Psi Educacional
Psi Educacional
Psi Educacional
pt
Documento produzido em 07-04-2012
2011
E-mail:
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RESUMO
INTRODUÇÃO
Atualmente, sabe-se que a Psicologia possui vários campos de atuação, alguns mais
estabelecidos, enquanto outros estão em um processo de desenvolvimento. No entanto, no
contexto brasileiro, ainda permanece a idéia de que o profissional psicólogo é aquele que atende
MATERIAL E MÉTODO
Os dados foram levantados a partir de uma revisão assistemática da literatura com algumas
obras da área da Psicologia Escolar/Educacional1 existentes. Propõe-se uma reflexão sobre a
1
Muitos autores divergem quando se referem aos termos Psicologia escolar e Psicologia educacional. Uns
consideram que a Psicologia Escolar e Educacional juntas fazem parte de uma área específica da psicologia. Outros
história da Psicologia escolar e sua consolidação a partir de trabalhos teóricos e empíricos que
abordam essa área da Psicologia. Para tanto, foram revisadas algumas obras importantes na área
como Costa, Souza e Roncaglio (2003), Guzzo (2002), Marinho-Araújo e Almeida (2005), Patto
(1997) e alguns artigos mais recentes, publicados na área. Nesse sentido, não se pretende realizar
uma revisão sistemática da literatura, mas sim discutir como alguns autores têm compreendido a
psicologia escolar e sua prática, mostrando como, no decorrer da história, a Psicologia
escolar/Educacional tem se diferenciando do seu nascimento, encontrando-se em um campo
ainda em consolidação.
De acordo com Patto (1997), a história da psicologia do Brasil divide-se em três grandes
períodos. O primeiro, de 1906 a 1930, foi marcado por um modelo europeu, cujo enfoque estava
nos estudos de laboratório, sem intervir na realidade. O segundo período, de 1930 a 1960,
distinguiu-se pelo tecnicismo americano, marcado pelos testes psicológicos voltados para o
diagnóstico, predição e controle. Já o terceiro momento, a partir de 1960, caracteriza-se pela
postura adaptacionista do psicólogo, quando este se preocupava em solucionar problemas de
aprendizagem e comportamento.
A partir de 1970, com a promulgação da lei nº 5.692, houve a ampliação do sistema
educacional, efetivando a expansão da escola obrigatória e gratuita. Com isso, houve um aumento
significativo de alunos advindos das mais diversas realidades socioculturais. Assim, com o
crescimento do número de alunos, a diversidade nas formas individuais de aprendizagem e de
comportamento demandou a atuação do psicólogo na escola, já que as intervenções pedagógicas não
supriam as necessidades (Barbosa& Marinho-Araújo, 2010; Guzzo et al, 2010; Marinho-Araújo &
Almeida, 2005).
A demanda específica de enfrentamento ou resolução de situações problemas no contexto
escolar para o psicólogo fez com que surgisse a figura do psicólogo escolar ou educacional. Esse
profissional especializado tinha como tarefa avaliar e tratar o aluno, através de seu arcabouço
teórico, visando a prevenção de desajustes para adequada condução de comportamentos ajustados
socialmente. A psicologia normatizadora era a base para a atuação do psicólogo escolar
(Marinho-Araújo & Almeida, 2005).
Nesse sentido, durante um considerável tempo, permaneceu a idéia de que o profissional de
psicologia, no contexto escolar, apenas media as capacidades dos alunos com testes, mostrando
autores mencionam que a Psicologia Educacional refere-se à produção de conhecimentos psicológicos que se
direcionam a educação, enquanto a Psicologia Escolar se direciona aplicação dessas correntes teóricas junto à
comunidade escolar (BARBOSA; MARINHO-ARAÚJO, 2010). No presente artigo considera-se que as duas áreas
não podem ser separadas, assim, será utilizado o termo escolar/educacional.
os aptos e não aptos para a aprendizagem, excluindo crianças (Andrada, 2005). Os testes, os
laudos e diagnósticos passaram a tomar lugar como prática do psicólogo escolar, explicando aos
familiares e aos professores os motivos do fracasso escolar de determinado aluno. Utilizando
essas técnicas, o psicólogo, retirava alunos da sala para “readaptá-lo”, corrigir seu fracasso,
colocando toda a responsabilidade no aluno, seja por ele fracassar, seja para ele ter sucesso
(Andrada, 2005; Barbosa & Marinho-Araújo, 2010; Guzzo, 2002; Guzzo et al., 2010).
Desta forma, percebe-se que a postura avaliativa e psicodiagnóstica da segunda fase,
descrita por Patto (1997), associava-se com a perspectiva adaptacionista da terceira fase.
Segundo Marinho-Araújo e Almeida (2005), esta perspectiva contribuiu para validar posições
ideológicas, vinculadas com a prática de dominação, discriminação e exclusão, tratando os
problemas escolares de forma adaptativa e remediativa, com ênfase no ajustamento. O
individualismo era priorizado pela psicologia escolar nessa época, as intervenções eram focadas
em ações exclusivas com o aluno, desconsiderando a instituição e suas relações sociais.
Esta visão da psicologia escolar reverberava na forma como era conduzida a formação do
psicólogo, principalmente até meados da década de 80. Por exemplo, os conteúdos ministrados
nas primeiras turmas de psicólogos da Universidade de São Paulo na disciplina de Psicologia
Escolar focavam os problemas de aprendizagem com atenção voltada ao aluno. Assim, as
disciplinas examinavam problemas escolares com as especialidades de psicologia do
desenvolvimento infantil, psicologia da aprendizagem, testes e medidas psicológicas. Isso
concretizou uma norma do aprender e do desenvolvimento normal infantil, isto é, o mais
adequado e esperado. Se fugisse desse padrão, o aluno era considerado anormal (Patto, 1997).
No entanto, a partir da década de 80, houve uma ressignificação da atuação do profissional
de psicologia escolar para uma prática voltada ao contexto escolar e suas relações. Opondo-se a
décadas anteriores, quando se privilegiavam os aspectos orgânicos-maturacionais e psicológicos
do aluno e sua família, bem como que apontavam características individuais do professor ou sua
formação como responsáveis por algo que não estava indo bem na escola (Barbosa & Marinho-
Araújo, 2010; Guzzo, 2002; Marinho-Araújo & Almeida, 2005). Isto é, o psicólogo escolar
ressignificou sua prática tornando a escola como sujeito de intervenções. A partir de então, o
objetivo principal da psicologia nesse contexto passou a ser o trabalho na prevenção e promoção
de saúde, de forma a contribuir com a aprendizagem e com relações saudáveis na escola
(Rodrigues, et al. 2008).
situações disfuncionais e facilitar o cumprimento dos objetivos da educação (Costa, Souza &
Roncaglio, 2003). O psicólogo nesse campo de atuação também pode trabalhar com promoção de
saúde, através de intervenções com alunos, pais e professores (Rodrigues, et al. 2008).
O Conselho Federal de Psicologia (CFP), na resolução nº 013/07, reconhece como uma das
especialidades da psicologia a Psicologia Escolar/Educacional e descreve algumas tarefas que lhe
cabe no campo de atuação. Nesse sentido, o psicólogo escolar atuaria no âmbito da educação
formal realizando pesquisas, diagnóstico e intervenção preventiva ou corretiva em grupo e
individualmente. Envolve, em sua análise e intervenção, todos os segmentos do sistema
educacional que participam do processo de ensino-aprendizagem. Nessa tarefa, considera as
características do corpo docente, do currículo, das normas da instituição, do material didático, do
corpo discente e demais elementos do sistema. Em conjunto com a equipe, colabora com o corpo
docente e técnico na elaboração, implantação, avaliação e reformulação de currículos, de projetos
pedagógicos, de políticas educacionais e no desenvolvimento de novos procedimentos
educacionais. No âmbito administrativo, contribui na análise e intervenção no clima educacional,
buscando melhor funcionamento do sistema que resultará na realização dos objetivos
educacionais. Participa de programas de orientação profissional com a finalidade de contribuir no
processo de escolha da profissão e em questões referentes à adaptação do indivíduo ao trabalho.
Analisa as características do indivíduo portador de necessidades especiais para orientar a
aplicação de programas especiais de ensino. Realiza seu trabalho em equipe interdisciplinar,
integrando seus conhecimentos àqueles dos demais profissionais da educação. Para isso realiza
tarefas como, por exemplo:
a) Aplicar conhecimentos psicológicos na escola, concernentes ao processo ensino-
aprendizagem, em análises e intervenções psicopedagógicas; referentes ao
desenvolvimento humano, às relações interpessoais e à integração família-comunidade-
escola, para promover o desenvolvimento integral do ser;
b) Analisar as relações entre os diversos segmentos do sistema de ensino e sua repercussão
no processo de ensino para auxiliar na elaboração de procedimentos educacionais
capazes de atender às necessidades individuais;
c) Prestar serviços diretos e indiretos aos agentes educacionais, como profissional
autônomo, orientando programas de apoio administrativo e educacional;
d) Desenvolver estudos e analisar as relações homem-ambiente físico, material, social e
cultural quanto ao processo ensino-aprendizagem e produtividade educacional;
e) Desenvolver programas visando a qualidade de vida e cuidados indispensáveis às
atividades acadêmicas;
f) Implementar programas para desenvolver habilidades básicas para aquisição de
conhecimento e o desenvolvimento humano;
Dinâmicas: Conforme Militão (1999), dinâmica vem da palavra grega dynamis que
significa força, energia, ação. Muitos estudiosos buscaram através das dinâmicas de grupo
ensinar às pessoas comportamentos novos, discutindo e decidindo em grupo substituindo
métodos tradicionais de transmissão do conhecimento. Através de dinâmicas de grupo se espera
que as pessoas possam desinibir a capacidade criadora, tornando-se mais desenvoltos; aumentar
as transformações no grupo, alterando sua produtividade; aumentar a coesão grupal,
proporcionando um aperfeiçoamento do trabalho coletivo, procurando atingir metas socialmente
desejáveis, aumentando a eficiência, com a fundamentação do conhecimento de leis que regem a
vida dos grupos. Além disso, buscam-se transformações do potencial do grupo, fazendo-o crescer
Grupos Operativos: Segundo Zimerman (2000), o ser humano é gregário e só existe devido
seus inter-relacionamentos grupais. Assim, desde que nascemos participamos de diferentes
grupos na busca constante de uma identidade individual e a necessidade de uma identidade
grupal e social. Um grupo pode ser então, um conjunto de três pessoas, como também uma
família, uma turma ou gangue de formação espontânea, uma composição artificial de grupo (da
classe de escola, ou um grupo terapêutico, uma fila de ônibus; um auditório).
Conforme Osório (2000), os grupos operativos definem-se como grupos centrados na
tarefa, a qual é considerada essencial, assim, o que caracteriza os grupos operativos é a relação
que seus integrantes mantêm com a tarefa e esta pode ser tanto a obtenção da cura (grupo
terapêutico), quanto a aquisição de conhecimentos (grupo de aprendizagem). Para o autor, a
importância de um grupo operativo se dá em função de resolução de situações estereotipadas e
obtenção de mudanças, sendo que todo grupo terapêutico proporciona aprendizagens de relação
com o grupo e um grupo de aprendizagem cria um clima próprio para resolução de conflitos
interpessoais, sendo assim terapêutico. Conforme Osório (1989), o grupo operativo além de ser
um instrumento de trabalho, um método de investigação, ele cumpre uma função terapêutica.
Nos grupos operativos, as pessoas que dele participam aprendem além de pensar, adquirir
conhecimento que os capacita a observar e a escutar, a relacionar as opiniões do outro com suas
próprias opiniões, admitir que o pensamento do outro pode ser diferente do seu e também a
formular hipóteses em uma tarefa de equipe. Paralelamente a isso, os integrantes do grupo
também aprendem a ler e a estudar (Bleger, 1998).
Para Outeiral e Cerezer (2005), na escola, são várias as possibilidades de trabalhos com
grupos, isto é, há várias combinações possíveis: grupo de alunos, professores e também de pais.
Para os autores é de grande importância que se possa trabalhar com esses tipos de grupo dentro
do contexto escolar. Em relação ao grupo que se faz com alunos, esses são fundamentais para
uma “vida escolar” eficiente. São geralmente centrados em uma ou mais tarefas como
relacionamentos dentro da sala de aula, manejo de situações ligadas a limites ou sexualidade.
Já em grupos com professores, esses podem ser realizados com professores de uma mesma
disciplina, de uma série, de uma sala de aula ou que estão em uma mesma atividade de apoio
didático e/ou administrativo. Os grupos com pais podem ser realizados de várias formas, com
temas gerais escolhidos pelos pais e com a ajuda do profissional que coordena o grupo. Podem
ser realizados pequenos grupos para discutir determinados temas ou situações específicas e até
mesmo, grupos de pais, juntamente com professores para discutir temas comuns da comunidade
escolar (Outeiral & Cerezer, 2005).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
fazer, a Psicologia e a Pedagogia buscam novas maneiras de justificar o fracasso escolar sem
implicar a escola no processo de responsabilização e mudanças. Percebe-se, muitas vezes, que
essa ênfase no indivíduo recai sobre o ambiente no qual ele se insere, principalmente sobre a
família e o contexto socioeconômico cultural, na tentativa de desviar o foco da escola.
Pode-se perceber que cada parte envolvida na problemática tenta isentar-se de sua parcela
de “culpa”, deslocando-a para outro. No discurso dos professores evidencia-se que eles
responsabilizam os alunos e suas respectivas famílias por qualquer problema que venha a surgir
em sala de aula, ou até mesmo o governo, por este não valorizar o trabalho dos professores e não
dar verbas para a educação. Por outro lado, a família coloca a razão das dificuldades escolares
nas práticas pedagógicas, dizendo que as professoras não sabem ensinar, que esta é função
unicamente da escola. Tanto escola quanto família por vezes atribuem o fracasso da criança a
esta, num discurso que contempla o inatismo: “nasceu assim, não tem jeito, é hereditário de
família”. Neste contexto, o psicólogo se insere, muitas vezes, tomando o discurso da escola como
seu, entrando com práticas diagnósticas que confirmam a prática escolar, isto é, a escola não tem
o que fazer, uma vez que toda a razão da dificuldade está no aluno e/ou na dinâmica familiar
(Yunes, Garcia & Albuquerque, 2007; Patias, Abaid & Gabriel, 2011).
A formação acadêmica do psicólogo reforça a ênfase no indivíduo na medida em que
muitas teorias psicológicas estão focadas no indivíduo e na sua família, culpabilizando estes (e
principalmente os pais) pelos fracassos ocorridos. Esses aspectos são reproduzidos pelo
psicólogo, pois sua educação também foi determinada e baseada nestes mesmos princípios.
Mesmo que se apontem as dificuldades e os entraves do psicólogo escolar, pode-se pensar
que esta área tem se expandido e criado novos espaços para uma prática diferenciada. O
Psicólogo Escolar/Educacional conta com um arsenal de técnicas e teorias que podem ajudá-lo a
refletir sobre a sua prática e sua postura frente aos problemas humanos. Com estudo e abertura
para o diálogo com outros profissionais, a Psicologia Escolar/Educacional tende a se desenvolver
de forma mais justa e conectada com os preceitos coletivistas e sistêmicos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Bleger J. (1998). Temas de psicologia: entrevistas e grupos. São Paulo: Martins Fontes,
1998.
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Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, 15 (1), 121-129.
Guzzo, R. (org). (2002). Psicologia Escolar: LDB e educação hoje. São Paulo: Alínea.
Lessa, P. V., & Facci, M. G. (2011). A atuação do psicólogo no ensino público do Estado
do Paraná. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, 15
(1), 131-141
Marinho- Araújo, C., & Almeida, S. (2005). Psicologia Escolar: construção e consolidação
da identidade profissional. São Paulo: Alínea.
Outeiral, J., & Cerezer, C. (2005). O mal – estar na escola. 2ª ed. Rio de Janeiro: Revinter.
Patto, M. H. S. (org). (1997). Introdução à psicologia escolar. 3 ed. São Paulo: Casa do
Psicólogo.
Souza, C. S., Ribeiro, M. J., & Silva, S. M. (2011). A atuação do psicólogo escolar na rede
particular de ensino. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e
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