Cuaderno 20: RESOLUÇÃO DE CONFLITOS INTERNACIONAIS: Análise Das Epistemologias
Cuaderno 20: RESOLUÇÃO DE CONFLITOS INTERNACIONAIS: Análise Das Epistemologias
Cuaderno 20: RESOLUÇÃO DE CONFLITOS INTERNACIONAIS: Análise Das Epistemologias
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Cuaderno 20
Resumo:
1
Advogada e Bacharel em Direito pelo Centro Universitário de Brasília (CEUB)
email: [email protected]
1
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf
Introdução:
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Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
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2
MINISTÉRIO DA DEFESA, 2011, p. 13
3
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Estado, estado-nação e formas de intermediação política . Lua Nova:
Revista de Cultura e Política. 2017, n. 100. p. 155-185
4
REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público: Curso elementar. 15 ed. - São Paulo: Saraiva 2014
5
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Estado, estado-nação e formas de intermediação política . Lua Nova:
Revista de Cultura e Política. 2017, n. 100. p. 155-185
3
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Tratados internacionais, segundo Rezek6, podem ser definidos como “ acordo formal,
concluído entre sujeitos de direito internacional público e destinado a produzir efeitos
jurídicos.” O tratado deve ser um documento escrito, acordado entre Estados e ou organizações
internacionais que têm por objetivo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas e
direitos.
No mesmo sentido, uma outra definição de tratado é a encontrada na Convenção de
Viena sobre o Direito dos Tratados, adotada em 22 de maio de 1969, e promulgada em 14 de
dezembro de 2009 pelo Presidente da República, através do Decreto Nº 7.030
“ (...) acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito
Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais
instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica;”(BRASIL,
2009)7
O direito internacional consuetudinário referente aos tratados foi codificado pela
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, adotada em 22 de maio de 1969. Em seu
preâmbulo, a Convenção reconhece como princípios de Direito Internacional os princípios da
autodeterminação dos povos, da igualdade soberana, da independência de todos os Estados, e
da não-intervenção nos assuntos internos dos Estados. Dessa forma, o tratado é um exercício
da soberania estatal que resulta de um arranjo bilateral para que determinado Estado ou Estados
possam exercer seus poderes além de suas fronteiras, sem ferir prerrogativas de outros Estados.
E de acordo com o disposto no art. 27 da Convenção de Viena, uma vez internalizado o tratado,
nenhuma das partes pode invocar seu direito interno como justificativapara o não cumprimento
deste.
Em relação à soberania, o Direito dos Tratados não objetiva estipular um direito
comum a todas as organizações internacionais, mas sim, identificar o direito de cada uma delas8.
Isso porque cada organização internacional é independente para estabelecer seu estatuto e sua
base jurídica o que, via de regra, é derivado do Direito Internacional. Trindade9 explica que isso
é essencial, pois serve para "definir a noção de regras relevantes da organização levando em
conta, particularmente, a prática da organização (...)". Um Estado ao recorrer à uma
normatização internacional, não renuncia integralmente de sua soberania, ele a utiliza em favor
de suas particularidades que se coincidem aos interesses dos demais, sejam
6
REZEK, José Francisco. Direito dos Tratados. - 1a ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense 1984 p.1
7
Decreto nº 7.030, de 14 de dezembro de 2009, Art. 2, “a”.
8
DA SILVA, Cheyenne Cunha Teixeira.Soberania e intervenção internacional: relação e contraposição?
Faculdade baiana de direito.2014
9
CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto, Direito das Organizações Internacionais. 5ª ed. Belo Horizonte:
Del Rey, 2012. p. 204.
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10
REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público: Curso elementar. 15 ed. - São Paulo: Saraiva 2014.
11
Ibid.
12
ALVES, Luiza Queiroz apud EEAR, 2013.
13
LEÃO, Renato Zerbini Ribeiro. O regime da vanguarda do direito internacional público: ciência, direitos
humanos, meio-ambiente, migrações, povos indígenas e trabalho decente. Brasília, DF: Trampolim Editora e
Eventos Culturais Eirelli, 2021. p. 50.
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jurídicas internacionais, o Direito Internacional dos Conflitos Armados14. Essas normas, que
podem ser estabelecidas por tratados ou pelo costume15, são evocadas em face de um conflito
armado, e para melhor cumprir seu objetivo, o DICA é norteado pelos princípios da distinção,
limitação, proporcionalidade, necessidade militar e humanidade16 e a ele se aplicam as fontes
descritas no Artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, quais sejam as convenções
internacionais, os costumes internacionais, os princípios gerais de direito e de forma subsidiária
às decisões judiciais e os ensinamentos dos dos publicitários mais qualificados das várias
nações.
O DICA passou de um tempo em que a Guerra era um direito dos Estados para um em
que impera a proibição geral do uso da força, com algumas exceções listadas nos artigos 51 e
42 da Carta da ONU e na resolução 2105 da ONU de 1965. Entretanto, segundo a doutrina, no
caso de conflitos armados, esse direito se vale de duas principais vias para a solução destes
conflitos: a via coercitiva armada e a via pacífica, sendo que, a segunda via será fundamental
no presente trabalho.
1.2.1. Solução pacífica
Uma das vertentes evocada para solucionar um conflito internacional é a da via
pacífica para solução de controvérsias. Inicialmente, as formas de solução pacífica de conflitos
entre Estados consistiam, exclusivamente, em meios diplomáticos e arbitragem. Entretanto,
com o advento das organizações internacionais, a arbitragem passou a concorrer com as cortes
permanentes e nos meios diplomáticos instituiu-se uma variante onde as organizações,
principalmente as com vocação política, compunham as partes e resolviam o conflito17. Caso
conseguissem promover um novo consentimento entre as partes e dar fim ao conflito, teriam,
portanto, concluído sua tarefa.
1.2.2. Organizações internacionais
As organizações internacionais, por sua vez, podem ser definidas como associações de
três ou mais Estados firmadas por tratado, guarnecidas por constituição e detentoras de
personalidade jurídica distinta dos Estados membros.18 Segundo a jurisprudência19, entre os
14
EEAR, 2014
15
LEÃO, Renato Zerbini Ribeiro. O regime da vanguarda do direito internacional público: ciência, direitos
humanos, meio-ambiente, migrações, povos indígenas e trabalho decente. Brasília, DF: Trampolim Editora e
Eventos Culturais Eirelli, 2021.p.50
16
EEAR, 2014
17
REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público: Curso elementar. 15 ed. - São Paulo: Saraiva 2014.
18
RIBEIRO, Manuel de Almeida. A Organização das Nações Unidas. Coimbra: Livraria Almedina 1998. p.27
19
Acórdão do TIJ de 1949 reparação de danos sofridos ao serviço das nações unidas. (RIBEIRO, p.31 apud
RIBEIRO e SALDANHA).
6
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poderes dispostos pelas organizações para assegurar suas finalidades estão, além daqueles
constituídos em seus próprios tratados, os que são indispensáveis para o exercício de suas
funções e que dão, dentro dos limites razoáveis, conteúdo aos poderes já explícitos, sem os
suplantar ou modificar.20
As três principais características das organizações internacionais são, portanto, a
multilateralidade, a permanência e a institucionalização.21 A multilateralidade pode ser
caracterizada tanto pelo regionalismo quanto pelo universalismo; a permanência, é manifestada
pelo fato de que as organizações que são criadas com a intenção de durarindefinidamente e pela
criação de um secretariado, com sede fixa e dotado de personalidade jurídica internacional; já
a institucionalização, cujo objetivo é fornecer aos Estados condições para sua segurança,
pressupõe a previsibilidade de situações, criando um espaço institucional de solução de
conflitos e relacionamento interestatal, a soberania e o tratado, ou seja, a manifestação de
vontade dos Estados Membros.22
A existência das organizações internacionais afeta diretamente os planos da ciência
política, das relações internacionais e do próprio direito, uma vez que sua mera existência afeta,
inevitavelmente, o princípio da soberania dos Estados, a partir do momento em que estas
deixam de ser formas quase inorgânicas de concertação unânime.23
Atualmente, existem centenas de Organizações internacionais, entretanto, algumasdelas
podem ser, de forma geral, consideradas mais relevantes que outras. Entre o rol das
Organizações Internacionais mais relevantes, pode-se indicar, indubitavelmente, a Organização
das Nações Unidas, cujo conselho de segurança será amplamente discutido no presente
trabalho.
1.2.2.1. A Organização das Nações Unidas
A crescente atuação das organizações internacionais tem sido marcante no âmbito do
direito internacional contemporâneo, e a Organização das Nações Unidas é considerada o fórum
principal no qual os países do mundo se empenham, de maneira coletiva, para manter apaz e a
segurança internacional, por meio de regras acordadas de forma mútua24.
20
RIBEIRO, Manuel de Almeida. A Organização das Nações Unidas. Coimbra: Livraria Almedina 1999. p.31
21
SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva. Manual das Organizações Internacionais. 2a ed.rev. amp. - Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2000 p. 24
22
Ibid. p. 25, 26 e 27
23
RIBEIRO, Manuel de Almeida. A Organização das Nações Unidas. Coimbra: Livraria Almedina 1998. p.7
24
CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Direito das Organizações Internacionais. 5ª ed. Belo Horizonte:
Del Rey, 2012.
7
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25
CAVALCANTE, Ulisses de Souza.. A Reforma do conselho de segurança da Organização das Nações Unidas.
Curitiba: Editora CRV, 2013. p. 28
26
Art. 1 Carta das Nações Unidas.
27
VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 7a ed São Paulo: Saraiva, 2018 p.323
28
Ibid p. 330
29
GROCHOCKI, Luís Filipe de Miranda. A reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas e a
perspectiva brasileira. Centro Universitário de Brasília. 2005
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30
Art 24. 1. Carta das Nações Unidas.
31
VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 7a ed São Paulo: Saraiva, 2018. p. 323
32
Carta das Nações Unidas, art. 43
33
AZEVEDO, Plauto Faraco de. Direito, justiça social e neoliberalismo. São Paulo: Editora revista dos tribunais.
1999. p 79.
9
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Segundo Dunne et al34, o Institucionalismo Liberal é uma variante da Teoria Liberal das
RI que foca no papel que as instituições internacionais desempenham em prol de ganhos
coletivos, sustentando que os Estados tomam decisões de acordo com os seus interesses,
prioridades e fazem escolhas estratégicas observando o custo e benefício, e aplicando a
racionalidade na maximização da utilidade das escolhas econômicas. O liberalismoinstitucional
alerta para a deserção, quando o medo dos parceiros de cooperação porque não são fiéis aos
acordos e alertam para a questão da autonomia das instituições, como sendo serventes dos
interesses dos Estados.35
O institucionalismo liberal, valor central das Nações Unidas, pode ser definido como a
principal tradição na das Relações Internacionais em estudar regimes e atribuir relevância e
autonomia a estes36. Para o institucionalismo liberal, as instituições e os regimes têm autonomia
e relevância mediante a ocorrência de algumas condições específicas, podendo ser atribuído, ao
institucionalismo liberal, a primazia na análise do fenômeno da cooperação entre os Estados37.
Foco este que foi estendido ao estudo dos meios pelos quais o sistema internacional é ordenado,
bem como ao fenômeno das organizações internacionais. A verdadeé que, o pensamento liberal
é incontestavelmente relevante para o Direito e a filosofiapolítica, e vice-versa.
Entretanto, o equilíbrio de poder entre o Ocidente, a União Soviética e a China
comunista foi suficiente para expor algumas contradições do liberalismo institucional, o que
será demonstrado ao longo do presente trabalho. A paz liberal, centrada na soberania nacional,
bem como na ausência de guerras entre democracias, por meio da promoção de valores nas
esferas política, econômicas, internacionais, de segurança e sociais de cunho liberal como a
solução para os efeitos dos conflitos armados, sucumbiu as desavenças causadas pela
bipolaridade política que envolve os Estados membros da Organização das Nações Unidas.
34
DUNNE, T. KURKI, M. SMITH, S. International Relations Theories: discipline and diversity. Oxford. Third
Edition. 2013. p. 114, 115, 124.
35
Ibid.
36
CARVALHO, Gustavo Seignemartin de. Autonomia e relevância dos regimes. Contexto Internacional [online].
2005, v. 27, n. 2, pp. 238-329. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0102-85292005000200004>.
37
Ibid.
10
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Visando estabelecer a paz aos conflitos armados, a resolução de conflitos entre as nações
passou a valer-se de negociações, para não recorrer à utilização das armas38. Já em seuprimeiro
artigo, a Carta da ONU estabelece que o principal propósito da organização consiste em “
manter a paz e a segurança internacional” devendo, para consumar tal propósito, “ tomar
coletivamente medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou
qualquer outra ruptura da paz”.
A criação das forças de manutenção da paz teve por objetivo auxiliar os países
desestruturados por causa de conflitos internos e externos, a criarem as condições necessárias
a uma paz sustentável, atuando desde a monitoria de eleições, remoção de Minas, na verificação
do respeito aos direitos humanos, o desarme e desmobilização de combatentes, atéo esforço de
impor a paz entre as partes inclinadas a continuar em guerra39. É uma das principais medidas
do aparato de manutenção da paz que estão elencadas nos capítulos VI e VII da Carta.
Para Herz, Andrea Hoffmann e Jana Tabak40, as operações de paz da ONU, autorizadas
e definidas exclusivamente pelo Conselho de Segurança, são a principal ferramenta da
organização para gerir os conflitos e promover a segurança e a paz internacional, e podem
envolver desde a diplomacia preventiva até a construção de mecanismos institucionais de
governança e uso da força para alcançar a pacificação41.
De acordo com o Ex-Secretário-Geral da ONU Boutros-Ghali42, às operações de paz
podem ser divididas em: Diplomacia preventiva, no caso das ações diplomáticas de prevenção
de disputas entre os Estados de forma a evitar o alastramento de conflitos armados; Promoção
da paz43, quando as ações diplomáticas tentam levar as partes a implementar acordos após o
início de um conflito; Manutenção da paz44, quanto às ações tentam implementar acordos para
o controle de conflitos dependendo do consentimento das partes envolvidas; Imposição da paz,
ações de última instância que incluem o uso de força armada para restaurar ou manter a paz
quando o CSNU determinou que houve uma ameaça à paz, ruptura da paz ou ato de
38
Maidana, 2013.
39
CAVALCANTE, Ulisses de Souza. A Reforma do conselho de segurança da Organização das Nações Unidas.
Curitiba: Editora CRV, 2013. p. 31
40
2015, p. 84.
41
BLANCO, Ramon. GUERRA, Lucas. A Construção da Paz no Cenário Internacional: Do Peacekeeping
Tradicional às Críticas ao Peacebuilding Liberal. Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 13, n. 2, 2018, p. 5-30.
42
apud. CAVALCANTE, Ulisses de Souza.. A Reforma do conselho de segurança da Organização das Nações
Unidas. Curitiba: Editora CRV, 2013. p. 33
43
peace-making
44
peace-keeping.
11
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45
Enforcement.
46
peace-building
47
CAVALCANTE, Ulisses de Souza. A Reforma do conselho de segurança da Organização das Nações Unidas.
Curitiba: Editora CRV, 2013. p.36-37.
48
Ibid. p.37-38.
49
SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva. Manual das Organizações Internacionais. 2a ed.rev. amp. - Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2000. p. 127
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Nações Unidas. Com a derrota do Japão e a retirada das tropas japonesas da Coreia, iniciou-se
uma guerra entre as Coreias. A resolução 85 de 1985 que autorizava o comando das Nações
Unidas a apoiar a população civil da Coreia e solicitava que as agências especializadas, órgãos
subsidiários pertinentes das Nações Unidas e as organizações não governamentais apoiassem o
comando das Nações Unidas, foi aprovada mesmo em face da ausência da União Soviética. Sob
o ponto de vista do processo de aprovação das Resoluções do Conselho de Segurança, a
resolução foi totalmente ilegal. Essa atitude começou por reforçar a crítica de que, na verdade,
as decisões do CSNU estavam inclinadas politicamente às ambições estadunidenses, dando
início ao desgaste ao institucionalismo liberal.
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na esfera internacional à um órgão de instância executiva um grave problema, uma vez que,
para ele, apenas um órgão jurisdicional poderia deter esse poder devido ao caráter técnico e
imparcial, descentralizando assim, a execução da sanção. Objetivando descomplicar o debate
entre os Estados membros, foi criado, no ano de 1993, o Grupo de Trabalho sobre a reforma do
CSNU, por meio da resolução n° 48/26. As principais queixas quanto ao funcionamento do
conselho se referem à quantidade de membros, à transparência, aos métodos e ao veto.
O Conselho de Segurança está longe de ser um órgão representativo. Enquanto a Europa
está super-representada entre os membros permanentes, a Ásia está sub- representadae a África
e a América Latina não possuem sequer um assento. Diferentes grupos de opinião foram
formados e diferentes tipos de propostas foram oferecidas. Entretanto, apesar da grande
quantidade de propostas para a reforma do conselho, não se tem notado um avanço concreto.
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Justiça decidiu, por treze votos contra dois, que a Rússia deveria suspender de forma imediata
as operações militares iniciadas em 24 de fevereiro de 2022 no território da Ucrâniae garantir
que não fossem tomadas quaisquer medidas na promoção destas operações militares62.
Entretanto, a Rússia exerceu seu direito de veto como membro permanente do Conselho, e , por
isso, nenhuma ação contra ela foi possível, exceto a condenação emresoluções da Assembleia
Geral da ONU.
Durante os meses em que se decorreu o conflito, uma boa parte dos países ocidentais
aplicou sanções econômicas à Rússia. O presidente Putin justificou suas ações como medidas
para se opor ao avanço da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) ao leste europeu,
por considerar tais avanços como uma manifestação do imperialismo ocidental. A OTAN, por
sua vez, também interpretou a posição russa como imperialista e expansionista63. A invasão
russa à ucrânia acabou levando parte dos países europeus a demonstrar interesseem reforçar
seus investimentos em defesa, reforçando aindas mais a OTAN e militarizando a UE, como é o
exemplo da Alemanha, que anunciou um aumento do seu investimento em defesa em três
vezes64.
Apesar da grande ameaça, os atos da Rússia fazem parte de um conjunto de ações, não
apenas do governo russo, em sentido contrário à Carta das Nações Unidas. Pôde-se perceber
que, até então, as manifestações estadunidenses, por meio do atual presidente estadunidense Joe
Biden são carregadas de soberba e refletem a já conhecida prepotência norte-americana. Por
meio de seus discursos e ações, os Estados Unidos não apenas condenam e atacam a Rússia,
mas também o fazem à soberania de outros países. Pode-se citar como exemplo o vazamento
no gasoduto Nordstream 2, no mar baltico, no dia 26 de setembro de 2022. De acordo com as
notícias, o vazamento, supostamente, foi fruto de sabotagem, o que vem gerando muita
especulação sobre quem seria o responsável sobre o vazamento. A Ucrânia acusou a Rússia de
atacar o gasoduto como forma de retaliação às sanções aplicadas pela União Européia.
Enquanto isso, Rússia e Estados Unidos trocaram acusações a respeito de que teria sido o autor
da suposta sabotagem, enquanto a alemanha alegou danos irreversíveis à estrutura bilionária,
fruto de uma grande parceria energética e econômica entre Rússia e Alemanha, confirmando
o retrocesso que o conflito russo-ucraniano causou nas relações
62
INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE, No. 2022/11 16 March 2022
63
CAMPATO JR, J. A. A Guerra Russo-Ucraniana e os discursos sobre o imperialismo da nova desordem
mundial. Revista Eletrônica de Estudos Integrados em Discurso e Argumentação, v. 22, n. 1, p. 82-102, 15 jun.
2022.
64
REIS, Bruno Cardoso. A Guerra na Ucrânia. Da Invasão de Putin a Uma Revolução Estratégica. Instituto da
Defesa Nacional, 18 mar, 2022. p. 2 e 3.
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russo-germânicas. No que diz respeito ao referido gasoduto, é válido relembrar que no mês de
fevereiro 2022, o presidente Joe Biden afirmou que se a Rússia invadisse o território ucraniano,
o gasoduto russo-germanico Nordstream 2 deixaria de funcionar. E ao ser questionado sobre
como isso seria possível, uma vez que o empreendimento não estava no controle norte-
americano, o presidente apenas assegurou que seria feito de qualquer forma. Embora a Rússia
tenha negado a autoria do ataque ao próprio gasoduto, também não resta provado, até então, o
envolvimento dos Estados Unidos com o vazamento, entretanto, fica o questionamento de,
como pode, um Estado soberano, afirmar que pode controlar os negócios dentro de outro Estado
soberano?
De qualquer modo, ambos, o conflito armado iniciado pela Rússia, e a declaração do
presidente estadunidense contrariam os dois primeiros grandes princípios do direito
internacional público, também reforçados na Carta da ONU: o princípio da igualdade soberana
entre os estados, e o da não interferência nos assuntos internos de outros estados. Mais do que
estes dois princípios, a invasão da Ucrânia pela Rússia, contraria também o terceiro grande
princípio do direito internacional público, que resulta dos dois primeiros, e que diz respeito à
proibição do uso da força65. Mesmo com a violação dos referidos princípios, a atual
configuração do Conselho de Segurança das Nações Unidas impede que sejam tomadas
quaisquer ações contra quaisquer dos estados permanentes. Isso porque, em qualquersituação
na qual venham estes infringir normas estabelecidas em âmbito da carta das Nações Unidas,
podem se valer da prerrogativa do veto. A impotência do Conselho de Segurança em situações
em que uma das grandes potências que configuram o quadro de membros permanentes do
Conselho de Segurança, comete atos que ameaçam a paz e a segurança internacional, provocam
a reflexão sobre a relevância do conselho e da necessidade urgentede reforma.
No dia 30 de setembro de 2022, em Moscou, o presidente russo Vladimir Putin, em
cerimônia no Kremlin, oficializou a anexação de Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhia.
Nesta ocasião, o presidente russo afirmou não ter intenção de reviver a URSS e acusou o
ocidente de querer transformar a Rússia em uma “colonia”. A anexação ocorreu após referendos
organizados por autoridades apoiadas pela Rússia nas quatro regiões. A respeito disso, no dia
anterior à cerimônia, falando a jornalistas, o secretário-geral das Nações Unidas, António
Guterres, condenou o plebiscito russo para anexação, uma vez que o ato viola a
65
LEÃO, Renato Zerbini Ribeiro. O regime da vanguarda do direito internacional público: ciência, direitos
humanos, meio-ambiente, migrações, povos indígenas e trabalho decente. Brasília, DF: Trampolim Editora e
Eventos Culturais Eirelli, 2021. p.28-30.
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Carta da ONU e compromete perspectivas de paz, e enfatizou que a Rússia, como um dos cinco
membros permanentes do Conselho de Segurança, compartilha uma responsabilidade particular
de respeitar a Carta66. No dia seguinte à referida oficialização, o Conselho de Segurança,
novamente, falhou em adotar resolução condenando referendos de Moscou nos territórios
ocupados da Ucrânia. Por 10 votos a favor, 1 contra (Federação Russa), e 4abstenções (Brasil,
China, Gabão, Índia), devido ao voto negativo de um membro permanente do Conselho, o texto
foi rejeitado67. Durante o encontro, a Rússia relembrou, antes da votação,que o Conselho nunca
adotou resoluções que condenavam, diretamente, um de seus membros.A Ucrânia, por sua vez,
ao final da votação, declarou que milhões, em todo o mundo, estavamtestemunhando o fracasso
do Conselho em responder a uma ameaça global, declarando que o Conselho era o pilar
quebrado das Nações Unidas.68
A partir desse cenário internacional conflituoso e politicamente bipolar, pode-se
perceber um conselho completamente ineficiente e um tanto quanto desacreditado. Mesmo com
alguns avanços pontuais, os processos de consolidação da paz baseados na paz liberal
dificilmente chegam a criar as condições necessárias para o surgimento de uma paz
sustentável69. Pouco mais de seis meses se passaram desde o início do conflito, entretanto, não
se vê sinal de trégua. A bipolaridade política entre a Rússia e o ocidente acaba por dificultar a
relação harmoniosa entre eles. A maior ameaça desde a Segunda Guerra Mundial não pode ser
tratada como uma mera coincidência. Muitos Estados, inclusive os que fazem parte do P5,
escolheram não cumprir as leis, criando, por consequência, um cenário ainda pior que o da
Guerra Fria. Mais uma vez o Conselho mostrou-se impotente e incapaz de assegurar a paz
internacional, demonstrando, dessa forma, que seus requisitos operacionais estão longe do
ideal, e a perigosa escalada da invasão russa têm rechaçado essa impotência.
Como se a mera existência de membros permanentes, munidos de um maior grau de
força de decisão em relação aos outros, e a baixa representatividade no Conselho não fossem
suficientes para pôr em dúvida a existência e os atos do CSNU, seus próprios membros
permanentes escolhem, deliberadamente, não cumprir às regras dispostas na Carta das Nações
Unidas, e violam os princípios e normas que regem a Organização e, por conseguinte, o
Conselho. Embora ainda seja cedo para inferir resultados ao desfecho do conflito armado,
66
Nações Unidas Brasil, 2022.
67
United Nations. 9143RD MEETING (PM). SC/15046, 30 SEPTEMBER 2022. disponível em:
<https://press.un.org/en/2022/sc15047.doc.htm> acesso em: 02 de out de 2022.
68
Ibid.
69
RICHMOND,Oliver P. A Post‑Liberal Peace. 1st Edition. London: Routledge. 2011.
19
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devido a tensão instaurada principalmente entre Rússia e Estados Unidos da América, não seria
ilógico apontar a possibilidade de a invasão russa acabar por ser a pedra no túmulo do
institucionalismo liberal, dando início a uma regresso das grandes guerras outrora
convencionais, ou ainda, levando o mundo a uma guerra nuclear.
Considerações finais:
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O tema do presente trabalho está longe de ser uma obra definitiva e carece de
permanentemente revisão de acordo com a atualização internacional, e é sugerido para
estudantes de graduação em direito e relações internacionais, bem como para outros
interessados no assunto e, ainda, para inspiração de tema de outros trabalhos de conclusão de
curso.
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21st Century," International Journal of Science and Business, IJSAB International, vol. 9(1),
pages 123-140, 2022.
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