TCL Juliano Carlos Baptista 21.09.2021
TCL Juliano Carlos Baptista 21.09.2021
TCL Juliano Carlos Baptista 21.09.2021
Candidato: Supervisor:
Eu, Juliano Carlos Baptista, declaro, por minha honra, que o presente trabalho é da minha autoria e
que nunca foi anteriormente apresentado para avaliação em alguma instituição de ensino superior
nacional ou de outro país.
____________________________________
O candidato O supervisor
____________________________ __________________________________
(Juliano Carlos Baptista) (Cremildo Cau, MAPP)
DEDICATÓRIA
EPÍGRAFE
(PLOTKE, 1997)
LISTA DE SIGLAS
SUMÁRIO EXECUTIVO
Palavras-Chave:
iv
CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO
1.2 Contextualização
Numa perspectiva histórica a RSE é uma manifestação actual de debates antigos sobre o papel dos
negócios na sociedade. O fenómeno novo neste debate é o facto de estes debates relacionarem a
RSE com temas como o desenvolvimento, ambiente, direitos humanos, e tem uma amplitude global
em comparação com os períodos anteriores.
A responsabilidade social corporativa era aceite como doutrina nos EUA e Europa até o século
XIX, quando o direito de conduzir negócios de forma corporativa era uma questão de prerrogativa
1
do Estado ou Monarquia e não um interesse económico privado (Hood, 1998). Com a
independência dos EUA, os estados americanos começaram a aprovar a legislação que permitisse a
auto-incorporação (Self-incorporation) como alternativa à incorporação por acto legislativo
específico, inicialmente para serviços de interesse público, como, por exemplo, a construção de
canais, e, posteriormente, para propósitos de condução de negócios privados. Desta forma, até ao
início do séc. XX a premissa fundamental da legislação sobre corporações era de que seu propósito
era a realização de lucros para seus accionistas (Ashley, 2000).
Após os efeitos da Grande Depressão e o período da Segunda Guerra Mundial, a noção de que a
corporação deve responder apenas aos interesses dos seus accionistas sofreu ataques na academia,
principalmente pelos trabalhos de Berle e Means, The Modern Corporation and Private Property
(Berle & Means, 1932), argumentando que os accionistas eram passivos proprietários que
abdicavam controlo e responsabilidade para a direcção da corporação. Estes eventos históricos
destacados criaram um ambiente para uma aceitação gradual da responsabilidade social no contexto
académico. Suzana Leal (2005) destaca as fases importantes que marcam este percurso até às
modernas formulações da responsabilidade social.
Com efeito a responsabilidade social empresarial começa a sofrer uma crescente formalização
enquanto conceito a partir da década de 1960. McGuire (1963) defendeu a ideia de que a
responsabilidade social supõe que a empresa não tem apenas obrigações legais e económicas mas
também algumas responsabilidades para com a sociedade. Por sua vez, Walton (1967) destaca que o
conceito de responsabilidade implica uma intimidade da relação entre empresa e a sociedade, e
defende que tal relação deve ser lembrada pelos gestores de topo à medida que a empresa e os
grupos relacionados prosseguem os respectivos objectivos (Leal, 2005).
2
Na década de 1980 surgiram menos definições de RSE e mais aplicações e estudos empíricos sobre
o tema. Em 1984, Drucker defendeu a ideia de que a rentabilidade e a responsabilidade são noções
complementares, bem como, a ideia de que é desejável para os negócios a “concessão” das
responsabilidades sociais em oportunidades de negócio. Tal como referido por Drucker (1984: 59)
“To do good in oder to do well”, isto é, converter as necessidades e problemas sociais em
oportunidades de negócios rentáveis era, na época, raramente considerado pelos que advogavam a
responsabilidade social. Ou seja, a primeira responsabilidade social de qualquer negócio deverá ser
ter proveitos suficientes para cobrir os custos do futuro (Leal, 2005).
1.3 Justificativa
Ao nível social, a escolha do tema sobre a RSE em Moçambique, com particular foco na actuação
da Mozal na vida das comunidades, é um contributo ao debate que já tem acontecido, sobre o
desenvolvimento social e económico que é esperado com a actuação dos megaprojectos, das
multinacionais estrangeiras.
Ao nível da AP, a escolha deste tema é uma oportunidade de discutir a RSE com novas perspectivas
de análise, visto que este tema já tem sido alvo de estudos em ciências como a administração,
economia, gestão, entre outras, e por esta via através da AP podem ser levantados novos problemas
e sugestões de pesquisa.
Em termos de motivação pessoal, pesaram a curiosidade despertada no autor pelo tema da RSE, que
embora não sendo um novo tema, tem a capacidade de despertar animosidades em alguns círculos
de opinião da sociedade Moçambicana. O autor sendo membro desta mesma sociedade, não poderia
deixar de dar o seu contributo para reflexão do tema, com o auxílio da AP.
Por outro lado a questão da participação comunitária em matérias de RSE dos megaprojectos, já deu
provas de ser em algum momento, um terreno aberto a diversas interpretações, tanto por parte dos
que implementam, como também das comunidades que dela se beneficiam. Embora tenham sido
feitos esforços na teorização da RSE, nota-se que ainda persistem lacunas da sua implementação ao
nível empírico.
3
bem-estar das comunidades locais. Ou seja, há que perceber até que ponto a comunidade é ouvida
na elaboração e implementação das acções que a empresa faz.
1.4 Problematização
Na visão de Crowther e Aras (2008), apontam elementos como o facto de estas práticas criarem
infra-estruturas e serviços básicos para as comunidades em redor destas empresas, como escolas,
postos de saúde, oficinas, fontenárias, criação de empregos, entre outros, contribuindo assim para a
melhoria das condições de vida e para o desenvolvimento local.
Santos (2012:90), por sua vez defende que “o surgimento de empresas socialmente responsáveis é
uma condição sine qua non para o desenvolvimento endógeno, fazendo com que a empresa crie
activos na relação economia-sociedade-ambiente”.
Contudo, as críticas lançadas a RSE apontam que o dever dos megaprojectos é do pagamento de
impostos e o cumprimento da lei, e que as acções de cariz social devem ser feitas pelo governo
(Selemane, 2012). As críticas apontam que os incentivos fiscais concedidos a estas empresas, e a
regulação reduzida pelo Estado trazem apenas uma pequena porção dos rendimentos e das riquezas
geradas por estas actividades. Desta forma as empresas são acusadas de usar a RSE como uma capa
para não cumprirem as suas obrigações fiscais (Tourinho, 2007).
A linha que usamos neste estudo, não pretende se limitar a uma crítica dogmática ou a uma
celebração exacerbada da RSE, visto que esta prática tem suas vantagens e desvantagens. No
entanto, nos questionamos se as comunidades locais que são abrangidas pela RSE tomam parte
activamente destas práticas, através de processos de participação, negociação, tomada de decisão ou
são actores passivos que dependem da caridade esporádica e boa vontade destas corporações e
multinacionais?
Este questionamento é feito pelo facto de serem as próprias empresas que através da RSE, regulam
a sua própria conduta na sua intervenção social nas comunidades e frequentemente apontam os
aspectos positivos das suas actividades nos seus relatórios de prestação de contas. Neste processo as
comunidades que se beneficiam da RSE, raras vezes tem a oportunidade de intervir e de concordar
ou descordar do posicionamento das empresas. Nesta senda, pesquisas feitas no campo da RSE,
analisam a actuação social das empresas nas comunidades, realçando as questões de participação,
negociação e tomada de decisão dessas mesmas comunidades.
Echave (2006) sustenta que as comunidades ligadas às companhias tem um papel reduzido no
processo de tomada de decisão sobre o desenvolvimento das suas zonas, pois as comunidades
4
tendem a negociar com as empresas sem preparação adequada, não definindo objectivos e
estratégias, sem obter a informação necessária, sem recursos, consultas e sem capacidade
organizacional.
O não envolvimento das populações locais tem como consequências a dependência mental. Visto
que a construção de edifícios e de outros projectos de desenvolvimento não envolvem de forma
genuína a população local, estas iniciativas das companhias são vistas como ofertas, e as populações
não se sentem como donas destes projectos (Frynas, 2005:590).
Assim a participação dos beneficiários tem sido constrangida pela falta de habilidades das
companhias petrolíferas de gerir as questões de desenvolvimento local através da responsabilidade
social empresarial, e também pelas abordagens tecnicistas usadas pelos gestores das companhias no
tratamento das questões sociais.
As abordagens aqui arroladas nos levam a constatar que apesar da emergência da responsabilidade
social empresarial na esfera internacional, frutos da sua teorização e normatização, a sua
implementação ainda é divergente no seio das diferentes empresas e companhias de diversos ramos.
Ligados a este aspecto, a fronteira entre RSE, caridade e filantropia é pouco clara, o que tem criado
disparidades não se sabendo se certas acções fazem parte de uma estratégia de RSE planificada pela
empresa, ou se trate de acções momentâneas de boa vontade. Perante este cenário o que dizer da
realidade moçambicana, onde através da RSE, especialmente dos megaprojectos, estes últimos tem
interagido com as comunidades locais criando impactos de ordem económica, social e ambiental?
Deste modo temos como pergunta de partida: Até que ponto a participação comunitária
contribui nas acções da responsabilidade social das empresas, especificamente a comunidade
de Chinonanquila?
5
1.5 Objectivos da Pesquisa
1.5.1 Objectivo Geral
Reflectir em Torno do Papel da Participação Comunitária nas Acções da Responsabilidade
Social das Empresas.
6
1.8 Metodologia do Trabalho
Do ponto de vista da sua natureza, o estudo classifica-se como Pesquisa Aplicada: que objectiva
gerar conhecimentos para aplicação prática dirigidos à solução de problemas específicos. Envolve
verdades e interesses locais. Para o efeito, através de tal estudo analisa-se a participação da
comunidade de Chinonanquila como factor de sucesso das acções da RS da Mozal.
Quanto à forma de abordagem do problema este estudo segue uma abordagem qualitativa,
procurando desta forma descrever os resultados sem modificar a realidade tal como ela se apresenta
do fenómeno em estudo.
A pesquisa é qualitativa porque visa responder questões particulares com um grau de realidade que
não pode ser quantificado para garantir a representatividade. Trabalha com um universo de
significados, motivos, aspirações, valores, atitudes correspondentes a um espaço mais profundo das
relações, dos processos e dos fenómenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de
variáveis (Minayo, 1993).
A pesquisa descritiva é aquela que observa, regista e correlaciona factos e fenómenos sem
manipulá-los (Mattar, 1997). Também aborda quatro aspectos: descrição, registro, análise e
interpretação de fenómenos actuais, observando o seu funcionamento no presente” (Marconi &
Lakatos, 1990). Deste modo, esta pesquisa é de carácter descritivo, porque apresenta a percepção
social acerca da estratégia da prática de RSE da Mozal bem como a descrição das suas acções
sociais praticadas com repercussões a nível da comunidade local e circunvizinha onde está inserida.
Relativamente aos meios de investigação foi classificada como estudo de caso e bibliográfica. Gil
(2007), entende que o estudo de caso é caracterizado pelo estudo aprofundado e exaustivo de um ou
mais objectos que permita o seu amplo e detalhado conhecimento, tarefa que seria praticamente
impossível mediante outras abordagens. Assim, neste trabalho optou-se por uma abordagem de
“estudo de caso” cuja unidade de análise é uma organização (Mozal) onde se analisa com alguma
profundidade, de forma a contextualizar a abordagem teórica com um exemplo prático.
7
Para fundamentar e tentar perceber a estratégia da prática de RSE, aplicada a um caso prático que
possibilitou um estudo aprofundado e detalhado sobre os projectos sociais e as acções sociais
praticada pela organização em estudo que contribui para a melhoria das condições de vida da
população.
Conclui-se que ao efectuar-se um estudo de caso seria um método importante para oferecer a
resposta a esta investigação (Nogueira, 2011). Denker e Bueno (2007), afirmam que o estudo de
caso pode envolver exames de registos, observação de ocorrências de factos, entrevistas
estruturadas e não estruturadas ou qualquer outra técnica de pesquisa. O objecto do estudo de caso,
por sua vez, pode ser um indivíduo, família, um grupo ou comunidade, uma organização, um
conjunto de organizações ou até uma situação para examinar aspectos variados, que pode incluir
tanto um estudo de caso simples e/ou múltiplos. Para a realização deste trabalho foi utilizado o
estudo de caso simples, pois aborda um único caso.
Nesta perspectiva, esta pesquisa foi classificada como bibliográfica porque procurou explicar,
explorar e abordar o tema a partir de uma análise aprofundada de materiais já publicados na
literatura académica e artigos científicos com acesso no meio electrónico, como em sites da internet
e bibliotecas virtuais, e em outras fontes e recursos, que dessem alguma sustentação à pesquisa e
viabilizasse ao mesmo tempo o trabalho, como dissertações, teses, revistas, jornais, artigos
científicos, documentos institucionais, boletins informativos e documentos diversos.
De acordo com Goya (2007), existem dois tipos de dados recolhidos numa pesquisa,
nomeadamente, primários e secundários. Sendo os dados primários, aqueles obtidos a partir de
informações das próprias organizações, isto é, são originais obtidos através de entrevistas. Os dados
secundários provém de outras fontes como: bibliografia sobre o assunto, sites da internet, artigos
científicos, livros, jornais, revistas, teses, dissertações, documentos institucionais (relatórios de
sustentabilidade, informação pública e publicada), entre outros.
Neste estudo, a técnica utilizada na recolha de dados primários foi mediante a realização de uma
entrevista semi-estruturada e pessoal, dirigida aos responsáveis com responsabilidades pelas acções
8
da prática de RS da empresa, com base num guião pré-elaborado, composto por perguntas abertas,
direccionadas ao objectivo do trabalho. A razão que se prende com uso deste tipo, segundo Ludke e
Andrá (2013) é, porque “[…] se desenvolve a partir de um esquema básico, porém não aplicado
rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as necessárias adaptações”. A técnica para a
recolha de dados secundários foi através de artigos científicos, dissertações, teses e sites da internet,
para além da legislação, relatórios e documentação sobre o assunto em apreço, que consistiu na
obtenção de um suporte teórico para compreender os elementos relacionados com a RSE.
Durante as entrevistas, as perguntas seguiam uma ordem lógica com o intuito de facilitar o
entendimento das questões associadas à temática estudada. No entanto, a ordem das perguntas
foram sendo modificadas durante a realização das entrevistas. Essas variações ocorreram devido a
acontecimentos aleatórios, como interrupções e mudança de assunto por parte do entrevistado,
dentre outras. Durante a recolha de dados primários, todas as entrevistas são gravadas e, em
seguida, transcritas para que se pudesse fazer a análise de conteúdo.
Baseado neste pressuposto, para o estudo propõe-se o uso deste método, uma vez que se tem em
base dados incompletos para explicar as acções da RSE e o papel que deste decorre para o
1
POPPER, K. (1935), A lógica da investigação científica.
9
desenvolvimento das comunidades, deste problema, o pesquisador já cria postulado (hipótese) para
tentar explicar o facto problemático e assim, são testados, confirmados ou falseados no terreno.
Para o estudo aplica-se o método monográfico ou estudo de caso2, chamado por muitos como
método das representatividades. Este método parte do princípio de que o estudo de um caso em
profundidade pode ser considerado representativo de muitos outros ou mesmo de todos os casos
semelhantes. Esses casos podem ser indivíduos, instituições, grupos ou comunidades (Gil, 2009).
Assim, o estudo é exaustivo e representativo ao ponto de se considerar a participação um vector
preponderante para o alcance do sucesso das acções da RSE não só na comunidade em análise como
também para as demais comunidades. Portanto, especificamente este estudo é representativo de
caso institucional e territorial.
Assim, para a operacionalização desta técnica são aplicados os seguintes tipos de amostragem:
2
O estudo de caso “visa explorar, descrever ou explicar uma realidade específica, e surge do desejo de compreender
fenómenos sociais complexos, ao mesmo tempo que retém as características significativas e holísticas de eventos da
vida real” (Yin, R., 2010).
10
Amostragem por acessibilidade ou por conveniência: constitui o menos rigoroso de todos os tipos
de amostragem, por isso mesmo é destituída de qualquer rigor estatístico. O pesquisador selecciona
os elementos a que tem acesso, admitindo que estes possam, de alguma forma, representar o
universo (Gil,1999). Aplica-se este tipo de amostragem em estudos descritivos ou qualitativos, onde
não é requerido elevado nível de precisão. Portanto, esta tipologia é aplicada para a selecção dos
utentes, devido a dificuldade para a sua localização.
Esta monografia está organizada ou estruturada em quatro (4) capítulos. O da Introdução (onde se
faz a breve apresentação do trabalho desde os objectivos, delimitação espácio-temporal,
contextualização, justificativa da sua realização, problematização até ao seu tratamento
metodológico);
O segundo capítulo compreende o debate teórico e conceptual, onde são abordados aspectos como o
desenvolvimento teórico que faz o acompanhamento do tema em estudo, faz também a
conceptualização dos conceitos-chave usados com frequência na abordagem do tema;
O quarto capítulo faz menção à caracterização do campo de estudo e é ainda neste capítulo que são
apresentados e discutidos os dados colhidos no campo (Mozal e comunidade na localidade de
Chinonanquila). Depois dos capítulos é trazida a conclusão (considerações do pesquisador)
sucedida da página das referências bibliográficas usadas, Apêndices e Anexos.
11
CAPÍTULO 2: QUADRO TEÓRICO E CONCEPTUAL
Este capítulo compreende o debate teórico e conceptual, onde são abordados aspectos como o
desenvolvimento teórico que faz o acompanhamento do tema em estudo, a conceptualização dos
conceitos-chave usados na abordagem do tema.
Para interpretar os resultados, a pesquisadora precisa ir além da leitura dos dados, com vista a
integrá-los num universo mais amplo em que poderão ter algum sentido. Esse universo é o dos
fundamentos teóricos da pesquisa e o dos conhecimentos já acumulados em torno das questões
abordadas (Gil, 2009).
Mediante o auxílio de uma Teoria pode-se verificar que por trás dos dados existe uma série
complexa de informações, um grupo de suposições sobre o efeito dos factores sociais no
comportamento e um sistema de proposições sobre a actuação de cada grupo. Assim, as teorias
constituem elemento fundamental para o estabelecimento de generalizações empíricas e sistemas de
relações entre proposições. Assim, o estudo é lido na base da Teoria da Democracia Participativa
(TDP) complementada pela Teoria do Desenvolvimento Endógeno (TDE).
Para Langa (2012), Joseph Proudhon3 e Piotr Kropotkine4 formularam os modelos económicos
alternativos, com base no princípio da autogestão, criando deste modo a TDP.
Segundo Cohen (1998: 28), durante o Século XIX, nasce o movimento cooperativo e associativo,
como uma nova forma de organização da Sociedade Civil, colocando este movimento como
parceiro “natural” dos sistemas políticos e económicos, levando a que nos nossos dias, este
movimento, desenvolve-se novas estratégias baseadas, nos actores locais, disponíveis para
desencadearam um processo de diálogo e de negociação, criando assim, uma nova ordem social,
baseada no ordenamento participativo e negociado, promovendo assim o diálogo local.
Surgindo então, nessa época a ideia de autogoverno (sef-goverment), que é defendida, por vários
pensadores políticos, como democracia participativa.
2.1.1.1 Pressupostos da Teoria da Democracia Participativa
3
PROUDHON, P. J. (2001), Do princípio federativo. São Paulo: Nu-Sol. ISBN
4
KROPOTKINE, P. (2009), Ajuda Mútua: Um factor de evolução, São Sebastião: A Senhora Editora.
12
Autogestão;
Divisão de poder por todos os elementos que constituem a comunidade;
Reduzir ao mínimo as funções políticas em simples funções económicas;
Estrutura da base para o topo (down-top) do Governo.
De acordo com Costa (2002), desde os meados dos anos 80 do século XX, a investigação no âmbito
da teoria do crescimento sofreu um novo impulso e tal impulso deveu-se aos inúmeros trabalhos
pioneiros desenvolvidos por autores como Romer (1986)7 e Lucas8 ( 1988). Os modelos
desenvolvidos por esses autores, bem como outros modelos subsequentes, passaram a designar-se,
genericamente como modelo de crescimento endógeno.
13
2.1.3 Pressupostos Básicos da Teoria do Desenvolvimento Endógeno
O aspecto endógeno refere-se ao facto do desenvolvimento ser determinado por actores internos à
região, sejam eles empresas, organizações, sindicatos ou outras instituições (Campus et al, 2005).
Para Moraes (2003), a TDE pressupõe o apoio nos factores de produção, sendo estes geridos
endogenamente em cada território e baseia-se na execução de políticas de fortalecimento e
qualificação das estruturas internas dos territórios criando condições sociais e económicas para a
geração e atracção de novas actividades produtivas.
Segundo Vázquez (20019 citado por Ribeiro & Santos, 2005: 56), existem seis pilares da TDE
nomeadamente:
Para Oliveira (2001), a questão do desenvolvimento local possui, pelo menos, três limitações.
9
Vázquez B. A. (2001). Desenvolvimento endógeno em tempos de globalização. Fundação de Economia e Estatística.
Porto Alegre
14
Como consequência, a terceira limitação é que não só os conflitos internos são ignorados pelos
defensores do desenvolvimento local, assim como os conflitos externos, entre o local e o
central;
A partir da leitura da tese de Oliveira (2001), uma quarta crítica pode ser acrescentada às
teorias de desenvolvimento local: o desenvolvimento global não pode ser concebido como a
simples soma de todos os poderes locais.
Esta teoria é aplicável a esta pesquisa uma vez que tem como principal característica a ampliação da
base de decisões autónomas por parte dos actores locais, colocando nas mãos destes, o destino da
economia local ou regional. Este modelo caracteriza-se por ser realizado de “baixo para cima”, ou
seja, partindo das potencialidades socioeconómicas originais do local, no lugar de um
desenvolvimento estruturado de “cima para baixo”, isto é, partindo do planeamento e intervenção
conduzidos pelo Estado nacional, (Amaral Filho, 1996).
A compressão plena de determinada matéria é, vezes sem conta, determinada pelo entendimento
dos conceitos básicos a sua volta. Para a melhor compreensão desta pesquisa sobre o papel da
participação comunitária nas acções de Responsabilidade Social das empresas, afigura-se
15
importante a definição de alguns termos, nomeadamente: participação comunitária,
Responsabilidade Social e Megaprojectos.
No sentido mais amplo, de acordo com Bordenave (1985), participação é “fazer parte”, “tomar
parte” ou “ter parte”. Desta forma, para o autor a questão central da participação não é o quanto se
toma parte mas como se toma parte e distingue entre os processos de micro participação (voltada
para interesses pessoais e imediatos) e macro participação (voltada para a intervenção no âmago das
estruturas sociais, políticas e económicas).
A Participação não nos parece que seja uma obrigação moral ou política da democracia. Todavia, a
participação constitui uma técnica de gestão pela sedução que anda associada ao estilo pessoal de
liderança política dos eleitos. É uma forma de envolver os cidadãos na solução dos seus problemas
(Bilham, 2004:60).
A Participação deve ser entendida como acto e efeito de um processo em que a sociedade civil, a
sociedade política e a sociedade económica tenham tomado uma decisão em conjunto. Klausmeyer
e Ramalho (1995) entendem que ela acontece quando há acesso efectivo dos envolvidos no
planeamento das acções, na execução das actividades e em seu acompanhamento e avaliação.
O conceito de comunidade está intimamente ligado com o surgimento da sociologia como ciência,
na medida em que no referido contexto, as sociedades europeias passavam por transformações
profundas, em que os modos de vida tradicional davam lugar a modernização da sociedade,
impulsionados pelos processos de urbanização e individualização (Peruzzo & Volpato, 2009).
Neste sentido consideramos ser pertinente trazer as reflexões dos clássicos da sociologia como
ponto de partida para a compreensão deste conceito. Na visão de Tonnies (1995), a existência de
processos comunitários estaria ligada, em primeiro lugar, aos laços de sangue, em segundo lugar à
16
aproximação espacial, e em terceiro lugar à aproximação espiritual. De acordo com Tonnies (1944:
98): “ Pode se compreender a comunidade como um organismo vivo, e a sociedade como um
agregado mecânico e passageiro”.
Nesta vertente Weber (1987:77) define comunidade como: “uma relação social na medida em que a
orientação da acção social, na média ou no tipo-ideal, baseia-se em um sentido de solidariedade: o
resultado de ligações emocionais ou tradicionais dos participantes”. Neste estudo será adoptada a
perspectiva de Brint (2001), que define comunidade como agregados de pessoas que partilham
actividades comuns e crenças, estando ligados por relações de afecto, lealdade, valores comuns ou
preocupações pessoais (Com os acontecimentos das vidas dos seus semelhantes).
Assim, a participação comunitária, termo formulado nos meados dos anos 50, surgiu num contexto
em que as iniciativas de desenvolvimento procuravam responder as necessidades dos seus
beneficiários, através do envolvimento activo das comunidades locais na planificação e execução
dos projectos, de modo que estes actores se sentissem partes integrantes dos mesmos, e não somente
receptores passivos (Valá, 1998; UNICEF, 1999).
A responsabilidade social empresarial (RSE), de acordo com Santos (2012) é um conceito difícil de
delimitar porque é essencialmente dinâmico e variável. Neste sentido a amplitude deste conceito por
vezes leva a que seja implementado de forma díspar por parte das empresas, quer de acordo com os
seus recursos, como também pelo contexto em que se encontram. Uma das marcas distintas do
conceito de Responsabilidade social empresarial é a sua relação com a noção de ética.
Para Santos (2012) o conceito de responsabilidade social agrega um imperativo ético ao fazer coisas
que melhoram a sociedade, e não fazer aquelas que poderiam piorá-la. Ou seja a responsabilidade
social da empresa na perspectiva de Santos (2012:83) “é a forma de gestão que se define pela
relação ética e transparente da empresa com os públicos com que se relaciona e pelo
17
estabelecimento de metas empresariais conciliáveis com o desenvolvimento sustentável da
sociedade”.
A definição de RES que adoptamos para este trabalho é a de Neto e Froes, na medida em que
consideram a RSE de um ponto de vista ético e moral, ou seja o papel da empresa vai para além do
cumprimento da lei. A preocupação da empresa em fazer o bem e não o mal para a sociedade
(perspectiva ética), encontram na responsabilidade social um mecanismo de retribuição a sociedade.
Para a Melo Neto e Froes (1999:82): “A RSE é uma forma da empresa retribuir a sociedade pelos
recursos naturais, capitais financeiros e tecnológicos, e força de trabalho usados no seu
funcionamento, recursos estes que pertencem ao património gratuito da humanidade. A RSE é
também um mecanismo de reduzir as diferenças sociais criadas pela empresa”.
Uma das elaborações teóricas com maior adesão na literatura norte-americana sobre RSE é a
proposta apresentada por Carroll em 1979, a qual resistiu, no essencial, até à actualidade,
permanecendo amplamente aceite pela comunidade científica. Carroll estabelece quatro tipos
específicos de responsabilidades sociais das empresas, identificadas com base nas expectativas da
sociedade em relação ao desempenho empresarial. O autor apresenta uma definição de RSE
estruturada em quatro dimensões – económica, legal, ética e filantrópica:
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2.2.3 Mega-Projectos
O tipo de empresa que constitui o nosso objecto de estudo é considerado megaprojectos, na medida
em que este tipo de empresa possui um volume de investimentos elevado. Castel- Branco (2008)
caracteriza os megaprojectos como sendo empresas com investimentos acima de 500 milhões de
dólares norte-americanos, geralmente centram-se em torno de actividades minerais e energéticas –
carvão de Moatize, gás de Pande e Temane, areias pesadas de Moma e Chibuto, hidroelétrica de
Cahora-Bassa, e Mozal (Intensiva em energia). São empresas estruturantes das dinâmicas
fundamentais de acumulação e reprodução económica em Moçambique por causa do seu peso no
investimento privado, na produção e no comércio.
Castel-Branco (2008) acrescenta ainda que os megaprojectos são área quase exclusiva de
intervenção de grandes empresas multinacionais por causa dos elevadíssimos custos, das
qualificações e especialização requeridas, da magnitude, das condições competitivas especialização
dos mercados fornecedores e consumidores, geralmente dominados por oligopólios e monopólios.
Em economias menos desenvolvidas, como é o caso de Moçambique, estas empresas podem
exercer considerável poder.
Neste capítulo, para além da apresentação da base teórica, foram desenvolvidas conceptualmente as
expressões-chave que auxiliam a compreensão do presente trabalho, ou seja, os conceitos aqui
debatidos servem de arcabouços para o avanço científico do tema em análise. Já a seguir abre-se o
terceiro capítulo com vista a aprofundar o tema na óptica de vários autores.
19