
setores como
executada Santa Genovera,
pela prefeitura. Jaó, Faiçalville,
A primeira lista publicadaJardim Goiás e Parque
impressiona Oeste Industrial.
e sua análise revela, já
queNeste último, físicas
as pessoas 16 lotese jurídicas
pertencem a mesma
são pessoanofísica.
identificadas edital,No caso do Faiçalville,
o processo outros
de concentração
20 lotesem
fundiária sãosetores
registrados
comoem nome
Santa da mesma
Genoveva, Jaó,pessoa jurídica.
Faiçalville, JardimOs Goiás
exemplos ilustram
e Parque Oesteas
dificuldades do poder governamental em fazer com que a função social da propriedade,
Industrial. Neste último, dezesseis lotes pertencem à mesma pessoa física. No caso do
garantida no Estatuto da Cidade, seja efetivada.
Faiçalville, outros vinte lotes estão registrados em nome da mesma pessoa jurídica. Os
exemplos ilustram as dificuldades do poder público em fazer com que a função social da
propriedade, garantida no Estatuto da Cidade, seja efetivada.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


179

Nova Veneza
Brazabrantes

Goianápolis

ICMS repassado aos municípios Transferências estaduais (%) Principais atividades


(R$) arrecadadoras de ICMS
341.330
ICMS recolhido Combustível
Indústria
Comércio varejista
100.794
Comunicação
55.937 ICMS repassado

12.538
4.926

Figura 44. Arrecadação de ICMS e atividades geradoras na Região Metropolitana de


Goiânia, em 2010.
Fonte: sieg (2008); tcm-go (2010); Goiás (2011b).

[Tadeu Alencar Arrais]


180 Como argumentamos, a oferta fundiária favoreceu a integração
nas fronteiras com Goiânia e, em um primeiro momento, atendeu aos
estratos de baixa renda. Em seguida, aqueles com maior poder aqui-
sitivo passaram a adquirir lotes e residências nos municípios periféri-
cos, seja para moradia permanente ou ocasional. Nesse último caso
enquadram-se Hidrolândia, Aragoiânia, Abadia de Goiás e Terezópo-
lis de Goiás. A Tabela 11 nos permite fazer algumas inferências sobre
a questão fundiária e o déficit habitacional. A primeira refere-se ao
número de domicílios particulares não ocupados vagos. Encontram-
-se nessa categoria 14,88% dos domicílios em Bonfinópolis, 11,57%
em Aparecida de Goiânia, 11,50% em Goianira, 10,18% em Goiânia,
9,8% em Senador Canedo, 8,66% em Inhumas e 6,6% em Trindade.
Nos sete municípios selecionados, há 75.684 domicílios vagos (IBGE,
2011). Dados da Fundação João Pinheiro detectaram um déficit habi-
tacional de 167.042 unidades para o estado de Goiás (Brasil, 2009).34

34
“A partir do conceito mais amplo de necessidades habitacionais, a metodologia
desenvolvida pela FJP trabalha com dois segmentos distintos: o déficit habitacio-
nal e a inadequação de moradias. Como déficit habitacional entende-se a noção
mais imediata e intuitiva de necessidade de construção de novas moradias para a
solução de problemas sociais e específicos de habitação detectados em certo mo-
mento. Por outro lado, o conceito de inadequação de moradias reflete problemas
na qualidade de vida dos moradores: não estão relacionados ao dimensionamento
do estoque de habitações e sim a especificidades internas do mesmo. Seu dimensio-
namento visa ao delineamento de políticas complementares à construção de mo-
radias, voltadas para a melhoria dos domicílios existentes. Com a preocupação de
identificar as carências, principalmente da população de baixa renda, os números
do déficit e da inadequação dos domicílios são explicitados para diversas faixas de
renda familiar, como feito nas versões anteriores do estudo. Eles têm como enfoque
principal famílias com até três salários mínimos de renda, limite superior para o
ingresso em grande número de programas habitacionais de caráter assistencial”
(Brasil, 2009, p. 15).

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


Tabela 11. Total de domicílios em municípios selecionados da Região Metropolitana 181
de Goiânia, em 2010.

Domicílios
Média de
Total de Domicílios particulares não Domicílios não
Município pessoas por
domicílios particulares ocupados de uso ocupados vagos
domicílio
ocasional
Goiânia 482.973 482.587 10.108 49.194 2,69
Aparecida de Goiânia 156.522 156.464 1.701 18.119 2,91
Trindade 34.956 34.888 568 2.309 2,98
Senador Canedo 27.786 27.769 731 2.728 3,03
Goianira 12.056 12.045 307 1.387 2,82
Inhumas 17.312 17.291 463 1.500 2,78
Bonfinópolis 3.004 3.002 177 447 2,50
Cidade de Goiás 2.217.654 2.212.991 113.446 206.851 2,70

Fonte: IBGE (2011).


Nota: Dados trabalhados pelo autor.
* Os dados incluem domicílios particulares ocupados, domicílios particulares não ocupados fe-
chados e domicílios coletivos.

Então, poderíamos supor que o déficit é artificial. Admitir essa


perspectiva, no entanto, implica desconsiderar a lógica do mercado,
pois o problema habitacional não se localiza apenas na oferta, mas
no poder de compra de parcela da população que reside nas cidades
brasileiras, bem como na possibilidade de a renda fundiária e o mer-
cado de locação constituir um fator de acumulação de capital. Em-
bora possua a menor média de habitantes por domicílio, o município
de Bonfinópolis registrou a maior relação entre domicílios não ocu-
pados vagos e o total de domicílios. Como se observa na Figura 45,
o mesmo ator imobiliário comercializa lotes em Goianira, Trindade
e Senador Canedo. Tal como ocorre em outros municípios, colabora
para isso o atendimento das demandas de Goiânia, o que prova a in-
tegração do mercado de terras. Apenas em Goiânia, o IBGE registrou
49.194 domicílios vagos em 2010 (IBGE, 2011). Parte significativa
constitui-se de apartamentos e não inclui as áreas em construção no

[Tadeu Alencar Arrais]


182 sul, sudoeste e leste do município, com alguns milhares de imóveis na
planta. Também não entra nessa conta o número de lotes vagos que,
segundo dados da Prefeitura de Goiânia (Goiânia, 2011), chegou a
117.017 em 2010. É utilizando esses estoques que os atores sociais,
tais como grupos imobiliários com capilaridade nacional, vêm pro-
movendo a verticalização em áreas de reconhecida fragilidade am-
biental, como o Goiânia 2. Nesse caso, é preciso registrar a atuação
da Associação dos Geógrafos Brasileiros – Seção Goiânia (AGB), que
protocolou ação no Ministério Público contra um empreendimento
imobiliário por localizar-se em área de risco. A demanda é um
exemplo típico de disputa dos atores sociais na produção do espaço
urbano e representa, pelo menos temporariamente, uma vitória para
aqueles que lutam por um ambiente urbano equilibrado.

Figura 45. Encartes publicitários em dezembro de 2010.


Fotografia: O autor.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


Outro fato que tem colaborado para o aquecimento do mercado 183

imobiliário é o programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal,


que prevê a construção de 1 milhão de residências, via financiamento
conjunto com o Executivo municipal, os estados e o setor da constru-
ção civil, para a população com renda inferior a dez salários mínimos.35
Diferentemente do passado, quando predominava a comercialização de
lotes, algumas empresas têm preferido construir verdadeiros bairros pa-
dronizados, cujas unidades habitacionais têm menos de 60 metros qua-
drados, para a população de baixa renda, de tal modo que a taxa de lu-
cro é multiplicada, posto que a comercialização de residências implica
o domínio da cadeia de construção. Na verdade, assistimos ao uso de
velhas fórmulas de valorização fundiária com taxas de lucro cada vez
mais altas na comercialização para as camadas populares. Em consulta
realizada com incorporadoras em dezembro de 2010, verificamos que
o metro quadrado de determinado loteamento em Goianira, na divisa
com Goiânia, era comercializado a 186,42 reais. Trata-se de lotes com
área média de 231 metros quadrados. Avançando aproximadamente
2 quilômetros para o norte, já em Goiânia, em área com as mesmas
características, o valor do metro quadrado passou para 317,10 reais.

35
O programa Minha Casa Minha Vida, regulamentado pela Lei n.º 11.977/09,
abrange, prioritariamente, regiões metropolitanas e municípios com mais de
100 mil habitantes, onde se localiza o principal déficit habitacional brasileiro.
Segundo informações da Caixa Econômica Federal (2010), o programa funcio-
na da seguinte forma: “União aloca recursos por área do território nacional e
solicita apresentação de projetos; estados e municípios realizam cadastramento
da demanda e após triagem indicam famílias para seleção, utilizando as infor-
mações do cadastro único; construtoras apresentam projetos às superintendên-
cias regionais da CAIXA, podendo fazê-los em parceria com estados, muni-
cípios, cooperativas, movimentos sociais ou independentemente; após análise
simplificada, a CAIXA contrata a operação, acompanha a execução da obra
pela construtora, libera recursos conforme cronograma e, concluído o empreen-
dimento, realiza a sua comercialização”.

[Tadeu Alencar Arrais]


184

Fonte: Foto O
Fotografia: doautor
autor.(jan.
Janeiro de 2011.
2011).

“Os condomínios exclusivos são o símbolo máximo do que se pode designar como auto-
-segregação, a qual representa o contraponto da segregação induzida (que se refere basi-
camente aos loteamentos irregulares das periferias urbanas e às favelas; no caso, a segre-
gação é induzida pela própria pobreza, pelo menor poder aquisitivo, que força uma parcela
considerável da população a se sujeitar a morar em espaços quase desprovidos de infraes-
trutura, negligenciadas pelo estado e até mesmo insalubres” (Souza, 1996, p. 54).

Nos últimos anos, a expressão “condomínio fechado” tem sido utilizada de forma dife-
renciada pelo mercado imobiliário. Desde o clássico condomínio Alfaville retratado na
figura, com amplas áreas verdes e espaços de recreação privados, até loteamentos para
camadas populares têm recebido tal epíteto. Apesar das diferenciações nos padrões ur-
banísticos dos condomínios e idílicos das residências, a expressão ainda guarda certa po-
sitividade, demarcando espaços que aliam, teoricamente, segurança, conforto ambiental
e acessibilidade.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


Os lotes comercializados nos dois empreendimentos ainda podem ser 185

financiados em 140 meses com correção pelo Índice Geral de Preços


do Mercado (IGP-M), o que eleva a rentabilidade. O valor do metro
quadrado equipara-se aos encontrados em bairros consolidados, como
o Setor Santa Genoveva. Em comum entre esses e tantos outros lança-
mentos imobiliários estão sua proximidade dos troncos viários de aces-
so à capital e a promessa de conforto ambiental.

Figura 46. Linhas da Rede Metropolitana de Transporte Coletivo (RMTC).


Fonte: RMTC (2010).

A Figura 46 ilustra por que os eixos rodoviários são importantes


insumos para a compreensão da dinâmica fundiária. O anel rodoviá-
rio é formado por Goiânia e pelos municípios mais populosos ao les-
te, oeste, noroeste e sul da capital, com mancha conurbada ou em pro-
cesso de conurbação; destacam-se os terminais de Senador Canedo,

[Tadeu Alencar Arrais]


186 Trindade, Goianira e Aparecida de Goiânia (Garavelo, Maranata,
Cruzeiro, Veiga Jardim, Vila Brasília e Araguaia). A área limítrofe sul
dispõe de mais linhas e terminais, fato justificado pela maior deman-
da por integração da malha urbana. Observa-se também o padrão de
integração radial, com pouca articulação lateral entre os municípios,
especialmente no arco leste. No Plano Diretor de Goiânia (Goiânia,
2007), o mapa de planejamento viário descreve um anel metropolita-
no interligando os municípios de Aparecida de Goiânia, Senador Ca-
nedo, Trindade e Goiânia a partir da Avenida Perimetral Norte, o que
permitirá o acesso às rodovias BR-153 e GO-060 e poderá, caso seja
efetivado, melhorar o fluxo de veículos. No que tange à paisagem ur-
bana, o que se nota é uma tendência de diversificação dos espaços que
margeiam as saídas radiais da capital. Se antes abrigavam mecânicas
pesadas, distribuidoras, empresas de alimentação, marmorarias, me-
talúrgicas, revendas de piscinas, concessionárias de veículos pesados
e de implementos agrícolas e firmas de logística – empreendimentos
que demandam grandes áreas –, além dos motéis, agora exercem uma
função habitacional.
É importante compreender a forma de estruturação da rede de
transportes por dois motivos. Primeiro, porque ela favorece a oferta
de mobilidade, tanto para os deslocamentos de trabalho, estudo e la-
zer quanto para o transporte de mercadorias, permitindo a integração
dos mercados de consumo e produção. Segundo, porque a expansão
garantiu a valorização fundiária, fato comprovado pela localização
estratégica dos diferentes condomínios horizontais e loteamentos ao
longo dos principais eixos viários de acesso à capital.
A análise empreendida até aqui demonstra que a compreensão da
geografia metropolitana requer uma leitura que ultrapasse a análise
intraurbana. A perspectiva territorial pressupõe, certamente, a con-
sideração de conceitos como mobilidade e centralidade, importantes
para a compreensão da integração e da fragmentação da Região Me-
tropolitana de Goiânia. Lévy (2001) salienta que a mobilidade é uma
relação social construída a partir da mudança de lugar. É uma relação

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


social porque, segundo o autor, ela envolve acessibilidade (presença 187

dos sistemas de circulação e transporte) e competência (acesso a par-


tir do preço). Ambas formam um capital social para os indivíduos que
as detêm. Já a centralidade, em termos simples, responde pelo rebati-
mento espacial do mercado com a concentração diferencial de servi-
ços, do setor varejista e de equipamentos de consumo coletivo no espa-
ço intrametropolitano.
Dentre os impactos que tornam possível o reconhecimento do pro-
cesso de metropolização, o primeiro e mais tradicional é a mobilida-
de. A hipótese é que a comparação dos dados de 2000 e 2010 (IBGE,
2001, 2011), quando disponibilizados pelo IBGE, ainda apontará
um intenso fluxo para a capital. No entanto, a tendência é de uma
maior heterogeneidade no padrão de deslocamento temporário para
a capital, na medida em que pessoas que integram outros estratos de
renda e residem em condomínios horizontais ou chácaras localizados
nas proximidades (Senador Canedo, Bela Vista de Goiás, Hidrolândia,
Santo Antônio de Goiás etc.) serão identificadas na pesquisa sobre
deslocamento temporário.
Outro impacto consiste na integração espacial que acompanhou
a integração do mercado de consumo, favorável à capital, mas com
crescente relação de complementaridade com outros municípios. Em
Aparecida de Goiânia, por exemplo, centros de distribuição de mer-
cadorias são comuns. Senador Canedo abriga o centro de distribuição
de combustíveis e GLP da Transpetro, além de várias distribuidoras
de combustível e gás, sem os quais o cotidiano da capital estaria com-
prometido. O mesmo exemplo, relacionado ao setor hortifrutigran-
jeiro, aplica-se a Goianápolis, que salda a demanda da indústria de
alimentação e do Ceasa. Assim, é possível, em várias áreas, reconhecer
uma integração econômica motivada por fatores locacionais e fundiá-
rios e por incentivos fiscais.
O mercado fundiário é mais uma demonstração da integração. É
compreensível que o estoque de terras nos municípios limítrofes au-
mente de acordo com o distanciamento das áreas urbanizadas ou até

[Tadeu Alencar Arrais]


188 mesmo com a proximidade de áreas rurais ainda remanescentes. O es-
toque de terras, como ocorreu a partir de 1970, atendeu à pressão das
camadas populares. Atualmente, atende à demanda solvável de Goiâ-
nia. O número de moradias de segunda residência e de condomínios
horizontais é visível nas margens dos eixos viários, o que ocorre com
chácaras de lazer, pousadas e pesque-pagues. Ao longo da GO-020
encontramos os condomínios Alta Vista e Portal do Cerrado, além da-
queles de acesso, como o Villa Verde e o Mansões Morumbi, em Se-
nador Canedo. Na saída para Aragoiânia, no município de Abadia de
Goiás, na GO-040, temos o Condomínio Copacabana; em Trindade, o
Condomínio do Lago, ao longo da GO-070; em Terezópolis de­Goiás,
o Condomínio Santa Branca, com acesso pela BR-060.
As transformações na paisagem urbana ocorrem nas demais cida-
des e podem ser interpretadas a partir da consideração das centra-
lidades dos municípios de Aparecida de Goiânia, Senador Canedo,
Trindade e Goianira. Essa perspectiva de análise rompe, de certa for-
ma, com a imagem tradicional da hegemonia do polo central e com o
epíteto de cidades-dormitórios reservado aos municípios periféricos.
Seria ingenuidade imaginarmos que as forças de mercado não atuam
nesses municípios, mesmo porque existe uma demanda, seja por servi-
ços e equipamentos públicos, seja pelo setor varejista, bastando para
isso observar o aumento da população e de seu poder de consumo.
Seria igualmente ingênuo supormos que esses municípios são ocu-
pados por camadas homogêneas da população. Existem áreas, tanto
residenciais quanto industriais, que passam por intenso processo de
valorização imobiliária, como a Avenida Igualdade e a Avenida São
Paulo, em Aparecida de Goiânia, ou até mesmo a Avenida Dom Ma-
noel, em Senador Canedo. É por isso que devemos repensar o concei-
to de periferia, conforme assinala Santos (1979, p. 229):

A palavra periferia pode ser utilizada em diferentes acepções. Cada disci-


plina científica pode lhe atribuir um significado próprio. Em termos geo-
gráficos, a periferia não será definida pela distância física entre um pólo e

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


as zonas tributárias, mas antes em termos de acessibilidade. Esta depende 189
essencialmente da existência de vias e meios de transporte e da possibilida-
de efetiva de sua utilização pelos indivíduos, com o objetivo de satisfazer
necessidades reais ou sentidas como tais. Mas a incapacidade de acesso aos
bens e serviços é, em si mesma, um dado suficiente para repelir o indivíduo,
e também a firma, a uma situação periférica.

A integração entre os municípios que compõem a Região Metro-


politana de Goiânia, indo além da expansão da mancha urbana e da
intensificação da mobilidade, deve ser, sobretudo, social e política. To-
davia, são necessárias, na escala metropolitana, as seguintes políticas:
fundiária, tributária, descentralizadora e de gestão compartilhada.
No que tange à política fundiária, mecanismos como o Imposto
Predial Territorial Urbano (IPTU) e o Imposto Territorial Urbano
(ITU) são imprescindíveis para estimular a ocupação racional do solo
urbano. Tradicionalmente, o estoque de terras dos municípios limí-
trofes funcionou como um amortecedor da demanda não solvável da
capital. Tal fato, por um lado, drenou a demanda para esses municí-
pios e, por outro, favoreceu a concentração de renda em Goiânia. O
exemplo típico são os parcelamentos nas franjas dos municípios para
segundas residências, chácaras de lazer ou até mesmo primeiras resi-
dências. Nesses casos, é comum que os moradores, para utilizar uma
expressão usual, fiquem “de costas” para a sede do município, à medi-
da que a vida cotidiana, norteada por compras no varejo e pela utili-
zação de serviços, continua sendo efetuada em Goiânia. Enquadram-
-se nessa situação os condomínios de chácaras em Senador Canedo,
que têm pouca relação com o centro comercial da cidade. Portanto,
os impostos que incidem sobre a propriedade nessas áreas podem ser
progressivamente majorados.
Em se tratando da política tributária, o ISSQN pode ser utilizado
para atrair determinados segmentos de empresas para os municípios.
Os mecanismos tributários, como isenção parcial de impostos sobre
propriedades e serviços, favorecem a construção de especializações

[Tadeu Alencar Arrais]


190 econômicas e diversificam a oferta de empregos. Mas é preciso uma po-
lítica integrada para que não se configure uma espécie de guerra fiscal
metropolitana. Em Aparecida de Goiânia, na década de 1990, foi apro-
vado um conjunto de leis que fomenta a transferência de empresas li-
gadas aos setores de serviços, alimentação e logística, o que ampliou a
oferta de empregos. Não por acaso, o município é o segundo no ranking
de formalização de empregos na Região Metropolitana de Goiânia.
Muitas empresas da área de serviços, apesar de estarem localizadas em
municípios como Aparecida de Goiânia, executam serviços na capital.36
No que concerne à política de descentralização, o uso dos serviços
públicos ligados à educação e à saúde é responsável por parte signi-
ficativa dos deslocamentos para Goiânia. É preciso que a política de
distribuição desses serviços seja orientada de acordo com a demanda
dos municípios. Basta verificar o número de leitos em hospitais públi-
cos ou de vagas em universidades públicas na Região Metropolitana
de Goiânia para comprovar a necessidade de uma política de descen-
tralização que tenha impacto positivo na mobilidade metropolitana.
Assim, a consideração da densidade e da mobilidade deveria ser um
critério para a criação de hospitais regionais e instituições públicas
de ensino superior, bem como para a distribuição de equipamentos de
consumo coletivo de grande monta.

36
A Lei n.º 2.711/2007 institui o incentivo à industrialização no município de Apa-
recida de Goiânia e dá outras providências. Eis o art. 1: “Fica instituído no muni-
cípio de Aparecida de Goiânia como incentivo à industrialização e incremento à
instalação de empresas em geral, Instituições Filantrópicas, Entidades Religiosas
e Organizações Não Governamentais, visando o desenvolvimento do Município,
tanto nos parques industriais públicos, quanto nas áreas onde são permitidas essas
instalações, em conformidade com a legislação municipal em vigor, o atendimento
pela prefeitura com os seguintes serviços: a) terraplenagem; b) base para pavimen-
tação; c) fornecimento de materiais para aterramentos” (Aparecida de Goiânia,
2007). Muito embora a lei seja de 2007, identificamos um aumento dos incentivos
fiscais em Aparecida de Goiânia a partir de 1998.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


Em relação à política de gestão compartilhada, as discussões so- 191

bre o transporte coletivo, por sua característica setorial, não são


capazes de resolver os problemas que afligem a população dos mu-
nicípios da Região Metropolitana de Goiânia. Os consórcios públi-
cos são alternativas, sendo os mais frequentes aqueles nas áreas de
educação, habitação, aquisição de máquinas pesadas, serviços de
saneamento e abastecimento de água, além de atendimento à saú-
de. Em 2001, foram registrados vinte consórcios na área de saúde
e dezoito na área de equipamentos e máquinas em Goiás (IBGE,
2006b), sendo a maior parte externa à Região Metropolitana de
Goiânia. Nesta se registram, principalmente, consórcios na área de
saúde, abastecimento de água e coleta de lixo. Existe a possibili-
dade de se constituírem consórcios bilaterais, o que é uma saída,
por exemplo, para o gerenciamento da barragem do ribeirão João
Leite – nesse caso, os consórcios são necessários para conter um
previsível processo de ocupação fundiária que poderia comprome-
ter o abastecimento.
Essas questões não são novas nem de fácil solução porque impli-
cam o rompimento da tradição político-administrativa brasileira.
Uma análise da trajetória institucional da região do ABC Paulista
demonstra que é possível começar a partir dos problemas comuns
(Klink, 2001). Em alguns casos, os Comitês de Bacia têm apresentado
uma boa forma de lidar com os problemas mais urgentes, o que pode
ser um estímulo inicial para um pensar regional. O principal desafio,
portanto, não é reconhecer o processo de integração, mas sim aquele
descrito por Ribeiro (2007, p. 46):

Trata-se de construir um sistema institucional de ações cooperativas entre os


níveis de governo e entre estes e os atores da sociedade civil e do mercado. Há
hoje um largo consenso entre especialistas da existência de uma tendência ao
policentrismo do poder urbano, cujos fundamentos são, de um lado, o fato das
metrópoles serem o palco de intervenções orientadas pelas influências, necessi-
dades e interesses de escalas distintas – global, nacional, regional e local –, nas
esferas econômica, cultural e social.

[Tadeu Alencar Arrais]


192 Enfim, os principais quesitos para se admitir, de fato, a existência
de uma região metropolitana são a atuação e o funcionamento de ins-
trumentos políticos que não apenas reconheçam a integração territo-
rial, mas que favoreçam o compartilhamento das ações e responsabili-
dades sobre o futuro. Para que isso ocorra, é fundamental considerar
a Região Metropolitana de Goiânia como uma unidade territorial
composta por diferentes atores sociais.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


193
RECEITAS MUNICIPAIS SELECIONADAS DA
REGIÃO METROPOLITANA DE GOIÂNIA, EM 2010

Inhumas
Nova Veneza

Neropólis Terezópolis
Brazabrantes de Goiás
Caturaí Santo Antônio
de Goiás
Goianira
Goianápolis

Trindade Bonfinópolis

Goiânia
Senador
Canedo
Caldazinha

Abadia de
Goiás Aparecida
de Goiânia

Guapó
Bela Vista de Goiás
Aragoiânia
Hidrolândia

IPTU Arrecadado (mil R$)


LEGENDA ISSQN (mil R$)
228.041 307.897
39.200 23.950
1.067 - 1.773 1.119 - 3.664
454 - 848 451 - 786
117 - 228 236 - 384

23 - 78 Sistema de Coordenadas Geográficas


Datum horizontal: SAD-1969
27- 191

Fonte: TCM-GO (2010).

A regulação do uso da propriedade urbana é um importante instrumento para a política


fundiária e a economia municipal. Na participação total das receitas, que inclui transfe-
rências da União e do estado, entre outras, os impostos que incidem sobre a propriedade
compõem destacada fração do montante das receitas de cidades populosas. Entretanto,
em função do dinamismo da economia municipal, do padrão de ocupação do solo, espe-
cialmente para residências, além do processo de burocratização, o padrão de arrecada-
ção das receitas municipais é bastante distinto, conforme mostra a figura. Em ambientes
marcados por intensa mobilidade para trabalho, estudo e serviços, esse padrão de arre-
cadação prejudica as administrações municipais, especialmente dos municípios menos
povoados, que têm maior dependência dos repasses federais. Em Goiânia, o valor do
IPTU foi maior, em 2010, que as transferências do FPM (128.784.724,34 reais). Já o Im-
posto Territorial Rural (ITR), repassado pela União no mesmo período, foi de 102.912,13
reais. Já nos demais municípios, especialmente aqueles situados na faixa abaixo de 20
mil habitantes da Região Metropolitana de Goiânia, as receitas tributárias representam
menos de 5% das receitas do Executivo.

[Tadeu Alencar Arrais]


Conclusão

¶ Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgados pelo jornal


O Popular (2010) revelaram o montante de doações disponibilizadas
por empresas para o financiamento de campanhas de deputados fede-
rais, deputados estaduais e senadores em Goiás. Os setores que mais
contribuíram com as campanhas no pleito de 2010 podem ser confe-
ridos na Tabela 12.

Tabela 12. Doações para campanhas políticas em 2010.

Valor das principais


Setor Valor (R$) Principais doadores
doações
JBS S/A 2.200.000,00
Agroindústria 6.032.423,00 Vale do Verdão S/A Açúcar e Álcool 466.154,00
USJ Açúcar e Álcool 386.700,00
Orca Construtora e Concreto Ltda. 700.000,00
Empreiteiras e
3.939.000,00 Telmont Engenharia S/A 600.000,00
construtoras
Alusa Engenharia Ltda. 480.000,00
Stok Comercial Hospitalar Ltda. 728.730,00
Medicamentos 2.905.730,00 Amil Dist. de Medicamentos Ltda. 500.000,00
Midwau Internacional Labs. Ltda. 300.000,00
196 Valor das principais
Setor Valor (R$) Principais doadores
doações
Liderança Capitalização S/A 550.000,00
Bancos e segura-
2.180.000,00 Itaú Unibanco S/A 550.000,00
doras
Banco BMG S/A 400.000,00
Sol Brascar Veículos 293.057,00
Veículos/conces-
1.173.640,00 Caoa Montadora de Veículos 200.000,00
sionárias
MMC Automotores do Brasil 200.000,00

Fonte: O Popular (2010).

Treze candidatos, todos eleitos, concentraram 76,96% do total in-


formado na Tabela 12.
As informações obtidas nos autorizam a inferir que economia e
política não são instâncias separadas quando a proposta é analisar a
produção de um dado território. Política pode ser considerada tanto
no sentido de relações entre os diferentes atores sociais quanto no de
política institucional, tendo como referência os marcos de uma socie-
dade heterônoma. A qualidade da ação territorial (potencial de trans-
formação territorial), como nos esforçamos para demonstrar, perpas-
sa, também, mecanismos políticos e jurídicos. O setor do agronegócio
– carnes, cana-de-açúcar e grãos – conta com maior influência eco-
nômica e destina o maior montante ao financiamento de campanhas
políticas. Não é por acaso que os municípios festejem a instalação de
grandes plantas industriais que alavancarão as economias municipais,
segundo argumentos que carecem de avaliação crítica dos impactos
econômicos, ambientais e sociais. As empreiteiras e construtoras,
aproveitando-se da conjuntura econômica, beneficiam-se da expansão
do crédito público dos programas de financiamento de moradia e das
obras públicas de infraestrutura, além da “flexibilidade” na regulação
do solo urbano, especialmente no caso da Região Metropolitana de
Goiânia. O setor de medicamentos, territorializado em Goiânia e Aná-
polis, frequenta as linhas de crédito desde a década de 1980. Sua car-
teira de negócios inclui hospitais, clínicas, laboratórios, distribuidores

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


e varejistas, estes últimos representados por inúmeras drogarias. Tra- 197

dicionalmente, bancos e seguradoras, sempre atentos ao cenário na-


cional, influenciam os quadros de decisões econômicas, especialmente
a política de juros e de financiamento. O setor automotivo, com des-
taque para as montadoras situadas em Catalão e Anápolis, além das
concessionárias, reivindicam a ampliação dos prazos dos incentivos
fiscais e uma reforma tributária que não coloque em risco o consumo
automotivo. Exemplos dessa reivindicação são as discussões sobre a
redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Não se pode negar, diante das evidências, a dimensão política que
envolve a produção do território, afinal os setores doadores influen-
ciam as dinâmicas econômicas municipais e regionais. Ao agirem no
território, esses atores sociais mudam as feições e as funções da paisa-
gem regional em velocidades próprias de um período já denominado
por Santos (1994b) “aceleração contemporânea”. O embate sobre as
restrições ao cultivo de cana-de-açúcar nos municípios de Rio Verde
e Jataí é ilustrativo. Até mesmo entre dois segmentos do mesmo setor
há conflito de interesses – a ampliação da cultura de cana-de-açúcar
não poderá ocorrer sem colocar em risco a área destinada ao cultivo
de soja e milho, fator preocupante para a cadeia de carnes e de pro-
cessamento de óleo. A opção econômica, portanto, reveste-se de um
conteúdo político, pois é na escala local-regional que os interesses do
Estado, das empresas, de instituições públicas e privadas, dos movi-
mentos sociais etc. são materializados.
Neste estudo sobre a produção do território goiano, os temas eco-
nomia, urbanização e metropolização apareceram conectados, motivo
pelo qual foi necessário analisarmos o conteúdo das ações dos dife-
rentes atores sociais que produzem o território: grupos imobiliários,
agroindústrias, varejistas, mineradoras etc. A metropolização, como
uma das formas de realização da urbanização, demonstrou a impor-
tância de Goiânia na análise territorial em pelo menos três aspectos:
a) mercado de consumo e produção; b) centro de gestão do território;
c) território de concentração das demandas sociais de diversas ordens

[Tadeu Alencar Arrais]


198 (moradia, saneamento, mobilidade urbana etc.). Contudo, como for-
ma de expressão da urbanização, a metropolização, isoladamente,
não explica os liames da produção do território goiano, já que cida-
des como Rio Verde, Catalão, Jataí, Itumbiara, Goianésia e Poranga-
tu, muito embora não inscritas em ambientes metropolitanos, sempre
foram centros de difusão do capital, da informação e da gestão terri-
torial. Ademais, não admitir tal fato implicaria reduzir o estudo dos
arranjos territoriais à hegemonia de Goiânia, o que ofusca uma reali-
dade cada vez mais integrada de parte significativa de Goiás.
O que procuramos oferecer ao leitor, mais que uma visão vertica-
lizada, foi a compreensão das forças que atuam no território goiano
e o modo como determinados atores sociais, especialmente grandes
empresas que agem em rede, têm a propriedade, para lembrar Bran-
dão (2007), de manejar as diferentes escalas (local, regional, nacional,
internacional) em busca de maior lucratividade. É nesse contexto de
conflitos muitas vezes dissimulados que o território é produzido. As
mudanças na paisagem regional são expressão formal, visível, de um
processo que oculta problemas sociais e ambientais próprios de nossa
matriz de desenvolvimento.

A produção do território goiano: economia, urbanização, metropolização


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[Tadeu Alencar Arrais]


© Tadeu Alencar Arrais, 2013
Direitos reservados para esta edição:
Editora UFG

Revisão
Gisele Dionísio da Silva

Projeto gráfico da coleção e capa


Alanna Oliva

Editoração eletrônica
Alanna Oliva

Dados internacionais de catalogação-na-publicação (CIP)


(Henrique Bezerra de Araújo)

A773p Arrais, Tadeu Alencar.


A produção do território goiano: economia, urbanização,
metropolização / Tadeu Alencar Arrais. – Goiânia: Editora UFG,
2013.

224p.: il. color. (Coleção Funape)


ISBN: 978-85-7274-359-4

1. Território – Goiânia. 2. Território – Geografia. 3. Território –


Processo de Formação. 4. Rede. 5. Intraurbano. 6. Metropolização.
7. Urbanização. I. Título.

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