Filtros Com BANCO DE CAPACITORES AUTOMÁTICO

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BANCOS DE CAPACITORES AUTOMÁTICOS EM INSTALAÇÕES COM

HARMÔNICOS

1 INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é apresentar os procedimentos para correção do fator de


deslocamento através de bancos de capacitores automáticos em instalações onde há a presença
de distorção harmônica. Será apresentada uma breve teoria sobre o assunto e posteriormente sua
aplicação a um caso real. Ressalta-se que aspectos relativos à correção localizada ou distribuída
do fator de potência não serão abordados. Detalhes relativos aos problemas da energização dos
bancos de capacitores serão apenas mencionados superficialmente, entendendo-se que existe
literatura especifica disponível para este tipo de aprofundamento.

Deve ficar claro que o objetivo deste trabalho é a correção do fator de deslocamento da
instalação elétrica. As melhorias nas taxas de distorção harmônica de corrente e de tensão que
porventura venham a ocorrer, resultado de filtros dessintonizados com baixos fatores de
dessintonização e baixos fatores de qualidade, são efeitos secundários, apesar serem de
importantes e desejáveis.

2 PROJETO TRADICIONAL DE CORREÇÃO DO FATOR DE DESLOCAMENTO

Quando temos uma instalação elétrica com cargas essencialmente lineares, ou seja,
nenhuns ou poucos conversores e soft-starters e muitos motores e outras cargas lineares, o
problema da correção do fator de potência resume-se ao conhecido procedimento de
compensação do fator de deslocamento. Admite-se que se o conjunto de cargas não ultrapassar
o limite de 20% do total das cargas, este pode ser considerado essencialmente linear. Entretanto,
essa regra deve ser seguida com cuidado. A presença de elevada distorção harmônica de tensão
ou a presença de uma harmônica individual de corrente de valor elevado, podem vir a
causar ressonâncias.

É recomendável utilizar controladores de fator de potência que possuam a função de


alarme por . Caso a aumente com a inserção de um estágio de banco de
capacitores, e não desapareça em um determinado tempo definido, o controlador irá retirar
estágios a fim de diminuir a . Isso irá proteger os capacitores.

O procedimento para o calculo da compensação do fator de deslocamento é o seguinte:

1) Calcular o fator de deslocamento total das cargas instaladas. Matematicamente:

(2.1)

2) Calcular a potência reativa necessária para corrigir o fator de deslocamento para o valor
desejado (normalmente 0,92) através de:

(2.2)

1
3) Determinar a quantidade de estágios que serão utilizados. Os controladores automáticos de
fator de potência normalmente possuem opção de 6 ou 12 estágios. Os estágios de capacitores
devem ser projetados de modo que a sensibilidade dos bancos fique em torno de 15-20% do
total da potência disponível. Não é usual ter um banco mais sensível, que reaja com 5 a 10% da
potência total, isso poderia levar o banco a um número elevado de manobras, desperdiçando o
equipamento desnecessariamente quando o real objetivo é ter um fator de potência alto.
Recomenda-se dividir o banco automático de capacitores em estágios de potência máxima de 30
kvar em 380/440V e 15 kvar em 220V. Entretanto, um dos estágios deve ter a metade da
potência do maior estágio para efetuar o ajuste fino do fator de deslocamento.

Para o chaveamento dos bancos de capacitores deve-se utilizar contatores específicos


para este propósito, ou seja, utilizar a linha de contatores CMWK, que possuem um dispositivo
limitador da corrente de carga dos capacitores. O dispositivo de limitação é uma pequena
indutância série que limita os picos de corrente. Pode-se utilizar contatores normais, mas neste
caso deve-se calcular um indutor externo para esta finalidade.

Os estágios dos bancos de capacitores devem ser protegidos através de fusíveis. A


corrente dos fusíveis deve ser em torno de 1,65 vezes a corrente do estágio.

3 REATOR DE DESSINTONIZAÇÃO

A utilização de um banco de capacitores para correção do fator de deslocamento numa


instalação elétrica com a presença de harmônicos é problemática. A solução mais simples para
proteger um banco de capacitores contra sobrecargas harmônicas é a utilização de uma reatância
série chamada de reator de dessintonização. O valor desta indutância é calculado de modo que a
freqüência de ressonância não coincida com nenhuma freqüência harmônica característica
gerada pelas cargas não-lineares nas proximidades de sua instalação.

Um fator que deve ser levado em consideração é a incerteza quanto a valor exato da
impedância de curto-circuito da rede. Este valor pode variar bastante dependendo da
configuração da rede num dado momento, resultando assim em grandes variações da freqüência
de ressonância paralela do sistema. Isto torna necessário estabilizar esta freqüência a um valor
que não corresponda às harmônicas injetadas na rede. Novamente, isto é obtido através do
reator de dessintonização.

Na figura XX observa-se o circuito equivalente obtido quando utilizada um reator de


dessintonização. Nota-se que surge um circuito ressonante série entre L e C. Em oposição a essa
ressonância, que provê um caminho de mínima impedância, a ressonância paralela que é
frequentemente chamada de anti-ressonância, é dada por:

(3.1)

2
Figura 3.1: Circuito equivalente formado pela introdução do reator de dessintonização L.

O valor de é normalmente pequeno quando comparado com L. A equação mostra


que a presença do indutor L conectado em série com o banco de capacitores, faz com que a
freqüência fique menos susceptível às variações da indutância de curto-circuito .

Na prática, o reator de dessintonização é calculado pela seguinte expressão:

(3.2)

Neste arranjo, L é escolhido de tal modo que o circuito LC se comporte de forma


indutiva para as freqüências harmônicas. Como resultado, a freqüência de ressonância deste
arranjo ficará abaixo das freqüências harmônicas geradas pelas cargas não-lineares.

O circuito LC e a rede ( ) são ambos indutivos acima da freqüência , fazendo


com que as correntes harmônicas injetadas pelas cargas não-lineares sejam divididas de maneira
inversamente proporcional a impedância. Correntes harmônicas são assim bastante atenuadas no
circuito LC, protegendo os capacitores, pois a maior parte da corrente fluirá para o resto da rede,
especialmente para a impedância de curto-circuito.

Figura 3.2: Característica de módulo e ângulo da impedância da rede


com o uso de reator de dessintonização

3
4 FATOR DE DESSINTONIZAÇÃO

A potência reativa do reator de dessintonização normalmente é 5,67%, 7% ou 14% da


potência de compensação do fator de deslocamento do banco de capacitores na freqüência
fundamental. Este percentual é também chamado de Fator de Dessintonização ou FDS, e é
expresso por:

(4.1)

Na verdade, o Fator de Dessintonização apenas define a freqüência de ressonância do


circuito LC dessintonizado. A freqüência de ressonância é dada por:

(4.2)

Na tabela abaixo são mostradas as correspondências entre os valores mais usuais de


fatores de dessintonia e freqüências de dessintonia:

Fator de Freqüência de Dessintonia


Dessintonização (%) (Hz) Ordem Harmônica ( )

5,67 252 4,2


7 226 3,77
14 160 2,67

Figura 4.1: Correspondências entre Fator de Dessintonização, freqüência de


dessintonização e suas respectivas ordens harmônicas.

5 FATOR DE QUALIDADE

O Fator de Qualidade de um circuito é a relação entre a potência média acumulada nos


elementos reativos e a potência média dissipada por efeito Joule no componente resistivo na
ressonância, ou seja:

(5.1)

Para um circuito RLC série temos:

(5.2)

Para um circuito RLC paralelo temos:

(5.3)

4
Também podemos definir o Fator de Qualidade como:

(5.4)

Onde B é chamado de Largura de Banda (Bandwidth), e é expresso por:

(5.5)

Figura 5.1: Representação gráfica do Fator de Qualidade e da Largura de Banda

Por exemplo, temos um reator que desejamos utilizar num filtro dessintonizado com
freqüência de dessintonização de 166Hz e desejamos um Fator de Qualidade FQ=30. Os dados
do reator são os seguintes:

-Indutância nominal (166Hz): 1,294mH;


-Corrente nominal (na freqüência fundamental de 60Hz, sobretensão de 5%): 85,1 A;
-Corrente Total (inclui a fundamental e todas as ordens harmônicas): 110,6 A;
-Resistência máxima do reator em 60Hz (limitação construtiva): 0,049 ;
-Fator de Qualidade na freqüência de sintonia (166Hz): 30.

Para obter o Fator de Qualidade de 30 na freqüência de 166Hz, o valor da resistência em


série com o reator deverá ser:

Para que possamos obter um valor de resistência de 44,99m será necessária a


inserção de uma resistência em série com o reator, tendo em vista que a resistência média do
enrolamento é de 3,12m (dado real fornecido pelo fabricante do reator), conforme dados de
projeto abaixo:

-Indutância nominal (f=60Hz, In=85,1 A): 1,29mH;


-Corrente nominal (60Hz, sobretensão de 5%): 85,1 A;
-Corrente total: 110,6 A (corrente para dimensionamento térmico);
-Resistência do enrolamento calculada: 3,12m (20º).

Com base nos valores calculados no projeto do reator, obtemos o seguinte valor de
Fator de Qualidade na freqüência de sintonia:

5
Utilizando os valores obtidos de FQ na equação da Largura de Banda B, obtemos as
seguintes variações de freqüência:

FQ=30

FQ=432,58

Observamos que quanto maior o Fator de Qualidade, menor será a potência dissipada e
menor será a variação em relação à freqüência de ressonância . Valores práticos do Fator de
Qualidade variam entre 10 para um circuito com altas perdas, 100 para um circuito razoável, e
até 1000 para um projeto cuidadoso e de condições favoráveis.

As perdas devido à corrente capacitiva na freqüência fundamental são dadas por:

(5.6)

As perdas devido as correntes harmônicas não podem ser expressas por equações
simples. A solução mais simples é fazer uma simulação num software como PSPICE e obter o
resultado diretamente através de medição.

Se desejarmos que o filtro dessintonizado absorva parte das harmônicas presentes na


rede, de modo a reduzir a , o Fator de Qualidade deve ser baixo, mesmo implicando em
maiores perdas por efeito Joule.

6 REDIMENSIONAMENTO DE CAPACITORES

Em casos de circuitos LC ressonantes deve-se sempre calcular os valores de tensão que


aparecerão no banco de capacitores. Isto porque haverá uma elevação da tensão no banco de
capacitores em função da ordem da harmônica sintonizada. A tensão pode ser calculada através
da seguinte expressão:

(6.1)

Desse aumento de tensão resulta que a potência reativa de compensação de fator de


deslocamento fornecida pelo banco de capacitores é maior que aquela fornecida se não houvesse
a reator de dessintonização. A nova potência reativa é dada por:

(6.2)

Na maioria das vezes os bancos de capacitores estão ligados em delta. Se a tensão


calculada pela expressão XX ultrapassar o valor da tensão nominal do capacitor, tem-se duas
opções:

6
-Utilizar capacitores de tensão mais elevada;
-Utilizar a ligação estrela.

No caso de se utilizar capacitores de tensão mais elevada, a potência em kvar deste


banco de capacitores deve ser recalculada através de:

(6.3)

No caso de se utilizar a ligação estrela, para se manter o mesmo valor de potência


reativa em kvar o valor da nova capacitância deverá ser:

(6.4)

Isto significa que será necessário o triplo de capacitância em Farads para atender a
potência de compensação de Fator de Deslocamento.

7 HARMÔNICAS RESSONANTES

Primeiramente é necessário determinar quais são as ordens harmônicas presentes na


instalação elétrica. Isto é facilmente obtido através do conhecimento do tipo de retificação
utilizada pelos conversores da instalação. Se forem retificadores de 6 pulsos, utilizando a
expressão , concluímos que as ordens harmônicas serão a 5ª, 7ª, 11ª, 13ª, 17ª, 19ª e
assim por diante.

No caso de soft-starters e de gradadores trifásicos em geral, as ordens harmônicas serão


as mesmas, desde que respeitadas as seguintes condições:

1) não devem existir cargas trifásicas ligadas em estrela com neutro;


2) as cargas trifásicas devem ser equilibradas;
3) deve existir simetria de meia-onda de corrente e tensão, ou seja, os ciclos positivos e
negativos devem ter a mesma forma de onda.

Em caso da existência de cargas conectadas ao condutor neutro e/ou desequilibradas,


haverá a circulação de correntes harmônicas triplens, ou seja, harmônicas múltiplas de 3. Se
houver assimetria nas formas de onda da corrente ou tensão aparecerão harmônicas pares. Em
ambos os casos o espectro harmônico é bastante ampliado e a possibilidade de ressonância
aumenta.

Deve ainda ser lembrado que para soft-starters e gradadores trifásicos as amplitudes das
harmônicas são dependentes dos ângulos de disparo , e no caso de soft-starters ainda variam
com o tempo. No entanto, para soft-starters estes harmônicos são transitórios, enquanto que para
os gradadores seu efeito é permanente (desde que o ângulo de disparo seja diferente de
zero).

Recomenda-se fortemente que durante a partida e a parada de motores através de soft-


starters os bancos de capacitores sejam desligados. Os bancos de capacitores serão religados
após a conclusão da partida ou parada do motor. Se existirem reatores de dessintonização em
série com o banco de capacitores, este procedimento não é necessário, desde que não surjam
harmônicas pares ou triplens de freqüências próximas às freqüências de dessintonização.

7
Deve-se determinar a ordem harmônica de ressonância através da seguinte expressão:

(7.1)

Em caso de bancos de capacitores automáticos, é óbvio que para cada configuração do


banco de capacitores haverá uma freqüência de ressonância diferente. Essa é uma boa razão
para utilizar todos os estágios iguais, diminuindo assim o espectro de combinações possíveis. Se
qualquer uma dessas freqüências coincidir ou for próxima à freqüência de ressonância da
instalação, haverá ressonância.

8 ROTEIRO PARA UTILIZAÇÃO DE REATORES DE DESSINTONIZAÇÃO

Se a instalação elétrica na qual se deseja corrigir o fator de deslocamento possuir mais


que 20% de cargas não lineares, são necessários reatores de dessintonização em série com os
bancos de capacitores.

Segue uma lista de considerações para alto desempenho de correção do fator de


deslocamento dessintonizado:

1) Através de medição ou simulação verificar a presença de harmônicas de corrente no principal


cabo alimentador do sistema sem capacitores, em todas possíveis condições de carga.
Determinar a freqüência e máxima amplitude para cada harmônica que possa existir. Calcular
ou medir diretamente a e os valores individuais das principais harmônicas existentes;

2) Medir a presença de harmônicas de tensão que possam vir de fora do seu sistema, se possível
medir em alta voltagem. Calcular ou medir diretamente a ;

3) Existe Harmônica de corrente ou medido sem capacitores:


Se SIM: usar filtro dessintonizado e vá para a consideração 4;
Se NÃO: utilizar correção do fator de deslocamento padrão e pular considerações 4, 5, e 6;

4) Existe conteúdo da 3ª harmônica ?


Se SIM: usar filtro dessintonizado com FDS = 14% e pule consideração 5;
Se NÃO: usar filtro dessintonizado com FDS = 7% ou FDS = 5,67% e vá para consideração 5;

5) :
3...7%: use filtro dessintonizado com FDS = 7% absorção harmônica padrão;
: use filtro dessintonizado com FDS = 5,67% para alta absorção harmônica;
: requer projeto de filtro especial (sintonizado, atenuado ou ativo);

6) Selecione os componentes apropriados, usando valores padrões de potência efetiva, a tensão


e freqüência da sua rede e o Fator de Dessintonização FDS determinado;

7) Use componentes desenvolvidos para aplicação específica em correção do fator de


deslocamento dessintonizado. Observe que reatores são especificados para sua potência efetiva
na tensão e freqüência da rede. Esta potência será a potência efetiva real de todo o conjunto LC
na freqüência fundamental. Capacitores para correção do fator de deslocamento dessintonizado
devem ser selecionados para uma voltagem maior que a tensão da rede, isto se deve a
sobretensão causada pela ligação em série com o reator. Contatores para capacitor são
desenvolvidos com aplicação específica para redução da corrente de surto do capacitores para
manejo de cargas capacitivas de uma maneira confiável. Deve-se usar fusíveis para proteger os

8
capacitores. O dispositivo de interrupção por sobrepressão do capacitor não é fusível contra
curto-circuito.

9 ESTUDO DE CASO

Vamos utilizar exemplo prático o PW 037672A/06 da São Carlos S.A. As cargas da


planta são as seguintes:

Carga Potência Corrente Fator de Potência Acionamento


Ativa (kW) (A) Deslocamento com Aparente
100% da carga (kVA)
Refinador 1 330 563 0,81 407,4 Soft-starter
Refinador 2 330 563 0,81 407,4 Soft-starter
Turbo 150 242 0,86 174,4 Soft-starter
Separador
Bomba dos 150 242 0,95 157,9 Conversor de
Cleaners e Freqüência -
Fracionador 6 pulsos
Total 960 1610 0,84 1147,1 15,6% de carga
não-linear

Tabela 9.1: Cargas existentes na instalação.

Considerando que desejamos um Fator de Deslocamento de 0,92, a potência do banco


de capacitores será dada por:

Vamos utilizar um controlador de fator de potência com 6 estágios de potências iguais,


portanto, cada estágio deve ser de 35,2kvar.

Como existem cargas não-lineares, vamos utilizar bancos de capacitores em 480V,


apesar da rede ser em 440V. O modelo do banco escolhido é o BCW 40,0 / 5.6, com potência
nominal de 40kvar em 480V. A potência deste banco deve ser recalculada devido à mudança da
tensão, portanto:

A potência total com os 6 estágios de bancos de capacitores ligados ficará em


201,7kvar, um pouco abaixo da potência necessária para a correção do Fator de Deslocamento
para 0,92, conforme calculado anteriormente. No entanto, sabe-se que em geral os motores são
sobredimensionados e dificilmente todas as cargas estarão ligadas ao mesmo tempo na potência
nominal (Fator de Demanda 1). As correntes permitidas no banco de capacitores são as
seguintes:

Tensão (V) Corrente Nominal do Corrente de Sobrecarga do Estágio -


Estágio (A) 1,3 vezes a Corrente Nominal (A)
440V 44,11 57,34
480V 48,11 62,54

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Tabela 9.2: Correntes eficazes nominais dos estágios do banco de capacitores.

Devemos agora obter os valores da potência de curto-circuito nos terminais do banco de


capacitores para determinar quais são as ordens harmônicas ressonantes. Para isso precisamos
saber os dados do transformador de alimentação e a potência de curto-circuito da rede na
entrada do transformador (informado pela concessionária de energia elétrica).

No caso estudado temos os seguintes valores:

Potência do transformador (kVA) 1500


Impedância do transformador (%) 6
Tensão primária MT (V) 11900
Tensão Secundária BT (V) 440
Corrente de curto-circuito na 25
entrada do transformador (kA)
Potência de curto-circuito na 515285
entrada do transformador (kVA)

Tabela 9.3: Dados do transformador e rede elétrica.

Com esses dados básicos podemos calcular a potência de curto-circuito ou a indutância


de curto-circuito da rede vista a partir dos terminais do banco de capacitores. O valor da
indutância de curto-circuito da rede já transferida para o lado BT é calculada através de:

A indutância do transformador é calculada através de:

A indutância vista a partir do banco de capacitores é pela soma das indutâncias


calculadas acima, portanto:

A potência de curto-circuito nos terminais do banco de capacitores é dada por:

A corrente de curto-circuito na saída do transformador é dada por:

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O valor de capacitância de um estágio de banco de capacitores pode ser obtido
diretamente do catálogo ou através da seguinte expressão:

Se os capacitores forem ligados em triângulo, o valor acima corresponde ao total de


capacitância existente naquele estágio do banco de capacitores. No entanto, se a ligação for
estrela esse valor corresponde apenas à capacitância de uma das três fases naquele estágio.

Podemos agora calcular as ordens das freqüências harmônicas que aparecerão na


instalação quando os diversos estágios forem ligados através de:

Número de estágios Capacitância Ordem da freqüência Freqüência


ligados harmônica harmônica (Hz)
1 460,6 26,6 1597,8
2 921,3 18,8 1129,8
3 1381,9 15,4 922,5
4 1842,6 13,3 798,9
5 2303,2 11,9 741,6
6 2763,8 10,9 652,3

Tabela 9.4: Freqüências de ressonâncias presentes na instalação.

Devemos agora verificar se alguma dessas freqüências ressonantes coincide ou é


próxima a uma freqüência característica gerada pela carga não-linear. Temos um conversor de
freqüência com retificação de entrada em 6 pulsos, portanto, utilizando a expressão
sabemos que existem as harmônicas de ordem 5, 7, 11, 13, 17, 19, etc.

A maior parcela das cargas é linear, porém, são acionadas através de soft-starters. Em
principio, quando as soft-starters forem ligadas e desligadas o banco de capacitores será
desligado através de algum intertravamento elétrico. As freqüências harmônicas geradas pelas
soft-starters devem ser as mesmas já mencionadas acima para o conversor de freqüência,
supondo que as cargas trifásicas são equilibradas e não ocorram assimetrias entre os semiciclos
positivos e negativos da corrente.

Pelas ordens harmônicas geradas pela carga não-linear, pode-se prever algum problema
com a 13ª e a 19ª harmônicas, isto porque estas freqüências estão muito próximas daquelas
características da instalação.

Simulando a entrada dos diversos estágios do banco de capacitores obtemos as formas


de onda da figura 9.1.

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Figura 9.1: Amplitude da corrente na entrada do banco de capacitores no ligamento
dos estágios 1 até 6 (a carga é a nominal e permaneceu constante).

É interessante notar que a corrente com todos os estágios ligados é menor que quando
estão ligados apenas 5 estágios. Isto é explicado pela ressonância que aparece na 13ª harmônica.
As correntes eficazes que circulam pelos estágios do banco de capacitores são mostrados na
tabela 9.5.

Número de estágios ligados Corrente eficaz por estágio (A)


1 83,48
2 59,06
3 57,12
4 49,55
5 72,37
6 55,62

Tabela 9.5: Correntes eficazes dos estágios de bancos de capacitores em função do número de
estágios ligados (a carga é a nominal e permaneceu constante).

Em todos os casos as correntes eficazes dos estágios do banco de capacitores ficaram


acima dos 48,11A nominais, e em dois casos ficaram acima de 62,54A que é a máxima corrente
de sobrecarga permitida.

As taxas de Distorção Harmônica de Tensão em função do número de estágios ligados


são mostradas na tabela 9.6.

Número de estágios ligados (%)


0 3,16

12
1 6,52
2 5,41
3 5,80
4 4,76
5 11,09
6 7,23

Tabela 9.6: Taxa de Distorção Harmônica de Tensão na entrada do painel em


função do número de estágios ligados (a carga é a nominal).

A forma de onda da corrente no banco de capacitores quando apenas um estágio está


ligado é mostrado na figura 9.2. Esse é o pior caso em termos de sobrecarga nos capacitores.

Figura 9.2: Forma de onda da corrente do banco de capacitores com


apenas 1 estágio está ligado (a carga é a nominal).

O espectro de freqüências é mostrado na figura 9.3. Os capacitores absorvem bastante


freqüências harmônicas nesse caso.

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Figura 9.3: Espectro harmônico da corrente do banco de capacitores
com apenas 1 estágio ligado (a carga é a nominal).

A forma de onda da corrente de um estágio do banco de capacitores quando 5 estágios


estão ligados é mostrado na figura 9.4. Esse é o pior caso em termos de ressonância.

Figura 9.4: Forma de onda da corrente em um dos estágios do banco de capacitores com
5 estágios ligados (a carga é a nominal).

O espectro de freqüências é mostrado na figura 9.5. Verifica-se a presença de


ressonância na 13ª harmônica.

14
Figura 9.5: Espectro harmônico da corrente de um estágio do banco de capacitores
com 5 estágios ligados (a carga é a nominal).

As formas de onda da corrente e tensão na entrada do painel são mostrados na figura


9.6. O Fator de Deslocamento obtido através de simulação foi 0,89 indutivo, um pouco abaixo
do 0,92 pretendido.

Figura 9.6: Formas de onda de tensão e corrente na entrada do painel com


5 estágios do banco de capacitores ligados (pior caso).
Pelos resultados obtidos anteriormente, somos obrigados a utilizar o reator de
dessintonização. Isso tanto para evitar a sobrecarga do banco de capacitores quanto evitar a
elevação de da instalação.

15
Vamos analisar o critério 3 do capítulo 8. Da simulação do modelo da planta obtemos
os seguintes resultados:

(%) 3,16
(%) 9,82

Tabela 9.7: Taxas de Distorções Harmônicas encontradas na entrada do painel com


o banco de capacitores desligado (a carga é a nominal).

Tabela 9.8: Valores individuais de cada componente harmônica de corrente


obtidos através da simulação do modelo da planta.

Descobrimos que a maior corrente harmônica individual encontrada é a de ordem 5, e a


corrente é menor que 10% do valor da corrente fundamental . Por este critério não
haveria necessidade do uso de reator de dessintonização. No entanto, a é maior que 3%,
critério esse que obriga a utilização do reator de dessintonização.

Pelo critério 4 do capítulo 8 devemos verificar se a corrente é maior que 20% da


. A 3ª harmônica de corrente é muito menor que a 5ª harmônica, já que as cargas do circuito
são equilibradas e não existem retificadores monofásicos. Este critério descarta o uso de Fator
de Dessintonização de 14%.

16
Pelo critério 5 do capítulo 8 devemos verificar a . A encontrada é
menor que 7%, o que leva a um Fator de Dessintonização de 7%. O Fator de Dessintonização de
7% corresponde a uma freqüência de dessintonização de 226Hz e uma ordem harmônica de
3,77.

Sabendo-se que o valor do capacitor ligado em estrela por estágio é 460,6 , o reator
de dessintonização de cada estágio será calculado por:

A tensão que aparecerá nos terminais do banco de capacitores será:

A potência reativa que o banco de capacitores fornecerá na freqüência fundamental será:

A potência somada dos seis estágios do banco de capacitores será agora de 284,6kvar.
No entanto, deve-se notar que essa potência reativa em parte compensa o reativo do reator de
dessintonização, não alterando em muito o valor daquela potência reativa entregue a carga.

Simulando a entrada dos diversos estágios do banco de capacitores obtemos as formas


de onda da figura 9.7.

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Figura 9.7: Amplitude da corrente na entrada do banco de capacitores no ligamento
dos estágios 1 até 6 (a carga é a nominal e permaneceu constante).

Deve ser notado que os transitórios de corrente são mais longos que no caso sem reator
de dessintonização. Estes transitórios podem durar vários segundos, no entanto, tem amplitudes
pequenas. As correntes eficazes que circulam pelos estágios do banco de capacitores são
mostrados na tabela 9.9.

Número de estágios Corrente eficaz por Tensão eficaz de linha


ligados estágio (A) no capacitor (V)
1 52,95 465,2
2 51,50 464,2
3 49,30 463,0
4 48,17 463,0
5 47,70 463,2
6 47,42 463,8

Tabela 9.9: Correntes eficazes dos estágios de bancos de capacitores e tensão nos capacitores
em função do número de estágios ligados (a carga é a nominal).

As taxas de Distorção Harmônica de Tensão em função do número de estágios ligados


são mostradas na tabela 9.10.

18
Número de estágios ligados (%)
0 3,16
1 3,09
2 3,01
3 2,92
4 2,84
5 2,77
6 2,71

Tabela 9.10: Taxa de Distorção Harmônica de Tensão na entrada do painel em


função do número de estágios ligados (a carga é a nominal).

A forma de onda da corrente de um estágio do banco de capacitores quando todos os


estágios estão ligados é mostrado na figura 9.8.

Figura 9.8: Forma de onda da corrente em um dos estágios do banco de capacitores


com todos os estágios ligados (a carga é a nominal).

O espectro de freqüências é mostrado na figura 9.9. Verifica-se pouca presença de


correntes harmônicas.

19
Figura 9.9: Forma de onda da corrente em um dos estágios do banco de capacitores
com todos os estágios ligados (a carga é a nominal).

A forma de onda da corrente no banco de capacitores quando apenas um estágio está


ligado é mostrado na figura 9.10. Esse é o pior caso em termos de sobrecarga nos capacitores.

Figura 9.10: Forma de onda da corrente do banco de capacitores com apenas


1 estágio ligado (a carga é a nominal).

O espectro de freqüências é mostrado na figura 9.11. Verifica-se pouca presença de


correntes harmônicas. Deve-se observar a presença de uma corrente em 226Hz, isto deve-se ao
fato de que o filtro dessintonizado não é atenuado.

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Figura 9.11: Espectro harmônico da corrente do banco de capacitores
com apenas 1 estágio ligado (a carga é a nominal).

As formas de onda da corrente e tensão na entrada do painel são mostrados na figura


9.12. O Fator de Deslocamento obtido através de simulação foi 0,91 indutivo, um pouco abaixo
do 0,92 pretendido.

Figura 9.12: Formas de onda de tensão e corrente na entrada do painel com todos estágios
do banco de capacitores ligados (a carga é a nominal).

Os filtros calculados até o momento não possuem atenuação. Vamos utilizar um Fator
de Qualidade de 100, que é um valor usual, e acrescentar uma resistência em série com o reator.
Em principio, essa resistência é intrínseca ao reator, devendo ser informado o Fator de
Qualidade quando da compra do mesmo. Se não existir a viabilidade técnica de fabricar o reator

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com uma resistência desse valor, temos duas opções, utilizamos resistores externos ou
aumentamos o Fator de Qualidade. Para o caso em estudo o valor da resistência será a seguinte:

Simulando a entrada dos diversos estágios do banco de capacitores obtemos as formas


de onda da figura 9.13.

Figura 9.13: Amplitude da corrente na entrada do banco de capacitores no ligamento


dos estágios 1 até 6 (a carga é a nominal e permaneceu constante).

Deve ser notado que os transitórios de corrente são mais longos que no caso sem reator
de dessintonização e mais curtos que no caso sem atenuação. As correntes eficazes que circulam
pelos estágios do banco de capacitores são mostrados na tabela 9.11.

Número de Corrente eficaz por Tensão eficaz de linha Potência total dissipada
estágios ligados estágio (A) nos capacitores (V) nos reatores (W)
1 48,23 461,1 107,1
2 48,11 461,5 212,9
3 47,82 461,8 315,5
4 47,59 462,5 416,6
5 47,46 468,9 517,9
6 47,32 463,6 617,9

Tabela 9.11: Correntes eficazes dos estágios do banco de capacitores, tensão nos
capacitores e potência dissipada nos reatores em função do número
de estágios ligados (a carga é a nominal).

As taxas de Distorção Harmônica de Tensão em função do número de estágios ligados


são mostradas na tabela 9.12.

22
Número de estágios ligados (%)
0 3,16
1 3,09
2 3,02
3 2,92
4 2,85
5 2,77
6 2,72

Tabela 9.12: Taxa de Distorção Harmônica de Tensão na entrada do painel em


função do número de estágios ligados (a carga é a nominal).

A forma de onda da corrente de um estágio do bancos de capacitores quando todos os


estágios estão ligados é mostrado na figura 9.14.

Figura 9.14: Forma de onda da corrente em um dos estágios do banco de capacitores


com todos os estágios ligados (a carga é a nominal).

O espectro de freqüências é mostrado na figura 9.15. Verifica-se pouca presença de


correntes harmônicas.

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Figura 9.15: Forma de onda da corrente em um dos estágios do banco de capacitores
com todos os estágios ligados (a carga é a nominal).

A forma de onda da corrente no banco de capacitores quando apenas um estágio está


ligado é mostrado na figura 9.16. Esse é o pior caso em termos de sobrecarga nos capacitores.

Figura 9.16: Forma de onda da corrente do banco de capacitores com apenas


1 estágio ligado (a carga é a nominal).

O espectro de freqüências é mostrado na figura 9.17. Verifica-se pouca presença de


correntes harmônicas. Deve-se observar que a corrente em 226Hz é mais atenuada que no caso
do filtro dessintonizado sem atenuação.

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Figura 9.17: Espectro harmônico da corrente do banco de capacitores
com apenas 1 estágio ligado (a carga é a nominal).

As formas de onda da corrente e tensão na entrada do painel são mostrados na figura


9.18. O Fator de Deslocamento obtido através de simulação foi 0,91 indutivo, um pouco abaixo
do 0,92 pretendido.

Figura 9.18: Formas de onda de tensão e corrente na entrada do painel com todos estágios
do banco de capacitores ligados (a carga é a nominal).

10 SIMBOLOGIA

Subscritos:

25
1 - índice referente a freqüência fundamental
a,b,c - índices correspondentes as fases
ar - anti-ressonância
cc - corrente contínua
ef - valor eficaz
h - ordem da harmônica
i - corrente
l - carga
lr - reatância de rede
n - nominal
pr - primário de transformador
r - ressonância
s - rede
sc - curto-circuito
sec - secundário de transformador
tr - transformador
v - tensão
Y - ligação estrela
- ligação delta

Símbolos:
- coeficiente de Fourier da componente contínua
a - coeficiente de Fourier da componente cosseno
b - coeficiente de Fourier da componente seno
B - Largura de Banda
C - capacitor (F)
- quociente entre potência ativa e potência aparente
f - freqüência (Hz)
FDesl - fator de deslocamento
FDist - fator de distorção
FDS - fator de dessintonização
FP - fator de potência
FQ - Fator de Qualidade
h - ordem da harmônica
i - corrente instantânea (A)
- corrente eficaz (A)
k - número inteiro qualquer
L - indutor (H)
N - número de espiras de um transformador
P - potência ativa (W)
p - número de pulsos de um retificador
Q - potência reativa (var)
S - potência aparente (VA)
R - resistor
T - período (s)
t - tempo (s)
- taxa de distorção harmônica (%)
v - tensão instantânea (V)
- tensão eficaz (V)
X - reatância
- reatância característica
Z - impedância
- ângulo de disparo de um tiristor (º)

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- ângulo de defasagem (º)
- freqüência angular (rad/s)

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30
31
Com 6 estagios Cos fi = 0,9

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33
34
35
1 Estágio ligado

36
2 Estágios ligados

37
3 Estágios ligados

38
4 Estágios ligados

39
5 Estágios ligados

40
6 Estágios ligados

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