Casos de Comercial 2º Semestre
Casos de Comercial 2º Semestre
Casos de Comercial 2º Semestre
CASO PRÁTICO 1
Pergunta 1 - Qual a responsabilidade de A e B pelas obrigações sociais de cada uma das sociedade?
• A aquisição de personalidade jurídica depende do registo (art. 5º CSC) - a personificação das sociedades
comerciais permite-lhes adquirirem direitos e deveres próprios, logo, tornam-se centros autónomos de
imputação de atos materiais e jurídicos.
• Seis caracterísitcas relativas à personificação: a sociedade tem direitos e deveres próprios, tem
uma autonomia de imputação de atos materiais e jurídicos, pelas dividas da sociedade responde
o património da sociedade, os credores dos sócios não se confundem com os credores da
sociedade, os sócios não podem dispor de bens da sociedade (não pode haver confusão das
esferas), os credores sociais preferem sobre os bens sociais ao contrário dos credores dos sócios;
• No caso da Sociedade Solar do Arneiro, Lda., presume-se que as partes quiseram adotar a forma legal
de uma sociedade por quotas, tendo em conta a denominação adotada (artigo 200º/1 do CSC);
• Este tipo soocietário, por quotas, encontra-se regulada nos artigos 197º e ss. Do Código das
Sociedades Comerciais;
• No que respeita às obrigações sociais, nos termos do artigo 197º/3, confirma-se que só o
património social responde por estas; nos termos do nº1, os sócios são solidariamente
responsáveis pelas obrigações de entrada convencionadas;
• Na eventualidade: as partes podem ter, em contrato, derrogado a regra constante do artigo 197º/1
e 3, estipulando que, para além do sócio responder nos termos do nº1, responde até certo
montante pelas obrigações sociais, seja em regime de subsidiariedade, seja em regime de
solidariedade.
• No caso da Sociedade VitArneiro - Exploração Vinícola, SA., presume-se que as partes quiseram adotar
a forma legal de uma sociedade anónima, tendo em conta a denominação adotada (artigo 275º/1 CSC);
• Sociedade de capital;
• Este tipo societário encontra-se regulado nos artigos 271º e ss. Do Código das Sociedades
Comerciais;
• A responsabilidade de cada sócio está limitada ao valor das ações que subscreveu, conforme
decorre do artigo 271º;
• Sociedade de pessoas;
• Nos termos do artigo 175º/1, não há responsabilidade limitada: cada sócio é responsável
para com a sociedade pela prestação da sua entrada e responde solidariamente com os
restantes sócios e ilimitadamente perante os credores da sociedades, pelas dívidas desta
(artigo 175º).
• Esta responsabilidade é, no entanto, subsidiária (só tem lugar quando o património social
não é suficiente para fazer face às dívidas da sociedade).
• (2) ou estamos perante uma violação do princípio da tipicidade (artigo 1º/1 e 2 do CSC), não
havendo indicação da adoção de um tipo legal de sociedade;
• Estamos, assim, perante uma sociedade civil (arts. 980º e ss. do CC);
• As pessoas coletivas têm personalidade jurídica e, por inerência, têm capacidade jurídica: esta
corresponde à concreta medida de direitos e de obrigações de que sejam suscetíveis de ser
titulares.
• A capacidade das pessoas coletivas, contrariamente ao que acontece com as pessoas singulares,
é limitada pelo princípio da especialidade: assim, apenas abrangeria os direitos e obrigações
necessários ou convenientes à prossecução dos seus fins, segundo a fórmula do artigo 6º/1
(como correspondente do art. 160º do CC);
• Este princípio tem uma origem história específica, que remonta a dois aspetos basilares:
os bens de mão morta, detidos pelo clero, como primeiro fenómeno de titularidade de por
entidades públicas, fugiam ao comércio e aos impostos, razão pela qual foi necessária
uma atuação régia no sentido da sua reaproximação; ainda, a doutrina ultra vires, tendo
por base a circunstância de a personalidade coletiva ser criada por outorga do
Parlamento, que, por sua vez, lhe reconhecia os poderes necessários à prossecução dos
seus objetivos - sempre que a atuação ultrapassasse esses poderes, eram ultra vires.
• Estes dois pilares foram ultrapassados, especialmente tendo em conta que a
personalidade coletiva é adquirida automaticamente, por mera verificação de requisitos.
• Coutinho Abreu: se o intuito é obter lucros, os atos gratuitos são atos através dos quais
se atribuiu uma prestação sem contrapartida; mais à frente reconhece que há atos
gratuitos que se inserem na capacidade da sociedade.
• Escola de Lisboa: podem fazer o que não seja limitado por: lei, estatutos, bons
costumes/natureza das coisas e deliberações sociais;
• Atendendo à letra da lei, a capacidade das sociedades está dependente do seu fim social (art.
6º);
• Deve atender-se às limitações operadas pela 2ª parte do preceito: não se aplicam, não
obstante, ato em concreto;
• Se o fim da sociedade é a repartição dos lucros, significa que o que se pretende é a obtenção de
lucros para os sócios. Este ato, assim, preenche os requisitos, estando dentro da capacidade da
sociedade.
• O objeto social, porquanto, tendo em conta o artigo 6º/4, não condiciona a capacidade da
sociedade, o que significa que, eventualmente, o critério que poderia ser limitador desta
capacidade, na verdade, não o é. Esta irrelevância do objeto traduz, efetivamente, a perda de
importância do princípio da especialidade.
• Problema: os sócios não podem dispor livremente sobre os bens da sociedade, uma vez que o
património da sociedade é uma esfera jurídica autónoma (princípio da separação);
• As decisões são tomadas em assembleia geral, não tomadas pelos sócios livremente,
sem que se verifique a convocação destas reuniões (art. 373º por via do artigo 189º do
CSC);
Pergunta 3 - O negócio do vinho alvarinho está a correr bastante bem aos irmãos Arneiro, que sonham
agora em lançarem-se na exportação. Para o efeito, a VitArneiro, SA. necessita de contrair um
financiamento bancário, o que exige a constituição de uma hipoteca. Todo o património imobiliário
(incluindo os hectares de vinha) é propriedade da Solar Arneiro, Lda.. Para além disso, António
necessita de um financiamento pessoal que exige igualmente a constituição de uma garantia real. Em
Assembleia Geral, a sociedade Solar Arneiro, Lda. deliberou, nos termos do art. 246.o/2 c), constituir
as hipotecas voluntárias necessárias à garantia do cumprimento das obrigações a assumir pela
VitArneiro, SA. e por António. O notário, porém, recusa-se a lavrar a escritura porque entende que se
violou o disposto no art. 6º do CSC. Quid juris?
• Doação: as doações não são verdadeiramente desinteressadas, por forma a que o consumidor final
seja compelido a ganhar confiança nas sociedades; construção de reputação; só caso a caso se
consegue perceber se está dentro do fim mediato;
• A VitArneiro S.A necessidade de contrair um empréstimo e, em consequência, constituir uma hipoteca
como garantia desses empréstimo;
• António tem necessidade de contrair um empréstimo e, em consequência, constituir uma hipoteca
como garantia desses empréstimo;
• A hipoteca, em princípio, será constituída sobre um bem que pertence ao património da Solar Arneiro,
Lda.;
• 1º Questão: que órgão, da sociedade, tem competência para deliberar a constituição de uma garantia
real, sobre o seu património, a favor de um terceiro?
o Corresponde com o enunciado no art. 246º/2/c), tendo em conta o disposto no artigo 373º/1
(os sócios deliberam em assembleia geral).
• 2ª questão: pode, a sociedade, constituir garantias reais a favor de um terceiro?
o O artigo 6º/3 dispõe que se considera contrário ao fim da sociedade a prestação de garantias
reais (é o caso da hipoteca) - de modo a estar dentro da capacidade, teria de respeitar estes
requisitos;
o Com duas exceções, em consonância com o disposto no próprio nº1, já que nestes casos se
afigura como necessária ou útil ao fim: (i) interesse próprio da sociedade garante; (ii) ou se se
tratar de sociedade em relação de domínio ou de grupo;
• O segundo requisito não se encontra preenchido: pelo menos, não há dados no caso que permitam
concluir pelo seu preenchimento.
• No caso do primeiro requisito, estamos a falar de situações em que a constituição de uma garantia
se mostre objetivamente apta a satisfazer o desejo de todo o sócio enquanto tal de obter lucros
através dessa mesma sociedade.
• Problema: a sociedade é que define o justificado interesse próprio para a admissão; as exceções são
de tal ordem que consomem a regra (MC);
• Jurisprudência: o interesse pode ser indireto - um estabelecimento comercial que garanta dividas por
força de uma política de boas relações cumpre este critério de justificado interesse próprio;
• No caso da constituição de garantia a favor da sociedade VitArneiro, pelo simples motivo de ser
constituída pelos mesmos sócios, não é razão suficiente para sustentar o preenchimento destes
requisitos.
• Cenário alternativo: poderia admitir-se interesse próprio se, eventualmente, e tendo em conta que o
Solar do Arneiro Lda. é proprietário dos hectares de vinha, existisse um contrato de arrendamento do
espaço e, para honrar e garantir o cumprimento das prestações fosse necessária a constituição de
um empréstimo.
• No caso da constituição de garantia a favor do sócio, não se configura que exista uma interesse
próprio da sociedade, para efeitos de preenchimento do requisito constante do art. 6º/3;
• Cenário alternativo: a empresa está numa situação em que não é aconselhável contrair mais divida,
mas o sócio se predispõe a contrair, ele próprio, essa divida e a injetar os ativos na empresa, pode
configurar-se uma situação admissível de constituição da hipoteca;
• Não há relações de domínio ou de grupo: há um grupo de facto - Prof. A. Antunes; Ana Perestrelo de
Oliveira sobre os grupos de sociedade;
• Apesar de não ser um grupo jurídico, parece existir um grupo de fcto: mesma estrutura acionista,
mesma organização, mesmos sócios.
• O Prof. MC alarga o art. 6º/3 aos grupos de facto.
• Consequências: a deliberação será nula. MC pelo art. 56º/1/c) CSC. Restante doutrina vai pelo art.
56º/1/d).
• Quem é que deve provar o interesse próprio da sociedade: MC e acórdãos do STJ, quem invoca a
nulidade tem o ónus de provar a falta de interesse próprio; Coutinho de Abreu e Osório de Castro,
quem pretende manter a garantia é que tem de provar o interesse da sociedade (inversão do ónus da
prova);
• Prestar garantias independentemente da posição no grupo: PA entende que sim; Osório de Castro
entende que apenas possa a sociedade mãe/sociedade dominante ou sociedade diretora.
• Se se entender que a constituição das garantias viola o disposto no art. 6º CSC: então, o notário tem
razão e a constituição da garantia configura-se como nula, por violação de preceito imperativo.
Pergunta 4 - Uma conhecida publicação da área do turismo e lazer fez uma reportagem sobre o Solar
do Arneiro. A reportagem em causa era bastante desfavorável ao empreendimento e divulgava dados
incorretos, alguns deles completamente falsos... A sociedade Solar Arneiro, Lda. moveu uma ação
contra a referida publicação, pedindo a condenação da mesma no pagamento de indemnização por
violação do direito ao bom nome e à imagem, a fixar nos termos do artigo 496º/3 do CC. A e B, moveram
igualmente uma ação contra a publicação, pedindo uma indemnização por violação dos seus direitos
de personalidade. Quid juris?
Teses intermédia
® Professor António Menezes Cordeiro, Capelo de Sousa, Mota Pinto: Têm direitos de personalidade.
Estes derivam do facto da lei criar uma personalização (a pessoa coletiva), como tal devem ser-lhe
reconhecidos todos os direitos de que dispõem e que são coerentes com a sua natureza. O professor
acrescenta que a atribuição dos direitos de personalidade a pessoas coletivas deve verificada caso a
caso, tendo em conta aspetos inerentes à prossecução dos seus fins.
® Artigo 484º e 6º/1: direito ao bom nome e à honra. O direito à imagem apenas relativamente a uma
pessoa singular.
Teses contra:
® Professor Oliveira Ascensão e Prof. P. Pais de Vasconcelos: Não têm direitos de personalidade –
seriam, no máximo titulares de direitos pessoais. O professor reconhece que a lei é muito clara:
reconhece a proteção a indivíduos, dos quais se excluem as pessoas coletivas. De facto, direitos de
personalidade (per si considerados) não são inseparáveis da pessoa singular e, por isso, não podem
pertencer à pessoa coletiva. A extensão dos direitos de personalidade às pessoas coletivas teria como
consequência o esvaziamento do fundamento ontológico da figura.
® Contudo, cabe salientar que a pessoa coletiva dispõe de direito ao nome e à reputação, devido à sua
natureza, mas estes não podem ser tidos no aglomerado dos direitos de personalidade. Esta
aplicação, no entanto, só pode radicar num raciocínio analógico e nunca numa aplicação direta.
Teses intermédias:
® Admissão dos direitos de personalidade na medida em que a sua violação acarrete danos de natureza
patrimonial.
® Filipe Albuquerque Matos pronunciou-se pelo reconhecimento apenas de danos patrimoniais indiretos
em pessoas coletivas, decorrentes da violação do crédito ou do bem nome destas. Segundo este A.
“[a]penas são ressarcíveis os danos comummente designados «danos patrimoniais indiretos»,
ou seja, os prejuízos patrimoniais decorrentes da violação de bens ou valores, em si mesmos, não
patrimoniais, entre os quais cumpre destacar o bom nome e o crédito.”. Prejuízos como desgostos,
vexames, entre outros serão, na sua opinião, “prejuízos absolutamente inseparáveis da personalidade
singular”
Aceitando a titularidade de direitos de personalidade, parece que as pessoas coletivas podem “lançar
mão” das providências adequadas para prevenir ou atenuar uma ofensa ilícita a um direito de personalidade,
conforme estipulado nos termos do art. 70º/2 CC e dos arts. 1474º e 1475º CPC.
No que respeita à tutela dos direitos dos sócios, apenas seria admissível, em termos abstratos, se se
registassem danos em ambas as esferas jurídicas. Admitir que a pessoa coletiva é titular de direitos de
personalidade implica entender que são entendes distintos das pessoas singulares que a integram, razão pela
qual uma ofensa dirigida a uma pessoa coletiva é feita a essa pessoa e não, em princípio, aos sócios.
Caso contrário, estar-se-ia a verificar uma situação dupla responsabilização pelo mesmo dano; e, ainda, a
circunstância de um ente requerer uma indemnização pela violação de um direito de que não é
verdadeiramente titular.
Pergunta 5) Os credores da Solar Arneiro, Lda. estão com enormes dificuldades em obter a satisfação
dos seus créditos. António e Bento refugiam-se na autonomia patrimonial da sociedade para não pagar.
Poderão os credores da sociedade ter esperança em que o vasto património dos sócios seja chamado
a satisfazer as dívidas sociais?
® Frutas, Lda: sociedade por quotas, cujo regime se encontra previsto nos arts. 197º e ss. do CSC;
o Este tipo societário, por quotas, encontra-se regulada nos artigos 197º e ss. Do
Código das Sociedades Comerciais;
o No que respeita às obrigações sociais, nos termos do artigo 197º/3, confirma-se que só o
património social responde por estas; nos termos do nº1, os sócios são solidariamente
responsáveis pelas obrigações de entrada convencionadas;
o Na eventualidade: as partes podem ter, em contrato, derrogado a regra constante do artigo
197º/1 e 3, estipulando que, para além do sócio responder nos termos do nº1, responde até
certo montante pelas obrigações sociais, seja em regime de subsidiariedade, seja em regime
de solidariedade.
® Doação anónima a uma ONG ambiental: ato de um sócio
o A realização de uma doação constituiu um ato gratuito, pelo que, em termos gerais, situam-
se fora do objeto social e fora da capacidade;
o O objeto social (fim imediato) encontra-se previsto no art. 11º do CSC: neste caso, parece
poder entender-se que o fim imediato da sociedade Frutas, Lda. (sociedade por quotas – arts.
197º e ss. do CSC) tem como objeto social o escoamento das frutas produzidas pelos
sócios.
o A capacidade, por sua vez, representa o fim mediato: o fim mediato da sociedade é a
obtenção de lucro.
o Resulta, do disposto no art. 6º/4, que a sociedade não está limitada pelo seu objeto social:
no que concerne às doações, nos termos do art. 6º/3, estas admitem-se desde que se
considerem ainda caberem dentro do fim mediato (dentro do interesse lucrativo da
sociedade).
o Neste caso em concreto não parece ser possível concluir pelo interesse lucrativo da
sociedade, uma vez que a doação é anónima, o que significa que está, inevitavelmente, fora
do objeto social e fora da capacidade.
o Fala em sócio – logo, estamos perante uma deliberação: a deliberação será nula. MC pelo
art. 56º/1/c) CSC. Restante doutrina vai pelo art. 56º/1/d).
® Constituição de uma hipoteca sobre a sede: garantia de uma dívida de Armando, de compra de
uma moderna máquina agrícola para a sua exploração;
o Dispõem os arts. 6º/4 e 3 que, ainda que não se encontrando dentro do objeto social, a
validade do ato pode estar garantida, se este se situar dentro da capacidade da sociedade.
o Apelando aos critérios previstos no art. 6º/3, esta situação verifica-se sempre que a
constituição de garantias respeita a um dos seguintes critérios: constitua interesse próprio da
sociedade garante a garantia daquele crédito; ou se se tratar de sociedade em relação de
domínio ou de grupo;
§ De facto, como tem vindo a salientar a doutrina, a sociedade é que define o que possa
ser ou não interesse próprio, o que significa que, em última instância, basta-lhe
justificar que o há para que seja suficiente. Pode dizer-se que esta solução, que
pretende ser excecional, se concretiza na consumpção da regra geral – sendo
excecional, afinal, as situações em que a constituição de uma garantia real é
insuportavelmente inaceitável.
§ Neste caso, uma vez que a constituição da garantia real tem como finalidade garantir
o crédito do Sócio – constituído na compra de um trator agrícola -, parece que se
consegue justificar a existência do interesse próprio. A aquisição do trator tem como
finalidade a maior produção dos bens, o que, em última instância, beneficia a
sociedade (na medida em que se garantem mais bens para escoamento).
o É ato praticado pela sociedade, que está fora do objeto, mas dentro da capacidade:
eficazes, salvo terceiro de má fé [desconhecimento com culpa da violação do objeto da
sociedade, pelo ato: art. 260º/2 e 3, com exigências de publicidade face à necessidade de
tutela do tráfego jurídico].
§ Coutinho de Abreu e Osório de Castro, quem pretende manter a garantia é que tem
de provar o interesse da sociedade (inversão do ónus da prova);
® Presume-se que as partes quiseram adotar a forma legal de uma sociedade por quotas, tendo
em conta a denominação adotada (artigo 200º/1 do CSC);
o Este tipo societário, por quotas, encontra-se regulada nos artigos 197º e ss. Do Código
das Sociedades Comerciais;
o No que respeita às obrigações sociais, nos termos do artigo 197º/3, confirma-se que só
o património social responde por estas; nos termos do nº1, os sócios são solidariamente
responsáveis pelas obrigações de entrada convencionadas;
2º: a natureza do registo em direito das sociedades comerciais – o registo como tendo eficácia
constitutiva;
® Resulta do art. 5º que o registo é condição essencial para a aquisição de personalidade jurídica:
o registo, no âmbito societário, é constitutivo, pelo que há que recorrer ao respetivo registo
comercial e, no mesmo ato, solicitar à Conservatória que promova (a expensas da sociedade) as
publicações legais obrigatórias, com a finalidade de se divulgar a existência da nova sociedade
e o teor do respetivo contrato (art. 5º e 166º CSC + arts. 3º/a), 15º, 17º e 70º/1/a) e 2 e 71º do C.
R. Comercial).
® O registo deve ser efetuado no prazo de dois meses a contar da data de celebração do contrato
– art. 3º/a) e 15º do CRC.
® Previsto no art. 36º: está em causa a existência de um projeto iminente à celebração do contrato,
ainda que ainda não celebrado – facto é que estamos numa fase mais preliminar, ou seja, ainda
anterior à celebração do próprio contrato;
o Conforme refere o Prof. Menezes Cordeiro, de facto, ainda que o CSC não preveja um
conceito de sociedade irregular, este tem sido usado pela doutrina para abarcar dois
tipos de realidades, sendo a mais preliminar aquela que se encontra, nesta questão, em
jogo – a sociedade organizada e posta a funcionar independentemente de as partes terem
formalizado qualquer contrato de sociedade.
o Neste caso, a aplicação do art. 36º convoca uma distinção: podemos estar numa
situação puramente material, ou seja, a que consta do nº1 e que prevê as situações em
que não existe qualquer acordo entre os participantes; ou, por outro lado, podemos estar
perante a situação constante do nº2, ou seja, existir um acordo tendente à constituição
de uma sociedade comercial, mas sem que se tenha celebrado o contrato de sociedade.
o Este regime, em especial a solução que consta do nº1, tem como fundamento as regras
gerais da tutela da aparência: trata-se de uma mera organização societária a qual, por
ser percetiva por terceiros, surgiria como uma aparência; na linha do Prof. Menezes
Cordeiro, revelar-se-ia como injusto não tutelar os terceiros que com esta aparência
negociassem.
o Para o funcionamento destas regras há que relembrar: (1) a existência de confiança
objetivamente justificada; (2) os confiantes apenas merecem tutela se estiverem de boa
fé (conceção subjetiva ética) – desconhecerem, sem culpa, a natureza meramente
aparente da sociedade.
® Se estivéssemos perante o caso do nº1, que não parece ser a situação, dado que existe um
projeto de sociedade que apenas não foi formalizado em contrato, a solução seria que as partes
que intervêm nesta aparência respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações contraídas
por qualquer uma delas.
o Menezes Cordeiro: critica a solução legal – entende que há uma distinção drástica entre
os regimes aplicáveis à sociedade aparente e à sociedade material, que não tem
justificação pelo prisma dos terceiros (em ambas as situações, os terceiros estão
convictos da existência da sociedade, desconhecendo, no entanto, se existe ou não
intenção de celebrar, no futuro, o contrato de sociedade);
§ Problema: o regime das sociedades civis é mais adequado e pode assegurar
níveis de tutela superior, já que os credores sociais têm uma situação de privilégio
perante os bens da sociedade e em relação aos credores pessoais dos sócios
(art. 999º do CC); ainda, existe sempre responsabilidade pessoal e solidária dos
sócios, pelas dívidas da sociedade, embora não se deva descurar o benefício da
excussão prévia dos bens da sociedade (art. 997º/1);
§ Assim, defende que o disposto no nº1 deve ser reduzido, aplicando: (1) a
responsabilidade solidária, pelos danos causados; (2) as regras das sociedades
civis puras;
® Ao estarmos, ao que parece, no caso previsto no nº2, dispõem a lei que: tem aplicação o regime
das sociedades civis (aquelas que, em função das circunstâncias, tenham aplicação, com
as necessárias adaptações).
o Esta solução legal teve origem na doutrina suíça;
§ Pinto Furtado: o preceito configura uma invalidade de forma, operando, em
função disso, uma conversão ope legis de uma sociedade comercial de facto em
sociedade civil;
§ Menezes Cordeiro: não é mera invalidade de forma, já que do preceito resulta –
(1) se for acordada constituição, que parece induzir à possibilidade de fazerem,
posteriormente, os ajustes necessários; (2) a lei trata o processo como uma
incompletude, tanto que, conforme resulta do argumento anterior, a lei não exige
que o projeto esteja completo;
o O objetivo desta solução legal é garantir a possibilidade de início de atividade, sob o
regime das sociedades civis puras.
§ No que respeita ao acordo: entende o Prof. Menezes Cordeiro que basta um
acordo muito simples e incipiente, não sendo necessária a promessa de
celebração do contrato de sociedade definitivo (dado que a própria lei não prevê
tal requisito). É suficiente, entende o Sr. Prof., um minimum de elemento, ou
seja, basta a indicação das partes e a determinação da atividade comum em
causa.
o Em concreto, a aplicação conduz a que (997º do CC):
§ Pelas obrigações sociais responde a sociedade e, pessoal e solidariamente, os
sócios;
§ Os sócios podem, no entanto, invocar o benefício da excussão prévia e exigir
que, em primeiro lugar, responda o património da sociedade pelas dívidas;
® Pode perguntar-se qual a natureza da sociedade que consta do art 36º/2 – se civil; se
comercial;
o Menezes Cordeiro entende que não pode ser comercial: implicaria uma inobservância
das valorações constantes do art. 1º/2, em si, injustificada; as partes podem, ainda, nem
ter acordado no tipo de sociedade a constituir;
§ A situação globalmente considerada deve, no entanto, ser considerada como
comercial, e os atos como comerciais, em nome e por conta da “sociedade”.
Motivo: garantir que os eventuais litígios possam ser resolvidos pelos
tribunais de comércio.
(iv) 5 anos depois, é requerida judicialmente a nulidade do contrato, sendo apontado como fundamento
o número insuficiente de sócios. Quid juris?
® A propósito das invalidades que podem recair sobre a constituição das sociedades (cfr. art. 42º)
o Prof. Menezes Cordeiro menciona o princípio do favor societas que pretende ilustrar, tendo em
conta a importância das sociedades e as relações já estabelecidas com terceiros, uma opção do
legislador para delimitar a incidência e os efeitos destas invalidades;
o Esta opção é especialmente visível na: limitação dos casos de nulidade, legitimidade para
arguir, prazo para arguir, modos de sanar a invalidade, limitações dos efeitos,
inoponibilidade a terceiros, etc.
® Situação de nulidade por força do contrato de constituição cfr. art. 42º/1/a) CSC;
® A ação pode ser intentada nos termos do art. 44º: no prazo de três anos a contar do registo, no
caso da legitimidade prevista no art. 44º/1; pelo ministério público a qualquer momento (cfr.
44º/2);
o Há, no entanto, que em primeiro lugar interpelar a sociedade para sanar o vício, quando
seja sanável; só 90 dias após a interpelação se pode interpor a ação;
o Entrada da sociedade em liquidação (art. 52º/1), nos termos do art. 165º, com
determinadas particularidades;
o Regra básica: os negócios não são afetados, na sua eficácia, pela declaração de
nulidade ou anulação do contrato social – desde que (de acordo com MC) (1) não incorra
em qualquer fundamento de invalidade e (2) o terceiro esteja de boa fé quanto à
invalidade de que enferme a constituição da sociedade. Não exoneração dos sócios cfr.
art. 52º/4.
CASO PRÁTICO 4
António e Bento, no passado mês de Janeiro, constituíram por escrito particular uma SPQ e promoveram
diligentemente o seu registo definitivo. A sociedade tem um capital social de € 50.000,00 tendo metade sido
realizado em dinheiro por António e a outra metade em espécie, por Bento, mediante a transmissão para a
sociedade de um prédio rústico avaliado em € 25.000,00.
Em inícios de Março, a sociedade contraiu um empréstimo hipotecário em ordem à aquisição da sua sede
social no valor de € 100.000,00.
Quinze dias depois, Bento dá-se conta que, afinal, não tinha vendido o seu terreno à sociedade de António
mas antes tinha com ele constituído uma sociedade, coisa que nunca desejara e António bem sabia. Em carta
dirigida a este, Bento invoca a anulabilidade do contrato por erro vício. António responde que pouco lhe
importa, já que o contrato de sociedade é nulo.
® As partes quiseram adotar a forma legal de uma sociedade por quotas, tendo de adotar a firma
prevista no artigo 200º/1 do CSC;
o Este tipo societário, por quotas, encontra-se regulada nos artigos 197º e ss. Do Código
das Sociedades Comerciais;
o No que respeita às obrigações sociais, nos termos do artigo 197º/3, confirma-se que só
o património social responde por estas; nos termos do nº1, os sócios são solidariamente
responsáveis pelas obrigações de entrada convencionadas;
® Capital social mínimo: não existe um valor necessário de capital social mínimo, sendo este
livremente fixado e correspondendo à soma das participações sociais dos sócios (art. 201º CSC);
® Três fases: (1) momento da celebração do contrato; (2) registo; (3) publicações obrigatórias.
Registo constitutivo:
® Resulta do art. 5º que o registo é condição essencial para a aquisição de personalidade jurídica:
o registo, no âmbito societário, é constitutivo, pelo que há que recorrer ao respetivo registo
comercial e, no mesmo ato, solicitar à Conservatória que promova (a expensas da sociedade) as
publicações legais obrigatórias, com a finalidade de se divulgar a existência da nova sociedade
e o teor do respetivo contrato (art. 5º e 166º CSC + arts. 3º/a), 15º, 17º e 70º/1/a) e 2 e 71º do C.
R. Comercial).
® O registo deve ser efetuado no prazo de dois meses a contar da data de celebração do contrato
– art. 3º/a) e 15º do CRC.
® Invocação da nulidade:
o Inobservância da forma legalmente exigida: seria necessário documento particular
autenticado ou escritura publica;
o Assim: estamos perante uma situação em que se verifica inobservância da forma
legalmente exigida para o contrato de sociedade – artigo 42º/1/e);
§ A ação pode ser intentada nos termos do art. 44º: no prazo de três anos a contar
do registo, no caso da legitimidade prevista no art. 44º/1; pelo ministério público
a qualquer momento (cfr. 44º/2);
§ No caso de a declaração de nulidade ser procedente, nos termos do art. 52º, dá-
se a liquidação da sociedade (art. 165º);
® Invocação do erro:
o Apenas poderia ser invocado antes do registo definitivo da sociedade: artigo 41º/1,
sendo apenas oponível aos sócios (art. 41º/2);
Correção do Caso
Entradas: art. 26º; subscrição é vinculação a uma realização futura; a realização é o efetivo pagamento do
valor da entrada;
® As partes quiseram adotar a forma legal de uma sociedade por quotas, tendo de adotar a firma
prevista no artigo 200º/1 do CSC;
o Este tipo societário, por quotas, encontra-se regulada nos artigos 197º e ss. Do Código
das Sociedades Comerciais;
o No que respeita às obrigações sociais, nos termos do artigo 197º/3, confirma-se que só
o património social responde por estas; nos termos do nº1, os sócios são solidariamente
responsáveis pelas obrigações de entrada convencionadas;
® Capital social mínimo: não existe um valor necessário de capital social mínimo, sendo este
livremente fixado e correspondendo à soma das participações sociais dos sócios (art. 201º CSC);
® Três fases: (1) momento da celebração do contrato; (2) registo; (3) publicações obrigatórias.
o Neste caso, não havendo indicação de informações que permitissem concluir por
forma mais exigente como necessária, parece ser de concluir pelo escrito particular
como bastante;
Registo constitutivo:
® Resulta do art. 5º que o registo é condição essencial para a aquisição de personalidade jurídica:
o registo, no âmbito societário, é constitutivo, pelo que há que recorrer ao respetivo registo
comercial e, no mesmo ato, solicitar à Conservatória que promova (a expensas da sociedade) as
publicações legais obrigatórias, com a finalidade de se divulgar a existência da nova sociedade
e o teor do respetivo contrato (art. 5º e 166º CSC + arts. 3º/a), 15º, 17º e 70º/1/a) e 2 e 71º do C.
R. Comercial).
® O registo deve ser efetuado no prazo de dois meses a contar da data de celebração do contrato
– art. 3º/a) e 15º do CRC.
® O registo no, entanto, não foi ainda efetuado, razão pela qual cabe aplicar, em termos de
responsabilidade, as regras que se inserem na categoria das sociedades irregulares, de criação
doutrinária, e que têm em vista a regulação da responsabilidade da sociedade, neste caso,
quando já constituída, mas não registada;
® Não parecem sobrepor-se dúvidas acerca deste ato: localiza-se dentro do fim social, ou seja,
da capacidade e, igualmente, dentro do objeto social, uma vez que a aquisição do stock é
fundamental para a entrada em funcionamento da garrafeira. Logo, não se colocam problemas
de capacidade.
o Não é de aplicar o art. 36º, uma vez que já estamos perante uma sociedade constituída;
apenas não se encontra, esta sociedade, registada.
o Assim, e tendo por base o facto de estarmos perante uma sociedade por quotas,
aplicando o art. 40º, compreendemos que a responsabilidade, antes do registo, é
ilimitada e solidária e cabe a todos aqueles que agiram em representação da
sociedade, inclusive os sócios que expressamente autorizaram;
o Uma vez que há indicação que o registo já foi promovido, cabe aplicar o art. 19º,
percebendo quais os efeitos que este pode produzir na responsabilidade da sociedade:
o Pela dívida de 155000€ responde a sociedade, nos termos gerais, ficando derrogada
a regra constante do art. 40º;
o Em primeiro lugar, há que distinguir a natureza da divida: de facto, não está em causa
uma divida pela aquisição do espaço, mas sim uma dívida pelo pagamento de rendas; a
propriedade do imóvel foi adquirida pelos sócios em nome próprio e não pela sociedade;
o Não é de aplicar o art. 36º, uma vez que já estamos perante uma sociedade constituída;
apenas não se encontra, esta sociedade, registada.
o Assim, e tendo por base o facto de estarmos perante uma sociedade por quotas,
aplicando o art. 40º, compreendemos que a responsabilidade, antes do registo, é
ilimitada e solidária e cabe a todos aqueles que agiram em representação da
sociedade, inclusive os sócios que expressamente autorizaram;
o Uma vez que há indicação que o registo já foi promovido, cabe aplicar o art. 19º,
percebendo quais os efeitos que este pode produzir na responsabilidade da sociedade:
§ Neste caso, não se enquadrando este contrato em nenhuma das alíneas do art.
19º/1, cabe aplicar o art. 19º/2: a responsabilidade da sociedade só se verifica,
com os efeitos constantes do art. 19º/1 e 3, se o contrato em causa for assumido
por decisão da administração, que deve ser comunicada ao advogado nos 90
dias posteriores ao registo;
o Não é de aplicar o art. 36º, uma vez que já estamos perante uma sociedade constituída;
apenas não se encontra, esta sociedade, registada.
o Assim, e tendo por base o facto de estarmos perante uma sociedade por quotas,
aplicando o art. 40º, compreendemos que a responsabilidade, antes do registo, é
ilimitada e solidária e cabe a todos aqueles que agiram em representação da
sociedade, inclusive os sócios que expressamente autorizaram;
o Uma vez que há indicação que o registo já foi promovido, cabe aplicar o art. 19º,
percebendo quais os efeitos que este pode produzir na responsabilidade da sociedade:
o Não é de aplicar o art. 36º, uma vez que já estamos perante uma sociedade constituída;
apenas não se encontra, esta sociedade, registada.
o Assim, e tendo por base o facto de estarmos perante uma sociedade por quotas,
aplicando o art. 40º, compreendemos que a responsabilidade, antes do registo, é
ilimitada e solidária e cabe a todos aqueles que agiram em representação da
sociedade, inclusive os sócios que expressamente autorizaram;
o Uma vez que há indicação que o registo já foi promovido, cabe aplicar o art. 19º,
percebendo quais os efeitos que este pode produzir na responsabilidade da sociedade:
§ Neste caso, não se enquadrando este contrato em nenhuma das alíneas do art.
19º/1, cabe aplicar o art. 19º/2: a responsabilidade da sociedade só se verifica,
com os efeitos constantes do art. 19º/1 e 3, se o contrato em causa for assumido
por decisão da administração, que deve ser comunicada ao advogado nos 90
dias posteriores ao registo;
Resolução:
Honorários: previstos no art. 16º/1 do CC. Os honorários não precisavam de ficar mencionados
no contrato de sociedade; no entanto, são assumidos automaticamente pela sociedade
(19º/1/a)). Só vai ser exigido depois da própria constituição.
2. Celebração do contrato de sociedade: sociedade irregular, ainda não registada, mas já constituída
(art. 40º);
3. Celebração do contrato de fornecimento no momento em que a sociedade ainda já estava constituída,
mas não estava registada; o E não anuiu na celebração deste contrato;
4. Depois do registo: carta p/ pagamento dos honorários; o registo vem, ou não, modificar a exigência
de pagamento;
CASO PRÁTICO 6
Em setembro de 2012, é constituída a sociedade Cookies & Cream, Lda., cujo objeto social, nos
termos dos estatutos, é a produção e comercialização de pastelaria e gelados. O capital social é de € 147
500. Nos termos do contrato ficou convencionado que:
(i) O sócio Cavalo Branco, Lda. contribuía com o arrendamento de um prédio no Rossio, avaliado
pelo ROC em € 70 000, e ficava com uma quota equivalente a esse valor.
(ii) O sócio Sebastião, chef profissional e amante da doçaria, comprometia-se a pôr a sua arte ao
serviço da sociedade e ficava, por isso, dispensado de qualquer outra entrada. A sua contribuição foi
avaliada em € 20 000, valor atribuído à sua quota.
(iii) O sócio Manuel, proprietário de um café́ que agora iria encerrar, cedia à sociedade a sua
posição num contrato de prestação de serviços de limpeza, em condições razoavelmente
favoráveis, tendo esta contribuição sido avaliada em € 7 500. Esse era também o valor da sua
quota.
(iv) O sócio Sancho, que no momento atravessava dificuldades de tesouraria, entrava com um crédito
sobre um seu cliente no valor de € 10 000, que foi avaliado, todavia, em apenas € 5 000. Contudo,
ficava com uma quota no valor de €10 000.
(v) O sócio Afonso entrava em dinheiro: € 5 000. Uma vez que, ao contrário dos outros, se limitou a
financiar a sociedade, sem ter qualquer intervenção na conceção do projeto, teve de aceitar ficar com
uma quota de apenas € 2 500. Em todo o caso, conseguiu uma vantagem: apenas teria de realizar a
entrada dali a um ano.
(vi) O sócio Gonçalo, proprietário de uma galeria de arte, entrava com € 10 000 (valor da quota) mas,
pouco depois, a sociedade adquiriu-lhe um quadro pelo qual pagou € 10 000.
(vii) O sócio Rodrigo subscrevia uma quota de € 20 000, a realizar em dinheiro quando a sociedade
necessitasse de fundos.
(viii) O sócio Bartolomeu pagava € 7 500 em dinheiro (valor da quota), o que lhe renderia juros mensais
a uma taxa equivalente à Euribor.
Quid juris?
® As partes quiseram adotar a forma legal de uma sociedade por quotas, tendo de adotar a firma
prevista no artigo 200º/1 do CSC;
o Este tipo societário, por quotas, encontra-se regulada nos artigos 197º e ss. Do Código das
Sociedades Comerciais;
o No que respeita às obrigações sociais, nos termos do artigo 197º/3, confirma-se que só o
património social responde por estas; nos termos do nº1, os sócios são solidariamente
responsáveis pelas obrigações de entrada convencionadas;
® Capital social mínimo: não existe um valor necessário de capital social mínimo, sendo este
livremente fixado e correspondendo à soma das participações sociais dos sócios (art. 201º CSC);
® A obrigação de entrada é uma obrigação que incumbe a todos os sócios (art. 20º/a CSC); é
uma obrigação, conforme relembra, o Sr. Prof. Menezes Leitão, para com a sociedade e não
dos sócios para com os demais sócios.
o O tipo de entrada é definido no contrato de sociedade nos termos do art. 9º/g) e h), seja em
termos quantitativos, seja em termos qualitativos.
§ Podem ser objeto das entradas em espécie os bens penhoráveis (art. 735º/1 do
CPC, necessariamente conjugado com o art. 736º que enumera os bens
absolutamente impenhoráveis). Não obstante esta referência deve ser
interpretada fundando um sentido distinto: tendo em conta com o art. 7º da 2ª
Diretiva (relativa somente às sociedades anónimas) estatuiu que o capital
subscrito só pode ser constituído por elementos ativos suscetíveis de avaliação
económica. Significa, então, que mesmo que os bens não sejam suscetíveis de
penhora, mas sejam suscetíveis de avaliação económico, são havidos como
contribuições em espécie admissíveis de avaliação económica.
§ As entradas em espécie estão sujeitas a uma avaliação pelo ROC, tendo em conta
o facto do seu valor não ser facilmente apreensível pelo leigo na matéria. A este
relatório deve ser dada publicidade (art. 28º/5 e 6). Estas são regras imperativas
que nem mediante acordo admitem afastamento.
o No que respeita às entradas em espécie: a lei não impõe restrições (art. 28º/1), apenas
indicando que basta que se tratem de bens materiais ou que sejam facilmente realizáveis,
sendo que do art. 20º/a) se infere que sejam bens suscetíveis de penhora.
o Não são admitidas entradas em indústria, assim o dispõe o art. 202º. Estas apenas são
admitidas nas sociedades em nome coletivo (arts. 176º e 178º). Art. 20/a)/in fine.
§ Sócios de indústria: 178 – não vem a sua prestação computada como uma quota
no capital social.
§ Art. 27.
o É uma entrada em espécie (art. 20º/a). Resulta, do art. 25º/1, que o valor nominal/valor da
quota não pode exceder o valor real (entenda-se, o valor que resulta da avaliação, no caso
das entradas em espécie, feita pelo ROC nos termos do art. 28º).
§ Podem ser objeto das entradas em espécie os bens penhoráveis (art. 735º/1 do
CPC, necessariamente conjugado com o art. 736º que enumera os bens
absolutamente impenhoráveis). Não obstante esta referência deve ser
interpretada fundando um sentido distinto: tendo em conta com o art. 7º da 2ª
Diretiva (relativa somente às sociedades anónimas) estatuiu que o capital
subscrito só pode ser constituído por elementos ativos suscetíveis de avaliação
económica. Significa, então, que mesmo que os bens não sejam suscetíveis de
penhora, mas sejam suscetíveis de avaliação económico, são havidos como
contribuições em espécie admissíveis de avaliação económica.
§ As entradas em espécie estão sujeitas a uma avaliação pelo ROC, tendo em conta
o facto do seu valor não ser facilmente apreensível pelo leigo na matéria. A este
relatório deve ser dada publicidade (art. 28º/5 e 6). Estas são regras imperativas
que nem mediante acordo admitem afastamento.
o Trata-se de um crédito. É uma entrada em espécie (art. 20º/a). Resulta, do art. 25º/1, que
o valor nominal/valor da quota não pode exceder o valor real (entenda-se, o valor que resulta
da avaliação, no caso das entradas em espécie, feita pelo ROC nos termos do art. 28º).
§ Cessão de crédito: art. 577 e ss.; produção de efeitos nos termos do art. 583;
o É uma entrada em dinheiro. A única limitação em termos de valor nominal e valor real é a
circunstância de o valor nominal (neste caso, 2500€) não ultrapassar o valor real (5000€,
neste caso), o que não se verifica na entrada deste sócio. Uma vez que o valor nominal é
inferior ao valor real, não se configura qualquer problema.
§ Tempo das entradas: permissão geral nos termos do art. 26º - na celebração do
contrato, exceto se a lei admitir alternativas temporais.
§ A lei permite que as entradas sejam realizadas até ao termo do primeiro exercício
económico (art. 26º/2, 199º/b) e 202º/4º - a contar da data do registo definitivo
da sociedade, art. 26º/2). No entanto: até esse termo, cada sócio pode realizar
tão somente o valor nominal mínimo da quota fixado por lei (199º/b), ou seja, 1€
(art. 219º/3).
o Indicação de que o sócio Gonçalo, faria uma entrada em dinheiro (10000€). Problema é o
de saber se é admissível compensação da dívida do sócio (obrigação de entrada) para com
a sociedade com a dívida da sociedade para com o sócio (compra e venda do quadro). Nos
termos do art. 27º/5 a compensação só é admissível nos termos do art. 27º/4 – não
configurando, esta, uma situação do nº4, não se admite, consequentemente, a
compensação.
§ Surge, então, a possível aplicação do art. 29º: note-se, no entanto, que estamos
perante uma sociedade por quotas, razão pela qual não cabe aplicar este
preceito, que só se aplica às sociedades anónimas e às sociedades em
comandita por ações.
o É uma entrada em dinheiro. A única limitação em termos de valor nominal e valor real é a
circunstância de o valor nominal (neste caso, 2500€) não ultrapassar o valor real (5000€,
neste caso), o que não se verifica na entrada deste sócio. Uma vez que o valor nominal é
inferior ao valor real, não se configura qualquer problema.
§ Tempo das entradas: permissão geral nos termos do art. 26º - na celebração do
contrato, exceto se a lei admitir alternativas temporais.
§ A lei permite que as entradas sejam realizadas até ao termo do primeiro exercício
económico (art. 26º/2, 199º/b) e 202º/4º - a contar da data do registo definitivo
da sociedade, art. 26º/2). No entanto: até esse termo, cada sócio pode realizar
tão somente o valor nominal mínimo da quota fixado por lei (199º/b), ou seja, 1€
(art. 219º/3).
o É uma entrada em dinheiro. A única limitação em termos de valor nominal e valor real é a
circunstância de o valor nominal (neste caso, 2500€) não ultrapassar o valor real (5000€,
neste caso), o que não se verifica na entrada deste sócio. Uma vez que o valor nominal é
inferior ao valor real, não se configura qualquer problema.
® Há que computar sempre, no final, o capital social da sociedade. Qual o sócio majoritário.
A ideia estava, de facto, próxima da genialidade: Alberto era um cozinheiro de mão cheia, e
propunha-se a confecionar os seus famosos carapaus à espanhola em doses industriais; Bernarda
entrava com uma patente de que era titular, relativa a um novo processo de produção e conservação de
escabeche de tomate e cebola, de valor “claramente superior a € 20.000”; Carlos entrava com um
pavilhão industrial, avaliado em € 30.000; Diana e Edmundo eram os amigos capitalistas: cada um
entraria com € 20.000 em dinheiro. Estavam lançados os dados para a constituição de uma sociedade
anónima!
Depois de uns problemas com o notário, decidiram que Alberto, afinal, entrava com um
equipamento industrial de cozinha e embalagem, que comparara para o seu restaurante, por € 15.000,
e que estava por estrear, mas para manterem o equilíbrio, decidiram que cada um dos sócios ficaria com
ações no valor de € 20.000.
O notário parece não gostar de Alberto e levantou novamente algumas questões jurídicas. Alberto
lá aceitou entrar com € 10.000 em dinheiro.
1. Quais terão sido os problemas suscitados pelo notário em relação à primeira ideia destes
cinco empreendedores?
® As partes quiseram constituir uma sociedade anónima, regulada nos arts. 271º e ss. do Código
das sociedades Comerciais;
® A responsabilidade, neste tipo de sociedades, é limitada ao valor das ações subscritas;
® Está respeitado, refira-se desde já, o número mínimo de sócios, nos termos do art. 274º/1;
® O montante mínimo do capital social é 50000€;
® O primeiro problema resulta, desde logo, da entrada de Alberto: nos termos do art. 277º/1, nas
sociedades anónimas não são admitidas entradas em indústria, ou seja, entradas com base em
prestações de facere, razão pela qual esta entrada, conforme formulada, encontrar-se-ia desde
logo ferida de nulidade (regime geral da nulidade – art. 291º do CC). Art. 20/a)/2.ª parte.
® O que é o capital social: art. 9/1/f) e 14º.
o No limite, poderia considerar-se uma prestação acessória (art. 287º), devendo haver
sempre, note-se, entrada em dinheiro;
o Entradas em indústria não computadas para capital social (art. 9º/1/f);
o Porque não é um know-how? Problema da fungibilidade: o cozinheiro vai transmitir o
know how à sociedade, não; vai, ele próprio, fabricar os pratos. Era ele próprio que iria lá
cozinhar.
® Relativamente à entrada em espécie: art. 28º/1, necessidade de um relatório elaborado por um
revisor oficial de contas sem interesses na sociedade, que atribua um valor à entrada;
o Não basta mencionar que corresponde a um valor claramente acima de...; tem de ser
feita uma avaliação objetiva do valor económico da entrada;
§ As entradas em espécie estão sujeitas a uma avaliação pelo ROC, tendo em conta
o facto do seu valor não ser facilmente apreensível pelo leigo na matéria. A este
relatório deve ser dada publicidade (art. 28º/5 e 6). Estas são regras imperativas
que nem mediante acordo admitem afastamento.
o Admissibilidade das entradas em espécie: podem ser objeto das entradas em espécie
os bens penhoráveis (art. 735º/1 do CPC, necessariamente conjugado com o art. 736º
que enumera os bens absolutamente impenhoráveis). Não obstante esta referência deve
ser interpretada fundando um sentido distinto: tendo em conta com o art. 7º da 2ª
Diretiva (relativa somente às sociedades anónimas) estatuiu que o capital subscrito só
pode ser constituído por elementos ativos suscetíveis de avaliação económica. Significa,
então, que mesmo que os bens não sejam suscetíveis de penhora, mas sejam suscetíveis
de avaliação económico, são havidos como contribuições em espécie admissíveis de
avaliação económica.
® Haveria ainda que notar, nos termos dos arts. 9º/g) e 25º, que é sempre necessária menção ao
valor nominal de cada quota, não bastando a menção ao valor real;
® Notar, ainda, que a nulidade da entrada de A levaria à redução do número de sócios de 5 para
4, o que poria em causa o cumprimento do regime constante do art. 574º/1; consequentemente,
o contrato de sociedade, art. 42º/1/a), não estaria respeitado o número mínimo de sócios
necessários à constituição a sociedade;
2. Quais terão sido os problemas suscitados pelo notário quanto à reinvestida dos cinco
amigos?
® Em termos quantitativos, a entrada traduz-se, ainda, numa dupla apresentação: valor nominal e
valor real. O valor nominal é o valor da participação social a que ela corresponde (neste caso, o
valor da quota) – nos termos do art. 25º/1 este não pode exceder o valor real/entrada. O valor
real consiste na cifra, em dinheiro, em que a entrada se traduz pecuniária ou valor dos bens que
implique.
o Se o valor da entrada (valor real) exceder o valor da participação social (quota) atribuída
ao sócio: considera-se acima do par. Nessa situação, funciona o prémio de subscrição,
prémio de emissão ou ágio, que passa a integrar as reservas (art. 295º/2/a) e 295º/3/d)
CSC).
o Não poderia, no entanto, nunca exceder o valor real da entrada: significa, então, que
o limite de valor nominal da entrada seria sempre 15000€, uma vez que só nestes termos
o valor nominal da entrada não ultrapassaria o valor real desta.
o Necessidade de redução, por violação do disposto no art. 25º: redução nos termos
gerais do Código Civil. Subcapitalização.
® Relativamente à entrada de Carlos: conforme resulta do art. 295º/2/a) e 3/d), a diferença entre
o valor nominal (neste caso, 20000€) e o valor real (30000€), no caso das entradas em espécie,
deve constituir o ágio ou prémio de emissão, passando a integrar as reservas da sociedade;
o Ou entrega no ato da constituição;
o Ou está obrigado à entrada em dinheiro: art. 25º/4.
o 875º - forma mais exigente.
® Somadas as quotas: capital social de valor 95000€ - logo superior ao mínimo legal permitido.
3. Que questões jurídicas devem ser analisadas a propósito das entradas estipuladas pelos
cinco sócios? E em relação ao negócio celebrado entre a sociedade e Diana e Edmundo?
® Convencionou-se, então, que Alberto faria uma entrada em dinheiro - tempo das entradas:
permissão geral nos termos do art. 26º - na celebração do contrato, exceto se a lei admitir
alternativas temporais.
§ 30% relativo ao valor total do capital social. Até 70% é o valor global do capital
social.
o Neste caso, o sócio realizou menos 30%: realizou apenas 10% do capital social
subscrito, razão pela qual está a violar o disposto nas regras especiais aplicáveis à
sociedade anónima.
§ Clausula nula: ou o sócio acorda em realizar, desde logo, pelo menos 30% ou
(3000€) ou não poderá entrar com apenas 1000€ sob pena de nulidade.
§ Está em causa uma condição (incerto sobre se alguma vez irá poder), o que viola
o disposto no mesmo preceito. O prazo máximo é de 5 anos. Assim, mediante
vontade do sócio, poderia equacionar-se uma redução/conversão daquela
dimensão da clausula, passando de condição, a termo (necessidade de pagar o
remanescente 70% em 5 anos).
• Entrada já exigível: 777º/1 -> sócio no valor de 1000€.
o Se não concordar: não chega a adquirir o estatuto de sócio, não contribui com a
respetiva obrigação de entrada, razão pela qual não é contabilizado para efeitos de
capital social – 0€.
o Se aceitar: 20000€.
o Se não: 0€.
o Surge, então, a possível aplicação do art. 29º: neste caso, admitir-se-ia a aplicação por
estamos perante uma sociedade anónima; a aquisição do camião, assim, deveria ser
previamente aprovada por deliberação da assembleia geral;
• O contravalor dos bens deve exceder 2% do capital social (se for igual
ou superior a 50000€ euros) ou 10% do capital social (se inferior a
50000€);
§ Nota: a deliberação exige a avaliação dos bens, nos termos do art. 28º, ex vi
29º/3, não exercendo o direito de voto aquele a quem o bem esteja a ser
adquirido.
® As partes quiseram constituir uma sociedade anónima, regulada nos arts. 271º e ss. do Código
das sociedades Comerciais;
® A responsabilidade, neste tipo de sociedades, é limitada ao valor das ações subscritas;
® Está respeitado, refira-se desde já, o número mínimo de sócios, nos termos do art. 274º/1;
o Só são mencionados 4 sócios: nulidade vs dissolução administrativa.
® O montante mínimo do capital social é 50000€;
® Neste caso, o espectro de análise é o aumento do capital: insere nas situações de variação de
capital, que implica aumentos e reduções, e que consubstancia alterações contratuais, na
medida em que implicam a modificação do elemento fundamental de referência da
responsabilidade da sociedade perante terceiros e credores (capital social).
o Art. 9/1/f): o capital social é elemento necessário do contrato de sociedade, sob pena de
nulidade do próprio contrato (art. 42º/17b)). Daí que se compreenda, naturalmente, o
aumento e a redução de capital como vicissitudes de alteração do contrato.
o O principio da alterabilidade, tendo em conta estarem em causa relações contratuais
duradouros, assegura assim a possibilidade de as partes se desvincularem ou alterarem
as obrigações assumidas. É este princípio que se contra plasmado nos arts. 85º e ss.
o Maioria: dois terços (85.º/6 e 386.º/3).
(i) Emanuel, que no passado cedera os direitos de exploração comercial da música “Confessa o teu amor” à
CS por € 15 000, mas nunca chegara a cobrar o preço, pretende agora ficar quite com a sociedade, já que se
comprometeu no aumento do capital a contribuir com € 15 000.
o Quanto à prestações acessórias: não há informação sobre a previsão no estatuto social; não
estando, é uma prestação acessória espontânea.
o Contrato de suprimento: o prejudicado essencial seria o próprio sócio, enquanto último a ser
pago; não pode exigir garantias;
§ Por aumento por novas entradas: acréscimo de meios para a sociedade. Se for
entrada em espécie tem de ser avaliada em espécie (art. 28).
§ Relativamente a estas formas de aumento de capital: notar, tão somente, que são
aplicáveis as regras que respeitam às obrigações de entrada (arts. 20º e ss.) – art.
89º/1.
® Compensação por aumentos de capital: esclarecer, tão somente, que E (sócio) tem um crédito
sobre a sociedade (CS S.A. é devedora de 15000€ a E) e a sociedade tem um crédito sobre E (E é
devedora de 15000€ em virtude de comprometimento de aumento de capital social);
o Requisitos:
§ Não exclusão, pela lei, da compensação: exemplo dos créditos excluídos, pelo CC,
da compensação (853º/1), como sejam os créditos provenientes de atos ilícitos
dolosos, os créditos impenhoráveis e os créditos do Estado.
o Problema: o art. 27º/5 vem proibir, expressamente, as entradas com créditos sobre a
sociedade como forma de cumprir as obrigações de entrada e, ainda, como forma de
cumprimento da obrigação de aumento de capital.
® A extinção da obrigação de entrada com fundamento na compensação é nula, por força da violação
de um preceito imperativo, a que corresponde o art. 27º/5.
(ii) Marante foi mais esperto: entregou à sociedade os € 15 000 a que se comprometera por ocasião do
aumento, e promoveu o pagamento pela CS de uma dívida antiga, de € 15.000, resultante da venda de uma
mesa de misturas em 2005.
• Fraude à lei, forma indireta de realização de uma compensação, não admissível, em geral, para as
obrigações decorrentes de aumento de entrada;
• Problema do art. 29: saber se se poderá aplicar extensivamente; no entanto, a dívida já existia logo
não parece ser possível aplicar agora;
(iii) Em 2011, perante novas necessidades de financiamento, Emanuel e Marante decidiram ligar a Marco e
Paulo, os outros dois sócios da CS, invocando uma cláusula do contrato segundo a qual os sócios poderiam
deliberar que lhes fossem exigidas contribuições adicionais, até € 50 000, em dinheiro, que não venceriam
juros. Marco e Paulo não se recordavam desta cláusula e duvidam da sua legalidade. Recusam-se, por isso,
a pagar. Em consequência, Emanuel e Marante ameaçam expulsá-los da sociedade.
(iv) Em 2012, já com a CS em declínio, Emanuel decidiu emprestar € 125 000 à sociedade, mas exigiu a
constituição por esta de uma hipoteca sobre um imóvel de que era titular, para garantir a obrigação de
reembolso. Num esforço paralelo para a salvar, também em 2012, Marante decidiu vender os direitos de
exploração do seu recente sucesso musical “Som de Cristal”. O diretor financeiro da CS prometeu pagar-lhe
imediatamente, mas agora trata Marante com evasivas. Este, no entanto, telefona e escreve quase
semanalmente para a CS, exigindo a cobrança do seu crédito.
® Contrato de suprimento:
o Encontra-se tão somente regulado para efeitos de sociedade por quotas: neste onto, a
experiência alemã distingue entre acionista empresário e acionista investidor;
§ Raul Ventura:
§ Menezes Cordeiro: os suprimentos não são excecionais nem assentam em razões
exclusivamente reportadas à SPQ; assim, verificar-se-ão na SA quando (i) o pacto
social os preveja; (ii) quando as partes o estipulem; (iii) quando, no terro, surja um
crédito que exerça, materialmente, a função do suprimento.
• Contribuição de capital – acionista ordenado como autor desta.
• A solução dos 10% (mínimo para poder fazer o contrato de suprimento) não
é justa, na ótica de Menezes Cordeiro.
o E, que é sócio: exige a constituição de uma garantia – hipoteca sobre um imóvel.
o Artigos 243º e ss: relativos aos termos em que é admissível o contrato de suprimento – sócio
empresa à sociedade dinheiro ou outra coisa fungível, ficando aquela obrigada a restituir outro
tanto do mesmo género e qualidade, ou pelo qual o sócio convenciona com a sociedade o
diferimento do vencimento de créditos seus sobre ela, desde que, em qualquer caso, o crédito
fique tendo caráter de permanência.
o Proibição da hipoteca: art. 245º/6 – nulas as garantias reais prestadas pela sociedade
relativas a obrigações de reembolso de suprimentos. Necessidade de redução das
clausulas do contrato de suprimento – art. 292º, de modo a prever tão somente o
suprimento e não a garantia real.
§ Não aceitando o sócio nesses termos: a clausula seria nula (291º) logo não parece
admitir-se a produção de efeitos. Inválido, assim, o “empréstimo do sócio à
sociedade”.
o Mútuo normal: Emanuel pretendeu desqualificar, entendendo estarmos perante um mútuo
normal;
® Evasivas: quanto tempo podem demorar; caso do marante
o Não devem ser aplicadas as regras do suprimento, não se verificando os indicies (243/4);
(v) Em 2013, Emanuel alienou o seu crédito de € 125 000 a Romana, que não é sócia da CS. Em 2014, esta
requereu a declaração de insolvência da CS.
® A sociedade tem uma dívida para com E: transmissibilidade desse crédito – revela uma cessão de
créditos.
o Está em causa a transmissão de um crédito proveniente de um contrato de suprimento:
o crédito de suprimentos é transmissível nos termos gerais dos arts. 577º/1 e ss; quando seja
transmitido a um não socio mantém, não obstante, a precisa qualidade que tinha inicial –
como tem autonomia, transmite-se independentemente da quota. Transmissão de um
crédito com todas as suas características.
o Aplicando-se o mesmo regime, nem se poderia tentar fugir à regra que consta do art. 245º/2
– devendo este ser interpretado no sentido da impossibilidade de requerer, por esses créditos,
a declaração de insolvência.
o Outra consequência: decretada a insolvência, os suprimentos só são reembolsados depois
de pagos os créditos de terceiros, não sendo admissível a compensação de créditos da
sociedade com os de suprimentos (art. 245º/3).
CASO PRÁTICO 9
A sociedade Velocidade Fatal, S.A., constituída com um capital social de 100.000 €, tem vindo a
diminuir consideravelmente as suas vendas, em virtude da difícil conjuntura do mercado, a ponto de, em Abril
de 2013, os administradores ficarem sem saber o que fazer perante as contas do exercício, que demonstram
que o capital próprio da sociedade era pouco mais de € 30 000. Quid juris?
® As partes quiseram constituir uma sociedade anónima, regulada nos arts. 271º e ss. do Código
das sociedades Comerciais;
® A responsabilidade, neste tipo de sociedades, é limitada ao valor das ações subscritas;
® Está respeitado, refira-se desde já, o número mínimo de sócios, nos termos do art. 274º/1;
® O montante mínimo do capital social é 50000€;
® Problema jurídico prende-se com a perda de mais de metade do capital social (capital
inicial era de 100000€ enquanto que, por ora, é tão somente de 30000€).
o A perda de metade do capital social encontra-se regulada no art. 35.º do CSC;
o A perda de metade do capital social implica, nos termos do art. 35.º/2, que o capital
própria da sociedade seja inferior ou igual a metade do capital social (neste caso, o capital
próprio é de 30000€ enquanto metade do capital social corresponde a 50000€, razão
pela qual se deve considerar uma situação destas).
§ Por capitais próprios deve entender-se: capital social, reservas de ágio, as
prestações dos acionistas, a reserva legal, as reservas livres e outras rubircas.
o Nos termos do n1 os administradores devem requerer prontamente a convocação da
assembleia geral de acionistas, com o objetivo de informar os sócios da situação e de
estes tomarem as medidas julgadas mais convenientes.
o Nos termos do art. 35/3, devem os sócios deliberar, pelo menos, sobre os pontos que
constam desse mesmo preceito.
® Consequência de nada ter sido deliberado
o De facto, a menção no art. 35º/3 não exige que algum dos pontos tenha que ser
aprovado;
o Menezes Cordeiro, a este propósito refere o desaparecimento a dissolução automática,
enquanto uma das consequências na versão anterior da perda de metade do capital
social;
§ A este propósito, o Prof. Propõe que a única solução seja a responsabilidade
civil dos administradores para com a sociedade, nos termos do art. 72º/1
quando este se refere a omissões, e para com os credores sociais (art. 78º/1).
§ Há sempre a ressalva da publicitação da perda, nos termos do art. 171º/2 (deve
remeter para o 528/2 – termos da responsabilidade, o crime compensa), à qual
MC não reconhece qualquer utilidade, referindo, inclusive, que serve de incentivo
a que a situação piore;
§ Norma inconsequente - Art. 523 por remissão de 35!!! – tem de ser também ao
n2; responsabilização relativamente ao dever que incumbe à convocação;
o Coutinho Abreu, a este propósito, menciona que o art. 35º não garante aos credores
sociais que as sociedades com perdas graves hão-de fazer algo para debelar a situação;
§ Se não for debelada: art. 171º/2 – as sociedades por quotas, anónimas e em
comandita por ações devem indicar em atos externos o montante do capital
próprio segundo o último balanço aprovado, sempre que este for igual ou inferior
a metade do capital social.
® Participação das perdas
o Todo o sócio é obrigado a quinhoar nas perdas – exceto os sócios de indústria (art. 20/d)),
não admitidos nas sociedades anónimas; art. 22/3 – em termos proporcionais;
§ Ver Coutinho Abreu - circunstâncias dos sócios de indústria.
§ Art. 22/1 e 2: participação nas perdas nos termos da proporção de
participação de cada sócio;
§ Proibição dos pactos leoninos. Deve ser sempre uma proibição material. Deve
ser sempre objeto de proibição por interpretação extensiva – não reduzir os lucros
de tal maneira que fique prejudicado um direito aos lucros.
• O sócio está a dispor para o futuro de determinadas vantagens que ainda
poderá ter. Nulidade da renúncia antecipada a direitos e doação não
abranger direitos futuros (809/1) – na ótica de Menezes Cordeiro.
§ Consequências
• MC: está em causa um negócio totalmente distorcido, razão pela qual só
a conversão lhe será aplicável;
• Restante doutrina: redução, a sociedade pode existir sem a cláusula
viciada;
o Esta obrigação não é uma obrigação por dívidas sociais nem para com a sociedade,
antes se configura como uma obrigação que determina que todo o sócio corre o risco de
perder, total ou parcialmente, o investimento feito como contrapartida da aquisição de
uma participação social naquela sociedade.
o Ou seja: não é assegurado ao sócio que, quando saia da sociedade ou quando esta seja
extinta, receba o reembolso, integral ou parcial, da entrada ou investimento efetuados.
CASO PRATICO 10
a) Os sócios da sociedade Livros Antigos, Lda. deliberam por unanimidade distribuir a totalidade
dos lucros do exercício pelos sócios. Quid juris?
® Todo o sócio tem o direito de distribuir/quinhoar os lucros (art. 21º/1/a), ou seja, cada sócio tem
o poder de exigir parte dos lucros quando os mesmos sejam distribuídos. Lucros como direito
fundamental.
o Há que fazer a distinção entre o direito abstrato aos lucros (direito de quinhoar nos
lucros, enquanto direito integrante da participação social) e direito concreto aos lucros
(direito de crédito a quota-parte dos lucros já distribuídos).
o Nulidade do pacto leonino: é nula a clausula que, nos termos do art. 22º/3, exclui um
sócio da comunhão nos lucros (por inerência, deve entender-se que também o será a
deliberação com o mesmo conteúdo – art. 56º/1/d), 411º/1/c)).
o Desrespeito pelo art. 33/1 – 56/1/d) nulidade.
® Lucro: é um ganho traduzível em incremento do património da sociedade;
o Lucro de balanço: acréscimo patrimonial, revelado em balanço, equivalente à diferença
entre, por um lado, o valor do património social líquido e, por outro lado, o valor conjunto
do capital social e das reservas indisponíveis (reservas legais e estatutárias). Marca o
limite máximo dos bens que podem ser distribuídos aos sócios (art. 32º).
o Lucro de exercício: excedente do valor do património social líquido no final do exercício
ou período sobre o valor do património social líquido no início do mesmo período. Nem
todo o lucro de exercício pode ser distribuído – o lucro de exercício distribuível tem de
ser, antes de mais, conter-se ou estar compreendido no lucro de balanco.
o Reserva legal com um limite mínimo de 2500€ (218 CSC).
® Quanto à distribuição de lucros de exercício: atender aos arts. 217º e 294º;
o Não é admissível a distribuição total dos lucros de exercício: dos lucros de exercício só
é distribuível o montante que caiba dentro dos lucros de balanço (art. 33/1 do CSC).
o Não são lucros do exercício distribuíveis: aqueles que sejam necessários para cobrir
prejuízos transitados de períodos anteriores ou para formar/reconstituir reservas
impostas por lei (arts. 218º e 295º) ou pelo estatuto social (art. 33º/1).
o Art. 295: reserva legal.
b) Noutro ano, decidem, por maioria simples, realizar um elevado investimento, empregando para
o efeito todos os lucros obtidos. Quid juris?
• Bule com o art. 217/1: neste caso, o investimento, pressupõe a não distribuição de nenhum dos
lucros;
• Para que tal fosse possível, seria necessário uma maioria de três quartos.
• Anulável nos termos do art. 58/1/a).
c) Poderiam ser distribuídos lucros durante o exercício?
• Está em causa o problema da antecipação dos lucros – distribuição dos lucros durante o
exercício
o Este encontra-se previsto é admissível, para as sociedades anónimas, nos termos dos
arts. 297.º;
o Pergunta-se, neste contexto, se é admissível uma antecipação dos lucros para as
sociedades por quotas
§ Paulo Olavo Cunha: entende que não podemos aplicar analogicamente as regras
excepcionais; permitiria estes adiantamentos poderia conduzir a uma
subcapitalização da sociedade, que justificaria a proibição da analogia por razões
de ordem pública;
§ Pedro País de Vasconcelos: nada impede a distribuição antecipada dos lucros;
é uma distribuição do interesse próprio dos sócios e não, propriamente, um
problema de ordem pública; note-se que se exige previsão estatutária (para
proteção de terceiros).
• Há uma lacuna, que justifica uma aplicação analógica: Ana Perestrelo,
Paulo Tarso de Domingues;
d) A cláusula 6º do contrato de sociedade, determina que César não participa nas perdas da
sociedade. Quid juris?
® Participação das perdas
o Todo o sócio é obrigado a quinhoar nas perdas – exceto os sócios de indústria (art. 20/d)),
não admitidos nas sociedades anónimas; é obrigatório e não admite afastamento, nos
termos do art. 22/3, na proporção da sua quota de participação;
o Esta obrigação não é uma obrigação por dívidas sociais nem para com a sociedade,
antes se configura como uma obrigação que determina que todo o sócio corre o risco de
perder, total ou parcialmente, o investimento feito como contrapartida da aquisição de
uma participação social naquela sociedade.
o Ou seja: não é assegurado ao sócio que, quando saia da sociedade ou quando esta seja
extinta, receba o reembolso, integral ou parcial, da entrada ou investimento efetuados.
A sociedade é um contrato aleatório: uma prestação certa e uma prestação incerta. ML crítica esta
natureza concreta do direito aos lucros. Entende que só se concretiza com a deliberação, configurando,
até lá, prestações incertas.
CASO PRATICO 11
Na cláusula 10.ª do contrato da sociedade Expo-Lisboa, Lda., constituída em 2005, com uma duração
de 10 anos e capital social de € 100 000., foi estabelecido que “todos os resultados obtidos pela
sociedade serão levados a reservas, durante a duração da sociedade”.
• Regra geral, as sociedades não se constituem por tempo determinado. Neste caso, foi
constituída por 10 anos.
• As reservas constituem um reforço de capital social formado à custa de bens que a sociedade
vai gerando e que prescinde de distribuir por imposição legal (art. 295 e 296). As reservas podem
ser legais, livres (lucros que podiam ser distribuídos mas não são), reservas estatutárias
(determinação contratual), reservas ocultas (não se encontram na contabilistica).
• Nos termos do art. 217, tem de ser distribuído um x de capital, por imposição legal. Nesta medida,
a alocação absoluta de todos os resultados obtidos implica, consequentemente, uma violação
indireta deste preceito. Não obstante, há que notar a natureza supletiva deste preceito –
havendo uma cláusula contratual, não bule com o art. 217.
• O direito aos lucros é um direito fundamental dos sócios, uma vez que é a causa da participação
na sociedade. Equacionar possível violação da proibição de pacto leonino: é nula a clausula
que, nos termos do art. 22º/3, exclui um sócio da comunhão nos lucros (por inerência, deve
entender-se que também o será a deliberação com o mesmo conteúdo – art. 56º/1/d), 411º/1/c)).
• Solução (Prof.): ponderação dos interesses em jogo, tendo em conta, em especial, o facto de a
sociedade ter sido constituída por 10 anos (equacionar anos terminais dos sócios). Se os sócios
prorrogarem a “vida da sociedade” de forma unânime a duração do contrato, não seria
equacionável uma argumentação contra a clausula, prevalecendo a autonomia das partes; já se
houvesse pronuncias contra, outro seria o cenário a considerar – eventualmente, não vinculação
do sócio à cláusula.
(ii) Poderia uma cláusula deste tipo ser introduzida nos estatutos através de alteração ao
contrato?
• Art. 85. O lucro é renunciável, desde que, em concreto, após a aquisição pelo sócio do direito a
determinando dividendo. Art. 265/1: maioria qualificada de três quartos.
• Doutrina mais conservadora: exige a verificação de aprovação por unanimidade.
• Interpretação extensiva do art. 86/2 – para este caso. Admissível. Para proteção e solução mais
justa.
(iii) Considerando que, em relação ao exercício de 2011, foram apurados € 50000 de resultados
positivos mas que transitaram do exercício anterior resultados negativos de € 30 000, haveria
lucros a distribuir em 2012, caso todos os sócios concordassem em alterar a cláusula 10.ª?
(iv) A resposta seria a mesma se, durante o ano de 2012, a gerência verificasse que maquinaria
essencial para o projeto, avaliada em € 500 000, se perdera definitivamente num acidente, e
que este dano não estava coberto por qualquer seguro?
• Aplicação do art. 33/2. Deve, assim, ser usadas as reservas disponíveis para cobrir. Não
existiriam lucros para distribuir.
• Não cumprimento pelos membros da administração da deliberação: 31/2/a) > sob pena de
violação dos deveres de lealdade e de cuidado > art. 32
o Não aplicação do art. 31/1/b) > não há deliberação.
o 32/1 (montante que deveria estar na reserva + capital social).