Casos de Comercial 2º Semestre

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CASOS PRÁTICOS DE DIREITO COMERCIAL

CASO PRÁTICO 1
Pergunta 1 - Qual a responsabilidade de A e B pelas obrigações sociais de cada uma das sociedade?

• A aquisição de personalidade jurídica depende do registo (art. 5º CSC) - a personificação das sociedades
comerciais permite-lhes adquirirem direitos e deveres próprios, logo, tornam-se centros autónomos de
imputação de atos materiais e jurídicos.

• Seis caracterísitcas relativas à personificação: a sociedade tem direitos e deveres próprios, tem
uma autonomia de imputação de atos materiais e jurídicos, pelas dividas da sociedade responde
o património da sociedade, os credores dos sócios não se confundem com os credores da
sociedade, os sócios não podem dispor de bens da sociedade (não pode haver confusão das
esferas), os credores sociais preferem sobre os bens sociais ao contrário dos credores dos sócios;

• No caso da Sociedade Solar do Arneiro, Lda., presume-se que as partes quiseram adotar a forma legal
de uma sociedade por quotas, tendo em conta a denominação adotada (artigo 200º/1 do CSC);

• Sociedade de capitais (indole mais pessoal);

• Este tipo soocietário, por quotas, encontra-se regulada nos artigos 197º e ss. Do Código das
Sociedades Comerciais;

• O capital desta sociedades está dividido por quotas (artigos 197º/1);

• No que respeita às obrigações sociais, nos termos do artigo 197º/3, confirma-se que só o
património social responde por estas; nos termos do nº1, os sócios são solidariamente
responsáveis pelas obrigações de entrada convencionadas;

• Na eventualidade: as partes podem ter, em contrato, derrogado a regra constante do artigo 197º/1
e 3, estipulando que, para além do sócio responder nos termos do nº1, responde até certo
montante pelas obrigações sociais, seja em regime de subsidiariedade, seja em regime de
solidariedade.

• No caso da Sociedade VitArneiro - Exploração Vinícola, SA., presume-se que as partes quiseram adotar
a forma legal de uma sociedade anónima, tendo em conta a denominação adotada (artigo 275º/1 CSC);

• Sociedade de capital;

• Este tipo societário encontra-se regulado nos artigos 271º e ss. Do Código das Sociedades
Comerciais;

• O capital social está dividido por ações (artigo 271º);

• A responsabilidade de cada sócio está limitada ao valor das ações que subscreveu, conforme
decorre do artigo 271º;

• Numero mínimo de partes: 5 partes;

• Vício insanável: declaração de nulidade;

• No caso da Arneiro e Arneiro, SNC, das duas uma:


• (1) ou estamos perante uma sociedade em nome coletivo, não tendo as partes respeitado a
denominação exigida por lei (art. 177º do CSC) ou podendo optar por uma denominação (SNC);

• Sociedade de pessoas;

• Nos termos do artigo 175º/1, não há responsabilidade limitada: cada sócio é responsável
para com a sociedade pela prestação da sua entrada e responde solidariamente com os
restantes sócios e ilimitadamente perante os credores da sociedades, pelas dívidas desta
(artigo 175º).

• Esta responsabilidade é, no entanto, subsidiária (só tem lugar quando o património social
não é suficiente para fazer face às dívidas da sociedade).

• (2) ou estamos perante uma violação do princípio da tipicidade (artigo 1º/1 e 2 do CSC), não
havendo indicação da adoção de um tipo legal de sociedade;

• Estamos, assim, perante uma sociedade civil (arts. 980º e ss. do CC);

Pergunta 2 - Capacidade de Gozo de de Exercício - A sociedade Arneiro e Arneiro, SNC presta


habitualmente serviços de consultadoria agronómica, de acordo com o seu objeto social. Os seus
sócios, porém, deliberam adquirir um lote de construção no Algarve onde pensam edificar um alde-
amento turístico para revenda. Quid juris?

1º distinguir capacidade de exercício de capacidade de gozo

• A aquisição de personalidade jurídica depende do registo (art. 5º CSC) - a personificação das


sociedades comerciais permite-lhes adquirirem direitos e deveres próprios, logo, tornam-se
centros autónomos de imputação de atos materiais e jurídicos.

• As pessoas coletivas têm personalidade jurídica e, por inerência, têm capacidade jurídica: esta
corresponde à concreta medida de direitos e de obrigações de que sejam suscetíveis de ser
titulares.

• Têm capacidade de gozo.

• Capacidade de exercício: mecanismos próprios que explicam os direitos e vinculações em que


esse exercício se pode processar.

2º explicitar o princípio da especialidade

• A capacidade das pessoas coletivas, contrariamente ao que acontece com as pessoas singulares,
é limitada pelo princípio da especialidade: assim, apenas abrangeria os direitos e obrigações
necessários ou convenientes à prossecução dos seus fins, segundo a fórmula do artigo 6º/1
(como correspondente do art. 160º do CC);

• Este princípio tem uma origem história específica, que remonta a dois aspetos basilares:
os bens de mão morta, detidos pelo clero, como primeiro fenómeno de titularidade de por
entidades públicas, fugiam ao comércio e aos impostos, razão pela qual foi necessária
uma atuação régia no sentido da sua reaproximação; ainda, a doutrina ultra vires, tendo
por base a circunstância de a personalidade coletiva ser criada por outorga do
Parlamento, que, por sua vez, lhe reconhecia os poderes necessários à prossecução dos
seus objetivos - sempre que a atuação ultrapassasse esses poderes, eram ultra vires.
• Estes dois pilares foram ultrapassados, especialmente tendo em conta que a
personalidade coletiva é adquirida automaticamente, por mera verificação de requisitos.

• Esta contextualização conduz a uma tendência de abandono do princípio da


especialidade, bastando que o ato praticado se reporta a um objeto final de obtenção de
lucros, que, nas palavras de Menezes Cordeiro permite legitimar tudo e mais alguma
coisa. Há autores que discordam.

• Pereira da Almeida: o lucro tem de limitar, configurando-se uma concretização do


principio da especialidade. Reconhece, no entanto, que é casuístico.

• Coutinho Abreu: se o intuito é obter lucros, os atos gratuitos são atos através dos quais
se atribuiu uma prestação sem contrapartida; mais à frente reconhece que há atos
gratuitos que se inserem na capacidade da sociedade.

• Escola de Lisboa: podem fazer o que não seja limitado por: lei, estatutos, bons
costumes/natureza das coisas e deliberações sociais;

• Atendendo à letra da lei, a capacidade das sociedades está dependente do seu fim social (art.
6º);

• Deve atender-se às limitações operadas pela 2ª parte do preceito: não se aplicam, não
obstante, ato em concreto;

• Relativamente à utilidade e necessidade em relação ao fim, cabe analisar se este ato em


concreto preenche este requisito:

• Se o fim da sociedade é a repartição dos lucros, significa que o que se pretende é a obtenção de
lucros para os sócios. Este ato, assim, preenche os requisitos, estando dentro da capacidade da
sociedade.

• O objeto social, porquanto, tendo em conta o artigo 6º/4, não condiciona a capacidade da
sociedade, o que significa que, eventualmente, o critério que poderia ser limitador desta
capacidade, na verdade, não o é. Esta irrelevância do objeto traduz, efetivamente, a perda de
importância do princípio da especialidade.

• Objeto social: art. 11º/4;

• Problema: os sócios não podem dispor livremente sobre os bens da sociedade, uma vez que o
património da sociedade é uma esfera jurídica autónoma (princípio da separação);

• A administração da sociedade, bem como a representação, compete aos gerentes (art.


192º do CSC);

• As decisões são tomadas em assembleia geral, não tomadas pelos sócios livremente,
sem que se verifique a convocação destas reuniões (art. 373º por via do artigo 189º do
CSC);

• Solução: problema da anulabilidade (art. 58º/1/a) CSC);

Pergunta 3 - O negócio do vinho alvarinho está a correr bastante bem aos irmãos Arneiro, que sonham
agora em lançarem-se na exportação. Para o efeito, a VitArneiro, SA. necessita de contrair um
financiamento bancário, o que exige a constituição de uma hipoteca. Todo o património imobiliário
(incluindo os hectares de vinha) é propriedade da Solar Arneiro, Lda.. Para além disso, António
necessita de um financiamento pessoal que exige igualmente a constituição de uma garantia real. Em
Assembleia Geral, a sociedade Solar Arneiro, Lda. deliberou, nos termos do art. 246.o/2 c), constituir
as hipotecas voluntárias necessárias à garantia do cumprimento das obrigações a assumir pela
VitArneiro, SA. e por António. O notário, porém, recusa-se a lavrar a escritura porque entende que se
violou o disposto no art. 6º do CSC. Quid juris?

• Doação: as doações não são verdadeiramente desinteressadas, por forma a que o consumidor final
seja compelido a ganhar confiança nas sociedades; construção de reputação; só caso a caso se
consegue perceber se está dentro do fim mediato;
• A VitArneiro S.A necessidade de contrair um empréstimo e, em consequência, constituir uma hipoteca
como garantia desses empréstimo;
• António tem necessidade de contrair um empréstimo e, em consequência, constituir uma hipoteca
como garantia desses empréstimo;
• A hipoteca, em princípio, será constituída sobre um bem que pertence ao património da Solar Arneiro,
Lda.;
• 1º Questão: que órgão, da sociedade, tem competência para deliberar a constituição de uma garantia
real, sobre o seu património, a favor de um terceiro?
o Corresponde com o enunciado no art. 246º/2/c), tendo em conta o disposto no artigo 373º/1
(os sócios deliberam em assembleia geral).
• 2ª questão: pode, a sociedade, constituir garantias reais a favor de um terceiro?
o O artigo 6º/3 dispõe que se considera contrário ao fim da sociedade a prestação de garantias
reais (é o caso da hipoteca) - de modo a estar dentro da capacidade, teria de respeitar estes
requisitos;
o Com duas exceções, em consonância com o disposto no próprio nº1, já que nestes casos se
afigura como necessária ou útil ao fim: (i) interesse próprio da sociedade garante; (ii) ou se se
tratar de sociedade em relação de domínio ou de grupo;
• O segundo requisito não se encontra preenchido: pelo menos, não há dados no caso que permitam
concluir pelo seu preenchimento.
• No caso do primeiro requisito, estamos a falar de situações em que a constituição de uma garantia
se mostre objetivamente apta a satisfazer o desejo de todo o sócio enquanto tal de obter lucros
através dessa mesma sociedade.
• Problema: a sociedade é que define o justificado interesse próprio para a admissão; as exceções são
de tal ordem que consomem a regra (MC);
• Jurisprudência: o interesse pode ser indireto - um estabelecimento comercial que garanta dividas por
força de uma política de boas relações cumpre este critério de justificado interesse próprio;
• No caso da constituição de garantia a favor da sociedade VitArneiro, pelo simples motivo de ser
constituída pelos mesmos sócios, não é razão suficiente para sustentar o preenchimento destes
requisitos.
• Cenário alternativo: poderia admitir-se interesse próprio se, eventualmente, e tendo em conta que o
Solar do Arneiro Lda. é proprietário dos hectares de vinha, existisse um contrato de arrendamento do
espaço e, para honrar e garantir o cumprimento das prestações fosse necessária a constituição de
um empréstimo.
• No caso da constituição de garantia a favor do sócio, não se configura que exista uma interesse
próprio da sociedade, para efeitos de preenchimento do requisito constante do art. 6º/3;
• Cenário alternativo: a empresa está numa situação em que não é aconselhável contrair mais divida,
mas o sócio se predispõe a contrair, ele próprio, essa divida e a injetar os ativos na empresa, pode
configurar-se uma situação admissível de constituição da hipoteca;
• Não há relações de domínio ou de grupo: há um grupo de facto - Prof. A. Antunes; Ana Perestrelo de
Oliveira sobre os grupos de sociedade;
• Apesar de não ser um grupo jurídico, parece existir um grupo de fcto: mesma estrutura acionista,
mesma organização, mesmos sócios.
• O Prof. MC alarga o art. 6º/3 aos grupos de facto.
• Consequências: a deliberação será nula. MC pelo art. 56º/1/c) CSC. Restante doutrina vai pelo art.
56º/1/d).
• Quem é que deve provar o interesse próprio da sociedade: MC e acórdãos do STJ, quem invoca a
nulidade tem o ónus de provar a falta de interesse próprio; Coutinho de Abreu e Osório de Castro,
quem pretende manter a garantia é que tem de provar o interesse da sociedade (inversão do ónus da
prova);
• Prestar garantias independentemente da posição no grupo: PA entende que sim; Osório de Castro
entende que apenas possa a sociedade mãe/sociedade dominante ou sociedade diretora.
• Se se entender que a constituição das garantias viola o disposto no art. 6º CSC: então, o notário tem
razão e a constituição da garantia configura-se como nula, por violação de preceito imperativo.

Pergunta 4 - Uma conhecida publicação da área do turismo e lazer fez uma reportagem sobre o Solar
do Arneiro. A reportagem em causa era bastante desfavorável ao empreendimento e divulgava dados
incorretos, alguns deles completamente falsos... A sociedade Solar Arneiro, Lda. moveu uma ação
contra a referida publicação, pedindo a condenação da mesma no pagamento de indemnização por
violação do direito ao bom nome e à imagem, a fixar nos termos do artigo 496º/3 do CC. A e B, moveram
igualmente uma ação contra a publicação, pedindo uma indemnização por violação dos seus direitos
de personalidade. Quid juris?

® Podem distinguir-se três teses distintas relativas à atribuição de direitos de personalidade:


o Os autores que pura e simplesmente recusam um direito geral de personalidade das pessoas
coletivas;
o Os autores que reconhecem às pessoas coletivas um direito geral de personalidade, mas
muito limitado pelas suas funções estatutário-legais e de bem menor extensão do que o das
pessoas físicas;
o A doutrina do realismo jurídico que defende que as pessoas coletivas tem uma «verdadeira
personalidade», análoga à das pessoas naturais e equipada com individualidade, valor
próprio, dignidade e um direito a uma tutela geral da sua personalidade.

Teses intermédia

® Professor António Menezes Cordeiro, Capelo de Sousa, Mota Pinto: Têm direitos de personalidade.
Estes derivam do facto da lei criar uma personalização (a pessoa coletiva), como tal devem ser-lhe
reconhecidos todos os direitos de que dispõem e que são coerentes com a sua natureza. O professor
acrescenta que a atribuição dos direitos de personalidade a pessoas coletivas deve verificada caso a
caso, tendo em conta aspetos inerentes à prossecução dos seus fins.
® Artigo 484º e 6º/1: direito ao bom nome e à honra. O direito à imagem apenas relativamente a uma
pessoa singular.

Teses contra:

® Professor Oliveira Ascensão e Prof. P. Pais de Vasconcelos: Não têm direitos de personalidade –
seriam, no máximo titulares de direitos pessoais. O professor reconhece que a lei é muito clara:
reconhece a proteção a indivíduos, dos quais se excluem as pessoas coletivas. De facto, direitos de
personalidade (per si considerados) não são inseparáveis da pessoa singular e, por isso, não podem
pertencer à pessoa coletiva. A extensão dos direitos de personalidade às pessoas coletivas teria como
consequência o esvaziamento do fundamento ontológico da figura.
® Contudo, cabe salientar que a pessoa coletiva dispõe de direito ao nome e à reputação, devido à sua
natureza, mas estes não podem ser tidos no aglomerado dos direitos de personalidade. Esta
aplicação, no entanto, só pode radicar num raciocínio analógico e nunca numa aplicação direta.

Teses intermédias:

® Admissão dos direitos de personalidade na medida em que a sua violação acarrete danos de natureza
patrimonial.
® Filipe Albuquerque Matos pronunciou-se pelo reconhecimento apenas de danos patrimoniais indiretos
em pessoas coletivas, decorrentes da violação do crédito ou do bem nome destas. Segundo este A.
“[a]penas são ressarcíveis os danos comummente designados «danos patrimoniais indiretos»,
ou seja, os prejuízos patrimoniais decorrentes da violação de bens ou valores, em si mesmos, não
patrimoniais, entre os quais cumpre destacar o bom nome e o crédito.”. Prejuízos como desgostos,
vexames, entre outros serão, na sua opinião, “prejuízos absolutamente inseparáveis da personalidade
singular”

Aceitando a titularidade de direitos de personalidade, parece que as pessoas coletivas podem “lançar
mão” das providências adequadas para prevenir ou atenuar uma ofensa ilícita a um direito de personalidade,
conforme estipulado nos termos do art. 70º/2 CC e dos arts. 1474º e 1475º CPC.

No que respeita à tutela dos direitos dos sócios, apenas seria admissível, em termos abstratos, se se
registassem danos em ambas as esferas jurídicas. Admitir que a pessoa coletiva é titular de direitos de
personalidade implica entender que são entendes distintos das pessoas singulares que a integram, razão pela
qual uma ofensa dirigida a uma pessoa coletiva é feita a essa pessoa e não, em princípio, aos sócios.

Caso contrário, estar-se-ia a verificar uma situação dupla responsabilização pelo mesmo dano; e, ainda, a
circunstância de um ente requerer uma indemnização pela violação de um direito de que não é
verdadeiramente titular.

Pergunta 5) Os credores da Solar Arneiro, Lda. estão com enormes dificuldades em obter a satisfação
dos seus créditos. António e Bento refugiam-se na autonomia patrimonial da sociedade para não pagar.
Poderão os credores da sociedade ter esperança em que o vasto património dos sócios seja chamado
a satisfazer as dívidas sociais?

® A sociedade em causa é uma sociedade por quotas, logo de responsabilidade limitada;


o No que respeita às obrigações sociais, nos termos do artigo 197º/3, confirma-se que só o
património social responde por estas; nos termos do nº1, os sócios são solidariamente
responsáveis pelas obrigações de entrada convencionadas;
o Na eventualidade: as partes podem ter, em contrato, derrogado a regra constante do artigo
197º/1 e 3, estipulando que, para além do sócio responder nos termos do nº1, responde até
certo montante pelas obrigações sociais, seja em regime de subsidiariedade, seja em regime
de solidariedade.
o Autonomia patrimonial não os exonera, por completo, de responsabilidade: essa
responsabilidade existe, não obstante ser limitada; está limitada, neste caso, ao valor da
quota;
® A única esperança dos credores sociais: considerar-se que existia fundamento para o levantamento
da personalidade jurídica/coletiva;
o Este levantamento/desconsideração é definido pelo prof. Coutinho Abreu como a derrogação
ou não observância da autonomia jurídico subjetiva e patrimonial das sociais em face dos
respetivos sócios. Justamente porque é a autonomia patrimonial que justifica a atribuição
de personalidade jurídica, parece que em caso de desconsideração é esta que deve ser
afastada.
® ML: entende não dever se regra a desconsideração da personalidade com base em operadores
jurídicos externos, preferindo, porquanto, a aplicação dos requisitos que a própria lei prevê -
nomeadamente artigo 84º CSC (responsabilidade do sócio único); proibição de concorrência - art.
180º/4; artigo 270º-F/4 (contratos entre o sócio e a sociedade unipessoal - se violada);
® A lei prevê, deste modo, situações/casos em que a regra da responsabilidade limitada, de que
beneficiam certos sócios (nomeadamente, os sócios da sociedade por quotas), é quebrada.
® Nos casos em que a regra é quebrada, legalmente tipificados, a consequência é a perda da vantagem
de responsabilidade limitada, ou seja, o sócio passa a responder ilimitadamente pelas obrigações da
sociedade.
® Menezes Leitão: alternativamente, pode configurar-se a hipótese de a personalidade ser
desconsiderada em virtude de abuso de direito - que entende ser o único institutivo alternativo (norma
genérica) capaz de responder às exigências de uma falta de solução legal.
o Compreende uma aplicação excecional, ou seja, em situações que seja gritante a
necessidade de levantamento da personalidade coletiva, por força de abuso de direito pelos
sócios – abuso de direito, neste caso, só de admitir no exercício do direito à responsabilidade
limitada.
® Menezes Cordeiro: (i) confusão de esferas patrimoniais; (ii) subcapitalização – manifesta
inadequação do património àquela sociedade; (iii) atentado a terceiros, quando se pretende prejudicar
de forma ilícita terceiros; (iv) relações de domínio;
o Requisito adicional: contrariedade às normas e aos princípios gerais;
® Desconsideração da personalidade coletiva: as situações jurídicas dessa sociedade são tratadas
como sendo tituladas por um ente autónomo;
® Acórdão: STJ – 5/02/2009
CASO PRÁTICO 2
Armando e Belchior dedicam-se à produção e comercialização de produtos biológicos. Necessitando
de melhorar a respetiva distribuição, constituem a Frutas, Lda. para fazer escoar as frutas produzidas.
Em janeiro de 2010, Belchior faz uma doação anónima a uma ONG ambiental e a Frutas, Lda. constitui
uma hipoteca sobre a sua sede para garantir uma dívida de Armando decorrente da compra de uma
moderna máquina agrícola para a sua exploração. Tomando conhecimento destes eventos, os credores
desta sociedade vêm pedir a declaração judicial da nulidade da garantia e da doação. Por sua vez, os
credores da Frutas, Lda., entretanto declarada insolvente, pretendem responsabilizar Armando e
Belchior pelas respetivas dívidas, não só na qualidade de sócios da Frutas, Lda., mas também enquanto
gerentes desta. Quid juris?

® Frutas, Lda: sociedade por quotas, cujo regime se encontra previsto nos arts. 197º e ss. do CSC;

o Sociedade de capitais (índole mais pessoal);

o Este tipo societário, por quotas, encontra-se regulada nos artigos 197º e ss. Do
Código das Sociedades Comerciais;

o O capital desta sociedade está dividido por quotas (artigos 197º/1);

o No que respeita às obrigações sociais, nos termos do artigo 197º/3, confirma-se que só o
património social responde por estas; nos termos do nº1, os sócios são solidariamente
responsáveis pelas obrigações de entrada convencionadas;
o Na eventualidade: as partes podem ter, em contrato, derrogado a regra constante do artigo
197º/1 e 3, estipulando que, para além do sócio responder nos termos do nº1, responde até
certo montante pelas obrigações sociais, seja em regime de subsidiariedade, seja em regime
de solidariedade.
® Doação anónima a uma ONG ambiental: ato de um sócio

o A realização de uma doação constituiu um ato gratuito, pelo que, em termos gerais, situam-
se fora do objeto social e fora da capacidade;

o O objeto social (fim imediato) encontra-se previsto no art. 11º do CSC: neste caso, parece
poder entender-se que o fim imediato da sociedade Frutas, Lda. (sociedade por quotas – arts.
197º e ss. do CSC) tem como objeto social o escoamento das frutas produzidas pelos
sócios.

o A capacidade, por sua vez, representa o fim mediato: o fim mediato da sociedade é a
obtenção de lucro.

o Resulta, do disposto no art. 6º/4, que a sociedade não está limitada pelo seu objeto social:
no que concerne às doações, nos termos do art. 6º/3, estas admitem-se desde que se
considerem ainda caberem dentro do fim mediato (dentro do interesse lucrativo da
sociedade).

o Neste caso em concreto não parece ser possível concluir pelo interesse lucrativo da
sociedade, uma vez que a doação é anónima, o que significa que está, inevitavelmente, fora
do objeto social e fora da capacidade.
o Fala em sócio – logo, estamos perante uma deliberação: a deliberação será nula. MC pelo
art. 56º/1/c) CSC. Restante doutrina vai pelo art. 56º/1/d).

o Ato da sociedade: 280º ou 294º;

® Constituição de uma hipoteca sobre a sede: garantia de uma dívida de Armando, de compra de
uma moderna máquina agrícola para a sua exploração;

o A constituição de uma hipoteca representa a constituição de uma garantia real, o que


significa, desde logo, situar-se fora do objeto social (art. 11º) – este corresponde, como foi já
adiantado, ao escoamento das frutas produzidas pelos sócios da sociedade.

o O desvalor do ato implica averiguar da capacidade da sociedade, que corresponde ao fim


mediato da sociedade (obtenção de lucro).

o Dispõem os arts. 6º/4 e 3 que, ainda que não se encontrando dentro do objeto social, a
validade do ato pode estar garantida, se este se situar dentro da capacidade da sociedade.

o Apelando aos critérios previstos no art. 6º/3, esta situação verifica-se sempre que a
constituição de garantias respeita a um dos seguintes critérios: constitua interesse próprio da
sociedade garante a garantia daquele crédito; ou se se tratar de sociedade em relação de
domínio ou de grupo;

§ De facto, como tem vindo a salientar a doutrina, a sociedade é que define o que possa
ser ou não interesse próprio, o que significa que, em última instância, basta-lhe
justificar que o há para que seja suficiente. Pode dizer-se que esta solução, que
pretende ser excecional, se concretiza na consumpção da regra geral – sendo
excecional, afinal, as situações em que a constituição de uma garantia real é
insuportavelmente inaceitável.

§ Neste caso, uma vez que a constituição da garantia real tem como finalidade garantir
o crédito do Sócio – constituído na compra de um trator agrícola -, parece que se
consegue justificar a existência do interesse próprio. A aquisição do trator tem como
finalidade a maior produção dos bens, o que, em última instância, beneficia a
sociedade (na medida em que se garantem mais bens para escoamento).

o É ato praticado pela sociedade, que está fora do objeto, mas dentro da capacidade:
eficazes, salvo terceiro de má fé [desconhecimento com culpa da violação do objeto da
sociedade, pelo ato: art. 260º/2 e 3, com exigências de publicidade face à necessidade de
tutela do tráfego jurídico].

® Credores da sociedade: pedem a declaração judicial da nulidade da garantia e da doação;

o Se Belchior efetua a doação em nome próprio: não há fundamento para a declaração


judicial da nulidade da garantia e da doação.

o Em nome da sociedade: no caso da doação, de facto, verificamos um ato que enferma de


nulidade, nos termos já observados; já no caso da constituição da garantia, o mesmo não
pode ser dito, uma vez que, conforme se analisou, o ato ainda está dentro da capacidade
(ainda que fora do objeto), razão pela qual é ineficaz e não nulo;

o Quem é que deve provar o interesse próprio da sociedade:


§ Qualquer credor pode pôr em causa;

§ MC e acórdãos do STJ, quem invoca a nulidade tem o ónus de provar a falta de


interesse próprio;

§ Coutinho de Abreu e Osório de Castro, quem pretende manter a garantia é que tem
de provar o interesse da sociedade (inversão do ónus da prova);

® Frutas, Lda.: declarada insolvente;

o Os credores pretendem responsabilizar Armando e Belchior na (1) qualidade de sócios; (2) na


qualidade de gerentes da sociedade.

o Se a sociedade é declarada insolvente, então a consequência é a extinção da pessoa


coletiva: art- 234/3 CIRE

o Podem ser responsabilizados A e B apenas a título do art. 78º/1, ou seja, na qualidade


gerentes; na qualidade de sócios A e B podem eventualmente responder, mas apenas nos
termos do art. 197º;

o Possibilidade de desconsideração para exceder;


CASO PRÁTICO 3
A sociedade Infotudo, Lda. foi constituída no dia 1 de fevereiro de 2011, tendo por objeto a
distribuição de produtos informáticos. No final de março, ainda antes do registo do contrato – que só em
maio ocorreu –, o gerente, perante uma excelente oportunidade que surgiu, e desejando que a
sociedade abandonasse o negócio dos computadores, adquiriu, em nome da Infotudo, Lda., uma
fábrica de calçado à sociedade Peles e Calçado, Lda. Já após o registo do contrato de sociedade, a
Peles e Calçado, Lda. exige à Infotudo, Lda. o pagamento do preço da fábrica, o qual, apesar das
insistências daquela sociedade, nunca chegara a ser pago. A sociedade recusa o pagamento, alegando
que (i) “em circunstância alguma a sociedade responderia por um acto do gerente que viola o fim da
sociedade e que, por isso, é nulo”; além disso, (ii) a responsabilidade pela dívida é apenas do gerente
que celebrara o contrato antes de a sociedade ser sequer registada. Perante a recusa, a Peles e
Calçados, Lda. dirige-se ao gerente, que, por seu lado, invoca que a sociedade é a única responsável
desde o registo do contrato. Quid juris?

1º: tipo de sociedade; respeito pelo princípio da tipicidade em direitos reais;

® Presume-se que as partes quiseram adotar a forma legal de uma sociedade por quotas, tendo
em conta a denominação adotada (artigo 200º/1 do CSC);

o Sociedade de capitais (índole mais pessoal);

o Este tipo societário, por quotas, encontra-se regulada nos artigos 197º e ss. Do Código
das Sociedades Comerciais;

o O capital desta sociedade está dividido por quotas (artigos 197º/1);

o No que respeita às obrigações sociais, nos termos do artigo 197º/3, confirma-se que só
o património social responde por estas; nos termos do nº1, os sócios são solidariamente
responsáveis pelas obrigações de entrada convencionadas;

® Na eventualidade: as partes podem ter, em contrato, derrogado a regra constante do artigo


197º/1 e 3, estipulando que, para além do sócio responder nos termos do nº1, responde até certo
montante pelas obrigações sociais, seja em regime de subsidiariedade, seja em regime de
solidariedade.

2º: a natureza do registo em direito das sociedades comerciais – o registo como tendo eficácia
constitutiva;

® Resulta do art. 5º que o registo é condição essencial para a aquisição de personalidade jurídica:
o registo, no âmbito societário, é constitutivo, pelo que há que recorrer ao respetivo registo
comercial e, no mesmo ato, solicitar à Conservatória que promova (a expensas da sociedade) as
publicações legais obrigatórias, com a finalidade de se divulgar a existência da nova sociedade
e o teor do respetivo contrato (art. 5º e 166º CSC + arts. 3º/a), 15º, 17º e 70º/1/a) e 2 e 71º do C.
R. Comercial).

® O registo deve ser efetuado no prazo de dois meses a contar da data de celebração do contrato
– art. 3º/a) e 15º do CRC.

3º: a prática do ato de compra da sociedade de Peles e Calçado


® Está em causa um problema de capacidade de gozo das sociedades comerciais, resultante,
as regras gerais, do art. 6º do CSC;
o A capacidade das pessoas coletivas, contrariamente ao que acontece com as pessoas
singulares, é limitada pelo princípio da especialidade: assim, apenas abrangeria os
direitos e obrigações necessários ou convenientes à prossecução dos seus fins, segundo
a fórmula do artigo 6º/1 (como correspondente do art. 160º do CC);
o Escola de Lisboa: podem fazer o que não seja limitado por: lei, estatutos, bons
costumes/natureza das coisas e deliberações sociais;
® Atendendo à letra da lei, a capacidade das sociedades está dependente do seu fim social (art.
6º) e não do seu objeto social (art. 6º/4). Este ato em particular:
o Está fora do objeto social, já que não se coaduna com a indústria informática (art. 6º).
o Está dentro da capacidade: se o fim mediato das sociedades é a obtenção de lucro (art.
6º/4), tendo em conta que o objeto social não é limitador da capacidade da sociedade,
então a compra de uma fábrica de calçado representa, ainda, uma futura obtenção de
lucros;
o Possivel responsabilização nos termos do art. 6º; não foi um gerente criterioso;
o A consequência, desta classificação feita, para o ato da sociedade: o ato é eficaz;
§ Pode, a sociedade opor a terceiros, as limitações resultantes do objeto
social se o terceiro está de má fé [desconhecimento com culpa da violação do
objeto da sociedade, pelo ato: art. 260º/2 e 3, com exigências de publicidade face
à necessidade de tutela do tráfego jurídico] e se a sociedade o não assumiu
(deliberação expressa ou tácita dos sócios).
§ Eficaz perante terceiros de boa fé.
§ A sociedade pode opor se provar.
® Esta sociedade é, no entanto, uma sociedade irregular – ainda não registada, embora já
constituída:
o Prevista no art. 37º a 40º;
o A sociedade irregular será uma entidade/sociedade que, tendo por objeto uma atividade
comercial, adote um tipo comercial, mas cujo contrato não está, ainda, definitivamente
registado, apesar já ter sido celebrado.
o Relações entre sócios: artigo 37º/1 e 2;
§ São aplicáveis as regras estabelecidas no contrato e na lei, exceto aqueles que
tenham como pressuposto o registo do contrato;
o Artigos 38 a 40º: relações externas/com terceiros
§ Negócios celebrados em seu nome (art. 40º/1): respondem ilimitada e
solidariamente todos os que intervenham no negócio em representação da
sociedade em causa, bem como os sócios que o autorizem (responde o gerente
de forma ilimitada);
• Restantes sócios: respondem apenas até às importâncias das entradas
a que se obrigaram, acrescidas das importâncias que tenham recebido a
título de lucros ou de distribuição de reservas;
• Discussão da responsabilidade (art. 40º vs. art. 36º): só falta o registo,
logo, faz sentido que seja o património social a responder; o gerente
responde subsidiariamente ao património social;
® Artigo 19ª: o registo leva à aquisição de personalidade jurídica e, ainda, permite provocar a
assunção, pela sociedade, de negócios anteriores ao próprio registo.
o Só se poderia concluir pela assunção nos termos da alínea d) (art. 19º/1);
o Cabendo nos demais negócios, aplica-se o disposto no art. 19º/2: podem ser por ela
assumidos mediante decisão da administração, que deve ser comunicada à contraparte
nos 90 dias posteriores ao registo. Só se verificando esta condição assume a
sociedade a responsabilidade pelo negócio.
o 72º/2: exclusão da responsabilidade do gerente;
(iii) E se a dívida tivesse sido constituída no final de janeiro, mesmo antes do contrato de sociedade ser
celebrado?

® Previsto no art. 36º: está em causa a existência de um projeto iminente à celebração do contrato,
ainda que ainda não celebrado – facto é que estamos numa fase mais preliminar, ou seja, ainda
anterior à celebração do próprio contrato;
o Conforme refere o Prof. Menezes Cordeiro, de facto, ainda que o CSC não preveja um
conceito de sociedade irregular, este tem sido usado pela doutrina para abarcar dois
tipos de realidades, sendo a mais preliminar aquela que se encontra, nesta questão, em
jogo – a sociedade organizada e posta a funcionar independentemente de as partes terem
formalizado qualquer contrato de sociedade.
o Neste caso, a aplicação do art. 36º convoca uma distinção: podemos estar numa
situação puramente material, ou seja, a que consta do nº1 e que prevê as situações em
que não existe qualquer acordo entre os participantes; ou, por outro lado, podemos estar
perante a situação constante do nº2, ou seja, existir um acordo tendente à constituição
de uma sociedade comercial, mas sem que se tenha celebrado o contrato de sociedade.
o Este regime, em especial a solução que consta do nº1, tem como fundamento as regras
gerais da tutela da aparência: trata-se de uma mera organização societária a qual, por
ser percetiva por terceiros, surgiria como uma aparência; na linha do Prof. Menezes
Cordeiro, revelar-se-ia como injusto não tutelar os terceiros que com esta aparência
negociassem.
o Para o funcionamento destas regras há que relembrar: (1) a existência de confiança
objetivamente justificada; (2) os confiantes apenas merecem tutela se estiverem de boa
fé (conceção subjetiva ética) – desconhecerem, sem culpa, a natureza meramente
aparente da sociedade.
® Se estivéssemos perante o caso do nº1, que não parece ser a situação, dado que existe um
projeto de sociedade que apenas não foi formalizado em contrato, a solução seria que as partes
que intervêm nesta aparência respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações contraídas
por qualquer uma delas.
o Menezes Cordeiro: critica a solução legal – entende que há uma distinção drástica entre
os regimes aplicáveis à sociedade aparente e à sociedade material, que não tem
justificação pelo prisma dos terceiros (em ambas as situações, os terceiros estão
convictos da existência da sociedade, desconhecendo, no entanto, se existe ou não
intenção de celebrar, no futuro, o contrato de sociedade);
§ Problema: o regime das sociedades civis é mais adequado e pode assegurar
níveis de tutela superior, já que os credores sociais têm uma situação de privilégio
perante os bens da sociedade e em relação aos credores pessoais dos sócios
(art. 999º do CC); ainda, existe sempre responsabilidade pessoal e solidária dos
sócios, pelas dívidas da sociedade, embora não se deva descurar o benefício da
excussão prévia dos bens da sociedade (art. 997º/1);
§ Assim, defende que o disposto no nº1 deve ser reduzido, aplicando: (1) a
responsabilidade solidária, pelos danos causados; (2) as regras das sociedades
civis puras;
® Ao estarmos, ao que parece, no caso previsto no nº2, dispõem a lei que: tem aplicação o regime
das sociedades civis (aquelas que, em função das circunstâncias, tenham aplicação, com
as necessárias adaptações).
o Esta solução legal teve origem na doutrina suíça;
§ Pinto Furtado: o preceito configura uma invalidade de forma, operando, em
função disso, uma conversão ope legis de uma sociedade comercial de facto em
sociedade civil;
§ Menezes Cordeiro: não é mera invalidade de forma, já que do preceito resulta –
(1) se for acordada constituição, que parece induzir à possibilidade de fazerem,
posteriormente, os ajustes necessários; (2) a lei trata o processo como uma
incompletude, tanto que, conforme resulta do argumento anterior, a lei não exige
que o projeto esteja completo;
o O objetivo desta solução legal é garantir a possibilidade de início de atividade, sob o
regime das sociedades civis puras.
§ No que respeita ao acordo: entende o Prof. Menezes Cordeiro que basta um
acordo muito simples e incipiente, não sendo necessária a promessa de
celebração do contrato de sociedade definitivo (dado que a própria lei não prevê
tal requisito). É suficiente, entende o Sr. Prof., um minimum de elemento, ou
seja, basta a indicação das partes e a determinação da atividade comum em
causa.
o Em concreto, a aplicação conduz a que (997º do CC):
§ Pelas obrigações sociais responde a sociedade e, pessoal e solidariamente, os
sócios;
§ Os sócios podem, no entanto, invocar o benefício da excussão prévia e exigir
que, em primeiro lugar, responda o património da sociedade pelas dívidas;
® Pode perguntar-se qual a natureza da sociedade que consta do art 36º/2 – se civil; se
comercial;
o Menezes Cordeiro entende que não pode ser comercial: implicaria uma inobservância
das valorações constantes do art. 1º/2, em si, injustificada; as partes podem, ainda, nem
ter acordado no tipo de sociedade a constituir;
§ A situação globalmente considerada deve, no entanto, ser considerada como
comercial, e os atos como comerciais, em nome e por conta da “sociedade”.
Motivo: garantir que os eventuais litígios possam ser resolvidos pelos
tribunais de comércio.
(iv) 5 anos depois, é requerida judicialmente a nulidade do contrato, sendo apontado como fundamento
o número insuficiente de sócios. Quid juris?

® A propósito das invalidades que podem recair sobre a constituição das sociedades (cfr. art. 42º)
o Prof. Menezes Cordeiro menciona o princípio do favor societas que pretende ilustrar, tendo em
conta a importância das sociedades e as relações já estabelecidas com terceiros, uma opção do
legislador para delimitar a incidência e os efeitos destas invalidades;

o Esta opção é especialmente visível na: limitação dos casos de nulidade, legitimidade para
arguir, prazo para arguir, modos de sanar a invalidade, limitações dos efeitos,
inoponibilidade a terceiros, etc.

® Situação de nulidade por força do contrato de constituição cfr. art. 42º/1/a) CSC;

® A ação pode ser intentada nos termos do art. 44º: no prazo de três anos a contar do registo, no
caso da legitimidade prevista no art. 44º/1; pelo ministério público a qualquer momento (cfr.
44º/2);

o Afasta, o art. 44º, o regime geral da nulidade do Código Civil;

o Não era sanável;

o Há, no entanto, que em primeiro lugar interpelar a sociedade para sanar o vício, quando
seja sanável; só 90 dias após a interpelação se pode interpor a ação;

® Quanto às consequências (cfr. art. 52º):

o Entrada da sociedade em liquidação (art. 52º/1), nos termos do art. 165º, com
determinadas particularidades;

o Regra básica: os negócios não são afetados, na sua eficácia, pela declaração de
nulidade ou anulação do contrato social – desde que (de acordo com MC) (1) não incorra
em qualquer fundamento de invalidade e (2) o terceiro esteja de boa fé quanto à
invalidade de que enferme a constituição da sociedade. Não exoneração dos sócios cfr.
art. 52º/4.
CASO PRÁTICO 4
António e Bento, no passado mês de Janeiro, constituíram por escrito particular uma SPQ e promoveram
diligentemente o seu registo definitivo. A sociedade tem um capital social de € 50.000,00 tendo metade sido
realizado em dinheiro por António e a outra metade em espécie, por Bento, mediante a transmissão para a
sociedade de um prédio rústico avaliado em € 25.000,00.

Em inícios de Março, a sociedade contraiu um empréstimo hipotecário em ordem à aquisição da sua sede
social no valor de € 100.000,00.

Quinze dias depois, Bento dá-se conta que, afinal, não tinha vendido o seu terreno à sociedade de António
mas antes tinha com ele constituído uma sociedade, coisa que nunca desejara e António bem sabia. Em carta
dirigida a este, Bento invoca a anulabilidade do contrato por erro vício. António responde que pouco lhe
importa, já que o contrato de sociedade é nulo.

Resolução do Caso Prático

® As partes quiseram adotar a forma legal de uma sociedade por quotas, tendo de adotar a firma
prevista no artigo 200º/1 do CSC;

o Sociedade de capitais (índole mais pessoal);

o Este tipo societário, por quotas, encontra-se regulada nos artigos 197º e ss. Do Código
das Sociedades Comerciais;

o O capital desta sociedade está dividido por quotas (artigos 197º/1);

o No que respeita às obrigações sociais, nos termos do artigo 197º/3, confirma-se que só
o património social responde por estas; nos termos do nº1, os sócios são solidariamente
responsáveis pelas obrigações de entrada convencionadas;

® Na eventualidade: as partes podem ter, em contrato, derrogado a regra constante do artigo


197º/1 e 3, estipulando que, para além do sócio responder nos termos do nº1, responde até certo
montante pelas obrigações sociais, seja em regime de subsidiariedade, seja em regime de
solidariedade. Não parece ser esse o caso, tendo em conta as informações disponíveis.

® Capital social mínimo: não existe um valor necessário de capital social mínimo, sendo este
livremente fixado e correspondendo à soma das participações sociais dos sócios (art. 201º CSC);

Modo de constituição da Sociedade:

® Três fases: (1) momento da celebração do contrato; (2) registo; (3) publicações obrigatórias.

® Escrito particular bastante:

o A lei portuguesa permite a constituição de sociedades sem recorrer a excessiva


solenidade: é suficiente, para a constituição de qualquer tipo social, contrato reduzido a
escrito (nos termos do art. 4º-A) com assinaturas de todos os sócios
originários/fundadores reconhecidas presencialmente (art. 7º/1);

o Verifica-se, é facto, uma contribuição em espécie: um imóvel; neste tipo de sociedade so


não são permitidas contribuições em industria (art. 202º CSC);
o Problema: foi realizada uma contribuição em espécie de um bem imóvel, razão pela qual
se exige, por força do art. 875º do CC, em conjugação com o disposto no art. 7º/1/in fine
do CSC, escritura pública ou documento particular autenticado para a celebração
do contrato de sociedade;

§ De acordo com o Prof. Menezes Cordeiro, do regime do registo infere-se


conclusões acerca da natureza do registo, que entende tratar-se de um regime
condicionante da eficácia plena: (1) o registo não é constitutivo da
personalidade coletiva, nem, muito menos, da sociedade, pois que esta já existia
anteriormente; a eficácia, neste aspeto, é puramente declarativa; (2) o registo
condiciona a adoção de determinados negócios pela sociedade; (3) o registo
faculta a plena eficácia das normas próprias do tipo societário considerado.

Registo constitutivo:

® Resulta do art. 5º que o registo é condição essencial para a aquisição de personalidade jurídica:
o registo, no âmbito societário, é constitutivo, pelo que há que recorrer ao respetivo registo
comercial e, no mesmo ato, solicitar à Conservatória que promova (a expensas da sociedade) as
publicações legais obrigatórias, com a finalidade de se divulgar a existência da nova sociedade
e o teor do respetivo contrato (art. 5º e 166º CSC + arts. 3º/a), 15º, 17º e 70º/1/a) e 2 e 71º do C.
R. Comercial).

® O registo deve ser efetuado no prazo de dois meses a contar da data de celebração do contrato
– art. 3º/a) e 15º do CRC.

Ato de Constituição de uma Hipoteca

® Está em causa um problema de capacidade de gozo das sociedades comerciais, resultante,


as regras gerais, do art. 6º do CSC;
o A capacidade das pessoas coletivas, contrariamente ao que acontece com as pessoas
singulares, é limitada pelo princípio da especialidade: assim, apenas abrangeria os
direitos e obrigações necessários ou convenientes à prossecução dos seus fins, segundo
a fórmula do artigo 6º/1 (como correspondente do art. 160º do CC);
o Escola de Lisboa: podem fazer o que não seja limitado por: lei, estatutos, bons
costumes/natureza das coisas e deliberações sociais;
® Atendendo à letra da lei, a capacidade das sociedades está dependente do seu fim social (art.
6º) e não do seu objeto social (art. 6º/4). Este ato em particular:
o Está fora do objeto social, já que não se coaduna com a indústria informática (art. 6º).
o Está dentro da capacidade: se o fim mediato das sociedades é a obtenção de lucro (art.
6º/4), tendo em conta que o objeto social não é limitador da capacidade da sociedade,
então a compra de uma fábrica de calçado representa, ainda, uma futura obtenção de
lucros;
o A consequência, desta classificação feita, para o ato da sociedade: o ato é eficaz;
§ Pode, a sociedade opor a terceiros, as limitações resultantes do objeto
social se o terceiro está de má fé [desconhecimento com culpa da violação do
objeto da sociedade, pelo ato: art. 260º/2 e 3, com exigências de publicidade face
à necessidade de tutela do tráfego jurídico] e se a sociedade o não assumiu
(deliberação expressa ou tácita dos sócios).
§ 247º

® Invocação da nulidade:
o Inobservância da forma legalmente exigida: seria necessário documento particular
autenticado ou escritura publica;
o Assim: estamos perante uma situação em que se verifica inobservância da forma
legalmente exigida para o contrato de sociedade – artigo 42º/1/e);

§ Nos termos do art. 42º/2, este vício não é sanável;

§ O sócio tem legitimidade para intentar a ação de declaração de nulidade;

§ A ação pode ser intentada nos termos do art. 44º: no prazo de três anos a contar
do registo, no caso da legitimidade prevista no art. 44º/1; pelo ministério público
a qualquer momento (cfr. 44º/2);

§ No caso de a declaração de nulidade ser procedente, nos termos do art. 52º, dá-
se a liquidação da sociedade (art. 165º);

® Invocação do erro:

o Apenas poderia ser invocado antes do registo definitivo da sociedade: artigo 41º/1,
sendo apenas oponível aos sócios (art. 41º/2);

o Depois do registo da sociedade só há lugar à invocação dos vícios constantes do art.


42º/1;

o Art. 45º/1: havia a possibilidade de exoneração do próprio sócio (exoneração do sócio


está prevista no art. 185º); remissão para o art. 287º;

o Não tem direito a reaver o que prestou;

Correção do Caso

Entradas: art. 26º; subscrição é vinculação a uma realização futura; a realização é o efetivo pagamento do
valor da entrada;

Avaliação da entrada em espécie: por um revisor oficial de contas;

Subcapitalização da sociedade: financiamento externo;


CASO PRÁTICO 5
Carlos, Daniel e Eduardo resolveram mudar de vida e abrir uma Garrafeira especialista em castas
portuguesas. Adquiriram um espaço, compraram o stock e começaram a comercialização dos vinhos.
Como o negócio corria bem, os três amigos resolveram constituir, em Janeiro de 2010, uma SPQ, que
ainda não se encontra registada. No contrato de sociedade ficou expresso que a sociedade assumia a dívida
de € 155.000,00 correspondente ao valor do stock inicial, mas nada é dito quanto ao imóvel adquirido para a
instalação da garrafeira, nem quanto aos € 1.500,00 dos honorários pagos aos advogados no processo de
constituição.
No primeiro caso, a ideia inicial era manter o imóvel em compropriedade dos sócios que o arrendavam
à sociedade; quanto aos honorários, nenhum deles se lembrou desta despesa...
Em Fevereiro, Carlos e Daniel, gerentes da sociedade, celebraram um contrato de fornecimento com
o restaurante Tavares Rico. Sucede, porém, que uma das remessas de vinho encontrava-se em mau estado
e o restaurante pretende agora acionar a cláusula penal do contrato no valor de € 50.000,00.
Eduardo, que entretanto chegou de uma viagem de dois meses a França para participar em diversas
feiras de vinhos, ficou chocado com a notícia. Não só nunca teria concordado com o negócio como deseja
agora que o imóvel da garrafeira se torne propriedade da sociedade...
Estavam os sócios em animada discussão quando chegou uma carta do Dr. Basílio, dirigida à
sociedade, na qual o ilustre advogado informava que a sociedade acabava de ser registada e requeria,
novamente, o pagamento dos honorários em atraso...
Quid juris?

® As partes quiseram adotar a forma legal de uma sociedade por quotas, tendo de adotar a firma
prevista no artigo 200º/1 do CSC;

o Sociedade de capitais (índole mais pessoal);

o Este tipo societário, por quotas, encontra-se regulada nos artigos 197º e ss. Do Código
das Sociedades Comerciais;

o O capital desta sociedade está dividido por quotas (artigos 197º/1);

o No que respeita às obrigações sociais, nos termos do artigo 197º/3, confirma-se que só
o património social responde por estas; nos termos do nº1, os sócios são solidariamente
responsáveis pelas obrigações de entrada convencionadas;

® Na eventualidade: as partes podem ter, em contrato, derrogado a regra constante do artigo


197º/1 e 3, estipulando que, para além do sócio responder nos termos do nº1, responde até certo
montante pelas obrigações sociais, seja em regime de subsidiariedade, seja em regime de
solidariedade. Não parece ser esse o caso, tendo em conta as informações disponíveis.

® Capital social mínimo: não existe um valor necessário de capital social mínimo, sendo este
livremente fixado e correspondendo à soma das participações sociais dos sócios (art. 201º CSC);

Modo de constituição da Sociedade:

® Três fases: (1) momento da celebração do contrato; (2) registo; (3) publicações obrigatórias.

® Escrito particular bastante:


o A lei portuguesa permite a constituição de sociedades sem recorrer a excessiva
solenidade: é suficiente, para a constituição de qualquer tipo social, contrato reduzido a
escrito (nos termos do art. 4º-A) com assinaturas de todos os sócios
originários/fundadores reconhecidas presencialmente (art. 7º/1);

o Neste caso, não havendo indicação de informações que permitissem concluir por
forma mais exigente como necessária, parece ser de concluir pelo escrito particular
como bastante;

o Na falta de indicação, presume-se cumprido;

Registo constitutivo:

® Resulta do art. 5º que o registo é condição essencial para a aquisição de personalidade jurídica:
o registo, no âmbito societário, é constitutivo, pelo que há que recorrer ao respetivo registo
comercial e, no mesmo ato, solicitar à Conservatória que promova (a expensas da sociedade) as
publicações legais obrigatórias, com a finalidade de se divulgar a existência da nova sociedade
e o teor do respetivo contrato (art. 5º e 166º CSC + arts. 3º/a), 15º, 17º e 70º/1/a) e 2 e 71º do C.
R. Comercial).

® O registo deve ser efetuado no prazo de dois meses a contar da data de celebração do contrato
– art. 3º/a) e 15º do CRC.

® O registo no, entanto, não foi ainda efetuado, razão pela qual cabe aplicar, em termos de
responsabilidade, as regras que se inserem na categoria das sociedades irregulares, de criação
doutrinária, e que têm em vista a regulação da responsabilidade da sociedade, neste caso,
quando já constituída, mas não registada;

o De acordo com o Prof. Menezes Cordeiro, do regime do registo infere-se conclusões


acerca da natureza do registo, que entende tratar-se de um regime condicionante da
eficácia plena: (1) o registo não é constitutivo da personalidade coletiva, nem, muito
menos, da sociedade, pois que esta já existia anteriormente; a eficácia, neste aspeto, é
puramente declarativa; (2) o registo condiciona a adoção de determinados negócios pela
sociedade; (3) o registo faculta a plena eficácia das normas próprias do tipo societário
considerado.

Relativamente à prática de atos em geral

® Está em causa um problema de capacidade de gozo das sociedades comerciais, resultante,


as regras gerais, do art. 6º do CSC;
o A capacidade das pessoas coletivas, contrariamente ao que acontece com as pessoas
singulares, é limitada pelo princípio da especialidade: assim, apenas abrangeria os
direitos e obrigações necessários ou convenientes à prossecução dos seus fins, segundo
a fórmula do artigo 6º/1 (como correspondente do art. 160º do CC);
o Escola de Lisboa: podem fazer o que não seja limitado por: lei, estatutos, bons
costumes/natureza das coisas e deliberações sociais;
® Atendendo à letra da lei, a capacidade das sociedades está dependente do seu fim social (art.
6º) e não do seu objeto social (art. 6º/4). No entanto, agir for do objeto social, ainda que dentro
da capacidade, pode comportar consequências em termos de eficácia dos atos/deliberações.
® Cabe, por isso, averiguar da eficácia ou validade dos demais atos praticados.
Aquisição do stock inicial (dívida de 155000€)

® Não parecem sobrepor-se dúvidas acerca deste ato: localiza-se dentro do fim social, ou seja,
da capacidade e, igualmente, dentro do objeto social, uma vez que a aquisição do stock é
fundamental para a entrada em funcionamento da garrafeira. Logo, não se colocam problemas
de capacidade.

® Relativamente à responsabilidade da sociedade pela prática deste ato:

o Não é de aplicar o art. 36º, uma vez que já estamos perante uma sociedade constituída;
apenas não se encontra, esta sociedade, registada.

o Assim, e tendo por base o facto de estarmos perante uma sociedade por quotas,
aplicando o art. 40º, compreendemos que a responsabilidade, antes do registo, é
ilimitada e solidária e cabe a todos aqueles que agiram em representação da
sociedade, inclusive os sócios que expressamente autorizaram;

§ Os restantes sócios respondem até às importâncias das entradas a que se


obrigam (art. 40º/1);

o Uma vez que há indicação que o registo já foi promovido, cabe aplicar o art. 19º,
percebendo quais os efeitos que este pode produzir na responsabilidade da sociedade:

§ Neste caso, conforme resulta do art. 19º/1/c), seria de concluir pela


responsabilidade da sociedade, nos termos gerais (art. 197º), pela divida da
aquisição de stock, a partir do momento do registo;

§ Os efeitos da assunção, conforme resulta do art. 19º/3, retroagem à data da


celebração do contrato de sociedade e liberam as pessoas indicadas no art. 40º
- exceto nos termos da responsabilidade geral.

o Pela dívida de 155000€ responde a sociedade, nos termos gerais, ficando derrogada
a regra constante do art. 40º;

Aquisição de imóvel para instalação da garrafeira (arrendamento pelos sócios à sociedade)

o Em primeiro lugar, há que distinguir a natureza da divida: de facto, não está em causa
uma divida pela aquisição do espaço, mas sim uma dívida pelo pagamento de rendas; a
propriedade do imóvel foi adquirida pelos sócios em nome próprio e não pela sociedade;

o Não é de aplicar o art. 36º, uma vez que já estamos perante uma sociedade constituída;
apenas não se encontra, esta sociedade, registada.

o Assim, e tendo por base o facto de estarmos perante uma sociedade por quotas,
aplicando o art. 40º, compreendemos que a responsabilidade, antes do registo, é
ilimitada e solidária e cabe a todos aqueles que agiram em representação da
sociedade, inclusive os sócios que expressamente autorizaram;

o Uma vez que há indicação que o registo já foi promovido, cabe aplicar o art. 19º,
percebendo quais os efeitos que este pode produzir na responsabilidade da sociedade:

§ Neste caso, não se enquadrando este contrato em nenhuma das alíneas do art.
19º/1, cabe aplicar o art. 19º/2: a responsabilidade da sociedade só se verifica,
com os efeitos constantes do art. 19º/1 e 3, se o contrato em causa for assumido
por decisão da administração, que deve ser comunicada ao advogado nos 90
dias posteriores ao registo;

§ Significa, então, que é, ainda, aplicável o disposto no art. 40º em termos de


responsabilidade: antes do registo, é ilimitada e solidária e cabe a todos
aqueles que agiram em representação da sociedade, inclusive os sócios que
expressamente autorizaram;

§ NOTA: a responsabilidade, neste caso, restringe-se tão somente ao pagamento


das rendas do aluguer; para o caso de se pretender que a sociedade seja a
proprietária do imóvel, haverá que ser realizado um negócio de transmissão entre
a sociedade e os sócios (enquanto comproprietários do imóvel);

Honorários por pagar (a advogados) – dívida de 1500€

o Não é de aplicar o art. 36º, uma vez que já estamos perante uma sociedade constituída;
apenas não se encontra, esta sociedade, registada.

o Assim, e tendo por base o facto de estarmos perante uma sociedade por quotas,
aplicando o art. 40º, compreendemos que a responsabilidade, antes do registo, é
ilimitada e solidária e cabe a todos aqueles que agiram em representação da
sociedade, inclusive os sócios que expressamente autorizaram;

o Uma vez que há indicação que o registo já foi promovido, cabe aplicar o art. 19º,
percebendo quais os efeitos que este pode produzir na responsabilidade da sociedade:

§ Aplicação do art. 19º/1/a) – remissão para o 16º: enquadra-se nesta situação.

Contrato de fornecimento (realizado pelos gerentes)

o Pergunta que se pode legitimamente colocar: será que a referência a direitos e


obrigações abrange a responsabilidade, somente, pela dívida, ou abrange qualquer tipo
de responsabilidade (nomeadamente, responsabilidade pelo fornecimento de bens
defeituosos, que levou a contraparte do contrato a acionar a clausula penal);

o Não é de aplicar o art. 36º, uma vez que já estamos perante uma sociedade constituída;
apenas não se encontra, esta sociedade, registada.
o Assim, e tendo por base o facto de estarmos perante uma sociedade por quotas,
aplicando o art. 40º, compreendemos que a responsabilidade, antes do registo, é
ilimitada e solidária e cabe a todos aqueles que agiram em representação da
sociedade, inclusive os sócios que expressamente autorizaram;

o Uma vez que há indicação que o registo já foi promovido, cabe aplicar o art. 19º,
percebendo quais os efeitos que este pode produzir na responsabilidade da sociedade:

§ Apenas se enquadraria no art. 19º/1/d) se existisse uma autorização dada por


todos os sócios no ato de constituição – efetivamente, tal não se verificava, até
porque um dos sócios, E, encontrava-se fora;

§ Neste caso, não se enquadrando este contrato em nenhuma das alíneas do art.
19º/1, cabe aplicar o art. 19º/2: a responsabilidade da sociedade só se verifica,
com os efeitos constantes do art. 19º/1 e 3, se o contrato em causa for assumido
por decisão da administração, que deve ser comunicada ao advogado nos 90
dias posteriores ao registo;

§ Significa, então, que é, ainda, aplicável o disposto no art. 40º em termos de


responsabilidade: antes do registo, é ilimitada e solidária e cabe a todos
aqueles que agiram em representação da sociedade, inclusive os sócios que
expressamente autorizaram;

Resolução:

1. Compra do espaço, do stock e inicio da atividade: sociedade aparente (art. 36º);

Stock: art. 19º/1/c); especificado e expressamente ratificado; art. 19º/3 – retroatividade e


liberação da responsabilidade nos termos do art. 40º;

Arrendamento: sociedades irregulares por incompletude – aplicação 40º/1; o E, sendo contra,


responde tendo em conta os limites da sua entrada (acrescida de...); o C e D respondem ilimitada
e solidariamente. Existindo em património social, este deve responder e ser excutido em primeiro
lugar (MC).

Para assumir o negócio - decisão expressa da gerência para que a sociedade


assumisse os negócios anteriores à constituição da sociedade. Art. 19º/2.

Honorários: previstos no art. 16º/1 do CC. Os honorários não precisavam de ficar mencionados
no contrato de sociedade; no entanto, são assumidos automaticamente pela sociedade
(19º/1/a)). Só vai ser exigido depois da própria constituição.

19º/4 – redução teleológica: afastar despesas com a constituição da sociedade.


Enriquecimento da própria sociedade, tendo em conta as despesas necessárias à
constituição desta. Faz sentido que sejam imputáveis à sociedade.

2. Celebração do contrato de sociedade: sociedade irregular, ainda não registada, mas já constituída
(art. 40º);
3. Celebração do contrato de fornecimento no momento em que a sociedade ainda já estava constituída,
mas não estava registada; o E não anuiu na celebração deste contrato;

4. Depois do registo: carta p/ pagamento dos honorários; o registo vem, ou não, modificar a exigência
de pagamento;
CASO PRÁTICO 6
Em setembro de 2012, é constituída a sociedade Cookies & Cream, Lda., cujo objeto social, nos
termos dos estatutos, é a produção e comercialização de pastelaria e gelados. O capital social é de € 147
500. Nos termos do contrato ficou convencionado que:

(i) O sócio Cavalo Branco, Lda. contribuía com o arrendamento de um prédio no Rossio, avaliado
pelo ROC em € 70 000, e ficava com uma quota equivalente a esse valor.

(ii) O sócio Sebastião, chef profissional e amante da doçaria, comprometia-se a pôr a sua arte ao
serviço da sociedade e ficava, por isso, dispensado de qualquer outra entrada. A sua contribuição foi
avaliada em € 20 000, valor atribuído à sua quota.

(iii) O sócio Manuel, proprietário de um café́ que agora iria encerrar, cedia à sociedade a sua
posição num contrato de prestação de serviços de limpeza, em condições razoavelmente
favoráveis, tendo esta contribuição sido avaliada em € 7 500. Esse era também o valor da sua
quota.

(iv) O sócio Sancho, que no momento atravessava dificuldades de tesouraria, entrava com um crédito
sobre um seu cliente no valor de € 10 000, que foi avaliado, todavia, em apenas € 5 000. Contudo,
ficava com uma quota no valor de €10 000.

(v) O sócio Afonso entrava em dinheiro: € 5 000. Uma vez que, ao contrário dos outros, se limitou a
financiar a sociedade, sem ter qualquer intervenção na conceção do projeto, teve de aceitar ficar com
uma quota de apenas € 2 500. Em todo o caso, conseguiu uma vantagem: apenas teria de realizar a
entrada dali a um ano.

(vi) O sócio Gonçalo, proprietário de uma galeria de arte, entrava com € 10 000 (valor da quota) mas,
pouco depois, a sociedade adquiriu-lhe um quadro pelo qual pagou € 10 000.

(vii) O sócio Rodrigo subscrevia uma quota de € 20 000, a realizar em dinheiro quando a sociedade
necessitasse de fundos.

(viii) O sócio Bartolomeu pagava € 7 500 em dinheiro (valor da quota), o que lhe renderia juros mensais
a uma taxa equivalente à Euribor.

Quid juris?

® As partes quiseram adotar a forma legal de uma sociedade por quotas, tendo de adotar a firma
prevista no artigo 200º/1 do CSC;

o Sociedade de capitais (índole mais pessoal);

o Este tipo societário, por quotas, encontra-se regulada nos artigos 197º e ss. Do Código das
Sociedades Comerciais;

o O capital desta sociedade está dividido por quotas (artigos 197º/1);

o No que respeita às obrigações sociais, nos termos do artigo 197º/3, confirma-se que só o
património social responde por estas; nos termos do nº1, os sócios são solidariamente
responsáveis pelas obrigações de entrada convencionadas;

§ Na eventualidade: as partes podem ter, em contrato, derrogado a regra constante


do artigo 197º/1 e 3, estipulando que, para além do sócio responder nos termos
do nº1, responde até certo montante pelas obrigações sociais, seja em regime de
subsidiariedade, seja em regime de solidariedade. Não parece ser esse o caso,
tendo em conta as informações disponíveis.

® Capital social mínimo: não existe um valor necessário de capital social mínimo, sendo este
livremente fixado e correspondendo à soma das participações sociais dos sócios (art. 201º CSC);

® A obrigação de entrada é uma obrigação que incumbe a todos os sócios (art. 20º/a CSC); é
uma obrigação, conforme relembra, o Sr. Prof. Menezes Leitão, para com a sociedade e não
dos sócios para com os demais sócios.

o O tipo de entrada é definido no contrato de sociedade nos termos do art. 9º/g) e h), seja em
termos quantitativos, seja em termos qualitativos.

o Em termos qualitativos, as entradas podem ser pecuniárias (valor/cifra numérica em


dinheiro) ou em espécie (transferência para a sociedade de direitos patrimoniais suscetíveis
de penhora e que não se traduzam em dinheiro).

§ Podem ser objeto das entradas em espécie os bens penhoráveis (art. 735º/1 do
CPC, necessariamente conjugado com o art. 736º que enumera os bens
absolutamente impenhoráveis). Não obstante esta referência deve ser
interpretada fundando um sentido distinto: tendo em conta com o art. 7º da 2ª
Diretiva (relativa somente às sociedades anónimas) estatuiu que o capital
subscrito só pode ser constituído por elementos ativos suscetíveis de avaliação
económica. Significa, então, que mesmo que os bens não sejam suscetíveis de
penhora, mas sejam suscetíveis de avaliação económico, são havidos como
contribuições em espécie admissíveis de avaliação económica.

§ As entradas em espécie estão sujeitas a uma avaliação pelo ROC, tendo em conta
o facto do seu valor não ser facilmente apreensível pelo leigo na matéria. A este
relatório deve ser dada publicidade (art. 28º/5 e 6). Estas são regras imperativas
que nem mediante acordo admitem afastamento.

o Em termos quantitativos, a entrada traduz-se, ainda, numa dupla apresentação: valor


nominal e valor real. O valor nominal é o valor da participação social a que ela corresponde
(neste caso, o valor da quota) – nos termos do art. 25º/1 este não pode exceder o valor
real/entrada. O valor real consiste na cifra, em dinheiro, em que a entrada se traduz
pecuniária ou valor dos bens que implique.

§ Se o valor da entrada (valor real) exceder o valor da participação social (quota)


atribuída ao sócio: considera-se acima do par. Nessa situação, funciona o
prémio de subscrição, prémio de emissão ou ágio, que passa a integrar as
reservas (art. 295º/2/a) e 295º/3/d) CSC).

o No que respeita às entradas em espécie: a lei não impõe restrições (art. 28º/1), apenas
indicando que basta que se tratem de bens materiais ou que sejam facilmente realizáveis,
sendo que do art. 20º/a) se infere que sejam bens suscetíveis de penhora.

® Relativamente à análise das cláusulas:


o É uma entrada em espécie (art. 20º/a), que se configura como admissível. O valor nominal
e o valor real correspondem a 70000€. O valor nominal (valor da quota) corresponde ao valor
da entrada (valor atribuído aos bens nos termos do art. 28º, ou seja, valor atribuído pelo
Revisor Oficial de Contas) – o que significa, então, que está respeitado o disposto no art.
25º/1 CSC.

§ O Prof. Coutinho de Abreu refere que é discutível a admissibilidade de entradas


em espécie que consubstanciem o gozo dos bens a título obrigacional.
Nomeadamente por: (i) dificuldades especiais de avaliação (deve ser o valor atual
do rendimento futuro); (ii) o problema do tempo das entradas (art. 26º); (iii) a
impenhorabilidade do bem (como a sociedade não pode dispor do prédio, o bem
não penhorável).

§ A admissibilidade infere-se inevitavelmente do art. 25º/4, que se aplica quando é


transmitido o gozo dos bens (quando o sócio atribui à sociedade um direito
pessoal de gozo).

§ Coutinho de Abreu, Pereira de Almeida, Paulo de Tarso Domingues admitem.

o Não são admitidas entradas em indústria, assim o dispõe o art. 202º. Estas apenas são
admitidas nas sociedades em nome coletivo (arts. 176º e 178º). Art. 20/a)/in fine.

§ Sócios de indústria: 178 – não vem a sua prestação computada como uma quota
no capital social.

§ Entrada acessória: 209. Entrada mínima de um euro.

§ Art. 27.

§ Não são admitidas devido aos problemas que levantam em termos de


responsabilidade limitada.

§ Funções externas do capital social: pagar as dívidas da sociedade;

§ Funções internas do capital social: financiar o próprio objeto da sociedade e


definir a quotas de cada sócio;

§ 25/4: se quisesse ficar com uma participação.

o É uma entrada em espécie (art. 20º/a). Resulta, do art. 25º/1, que o valor nominal/valor da
quota não pode exceder o valor real (entenda-se, o valor que resulta da avaliação, no caso
das entradas em espécie, feita pelo ROC nos termos do art. 28º).

§ Podem ser objeto das entradas em espécie os bens penhoráveis (art. 735º/1 do
CPC, necessariamente conjugado com o art. 736º que enumera os bens
absolutamente impenhoráveis). Não obstante esta referência deve ser
interpretada fundando um sentido distinto: tendo em conta com o art. 7º da 2ª
Diretiva (relativa somente às sociedades anónimas) estatuiu que o capital
subscrito só pode ser constituído por elementos ativos suscetíveis de avaliação
económica. Significa, então, que mesmo que os bens não sejam suscetíveis de
penhora, mas sejam suscetíveis de avaliação económico, são havidos como
contribuições em espécie admissíveis de avaliação económica.

§ As entradas em espécie estão sujeitas a uma avaliação pelo ROC, tendo em conta
o facto do seu valor não ser facilmente apreensível pelo leigo na matéria. A este
relatório deve ser dada publicidade (art. 28º/5 e 6). Estas são regras imperativas
que nem mediante acordo admitem afastamento.

§ 424/1 CC: necessidade de consentimento; de modo expresso ou tácito; o revisor


oficial de contas tê-lo-ia tido em conta – deduz-se do caso. Em caso de recusa:
impossibilidade, nos termos do art. 25/4; o Manuel teria de entrar com dinheiro.

• ROC: estar em erro (art. 24/3).

o Trata-se de um crédito. É uma entrada em espécie (art. 20º/a). Resulta, do art. 25º/1, que
o valor nominal/valor da quota não pode exceder o valor real (entenda-se, o valor que resulta
da avaliação, no caso das entradas em espécie, feita pelo ROC nos termos do art. 28º).

§ A quota social encontra-se regulada os arts. 219º e ss. do CSC.

§ Em termos quantitativos, a entrada traduz-se, ainda, numa dupla apresentação:


valor nominal e valor real. O valor nominal é o valor da participação social a que
ela corresponde (neste caso, o valor da quota) – nos termos do art. 25º/1 este
não pode exceder o valor real/entrada. O valor real consiste na cifra, em dinheiro,
em que a entrada se traduz pecuniária ou valor dos bens que implique.

§ Cessão de crédito: art. 577 e ss.; produção de efeitos nos termos do art. 583;

§ Redução da quota (termos gerais); preencher a quota (25/4);

o É uma entrada em dinheiro. A única limitação em termos de valor nominal e valor real é a
circunstância de o valor nominal (neste caso, 2500€) não ultrapassar o valor real (5000€,
neste caso), o que não se verifica na entrada deste sócio. Uma vez que o valor nominal é
inferior ao valor real, não se configura qualquer problema.

§ Tempo das entradas: permissão geral nos termos do art. 26º - na celebração do
contrato, exceto se a lei admitir alternativas temporais.

§ A lei permite que as entradas sejam realizadas até ao termo do primeiro exercício
económico (art. 26º/2, 199º/b) e 202º/4º - a contar da data do registo definitivo
da sociedade, art. 26º/2). No entanto: até esse termo, cada sócio pode realizar
tão somente o valor nominal mínimo da quota fixado por lei (199º/b), ou seja, 1€
(art. 219º/3).

• Entradas em dinheiro: o estatuto social pode permitir o diferimento (art.


203º/1. Tem o estatuto social de o prever, contando que o sócio realize,
no máximo até ao final do primeiro exercício, 1€ pela sua entrada –
199º/d).
• O pagamento das entradas diferidas tem de ser efetuado em datas certas
ou ficar dependente de factos certos e determinados, podendo, em
qualquer caso, a prestação ser exigida a partir do momento em que se
cumpra o período de cinco anos sobre a celebração do contrato, a
deliberação do aumento de capital ou se encerre o prazo equivalente a
metade da duração da sociedade, se este limite for inferior.

o Indicação de que o sócio Gonçalo, faria uma entrada em dinheiro (10000€). Problema é o
de saber se é admissível compensação da dívida do sócio (obrigação de entrada) para com
a sociedade com a dívida da sociedade para com o sócio (compra e venda do quadro). Nos
termos do art. 27º/5 a compensação só é admissível nos termos do art. 27º/4 – não
configurando, esta, uma situação do nº4, não se admite, consequentemente, a
compensação.

§ Trata-se de uma hipótese de entrada em espécie dissimulada (a compra e


venda do quadro) na medida em que se realiza a coberto de uma entrada
formalmente em dinheiro, mas que foi logo recuperada pelo sócio. Na verdade, o
que se pretende é a fuga à avaliação do revisor oficial de contas (art. 28º -
necessária para as entradas em espécie).

§ Surge, então, a possível aplicação do art. 29º: note-se, no entanto, que estamos
perante uma sociedade por quotas, razão pela qual não cabe aplicar este
preceito, que só se aplica às sociedades anónimas e às sociedades em
comandita por ações.

§ Fernando Oliveira e Sá (a transformacao de créditos em capital e o problema


das entradas em espécie ocultas). Possibilidade de aplicação do art. 29 as
sociedades por quotas uma vez que se poderá considerar que estamos perante
um lapso do legislador – a inserção sistemática da norma na parte geral deveria
levar-nos a concluir pela aplicação a qualquer sociedade e não apenas
sociedades anónimas e em comandita por ações. Outros argumentos:
fundamento da fraude à lei e âmbito de proteção da sociedade.

§ Maioria da doutrina: aplicação as sociedades por quotas – defender a


responsabilidade dos sócios pelos danos acusados em virtude das aquisições de
bens efetuadas nos termos do art. 29 (desde que haja dolo ou culpa grave – 71/3);

o É uma entrada em dinheiro. A única limitação em termos de valor nominal e valor real é a
circunstância de o valor nominal (neste caso, 2500€) não ultrapassar o valor real (5000€,
neste caso), o que não se verifica na entrada deste sócio. Uma vez que o valor nominal é
inferior ao valor real, não se configura qualquer problema.

§ Tempo das entradas: permissão geral nos termos do art. 26º - na celebração do
contrato, exceto se a lei admitir alternativas temporais.

§ A lei permite que as entradas sejam realizadas até ao termo do primeiro exercício
económico (art. 26º/2, 199º/b) e 202º/4º - a contar da data do registo definitivo
da sociedade, art. 26º/2). No entanto: até esse termo, cada sócio pode realizar
tão somente o valor nominal mínimo da quota fixado por lei (199º/b), ou seja, 1€
(art. 219º/3).

• Entradas em dinheiro: o estatuto social pode permitir o diferimento (art.


203º/1. Tem o estatuto social de o prever, contando que o sócio realize,
no máximo até ao final do primeiro exercício, 1€ pela sua entrada –
199º/d).

§ Nos termos do art. 27º/2: a clausula é nula?

§ Divergência doutrinária: cláusula nula, ver Coutinho de Abreu e Menezes


Cordeiro;

• Não vai ser sócio da sócio;

• Obrigação imediata: interpelação (Coutinho de Abreu).

• Contrato de mútuo de terceiro.

o É uma entrada em dinheiro. A única limitação em termos de valor nominal e valor real é a
circunstância de o valor nominal (neste caso, 2500€) não ultrapassar o valor real (5000€,
neste caso), o que não se verifica na entrada deste sócio. Uma vez que o valor nominal é
inferior ao valor real, não se configura qualquer problema.

§ Em princípio, as obrigações de entrada não vencem juros. Vencer juros


implicava que a obrigação de entrada funcionado com o sócio como credor; não
é esse, afinal, o caso. Na realidade, nas obrigações de entrada, o sócio é o
devedor. (art. 20º/a).

§ A cláusula é, na verdade, proibida por força do disposto no art. 21º/2: razão


pela qual se deve entender que se configura como nula (291º CC).

§ A obrigação de entrada já trás direitos e deveres conexos. Vantagens da


participação.

® Há que computar sempre, no final, o capital social da sociedade. Qual o sócio majoritário.

o 70000 + 7500 + 5000 + 2500 + (...). 102500€


CASO PRÁTICO 7
Alberto, Bernarda, Carlos, Diana e Edmundo decidiram juntar esforços e património para
desenvolver uma ideia de negócio gerada à mesa do café Aires, em muitas tardes solarengas que só o
Mondego sabe proporcionar.

A ideia estava, de facto, próxima da genialidade: Alberto era um cozinheiro de mão cheia, e
propunha-se a confecionar os seus famosos carapaus à espanhola em doses industriais; Bernarda
entrava com uma patente de que era titular, relativa a um novo processo de produção e conservação de
escabeche de tomate e cebola, de valor “claramente superior a € 20.000”; Carlos entrava com um
pavilhão industrial, avaliado em € 30.000; Diana e Edmundo eram os amigos capitalistas: cada um
entraria com € 20.000 em dinheiro. Estavam lançados os dados para a constituição de uma sociedade
anónima!

Depois de uns problemas com o notário, decidiram que Alberto, afinal, entrava com um
equipamento industrial de cozinha e embalagem, que comparara para o seu restaurante, por € 15.000,
e que estava por estrear, mas para manterem o equilíbrio, decidiram que cada um dos sócios ficaria com
ações no valor de € 20.000.

O notário parece não gostar de Alberto e levantou novamente algumas questões jurídicas. Alberto
lá aceitou entrar com € 10.000 em dinheiro.

Convencionaram os sócios que Alberto apenas entregaria € 1.000 no momento da celebração


do contrato, já que tinha que vender o equipamento de cozinha e embalagem para obter liquidez. Os
restantes € 9.000 entregá-los-ia quando pudesse. Carlos também pretendia contribuir com o pavilhão
industrial apenas no próximo ano, para se ir habituando à ideia.

No mês seguinte ao da constituição, a sociedade adquiriu a Diana e Edmundo um camião


frigorífico em segunda mão por € 40.000, de que ambos eram titulares em compropriedade. Segundo os
boatos, no entanto, teria sido possível comprar um camião comparável apenas por € 15.000.

1. Quais terão sido os problemas suscitados pelo notário em relação à primeira ideia destes
cinco empreendedores?

® As partes quiseram constituir uma sociedade anónima, regulada nos arts. 271º e ss. do Código
das sociedades Comerciais;
® A responsabilidade, neste tipo de sociedades, é limitada ao valor das ações subscritas;
® Está respeitado, refira-se desde já, o número mínimo de sócios, nos termos do art. 274º/1;
® O montante mínimo do capital social é 50000€;
® O primeiro problema resulta, desde logo, da entrada de Alberto: nos termos do art. 277º/1, nas
sociedades anónimas não são admitidas entradas em indústria, ou seja, entradas com base em
prestações de facere, razão pela qual esta entrada, conforme formulada, encontrar-se-ia desde
logo ferida de nulidade (regime geral da nulidade – art. 291º do CC). Art. 20/a)/2.ª parte.
® O que é o capital social: art. 9/1/f) e 14º.
o No limite, poderia considerar-se uma prestação acessória (art. 287º), devendo haver
sempre, note-se, entrada em dinheiro;
o Entradas em indústria não computadas para capital social (art. 9º/1/f);
o Porque não é um know-how? Problema da fungibilidade: o cozinheiro vai transmitir o
know how à sociedade, não; vai, ele próprio, fabricar os pratos. Era ele próprio que iria lá
cozinhar.
® Relativamente à entrada em espécie: art. 28º/1, necessidade de um relatório elaborado por um
revisor oficial de contas sem interesses na sociedade, que atribua um valor à entrada;
o Não basta mencionar que corresponde a um valor claramente acima de...; tem de ser
feita uma avaliação objetiva do valor económico da entrada;
§ As entradas em espécie estão sujeitas a uma avaliação pelo ROC, tendo em conta
o facto do seu valor não ser facilmente apreensível pelo leigo na matéria. A este
relatório deve ser dada publicidade (art. 28º/5 e 6). Estas são regras imperativas
que nem mediante acordo admitem afastamento.

o Admissibilidade das entradas em espécie: podem ser objeto das entradas em espécie
os bens penhoráveis (art. 735º/1 do CPC, necessariamente conjugado com o art. 736º
que enumera os bens absolutamente impenhoráveis). Não obstante esta referência deve
ser interpretada fundando um sentido distinto: tendo em conta com o art. 7º da 2ª
Diretiva (relativa somente às sociedades anónimas) estatuiu que o capital subscrito só
pode ser constituído por elementos ativos suscetíveis de avaliação económica. Significa,
então, que mesmo que os bens não sejam suscetíveis de penhora, mas sejam suscetíveis
de avaliação económico, são havidos como contribuições em espécie admissíveis de
avaliação económica.

® Haveria ainda que notar, nos termos dos arts. 9º/g) e 25º, que é sempre necessária menção ao
valor nominal de cada quota, não bastando a menção ao valor real;

® Notar, ainda, que a nulidade da entrada de A levaria à redução do número de sócios de 5 para
4, o que poria em causa o cumprimento do regime constante do art. 574º/1; consequentemente,
o contrato de sociedade, art. 42º/1/a), não estaria respeitado o número mínimo de sócios
necessários à constituição a sociedade;

2. Quais terão sido os problemas suscitados pelo notário quanto à reinvestida dos cinco
amigos?
® Em termos quantitativos, a entrada traduz-se, ainda, numa dupla apresentação: valor nominal e
valor real. O valor nominal é o valor da participação social a que ela corresponde (neste caso, o
valor da quota) – nos termos do art. 25º/1 este não pode exceder o valor real/entrada. O valor
real consiste na cifra, em dinheiro, em que a entrada se traduz pecuniária ou valor dos bens que
implique.
o Se o valor da entrada (valor real) exceder o valor da participação social (quota) atribuída
ao sócio: considera-se acima do par. Nessa situação, funciona o prémio de subscrição,
prémio de emissão ou ágio, que passa a integrar as reservas (art. 295º/2/a) e 295º/3/d)
CSC).
o Não poderia, no entanto, nunca exceder o valor real da entrada: significa, então, que
o limite de valor nominal da entrada seria sempre 15000€, uma vez que só nestes termos
o valor nominal da entrada não ultrapassaria o valor real desta.
o Necessidade de redução, por violação do disposto no art. 25º: redução nos termos
gerais do Código Civil. Subcapitalização.
® Relativamente à entrada de Carlos: conforme resulta do art. 295º/2/a) e 3/d), a diferença entre
o valor nominal (neste caso, 20000€) e o valor real (30000€), no caso das entradas em espécie,
deve constituir o ágio ou prémio de emissão, passando a integrar as reservas da sociedade;
o Ou entrega no ato da constituição;
o Ou está obrigado à entrada em dinheiro: art. 25º/4.
o 875º - forma mais exigente.
® Somadas as quotas: capital social de valor 95000€ - logo superior ao mínimo legal permitido.
3. Que questões jurídicas devem ser analisadas a propósito das entradas estipuladas pelos
cinco sócios? E em relação ao negócio celebrado entre a sociedade e Diana e Edmundo?

® Relativamente às convenções de diferimento das entradas:

® Convencionou-se, então, que Alberto faria uma entrada em dinheiro - tempo das entradas:
permissão geral nos termos do art. 26º - na celebração do contrato, exceto se a lei admitir
alternativas temporais.

o Perante a tradicional distinção entre subscrição e realização: o sócio apenas realiza


uma parte da quota que subscreveu.

o Nos termos do regime especial da sociedade anónima, art. 277º/2, no máximo, ao


tempo da celebração do contrato, o sócio terá de ter realizado, pelo menos, 30% do
capital (já que só pode ser diferida a realização de 70% do valor nominal ou do valor de
emissão das ações);

§ 30% relativo ao valor total do capital social. Até 70% é o valor global do capital
social.

o Neste caso, o sócio realizou menos 30%: realizou apenas 10% do capital social
subscrito, razão pela qual está a violar o disposto nas regras especiais aplicáveis à
sociedade anónima.

§ Clausula nula: ou o sócio acorda em realizar, desde logo, pelo menos 30% ou
(3000€) ou não poderá entrar com apenas 1000€ sob pena de nulidade.

o Acresce, ainda, que este diferimento, estando apesar de tudo estipulado em


concreto, não poderia diferir a realização por mais de 5 anos: é o que resulta do art.
285º/1 – logo não poderia pagar quando pudesse... Teria de ser definido um prazo
máximo de 5 anos.

§ Está em causa uma condição (incerto sobre se alguma vez irá poder), o que viola
o disposto no mesmo preceito. O prazo máximo é de 5 anos. Assim, mediante
vontade do sócio, poderia equacionar-se uma redução/conversão daquela
dimensão da clausula, passando de condição, a termo (necessidade de pagar o
remanescente 70% em 5 anos).
• Entrada já exigível: 777º/1 -> sócio no valor de 1000€.

o Se concordar com a alteração: quota de 10000€.

o Se não concordar: não chega a adquirir o estatuto de sócio, não contribui com a
respetiva obrigação de entrada, razão pela qual não é contabilizado para efeitos de
capital social – 0€.

® Convencionou-se, relativamente a Carlos, uma entrada em espécie (imóvel): a possibilidade de


diferimento apenas pode ser convencionada relativamente às entradas em dinheiro; não se
admite a subscrição e realização posterior no que respeita às entradas em espécie;

o Redução da clausula nos termos gerais. Necessidade de cumprimento da obrigação


de entrada no momento da celebração, não sendo suscetível de prorrogação. 26/3 a
contrario. Diferir a entrega do bem retira interesse numa obrigação de entrada em
espécie.

o Se aceitar: 20000€.

o Se não: 0€.

® Relativamente ao acordo celebrado entre Diana, Edmundo e a sociedade:

o Trata-se de uma hipótese de entrada em espécie dissimulada (a compra e venda do


quadro) na medida em que se realiza a coberto de uma entrada formalmente em dinheiro,
mas que foi logo recuperada pelo sócio. Na verdade, o que se pretende é a fuga à
avaliação do revisor oficial de contas (art. 28º - necessária para as entradas em
espécie).

§ Responsabilizar os sócios pelo valor da diferença: art. 71º/3.

o Surge, então, a possível aplicação do art. 29º: neste caso, admitir-se-ia a aplicação por
estamos perante uma sociedade anónima; a aquisição do camião, assim, deveria ser
previamente aprovada por deliberação da assembleia geral;

§ Dentro do objeto e dentro da capacidade. Ressalva do art. 29º/nº2 – aquisição


compreendida no objeto da sociedade. Poderia aplicar-se!

§ Cabe verificar o preenchimento dos requisitos:

• A aquisição é efetuada a dois sócios, logo, encontra-se preenchido o


pressuposto a);

• O contravalor dos bens deve exceder 2% do capital social (se for igual
ou superior a 50000€ euros) ou 10% do capital social (se inferior a
50000€);

o Capital social desta sociedade: 90000€ (excede o valor mínimo).


A aquisição foi por 40000€: excede 2% do capital social, pois
que corresponde a 44% do capital social.
o Capital social desta sociedade (20000 x 3): 60000€ (excede o
valor mínimo). Excede, os 40000€, 2% do capital social, pois
corresponde a 67% deste.

• O contrato foi concluído um mês depois da constituição da sociedade,


razão pela qual o pressuposto da alínea c) também se encontrava
preenchido;

§ Nota: a deliberação exige a avaliação dos bens, nos termos do art. 28º, ex vi
29º/3, não exercendo o direito de voto aquele a quem o bem esteja a ser
adquirido.

• A realizar-se o contrato: deve ser reduzido a escrito (art. 29º/4).

• Caso o contrato não venha a ser aprovado em assembleia geral, é


INEFICAZ (art. 29º/5).
CASO PRÁTICO 8
Emanuel e Marante, sócios da sociedade anónima Clave de Sol, S.A. (“CS”) — mais conhecida como a Blue
Note de Arganil —, decidiram expandir o negócio de agenciamento e edição musical, e lançar-se no mercado
de música ligeira e ligeiro-independente do sul do país. Para o efeito, em 2010, decidiram aumentar o capital
da CS, dando assim sinais de solvência e musculatura financeira ao mercado. Cada um detém 30% do
capital social.

® As partes quiseram constituir uma sociedade anónima, regulada nos arts. 271º e ss. do Código
das sociedades Comerciais;
® A responsabilidade, neste tipo de sociedades, é limitada ao valor das ações subscritas;
® Está respeitado, refira-se desde já, o número mínimo de sócios, nos termos do art. 274º/1;
o Só são mencionados 4 sócios: nulidade vs dissolução administrativa.
® O montante mínimo do capital social é 50000€;
® Neste caso, o espectro de análise é o aumento do capital: insere nas situações de variação de
capital, que implica aumentos e reduções, e que consubstancia alterações contratuais, na
medida em que implicam a modificação do elemento fundamental de referência da
responsabilidade da sociedade perante terceiros e credores (capital social).
o Art. 9/1/f): o capital social é elemento necessário do contrato de sociedade, sob pena de
nulidade do próprio contrato (art. 42º/17b)). Daí que se compreenda, naturalmente, o
aumento e a redução de capital como vicissitudes de alteração do contrato.
o O principio da alterabilidade, tendo em conta estarem em causa relações contratuais
duradouros, assegura assim a possibilidade de as partes se desvincularem ou alterarem
as obrigações assumidas. É este princípio que se contra plasmado nos arts. 85º e ss.
o Maioria: dois terços (85.º/6 e 386.º/3).
(i) Emanuel, que no passado cedera os direitos de exploração comercial da música “Confessa o teu amor” à
CS por € 15 000, mas nunca chegara a cobrar o preço, pretende agora ficar quite com a sociedade, já que se
comprometeu no aumento do capital a contribuir com € 15 000.

® Prestação acessória ou contrato de suprimento: como qualificar aquela prestação do E?

o Nunca seria suplementar, porque não é direito.

o Quanto à prestações acessórias: não há informação sobre a previsão no estatuto social; não
estando, é uma prestação acessória espontânea.

o Contrato de suprimento: o prejudicado essencial seria o próprio sócio, enquanto último a ser
pago; não pode exigir garantias;

® Aumentos de capital encontram-se regulados nos arts. 87º e ss. do CSC:

o Relativamente às condições de admissibilidade de aumento do capital: encontram-se


previstas no art. 87º;

o Aumento de capital: operação que as sociedades comerciais realizam quando já não


dispõem de fundos próprios para prosseguir a sua atividade, em termos adequados, ou se
encontram em situação de economia difícil para o fazer com os capitais de que dispõem.
Ainda quando, detendo os meios suficientes para realizar a sua atividade, a sociedade se
propõe a integrá-los no seu capital para lhes conferir estabilidade.

§ Por incorporação de reservas livres: incorporação, no capital, de disponibilidades já


existentes na sociedade.

§ Por aumento por novas entradas: acréscimo de meios para a sociedade. Se for
entrada em espécie tem de ser avaliada em espécie (art. 28).

§ Relativamente a estas formas de aumento de capital: notar, tão somente, que são
aplicáveis as regras que respeitam às obrigações de entrada (arts. 20º e ss.) – art.
89º/1.

® Compensação por aumentos de capital: esclarecer, tão somente, que E (sócio) tem um crédito
sobre a sociedade (CS S.A. é devedora de 15000€ a E) e a sociedade tem um crédito sobre E (E é
devedora de 15000€ em virtude de comprometimento de aumento de capital social);

o Requisitos:

§ Existência de dois créditos recíprocos: o declarante só pode utilizar créditos seus


para a compensação (851º/2) e só pode abranger dívidas do declarante e não de
terceiro, exceto se o declarante estiver em risco de ser executado por dívida de
terceiro (851º/1).

§ Exigibilidade forte do crédito do autor da compensação: artigo 847º/1/a)

§ Fungibilidade e homogeneidade das prestações: artigo 847º/1/b) – não sendo, no


entanto, necessário que as prestações tenham o mesmo valor (847º/2).

§ Não exclusão, pela lei, da compensação: exemplo dos créditos excluídos, pelo CC,
da compensação (853º/1), como sejam os créditos provenientes de atos ilícitos
dolosos, os créditos impenhoráveis e os créditos do Estado.

§ Declaração de vontade de compensar: artigo 848º/1 – esta vontade é unilateral, não


sendo necessário o acordo.

o Problema: o art. 27º/5 vem proibir, expressamente, as entradas com créditos sobre a
sociedade como forma de cumprir as obrigações de entrada e, ainda, como forma de
cumprimento da obrigação de aumento de capital.

§ Ordenamentos Jurídicos Estrangeiros (Itália, França, Espanha): admite a entrada, nos


aumentos de capital, por via da compensação de créditos – contando que não se
defraudem as regras aplicáveis às entradas em espécie;

§ Portugal e Alemanha: resulta a da lei a específica proibição da compensação como


meio de extinção da obrigação de entrada.

• Argumentos contra: argumento literal, na medida em que no nº5 não se


consagra a proibição de aumentos de capital com créditos sobre a
sociedade, mas, tão somente, da obrigação de entrada com créditos sobre a
sociedade;
• De facto, nos termos do art. 27º/5, não é admissível a compensação; no
entanto, será que a compensação é a única qualificação jurídica admissível
para o problema em causa?

o Raul Ventura e Paulo Tarso de Domingues: sustentam que, nestas


situações, estamos perante uma verdadeira confusão (art. 868º do
CC) – determina a extinção mútua do crédito e da dívida, quando se
vejam reunidas, na mesma pessoa, ambas as qualidades de credor e
devedor da obrigação. Aplicada às sociedades: o sócio, ao
contrário da compensação que opera por si só, toma uma iniciativa
ao ceder um crédito seu à sociedade, a título de realização de
obrigação de aumento de capital, acabando esta (a sociedade) por
ver si mesma reunidas, em simultâneo, as qualidades de credora e
devedora. A obrigação extingue-se por confusão.

§ Esta tese foi já sufraga no Acórdão da Relação do Porto de


18 de novembro de 1997 (relator: Roger Lopes).

§ Argumento: o aumento de capital com compensação de


crédito não beneficia, de forma alguma, o sócio em
detrimento dos credores; pelo contrário, o valor da
participação do sócio corresponderá efetivamente ao valor
que realizou e os terceiros acabarão por não sair prejudiciais;
aliás, ficam ainda mais acautelados, uma vez que o crédito
dado a título de entrada já não permitirá que o sócio executa
a sociedade dado que tal crédito se converteu em capital o
que obriga a que a sociedade tenha uma situação líque
corresponde ao valor do capital social aumentado.

o Francisco Neves Marques de Carvalho: novação objetivo, os


termos do art. 857º do CC, por alteração do objeto da obrigação;

® A extinção da obrigação de entrada com fundamento na compensação é nula, por força da violação
de um preceito imperativo, a que corresponde o art. 27º/5.

(ii) Marante foi mais esperto: entregou à sociedade os € 15 000 a que se comprometera por ocasião do
aumento, e promoveu o pagamento pela CS de uma dívida antiga, de € 15.000, resultante da venda de uma
mesa de misturas em 2005.

• Fraude à lei, forma indireta de realização de uma compensação, não admissível, em geral, para as
obrigações decorrentes de aumento de entrada;
• Problema do art. 29: saber se se poderá aplicar extensivamente; no entanto, a dívida já existia logo
não parece ser possível aplicar agora;

(iii) Em 2011, perante novas necessidades de financiamento, Emanuel e Marante decidiram ligar a Marco e
Paulo, os outros dois sócios da CS, invocando uma cláusula do contrato segundo a qual os sócios poderiam
deliberar que lhes fossem exigidas contribuições adicionais, até € 50 000, em dinheiro, que não venceriam
juros. Marco e Paulo não se recordavam desta cláusula e duvidam da sua legalidade. Recusam-se, por isso,
a pagar. Em consequência, Emanuel e Marante ameaçam expulsá-los da sociedade.

® Se estamos perante contribuições adicionais: em princípio está em causa a invocação de uma


cláusula de aumento de capital social, não por incorporação de reservas, mas por aumento em virtude
de novas entradas (acréscimo de meios para a sociedade).
o Resulta do regime do aumento de capital que este é tomado (a decisão) por deliberação do
órgão de administração: nessa deliberação devem constar os elementos previstos no art.
87º/1;
o Indiciaria, desde logo, a nulidade da clausula: o facto de o art. 85º/1 prever que as alterações
apenas são permitidas por deliberação dos sócios indiciaira, imediatamente, a nulidade de
uma clausula contratual que permitisse fugir a esta deliberação;
o Excecionalmente: admite-se tão somente que o contrato atribua cumulativamente
competência para a deliberação das alterações a outros órgãos – mas tão somente quando
a lei o preveja (art. 12º/2 e 456º/1).
o O facto de prever um âmbito limitado e excecional demonstra que a norma é imperativa.
Exclui-se, portanto, a possibilidade do contrato de sociedade retirar dos sócios esta
competência
o Ainda, poderia equacionar-se a deliberação de uma alteração ao contrato de sociedade, dado
que o aumento do capital social consubstancia justamente essa circunstância (arts. 85º e ss.;
ou seja, mesmo que houvesse essa deliberação.
o Concretamente – relativamente á possibilidade de deliberação:
§ Nas SA: a lei distingue entre quórum constitutivo e quórum deliberativo.
§ A assembleia geral não pode deliberar, em primeira convocação, sem que estejam
presentes ou representados acionistas que detenham, pelo menos, 1/3 do capital
social (art. 383º/2):
§ Já em segunda convocação, a assembleia geral pode sempre deliberar,
independentemente do número de acionistas presentes ou representados (art.
383º/3).
§ Quorum deliberativo: foi fixado em 2/3 dos votos emitidos – art. 386º/3. Em segunda
convocação, se se encontrar presente ou representado pelo menos metade do capital
social, a deliberação de alteração pode ser tomada por maioria simples (art. 386º/4).
o Acresce, ainda, que a deliberação de aumento do capital social, consubstanciando uma
alteração ao contrato de sociedade, não pode ser imposta ao sócio não interveniente na
alteração (art. 86º) – é ineficaz para com os sócios que nele não tenham consentido.
o Assim, tal cláusula do contrato de sociedade seria uma forma indireta de violar o disposto no
art. 86º, que se configura, parece, de natureza imperativa (art. 86º/1);
§ Princípio da Inoponibilidade de criação de novas regras: não se podem criar
obrigações novas se a parte expressamente não consentir. Princípio da pontualidade
(406º). Concretiza-se, nas Sociedades Comerciais, no artigo 86º/1 e 2. Contra a
vontade um sócio, não podem ser constituídas obrigações que o vinculem.
§ Ratio: Direito das Obrigações – não é juridicamente admissível que a vontade
maioritária possa impor a algum sócio e contra a sua vontade o aumento das
obrigados por este livremente assumidas.
o Faltando o consentimento do sócio: a deliberação é ineficaz, mas não totalmente; tão
somente não produz efeitos quanto aos sócios que nela não haja consentido. Em relação aos
demais é eficaz
® Se alternativamente considerarmos estar perante prestações acessórias: está em causa uma
sociedade anónima, o que convoca a aplicação do art. 287.º do CSC;
o Só são válidas se fixarem concretamente aquilo que dispõe o art. 287/1: fixação dos
elementos essenciais dessa obrigação, inclusive se está configura natureza gratuita ou
onerosa;
o A tratar-se deste caso, então o sócio encontra-se vinculado nos termos do contrato;
o Note-se, no entanto, que é fundamental a legalidade da cláusula, sob pena
oO sócio está vinculado à está obrigação; no entanto, note-se que o ultimato que é feito
Emanuel e Marante não colhe se o próprio contrato de sociedade não previr a expulsão como
consequência do não cumprimento das obrigações suplementares.
® Consideração da hipótese de se tratar de prestação suplementar por Marante:
o Em primeiro lugar, haveria de referir que as prestações complementares se encontram
reguladas nos arts. 210 a 213, funcionando como disponibilidades do sócio para reforçar o
capital – são sempre em dinheiro.
o Problema: serão as prestações suplementares, previstas para as SPQ, admissíveis nas
sociedades anónimas?
§ Alexandre Mota Pinto: não devem ser admissíveis nas sociedades anónimas; nesse
sentido PPV e Paulo Vasconcelos; de igual modo Menezes Cordeiro; ver melhor está
posição;
• Argumentos: o CSC é omisso e não prevê a admissibilidade a quem seja
titular de ações nominativas; regime muito diferentes entre si;
insuscetibilidade de aplicação por analogia das normas excepcionais;
§ Não se impede a contribuição, desde que foi abolida a ação ao portador, ponderando
os interesses em presença e por força da autonomia privada > são admissiveis as
prestações, desde que as ações sejam nominativas, os titulares nisso consintam.
• Não aplicação normas excepcionais como a exclusão por incumprimento,
por inadmissibilidade de analogia.
o Exige-se que: (i) as prestações estejam previstas no contrato; (ii) haja uma deliberação dos
sócios no sentido de ser efectuada uma prestação suplementar.
o Expulsão: não admite aplicação excepcional por analogia. Não aplicável.
o São entendidas como quase capital: já estão fixadas (art. 210/3), no entanto, a se torna
exigíveis a partir do momento em que ocorra uma deliberação dos sócios nesse sentido (art.
211.º/1), só podendo está ser tomada depois de interpelados todos os sócios para integral
liberação das suas quotas de capital (art. 211.º/2);
§ Como conciliar com o princípio da inoponibilidade, previsto no art. 86/2?
§ Note-se que, é certo, Emanuel e Marante podem invocar a exclusão do sócio nesta
circunstância, no entanto, por remissão do art. 212/1, para os artigos 204 e 205, há
trâmites que devem ser seguidos, sob pena de o sócio não pode ser ser expulso ou,
em limite, não se considerar a prestação vencida (sócio em mora).
• Esse trâmite exige, nos termos do art. 204/1, o envio de carta registada para
o efeito – esclarecendo da circunstância de findo o 30°dia o sócio fica
suscetível à expulsa (que depende, por sua vez, de deliberação) – nos termos
do art. 205.

(iv) Em 2012, já com a CS em declínio, Emanuel decidiu emprestar € 125 000 à sociedade, mas exigiu a
constituição por esta de uma hipoteca sobre um imóvel de que era titular, para garantir a obrigação de
reembolso. Num esforço paralelo para a salvar, também em 2012, Marante decidiu vender os direitos de
exploração do seu recente sucesso musical “Som de Cristal”. O diretor financeiro da CS prometeu pagar-lhe
imediatamente, mas agora trata Marante com evasivas. Este, no entanto, telefona e escreve quase
semanalmente para a CS, exigindo a cobrança do seu crédito.

® Contrato de suprimento:
o Encontra-se tão somente regulado para efeitos de sociedade por quotas: neste onto, a
experiência alemã distingue entre acionista empresário e acionista investidor;
§ Raul Ventura:
§ Menezes Cordeiro: os suprimentos não são excecionais nem assentam em razões
exclusivamente reportadas à SPQ; assim, verificar-se-ão na SA quando (i) o pacto
social os preveja; (ii) quando as partes o estipulem; (iii) quando, no terro, surja um
crédito que exerça, materialmente, a função do suprimento.
• Contribuição de capital – acionista ordenado como autor desta.
• A solução dos 10% (mínimo para poder fazer o contrato de suprimento) não
é justa, na ótica de Menezes Cordeiro.
o E, que é sócio: exige a constituição de uma garantia – hipoteca sobre um imóvel.
o Artigos 243º e ss: relativos aos termos em que é admissível o contrato de suprimento – sócio
empresa à sociedade dinheiro ou outra coisa fungível, ficando aquela obrigada a restituir outro
tanto do mesmo género e qualidade, ou pelo qual o sócio convenciona com a sociedade o
diferimento do vencimento de créditos seus sobre ela, desde que, em qualquer caso, o crédito
fique tendo caráter de permanência.
o Proibição da hipoteca: art. 245º/6 – nulas as garantias reais prestadas pela sociedade
relativas a obrigações de reembolso de suprimentos. Necessidade de redução das
clausulas do contrato de suprimento – art. 292º, de modo a prever tão somente o
suprimento e não a garantia real.
§ Não aceitando o sócio nesses termos: a clausula seria nula (291º) logo não parece
admitir-se a produção de efeitos. Inválido, assim, o “empréstimo do sócio à
sociedade”.
o Mútuo normal: Emanuel pretendeu desqualificar, entendendo estarmos perante um mútuo
normal;
® Evasivas: quanto tempo podem demorar; caso do marante
o Não devem ser aplicadas as regras do suprimento, não se verificando os indicies (243/4);

(v) Em 2013, Emanuel alienou o seu crédito de € 125 000 a Romana, que não é sócia da CS. Em 2014, esta
requereu a declaração de insolvência da CS.

® A sociedade tem uma dívida para com E: transmissibilidade desse crédito – revela uma cessão de
créditos.
o Está em causa a transmissão de um crédito proveniente de um contrato de suprimento:
o crédito de suprimentos é transmissível nos termos gerais dos arts. 577º/1 e ss; quando seja
transmitido a um não socio mantém, não obstante, a precisa qualidade que tinha inicial –
como tem autonomia, transmite-se independentemente da quota. Transmissão de um
crédito com todas as suas características.
o Aplicando-se o mesmo regime, nem se poderia tentar fugir à regra que consta do art. 245º/2
– devendo este ser interpretado no sentido da impossibilidade de requerer, por esses créditos,
a declaração de insolvência.
o Outra consequência: decretada a insolvência, os suprimentos só são reembolsados depois
de pagos os créditos de terceiros, não sendo admissível a compensação de créditos da
sociedade com os de suprimentos (art. 245º/3).
CASO PRÁTICO 9
A sociedade Velocidade Fatal, S.A., constituída com um capital social de 100.000 €, tem vindo a
diminuir consideravelmente as suas vendas, em virtude da difícil conjuntura do mercado, a ponto de, em Abril
de 2013, os administradores ficarem sem saber o que fazer perante as contas do exercício, que demonstram
que o capital próprio da sociedade era pouco mais de € 30 000. Quid juris?

® As partes quiseram constituir uma sociedade anónima, regulada nos arts. 271º e ss. do Código
das sociedades Comerciais;
® A responsabilidade, neste tipo de sociedades, é limitada ao valor das ações subscritas;
® Está respeitado, refira-se desde já, o número mínimo de sócios, nos termos do art. 274º/1;
® O montante mínimo do capital social é 50000€;
® Problema jurídico prende-se com a perda de mais de metade do capital social (capital
inicial era de 100000€ enquanto que, por ora, é tão somente de 30000€).
o A perda de metade do capital social encontra-se regulada no art. 35.º do CSC;
o A perda de metade do capital social implica, nos termos do art. 35.º/2, que o capital
própria da sociedade seja inferior ou igual a metade do capital social (neste caso, o capital
próprio é de 30000€ enquanto metade do capital social corresponde a 50000€, razão
pela qual se deve considerar uma situação destas).
§ Por capitais próprios deve entender-se: capital social, reservas de ágio, as
prestações dos acionistas, a reserva legal, as reservas livres e outras rubircas.
o Nos termos do n1 os administradores devem requerer prontamente a convocação da
assembleia geral de acionistas, com o objetivo de informar os sócios da situação e de
estes tomarem as medidas julgadas mais convenientes.
o Nos termos do art. 35/3, devem os sócios deliberar, pelo menos, sobre os pontos que
constam desse mesmo preceito.
® Consequência de nada ter sido deliberado
o De facto, a menção no art. 35º/3 não exige que algum dos pontos tenha que ser
aprovado;
o Menezes Cordeiro, a este propósito refere o desaparecimento a dissolução automática,
enquanto uma das consequências na versão anterior da perda de metade do capital
social;
§ A este propósito, o Prof. Propõe que a única solução seja a responsabilidade
civil dos administradores para com a sociedade, nos termos do art. 72º/1
quando este se refere a omissões, e para com os credores sociais (art. 78º/1).
§ Há sempre a ressalva da publicitação da perda, nos termos do art. 171º/2 (deve
remeter para o 528/2 – termos da responsabilidade, o crime compensa), à qual
MC não reconhece qualquer utilidade, referindo, inclusive, que serve de incentivo
a que a situação piore;
§ Norma inconsequente - Art. 523 por remissão de 35!!! – tem de ser também ao
n2; responsabilização relativamente ao dever que incumbe à convocação;
o Coutinho Abreu, a este propósito, menciona que o art. 35º não garante aos credores
sociais que as sociedades com perdas graves hão-de fazer algo para debelar a situação;
§ Se não for debelada: art. 171º/2 – as sociedades por quotas, anónimas e em
comandita por ações devem indicar em atos externos o montante do capital
próprio segundo o último balanço aprovado, sempre que este for igual ou inferior
a metade do capital social.
® Participação das perdas
o Todo o sócio é obrigado a quinhoar nas perdas – exceto os sócios de indústria (art. 20/d)),
não admitidos nas sociedades anónimas; art. 22/3 – em termos proporcionais;
§ Ver Coutinho Abreu - circunstâncias dos sócios de indústria.
§ Art. 22/1 e 2: participação nas perdas nos termos da proporção de
participação de cada sócio;
§ Proibição dos pactos leoninos. Deve ser sempre uma proibição material. Deve
ser sempre objeto de proibição por interpretação extensiva – não reduzir os lucros
de tal maneira que fique prejudicado um direito aos lucros.
• O sócio está a dispor para o futuro de determinadas vantagens que ainda
poderá ter. Nulidade da renúncia antecipada a direitos e doação não
abranger direitos futuros (809/1) – na ótica de Menezes Cordeiro.
§ Consequências
• MC: está em causa um negócio totalmente distorcido, razão pela qual só
a conversão lhe será aplicável;
• Restante doutrina: redução, a sociedade pode existir sem a cláusula
viciada;
o Esta obrigação não é uma obrigação por dívidas sociais nem para com a sociedade,
antes se configura como uma obrigação que determina que todo o sócio corre o risco de
perder, total ou parcialmente, o investimento feito como contrapartida da aquisição de
uma participação social naquela sociedade.
o Ou seja: não é assegurado ao sócio que, quando saia da sociedade ou quando esta seja
extinta, receba o reembolso, integral ou parcial, da entrada ou investimento efetuados.
CASO PRATICO 10
a) Os sócios da sociedade Livros Antigos, Lda. deliberam por unanimidade distribuir a totalidade
dos lucros do exercício pelos sócios. Quid juris?
® Todo o sócio tem o direito de distribuir/quinhoar os lucros (art. 21º/1/a), ou seja, cada sócio tem
o poder de exigir parte dos lucros quando os mesmos sejam distribuídos. Lucros como direito
fundamental.
o Há que fazer a distinção entre o direito abstrato aos lucros (direito de quinhoar nos
lucros, enquanto direito integrante da participação social) e direito concreto aos lucros
(direito de crédito a quota-parte dos lucros já distribuídos).
o Nulidade do pacto leonino: é nula a clausula que, nos termos do art. 22º/3, exclui um
sócio da comunhão nos lucros (por inerência, deve entender-se que também o será a
deliberação com o mesmo conteúdo – art. 56º/1/d), 411º/1/c)).
o Desrespeito pelo art. 33/1 – 56/1/d) nulidade.
® Lucro: é um ganho traduzível em incremento do património da sociedade;
o Lucro de balanço: acréscimo patrimonial, revelado em balanço, equivalente à diferença
entre, por um lado, o valor do património social líquido e, por outro lado, o valor conjunto
do capital social e das reservas indisponíveis (reservas legais e estatutárias). Marca o
limite máximo dos bens que podem ser distribuídos aos sócios (art. 32º).
o Lucro de exercício: excedente do valor do património social líquido no final do exercício
ou período sobre o valor do património social líquido no início do mesmo período. Nem
todo o lucro de exercício pode ser distribuído – o lucro de exercício distribuível tem de
ser, antes de mais, conter-se ou estar compreendido no lucro de balanco.
o Reserva legal com um limite mínimo de 2500€ (218 CSC).
® Quanto à distribuição de lucros de exercício: atender aos arts. 217º e 294º;
o Não é admissível a distribuição total dos lucros de exercício: dos lucros de exercício só
é distribuível o montante que caiba dentro dos lucros de balanço (art. 33/1 do CSC).
o Não são lucros do exercício distribuíveis: aqueles que sejam necessários para cobrir
prejuízos transitados de períodos anteriores ou para formar/reconstituir reservas
impostas por lei (arts. 218º e 295º) ou pelo estatuto social (art. 33º/1).
o Art. 295: reserva legal.
b) Noutro ano, decidem, por maioria simples, realizar um elevado investimento, empregando para
o efeito todos os lucros obtidos. Quid juris?
• Bule com o art. 217/1: neste caso, o investimento, pressupõe a não distribuição de nenhum dos
lucros;
• Para que tal fosse possível, seria necessário uma maioria de três quartos.
• Anulável nos termos do art. 58/1/a).
c) Poderiam ser distribuídos lucros durante o exercício?
• Está em causa o problema da antecipação dos lucros – distribuição dos lucros durante o
exercício
o Este encontra-se previsto é admissível, para as sociedades anónimas, nos termos dos
arts. 297.º;
o Pergunta-se, neste contexto, se é admissível uma antecipação dos lucros para as
sociedades por quotas
§ Paulo Olavo Cunha: entende que não podemos aplicar analogicamente as regras
excepcionais; permitiria estes adiantamentos poderia conduzir a uma
subcapitalização da sociedade, que justificaria a proibição da analogia por razões
de ordem pública;
§ Pedro País de Vasconcelos: nada impede a distribuição antecipada dos lucros;
é uma distribuição do interesse próprio dos sócios e não, propriamente, um
problema de ordem pública; note-se que se exige previsão estatutária (para
proteção de terceiros).
• Há uma lacuna, que justifica uma aplicação analógica: Ana Perestrelo,
Paulo Tarso de Domingues;
d) A cláusula 6º do contrato de sociedade, determina que César não participa nas perdas da
sociedade. Quid juris?
® Participação das perdas
o Todo o sócio é obrigado a quinhoar nas perdas – exceto os sócios de indústria (art. 20/d)),
não admitidos nas sociedades anónimas; é obrigatório e não admite afastamento, nos
termos do art. 22/3, na proporção da sua quota de participação;
o Esta obrigação não é uma obrigação por dívidas sociais nem para com a sociedade,
antes se configura como uma obrigação que determina que todo o sócio corre o risco de
perder, total ou parcialmente, o investimento feito como contrapartida da aquisição de
uma participação social naquela sociedade.
o Ou seja: não é assegurado ao sócio que, quando saia da sociedade ou quando esta seja
extinta, receba o reembolso, integral ou parcial, da entrada ou investimento efetuados.
A sociedade é um contrato aleatório: uma prestação certa e uma prestação incerta. ML crítica esta
natureza concreta do direito aos lucros. Entende que só se concretiza com a deliberação, configurando,
até lá, prestações incertas.
CASO PRATICO 11
Na cláusula 10.ª do contrato da sociedade Expo-Lisboa, Lda., constituída em 2005, com uma duração
de 10 anos e capital social de € 100 000., foi estabelecido que “todos os resultados obtidos pela
sociedade serão levados a reservas, durante a duração da sociedade”.

(i) A cláusula é válida?

• Regra geral, as sociedades não se constituem por tempo determinado. Neste caso, foi
constituída por 10 anos.
• As reservas constituem um reforço de capital social formado à custa de bens que a sociedade
vai gerando e que prescinde de distribuir por imposição legal (art. 295 e 296). As reservas podem
ser legais, livres (lucros que podiam ser distribuídos mas não são), reservas estatutárias
(determinação contratual), reservas ocultas (não se encontram na contabilistica).
• Nos termos do art. 217, tem de ser distribuído um x de capital, por imposição legal. Nesta medida,
a alocação absoluta de todos os resultados obtidos implica, consequentemente, uma violação
indireta deste preceito. Não obstante, há que notar a natureza supletiva deste preceito –
havendo uma cláusula contratual, não bule com o art. 217.
• O direito aos lucros é um direito fundamental dos sócios, uma vez que é a causa da participação
na sociedade. Equacionar possível violação da proibição de pacto leonino: é nula a clausula
que, nos termos do art. 22º/3, exclui um sócio da comunhão nos lucros (por inerência, deve
entender-se que também o será a deliberação com o mesmo conteúdo – art. 56º/1/d), 411º/1/c)).
• Solução (Prof.): ponderação dos interesses em jogo, tendo em conta, em especial, o facto de a
sociedade ter sido constituída por 10 anos (equacionar anos terminais dos sócios). Se os sócios
prorrogarem a “vida da sociedade” de forma unânime a duração do contrato, não seria
equacionável uma argumentação contra a clausula, prevalecendo a autonomia das partes; já se
houvesse pronuncias contra, outro seria o cenário a considerar – eventualmente, não vinculação
do sócio à cláusula.

(ii) Poderia uma cláusula deste tipo ser introduzida nos estatutos através de alteração ao
contrato?

• Art. 85. O lucro é renunciável, desde que, em concreto, após a aquisição pelo sócio do direito a
determinando dividendo. Art. 265/1: maioria qualificada de três quartos.
• Doutrina mais conservadora: exige a verificação de aprovação por unanimidade.
• Interpretação extensiva do art. 86/2 – para este caso. Admissível. Para proteção e solução mais
justa.

(iii) Considerando que, em relação ao exercício de 2011, foram apurados € 50000 de resultados
positivos mas que transitaram do exercício anterior resultados negativos de € 30 000, haveria
lucros a distribuir em 2012, caso todos os sócios concordassem em alterar a cláusula 10.ª?

• Lucros de exercício: 50000€


• Lucros transitados: -30000€
• Neste momento, há 0€ de reserva, pois que para ser um resultado , significa que as reservas não
foram suficientes para o cobrir (art. 296/b)).
• Primeiro haveria de retirar os 30000€ aos lucros de exercício (apuramento dos lucros
distribuíveis). Sobrando os 20000€ -> art. 295/1 e 218 -> nunca ultrapassando os 2500€ (reserva
legal mínima). Logo, 5% é 1000€. Duas opções: ou afetar logo 2500€; para o Prof, a sociedade
estaria obrigada a constituir a reserva ao longo dos anos (não estando, desde logo, obrigada aos
2500 (218º/2). Teriam assim 19000€ para distribuir, sendo que, no mínimo, exceto maioria,
estariam obrigados a distúrbio 9500€ (art. 217/1).

(iv) A resposta seria a mesma se, durante o ano de 2012, a gerência verificasse que maquinaria
essencial para o projeto, avaliada em € 500 000, se perdera definitivamente num acidente, e
que este dano não estava coberto por qualquer seguro?

• Aplicação do art. 33/2. Deve, assim, ser usadas as reservas disponíveis para cobrir. Não
existiriam lucros para distribuir.
• Não cumprimento pelos membros da administração da deliberação: 31/2/a) > sob pena de
violação dos deveres de lealdade e de cuidado > art. 32
o Não aplicação do art. 31/1/b) > não há deliberação.
o 32/1 (montante que deveria estar na reserva + capital social).

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