Cuaderno 20: RESOLUÇÃO DE CONFLITOS INTERNACIONAIS: Análise Das Epistemologias

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 24

Saskab.

Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304


http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

http://www.ideaz-institute.com/
Cuaderno 20

RESOLUÇÃO DE CONFLITOS INTERNACIONAIS: Análise das epistemologias


eurocêntricas de manutenção e construção da paz internacional a partir do Conselho de
Segurança das Nações Unidas

Beatriz Helena Nunes Figueira Dantas1

Resumo:

O presente artigo propõe-se a realizar uma reflexão crítica e teórica a respeito da


eficiência das epistemologias eurocêntricas de manutenção e construção da paz, através de uma
análise do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Inicialmente, apresenta-se a
contextualização do Estado, do papel do direito internacional frente a conflitos internacionais
e às organizações internacionais com ênfase na ONU e no funcionamento do seu Conselho,
possibilitando ao leitor uma contextualização e compreensão das futuras críticas em relação
ao desempenho deste. Enfoca-se, em um segundo momento, o desgaste do institucionalismo
liberal a partir de uma análise das fragilidades do Conselho de Segurança das Nações Unidas
e suas missões de operação de paz. Por fim, serão apresentadas críticas ao conselho de
segurança com base na análise das ações deste frente ao conflito internacional entre Rússia e
Ucrânia. Tendo como método de pesquisa principal a bibliográfica, revela a importância de
uma nova proposta para os conflitos internacionais, e, pelo menos, uma reforma no atual
sistema, oportunizando, aos Estados, pactuar tratados e acordos nesse sentido sem que haja
violação de algum princípio.

Palavras-chave: Conflitos Armados; Conselho de Segurança; Direito Internacional;


Liberalismo; Multilateralismo; ONU; Soberania.

Sumário: Introdução. 1 Conflitos internacionais. - 1.1 O Estado. - 1.1.1 Tratados


Internacionais. - 1.2. Direito Internacional dos conflitos armados. - 1.2.1. Soluções pacíficas.
- 1.2.2. Organizações internacionais. - 1.2.2.1. A Organização das Nações Unidas. - 1.2.2.2.
Conselho de segurança das Nações Unidas. - 2 - O desgaste do institucionalismo liberal. -
2.1. O institucionalismo liberal. - 2.2. ONU e as Operações manutenção da Paz. - 2.3.
Fragilidades do CSNU. - 2.3.1. A questão do veto. - 2.3.2. Guerra da Coreia. - 2.3.3. Crise dos
Mísseis. - 2.3.4. Entrega da cadeira permanente à China Comunista em 1972. - 2.3.5. Paralisia
do CSNU. - 3 - Críticas ao Conselho frente ao conflito Russo-ucranian. - 4.Considerações finais.

1
Advogada e Bacharel em Direito pelo Centro Universitário de Brasília (CEUB)
email: [email protected]
1
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

Introdução:

O conflito sempre se fez presente na história da humanidade. Atualmente, a guerra se


caracteriza como um ilícito internacional, entretanto, até o começo do século XX, era uma
forma perfeitamente justificável quando se visava a resolução de desentendimentos entre
Estados soberanos. No presente artigo, o alvo de estudo será, primordialmente, o direito
internacional dos conflitos armados e às propostas para resolução de tais conflitos, o que é um
dos objetos de estudo do direito internacional público
A criação e o desenvolvimento do liberalismo contribuíram para o alastramento edifusão
internacional das atuais formas de resolução de conflitos baseadas numa visão primordialmente
eurocêntrica. Entretanto, têm-se percebido, cada vez mais, uma organização multilateral por
parte dos países não ocidentais por meio de outras propostas que não o liberalismo institucional
adotado pelo ocidente.
O presente artigo propõe-se a analisar a atual arquitetura política internacional que criou
o institucionalismo liberal e a relevância das epistemologias eurocêntricas no tocante às
resoluções de conflitos internacionais nos dias de hoje.
Tendo como principal método pesquisa a pesquisa bibliográfica, traz a importância do
estudo das epistemologias eurocêntricas da construção da paz juntamente com as não
eurocêntricas no âmbito do direito internacional, oportunizando, aos Estados, pactuar acordos
nesse sentido.
Para facilitar o entendimento da matéria, o presente trabalho está dividido em três
capítulos de desenvolvimento. Primeiramente, contextualizar-se-á o Direito internacional e os
conflitos internacionais , através da análise dos seus aspectos mais relevantes para o presente
trabalho, tais como a sua abrangência conceitual e características. Em seguida, abordar-se-á a
questão dos institucionalismo liberal, das operações manutenção da paz da ONU e as
fragilidades do CSNU. Por fim, o terceiro tópico trará críticas ao Conselho frente ao conflito
Russo-ucraniano.

2
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

1. Direito internacional e os conflitos internacionais


O responsável por nortear a sociedade internacional por meio da regulamentação das
relações entre Estados, Organizações Internacionais e demais sujeitos é o Direito Internacional.
É este que, através de um conjunto de normas, tenta regulamentar o sistema internacional e as
relações entre os Estados. E é este conjunto de normas, celebradas a partir do consentimento
dos Estados, que tenta “minimizar os efeitos decorrentes dos conflitos armados, de forma a
regulamentar e aprimorar a lei dos usos e costumes da guerra”.2
1.1. O Estado
O Estado representa, de uma forma resumida, o conjunto de instituições no campo
político, administrativo e judicial que têm por finalidade a organização de um espaço e
determinado um povo ou nação. De acordo com Ferreira3, o Estado-nação moderno pode ser
definido como um tipo de organização política que detém monopólio administrativo sobre um
território delimitado sancionado por lei e por um controle direto dos meios internos e externos
de violência. Para REZEK4, o Estado como uma personalidade de direito internacional público
apresenta três elementos articulados, que seriam uma base territorial; umacomunidade humana
estabelecida sobre essa área; e uma forma de governo não subordinada a qualquer autoridade
exterior. Segundo sua concepção. Estado, portanto, é uma sociedade político-territorial
soberana, formada por uma nação e um território. “É a forma de poder territorial que se impôs
nas sociedades modernas”5. Para garantir o controle, cada Estado, possuidor de soberania
decide sobre fatos ocorridos em seu território e equiparados, e suas respectivas consequências,
estipulando suas leis conforme seus costumes, princípios e finalidades.
Apesar disso, um Estado soberano pode elaborar, juntamente com outros Estados
soberanos, documentos com o objetivo de definir padrões a serem seguidos entre eles no tocante
a temas de interesse mútuo. Esses acordos são denominados tratados internacionais.

1.1.1. Tratados internacionais

2
MINISTÉRIO DA DEFESA, 2011, p. 13
3
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Estado, estado-nação e formas de intermediação política . Lua Nova:
Revista de Cultura e Política. 2017, n. 100. p. 155-185
4
REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público: Curso elementar. 15 ed. - São Paulo: Saraiva 2014
5
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Estado, estado-nação e formas de intermediação política . Lua Nova:
Revista de Cultura e Política. 2017, n. 100. p. 155-185

3
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

Tratados internacionais, segundo Rezek6, podem ser definidos como “ acordo formal,
concluído entre sujeitos de direito internacional público e destinado a produzir efeitos
jurídicos.” O tratado deve ser um documento escrito, acordado entre Estados e ou organizações
internacionais que têm por objetivo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas e
direitos.
No mesmo sentido, uma outra definição de tratado é a encontrada na Convenção de
Viena sobre o Direito dos Tratados, adotada em 22 de maio de 1969, e promulgada em 14 de
dezembro de 2009 pelo Presidente da República, através do Decreto Nº 7.030
“ (...) acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito
Internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais
instrumentos conexos, qualquer que seja sua denominação específica;”(BRASIL,
2009)7
O direito internacional consuetudinário referente aos tratados foi codificado pela
Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, adotada em 22 de maio de 1969. Em seu
preâmbulo, a Convenção reconhece como princípios de Direito Internacional os princípios da
autodeterminação dos povos, da igualdade soberana, da independência de todos os Estados, e
da não-intervenção nos assuntos internos dos Estados. Dessa forma, o tratado é um exercício
da soberania estatal que resulta de um arranjo bilateral para que determinado Estado ou Estados
possam exercer seus poderes além de suas fronteiras, sem ferir prerrogativas de outros Estados.
E de acordo com o disposto no art. 27 da Convenção de Viena, uma vez internalizado o tratado,
nenhuma das partes pode invocar seu direito interno como justificativapara o não cumprimento
deste.
Em relação à soberania, o Direito dos Tratados não objetiva estipular um direito
comum a todas as organizações internacionais, mas sim, identificar o direito de cada uma delas8.
Isso porque cada organização internacional é independente para estabelecer seu estatuto e sua
base jurídica o que, via de regra, é derivado do Direito Internacional. Trindade9 explica que isso
é essencial, pois serve para "definir a noção de regras relevantes da organização levando em
conta, particularmente, a prática da organização (...)". Um Estado ao recorrer à uma
normatização internacional, não renuncia integralmente de sua soberania, ele a utiliza em favor
de suas particularidades que se coincidem aos interesses dos demais, sejam

6
REZEK, José Francisco. Direito dos Tratados. - 1a ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense 1984 p.1
7
Decreto nº 7.030, de 14 de dezembro de 2009, Art. 2, “a”.
8
DA SILVA, Cheyenne Cunha Teixeira.Soberania e intervenção internacional: relação e contraposição?
Faculdade baiana de direito.2014
9
CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto, Direito das Organizações Internacionais. 5ª ed. Belo Horizonte:
Del Rey, 2012. p. 204.

4
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

comum ou convergente, para que se regulem comportamentos esperados num determinado


contexto internacional.

1.2. Direito Internacional dos conflitos armados


O conflito sempre esteve presente, de maneira inevitável, ao longo da história da
humanidade e têm sido alvo de registros e estudos desde a antiguidade. Embora a guerra seja,
atualmente, um ilícito internacional, até pouquíssimo tempo, era uma opção perfeitamente
cabível para dirimir antagonismos entre Estados. Os conflitos geralmente surgem quando os
interesses entre dois ou mais sujeitos são considerados incompatíveis ou opostos, e quando essa
escolha diz respeito a algum fato ou direito entre dois Estados soberanos, temos um conflito
internacional10.
O conflito internacional pode tanto ser uma mera divergência em relação a interpretação
de determinada norma que vincula os países quanto um desacordo grave e carregado de tensões
e confrontos armados,11 sendo que o conflito armado apresenta oselementos de forças armadas
adversárias que empreendem intencionalmente operações militares umas contra as outras; ou
quando são atacados intencionalmente objetivos militares em território ou águas territoriais de
outro Estado.12
Para Leão13, os conflitos armados podem ser divididos em três tipos: os conflitos
armados internacionais, os conflitos armados não internacionais e os conflitos armados
internacionalizados. Segundo esse autor, entende-se conflitos armados internacionais aqueles
que apresentam enfrentamento entre dois e mais Estados. Os conflitos armados não
internacionais seriam aqueles que o enfrentamento se dá entre forças governamentais e grupos
armados não governamentais. E finalmente, os conflitos armados internacionalizados seriam
aqueles que possuem características de conflitos não internacionais mas que com o decorrer
de seu desenvolvimento, passam a adquirir marcas de conflito internacional, como, por
exemplo, ajuda econômica ou logística de outros Estados.
Com o propósito proteger as pessoas e bens limitando a escolha dos meios e métodos
utilizados nos conflitos internacionais, nasceu, como um conjunto de normas

10
REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público: Curso elementar. 15 ed. - São Paulo: Saraiva 2014.
11
Ibid.
12
ALVES, Luiza Queiroz apud EEAR, 2013.
13
LEÃO, Renato Zerbini Ribeiro. O regime da vanguarda do direito internacional público: ciência, direitos
humanos, meio-ambiente, migrações, povos indígenas e trabalho decente. Brasília, DF: Trampolim Editora e
Eventos Culturais Eirelli, 2021. p. 50.

5
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

jurídicas internacionais, o Direito Internacional dos Conflitos Armados14. Essas normas, que
podem ser estabelecidas por tratados ou pelo costume15, são evocadas em face de um conflito
armado, e para melhor cumprir seu objetivo, o DICA é norteado pelos princípios da distinção,
limitação, proporcionalidade, necessidade militar e humanidade16 e a ele se aplicam as fontes
descritas no Artigo 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça, quais sejam as convenções
internacionais, os costumes internacionais, os princípios gerais de direito e de forma subsidiária
às decisões judiciais e os ensinamentos dos dos publicitários mais qualificados das várias
nações.
O DICA passou de um tempo em que a Guerra era um direito dos Estados para um em
que impera a proibição geral do uso da força, com algumas exceções listadas nos artigos 51 e
42 da Carta da ONU e na resolução 2105 da ONU de 1965. Entretanto, segundo a doutrina, no
caso de conflitos armados, esse direito se vale de duas principais vias para a solução destes
conflitos: a via coercitiva armada e a via pacífica, sendo que, a segunda via será fundamental
no presente trabalho.
1.2.1. Solução pacífica
Uma das vertentes evocada para solucionar um conflito internacional é a da via
pacífica para solução de controvérsias. Inicialmente, as formas de solução pacífica de conflitos
entre Estados consistiam, exclusivamente, em meios diplomáticos e arbitragem. Entretanto,
com o advento das organizações internacionais, a arbitragem passou a concorrer com as cortes
permanentes e nos meios diplomáticos instituiu-se uma variante onde as organizações,
principalmente as com vocação política, compunham as partes e resolviam o conflito17. Caso
conseguissem promover um novo consentimento entre as partes e dar fim ao conflito, teriam,
portanto, concluído sua tarefa.
1.2.2. Organizações internacionais
As organizações internacionais, por sua vez, podem ser definidas como associações de
três ou mais Estados firmadas por tratado, guarnecidas por constituição e detentoras de
personalidade jurídica distinta dos Estados membros.18 Segundo a jurisprudência19, entre os

14
EEAR, 2014
15
LEÃO, Renato Zerbini Ribeiro. O regime da vanguarda do direito internacional público: ciência, direitos
humanos, meio-ambiente, migrações, povos indígenas e trabalho decente. Brasília, DF: Trampolim Editora e
Eventos Culturais Eirelli, 2021.p.50
16
EEAR, 2014
17
REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público: Curso elementar. 15 ed. - São Paulo: Saraiva 2014.
18
RIBEIRO, Manuel de Almeida. A Organização das Nações Unidas. Coimbra: Livraria Almedina 1998. p.27
19
Acórdão do TIJ de 1949 reparação de danos sofridos ao serviço das nações unidas. (RIBEIRO, p.31 apud
RIBEIRO e SALDANHA).

6
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

poderes dispostos pelas organizações para assegurar suas finalidades estão, além daqueles
constituídos em seus próprios tratados, os que são indispensáveis para o exercício de suas
funções e que dão, dentro dos limites razoáveis, conteúdo aos poderes já explícitos, sem os
suplantar ou modificar.20
As três principais características das organizações internacionais são, portanto, a
multilateralidade, a permanência e a institucionalização.21 A multilateralidade pode ser
caracterizada tanto pelo regionalismo quanto pelo universalismo; a permanência, é manifestada
pelo fato de que as organizações que são criadas com a intenção de durarindefinidamente e pela
criação de um secretariado, com sede fixa e dotado de personalidade jurídica internacional; já
a institucionalização, cujo objetivo é fornecer aos Estados condições para sua segurança,
pressupõe a previsibilidade de situações, criando um espaço institucional de solução de
conflitos e relacionamento interestatal, a soberania e o tratado, ou seja, a manifestação de
vontade dos Estados Membros.22
A existência das organizações internacionais afeta diretamente os planos da ciência
política, das relações internacionais e do próprio direito, uma vez que sua mera existência afeta,
inevitavelmente, o princípio da soberania dos Estados, a partir do momento em que estas
deixam de ser formas quase inorgânicas de concertação unânime.23
Atualmente, existem centenas de Organizações internacionais, entretanto, algumasdelas
podem ser, de forma geral, consideradas mais relevantes que outras. Entre o rol das
Organizações Internacionais mais relevantes, pode-se indicar, indubitavelmente, a Organização
das Nações Unidas, cujo conselho de segurança será amplamente discutido no presente
trabalho.
1.2.2.1. A Organização das Nações Unidas
A crescente atuação das organizações internacionais tem sido marcante no âmbito do
direito internacional contemporâneo, e a Organização das Nações Unidas é considerada o fórum
principal no qual os países do mundo se empenham, de maneira coletiva, para manter apaz e a
segurança internacional, por meio de regras acordadas de forma mútua24.

20
RIBEIRO, Manuel de Almeida. A Organização das Nações Unidas. Coimbra: Livraria Almedina 1999. p.31
21
SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva. Manual das Organizações Internacionais. 2a ed.rev. amp. - Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2000 p. 24
22
Ibid. p. 25, 26 e 27
23
RIBEIRO, Manuel de Almeida. A Organização das Nações Unidas. Coimbra: Livraria Almedina 1998. p.7
24
CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Direito das Organizações Internacionais. 5ª ed. Belo Horizonte:
Del Rey, 2012.

7
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

Demarcando o surgimento de uma nova ordem internacional multilateral, a


organização foi criada com a promulgação da Carta das Nações em 24 de outubro de 1945, após
o final da segunda guerra mundial25. Em seu preâmbulo, a Carta das Nações Unidas condena a
utilização unilateral da força, prevendo que o uso dessa deve se restringir a defender, quer
individual, quer coletivamente, o interesse comum. A organização das nações unidas objetiva,
principalmente, manter a paz e segurança mundial, promover a relaçãoamigável entre as nações,
alcançar a cooperação nos âmbitos econômico, social, cultural e humanitário e servir como
fórum para harmonizar as ações das nações26. Atualmente, conta com 193 Estados-membros,
ou seja, Estados que gozam do reconhecimento da comunidade internacional, uma vez que,
entre as formas de reconhecimento de um novo Estado, o reconhecimento da ONU, feito por
meio da união de vontades entre o Conselho de Segurança e a Assembléia Geral, é considerado
o mais importante.27
A organização das Nações Unidas conta, ainda, com 6 (seis) estruturas principais, quais
sejam a Assembléia Geral, o Conselho Econômico e Social, o Conselho de Tutela, o Secretário
Geral, a Corte Internacional de Justiça e o Conselho de Segurança, sendo esse último um dos
núcleos do presente trabalho. Além disso, Compreende a ONU o sistema onusiano28, dessa
forma os fundos e programas vinculados à Assembléia Geral têm seus diretores escolhidos pela
ONU; as instituições especializadas possuem administração própriae são ligadas à ONU por
acordos especiais; e as organizações independentes ligadas à ONU trabalham em domínios
especializados e possuem órgãos, diretores e orçamentos próprios.
A Carta das Nações Unidas, esboçada em 1944 por iniciativa dos Estados Unidos
(EUA), Reino Unido (RU) e União Soviética (URSS), e apresentada para exame pelas potências
aliadas durante a Conferência de São Francisco, em 1945 e, entre outras coisas, propôs a
constituição do Conselho de Segurança29.

1.2.2.2. Conselho de Segurança das Nações Unida


O Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) é um órgão político das Nações
Unidas cuja a principal responsabilidade é a “manutenção da paz e da segurança

25
CAVALCANTE, Ulisses de Souza.. A Reforma do conselho de segurança da Organização das Nações Unidas.
Curitiba: Editora CRV, 2013. p. 28
26
Art. 1 Carta das Nações Unidas.
27
VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 7a ed São Paulo: Saraiva, 2018 p.323
28
Ibid p. 330
29
GROCHOCKI, Luís Filipe de Miranda. A reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas e a
perspectiva brasileira. Centro Universitário de Brasília. 2005

8
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

internacionais”30. Criado em outubro de 1945, após a Segunda Guerra Mundial, pretendia


monitorar os cenários dos conflitos armados ao redor do mundo controlando estes conflitos
armados por meio da aprovação de Missões de Paz de forma a evitar uma 3ª Guerra Mundial.
Ele pode ser invocado como uma instância para a solução de conflitos internacionais
quando esses conflitos apresentam certa gravidade, constituindo uma ameaça ao clima de paz,
tendo sido utilizado em crises internacionais sucessivas com a principal função de zelar pela
manutenção e consolidação da paz internacional, possuindo, dentro do âmbito da Carta das
Nações Unidas, artigo 34, competência tanto para investigar, discutir qualquer conflito
existente, bem como expedir recomendações, agindo preventivamente ou corretivamente,
inclusive, valendo-se de força militar, quando necessário, quanto para determinar a existência
de uma ameaça ou de uma ruptura da paz, podendo ser provocado por qualquer Estado-membro
ou qualquer dos órgãos da ONU, ainda que estes não estejam envolvidos no conflito, de acordo
com o artigo 39 da mesma carta31.
O Conselho é composto por 15 membros, sendo os cinco únicos permanentes, China,
Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia. Os demais membros são eleitos a cada biênio
sendo cinco membros da África e Ásia, dois da Europa Central, um da Europa Orientel e dois
da América latina. O quorum para a tomada de decisões do conselho é de nove, sendo que
apenas os membros permanentes têm poder de veto, ou seja, apenas para estes prevalece a regra
da unanimidade do processo da tomada de decisões e dessa forma, todas as resoluções do
conselho devem ser aprovadas, ou ao menos não rejeitadas, pelos membros permanentes.
Os Estados-membros da ONU devem apoiar as ações do CSNU, o que significa, além
de outras coisa, permitir a passagem de tropas, oferecer assistência e outras facilidades e ainda
enviar corpos militares quando necessário32.

2. O desgaste do institucionalismo liberal


2.1. O institucionalismo liberal
De forma geral, o direito e o liberalismo sempre andaram próximos. O Estado liberal,
por exemplo, exprimiu um nítido empenho de controlar o poder, inclusive através da
delimitação jurídica33.

30
Art 24. 1. Carta das Nações Unidas.
31
VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 7a ed São Paulo: Saraiva, 2018. p. 323
32
Carta das Nações Unidas, art. 43
33
AZEVEDO, Plauto Faraco de. Direito, justiça social e neoliberalismo. São Paulo: Editora revista dos tribunais.
1999. p 79.

9
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

Segundo Dunne et al34, o Institucionalismo Liberal é uma variante da Teoria Liberal das
RI que foca no papel que as instituições internacionais desempenham em prol de ganhos
coletivos, sustentando que os Estados tomam decisões de acordo com os seus interesses,
prioridades e fazem escolhas estratégicas observando o custo e benefício, e aplicando a
racionalidade na maximização da utilidade das escolhas econômicas. O liberalismoinstitucional
alerta para a deserção, quando o medo dos parceiros de cooperação porque não são fiéis aos
acordos e alertam para a questão da autonomia das instituições, como sendo serventes dos
interesses dos Estados.35
O institucionalismo liberal, valor central das Nações Unidas, pode ser definido como a
principal tradição na das Relações Internacionais em estudar regimes e atribuir relevância e
autonomia a estes36. Para o institucionalismo liberal, as instituições e os regimes têm autonomia
e relevância mediante a ocorrência de algumas condições específicas, podendo ser atribuído, ao
institucionalismo liberal, a primazia na análise do fenômeno da cooperação entre os Estados37.
Foco este que foi estendido ao estudo dos meios pelos quais o sistema internacional é ordenado,
bem como ao fenômeno das organizações internacionais. A verdadeé que, o pensamento liberal
é incontestavelmente relevante para o Direito e a filosofiapolítica, e vice-versa.
Entretanto, o equilíbrio de poder entre o Ocidente, a União Soviética e a China
comunista foi suficiente para expor algumas contradições do liberalismo institucional, o que
será demonstrado ao longo do presente trabalho. A paz liberal, centrada na soberania nacional,
bem como na ausência de guerras entre democracias, por meio da promoção de valores nas
esferas política, econômicas, internacionais, de segurança e sociais de cunho liberal como a
solução para os efeitos dos conflitos armados, sucumbiu as desavenças causadas pela
bipolaridade política que envolve os Estados membros da Organização das Nações Unidas.

2.2. ONU e as Operações manutenção da Paz

34
DUNNE, T. KURKI, M. SMITH, S. International Relations Theories: discipline and diversity. Oxford. Third
Edition. 2013. p. 114, 115, 124.
35
Ibid.
36
CARVALHO, Gustavo Seignemartin de. Autonomia e relevância dos regimes. Contexto Internacional [online].
2005, v. 27, n. 2, pp. 238-329. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0102-85292005000200004>.
37
Ibid.

10
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

Visando estabelecer a paz aos conflitos armados, a resolução de conflitos entre as nações
passou a valer-se de negociações, para não recorrer à utilização das armas38. Já em seuprimeiro
artigo, a Carta da ONU estabelece que o principal propósito da organização consiste em “
manter a paz e a segurança internacional” devendo, para consumar tal propósito, “ tomar
coletivamente medidas efetivas para evitar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão ou
qualquer outra ruptura da paz”.
A criação das forças de manutenção da paz teve por objetivo auxiliar os países
desestruturados por causa de conflitos internos e externos, a criarem as condições necessárias
a uma paz sustentável, atuando desde a monitoria de eleições, remoção de Minas, na verificação
do respeito aos direitos humanos, o desarme e desmobilização de combatentes, atéo esforço de
impor a paz entre as partes inclinadas a continuar em guerra39. É uma das principais medidas
do aparato de manutenção da paz que estão elencadas nos capítulos VI e VII da Carta.
Para Herz, Andrea Hoffmann e Jana Tabak40, as operações de paz da ONU, autorizadas
e definidas exclusivamente pelo Conselho de Segurança, são a principal ferramenta da
organização para gerir os conflitos e promover a segurança e a paz internacional, e podem
envolver desde a diplomacia preventiva até a construção de mecanismos institucionais de
governança e uso da força para alcançar a pacificação41.
De acordo com o Ex-Secretário-Geral da ONU Boutros-Ghali42, às operações de paz
podem ser divididas em: Diplomacia preventiva, no caso das ações diplomáticas de prevenção
de disputas entre os Estados de forma a evitar o alastramento de conflitos armados; Promoção
da paz43, quando as ações diplomáticas tentam levar as partes a implementar acordos após o
início de um conflito; Manutenção da paz44, quanto às ações tentam implementar acordos para
o controle de conflitos dependendo do consentimento das partes envolvidas; Imposição da paz,
ações de última instância que incluem o uso de força armada para restaurar ou manter a paz
quando o CSNU determinou que houve uma ameaça à paz, ruptura da paz ou ato de

38
Maidana, 2013.
39
CAVALCANTE, Ulisses de Souza. A Reforma do conselho de segurança da Organização das Nações Unidas.
Curitiba: Editora CRV, 2013. p. 31
40
2015, p. 84.
41
BLANCO, Ramon. GUERRA, Lucas. A Construção da Paz no Cenário Internacional: Do Peacekeeping
Tradicional às Críticas ao Peacebuilding Liberal. Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 13, n. 2, 2018, p. 5-30.
42
apud. CAVALCANTE, Ulisses de Souza.. A Reforma do conselho de segurança da Organização das Nações
Unidas. Curitiba: Editora CRV, 2013. p. 33
43
peace-making
44
peace-keeping.

11
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

agressão45, e; Consolidação da paz46, que são as realizadas após a assinatura de um acordo de


paz e auxiliam no processo de reconciliação nacional.
As operações de paz da ONU evoluíram ao longo da existência da organização. Até
1987, as operações de paz tinham por objetivo criar as condições necessárias para celebração
de acordos de paz após o término das hostilidades entre Estados por meio da supervisão do
cessar-fogo, controle de fronteiras, entre outros. Após esse primeiro período, a partir de 1988,
as agora chamadas operações multidisciplinares, monitoravam a realização de acordos de paz
firmados e suas atividades envolviam tarefas militares e de caráter humanitário para promover,
manter e construir a paz47. Já as operações de paz de terceira geração, autorizadas pelo capítulo
VII da carta, têm como característica marcante a imposição da paz por meio de sanções ou até
uso da força. Nessa última geração, as operações de paz não lograram sucesso pois por um lado
não havia consentimento das partes e por outro levou um emprego exacerbado do uso da força,
o que fez ser consideradas como imparciais e ineficazes48.

2.3. As Fragilidades do Conselho de segurança das Nações Unidas


No decorrer dos anos, o Conselho de Segurança das Nações Unidas enfrentou variações
nos graus de eficiência, legitimidade e transparência das suas decisões. Essas variações
resultaram tanto do cenário internacional da época quanto da própria disposição dos Estados
Membros em cooperar mutuamente em favor de um objetivo comum.
O jurista e filósofo austriaco Hans Kelsen notou que a escolha de uma instância
executiva, dotado do monopólio da força em esfera internacional como órgão mais importante
foi o primeiro grave problema da Organização das Nações Unidas. Isso porque, para ele, apenas
um órgão jurisdicional poderia ser detentor desse tipo de poder49.
O jogo de equilíbrio de poderes entre o Ocidente, a União Soviética e a Chinacomunista
foi longo e desgastante e acabou por expor algumas contradições do liberalismo institucional.
Ao longo da existência da ONU, o processo decisório do CSNU encontrou-se, por algumas
vezes, completamente paralisado. Nos últimos anos surgiram diversos debates relacionadas ao
Conselho de Segurança no que diz respeito às categorias dos membros, à

45
Enforcement.
46
peace-building
47
CAVALCANTE, Ulisses de Souza. A Reforma do conselho de segurança da Organização das Nações Unidas.
Curitiba: Editora CRV, 2013. p.36-37.
48
Ibid. p.37-38.
49
SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva. Manual das Organizações Internacionais. 2a ed.rev. amp. - Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2000. p. 127

12
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

questão do veto, representação regional, ampliação do Conselho de Segurança ampliado, seus


métodos de trabalho do Conselho50, entre outras, o que acarretou em uma desconfiança cada
vez maior nas decisões do órgão político. Andrews Amenyo51, lembra que inexiste, na Carta
das Nações Unidas, mecanismos de freios e contrapesos, fundamentais no sistemademocrático,
o que acaba por explicar a precariedade e instabilidade da segurança internacional nos dias de
hoje.

2.3.1. A questão do Veto


Como demonstrado anteriormente, o Conselho de Segurança da ONU é composto por
cinco membros permanentes e apenas estes possuem poder de veto, ou seja, apenas para estes
prevalece a regra da unanimidade do processo da tomada de decisões e dessa forma, todas as
resoluções do conselho devem ser aprovadas, ou ao menos não rejeitadas, pelos membros
permanentes. O objetivo da criação do veto foi evitar evitar os erros da Liga das Nações 52,
indicando que algum tema específico não reflete consenso entre os membros permanentes.
Acontece que, devido a utilização em quantidade abusiva desse recurso, por parte dos
membros permanentes do Conselho durante a Guerra Fria, o sistema do veto começou a ficar
desacreditado. Apenas durante a Guerra Fria, o veto foi utilizado 241 vezes como consequência
da bipolaridade política entre os Estados Unidos e a URSS. A desigual distribuição de poder
entre os membros, evidenciada pelo poder de veto e as inclinações políticas da organização e
consequentemente do conselho, colocam em dúvida as medidas coercivas empregadas, uma vez
que demonstram a parcialidade e a falta de técnica jurídica para constatar uma violação, o que
contraria, inclusive, a essência da própria Carta da ONU53.Entretanto, esse modelo permanece.

2.3.2. Guerra da Coreia


A guerra da Coreia, que teve início na invasão do Japão à Coreia, pode ser considerada
uma grande contradição ao institucionalismo liberal por parte do Conselho de Segurança das
50
RUNJAIC, L. Reform of the United Nations Security Council: The Emperor Has No Clothes. Revista de
Direito Internacional, v. 14, n. 2, p. 268–284, 2017. Disponível em:
<https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=lgs&AN=126410066&lang=pt-br&site=ehost-live>.
p.273.
51
AMENYO, Andrews. Working Procedure for the United Nations Security Council in the 21st Century,
International Journal of Science and Business, IJSAB International, vol. 9(1), pages 123-140. 2022
52
CAVALCANTE, Ulisses de Souza. A Reforma do conselho de segurança da Organização das Nações Unidas.
Curitiba: Editora CRV, 2013. p. 67
53
SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva. Manual das Organizações Internacionais. 2a ed.rev. amp. - Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2000. p. 128

13
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

Nações Unidas. Com a derrota do Japão e a retirada das tropas japonesas da Coreia, iniciou-se
uma guerra entre as Coreias. A resolução 85 de 1985 que autorizava o comando das Nações
Unidas a apoiar a população civil da Coreia e solicitava que as agências especializadas, órgãos
subsidiários pertinentes das Nações Unidas e as organizações não governamentais apoiassem o
comando das Nações Unidas, foi aprovada mesmo em face da ausência da União Soviética. Sob
o ponto de vista do processo de aprovação das Resoluções do Conselho de Segurança, a
resolução foi totalmente ilegal. Essa atitude começou por reforçar a crítica de que, na verdade,
as decisões do CSNU estavam inclinadas politicamente às ambições estadunidenses, dando
início ao desgaste ao institucionalismo liberal.

2.3.3. Crise dos Mísseis


A crise dos mísseis soviéticos em 1962, geralmente é considerada como o episódio mais
intimidador de toda a época da Guerra Fria. O Embaixador Ilmar Penna Marinho, na sede da
chancelaria estadunidense, presenciou o conhecido pronunciamento do presidente Kennedy na
televisão norte-americana sobre as repercussões da crise dos mísseis em Cuba54.
Em sua fala, o então presidente norte americano comunicou que a posição do governo
norte-americano era orientada para reduzir a ameaça, preservar a paz e assegurar que o
armamento nuclear soviético em Cuba não fosse utilizado para fins ofensivos55, determinando
a imposição de um pedido imediato de reunião de consulta da Organização dos Estados
Americanos, cuja intenção era aprovar uma declaração recomendando aos Estados membros
adotar todas as medidas, incluindo o uso da força, para assegurar que o governo de Cuba não
pudesse continuar recebendo suprimentos susceptíveis de ameaçar a paz e a segurança no
continente; e a convocação de uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da
Organização das Nações Unidas para estudar a situação e recomendar a desmontagem e a
retirada das instalações de natureza ofensiva em Cuba.
Ao se dirigir à nação americana, o então presidente norte americano não escondeu que
às ideias e opiniões norte americanas eram apoiadas e compartilhadas pela organização das
Nações Unidas. Além disso, o debate do Conselho de Segurança da ONU de Cuba enfatizou
a rudeza dos norte-americanos, caracterizada por sua fala repleta de arrogância esuperioridade.
54
AVILA, Carlos Federico Domínguez. A crise dos mísseis soviéticos em Cuba (1962) um estudo das iniciativas
brasileiras. VARIA HISTORIA, Belo Horizonte, vol. 28, nº 47, p.361-389, jan/jun 2012. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/vh/a/MFYhWfDFYj5qCRJTkbfQXVz/?format=pdf&lang=pt> . Acesso em: 27 de ago.
2022. p. 363
55
Ibid. p. 364

14
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

2.3.4. Entrega da cadeira permanente à China Comunista em 1972

O Encontro entre o 37° presidente estadunidense Richard Nixon e o ex-presidente da


República Popular da China Mao Tsé Tung acabou por destituir Taiwan de sua posição como
membro permanente no CSNU, além de eliminá-lo como país no cenário internacional.
Este ato que, entre outras coisas, tentou isolar a Rússia dentro do Conselho, acabando
por escancarar a farsa do institucionalismo liberal, deixando evidente para o mundo que os
Estados Unidos comandavam a ONU, uma vez que o encontro do presidente estadunidense com
Mao Tsé Tung foi suficiente para destituir um membro permanente de sua cadeira no CSNU,
substituí-lo por outro, e retirar, desse primeiro, o status de país.

2.3.5. Paralisia do CSNU


Após a entrada da China comunista no CSNU, o conselho ficou, por um período,
completamente congelado. Neste período, as poucas questões discutidas pelo conselho não
foram consideradas relevantes. A paralisia que imperou no CSNU entre 1972 e 1991, período
da Guerra Fria, resultou, principalmente, da impossibilidade de consenso entre os membros
permanentes do Conselho, o que bateu de frente com a regra da unanimidade 56, evidenciando
a superioridade dos membros permanentes sobre os demais membros em claro desrespeito ao
princípio da igualdade estabelecido no artigo 2° da própria Carta das Nações Unidas. Apenas
no período da Guerra Fria, o poder de veto foi utilizado 241 vezes.
No período do pós-guerra, o veto foi utilizado 16 vezes, demonstrando uma clara queda
em relação ao período anterior57. O Conselho retomou suas atividades em 1991 com a
desintegração da União Soviética e com a promessa de que a “nova Rússia” não iria mais vetar,
posição que foi alterada 20 anos depois, em 2011, com a aprovação da Missão da Líbia.Ocasião
em que a Rússia deu aval ao procedimento,se abstendo da votação, ao que depois considerou
como “abusos grosseiros” do Ocidente no emprego do uso da força no conflito da Líbia.
2.3.6. Reforma do CSNU

Não é recente a ideia de se reformar o Conselho de Segurança das Nações Unidas.


Kelsen criticava a formação do Conselho e considerava o monopólio do uso legítimo da força
56
SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva. Manual das Organizações Internacionais. 2a ed.rev. amp. - Porto Alegre:
Livraria do Advogado, 2000. p. 126
57
CAVALCANTE, Ulisses de Souza. A Reforma do conselho de segurança da Organização das Nações Unidas.
Curitiba: Editora CRV, 2013. p 66.

15
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

na esfera internacional à um órgão de instância executiva um grave problema, uma vez que,
para ele, apenas um órgão jurisdicional poderia deter esse poder devido ao caráter técnico e
imparcial, descentralizando assim, a execução da sanção. Objetivando descomplicar o debate
entre os Estados membros, foi criado, no ano de 1993, o Grupo de Trabalho sobre a reforma do
CSNU, por meio da resolução n° 48/26. As principais queixas quanto ao funcionamento do
conselho se referem à quantidade de membros, à transparência, aos métodos e ao veto.
O Conselho de Segurança está longe de ser um órgão representativo. Enquanto a Europa
está super-representada entre os membros permanentes, a Ásia está sub- representadae a África
e a América Latina não possuem sequer um assento. Diferentes grupos de opinião foram
formados e diferentes tipos de propostas foram oferecidas. Entretanto, apesar da grande
quantidade de propostas para a reforma do conselho, não se tem notado um avanço concreto.

3. Críticas ao Conselho frente ao conflito Russo-ucraniano

Por apresentar o enfrentamento entre dois Estados, o conflito Russo ucraniano se


encaixa perfeitamente na definição de conflito armado internacional trazida por Leão58. As
semanas de negociações anteriores ao dia 24 fevereiro de 2022 não foram suficientes para evitar
a invasão da Ucrânia pelas Forças Armadas de Putin, resultando na maior operação militar no
continente Europeu desde a Segunda Guerra Mundial. Na noite do dia 23 de fevereiro, foi
realizada uma reunião de emergência do Conselho de Segurança (CSNU) para discutir a crise
e pedir para que a Rússia não atacasse a Ucrânia59. Entretanto, a invasão já estava em
andamento, o que levou ao discurso de António Guterres, Secretário Geral, a confissão de estar
“encarando um momento, que eu, sinceramente, esperava não ter que vivenciar”60
A Ucrânia, em 26 de fevereiro de 2022, entrou com um processo na Corte Internacional
de Justiça pleiteando, como medida provisória, uma ordem de proteção parapara a prevenção
de prejuízo irreparável aos direitos da Ucrânia e do seu povo e evitar agravar ou prolongar a
disputa entre as partes61, e em 16 de março de 2022, a Corte Internacional de
58
LEÃO, Renato Zerbini Ribeiro. O regime da vanguarda do direito internacional público: ciência, direitos
humanos, meio-ambiente, migrações, povos indígenas e trabalho decente. Brasília, DF: Trampolim Editora e
Eventos Culturais Eirelli, 2021.
59
APARECIDO, Julia Mori. AGUILAR, Sérgio Luiz Cruz. Fevereiro de 2022. A GUERRA ENTRE A RÚSSIA
E A UCRÂNIA . Série Conflitos Internacionais V. 9, n. 1, Fevereiro de 2022. disponível em:
<https://www.marilia.unesp.br/Home/Extensao/observatoriodeconflitosinternacionais/v.-9-n.-1fev.-2022.pdf> .
60
ONU. 23 fev. 2022.
61
INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE, No. 2022/4 27 February 2022.

16
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

Justiça decidiu, por treze votos contra dois, que a Rússia deveria suspender de forma imediata
as operações militares iniciadas em 24 de fevereiro de 2022 no território da Ucrâniae garantir
que não fossem tomadas quaisquer medidas na promoção destas operações militares62.
Entretanto, a Rússia exerceu seu direito de veto como membro permanente do Conselho, e , por
isso, nenhuma ação contra ela foi possível, exceto a condenação emresoluções da Assembleia
Geral da ONU.
Durante os meses em que se decorreu o conflito, uma boa parte dos países ocidentais
aplicou sanções econômicas à Rússia. O presidente Putin justificou suas ações como medidas
para se opor ao avanço da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) ao leste europeu,
por considerar tais avanços como uma manifestação do imperialismo ocidental. A OTAN, por
sua vez, também interpretou a posição russa como imperialista e expansionista63. A invasão
russa à ucrânia acabou levando parte dos países europeus a demonstrar interesseem reforçar
seus investimentos em defesa, reforçando aindas mais a OTAN e militarizando a UE, como é o
exemplo da Alemanha, que anunciou um aumento do seu investimento em defesa em três
vezes64.
Apesar da grande ameaça, os atos da Rússia fazem parte de um conjunto de ações, não
apenas do governo russo, em sentido contrário à Carta das Nações Unidas. Pôde-se perceber
que, até então, as manifestações estadunidenses, por meio do atual presidente estadunidense Joe
Biden são carregadas de soberba e refletem a já conhecida prepotência norte-americana. Por
meio de seus discursos e ações, os Estados Unidos não apenas condenam e atacam a Rússia,
mas também o fazem à soberania de outros países. Pode-se citar como exemplo o vazamento
no gasoduto Nordstream 2, no mar baltico, no dia 26 de setembro de 2022. De acordo com as
notícias, o vazamento, supostamente, foi fruto de sabotagem, o que vem gerando muita
especulação sobre quem seria o responsável sobre o vazamento. A Ucrânia acusou a Rússia de
atacar o gasoduto como forma de retaliação às sanções aplicadas pela União Européia.
Enquanto isso, Rússia e Estados Unidos trocaram acusações a respeito de que teria sido o autor
da suposta sabotagem, enquanto a alemanha alegou danos irreversíveis à estrutura bilionária,
fruto de uma grande parceria energética e econômica entre Rússia e Alemanha, confirmando
o retrocesso que o conflito russo-ucraniano causou nas relações

62
INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE, No. 2022/11 16 March 2022
63
CAMPATO JR, J. A. A Guerra Russo-Ucraniana e os discursos sobre o imperialismo da nova desordem
mundial. Revista Eletrônica de Estudos Integrados em Discurso e Argumentação, v. 22, n. 1, p. 82-102, 15 jun.
2022.
64
REIS, Bruno Cardoso. A Guerra na Ucrânia. Da Invasão de Putin a Uma Revolução Estratégica. Instituto da
Defesa Nacional, 18 mar, 2022. p. 2 e 3.

17
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

russo-germânicas. No que diz respeito ao referido gasoduto, é válido relembrar que no mês de
fevereiro 2022, o presidente Joe Biden afirmou que se a Rússia invadisse o território ucraniano,
o gasoduto russo-germanico Nordstream 2 deixaria de funcionar. E ao ser questionado sobre
como isso seria possível, uma vez que o empreendimento não estava no controle norte-
americano, o presidente apenas assegurou que seria feito de qualquer forma. Embora a Rússia
tenha negado a autoria do ataque ao próprio gasoduto, também não resta provado, até então, o
envolvimento dos Estados Unidos com o vazamento, entretanto, fica o questionamento de,
como pode, um Estado soberano, afirmar que pode controlar os negócios dentro de outro Estado
soberano?
De qualquer modo, ambos, o conflito armado iniciado pela Rússia, e a declaração do
presidente estadunidense contrariam os dois primeiros grandes princípios do direito
internacional público, também reforçados na Carta da ONU: o princípio da igualdade soberana
entre os estados, e o da não interferência nos assuntos internos de outros estados. Mais do que
estes dois princípios, a invasão da Ucrânia pela Rússia, contraria também o terceiro grande
princípio do direito internacional público, que resulta dos dois primeiros, e que diz respeito à
proibição do uso da força65. Mesmo com a violação dos referidos princípios, a atual
configuração do Conselho de Segurança das Nações Unidas impede que sejam tomadas
quaisquer ações contra quaisquer dos estados permanentes. Isso porque, em qualquersituação
na qual venham estes infringir normas estabelecidas em âmbito da carta das Nações Unidas,
podem se valer da prerrogativa do veto. A impotência do Conselho de Segurança em situações
em que uma das grandes potências que configuram o quadro de membros permanentes do
Conselho de Segurança, comete atos que ameaçam a paz e a segurança internacional, provocam
a reflexão sobre a relevância do conselho e da necessidade urgentede reforma.
No dia 30 de setembro de 2022, em Moscou, o presidente russo Vladimir Putin, em
cerimônia no Kremlin, oficializou a anexação de Lugansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhia.
Nesta ocasião, o presidente russo afirmou não ter intenção de reviver a URSS e acusou o
ocidente de querer transformar a Rússia em uma “colonia”. A anexação ocorreu após referendos
organizados por autoridades apoiadas pela Rússia nas quatro regiões. A respeito disso, no dia
anterior à cerimônia, falando a jornalistas, o secretário-geral das Nações Unidas, António
Guterres, condenou o plebiscito russo para anexação, uma vez que o ato viola a
65
LEÃO, Renato Zerbini Ribeiro. O regime da vanguarda do direito internacional público: ciência, direitos
humanos, meio-ambiente, migrações, povos indígenas e trabalho decente. Brasília, DF: Trampolim Editora e
Eventos Culturais Eirelli, 2021. p.28-30.

18
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

Carta da ONU e compromete perspectivas de paz, e enfatizou que a Rússia, como um dos cinco
membros permanentes do Conselho de Segurança, compartilha uma responsabilidade particular
de respeitar a Carta66. No dia seguinte à referida oficialização, o Conselho de Segurança,
novamente, falhou em adotar resolução condenando referendos de Moscou nos territórios
ocupados da Ucrânia. Por 10 votos a favor, 1 contra (Federação Russa), e 4abstenções (Brasil,
China, Gabão, Índia), devido ao voto negativo de um membro permanente do Conselho, o texto
foi rejeitado67. Durante o encontro, a Rússia relembrou, antes da votação,que o Conselho nunca
adotou resoluções que condenavam, diretamente, um de seus membros.A Ucrânia, por sua vez,
ao final da votação, declarou que milhões, em todo o mundo, estavamtestemunhando o fracasso
do Conselho em responder a uma ameaça global, declarando que o Conselho era o pilar
quebrado das Nações Unidas.68
A partir desse cenário internacional conflituoso e politicamente bipolar, pode-se
perceber um conselho completamente ineficiente e um tanto quanto desacreditado. Mesmo com
alguns avanços pontuais, os processos de consolidação da paz baseados na paz liberal
dificilmente chegam a criar as condições necessárias para o surgimento de uma paz
sustentável69. Pouco mais de seis meses se passaram desde o início do conflito, entretanto, não
se vê sinal de trégua. A bipolaridade política entre a Rússia e o ocidente acaba por dificultar a
relação harmoniosa entre eles. A maior ameaça desde a Segunda Guerra Mundial não pode ser
tratada como uma mera coincidência. Muitos Estados, inclusive os que fazem parte do P5,
escolheram não cumprir as leis, criando, por consequência, um cenário ainda pior que o da
Guerra Fria. Mais uma vez o Conselho mostrou-se impotente e incapaz de assegurar a paz
internacional, demonstrando, dessa forma, que seus requisitos operacionais estão longe do
ideal, e a perigosa escalada da invasão russa têm rechaçado essa impotência.
Como se a mera existência de membros permanentes, munidos de um maior grau de
força de decisão em relação aos outros, e a baixa representatividade no Conselho não fossem
suficientes para pôr em dúvida a existência e os atos do CSNU, seus próprios membros
permanentes escolhem, deliberadamente, não cumprir às regras dispostas na Carta das Nações
Unidas, e violam os princípios e normas que regem a Organização e, por conseguinte, o
Conselho. Embora ainda seja cedo para inferir resultados ao desfecho do conflito armado,

66
Nações Unidas Brasil, 2022.
67
United Nations. 9143RD MEETING (PM). SC/15046, 30 SEPTEMBER 2022. disponível em:
<https://press.un.org/en/2022/sc15047.doc.htm> acesso em: 02 de out de 2022.
68
Ibid.
69
RICHMOND,Oliver P. A Post‑Liberal Peace. 1st Edition. London: Routledge. 2011.

19
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

devido a tensão instaurada principalmente entre Rússia e Estados Unidos da América, não seria
ilógico apontar a possibilidade de a invasão russa acabar por ser a pedra no túmulo do
institucionalismo liberal, dando início a uma regresso das grandes guerras outrora
convencionais, ou ainda, levando o mundo a uma guerra nuclear.

Considerações finais:

A dicotomia de posicionamento político entre os membros permanentes do CSNU,tem


colocado em cheque o institucionalismo liberal adotado pelo ocidente. Dada a sua composição
por Estados soberanos e sua interação com outros atores internacionais, a Organização das
Nações Unidas, seus órgãos e agências, têm se confrontado com essa nova e emergente
realidade em que suas ações são contestadas e criticadas. Muito embora a atual configuração se
mantenha, isso se deve quase que exclusivamente à retórica admirável dos liberais, uma vez
que resta claro que os objetivos previstos no capítulo I da Carta das Nações Unidas não estão
sendo alcançados e a cada dia que se passa as operações de manutenção da paz têm assumido
um perfil mais violento e politicamente parcial.
A natureza das epistemologias eurocêntricas, e sua dependência de organizações com
fortes inclinações políticas e ideológicas como a ONU estão sendo, cada vez mais, discutidas
e repensadas. Ao longo do presente trabalho, pôde-se notar a complexidade que circunda os
temas relativos ao institucionalismo liberal e às resoluções de conflitos baseadas numa
manutenção de paz pautada em visões primordialmente eurocêntricas. É incoerente, com a
própria ideia do institucionalismo liberal, a manutenção de um órgão político parcial com uma
concentração de poderes tão incompatível, como é o caso do CSNU. O Conselho não está sendo
eficiente em assegurar a paz e a segurança internacional, afetando, cada vez mais, a
credibilidade da ONU perante a sociedade internacional. O institucionalismo liberal, modelo
hegemônico pautado na igualdade e na liberdade, apresenta uma forte retórica porém uma
prática não tão satisfatória, e a questão dos assentos permanentes do Conselho não refletem as
realidades geopolíticas atuais.
Embora não se deva, de forma alguma, ignorar a contribuição das organizações
internacionais e das epistemologias eurocêntricas no cenário de resoluções de conflitos no
âmbito internacional, a ponderação a respeito de alternativas para a resolução dos conflitos
internacionais além das já existentes é de suma importância para a atribuição de maior
credibilidade e transparência na resolução de conflitos e manutenção da paz.

20
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

O tema do presente trabalho está longe de ser uma obra definitiva e carece de
permanentemente revisão de acordo com a atualização internacional, e é sugerido para
estudantes de graduação em direito e relações internacionais, bem como para outros
interessados no assunto e, ainda, para inspiração de tema de outros trabalhos de conclusão de
curso.

Referências :

ALEXANDRE DE GUSMÃO FOUNDATION. A security council for the 21st century:


challenges and prospects. Brasília: Funag, 2017.

ALVES, Luiza Queiroz. DIREITO INTERNACIONAL DOS CONFLITOS ARMADOS NO


SÉCULO XXI: Análise da Evolução da Legalidade da Guerra e o conflito entre Israel e
Palestina por Recursos Hídricos. UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
FACULDADE DE DIREITO “PROF. JACY DE ASSIS”. Uberlândia, 2019. Disponível em:
<https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/30017/4/DireitoInternacionalDos.pdf>

AMENYO, Andrews. "Working Procedure for the United Nations Security Council in the
21st Century," International Journal of Science and Business, IJSAB International, vol. 9(1),
pages 123-140, 2022.

APARECIDO, Julia Mori. AGUILAR, Sérgio Luiz Cruz. Fevereiro de 2022. A GUERRA
ENTRE A RÚSSIA E A UCRÂNIA . Série Conflitos Internacionais V. 9, n. 1, Fevereiro de
2022. disponível em:
<https://www.marilia.unesp.br/Home/Extensao/observatoriodeconflitosinternacionais/v.-9-n.-
1fev.-2022.pdf> acesso em : 29 de set. 2022.

AVILA, Carlos Federico Domínguez. A crise dos mísseis soviéticos em Cuba (1962) um estudo
das iniciativas brasileiras. VARIA HISTORIA, Belo Horizonte, vol. 28, nº 47, p.361-389,
jan/jun 2012. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/vh/a/MFYhWfDFYj5qCRJTkbfQXVz/?format=pdf&lang=pt> .
Acesso em: 27 de ago. 2022.

AZEVEDO, Plauto Faraco de. Direito, justiça social e neoliberalismo. São Paulo: Editora
revista dos tribunais.1999.

BLANCO, Ramon. GUERRA, Lucas. A Construção da Paz no Cenário Internacional: Do


Peacekeeping Tradicional às Críticas ao Peacebuilding Liberal. Rev. Carta Inter., Belo
Horizonte, v. 13, n. 2, 2018, p. 5-30. disponível em:
<file:///C:/Users/dev/Documents/Bia/A%20Constru%C3%A7%C3%A3o%20da%20Paz%20n
o%20Cen%C3%A1rio%20Internacional-%20Do%20Peacekeeping%20Tradicional%20%C3
%A0s%20Cr%C3%ADticas%20ao%20Peacebuilding%20Liberal.pdf> acesso em: 10 de ago.
2022.

21
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

BORTOLOTI, José Carlos Kraemer Bortoloti; SERRAGLIO, Priscila Zilli. A nacionalidade


como dimensão pessoal do estado e o seu enquadramento como norma constitucional brasileira.
Grupo de Pesquisa Multiculturalismo, Minorias e Espaço Público – IMED, Brasil.

BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. ESTADO, ESTADO-NAÇÃO E FORMAS DE


INTERMEDIAÇÃO POLÍTICA . Lua Nova: Revista de Cultura e Política [online]. 2017, n.
100 [Acessado 8 Março 2022] , pp. 155-185. Disponível em:
<https://doi.org/10.1590/0102-155185/100>. ISSN 1807-0175.
https://doi.org/10.1590/0102-155185/100.

CAMPATO JR, J. A. A Guerra Russo-Ucraniana e os discursos sobre o imperialismo da nova


desordem mundial. Revista Eletrônica de Estudos Integrados em Discurso e Argumentação, v.
22, n. 1, p. 82-102, 15 jun. 2022.

CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Direito das Organizações Internacionais. 5ª ed.


Belo Horizonte: Del Rey, 2012.

CARVALHO, Gustavo Seignemartin de. Autonomia e relevância dos regimes. Contexto


Internacional [online]. 2005, v. 27, n. 2 [Acessado 5 Agosto 2022] , pp. 238-329. Disponível
em: <https://doi.org/10.1590/S0102-85292005000200004>. Epub 13 Ago 2010. ISSN 1982-
0240. https://doi.org/10.1590/S0102-85292005000200004.

CAVALCANTE, Ulisses de Souza.. A Reforma do conselho de segurança da Organização das


Nações Unidas. Curitiba: Editora CRV, 2013.

CEPIK, M.; KUELE, G. Inteligência em Operações de Paz da ONU: Déficit Estratégico,


Reformas Institucionais e Desafios Operacionais. Dados - Revista de Ciências Sociais, [s.
l.], v. 59, n. 4, p. 963–993, 2017. DOI 10.1590/001152582016105. Disponível em:
https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=poh&AN=122870783&lang=pt-br&
site=ehost-live. Acesso em: 23 ago. 2022.

DA SILVA, Cheyenne Cunha Teixeira. Soberania e intervenção internacional: relação e


contraposição? Faculdade baiana de direito.2014.

DUNNE, T. KURKI, M. SMITH, S. International Relations Theories: discipline and diversity.


Oxford. Third Edition. 2013.

FAGANELLO, Priscila Liane Fett. Operações de manutenção da paz da ONU: de que forma
os direitos humanos revolucionaram a principal ferramenta internacional da paz. - Brasília:
FUNAG,2013.

GROCHOCKI, Luís Filipe de Miranda. A reforma do Conselho de Segurança das Nações


Unidas e a perspectiva brasileira. Centro Universitário de Brasília. 2005. disponível em:
<https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/relacoesinternacionais/article/view/290/278
>

22
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE, No. 2022/4 27 February 2022. disponível em


<https://www.icj-cij.org/public/files/case-related/182/182-20220227-PRE-01-00-EN.pdf>
acesso em: 18 de set de 2022.

INTERNATIONAL COURT OF JUSTICE, No. 2022/11 16 March 2022. disponível em:


<https://www.icj-cij.org/public/files/case-related/182/182-20220316-PRE-01-00-EN.pdf>

LARANJEIRA, Luiza Simeão Marques. RELAÇÕES INTERNACIONAIS: SOBERANIA


NO LIMITE. Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro. 2016

LEÃO, Renato Zerbini Ribeiro. O regime da vanguarda do direito internacional público:


ciência, direitos humanos, meio-ambiente, migrações, povos indígenas e trabalho decente.
Brasília, DF: Trampolim Editora e Eventos Culturais Eirelli, 2021.

MAZZUOLI, Valerio Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. 11. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2018.

MINISTÉRIO DA DEFESA COMANDO DA AERONÁUTICA ESCOLA DE


ESPECIALISTAS DE AERONÁUTICA. ÉTICA PROFISSIONAL MILITAR VOLUME
ÚNICO. COMANDO DA AERONÁUTICA ESCOLA DE ESPECIALISTAS DE
AERONÁUTICA. CAMPO MILITAR CESD 2014.

NAÇÕES UNIDAS (ONU). Carta das Nações Unidas (1945).

Nações Unidas. Para Guterres, processo de anexações na Ucrânia não teria valor legal . 30 de
set de 2022. disponível em:
<https://brasil.un.org/pt-br/201510-ucrania-guterres-condena-plebiscito-russo-para-anexacao-
de-territorios > acesso em: 30 de set 2022.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos do Homem.


Art. 15, 1948.

ONU. Maior crise global de paz e segurança só pode ser resolvida pelo diálogo, diz chefe da
ONU. ONU News, 23 fev. 2022. Disponível em:
https://news.un.org/pt/story/2022/02/1780662. Acesso em: 26 set. 2022.

PIRES, Hindenburgo Francisco. ESTADOS NACIONAIS, SOBERANIA E REGULAÇÃO


DA INTERNET. REVISTA ELECTRÓNICA DE GEOGRAFÍA Y CIENCIAS SOCIALES.
Universidad de Barcelona. ISSN: 1138-9788. Depósito Legal: B. 21.741-98. Vol. XVI, núm.
418 (63), 1 de noviembre de 2012.

Protocol Additional to the Geneva Conventions of August 12, 1949, and Relating to the
Protection of Victims of International Armed Conflicts, art 36, June 8, 1977.

REIS, Bruno Cardoso. A Guerra na Ucrânia. Da Invasão de Putin a Uma Revolução Estratégica.
Instituto da Defesa Nacional, 18 mar 2022. p. 2 e 3.

REZEK, José Francisco. Direito Internacional Público: Curso elementar. 15 ed. - São Paulo:
Saraiva 2014

23
Saskab. Revista de discusiones filosóficas desde acá, cuaderno 19 2023, ISSN 2227-5304
http://www.ideaz-institute.com/sp/CUADERNO20/C201.pdf

REZEK, José Francisco. Direito dos Tratados. - 1a ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense 1984

RICHMOND,Oliver P. A Post‑Liberal Peace. 1st Edition London: Routledge. 2011.

RIBEIRO, Manuel de Almeida. A Organização das Nações Unidas. Coimbra: Livraria


Almedina 1998

RUNJAIC, L. Reform of the United Nations Security Council: The Emperor Has No Clothes.
Revista de Direito Internacional, [s.l.], v. 14, n. 2, p. 268–284, 2017. DOI
10.5102/rdi.v14i2.4587. Disponível em:
<https://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=lgs&AN=126410066&lang=pt-br
&site=ehost-live>. Acesso em: 26 ago. 2022

SEITENFUS, Ricardo Antônio Silva. Manual das Organizações Internacionais. 2a ed.rev. amp.
- Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2000.

UNITED NATIONS. 9143RD MEETING (PM). SC/15046, 30 SEPTEMBER 2022. disponíel


em: <https://press.un.org/en/2022/sc15047.doc.htm> acesso em: 02 de out de 2022

VARELLA, Marcelo D. Direito Internacional Público. 7a ed São Paulo: Saraiva, 2018.

24

Você também pode gostar