Universidade Federal Do Rio Grande Do Norte Centro de Tecnologia Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica Dissertação de Mestrado
Universidade Federal Do Rio Grande Do Norte Centro de Tecnologia Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica Dissertação de Mestrado
Universidade Federal Do Rio Grande Do Norte Centro de Tecnologia Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica Dissertação de Mestrado
CENTRO DE TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
NATAL/RN
2009
JEAN CARLOS SILVA ANDRADE
Dissertação submetida à
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
como parte dos requisitos para obtenção
do grau de Mestre em Engenharia Mecânica.
NATAL/RN
2009
JEAN CARLOS SILVA ANDRADE
_____________________________________________________
Dr. Carlos Aberto Paskocimas (UFRN) - Orientador
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________
Dr. Carlos Alberto Paskocimas (UFRN) – Presidente
_____________________________________________________
Dr. Rubens Maribondo do Nascimento (UFRN) – Examinador Interno
_____________________________________________________
Dra. Jaquelígia Brito da Silva (UFRN) – Examinadora Interna
_____________________________________________________
Dr. Eiji Harima (IFRN) – Examinador Externo
Dedico à minha mãe, Josefa
Macena, e ao meu avô, Severino
Macena (in memorian).
AGRADECIMENTOS
A Deus, que me iluminou e acompanhou durante todo este percurso, dando-me forças e
benções para realizar este objetivo.
Aos meus pais, minha irmã e meu irmão pelo incentivo e força em todos os momentos a
que precisei, meu eterno agradecimento.
A Ana Rúbia, pela cumplicidade e companheirismo em todos os momentos.
Ao Professor e orientador Carlos Alberto Paskocimas, pela amizade, apoio, orientações
e aprendizado.
Ao Professor Rubens Maribondo, pela atenção e apoio nos momentos que precisei
durante esta jornada.
A Jaquelígia Brito, por fazer parte da banca examinadora, pela confiança e amizade;
Aos colegas José Ferreira, Eduardo Galvão, Clawsio, Micheline e Elisângela pela
realização de ensaios e testes, que contribuíram diretamente para a elaboração deste trabalho.
Ao CNPq, pelo apoio financeiro, na forma de concessão de bolsa.
Em fim, aos colegas e amigos do Laboratório de Cerâmica e Compósitos, os
“LEMBROTHERS” Daniel Macedo, Pedro Alighiery, Felipe Formiga, José Carlos, Rannier
Mendonça, Ricardo Peixoto, Wagner Gomes, Jota Carlos, Antônio Marcos, Márcio
Thompson, Beatriz Cela, Brena Kelly, Graziele Lopes, Janiara Ferreira, Jaquelígia Brito,
Rosanne de Lima, Laurenia Martins e Adeilza Silva, que de uma forma ou de outra,
contribuíram direta ou indiretamente para a elaboração deste trabalho.
RESUMO
The types of products manufactured calcium silicate blocks are very diversified in its
characteristics. They include accessory bricks, blocks, products in dense material, with or
without reinforcements of hardware, great units in cellular material, and thermal insulating
products. The elements calcium silicate are of great use in the prefabricated construction,
being formed for dense masses and hardened by autoclaving. This work has for objective
develop formulations that make possible the obtaining of calcium silicate blocks with
characteristics that correspond the specifications technical, in the State of the Rio Grande of
the North, in finality of obtaining technical viability for use in the civil construction. The
work studied the availability raw materials from convenient for the production of calcium
silicate blocks, and the effect of variations of the productive process on the developed
products. The studied raw materials were: the quartz sand from the city of São Gonçalo do
Amarante/RN, and two lime, a hydrated lime and a pure lime from the city of Governador
Dix-Sept Rosado/RN. The raw materials collected were submitted a testes to particle size
distribution, fluorescence of X rays, diffraction of X rays. Then were produced 8 formulations
and made body-of-test by uniaxial pressing at 36 MPa, and cured for 7 hours at about 18
kgf/cm2 pressing and temperature of approximately 180 °C. The cure technological properties
evaluated were: lineal shrinkage, apparent density, apparent porosity, water absorption,
modulus of rupture flexural (3 points), resistance compression, phase analysis (XRD) and
micromorphological analysis (SEM). From the results presented the technological properties,
was possible say that utilization of hydrated lime becomes more viable its utilization in mass
limestone silica, for manufacture of calcium silicate blocks.
Key-words: sand. lime. calcium silicate blocks. hydrated calcium silicate. hydrothermal
treatment.
LISTA DE FIGURAS
AA – Absorção de água
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
AG – Análise granulométrica
BSC – Bloco sílico-calcário
CCVA – Central de Calcinação Vale do Apodi
CH – Cal hidratada
CPs – Corpos-de-prova
C-S-H – Silicato de cálcio hidratado
CTGÁS – Centro de Tecnologia do Gás
CV – Cal virgem
D10 – Diâmetro no qual 10% das partículas estão abaixo dele
D50 – Diâmetro no qual 50% das partículas estão abaixo dele
D90 – Diâmetro no qual 90% das partículas estão abaixo dele
DM – Diâmetro médio das partículas
DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral
DRX – Difração de raios X
FRX – Fluorescência de raios X
Kical – Kical Comercial e Industrial de Cal Ltda
MEA – Massa específica aparente
MRF – Módulo de ruptura à flexão
PA – Porosidade aparente
PF – Perda ao Fogo
PT – Propriedades tecnológicas
RLc – Retração linear após a cura
RN – Rio Grande do Norte
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 16
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................... 20
2.1 PRODUTOS SÍLICO-CALCÁRIOS ................................................................................ 21
2.2 ELEMENTOS SÍLICO-CALCÁRIOS .............................................................................. 21
2.2.1 Revestimentos sílico-calcários ...................................................................................... 22
2.2.2 Materiais sílico-calcários celulares .............................................................................. 23
2.2.3 Outros materiais sílico-calcários ................................................................................. 24
2.3 BLOCOS SÍLICO-CALCÁRIOS ..................................................................................... 24
2.3.1 Processo produtivo de fabricação ................................................................................ 26
2.3.2 Matérias-primas ........................................................................................................... 27
2.3.2.1 Areia ............................................................................................................................ 27
2.3.2.1.1 Ocorrências de areia no Estado do Rio Grande do Norte ........................................ 27
2.3.2.1.2 Agregado silicoso ...................................................................................................... 31
2.3.2.1.3 Origem ...................................................................................................................... 31
2.3.2.1.4 Composição química ................................................................................................ 31
2.3.2.1.5 Granulometria ........................................................................................................... 32
2.3.2.2 Cal ............................................................................................................................... 34
2.3.2.2.1 Disponibilidade de carbonatos no Estado do Rio Grande do Norte ........................ 34
2.3.2.2.2 Origem da cal ........................................................................................................... 38
2.3.2.2.3 Qualidade da cal ...................................................................................................... 39
2.3.2.2.4 Quantidade de cal ..................................................................................................... 42
2.3.2.3 Água .............................................................................................................................. 43
2.3.2.4 Pigmentos .................................................................................................................... 44
2.3.3 Processo de manufatura ............................................................................................... 45
2.3.3.1 Preparação da mistura ................................................................................................ 45
2.3.3.2 Moldagem dos blocos .................................................................................................. 49
2.3.3.3 Autoclavagem dos blocos ............................................................................................ 51
2.3.3.3.1 Autoclave .................................................................................................................. 51
2.3.3.3.2 Processo de endurecimento ...................................................................................... 51
2.3.3.3.3 Reação processada durante o tratamento ................................................................ 54
2.3.4 Necessidades gerais para a produção ......................................................................... 55
2.3.5 Características técnicas dos blocos sílico-calcários ................................................... 56
2.3.5.1 Formas e dimensões ..................................................................................................... 56
2.3.5.1.1 Bloco modular de 12,5 cm ........................................................................................ 57
2.3.5.1.2 Bloco modular de 20,0 cm ........................................................................................ 58
2.3.5.2 Tolerância dimensional ............................................................................................... 59
2.3.5.3 Cor e aparência ........................................................................................................... 59
2.3.5.4 Absorção d´água e permeabilidade ............................................................................. 59
2.3.5.5 Retração por secagem ................................................................................................. 60
2.3.5.6 Massa específica aparente ........................................................................................... 61
2.3.5.7 Durabilidade ................................................................................................................ 61
2.3.5.8 Resistência mecânica à compressão............................................................................. 61
3 MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................................. 63
3.1 SELEÇÃO DE MATERIAIS ............................................................................................ 65
3.1.1 Areia ............................................................................................................................... 65
3.1.2 Cal .................................................................................................................................. 65
3.2 MÉTODOS ........................................................................................................................ 66
3.2.1 Caracterização das matérias-primas .......................................................................... 66
3.2.1.1 Análise granulométrica ............................................................................................... 66
3.2.1.2 Análise química por fluorescência de raios X ............................................................. 67
3.2.1.3 Análise de fases por difração de raios X .................................................................... 67
3.3 PREPARAÇÃO DA MASSA SÍLICO-CALCÁRIA ....................................................... 67
3.4 PREPARAÇÃO DOS CORPOS-DE-PROVA .................................................................. 68
3.5 SECAGEM DOS CORPOS-DE-PROVA ........................................................................ 69
3.6 CURA DOS CORPOS-DE-PROVA ................................................................................. 69
3.7 CARACTERIZAÇÃO DOS CORPOS-DE-PROVA CURADOS ................................... 72
3.7.1 Propriedades tecnológicas ............................................................................................ 72
3.7.1.1 Retração linear de cura ............................................................................................... 72
3.7.1.2 Absorção de água ........................................................................................................ 72
3.7.1.3 Porosidade aparente .................................................................................................... 73
3.7.1.4 Massa específica aparente ......................................................................................... 73
3.7.1.5 Resistência mecânica ................................................................................................... 74
3.7.2 Análise de fases por difração de raios X ..................................................................... 75
3.7.3 Análise micromorfológica por microscopia eletrônica de varredura ...................... 75
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 76
4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS MATÉRIAS-PRIMAS ........................................................ 77
4.1.1 Análise granulométrica ................................................................................................ 77
4.1.2 Análise química por fluorescência de raios X ............................................................ 78
4.1.3 Análise de fases por difração de raios X .................................................................... 80
4.2 CARACTERIZAÇÃO DOS CORPOS-DE-PROVA CURADOS ................................... 83
4.2.1 Propriedades tecnológicas ............................................................................................ 84
4.2.1.1 Retração linear de cura ............................................................................................... 84
4.2.1.2 Absorção de água ........................................................................................................ 85
4.2.1.3 Porosidade aparente .................................................................................................... 86
4.2.1.4 Massa específica aparente ......................................................................................... 87
4.2.1.5 Resistência mecânica ................................................................................................... 88
4.2.2 Análise de fases por difração de raios X .................................................................... 90
4.2.3 Análise micromorfológica por microscopia eletrônica de varredura ...................... 92
5 CONCLUSÕES ................................................................................................................. 100
SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .............................................................. 103
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 104
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
Introdução 17
1 INTRODUÇÃO
A reação forma um silicato hidratado de cálcio, que é uma substância sólida e resistente
à água. A confecção dos produtos sílico-calcários se desdobra essencialmente nas seguintes
etapas: (a) obtenção da matéria-prima; (b) preparação da massa; (c) moldagem dos produtos;
(d) endurecimento nas autoclaves; (e) manuseio e transporte (SANTOS, 1985).
sua cor é de um branco puro, podendo ser facilmente coloridos com pigmentos
minerais em todas as cores;
prestam-se à moldagem em qualquer forma ou relevo;
têm os seguintes índices-mecânicos: resistência á ruptura por compressão de 20 a 30
MPa; massa volumétrica de 1900 a 1950 kg/cm2, absorção d´água de no máximo,
16%.
A massa sílico-calcária não possui limites de utilização na confecção dos mais variados
elementos, bastando que se molde no feitio desejado e posteriormente se leve a endurecer em
autoclave, para que se obtenham produtos os mais variados possíveis (SANTOS, 1985).
Além dos já citados, outros produtos são também fabricados:
Definição
Neste trabalho, o termo BSC será empregado, para designar também o tijolo sílico-
calcário, que por conceito, se diferencia do bloco apenas pelo seu dimensionamento. (Figura
2.2).
designação do produto entre nós, pois no Brasil, como a quase totalidade do consumo é de
blocos, há uma generalização em denominar-se tijolos ou blocos por BSC´s
Será adotada a seguinte definição, que incorpora as observações anteriores e se
fundamenta nas definições citadas:
Histórico
O emprego destes materiais vem de longo tempo. Já na antiga Roma eles eram usados
misturando-se uma parte de cal com duas partes de areia ou de detritos, sendo moldados os
elementos que eram expostos ao ar o tempo necessário para endurecer. Na Suíça, vem já de
longa data o emprego de elementos sílico-calcários, compostos de quatro partes de cal magro,
uma parte de cimento e quinze partes de areia. A mistura era moldada em uma prensa e
endurecida ao ar atmosférico.
Na Alemanha era usado um procedimento similar há algum tempo, mas uma produção
em grande escala não era possível baseando-se em tal sistema, porque o alto teor de cal
tornava muito cara a industrialização. A primeira patente mundial que tinha como idéia básica
fazer cura de uma mistura de cal e areia em autoclaves foi de Van Derburgh na Inglaterra em
1866 (BESSEY, 1967). Porém seu processo nunca foi explorado industrialmente (FRANCO,
1988).
Na Alemanha, em 1880, o pesquisador químico Wilheim Michaelis, patenteou um outro
processo, que denominou “Método de Produção de Pedra Artificial de Areia” Seus estudos,
permitiram que se empregasse a quarta parte da cal necessária e possuindo a vantagem de
acelerar o endurecimento ao ar, que durava meses, mediante a ação do vapor a alta pressão,
reduzindo a um tempo de 5 a 12 horas. Com isso se abriu os caminhos para a indústria sílico-
calcária, que podia, então, entrar em concorrência com os elementos de argila. (ROBERT,
1970).
No entanto, a aplicação industrial desse processo só foi ocorrer em 1894 através de
Simon Neffgren na cidade de Neumunster, também na Alemanha (ROBERT, 1970). Em 1898
iniciou-se a produção na Holanda e em 1905 na Inglaterra e daí em diante por toda Europa,
Estados Unidos e Canadá.
Até cerca de 40 anos atrás, a produção de BSC foi voltada somente para fabricação de
tijolos “comuns” de baixa resistência, sem função estrutural. Somente na década de 40,
desenvolveram-se processos que permitiram a fabricação de unidades com resistência à
compressão fantasticamente alta. Assim, o advento na Europa da alvenaria estrutural na
década de 50 coincidiu com a disponibilidade de um elemento que lhe era muito adequado.
Os principais centros produtores dos BSC’s são Alemanha, Holanda, Rússia, Inglaterra
e em menor escala Estados Unidos, México e Canadá (PRENSIL, 1999). Nos últimos 34 anos
a produção tem sido implantada em países das Américas, África e Ásia, com a utilização
quase que na totalidade de tecnologia alemã e inglesa (SANTOS, 1985).
Com certeza pode-se afirmar que a primeira fábrica a produzir em escala industrial o
BSC foi a “Silical – Indústrias Sílico-Cal Nordeste S.A., em Salvador/BA, em 1970. Esta
indústria cessou suas atividades em 1979.
A “Prensil S/A – Produtos de Alta Resistência”, única empresa que atualmente supre o
mercado. Começou a produzir o BSC em 1976 na cidade de Jacareí/SP (SANTOS, 1985). Seu
produto, desde o início foi recomendado para a alvenaria estrutural não armada. Aliás, deve-
se a Prensil, os primeiros estudos para a viabilização da alvenaria estrutural não armada na
construção de edifícios residenciais.
Neste item é importante o conhecimento de todas as suas etapas, juntamente com suas
importâncias e influências dentro do processo, para que se tenha possibilidade de evidenciar
os problemas e as mudanças no produto final antes que ocorram.
Assim, pode-se providenciar os cuidados necessários ou evitar as variações no processo
produtivo.
Os fatores que afetam a qualidade do BSC, na ordem em que eles aparecem no curso da
produção, podem ser sumariamente colocados desta maneira:
(1) matéria-prima:
natureza da areia: origem, composição química e granulometria;
qualidade da cal;
quantidade da cal;
natureza da água.
2.3.2 Matérias-primas
2.3.2.1 Areia
Devido a grande quantidade requerida de areia, suas propriedades têm uma importante
influencia na qualidade dos blocos. A conveniência do uso de uma areia depende da natureza
da superfície dos grãos, da sua composição química, da quantidade de impurezas presentes e
da sua granulometria.
É ressaltado que os depósitos mais significativos estão situados ao longo dos leitos dos
rios Apodi, Carmo, Ceará-Mirim, Maxaranguape, Paraú, Piranhas-Açu, Pium, Potengi, Seridó
e Trairí. Embora quartzosas com 82 - 86% de SiO2, algumas areias (rios Apodi e Trairí)
possuem impurezas reveladas pelas concentrações de 6 a 9% de Al2O3 (presença de minerais
de argila e feldspatos), de 3 a 4% de K2O, 2% de Na2O (presença de feldspatos), além de
aproximadamente 0,6% de Fe2O3 devido os fragmentos de hidróxidos de ferro (NESI &
CARVALHO, 1999).
As areias de lagoas estão distribuídas principalmente na meso-região leste Potiguar -
litoral norte nos municípios de Maxaranguape, Ceará - Mirim e Extremoz. As areias
quartzosas (a maioria com mais de 90% de quartzo e traços de feldspatos, micas, rutilo,
ilmenita, magnetita, limonita e alguma argila e rara matéria orgânica).
Também ocorrem em depósitos superficiais, com importante distribuição horizontal,
como manchas no topo de tabuleiros sobre sedimentos do Grupo Barreiras (Terciário-
Quaternário) na faixa litorânea da meso-região leste Potiguar, ao longo da linha de costa, onde
os depósitos situam-se em áreas de ecossistemas costeiros de difícil exploração. No interior
do estado recobrem os sedimentos da Formação Serra do Martins, nas Serras de Santana
(meso-região Central Potiguar) e Martins/Porta Alegre (meso-região Oeste Potiguar).
Sobrepõem também os sedimentos da Formação Açu (Cretáceo) bordejando, de leste a
oeste, a bacia Potiguar nos municípios de João Câmara para Pedro Avelino, Afonso Bezerra,
Ipanguaçu, Açu, Upanema e Apodi. Por fim, as areias quartzosas capeiam as rochas
metamórficas proterozóicas, principalmente quartzíticas da Formação Equador, na região leste
de Equador, sítio Jacu, na meso-região Central - Potiguar, estendendo-se para Junco do Seridó
no estado da Paraíba.
A lavra de areia, para a construção civil, se dá nas proximidades das regiões urbanas
como a grande Natal, Mossoró e Caicó recuperada dos leitos dos rios Potengi, Ceará-Mirim,
Trairí, Seridó, Apodi e do Carmo, além de pequenas lagoas e de coberturas arenosas. Além
disto, quase todos os municípios, do Estado exploram areia dos rios que cortam ou margeiam
suas cidades, sem qualquer controle efetivo (NESI, et al., 2004).
Há pelo menos 20 empresas lavrando e comercializando areias e cascalhos, e muitas
delas atuam na informalidade, sem caracterização tecnológica destes sedimentos e ausência de
incentivos por parte do poder público. Estes fatos dificultam sobremaneira uma avaliação
segura das reservas, embora os autores acima estimem reservas de areias quartzosas dos
depósitos aluvionares e coberturas arenosas da ordem de 50 milhões e de 6 bilhões de
toneladas respectivamente, considerando uma espessura da ordem de 1,5 m de areias
lavráveis.
A Figura 2.4 demonstra que a produção de areia e cascalho no Estado, no período de
1995 a 2002, partiu de 266 milhões de m3 no ano de 1995, com um primeiro salto em 1997
produzindo 1,5 milhão de m3, atingindo uma produção de um pouco mais de 16 milhões de
m3 em 2001, com uma arrecadação da ordem de 16 milhões de reais, sofrendo ligeiro declínio
em 2002.
Diagnóstico setorial
Tabela 2.2: Segmento de agregados para construção civil, pontos fortes e pontos fracos.
SUBSTÂNCIA PERFIL PROBLEMAS
A exploração destes materiais ocorre em todo o Desconhecimento do total de
Estado para abastecer as cidades e provêm das empreendimentos em operação no
aluviões dos rios próximos. Outras fontes são os Estado. Falta de estudos geológico e
depósitos de lagoas, praias, dunas e outras coberturas tecnológico das jazidas. Informalidade
AREIA E CASCALHO recentes. A atividade empresarial está em grande do setor.
parte legalizada no DNPM e IDEMA. As demais Concorrência predatória na
estão na informalidade. O setor não tem comercialização. Falta de organização
representação em alguma forma de organização. do setor. Ausência de gestão
empresarial.
Fonte: (CARVALHO, NESI, et al., 2005).
2.3.2.1.3 Origem
De jazidas de areia, em outros casos é obtida do leito de rios ou lagos. Pode ainda ser
retirada de dunas ou resultar da moagem de pedras arenosas moles. O tratamento a que deve
ser submetida à areia antes da sua utilização depende, primeiramente, se sua origem e depois
dos detalhes de manufaturas dos produtos e das qualidades finais desejadas.
A areia para a manufatura destes produtos deve ter um alto teor de sílica, porque o
efeito de endurecimento depende da reação química da cal com a superfície livre de sílica
existente.
Não é possível fixar-se rígidos limites de composição para a aceitação da areia, pois ela
depende das circunstâncias locais. A resistência mecânica e ao meio ambiente dos blocos, que
podem ser aceitos, dependem dos métodos de construção e das condições climáticas locais, e
o uso de tratamentos ou processos especiais na manufatura pode ser economicamente adotado,
dependendo da posição de competição em relação aos materiais de construção alternativos.
Como guia para uma escolha preliminar da areia usada para este propósito, é sugerido
por (BESSEY, 1974) que sejam adotados os critérios da Tabela 2.3, a seguir:
Tabela 2.3: Critérios para possível conveniência de areias para a manufatura de blocos sílico-
calcários.
Areias Areias Areias
Provavelmente que Provavelmente
Critérios Convenientes Requerem Testes Inconvenientes
Conteúdo total de Sílica (SiO2) > 90 % 75 a 90 % < 75 %
Conteúdo de Feldspatos < 10 % 10 a 20 % > 20 %
Materiais Expansivo <1% 1a5% >5%
Sais Solúveis < 0,05 % 0,05 a 0,20 % > 0,20 %
Álcalis Total <1% 1a3% >3%
(K2O + Na2O)
Sulfato Solúvel (SO4) < 0,02 % 0,02 a 0,10 % > 0,10 %
Argila e Silte <4% 4 a 10 % > 10 %
(material < 20 μm)
Fonte: (SANTOS, 1985).
A percentagem de argila permitida, 10% conforme Tabela 2.3, é seguida pela condição
de que seja uniformemente distribuída. Assim ela aumenta a maleabilidade da mistura,
facilitando a prensagem dos blocos, aumentando a resistência do bloco cru, a densidade, e
diminuindo a permeabilidade. No entanto, quando a argila ocorre em grandes porções, há o
retardamento da formação do agente cimentante durante a autoclavagem.
2.3.2.1.5 Granulometria
fração grossa depende da granulometria desta fração e da textura requerida para o produto
final.
(3o) Não mais do que 1/3 do agregado total deve ser mais fino do que 0,10 mm. Esse
requerimento é incluído para evitar a necessidade de uma alta proporção de cal na mistura e
para evitar riscos de obter produtos com excessiva variação dimensional por secagem.
(4o) A presença de alguma sílica natural muito fina ou areia finamente moída é essencial
para a obtenção de altas resistências, a qual tende a crescer com a quantidade desta sílica fina.
(5o) A densidade volumétrica dos produtos cresce quando existe uma proporção de
partículas grossas juntamente com a proporção de finas e a cal preenchendo os vazios entre as
partículas. A absorção de água possui relação similar com respeito á graduação.
(6o) A graduação dos agregados deve ser tal que o coeficiente de forma não seja menor
que 1,2. A graduação descontínua do agregado ocasiona um aumento de resistência em
relação á graduação contínua (Figura 2.5). Um acréscimo na abertura do intervalo necessita
uma maior proporção de finos ou com uma proporção constante de fino ocasiona uma perda
de resistência (SANTOS, 1985). Com uma graduação descontínua se consegue também, um
maior empacotamento da mistura quando prensada e por conseqüência uma maior densidade
volumétrica.
2.3.2.2 Cal
A cal utilizada para esse fim deve apresentar características específicas para o uso na
confecção de BSC. No que se refere à cal, dois fatores são ligados às propriedades dos
produtos resultantes: a qualidade da cal e a sua quantidade.
mármores da Formação Jucurutu nos municípios de Almino Afonso, Messias Targino, Caicó,
Jucurutu, Jardim do Seridó, São José do Seridó e São Rafael. O segmento dos carbonatos,
especificamente usados na produção de cal pode ser visualizado em quatro Pólos produtores
localizados na meso-zonas Oeste e Central Potiguar (Figura 2.6).
Tabela 2.4: Conjunto dos dados relativos aos núcleos de produção da cal no Rio Grande do
Norte.
CAPACIDADE
Núcleos Nº DE FORNOS PESSOAL ENVOLVIDO
Núcleos PRODUTIVA (ton/mês)
Produtores
ATIVOS INATIVOS TOTAL DIRETO INDIRETO TOTAL EFETIVA INSTALADA
I* 44 45 36 81 288 266 554 4.308 13.420
II** 31 22 19 41 100 93 193 540 1.860
III** 34 35 17 52 122 31 153 1.928 3.570
IV* 5 4 6 10 24 15 39 176 1.940
Total 114 106 78 184 534 405 939 6.952 20.796
* meso-região Oeste Potiguar
**meso-região Central Potiguar
Fonte: (modificado de CARVALHO et al., 2000).
Diagnóstico setorial
calor
CaCO3 CaO + CO2
calor
MgCO3 MgO + CO2
Caso a percentagem de MgO seja inferior a 20% teremos a cal cálcica, quando este teor
ultrapassa este valor, teremos as cales dolomíticas ou magnesianas.
O produto resultante da calcinação é chamado cal virgem, a qual reage em presença da
água da seguinte maneira:
Caso a água colocada seja a estritamente necessária para completar a reação, teremos a
cal comercialmente chamada de hidratada, que se encontra sob a forma de pó seco (SANTOS,
1985). Há também na composição da cal outras impurezas, tais como sílica (SiO2), óxido de
ferro (Fe2O3), óxido de alumínio (Al2O3), dependendo destas impurezas a natureza cimentante
da cal. A cal é considerada aérea quando a relação (r) entre os componentes argilosos e os
óxidos de cálcio e magnésio é inferior a 0,1. Neste caso, o endurecimento não ocorre sob a
água, somente no ar.
Os fatores que mais afetam o comportamento da cal são: (a) tipo de forno utilizado; (b)
quantidade de sílica e sesquióxidos; (c) teor de carbonatos; (d) tamanho e granulometria das
partículas na calcinação, e (e) atividade ou tamanho do cristalino da fração MgO.
Tipo
A cal utilizada para esse fim pode ser tanto cal virgem como cal hidratada moídas,
tendo-se o cuidado de que sua hidratação em ambos os casos esteja completa antes da entrada
do produto na autoclave (SANTOS, 1985).
Composição química
composição, que seja mais cálcica possível, ou seja, que possua um alto teor de CaO e
baixíssimo teor de MgO (BESSEY, 1974). Esta última substância deve ser evitada pelos
problemas de hidratação.
O óxido de magnésio apresenta graves problemas de hidratação, pois durante a queima
da cal, o carbonato de magnésio (MgCO3), da pedra calcária, é decomposto em MgO e CO2
(gás carbônico) a uma temperatura de aproximadamente 600 ºC, enquanto o carbonato de
cálcio não se decompõe totalmente abaixo de 900 ºC. Por isso, durante a queima da cal o
MgO é sobrequeimado à temperatura de decomposição do carbonato de cálcio. Como
resultante desta sobrequeima, o MgO hidrata lentamente, não completando sua hidratação
antes de um longo período em contato com a água em condições normais.
Cuidados devem ser tomados também com as impurezas existentes na cal, pois embora
apareçam em pequenas percentagens e possam ser consideradas inertes, elas têm, mesmo que
em pequeno grau, uma certa influência sobre o produto final.
Há fabricantes que estabelecem certos limites para as impurezas mais comuns na cal
para seu uso nos produtos BSC (OHNEMULLER, 1967). As principais são as seguintes:
Estabilidade
Reatividade
Granulometria
Plasticidade
Quanto maior o teor de finos da cal, maior é a sua plasticidade. Quanto maior a
plasticidade, mais trabalhável será a mistura, sendo mais facilmente moldada sob a ação da
prensa, necessitando o emprego de pressões menos elevadas (SANTOS, 1985).
2.3.2.3 Água
A água utilizada pode ser proveniente de fontes diversas, como água potável, de rios,
lagos, poços, etc., evitando-se águas com alto teor de sais, que é o caso da água do mar e
salobra. A mistura dos materiais, quando for submetida à moldagem, deve ser úmida o
suficiente para que manifeste coesão ao ser comprimida com a mão. A quantidade de água
varia com a granulometria da areia e com o tipo e a quantidade de cal empregada, mas
geralmente é de 4 a 7% do peso seco da mistura. Esta quantidade não é altamente crítica até
um valor ótimo, mas caso seja excessiva, pode produzir a ruptura dos blocos no interior da
autoclave (SANTOS, 1985).
2.3.2.4 Pigmentos
Nenhum outro material além da cal, da sílica e da água é essencial para a manufatura
dos produtos sílico-calcários. Entretanto, quando estes produtos se destinam para o propósito
de exposição e uma série de cores são desejadas, pigmentos são incorporados na mistura.
Nesses produtos, todos os materiais (cal, agregado e pigmentos) afetam a cor do produto
de diversas maneiras, mas os pigmentos são os que mais contribuem para este fim, sendo o
produto fabricado sem a utilização destas substâncias, de cor esbranquiçada, resultante da
ação da cal, principalmente quando o agregado é areia.
De acordo com (GULDE, 1972), os pigmentos a serem utilizados devem cumprir os
seguintes requisitos:
(1o) pré-moagem do pigmento com a cal, com o agregado silicoso ou com ambos, antes
de introduzir no misturador;
(2o) misturar sem pré-moagem.
A cor obtida será comum a todo o corpo do elemento, o que é importante para que não
haja desfiguramento no caso de quebras (SANTOS, 1985).
sendo, no caso de utilizarmos cal hidratada, omitidas as etapas de hidratação e remistura, mas
utilizando-se um estágio único de mistura mais eficiente.
As etapas individuais devem ser ordenadas de maneira que os seguintes requisitos sejam
cumpridos:
1. Os tamanhos de grão de areia devem estar igualmente distribuídos dentro da mistura.
2. Cal suficiente deve estar aderida cobrindo cada grão individual da areia e preenchendo
alguma cavidade que venha a restar após a prensagem. O cobrimento dos grãos é importante
para o processo de endurecimento e o preenchimento das cavidades para a resistência dos
blocos.
3. Água suficiente deve ser adicionada para a completa hidratação da cal. Água
insuficiente leva à rehidratação dentro da autoclave. Um pequeno excesso de água não é
prejudicial e é recomendada do ponto de vista da segurança, mas uma grande quantidade
excedente retarda o processo de hidratação.
4. Cal e água devem ser uniformemente distribuídas no interior da areia durante a pré-
mistura.
5. Antes da remistura, a cal deve estar completamente hidratada. Se algum traço de cal não
hidratada permanece, então ela hidrata durante a remistura ou em último caso na
autoclavagem, ocasionando o enfraquecimento ou quebra dos blocos.
6. Como o processo de hidratação é dependente do tempo, o material deve ser estocado de
tal maneira que a distribuição uniforme dos grãos, efetuada durante a pré-mistura, não seja
perturbada pela formação de pilhas cônicas.
7. A massa de material hidratado é muito seca para a prensagem, devendo ser umedecida
durante a remistura. Nesta operação deve ser levada em conta a umidade original após a
mistura inicial.
8. A água deve ser igualmente dispensada no material hidratado (JUNG, 1967).
Proporcionamento
Mistura
Hidratação
Antes da entrada na autoclave a mistura deve estar completamente hidratada. Para que
isto ocorra é necessário um determinado período de tempo, conforme as propriedades da cal e
as condições no interior do hidratador no qual a mistura areia-cal vai ser mantida.
Os tipos de processos utilizados para o fim de hidratar a mistura são:
Remistura
Cada estágio da preparação da massa tem suas funções particulares. Se alguma função é
omitida em um dos estágios ela não pode ser compensada pelo estágio subseqüente, isto
também se aplica para a etapa da remistura. Neste estágio, a mistura hidratada seca é
reumedecida para estar pronta para a prensagem.
A quantidade de água a ser adicionada deve ser o máximo possível, pois quanto mais
úmida a mistura, mais fácil é a moldagem, aumentando a resistência dos blocos crus e
diminuindo o desgaste das prensas. Este máximo possível de umidade, no entanto, é limitado
pela própria prensagem, pois com um material com muita umidade é difícil o preenchimento
dos moldes das prensas (JUNG, 1967).
É muito importante para a operação seguinte, de prensagem, que o conteúdo de umidade
seja tão uniforme quanto possível. Isto pode ser conseguido por testes do conteúdo de
umidade e controle automático da alimentação da água.
Esta variação, como pode ser avaliada nestas figuras, no entanto, é importante para
pressões crescendo até aproximadamente 630 kg/cm2 (Figura 2.10). Na prática, a obtenção de
boas resistências por meio de altas pressões de moldagem encarece o produto, pelo elevado
custo e manutenção das máquinas, sendo preferível recorrer-se a outros fatores para melhorar
as qualidades dos blocos.
Um início de exposição ao ar será nocivo à operação de endurecimento. Para este
encaminhamento, é importante a resistência dos blocos crus, para que não ocorram muitas
perdas devido ao manuseio dos elementos ainda não endurecidos.
Os blocos, nestas condições, podem ser afetados por um ou mais dos problemas a
seguir:
avarias nas arestas e cantos;
riscos ou marcas em uma ou mais faces do bloco;
quebra do bloco;
completo colapso.
2.3.3.3.1. Autoclave
Esta fase processa-se no interior de autoclaves, que são cilindros de aço ou concreto
armado, resistentes à pressão, normalmente com 2 a 2,5 metros de diâmetro e 10 a 30 metros
de comprimento, com porta em uma ou duas extremidades. Os sérios riscos envolvidos com
as altas pressões das autoclaves exige todas as precauções de segurança no projeto, na
operação das portas e com a autoclave em geral. Estes cilindros são ligados a geradores de
vapor, os quais lançam, no seu interior, vapor a uma temperatura e pressão pré-estabelecidas.
Um pré-aquecimento pode ser processado pela utilização dos vapores resultantes das
autoclaves que estavam em funcionamento (SANTOS, 1985).
20 horas, sob máxima pressão, com as pressões mais baixas de 8 atm (170 ºC), até 2 horas
com as pressões mais elevadas de 25 atm (223 ºC), sendo adicionados a este tempo, os tempos
de aquecimento, alívio, carga e descarga (BESSEY, 1964).
O balanço dos fatores econômicos, a conveniência no regime de ciclos da autoclave e o
efeito sobre as propriedades dos blocos, têm levado à adoção, pela maioria das fábricas
existentes, de pressões de trabalho de 12 a 15 atm, com um período à máxima pressão de 4 a 8
horas. Em adição há este tempo, 30 a 60 minutos são necessários para elevar a pressão do
vapor dentro da autoclave, e, para a retirada do vapor no fim do processo, carga e descarga
dos blocos, mais 1 hora e 30 minutos a 2 horas são necessárias (BESSEY, 1974). A pressão e
a temperatura do vapor a serem empregadas estão relacionadas diretamente, havendo para
cada temperatura de saturação do vapor, uma pressão correspondente, de acordo com a Tabela
2.7, a seguir (SILVA, 1982).
Também foi observado que não somente a máxima temperatura e pressão durante a
autoclavagem devem ser consideradas como importante, mas também a velocidade com que
elas são elevadas e aliviadas, para que não sejam causadas tensões no material.
O aumento no tempo acarreta um aumento na resistência dos blocos, no entanto, como
pode ser visto na (Figura 2.13), em um estudo feito para dois tipos de areia, observa-se que,
após um certo período, o ganho de resistência não é suficientemente grande para justificar os
gastos de um maior tempo sob as condições da autoclave, ocorrendo, inclusive, um
decréscimo para tempos de permanência exagerada (SANTOS, 1985).
No gráfico da Figura 2.13 pode ser notado também que para pressões mais altas de
cura, ainda, o aumento de resistência obtida é menor do que para pressões de cura menores
(SANTOS, 1985).
A cal é usada como agente cimentante catiônico. O ânion necessário para a formação
dos hidrosilicatos é obtido do agregado somente durante o processo hidrotermal de
endurecimento. Isto ocorre em contraste com o endurecimento do cimento, no qual o cátion e
o ânion são introduzidos dentro do agente cimentante (QUINCKE, 1967).
A ligação aglutinante, nos produtos sílico-calcários, dos grãos do agregado, se forma a
partir do momento em que a mistura de sílica e hidróxido de cálcio é submetida a um
ambiente de vapor saturado a altas pressões e temperaturas. Quando isto acontece, estas duas
substâncias reagem para formar silicato cálcico hidratado (S-C-H ou C-S-H da literatura
inglesa). Na mistura, a relação molar CaO/SiO (C/S) é usualmente próxima a 0,1, mas muitos
dos quartzos não reagem e a relação efetiva é, portanto, muitas vezes maior.
Na literatura há diversos autores que enumeram os estágios da reação entre estas
substâncias, relacionando-os a esta relação molar (TAYLOR, 1967).
Primeiro estágio: Forma-se uma fase rica em cal, com uma relação S/C (I),
reduzindo a relação molar para até 0,8. Este composto não tem uma composição
particular, sendo uma fase semi-cristalina;
Segundo estágio: Reage com mais sílica, dando o composto denominado S-C-H (I),
reduzindo a relação molar para até 0,8. Este composto não tem uma composição
particular, sendo uma fase semi-cristalina;
Terceiro estágio: Mais sílica reage com este último, formando, de acordo com o
valor da pressão na autoclave, diferentes compostos cristalinos de composição
constante. Se a pressão é de 12 a 20 atm, é comum formar-se Gyrolite (S= 3, C= 2,
H= 2), e à pressão de ± 8 atm, é formada Tobermorite (S = 6, C= 5, H= 5), sendo
estes nomes adotados devido a muitos dos silicatos cálcicos hidratados formados
ocorrerem como minerais naturais, sendo usual empregar-se os nomes destes
minerais para os compostos obtidos.
A sílica para a reação e a pressão e/ou o tempo na autoclave devem ser suficiente, senão
os compostos não chegam na totalidade, à condição mais cristalina, resultando dentro da
massa compostos menos resistentes, que diminuem a qualidade dos produtos (SANTOS,
1985).
A reação completa com suas fases pode, então, ser apresentada desta maneira:
Para uma economia material e para a diminuição de peso das unidades, é comum o uso
de perfurações na confecção destas unidades, sendo estas perfurações geralmente
normalizadas em suas quantidades e posicionamento e alterando a nomenclatura dos blocos
(cheios, furados e ocos). Também cavidades para fins de manuseio são encontradas em
elementos de maiores dimensões.
grandes blocos, com cavidades, devido ao peso, geralmente não é empreendida em muitos
locais, pois o desgaste dos moldes nestes elementos é ainda mais elevado (maior superfície de
contato, maiores dimensões, maiores pressões), necessitando uma renovação muito acentuada.
sílico-calcários sendo mais usados em locais onde baixa absorção e impermeabilidade são
essenciais (BESSEY, 1974).
(1) a retração inicial após a fabricação ou a retração por secagem irreversível, que vai
até o ponto de umidade em que se reumidecermos o material até a umidade de
fabricação, ou mais, não se observa qualquer movimento com tendência a retornar a
dimensão original.
(2) a retração que ocorre após esta, conhecida como retração por secagem reversível,
que ocorre continuamente com a secagem ainda mais acentuada do elemento, permite
que, reumidecendo-se o material, ele retorne à dimensão que possuía quando iniciou
esta retração.
2.3.5.7 Durabilidade
Esta propriedade está intimamente ligada à resistência dos produtos. Blocos desse tipo e
de boa qualidade têm alta durabilidade, variando esta de acordo como eles serão usados e das
condições a que vão ser expostos. Eles são resistentes à abrasão, à maior parte das águas
agressivas e a muitos sais sulfatados, mas são atacados por altas concentrações de sulfato de
magnésio ou sulfato de amônia (o qual pode ser derivado de lixo industrial), como são os
produtos de cimento Portland (BESSEY, 1974).
Esta característica é a mais significativa destes produtos, pois ela afeta não somente os
valores estruturais do material, mas também sua durabilidade e comportamento no manuseio.
Embora às altas resistências obtidas, não há interesse em fazer-se um material muito mais
resistente do que o uso justifica, e isso tem sido possível também com as melhoras dos
conhecimentos, causando grande economia na manufatura, por exemplo, pela redução do
conteúdo de cal ou pela diminuição da pressão de moldagem dos blocos, para propósitos que
requerem somente uma resistência moderada. Os BSC´s são divididos em classes, de acordo
com o valor de resistência à compressão, conforme Tabela 2.12 (NBR 14974-1:2003).
fbk = fb – Sn
Onde:
fb é a média aritmética das resistências à compressão da amostra, em megapascals;
Sn é o desvio-padrão da resistência à compressão da amostra (NBR 14974-1:2003).
3 MATERIAIS E MÉTODOS
Secagem (110oC)
Moagem / Peneiramento
Caracterização
(AG, FRX e DRX)
Formulações / Misturas
Umidificação / Homogeneização
Secagem (110oC)
Corpos-de-prova curados
Propriedades Tecnológicas
3.1.1 Areia
A areia utilizada neste trabalho foi extraída por meio de dragagem do leito de um rio,
próximo a 500 metros da estrada da Jacobina, zona rural do município de São Gonçalo do
Amarante/RN, existindo, neste local, empresa de extração de material, tanto no leito do rio
como de jazidas, havendo abundância do mesmo.
Foram coletadas amostras de areia dessa região, pois com o estudo teórico feito, as
mesmas estariam enquadradas nas condições necessárias à obtenção de produtos de melhores
qualidades. Outro fator relevante foi à abundância do material na localidade, e o interesse
direto do empresário, proprietário da área aonde foi extraída areia, em viabilizar a produção e
comercialização de BSC´s.
As amostras foram coletadas e colocadas em saco plástico para transporte até a
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde permaneceu estocada em
temperatura ambiente no Laboratório de Cerâmica (LABCER).
3.1.2 Cal
Para a realização do presente trabalho foi utilizada cal hidratada (Ca(OH)2) e cal virgem
(CaO), provenientes de uma empresa situada no município de Governador Dix-Sept
Rosado/RN, que se destaca por ser grande produtora destes materiais no Estado do Rio
Grande do Norte.
Foram levantadas informações das matérias-primas para saber se atendiam a certos
critérios, e foi verificado com base em critérios estabelecidos de conveniência, que estavam
aptas para serem estudadas.
As amostras foram coletadas e colocadas em saco plástico para transporte até a UFRN,
onde permaneceu estocada em temperatura ambiente no Laboratório de Cerâmica (LABCER).
As amostras de cal hidratada e cal virgem foram identificadas como (CH) e (CV)
respectivamente.
3.2 MÉTODOS
Para analisar as fases das matérias-primas, bem como as fases formadas após o
tratamento hidrotermal dos CP´s, ensaios de DRX foram realizados com amostras secas e
moídas com granulometria inferior a 200 mesh (0.075 mm de abertura) aonde foram
submetidas as seguintes condições de ensaio: tubo de Cu (λ= 1,54056 Å ) como fonte
primária de raios X, tensão de 40 kV, corrente de 30 mA, varredura de 2º a 80º para 2θ,
velocidade de 2º/min e passo de 0,02º. Para a identificação dos picos foi usado o software
JCPDF cadastradas no ICDD (Internacional Centre for Difraction Data). A análise de
difração de raios X (DRX) foi realizada em um difratomêtro XRD-6000 da Shimadzu alocado
no Laboratório de Ensaios de Materiais do Centro de tecnologia do gás (CTGÁS).
As amostras das massas sílico-calcárias foram formuladas, preparadas com teores de 94,
91, 88 e 85 % de areia, sendo adicionadas a cada uma, teores de cal hidratada (Ca(OH)2) de 6,
9, 12 e 15 %. Foram também separadas amostras com teores de 97,94, 91 e 88 % de areia,
sendo adicionadas a cada uma, teores de cal virgem (CaO) de 3, 6, 9 e 12 %. Em seguida
adicionou-se aproximadamente 10% de água às formulações, em da massa. As formulações
foram identificadas de acordo com a Tabela 3.1.
Nesta etapa, para cada formulação foram conformados 6 CP´s, pesando-se 13 g de cada
mistura úmida e utilizando um molde metálico com seção interna de 6 cm x 2 cm sendo
utilizado prensagem uniaxial de 36 MPa e de simples efeito (prensa hidráulica manual,
modelo PHS 15ton - schulz).
Após a obtenção dos CP´s, estes foram pesados (balança digital TECNAL Mark/2200-
0,01g) e medidos (Paquímetro digital STARRETT-0,01 mm) assuas três dimensões,
comprimento, largura e altura e avaliado as variações ocorridas. Esses valores foram
utilizados para determinar a massa específica aparente à verde, a seco e curado dos CP´s. O
valor do comprimento inicial (Li), de forma isolada, foi utilizado para posterior determinação
da retração linear de cura (RLc). Inicialmente a secagem foi realizada naturalmente por no
máximo 24 horas ao ar livre em ambiente de laboratório e posteriormente por mais 24 horas
em estufa elétrica (estufa para esterilização e secagem, modelo TE-397/3 - TECNAL), com
uma temperatura de 110ºC.
200
21
180
18
160
15 2
140
P (Kgf/cm )
Pressão (Kgf/cm )
Temperatura ( C)
2
o
T ( C) 120
12
100
9
80
o
6
60
3 40
0 20
0 2 4 6 8 10 12
Tempo (h)
( Ls Lc )
RLc(%) 100 Eq. 3.1
Lc
Onde:
Ls = comprimento do corpo-de-prova seco a 110ºC (cm)
Lc = comprimento do corpo-de-prova curado (cm)
Os corpos-de-prova foram pesados em balança digital (0,01g) logo após a cura e depois
submersos em água por 24 h. Passando esse tempo foram novamente pesados a fim de
calcular o quanto de água cada corpo-de-prova absorveu, de acordo com a equação 3.2.
( Mu Ms)
AA(%) 100 Eq. 3.2
Ms
Onde:
Mu = Massa do corpo de prova úmido (g)
Ms = Massa do corpo de prova seco (g)
( Mu Mc)
PA(%) 100 Eq. 3.3
( Mu Mi)
Onde:
Mu = Massa do corpo-de-prova saturado (g)
Mc = Massa do corpo-de-prova curado (g)
Mi = Massa do corpo-de-prova imerso em água (g)
A massa especifica aparente (MEA) é definida como a relação entre a massa de uma
amostra e a soma dos volumes ocupados pelas partículas e pelos poros (volume total). A
Equação 3.4 foi utilizada para o cálculo da MEA.
Mc
MEA( g / cm 3 ) Eq. 3.4
Mu Mi
Onde:
O comportamento mecânico dos CP´s analisado pelo ensaio de flexão à três pontos. O
equipamento utilizado foi uma máquina de ensaios mecânicos da marca Zwick/Roell, modelo
BZ 2.5/TS1T, com célula de carga com capacidade de 2,5 KN. O ensaio foi realizado com
uma velocidade de carregamento de 0,5 mm/min e com distância fixa entre os apoios de 5,0
cm. Os resultados, dados em termos de módulo de ruptura à flexão (MRF), foram calculados
pela Equação 3.5.
3 P d
MRF ( Pa) Eq. 3.5
2 a b2
Onde:
P = carga de ruptura (N)
d = distância entre os apoios do suporte (cm)
a = largura do corpo-de-prova (cm)
b = altura do corpo-de-prova (cm)
Fmáx
T ( Pa) Eq. 3.6
So
Onde:
Fmax Força máxima de compressão (N)
Nesta etapa a difração de raios X foi realizada nas formulações curadas sob efeito de
pressão, tempo e temperatura. As amostras curadas foram trituradas manualmente e
classificadas por peneiramento na granulometria inferior a 200 mesh (0.075 mm de abertura),
e secas. Utilizou-se o mesmo equipamento da análise de DRX da caracterização das matérias-
primas.
De acordo com a Tabela 4.1, observa-se que a matéria-prima areia quartzosa é a que
apresenta a distribuição de tamanho de partícula mais grossa em relação à cal hidratada e a cal
virgem, o que pode ser evidenciado pelas percentagens retidas nas diferentes frações
granulométricas estabelecidas. O tamanho médio de partícula/aglomerado de 42,4µm e o
tamanho médio a 50% (D50) de 28,1µm apresentam diferença significativa devido a não
uniformidade da faixa de distribuição de partículas da areia quartzosa.
A distribuição de tamanhos de partículas mais finas observados na Tabela 4.1 na cal
hidratada e na cal virgem, o que pode ser evidenciado pelas percentagens retidas nas
diferentes frações estabelecidas, apresentam semelhanças. Os valores obtidos nas matérias-
primas são inferiores a 1µm na fração de 10% e por seus tamanhos médios de
partícula/aglomerado de 6,1 e 4,5µm e os tamanhos médios a 50% de 6,4 e 4,2µm
apresentarem pequena diferença entre tamanho médio e o D50, atribuída a não ocorrência de
uma distribuição estatística normal das curvas de tamanho de partículas/aglomerado.
A Figura 4.1 apresenta as curvas granulométricas das matérias-primas.
100
80
Valores Cumulativos (%)
60
40
20
Cal Virgem
Cal Hidratada
Areia Quartzosa
0
1 10 100
Diâmetro ( m)
De acordo com a Figura 4.1, observa-se que a faixa de valores encontrada através da
curva granulométrica da areia quartzosa é extensa e variou entre 0,12µm e 228µm. A faixa de
valores encontrada através das curvas granulométricas entre a cal hidratada e a cal virgem não
variam muito, pois seus valores ficaram compreendidos entre 0,22 m e 14,35 m, e entre
0,23 m e 12,75 m, respectivamente.
O comportamento da curva granulométrica da areia quarztosa apresentou uma larga
variação do diâmetro das partículas com frações acumuladas, confirmando que as matérias-
primas cal hidratada e cal virgem, são diferentes em termos de granulometria.
Verifica-se que a areia apresenta teor de sílica (SiO2) de 81,74%, superior aos 75% de
SiO2 em areias, que requerem testes para possível conveniência. O teor de Al2O3 é de
10,36%, estando dentro do critério de conteúdo de feldspatos, que é permitido até a ordem de
20%. O teor de CaO é de 2,23%, estando dentro do critério de conteúdo, que é de 1 a 5% para
materiais expansivos. O teor de álcalis (K2O + Na2O) é da ordem de 2,09%, não apresentando
teor de Na2O, estando dentro do critério para possível conveniência que é da ordem de 1 a
3%. Os demais constituintes são provenientes de impurezas.
Verifica-se na Tabela 4.2 que a cal hidratada e a cal virgem apresentam teor de óxido de
cálcio (CaO) igual a 72,48% e 84,03, respectivamente. Tendo em vista que o teor mínimo de
CaO para uso em BSC´s é de 70%, ambas as matérias-primas são recomendadas para a
realização deste trabalho. Observando o teor de perda ao fogo da cal hidratada, 22,96%, e
comparada ao teor da cal virgem, 10,88%, pode-se dizer que é devido à cal hidratada possuir
maior quantidade de água constituída por ser hidratada (NBR NM 18:2004).
Verifica-se que não há percentual de óxido de magnésio (MgO) na composição química
da cal hidratada e da cal virgem, isso quer dizer que ambas as matérias-primas são do tipo
calcítica. Sem a presença de MgO na composição química de ambas as matérias-primas
resulta dizer que evita-se graves problemas de hidratação, a exemplo de não ser recomendado
para o uso em BSC teor acima de 1,5% de MgO.
Pode-se afirmar que os compostos argilosos (SiO2 e Al2O3) são geralmente existentes na
forma de compostos cálcicos. Os teores de dióxido de carbono (CO2) encontrados na cal
hidratada (3,56%) e cal virgem (3,92%) estão dentro do recomendando, abaixo de 5% (NBR
NM 20:2004).
Nas Figuras 4.2, 4.3 e 4.4 contém os difratogramas das matérias-primas areia quartzosa,
cal hidratada e cal virgem, respectivamente.
O difratograma da areia quartzosa pode ser verificado na Figura 4.2. Nele está
determinada a análise mineralógica do material. Sua análise indica a presença predominante
de sílica na forma de Quartzo (SIO2). Verifica-se a presença de feldspato na fase refletida de
Ortoclásio (KAlSi3O8), como também a presença de impurezas presentes na areia quartzosa
na forma de Caulinita (Al2O3.2SiO2.2H2O) e Mineral Micáceo. O Mineral Micáceo,
possivelmente mica muscovita e biotita, apresenta textura lamelar.
Os difratogramas da cal hidratada e da cal virgem podem ser verificados nas Figuras 4.3
e 4.4. Neles estão determinadas as análises mineralógicas de cada material. Verifica-se picos
de difração das fases cristalinas refletidas referentes à Portlandita (Ca(OH)2) e Calcita
(CaCO3) para a cal hidratada (Figura 4.3).
Para a cal virgem verificou-se picos de difração das fases cristalinas refletidas
referentes à Portlandita (Ca(OH)2) e Cal (CaO) (Figura 4.6).
Nas Figuras 4.6 e 4.7 verifica-se um dos 8 conjuntos de 6 corpos-de-prova que foram
estudados e juntos analisados seus resultados a partir das propriedades tecnológicas.
Figura 4.6: Corpos-de-prova após serem curados com suas respectivas medidas.
As variáveis escolhidas para a análise dos corpos-de-prova com teores de cal hidratada e
cal virgem adicionadas à areia, estão relacionadas com suas propriedades no estado curado
(retração linear de cura, absorção de água, porosidade, massa específica aparente e módulo de
ruptura à flexão).
Na Figura 4.8 verifica-se os resultados obtidos dos testes de retração linear de cura, com
diferentes teores de cal hidratada e cal virgem incorporadas à areia quartzosa, onde foram
submetidos ao mesmo tratamento hidrotermal de cura.
0.25
Cal Hidratada
0.20 Cal Virgem
Retração linear de cura (%)
0.15
0.10
0.05
0.00
-0.05
-0.10
-0.15
3 6 9 12 15
Teor de cal (%)
Figura 4.8: Retração linear de cura (RLc) com diferentes teores de cal hidratada e cal virgem
incorporadas à areia quartzosa.
Os resultados para os CP´s contendo cal hidratada tiveram valores entre 0,02 e 0,06%,
apresentando menor retração de secagem, para o teor de 6% de CH, e maior, para os teores de
12 e 15% de CH. Já os CP´s contendo cal virgem tiveram resultados entre 0,04 e 0,10%,
apresentando menor retração de secagem para os teores de 3 e 6% de CV, e maior, para o teor
de 12% de CV.
A retração de secagem é uma propriedade específica que avalia os BSC´s, e possui
valores compreendidos entre 0,01 a 0,035%. Os CP´s que atendem essa propriedade são os de
índice de 6% de CH, que possuiu média equivalente de 0,02% de retração de secagem. A
tolerância dimensional dos BSC´s na literatura é de ± 2 mm, de acordo com o que especifica a
NBR 14974-1:2003.
Na Figura 4.9 verifica-se os resultados obtidos de absorção de água dos CP´s, com
diferentes teores de cal hidratada e cal virgem incorporadas à areia quartzosa, onde foram
submetidos ao mesmo tratamento hidrotermal de cura.
12.2
Cal Hidratada
12.0 Cal Virgem
11.8
Absorção de água (%)
11.6
11.4
11.2
11.0
10.8
10.6
10.4
10.2
3 6 9 12 15
Teor de cal (%)
Figura 4.9: Absorção de água com diferentes teores de cal hidratada e cal virgem
incorporadas à areia quartzosa.
Os resultados para os CP´s contendo cal hidratada tiveram valores entre 10,96 e
11,21%, apresentando menor absorção de água, para o teor de 15% de CH, e maior, para o
teor de 6% de CH. Já os CP´s contendo cal virgem tiveram resultados entre 11,41 e 11,63%,
apresentando menor absorção de água para o teor de 6% de CV, e maior, para o teor de 3% de
CV.
Todos os resultados obtidos de absorção de água nas 8 formulações estudadas como
pode ser observado na Figura 4.9, estão entre 11 e 18% e atendem o que especifica a NBR
14974-1:2003.
Na Figura 4.10 verifica-se os resultados obtidos de porosidade aparente dos CP´s, com
diferentes teores de cal hidratada e cal virgem incorporadas à areia quartzosa, onde foram
submetidos ao mesmo tratamento hidrotermal de cura.
24.8
24.6 Cal Hidratada
Cal Virgem
24.4
24.2
Porosidade aparente (%)
24.0
23.8
23.6
23.4
23.2
23.0
22.8
22.6
22.4
22.2
22.0
3 6 9 12 15
Teor de Cal (%)
Figura 4.10: Porosidade Aparente com diferentes teores de cal hidratada e cal virgem
incorporadas à areia quartzosa.
Os resultados para os CP´s contendo cal hidratada tiveram valores entre 23,40 e
23,51%, apresentando menor porosidade aparente, para o teor de 12% de CH, e maior, para o
teor de 9% de CH. Já os CP´s contendo cal virgem tiveram resultados entre 23,63 e 23,98%,
apresentando menor porosidade aparente para o teor de 6% de CV, e maior, para o teor de
12% de CV.
Na Figura 4.11 verifica-se os resultados obtidos da massa específica aparente dos CP´s,
com diferentes teores de cal hidratada e cal virgem incorporadas à areia quartzosa, onde foram
submetidos ao mesmo tratamento hidrotermal de cura.
2.00
Cal Hidratada
1.90
1.85
1.80
1.75
3 6 9 12 15
Teor de cal (%)
Figura 4.11: Massa específica aparente com diferentes teores de cal hidratada e cal virgem
incorporadas à areia quartzosa.
Os resultados para os CP´s contendo cal hidratada tiveram valores entre 1,85 e 1,91%,
apresentando menor massa específica aparente, para o teor de 6% de CH, e maior, para o teor
de 15% de CH. Já os CP´s contendo cal virgem tiveram resultados entre 1,81 e 1,86%,
apresentando menor massa específica aparente para o teor de 3% de CV, e maior, para o teor
de 12% CV.
A massa específica aparente é uma propriedade específica que auxilia na avaliação dos
BSC´s, aonde os valores devem atender entre 1,61 a 2,1 g/cm3 (SANTOS, 1985). Todos os
resultados obtidos da massa específica aparente das 8 formulações estudadas como pode ser
visto na Figura 4.11, atendem essa propriedade, pois os valores estão compreendidos nos
valores especificados.
Nas Figuras 4.12 e 4.13 verifica-se os resultados obtidos da resistência mecânica dos
CP´s, com diferentes teores de cal hidratada e cal virgem incorporadas à areia quartzosa, onde
foram submetidos ao mesmo tratamento hidrotermal de cura.
6
Cal Hidratada
Cal Virgem
Módulo de ruptura á flexão (MPa) 5
0
3 6 9 12 15
Teor de cal (%)
Figura 4.12: Módulo de ruptura à flexão com diferentes teores de cal hidratada e cal virgem
incorporadas à areia quartzosa.
Os resultados para os CP´s contendo cal hidratada tiveram valores entre 1,36 e 4,07
MPa, apresentando menor módulo de flexão à ruptura, para o teor de 6% de CH, e maior, para
o teor de 15% de CH. Já os CP´s contendo cal virgem tiveram resultados entre 0,59 e 1,86
MPa, apresentando menor módulo de ruptura à flexão para o teor de 3% de CV, e maior, para
o teor de 12% CV, como mostrado na Figura 4.12.
Os melhores resultados foram obtidos no teor de cal hidratada a 15% incorporada à
areia quartzosa. Os resultados apresentados de resistência mecânica dos CP´s não tiveram
seus resultados tão significativos como esperado em ambas as formulações, devido os CP´s
terem sido submetidos a ensaio mecânico de flexão de 3 pontos.
40 Cal Hidratada
Cal Virgem
Resistência à Compressão (MPa) 35
30
25
20
15
10
0
3 6 9 12 15
Teor de cal (%)
Figura 4.13: Resistência à compressão com diferentes teores de cal hidratada e cal virgem
incorporadas à areia quartzosa.
Os resultados para os CP´s contendo cal hidratada tiveram valores entre 20,27 e 34,87
MPa, apresentando menor resistência à compressão, para o teor de 6% de CH, e maior, para o
teor de 15% de CH. Já os CP´s contendo cal virgem tiveram resultados entre 7,38 e 22,24
MPa, apresentando menor resistência à compressão para o teor de 3% de CV, e maior, para o
teor de 12% CV, como mostrado na Figura 4.13.
Os resultados obtidos com teor de cal virgem estão de acordo com o valor de resistência
à compressão da classe A (4,5 MPa) até a classe H (20,0 MPa). Os resultados obtidos com
teor de cal hidratada estão de acordo com o valor de resistência à compressão de todas as
classes, da A até a classe J (35 MPa ) de blocos sílico-calcários (NBR 14974-1:2003).
O difratograma do material contendo cal virgem pode ser verificado na Figura 4.15. As
fases identificadas foram o Quartzo (SiO2), a Calcita (CaCO3), o Ortoclásio (KAlSi3O8) e a
transformação da fase Silicato de Cálcio (Ca3(Si3O9)), desejada por aumentar os valores das
propriedades mecânicas do material. Não foi formada a fase C-S-H (silicato de cálcio
hidratado).
Na Figura 4.16 verifica-se micrografias com aumento de 40x utilizadas para a análise
das amostras contendo 15% de CH e 12% de CV à areia quartzosa.
Figura 4.16: Micrografias obtidas por MEV das amostras contendo 15% de CH (A) e 12% de
CV (B) à areia quartzosa, curadas aproximadamente a 180 oC, com 40x de ampliação.
Figura 4.17: Micrografias obtidas por MEV da amostra contendo 15% de CH-I, curadas a ±
180 oC, com 2400x (A), 4000x (B), 4500x (C) e 10000x (D) de ampliação.
(D) é uma aproximação da Figura 4.17 (C), que mostra visivelmente os poros, e eles estão
sendo ocupados pela formação da fase pontlandita, característicos de C-S-H.
Na Figura 4.18 é verificado micrografias com aumento de 2400x, 4000x, 4500x e
10000x utilizada para a análise da amostra contendo 15% de CH-II.
Figura 4.18: Micrografias obtidas por MEV da amostra contendo 15% de CH-II, curadas a ±
180 oC, com 2400x (A), 4000x (B), 4500 x(C) e 10000x (D) de ampliação.
A Figura 4.18 (D) é uma micrografia que mostra visivelmente a superfície de uma partícula
de quartzo.
Na Figura 4.19 é verificado micrografias com aumento de 1500x, 3000x, 4500x e
6000x utilizada para a análise da amostra contendo 12% de CV.
Figura 4.19: Micrografias obtidas por MEV da amostra contendo 12% de CV-I, curadas a ±
180 oC, com 1500x (A), 3000x (B), 4500x (C) e 6000x (D) de ampliação.
5 CONCLUSÕES
Por meio dos métodos DRX e MEV foi estabelecido que, em conseqüência da
hidratação das composições iniciais ocorreram a transformação da cal (CaO) e da
portlandita Ca(OH)2, em forma de carbonato, sendo a calcita (CaCO3),
- Estudar outros tipos de areia, sendo aconselhável com percentual acima de 90% de
SiO2;
- Estudar o uso prático dos blocos em tamanhos normais que possam atender a NBR
14974-1:2003;
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