Antunes, Mariana Godinho Cayatte Castanheira
Antunes, Mariana Godinho Cayatte Castanheira
Antunes, Mariana Godinho Cayatte Castanheira
EGAS MONIZ
DIARREIAS
Novembro de 2014
1
2
Dedicatória
Dedico esta dissertação aos meus pais que sempre estiveram presentes e me apoiam em
todas a fases da minha vida, embora todas as adversidades. Sem eles não poderia ter
concluído este curso e não teria a possibilidade de voar mais alto.
3
4
Agradecimentos
Em primeiro lugar queria agradecer aos meus pais por todo o apoio, carinho e ajuda que
me deram ao longo do meu percurso pelo ISCSEM e acima de tudo por acreditarem em
mim. Para além de terem tornado possível que frequentasse o ensino superior, sempre
foram exemplos de coragem, perseverança e de força. E foi esta força que me fez chegar
aqui!
Às minhas irmãs, que mesmo estando em continentes diferentes, o apoio e ajuda foi
incondicional nos momentos mais difíceis. O amor que sentimos umas pelas outras
ultrapassa barreiras e continentes. À restante família, um muitíssimo obrigado por todo
o apoio e carinho durante o meu percurso académico.
Aos meus colegas de curso, de mesa, de grupo, aos meus amigos, aqueles que sempre
estiveram presentes e que sem eles este percurso não teria sido o mesmo: Ana Castelão,
Ana Sanchez, Duarte Carvalho, Inês Canelas, Melvin Gracias, Raquel Canhões, Vasco
Guerreiro, às meninas do colégio e tantos outros que me surpreenderam, um muito
obrigada.
Ao Pedro Freitas, que em tão pouco tempo, demonstrou um carinho, confiança, apoio
incondicional e amor que tornaram esta etapa final possível. Por acreditar que era capaz
e por “descomplicar” o que era difícil para mim.
E por último mas não menos importante, gostaria de agradecer ao meu orientador, o
Prof. Doutor José Martins dos Santos, pelo apoio, disponibilidade e conhecimentos
transmitidos na elaboração deste trabalho. Muito obrigada por tudo Professor.
5
6
Resumo em português
Nas últimas três décadas, graças aos esforços realizados, os países em desenvolvimento
conseguiram reduzir a taxa de mortalidade e foram vários os fatores que contribuíram
para isso tais como, a distribuição e o uso generalizado de soluções de reidratação oral
(SRO).
7
8
Abstract
Thanks to efforts, over the past three decades, the developing countries have made great
progress in reducing of mortality rate. Several factors contributed to this reduction, for
example, dispensing and extended use of Oral Rehydration Solution (ORS).
Every year, in developed countries the diarrhea episodes may reach between 111 and
more than 220 million. It must be know the etiology, treatments and non-
pharmacological measures in order to avoid fatal cases and treat in time with no further
complications.
The “MyNewGut” project started in December 2013, have potential to develop dietary
interventions which will allow greater functions control of intestinal microbiome. Thus,
over the years, through the results from project it will be able to apply new therapeutics
the diarrhea cases.
9
10
Índice
Índice de Figuras .......................................................................................................... 13
CAPÍTULO 5 – Diarreia.............................................................................................. 29
4.3 Probióticos................................................................................................... 42
Bibliografia .................................................................................................................... 55
11
12
Índice de Figuras
13
14
Índice Tabelas
15
16
Lista de Abreviaturas
TMP - Trimetoprim
SMZ - Sulfametoxazol
17
18
Capítulo 1 – Objetivo
CAPÍTULO 1 – Objetivo
Esta dissertação, tem como principais objetivos o estudo e a análise de uma patologia
que afeta milhares de pessoas - a diarreia - e que em muitos casos é negligenciada,
conduzindo a complicações mais graves do que aquelas que seriam esperadas.
19
Diarreias
20
Capítulo 2 - Metodologia
CAPÍTULO 2 – Metodologia
21
Diarreias
22
Capítulo 3 - Introdução
CAPÍTULO 3 – Introdução
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a UNICEF são registados, por ano,
cerca de 2 biliões de casos de diarreia em todo o mundo (World Gastroenterology
Organisation World Global Guideline - Diarreia aguda em adultos e crianças: uma
perspectiva mundial, 2012).
Nos países desenvolvidos, apesar da escassez de dados, os casos de diarreia ainda são
consideráveis, daí a importância de se conhecer os tipos, causas e tratamentos da
diarreia. Na Europa e América, em crianças dos 0 aos 59 meses, existem cerca de 111
milhões e 220 milhões de episódios anuais de diarreia, respetivamente (Lamberti,
Fischer Walker, & Black, 2012). Segundo Lamberti, Ficher Walker e Black (2012)
destes valores na Europa, 72 milhões são episódios ligeiros, 38 milhões são episódios
moderados e 556 mil são episódios severos de diarreia. No caso da América, 142
23
Diarreias
milhões são episódios ligeiros, 76 milhões são episódios moderados e cerca de 1 milhão
são episódios severos de diarreia.
Nos dias de hoje e com a crise económica instalada no nosso país muitos doentes
dirigem-se inicialmente à farmácia do que a centros de saúde e hospitais. O
farmacêutico, como o profissional de Saúde mais próximo da comunidade, tem um
papel fundamental, tanto no despiste de possíveis causas, como nas indicações
terapêuticas farmacológicas e não farmacológicas, reencaminhando para o médico as
causas mais graves e que requeiram outro tipo de cuidados.
24
Capítulo 4 – Anatomia Gastrointestinal
1. Sistema Digestivo
O sistema digestivo consiste no tubo digestivo que se estende desde a boca até ao ânus e
os órgãos anexos (Santos et al., 2007; Seeley, Stephens, & Tate, 2004). É importante
falar no sistema digestivo porque é neste que ocorre a digestão. A digestão é essencial
porque transforma em substâncias simples, capazes de passarem as paredes do tubo
digestivo e serem absorvidas, as substâncias mais complexas constituintes dos alimentos
(Santos et al., 2007).
O tubo digestivo é constituído pela boca, faringe, esófago, estômago, intestino delgado,
intestino grosso, reto e ânus (Santos et al., 2007; Seeley et al., 2004).
25
Diarreias
O intestino grosso (Fig. 1) inicia-se no cego, que é a porção inicial do cólon ascendente
e encontra-se localizado na fossa ilíaca direita (Santos et al., 2007; Standring et al.,
2008). A válvula íleo-cecal, já mencionada anteriormente, marca a transição do intestino
delgado para o intestino grosso e impede o refluxo do material fecal para o intestino
delgado (Santos et al., 2007).
26
Capítulo 4 – Anatomia Gastrointestinal
A flora do intestino grosso é importante ser mencionada, uma vez que, contém cerca,
citando as Diretrizes Mundiais da Organização Mundial de Gastroenterologia -
Probióticos e prebióticos (2011), “100 triliões de células bacterianas que fornecem uma
média de 600.000 genes a cada ser humano, localizadas fundamentalmente no cólon”.
27
Diarreias
Firmicutes e Bacteroidetes (Robles & Guarner, 2013; Tremaroli & Bäckhed, 2012).
Muitas das bactérias comensais são responsáveis pela produção de vitamina K, que tem
um papel essencial na coagulação. A Vitamina K é encontrada na alimentação em muito
menor quantidade daí a importância desta flora bacteriana (Walther, Karl, Booth, &
Boyaval, 2013).
“Por dia, entra no intestino grosso cerca de 1500 ml de quilo, sendo que 90% do volume
é reabsorvido, por isso, apenas 80-150 ml de fezes são eliminadas diariamente” (Seeley
et al., 2004). Quando ocorre um desequilíbrio desta absorção e/ou mau funcionamento
do intestino há alterações nas fezes, tanto a nível de quantidade, como da forma,
podendo originar diarreia ou obstipação consoante o tipo de alteração.
28
Capítulo 5 – Diarreia
CAPÍTULO 5 – Diarreia
1. Definição de diarreia
A OMS define diarreia, como a “dejeção de fezes moles ou líquidas pelo menos três
vezes em 24 horas”, sendo a principal preocupação a consistência e não a frequência
(World Health Organization. The treatment of diarrhoea: a manual for physicians and
other senior health workers, 2005).
De acordo com Ponce (2010), a capacidade absortiva do cólon não excede 2 a 3 l por
dia e qualquer perturbação fisiológica do intestino delgado provoca um enorme
desequilíbrio do balanço hídrico do tubo digestivo.
A diarreia pode estar relacionada com uma simples alteração intestinal ou ser causada
por bactérias, vírus, parasitas, medicamentos (iatrogénica), problemas intestinais ou
intolerâncias alimentares (National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney
Diseases, s.d.).
2. Fisiopatologia da diarreia
Em termos fisiopatológicos, Pinto (2007) afirma que a diarreia pode ocorrer se houver
um aumento do volume de água que entra no cólon, ultrapassando os 6l; se houver uma
doença associada, quer por lesões da muscosa, quer por perturbações na motilidade,
podendo limitar a absorção de água; e se a quantidade de líquido que chega ao cólon
apresentar substâncias que aumentem a secreção de água e eletrólitos e que impeçam o
cólon de compensar esse excesso de água.
Fisiopatologicamente, as diarreias são divididas em quatro tipos (fig. 2), sendo esta
classificação diferente da classificação clínica indicada mais adiante nesta dissertação
29
Diarreias
(Braunwald et al., 2002; Pinto, 2007). Os quatro tipos são: diarreia secretora, diarreia
exsudativa ou inflamatória, diarreia osmótica e por fim diarreia motora (Pinto, 2007).
A diarreia secretora surge através de uma secreção ativa de sódio e cloro que causa
perda de água, provocando a passagem desta água para o lume do intestino, originando
uma diarreia aquosa que não é afetada pelo jejum (Pinto, 2007). As causas incluem
infeções virais (por exemplo rotavírus, vírus Norwalk), infeções bacterianas (por
exemplo causadas por Vibrium Cholereae, Escherichia coli enteroxinogénica,
Staphylococcus aureus), parasitas (por exemplo Giardia, Isospora, Crystosporidium),
distúrbios associados ao HIV, causas iatrogénicas, síndrome de Zollinger-Ellison
(Braunwald et al., 2002).
30
Capítulo 5 – Diarreia
Por fim, a diarreia motora, consiste numa alteração do trânsito intestinal provocando
uma diarreia intermitente (aumento e diminuição da dejeção) que perturba a adequada
absorção dos nutrientes. Diabetes mellitus, insuficiência supra-renal, hipertiroidismo,
parasitas, laxantes, síndrome do cólon irritável e utilização de antibióticos são, segundo
Braunwald e colaboradores (2002), algumas das causas responsáveis por este tipo de
diarreia.
É considerada diarreia aguda quando tem uma duração inferior ou igual a 2 semanas, e
diarreia crónica quando tem uma duração superior ou igual a 4 semanas (Braunwald et
al., 2002).
Normalmente a causa mais frequente de diarreia aguda nas crianças ocorre devido a
uma infeção viral, enquanto nos adultos deve-se a uma infeção bacteriana (World
31
Diarreias
De acordo com Braunwald e colaboradores (2002), cerca de 90% das causas de diarreias
agudas são de origem infeciosa, sendo os restantes 10% devido a intoxicações
alimentares, medicamentos, isquemia e outros distúrbios. A emissão de fezes líquidas
pode ser acompanhada de outros sintomas, tais como vómitos, dor abdominal, mal-estar
geral, febre e anorexia (Braunwald et al., 2002).
32
Capítulo 5 – Diarreia
Como já referido anteriormente, os agentes causais mais comuns da diarreia aguda são
agentes infeciosos. Estes são normalmente adquiridos por transmissão fecal-oral
(Braunwald et al., 2002). Os vários grupos de risco de acordo com Braunwald e
colaboradores (2002), são os viajantes, consumidores de certos alimentos, pessoas
imunocomprometidas, crianças e trabalhadores de creches e seus familiares e pessoas
institucionalizadas.
Tabela 1 – Destinos de viagem vs. percentagem de risco de ocorrência de diarreia (adaptado de: Ponce,
2010)
33
Diarreias
Sabe-se que nos viajantes cerca de 80% dos casos de diarreia são devidos a bactérias
(Jiang et al., 2002). Na América Latina, África e Ásia a diarreia é causada mais
frequentemente por Escherichia coli, sendo esta a responsável por cerca de 50% dos
casos de diarreia nestas regiões. Campylobacter sp., Shigella sp.,e Salmonella sp, são
responsáveis por cerca de 10-25% dos casos de diarreia mas com maior frequência no
sudoeste da Ásia (Braunwald et al., 2002; Hoge, 1998; Jiang et al, 2002). Na Rússia, os
viajantes têm um maior risco de ter diarreia associada a Giardia, como também os
campistas, montanhistas e nadadores em áreas selvagens (Braunwald et al., 2002).
34
Capítulo 5 – Diarreia
Kavaliūnas e colaboradores (2012) afirmam que, nas escolas e creches a propensão para
diarreias é bastante grande. Numa escola primária em Vilnius, na Lituânia, foi efetuado
um estudo para verificar as alergias e as reações adversas a certos alimentos. Verificou-
se que cerca de 48% das crianças ficaram com diarreia, sendo que os agentes infeciosos
mais comuns foram Shigella, Giardia, Cryptosporidium e rotavírus embora existam
outros responsáveis mas não tão comuns (Braunwald et al., 2002; Kavaliūnas et al.,
2012).
As pessoas imunodeficientes (e.g. infetadas com HIV) estão mais propensas a infeções
oportunistas, como Mycobacterium, Neisseiria gonorrhae, vírus como citomegalovírus
(CMG), protozoários como Cryptosporidium e a Chlamydia, que são, normalmente,
transmitidos por via sexual. O Clostridium difficile é responsável por grande parte das
diarreias infeciosas a nível hospitalar (Yakob, Riley, Paterson, & Clements, 2013),
sendo o uso de antibióticos de largo espectro uma das principais causas (Meyer,
Gastmeier, Weizel-Kage, & Schwab, 2012). Segundo Wiegand e colaboradores a
mortalidade devido ao C. difficile atingiu os 2% em França e os 47% no Reino Unido,
sendo que desde 1999 até 2004 a incidência desta infeção aumentou mais do dobro
(Wiegand et al., 2012). Note-se, que desde o ano de 2004, é obrigatório reportar os
casos diagnosticados desta infeção no Reino Unido, sendo esta a razão pela qual os
números são mais elevados em comparação com outros.
Algumas diarreias estão associadas ao uso dos antibióticos. Estes vão alterar as funções
digestivas secundárias reduzindo a flora bacteriana ou aumentar o crescimento de
bactérias patogénicas (Beaugerie & Petit, 2004; Hogenauer, Hammer, Krejs, &
Reisinger, 1998). Na figura 4 podem-se observar alterações no intestino provocadas
pelos antibióticos.
35
Diarreias
Figura 4 - Cólon saudável (A) vs. cólon com colite não específica associada a antibióticos (B) e (C)
(adaptado de: Song e colaboradores (2008).
É necessário fazer-se um exame clínico para se poder ter um diagnóstico objetivo. “As
infeções gastrointestinais também são uma causa frequente de diarreias crónica (e.g.
amebíase, giardíase, diarreia por C. difficile) ” (Ponce, 2010).
36
Capítulo 5 – Diarreia
Tabela 2- Tipos de Diarreia Crónica (adaptado de: Juckett & Trivedi, 2011; Ponce, 2010)
37
Diarreias
Síndrome do cólon
irritável
Juckett e Trivedi (2011) consideram que as principais causas de diarreia crónica devem-
se à síndrome do cólon irritável, à doença inflamatória intestinal, colite microscópica,
diarreia mal absortiva, infeções crónicas, causas medicamentosas e endócrinas.
As doenças inflamatórias intestinais, que são uma das principais causas da diarreia
crónica, normalmente são acompanhas de febre, dor abdominal e hemorragias. A
exsudação, a má absorção lipídica e redução de absorção hidro-eletrolítica são os
mecanismos existentes neste tipo de diarreia. Para haver uma confirmação deste tipo de
diarreia é necessário um exame fecal em que haja a presença de leucócitos e derivados
(Braunwald et al., 2002).
38
Capítulo 5 – Diarreia
Juckett e Trivedi (2011), apresenta os mesmos sintomas mas também anemia e perda de
peso.
A colite microscópica é caracterizada por uma diarreia secretória intermitente que afeta
essencialmente os idosos (Abdo & Beck, 2003). Segundo Juckett e Trivedi (2011) a
causa desta diarreia é desconhecida e apesar de apresentar uma inflamação
microscópica, não existem sintomas sistémicos, nem sangue nas fezes.
As diarreias esteatorreicas são diarreias gordurosas e com odor fétido. Estão associadas
à má absorção intestinal e deficiências nutricionais. Braunwald e colaboradores (2002),
afirmam que existe uma taxa de gordura fecal superior à normal de 7g/dia. A doença
celíaca, doença de Whipple e sprue tropical são exemplo de causas da diarreia
esteatorreica.
A maioria das diarreias crónicas está relacionada com doenças colónicas e na ausência
de evidências clinicas de má absorção intestinal devem ser realizados exames ao cólon,
tendo sempre em conta o risco que estes exames acarretam pelo seu caracter invasivo
(Thomas, Forbes, Green, & Howdle, 2003).
39
Diarreias
4.1 Reidratação
Segundo a OMS, o tratamento mais importante da diarreia é assegurar a reposição de
fluidos e eletrólitos. Nas últimas três décadas, conseguiu-se reduzir a taxa de
mortalidade associada graças à distribuição e ao uso generalizado de soluções de
reidratação oral (SRO) (Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia - Diarreia:
avaliação e tratamento. Normas de orientação clínica, 2013, World Gastroenterology
Organisation World Global Guideline - Diarreia aguda em adultos e crianças: uma
perspectiva mundial, 2012).
Nos casos de diarreia leve a reposição de líquidos e a toma de SRO torna-se suficiente.
No entanto, em casos de desidratação extrema a reidratação terá de ser intravenosa
(Braunwald et al., 2002).
Recomendada pela OMS e UNICEF, a nova SRO, “tem menos osmolaridade, menores
concentrações de sódio e glicose, provoca menos vómitos, diminui as dejeções e as
probabilidades de apresentar hipernatremia e diminui a necessidade de infundir soluções
intravenosas, comparado com a SRO padrão” (World Gastroenterology Organisation
World Global Guideline - Diarreia aguda em adultos e crianças: uma perspectiva
mundial, 2012). Na Tabela 3 pode observar-se a formulação da SRO padrão.
40
Capítulo 5 – Diarreia
Tabela 3 – Solução de Reidratação Oral padrão (adaptado de: World Gastroenterology Organisation
World Global Guideline - Diarreia aguda em adultos e crianças: uma perspectiva mundial, 2012)
Sódio 75 mmol/L
Cloro 65 mmol/L
Glicose anidra 75 mmol/L
Potássio 20 mmol/L
Citrato trissódico 10 mmol/L
Osmolaridade total 245 mmol/L
A TRO consiste numa reidratação, onde se administra água e eletrólitos para repor as
perdas ocorridas aquando da diarreia e numa terapia de manutenção que compensa as
perdas que persistem após ter-se alcançado a reidratação, acompanhando com uma dieta
apropriada ao estado do doente (World Gastroenterology Organisation World Global
Guideline - Diarreia aguda em adultos e crianças: uma perspectiva mundial, 2012).
4.2 Dieta
A ingestão de fibra, farelo, frutose, ou fruta pode resultar em diarreia. Nos casos em que
não há sinais de desidratação é recomendado que a alimentação seja continuada. Em
casos de desidratação moderada a severa a alimentação só deve ser iniciada após a
desidratação ter sido retificada aplicando a TRO (World Gastroenterology Organisation
World Global Guideline - Diarreia aguda em adultos e crianças: uma perspectiva
mundial, 2012).
41
Diarreias
Administrar:
Uma dieta apropriada para a idade, independente do líquido utilizado para
TRO
Fazer várias refeições leves e distribuídas ao longo do dia (6 refeições/dia)
Alimentos ricos em energia (e.g. grão, ovos, carnes, frutas e hortaliças)
Após uma dejeção diarreica aumentar a ingestão energética
Em latentes, a amamentação é o mais indicado, em crianças pequenas deve ser
dada uma refeição adicional após a resolução da sua diarreia.
Evitar:
Sumos de fruta empacotados;
Alimentos ricos em fibras
4.3 Probióticos
Alguns probióticos têm-se revelado benéficos para a saúde humana, embora os efeitos
descritos sejam específicos de cada estirpe bacteriana (Diretrizes Mundiais da
Organização Mundial de Gastroenterologia - Probióticos e prebióticos, 2011).
42
Capítulo 5 – Diarreia
Uma revisão realizada por Allen, Okoko, Martinez e colaboradores (2004), composta
por 23 estudos com um total de 1917 participantes (1449 crianças), demonstrou que os
probióticos diminuíram o risco de diarreia em 3 dias e a duração desta para 30,5 horas
(Allen, Okoko, & Martinez, 2004).
Recentemente numa outra revisão de Allen, Martinez, Gregorio e Dans (2010), foi
demonstrado que a toma de probióticos diminuiu a duração da diarreia em cerca de 18,2
horas e que comparativamente com o grupo placebo houve uma diminuição do risco de
diarreia com a duração de 3 ou mais dias (Allen, Martinez, Gregorio, & Dans, 2010).
43
Diarreias
Tabela 5 - Espécie de microrganismo vs. função em relação à situação clínica (adaptada de: Diretrizes
Mundiais da Organização Mundial de Gastroenterologia - Probióticos e prebióticos (2011); Flesch,
Poziomyck, & Damin (2014))
Espécie Situação Clínica
-Prevenção das infeções gastrointestinais
comuns adquiridas na comunidade,
Lactobacillus reuteri ATCC 55730 -Alivia alguns sintomas dos transtornos
intestinais funcionais,
- Cólica infantil,
-Prevenção da diarreia associada a
antibióticos em adultos,
-Prevenção de diarreia por C. difficile em
adultos,
Lactobacillus casei DN-114 001
-Terapia adjuvante para erradicação de H.
pylori,
-Auxilia na digestão e redução da
intolerância à lactose e obstipação,
-Tratamento da diarreia aguda infeciosa
em crianças,
-Prevenção da diarreia associada a
antibióticos em crianças e adultos,
-Prevenção da diarreia nosocomial em
Lactobacillus rhamnosus GG
crianças,
-Terapia adjuvante para erradicação de H.
pylori,
-Alivia alguns sintomas da síndrome do
intestino irritável,
-Prevenção da diarreia associada a
Saccharomyces cerevisiae (boulardii) antibióticos,
-Tratamento da diarreia infeciosa aguda.
44
Capítulo 5 – Diarreia
Quando estamos perante uma diarreia infeciosa não é aconselhado o uso de obstipantes
e antidiarreicos, que ao alterarem o trânsito intestinal, provocam obstipação, impedindo
a eliminação dos agentes infeciosos responsáveis.
45
Diarreias
Obstipantes Posologia
Adultos: 4 mg inicialmente seguido de 2
mg após dejeção, máximo 16 mg/dia
Crianças*: > 5 anos: 2 mg inicialmente,
seguida de 2 mg após dejeção moldada,
Imodium®; Loperamida Generis; até 6 mg/dia; dose de manutenção 2 e 4
Loperamida Mylan; Loperamida mg/dia.
Ratiopharm; Loride® Precauções: administração de doses
excessivas pode levar a obstipação
Lacteol® 2 a 4 cápsulas/dia.
46
Capítulo 5 – Diarreia
Tabela 7 - Recomendações terapêuticas para os agentes patogénicos mais frequentes (adaptada de:
Ponce, 2010)
Agente Patogénico Terapêutica antibiótica
Aeromonas sp Cefixima associada a cefalosporinas de
terceira e quarta geração
Campylobacter sp Eritromicina
Clostridium difficile Metronidazol e vancomicina por via oral,
após paragem da terapêutica antibiótica
envolvida no aparecimento desta
infecção,
Escherichia coli sp Trimetoprim (TMP) e sulfametoxazol
(SMZ). Em caso de complicações
sistémicas está indicado cefalosporinas
de segunda e terceira geração
Shigella sp Trimetoprim (TMP) e sulfametoxazol
(SMZ). Nos casos de resistências usa-se
cefixima, ceftriaxona e cefotaxima
Salmonella sp Trimetoprim (TMP) e sulfametoxazol
(SMZ). Caso seja invasiva usa-se
ceftriaxona e cefotaxima
Yersinia sp Normalmente terapia antibiótica não
indicada. Em casos considerados graves
(eg. Imunocomprometidos) preconiza-se
o uso de trimetoprim (TMP) e
sulfametoxazol (SMZ), cefixima,
ceftriaxona e cefotaxima
Vibrio cólera Doxiciclina como primeira linha e a
eritromicina como segunda linha de
tratamento
47
Diarreias
5. Papel do Farmacêutico
Tanto nos casos de diarreia aguda como crónica, para além das medidas não
farmacológicas a implementar tais como, evitar derivados lácteos e alimentos com alto
teor de gordura, beber quantidades abundantes de água e optar por SRO como
Dioralyte®, Redrate®, Bi-oralSuero®, Oralsuero® e Miltina eletrolit®, são medidas
necessárias e aconselháveis para prevenir desidratação e potenciar a normalidade
intestinal (Caramona et al., 2010).
48
Capítulo 5 – Diarreia
Diarreia
Diarreia Diarreia
(>7 dias, < 15 dias) (> 15 dias)
Diarreia Diarreia
Aguda Crónica
Se diarreia Se diarreia
persistente persistente
49
Diarreias
50
Capítulo 6 – Novas Investigações
Um novo projeto, que tem sido desenvolvido, no sentido de contrariar esta lacuna de
conhecimento e obter informações detalhadas e precisas sobre o microbioma é o
“MyNewGut”
Por este motivo, o “MyNewGut” que teve início em dezembro de 2013, abordará
questões relativas ao papel e impacto do microbioma na saúde humana em quatro áreas
principais: investigar o papel do microbioma do intestino e respetivos componentes
específicos no metabolismo de nutrientes e no equilíbrio energético; compreender a
influência de fatores ambientais no microbioma do intestino, durante a gravidez e o
desenvolvimento do bebé, e o seu impacto no cérebro, no sistema imunitário e na saúde
metabólica; identificar componentes específicos do microbioma do intestino que
preveem ou contribuem para distúrbios metabólicos e alimentares; desenvolver novos
ingredientes alimentares e protótipos de alimentos através da colaboração com a
indústria alimentar da União Europeia, visando o ecossistema intestinal de modo a
reduzir os riscos de distúrbios metabólicos e relacionados com o cérebro. O projeto vai
igualmente estudar as interações entre o microbioma intestinal, o corpo humano e os
fatores de estilo de vida que influenciam o risco de distúrbios relacionados com a
alimentação, como a obesidade e distúrbios comportamentais. Os investigadores deste
projeto afirmam, que os conhecimentos adquiridos poderão ser utilizados para produzir
novos produtos alimentares e ingredientes com potenciais benefícios para a saúde dos
consumidores, levando a uma inovação da industria alimentar.
51
Diarreias
52
Capítulo 7 – Conclusão
CAPÍTULO 7 - Conclusão
Muitas das terapêuticas utilizadas para o tratamento da diarreia não são sujeitas a receita
médica, podendo ser livremente adquiridas na farmácia pelos utentes. Contudo é
imprescindível, que o profissional de saúde que esteja a realizar o atendimento, saiba
esclarecer o utente relativamente às medidas a tomar e consiga prevenir possíveis
interações medicamentosas, efeitos secundários ou mesmo a toma de medicamentos
desnecessários.
O farmacêutico, apesar de ter acesso a muita informação, tem que ser capaz de
distinguir o tipo de diarreia e aconselhar o doente da melhor forma, o que se torna
bastante difícil uma vez que a informação disponível nem sempre se encontra de forma
clara e concisa.
53
Diarreias
54
Bibliografia
Bibliografia
Abdo, A., & Beck, P. (2003). Diagnosis and management of microscopic colitis.
Canadian Family Physicians, 49, 1473–1478.
Allen, S., Martinez, E., Gregorio, G., & Dans, L. (2010). Probiotics for treating acute
infectious diarrhoea ( Review ). The Cochrane Collaboration, (11).
Allen, S., Okoko, B., & Martinez, E. (2004). Probiotics for treating infectious diarrhoea.
Cochrane Database Syst Rev, 2, CD003048.
Beaugerie, L., & Petit, J. (2004). Microbial-gut interactions in health and disease:
antibiotic-associated diarrhoea. Best Practice & Research Clinical
Gastroenterology, 18, 337–352.
Black, R., Cousens, S., Johnson, H., Lawn, J., Rudan, I., Bassani, D., … Cibulskis, R.
(2010). Global, regional, and national causes of child mortality in 2008: a
systematic analysis. Lancet.
Braunwald, E., Kasper, D. L., Fauci, A. S., Jameson, J. L., Longo, D. L., & Hauser, S.
(2002). Harrison - Medicina Interna (15a ed.). The McGraw-Hill Companies.
Caramona, M., Esteves, A. P., Macedo, T., Mendonça, J., Osswald, W., Pinheiro, R.
lina, … Teixeira, A. A. (2010). Prontuário Terapêutico. Infarmed.
55
Diarreias
Flesch, A. G. T., Poziomyck, A. K., & Damin, D. D. C. (2014). O uso terapeutico dos
simbióticos, 27(3), 206–209.
Guerrant, R., Hughes, J., Lima, N., & Crane, J. (1990). Diarrhea in developed and
developing countries: magnitude, special settings, and etiologies. Reviews of
Infectious Diseases, 12, 41–50.
Hogenauer, C., Hammer, H., Krejs, G., & Reisinger, E. (1998). Mechanisms and
management of antibiotic-associated diarrhea. Clinical Infectious Diseases, 27,
702–710.
Juckett, G., & Trivedi, R. (2011). Evaluation of chronic diarrhea. American Acadamy of
Family Physicians, 1119–1126. Retrieved from
http://europepmc.org/abstract/MED/22085666
Kavaliūnas, A., Šurkienė, G., Dubakienė, R., Stukas, R., Žagminas, K., Šaulytė, J., …
Mills, C. (2012). EuroPrevall Survey on Prevalence and Pattern of Self-Reported
Adverse Reactions to Food and Food Allergies Among Primary, 48(5).
56
Bibliografia
Lamberti, L. M., Fischer Walker, C. L., & Black, R. E. (2012). Systematic review of
diarrhea duration and severity in children and adults in low- and middle-income
countries. BMC Public Health, 12(1), 276. doi:10.1186/1471-2458-12-276
Meyer, E., Gastmeier, P., Weizel-Kage, D., & Schwab, F. (2012). Associations between
nosocomial meticillin-resistant Staphylococcus aureus and nosocomial Clostridium
difficile-associated diarrhoea in 89 German hospitals. The Journal of Hospital
Infection, 82(3), 181–6. doi:10.1016/j.jhin.2012.07.022
Muller, L., Korsgaard, H., & Ethelberg, S. (2012). Burden of acute gastrointestinal
illness in Denmark 2009: apopulation-based telephone survey. Epidemiology and
Infection, 140, 290–298. doi:L. MÜLLER, H. KORSGAARD and S.
ETHELBERG (2012). Burden of acute gastrointestinal illness in Denmark 2009: a
population-based telephone survey. Epidemiology and Infection, 140, pp 290-298.
doi:10.1017/S0950268811000471.
National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases. (n.d.). Diarrhea -
National Digestive Diseases Information Clearinghouse. Retrieved September 15,
2014, from http://digestive.niddk.nih.gov/ddiseases/pubs/diarrhea/index.aspx#what
Robles, A. V, & Guarner, F. (2013). Linking the gut microbiota to human health. British
Journal of Nutrition, 109, S21–S26.
Santos, J. M., Cavacas, A., Silva, A. S., Zagalo, C., Evangelista, J. G., Oliveira, P., &
Tavares, V. (2007). Anatomia Geral - Moreno (4a ed.). Egas Moniz Publicações.
57
Diarreias
Seeley, R. R., Stephens, T. D., & Tate, P. (2004). Anatomy & Physiology (6a ed.). The
McGraw-Hill Companies.
Song, H. J., Shim, K.-N., Jung, S.-A., Choi, H. J., Lee, M. A., Ryu, K. H., … Yoo, K.
(2008). Antibiotic-Associated Diarrhea: Candidate Organisms other than
Clostridium Difficile. The Korean Journal of Internal Medicine, 23(1), 9.
doi:10.3904/kjim.2008.23.1.9
Standring, S., Borley, N., Collins, P., Gatzoulis, M., Healy, J., Jonhson, D., … Wigley,
C. (2008). Gray´s Anatomy (40a ed.). Elsevier.
Thomas, P., Forbes, A., Green, J., & Howdle, P. (2003). Guidelines for the investigation
of chronic diarrhoea. Gut. Retrieved from
http://gut.bmj.com/content/52/suppl_5/v1.short
Tremaroli, V., & Bäckhed, F. (2012). Functional interactions between the gut
microbiota and host metabolism. Nature, 489, 242–249.
Walther, B., Karl, J. P., Booth, S. L., & Boyaval, P. (2013). Menaquinones, bacteria,
and the food supply: the relevance of dairy and fermented food products to vitamin
K requirements. Advances in Nutrition (Bethesda, Md.), 4(4), 463–73.
doi:10.3945/an.113.003855
Wiegand, P. N., Nathwani, D., Wilcox, M. H., Stephens, J., Shelbaya, A., & Haider, S.
(2012). Clinical and economic burden of Clostridium difficile infection in Europe:
58
Bibliografia
World Health Organization. The treatment of diarrhoea: a manual for physicians and
other senior health workers. (2005). Retrieved from
http://www.who.int/maternal_child_adolescent/documents/9241593180/en/
Yakob, L., Riley, T. V, Paterson, D. L., & Clements, A. C. (2013). Clostridium difficile
exposure as an insidious source of infection in healthcare settings: an
epidemiological model. BMC Infectious Diseases, 13(1), 376. doi:10.1186/1471-
2334-13-376
59