Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Comunicação E Expressão Programa de Mestrado Profissional em Letras - Profletras
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Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Comunicação E Expressão Programa de Mestrado Profissional em Letras - Profletras
Florianópolis
2019
Michela Ribeiro Espíndola
Florianópolis
2019
Michela Ribeiro Espíndola
“DIZE-ME COMO FALAS QUE TE DIREI QUEM ÉS”: CRENÇAS E ATITUDES
LINGUÍSTICAS DE DISCENTES E DOCENTES NO ESPAÇO ESCOLAR
O presente trabalho em nível de mestrado foi avaliado e aprovado por banca examinadora
composta pelos seguintes membros:
Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi julgado
adequado para obtenção do título de mestre em Letras.
____________________________
Prof.(a) Rodrigo Acosta Pereira, Dr.(a)
Coordenador(a) do Programa
____________________________
CPF: 224.489.690-00
Florianópolis, 2019.
À Maria, minha flor de "Liz", que deixou a minha vida em
constante primavera.
AGRADECIMENTOS
Ao amor da minha vida, minha filha, Maria Liz. Toda ausência foi por nós, foi por
ter me tornado tua mãe que o fim desta caminhada, tão sonhada, foi possível.
A Deus, que enviou minha filha para que me desse força, apesar das dificuldades,
para alcançar esta conquista.
A minha mãe, Helena, sem ela, eu seria nada do que sou hoje.
Em especial, ao Prof. Dr. Rodrigo Acosta Pereira, pelo carinho e por ser um exemplo
de professor, obrigada, de coração.
À banca examinadora, por ceder seu tempo, vasto conhecimento e atenção a este
trabalho.
À Prof.ª Drª. Edair Maria Görski, pela simplicidade, compreensão e pelo tanto que
aprendi com suas aulas do jeito mais natural possível, muitíssimo obrigada.
Esta dissertação investiga crenças e atitudes linguísticas de docentes e discentes no espaço escolar a
fim de propiciar um olhar atento sobre a variação linguística e sua fundamental importância no
contexto socioeducacioal. O corpus de análise é constituído de dados coletados a partir da realização
de dois testes, aplicados a docentes e discentes. O locus da pesquisa é uma escola da Rede Municipal
de Ensino de Florianópolis. Os estudos foram norteados pela seguinte questão: como docentes e
discentes avaliam as variedades linguísticas coexistentes no contexto escolar? O embasamento
teórico-metodológico é da Sociolinguística variacionista e, à luz dessa perspectiva, i)são alinhados
alguns conceitos e noções: linguagem, língua, norma e gramática; heterogeneidade e variação
linguística; comunidade de fala e comunidade de prática; avaliação linguística; indicadores,
marcadores e estereótipos; ii) são revisados alguns trabalhos acadêmicos sobre crenças e atitudes
linguísticas e que auxiliam na compreensão em torno do objeto de estudo e na definição dos
dois termos. iii) são revisitados dois documentos parametrizadores, a Proposta Curricular da Rede
Municipal de Florianópolis e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), buscando
evidências sobre como se deu a formação dos docentes que ensinam língua portuguesa;
apresentadas reflexões sobre o papel da escola; sobre a noção de erro linguístico; e um pouco
sobre literatura e variação; iv) é proposta uma metodologia para a análise e descrição dos dados
coletados. Dentre outras constatações, em linhas gerais, concluímos que i) os docentes avaliam de
forma positiva todas as variedades linguísticas circulantes na escola, enquanto os discentes atribuem
status de prestígio apenas à norma culta e, por consequência, àqueles que a dominam, estigmatizando
aqueles que não a dominam; ii) tanto para docentes quanto para alunos, a escrita é superior à fala; iii) a
gramática tradicional deve ser a ditadora de regras para o bem falar e bem escrever; iv) os alunos
enxergam seus professores como superiores por utilizar a norma culta; v) para ambos os grupos, o
jeito de falar de Florianópolis é bonito; vi)o professor de português deve corrigir a fala de seus
alunos.v) para os discentes, as pessoas que dominam a norma culta adquirem status de inteligência e
poder. Os trilhos que guiaram a trajetória do nosso trabalho estiveram sempre entrelaçados a reflexões
pedagógicas, por isso, ao final da dissertação, apontamos possíveis desdobramentos desta pesquisa que
poderiam contribuir para novas práticas pedagógicas.
This dissertation investigates teachers' and students' beliefs and lingüística ttitudes in a school
context. The corpus of analysis consists of data collected from the performance of twotests,
applied to teachers and students. The researchlocusis a city's Municipal Education System of
Florianópolis. The studies were guided by the following question: How do teachers and
students evaluate th ecoexisting linguisticv arieties in the school context? The theoretical-
methodological basis is fromVariationist Sociolinguistics and, in the light of this perspective,
i) some concepts and notions are aligned: discourse, language, normand Grammar; tiro
geneity and linguistic variation; speech community and community of practice; lingüísticas
sessment; indicators, markers and stereotypes; ii) some academic works onl inguistic beliefs
and attitudes are reviewed that help in understanding around the subjecto study and in the
definition of both terms. iii) two parametrizing documents are revisited, the Curriculum
Proposalof Municipal Education System of Florianópolis and the National Curricular
Parameters (PCNs), seeking input on teachers training that makeup the universe of the study;
introduced reflections on the role ofth eschool; about the notion of linguisticerror; and a little
about literature and variation; iv) a methodologyis proposed for the analysis and description
of the collected data. Amongo ther findings, in general terms, we conclude that i) teachers
positively evaluateall language varieties circulating at school, whil estudents assign prestige
status only to standard language and, consequently, to those who dominate it, stigmatizing
those who do not dominate it; ii) for both teachers and students, writingis superior to speech;
iii) traditional Grammar should be the dictator of rules for good speech and good writing; iv)
students see their teachers as superior for using the standard language; v) for both groups,
Florianópolis' way of speaking is beautiful; vi) the Portuguese teacher must correct the speech
of his students. v) for students, people Who máster the standard language acquire the status of
intelligence and power. The paths that guided the trajectoryo four work were alway
sintertwined with pedagogical reflections, so, attheend of the dissertation, we point out
possible developments of thisre search that could contribute to new pedagogical practices.
Keywords: Linguisticbeliefsandattitudes; Linguistic Discriminationand;LinguisticVariation.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Resposta à questão: Preencha o quadro abaixo marcando um X para a(s) qualidade(s) que
você reconhecer em cada uma das personagens: ................................................................................85
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: O português bem falado é aquele
que se aproxima ao apresentado nas gramáticas normativas/ nos livros da escola ............................64
Gráfico 2: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: A língua escrita é mais correta
que a falada ......................................................................................................................................65
Gráfico 3: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Eu falo bem ............................66
Gráfico 4: Respostas dos docentes a respeito da assertiva: Em qualquer situação de vida posso falar
do mesmo jeito. .................................................................................................................................66
Gráfico 5: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Para saber escrever bem é
necessário dominar as regras de ortografia/escrita ...........................................................................67
Gráfico 6: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Os adultos falam melhor que
crianças e jovens...............................................................................................................................68
Gráfico 7: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Para escrever bem, é preciso ler
muito. ...............................................................................................................................................69
Gráfico 8: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Para escrever bem, devo
melhorar meu jeito de falar ...............................................................................................................70
Gráfico 9: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: O bom professor de português
fala sempre de acordo com as regras de gramática ...........................................................................71
Gráfico 10: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: A linguagem dos livros é
sempre melhor e mais bonita do que meu modo de falar ....................................................................72
Gráfico 11: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Para aprender a escrever o
aluno deve aprender a falar como seu professor de Português ..........................................................73
Gráfico 12: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: A escola deve corrigir a fala
dos alunos.........................................................................................................................................74
Gráfico 13: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Para se escrever direito, é
necessário aprender gramática normativa/as regras que trazem os livros da escola ..........................75
Gráfico 14: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Os professores de Português
devem ensinar gramática normativa para que os alunos escrevam bem/as regras apresentadas nos
livros para que escrevam bem ...........................................................................................................76
Gráfico 15: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: O meu jeito de falar é igual ao
das pessoas com quem convivo no lugar onde moro, por isso tenho orgulho do meu jeito de falar .....77
Gráfico 16: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Eu tenho orgulho do meu jeito
de falar porque é igual ao das pessoas do lugar onde nasci...............................................................78
Gráfico 17: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Só há um modo de falar
corretamente: aprender o que a escola ensina...................................................................................79
Gráfico 18: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: O jeito de falar em
Florianópolis é bonito .......................................................................................................................80
Gráfico 19: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Há outras falas mais bonitas
que a de Florianópolis ......................................................................................................................81
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 15
1.1 JUSTIFICATIVA .......................................................................................... 15
1.2 OBJETIVOS.................................................................................................. 18
6 METODOLOGIA ........................................................................................ 57
6.1 O LOCUS DA PESQUISA ............................................................................ 57
APÊNDICE 2 .................................................................................................................. 99
1.1JUSTIFICATIVA
Formei-me, no então segundo grau, no curso de Magistério, e atuei durante dois anos
como docente nas séries iniciais. Já naquele tempo recordava-me das tantas dificuldades que
tinha na escola quando tentava adequar o que escrevia às normas impostas pelos professores,
apesar de ter facilidade para a produção textual. Tal memória viera à tona, a partir do
momento em que me vi obrigada – pois era dessa forma que havia aprendido – a prescrever
regras gramaticais para crianças que estavam aprendendo a ler e escrever e, além disso, ao
perceber nessas crianças o mesmo olhar inquieto diante de conceitos e nomenclaturas que
mais lhes pareciam falar sobre outro idioma que não aquele com o qual se comunicavam.
Diante do ensino tradicional de língua portuguesa no qual estava ancorada a minha
prática, também percebia o quão divergente da forma como os alunos usavam a língua era o
que eu lhes propunha e o tanto que colaborava na manutenção da crença que tinham sobre o
idioma: de que não sabiam português. Como pode um falante da língua se comunicar através
dela e ter a crença de que não a sabe? Saber dessa crença, ter tido essa crença e percebê-la nos
alunos, fez com que eu desejasse buscar uma formação mais aprofundada na minha língua
materna para que pudesse, então, ir por outro caminho de ensino, aquele que quebrasse
crenças equivocadas e, mais ainda, que permitisse tomar atitude para uma mudança no ensino
da língua portuguesa.
Foram necessários muitos anos, passar por uma graduação, momento em que conheci
a linguística e tomei consciência do quão abrangente é o papel do professor de Língua
Portuguesa, por uma especialização na área de leitura e produção textual, e por onze anos de
prática docente nos anos finais do Ensino Fundamental para que, enfim, eu percebesse, no
Mestrado Profissional em Letras, estratégias para tentar um caminho para quebrar certos
paradigmas sobre o ensino e aprendizado da língua portuguesa. Ainda durante o mestrado,
16
senti a incomodação dos meus colegas, atuantes em escolas públicas de diversas regiões de
Santa Catarina e, também, do Rio Grande do Sul, todos, sem exceção, angustiados diante do
processo lento pelo qual as práticas de ensino e de aprendizado procuram se adaptar a novas
metodologias ancoradas em uma real busca pelo desenvolvimento da competência
comunicativa dos alunos. Ademais, toda essa inquietação movimenta-se porque percebo
constantemente no meu atual exercício do magistério, não só por parte dos professores de
língua portuguesa, mas também dos pedagogos e docentes de outras disciplinas, a repetição de
crenças arraigadas há muito às práticas de ensino de língua(gem). Dentre os mitos centrais,
saliento o de que os alunos carecem de conhecer conceitos e nomenclaturas gramaticais para
ler e escrever bem, dominando conhecimentos metalinguísticos apenas, pois, no contexto
escolar, permanece a reprodução de afirmativas do tipo: “estes alunos são muito ruins, não
sabem nem mesmo o que é um verbo”. Assim, este trabalho vinculado à linha de pesquisa
Teorias da Linguagem e Ensino – traça objetivos para uma pesquisa que, à luz da
sociolinguística variacionista, investigue as crenças e atitudes linguísticas de docentes e
discentes em um contexto escolar.
Tais objetivos buscam esclarecer como se dá esse olhar sobre as variedades que
circulam na esfera escolar, incluindo a norma1 linguística, imposta na escola, mas também
coletar dados que, alinhados a outros (cf. revisão da literatura, adiante), possibilitem uma
mudança de estratégia de ensino, não só de Língua Portuguesa, mas em um contexto
interdisciplinar. Pois, assim como afirma Bagno (1999, p. 33), “[...] antes de compreender
qualquer trabalho pedagógico, é necessário reconhecer e conhecer a realidade sociolinguística
do público-alvo, para que possa partir dela para a ampliação de repertório linguístico e
competência comunicativa dos aprendizes.”
O contexto maior em que se insere nossa pesquisa é a cidade de Florianópolis, capital
do estado de Santa Catarina – mais especificamente a Ilha de Santa Catarina –, a qual
provavelmente não difere das demais capitais brasileiras no que tange à mistura de culturas
que compõem sua população. Essa população infla, principalmente nos meses de março e
abril, haja vista o afluxo contínuo de turistas, que muitas vezes optam por vir morar na cidade,
além da constante chegada de migrantes oriundos de outras cidades do estado e demais
regiões do país.
Tal situação, que se percebe ocorrer ano após ano em Florianópolis, faz com que as
1
A polissemia associada ao termo “norma” será discutida no Capítulo 2
17
comunidades, sobretudo as periféricas, passem cada vez mais a se constituir por uma mescla
cultural, o que inclui o convívio de diversas variedades linguísticas regionais do português do
Brasil. Essa mistura do falar manezinho com o falar gaúcho, paulista e nordestino,
principalmente, invade bairros que entornam o centro da cidade.
Assim, como resultado dessa interação cultural, consequentemente linguística, a
escola pública municipal, contexto em que se engajam professores e alunos, é reflexo de toda
essa variação, pois é composta por um público culturalmente bastante diversificado, o qual
também integra a comunidade em que está inserida a unidade escolar.
Analisar crenças e atitudes linguísticas de docentes e discentes dessa comunidade
escolar sobre a convivência das tantas variedades que a circundam é perceber a forma como
avaliam essa mistura e a maneira como se identificam com a própria comunidade.
Uma vez analisando dentro da esfera escolar o uso da língua, poderíamos acender
uma luz para que se pense se as avaliações que os alunos e professores fazem sobre o seu
próprio idioma teriam algum tipo de implicação na (in)eficácia do aprendizado da língua
materna por parte dos alunos e no desenvolvimento da sua competência comunicativa, isso
não só na disciplina de Língua Portuguesa, mas também em um contexto interdisciplinar,
reflexão que extrapola este trabalho e sugere novas pesquisas adiante.
Por essa razão, optamos por investigar o primeiro ano final do Ensino Fundamental,
6º ano, incluindo como público-alvo alunos e professores, levando em conta que é um período
de ruptura com os anos iniciais e em que se passa a segmentar as disciplinas, apresentando aos
alunos o ensino de língua portuguesa de forma isolada. Seria esse momento, portanto, aquele
que poderia, ao lançar mão da curiosidade diante do novo, conquistar o discente para que se
envolvesse em práticas de ensino e aprendizado que efetivamente colaborassem para o
desenvolvimento da sua competência comunicativa, pois os anos iniciais foram,
prioritariamente, anúncio do letramento, cabendo aos anos finais expandir habilidades outras
necessárias ao aprendizado da língua portuguesa.
Tal tarefa, a conquista do aprendiz à expansão de aprendizado do seu idioma, dar-se-
á por intermédio do professor, por isso a necessidade de avaliar se as suas crenças vão ao
encontro a dos alunos e se corroboram a eficácia das práticas de ensino e aprendizado.
18
1.2 OBJETIVOS
como propósito fundamentar, sobretudo, os testes que utilizamos como metodologia para
avaliar as crenças e atitudes, pois entendemos que se faz necessária maior clareza na distinção
entre as concepções elencadas – linguagem, língua, norma e gramática –, tendo em vista as
divergentes óticas acerca das noções de norma e gramática, principalmente, quando ancoradas
em campos de estudo científicos da linguagem e quando (des)embasadas no senso-comum.
No Capítulo3 – A Sociolinguística como campo teórico – discorremos sobre
algumas noções basilares para a fundamentação teórica da nossa pesquisa, quais sejam:
heterogeneidade e variação linguística; comunidade de fala e comunidade de prática; o
problema da avaliação; indicadores, marcadores e estereótipos (prestígio e estigma). Todos os
conceitos discutidos nesse capítulo aparecem com o propósito de alicerçar a compreensão em
torno do objeto de estudo desta pesquisa, discutido no capítulo posterior.
No Capítulo 4 – Crenças e atitudes linguísticas– buscamos conceituar termos que
sustentam o objetivo geral desta pesquisa, trazendo, para tanto, uma revisão teórica de
pesquisas basilares na área para o estudo sobre crenças e atitudes linguísticas, e de outras,
mais recentes, que aludem diretamente ao nosso objeto de estudo. Uma vez esclarecidos tais
termos/conceitos, pretende-se tornar evidente, durante a pesquisa, o quão essencial é
desmistificar ou sedimentar crenças e atitudes linguísticas para que sejam abandonadas
práticas de ensino e aprendizado equivocadas que não corroboram a eficácia no
desenvolvimento da competência comunicativa dos discentes.
Básica (BNCC), não fez ele parte da formação dos docentes que auxiliam na composição do
corpus desta pesquisa, por conseguinte, não nos debruçamos sobre o texto acreditando que
norteará as práticas de ensino e aprendizado da língua portuguesa a posteriori.
No Capítulo 6– Metodologia – descrevemos o locus da pesquisa para análise, bem
como a elaboração dos testes de crenças e atitudes a docentes e discentes da escola em que se
engajam professores e alunos. Destacamos, também, como se deu a contextualização do
estudo no contexto escolar e de que maneira foi aplicado.
Por fim, no Capítulo 7– O corpus, a descrição e análise dos resultados – são
apresentados e discutidos os dados obtidos nas testagens.
Esperamos – com a apresentação do embasamento teórico-metodológico, com a
aplicação dos testes e análise das respostas de professores e alunos e com as reflexões que
permeiam os diferentes capítulos –, auxiliar, principalmente os professores, a obter um maior
esclarecimento sobre a questão da variação linguística e do preconceito linguístico (ou
social?) em torno dela, na expectativa de que o resultado possibilite desarraigar crenças
equivocadas e mobilizar atitudes pontuais nas práticas de ensino e aprendizado da língua
portuguesa – sobretudo no desenvolvimento da competência comunicativa dos alunos – que
sejam em nada excludentes.
21
Acreditamos que boa parte dos imbróglios e dos mal-entendidos que atravessam
muitas das discussões acerca desses tópicos decorre da polissemia que envolve os termos. Em
vista disso, este capítulo se destina a elucidar essas noções com base em definições propostas
por alguns teóricos, os quais nos sugerem ajustes nos termos, levando em consideração
diferentes aspectos para que, a partir disso, possamos definir as concepções que orientam a
pesquisa. A seguir, tratamos, em seções separadas, de cada um desses termos/conceitos.
2.1 LÍNGUA(GEM)
No que tange a língua e linguagem, entendemos ser importante para uma melhor
compreensão, inicialmente, separar as duas concepções, contudo, percebemos que existe uma
relação imbricada entre ambas quando pensamos uma língua na perspectiva de seu ensino.
Por isso, as conceberemos de forma unívoca após esse desenlace proposital e, no restante do
trabalho, nos referiremos a elas(s) como língua(gem), a menos que desejemos sinalizar certas
especificidades.Para definir tais concepções de forma a contextualizá-las, apresentamos a
visão de Geraldi (1984), que distingue, fundamentalmente, três concepções de linguagem,
assim caracterizadas:
✓a linguagem é a expressão do pensamento: esta concepção ilumina, basicamente,
os estudos tradicionais. Se concebermos a linguagem como tal, somos levados a afirmações –
correntes – de que as pessoas que não conseguem se expressar não pensam;
✓a linguagem é instrumento de comunicação: esta concepção está ligada à teoria
da comunicação e vê a língua como código (conjunto de signos que se combinam segundo
regras) capaz de transmitir ao receptador uma certa mensagem. Em livros didáticos, esta é a
concepção confessada nas instruções ao professor, nas introduções, nos títulos, embora em
geral seja abandonada nos exercícios gramaticais;
✓a linguagem é uma forma de interação: mais do que possibilitar uma transmissão
de informações de um emissor a um receptor, a linguagem é vista como um lugar de interação
humana: por meio dela o sujeito que fala pratica ações que não conseguiria praticar a não ser
falando; com ela o falante age sobre o ouvinte, constituindo compromissos e vínculos que não
22
pré-existiam à fala.
A nosso ver, na prática, essas noções não são excludentes, mas complementares (cf.
GÖRSKI; SIQUEIRA, 2017). Nesse sentido, alinhamo-nos a Azeredo quando afirma:
2
Regras categóricas são aquelas que sempre se aplicam (por exemplo: em português, os artigos precedem os
nomes); regras variáveis são aquelas de aplicação facultativa, a depender de fatores contextuais (por exemplo, a
concordância de número em os meninos, os meninoØ) (cf. Capítulo 3).
23
2.2NORMA LINGUÍSTICA
3
Cumpre mencionar que, além dessas concepções de linguagem e de língua, há ainda aquela pautada numa
abordagem formal, mais especificamente na perspectiva gerativa, que concebe a linguagem como capacidade
inata e universal e a língua como conhecimento internalizado, que envolve um “conjunto de propriedades
estruturais abstratas, complexas e altamente específicas, que são conhecidas pelos indivíduos independentemente
do contexto” (GÖRSKI; SIQUEIRA, 2017, p. 29).
4
O termo “falantes” diz respeito também a “escreventes”.
24
Faraco (2008) auxilia-nos a esclarecer a diferença entre essas normas e perceber qual
é a norma de que fala o senso comum. Assim, temos:
✓Norma culta: “[...] variedade que os letrados usam em suas práticas mais
monitoradas de fala e escrita.” (FARACO, 2008, p. 73). Usos linguísticos socialmente
prestigiados, vistos pelos falantes como uma variedade superior em relação às chamadas
variedades populares. Essa noção de norma culta aproxima-se da noção de normas urbanas de
prestígio, conforme o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Situa-se no plano da
realização.
✓Norma-padrão: não é uma variedade da língua, mas uma “[...] codificação
relativamente abstrata, uma baliza extraída do uso real para servir de referência, em
sociedades marcadas por acentuada dialetação, a projetos de uniformização linguística”
(FARACO, 2008, p. 75). A norma-padrão funciona como coerção social em busca de um
efeito unificador. No caso brasileiro, não tomou como referência a norma culta brasileira, mas
um certo modelo lusitano de escrita. Situa-se no plano da idealização.
✓Norma gramatical: idealizada por filólogos renomados e codificada em manuais
tradicionais, como dicionários e gramáticas5, contempla o que seria “[...] o conjunto de
fenômenos apresentados como cultos/comuns/standard por esses gramáticos” (FARACO,
2008, p. 81). Embora a norma culta seja a mais próxima da norma-padrão, já que os usuários
da primeira seriam os supostos idealizadores da segunda, as forças inevitáveis que operam em
prol da variação e da mudança geram um natural distanciamento entre essas normas.
Ademais, os instrumentos normativos, embora registrem alguns usos da norma culta
brasileira, baseiam-se, mais usualmente, na escrita literária. Situa-se no plano da idealização.
✓Norma curta: é um “[...] conjunto de preceitos dogmáticos que não encontram
respaldo nem nos fatos, nem nos bons instrumentos normativos, mas que sustentam uma
nociva cultura do erro e tem impedido um estudo adequado da nossa norma
culta/comum/standard” (FARACO, 2008, p. 92). Tais preceitos são “[...] repetidos como se
fossem verdades absolutas e são tomados como justificativas para humilhar, constranger e
prejudicar as pessoas” (FARACO, 2008, p. 94).6 Trata-se de uma ideia difundida no senso
comum de que há maneiras certas e erradas para o comportamento linguístico. Em alguns
momentos, nega a realidade linguística, mesmo aquela correspondente a normas de falantes
5
Entre os autores voltados à norma gramatical, Faraco (2008) menciona Rocha Lima, Cunha & Cintra, Bechara
(gramáticos) e os dicionários Aurélio, Houaiss e Luft
6
Faraco (2008) exemplifica como seguidor da chamada norma curta o gramático Napoleão Mendes de Almeida.
25
mais letrados em situações mais monitoradas. Importa mais o imaginário do certo ou errado
do que a vinculação com o uso da língua. Situa- se no plano da idealização.
Retomando a problematização colocada no início desta seção, à luz das definições
apresentadas, assumimos, neste trabalho, a noção de norma culta, aquela que se situa no plano
da realização, sendo tomada como uma das variedades da língua – também identificada como
variedade culta ou variedade padrão.7
Além disso, como a ideia de heterogeneidade (cf. Capítulo 3) está presente em todas
as variedades e a noção de norma culta advém do uso efetivo da língua sob certas condições
externas a ela, a norma culta não é homogênea, portanto, o mais adequado seria falarmos em
“as normas cultas”.
Também para evitar confusão terminológica, Bagno (2009, p. 80), à luz de algumas
noções propostas pela teoria variacionista laboviana, sugere a designação “variedades
prestigiadas”, termo que remete à ideia de que a chamada norma culta/comum/standard é
heterogênea, apesar de sua designação singular.
Nesse sentido, Bagno (2009, p. 105 e 106) esclarece: “proponho substituir a
expressão “norma culta” por variedades prestigiadas e chamar a “norma popular” ou
“vernácula” de variedades estigmatizadas, com base na oposição entre prestígio e estigma
(termos que conceituarmos mais adiante). Para que se possa compreender melhor as
substituições que Bagno (2009) propõe, o autor traz a seguinte figura:
7
Note-se que os termos variedade padrão e norma-padrão remetem a noções bem distintas, apesar do adjetivo
compartilhado: a primeira diz respeito a uso efetivo da língua numa variedade diferente da dita popular, ao passo
que a segunda diz respeito a um padrão abstrato idealizado.
26
2.3GRAMÁTICA
dizer, e não no que se diz. O ensino de gramática, nesse sentido, se realiza de modo
descontextualizado, trazendo regras que se impõem independentemente de contextos
comunicativos, em vez de trazer o real uso da língua em meio aos gêneros
discursivos/textuais8 com os quais nos comunicamos, descrevendo os diferentes usos de
diferentes normas, os quais são perfeitamente utilizáveis desde que na esfera de comunicação
adequada.
Assim, no que se refere ao ensino, o problema, na nossa visão, não está
simplesmente no foco predominante do como dizer, mas no como dizer o quê, quando, em que
situação. Ou seja, não defendemos um ensino baseado puramente na descrição, mas que
considere, sim, certa prescrição, não no sentido de certo e errado, mas no sentido de
adequação a diferentes contextos. Distanciamo-nos, portanto, de uma visão de metodologia de
ensino que converge com uma gramática prescritiva idealizada, que impõe regras de uso a
partir de um padrão abstrato; e aproximamo-nos de uma gramática descritiva real, que explora
e descreve os variados usos gramaticais coexistentes na sala de aula, e que, só então, busca
normatizar os usos que são adequados às normas cultas da língua.
Esse tipo de abordagem está em consonância com a noção de gramática de usos, na
linha dos compêndios publicados por Neves (2000), Azeredo (2008), Castilho (2010),
Castilho e Elias (2011) e Bagno (2009), entre outros, nos quais se verifica que os fenômenos
gramaticais são abordados a partir de usos linguísticos efetivos. Os autores buscam oferecer
uma descrição da estrutura e do funcionamento da língua coerentemente ancorada em
pressupostos teórico- conceituais fornecidos por diferentes áreas da linguística.
Nesta dissertação, ecoamos a problematização e o posicionamento assumido por
Görski e Siqueira (2017, p. 39-40):
8
Neste trabalho, não estamos fazendo distinção entre os termos gênero discursivo, gênero textual e gênero do
discurso, embora tenhamos ciência de que podem remeter a diferentes noções a depender da perspectiva teórica
assumida.
30
9
Essa definição do termo competência comunicativa se inspira na definição formulada por Travaglia (2016) para
o Glossário CEALE (Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita), da Faculdade de Educação da UFMG.
31
relação intrínseca existente entre língua e sociedade, seria impossível dizer que a língua(gem)
não seria também variável, variada, mutante e afirmar que seria homogênea, estanque,
acabada (e padronizada) como nos propunham os estudos tradicionais sobre a língua.
Além disso, outro ponto-chave e palavra basilar para os estudos sociolinguísticos é o
verbo variar. É por meio dele que encontramos a possibilidade de explicar essa mutabilidade
inerente à língua, a qual propicia mudanças linguísticas o tempo inteiro, mas não de forma
desordenada, como o senso comum muitas vezes enfatiza.
Tal aparente desordem não se fundamenta porque a sociolinguística considera a
língua como um objeto que possui uma heterogeneidade estruturada e organizada, por isso
não cabe reforçar que ela possua um desalinhamento desconstituído de regras; há regras na
variação, sim. Nesse sentido, uma língua, embora possua uma estrutura composta por regras
categóricas, também é dotada de variabilidade e de regras variáveis. Podemos tomar como
exemplo de regra categórica, na língua portuguesa, o uso do artigo precedendo o nome que ele
determina, sempre o colocamos antes do nome, dizemos o carro e não carro o Já as regras
variáveis são condicionadas por fatores linguísticos e fatores extralinguísticos, são elas que
permitem modificarmos o nosso modo de dizer dependendo do contexto de interação.
Contudo, Coelho et al., 2015, destacam:
Seu foco [da Sociolinguística] são as regras variáveis da língua, aquelas que
permitem que, em certos contextos linguísticos, sociais e estilísticos, falemos de
uma forma e, em outros, de outra forma, ou seja, que alternemos duas ou mais
variantes (formas que devem ter o mesmo significado referencial/ representacional e
ser intercambiáveis no mesmo contexto) (COELHO et al., 2015, p. 60)
é preciso ainda notar que um indivíduo pode pertencer a várias comunidades de fala,
identificando-se com uma ou com outra de acordo com a situação. Fica, então, bem
mais difícil delimitar o conceito [...], já que se pode encontrar um sem-número de
comunidades de fala dentro de uma mesma sociedade. Desse modo, restringir de
forma sistemática essa noção parece ser bastante difícil pelas variadas identidades
assumidas pelos indivíduos (VANIN, 2009, p. 150)
10
O trabalho de Camacho e Salomão-Conchalo (2016), por exemplo, analisa as dinâmicas e as práticas sociais de
dois grupos de estudantes ideologicamente opostos – duas comunidades de prática–, definidos, por seus próprios
membros, como funkeiros e ecléticos, examinando o modo como membros dos dois grupos empregam a regra de
concordância nominal para construir, eles próprios, a significação social do grupo ao qual pertencem na escola.
35
outro lado, caso o docente opte por uma avaliação linguística sobre as variedades, tanto dos
colegas, quando dos alunos, desprovida de dogmas equivocados, tenderá a desenvolver
práticas que coadunem com um ensino que perpasse a ótica variacionista, dando o mesmo
prestígio a todas as variedades sem, contudo, desconsiderar que cada uma tem seu espaço,
gêneros textuais e esferas de comunicação pelas quais circulam. Esse passo percebemos como
deveras essencial à prática docente, pois cremos que a forma como o professor avalia e aborda
as questões sociolinguísticas será modelar à postura que o aluno poderá assumir ao avaliar,
também, as tantas variedades que circulam na escola, incluindo aquela que utiliza e com a
qual interage.
Além da avaliação feita sob a ótica do professor, há, também, aquela que é feita pelo
próprio discente quanto à variedade linguística que utiliza, bem como quanto às outras
variedades linguísticas que com ela interagem. O lócus da nossa pesquisa é, nesse sentido, um
espaço fecundo para analisar tais relações, levando em consideração o trânsito de diversas
variedades impulsionado pelo afluxo sazonal típico na formação da comunidade escolar,
como mencionado. O que acontece, nesse sentido, é que, pela necessidade de aceitação no
grupo, muitos indivíduos parecem avaliar a sua variedade como errada, buscando adaptar-se à
variedade utilizada pelo grupo a que querem pertencer, isso porque, na escola, como já
mencionamos quando dissertamos sobre comunidades de fala e prática, diferentes
comunidades formam a comunidade escolar. Da mesma forma, alguns grupos, com medo da
perda da sua identidade cultural, parecem estigmatizar as novas variedades que surgem em
meio ao convívio escolar. Contudo, os testes que aqui propusemos, visaram a verificar se tais
hipóteses possuíam fundamento.
Dessa forma, no que tange aos marcadores e estereótipos, podemos perceber que a
avaliação está diretamente ligada à atitude dos falantes diante das formas, pois eles atribuem
valor social às variantes, sendo assim, a atitude dos indivíduos perante a nova forma (variante
ou variedade) dentro de um grupo pode fazer com que ela seja aceita ou não e sofra processo
de estereotipação ou estigmatização. Ressaltamos, porém, que o que é estigmatizado em uma
determinada comunidade de fala poderá não ser em outra, da mesma forma que o prestígio
dado a uma forma pode não ter o mesmo peso em comunidades distintas.
É comum observarmos a correlação entre o uso linguístico e o valor social da
seguinte maneira: as variantes de maior prestígio relacionam-se, geralmente, a estilos de fala
mais formais e a grau de escolarização mais alto; e as variantes de menor prestígio
relacionam-se a estilos de fala mais informais e a grau de escolarização mais baixo. Além
disso, variantes mais conservadoras e prestigiadas são mais utilizadas no trabalho (a depender
do status profissional), enquanto as mais inovadoras são as preferidas na interação com os
amigos e familiares.
Bagno (2009) salienta, ao referir-se a estigma e prestígio, que, enquanto a
coexistência das variedades é para o linguista apenas diferença no uso da língua, para os
38
Neste capítulo, fazemos uma revisão bibliográfica que sintetiza algumas pesquisas
sobre crenças a atitudes linguísticas em diferentes contextos, principalmente o escolar, e
apresentamos a conceituação destes dois termos de relação imbricada, crenças e atitudes
linguísticas, objeto da nossa pesquisa.
Em face de um ensino de língua portuguesa que carece de mudança, mas que ainda
está arraigado à tradição, buscamos verificar quais crenças e atitudes influenciam a avaliação
de docentes e discentes sobre aspectos do nosso idioma, levando em conta estereótipos e
estigmas em torno de variedades linguísticas em uma escola de enorme diversidade, bem
como de que forma e em que medida essas crenças e atitudes afetam o processo de ensino e
aprendizagem e o desenvolvimento da competência comunicativa dos alunos. Pois, como
afirma Bagno (2009 p. 32):
Assim, o pouco debatido preconceito linguístico (ou preconceito social?) nas aulas
de língua portuguesa é o grande motivador e mantenedor das maiores crenças equivocadas
que circulam nas instituições de ensino, dentre elas: “o português é muito difícil”, “professor
bom é professor que ensina gramática”, “o certo de falar e escrever é como está na
gramática”, “há variedades certas e variedades erradas”.
Nos anos de 1960, progrediu-se nas pesquisas que consideram as reações sociais
inconscientes à linguagem, isso devido a Lambert, o pioneiro nas discussões sobre atitudes
linguísticas, no âmbito da Psicologia Social, e seu método de estudo: a Técnica dos Pares.
A técnica dos “falsos pares” usada por Lambert e seus alunos (Lambert 1967)
apresenta à pessoa uma série de trechos gravados em que ela ouve vozes dos
mesmos falantes usando línguas ou dialetos diferentes. Pede-se às pessoas que
façam julgamento sobre a personalidade dos falantes. Na medida em que não têm
como saber que já avaliaram os mesmos falantes antes, elas inconscientemente
traduzem suas atitudes sociais frente à língua em diferentes julgamentos sobre a
honestidade, a confiabilidade e a inteligência dos falantes. (LABOV, 2008 [1972]
p.249).
40
Crença seria uma convicção íntima, uma opinião que se adota com fé e certeza. [...]
Já atitude seria uma disposição, propósito ou manifestação de intento ou propósito,
chega-se à conclusão de que nossas reações frente a determinadas pessoas, a
determinadas situações, seriam atitudes que manifestariam nossas convicções
íntimas, ou seja, as nossas crenças em relação a essas pessoas, situações ou coisas.
(SANTOS, 1996, p. 8, grifo nosso)
11
No âmbito da Linguística Aplicada, desde os anos 1990, a área vem estudando crenças, no entanto, ao que a
Linguística Aplicada chama de crenças e ações, a sociolinguística chama de crenças e atitudes.
41
que a maioria dos entrevistados se considera falante da língua portuguesa, embora tenha
havido relutância inicial de alguns ao afirmar isso, ressaltando o uso do português brasileiro.
Os informantes de maior faixa etária, quanto mais tempo longe da escola, mais apresentam
oscilação quanto à resposta, enquanto os mais jovens apresentam menor oscilação, da mesma
forma, as mulheres pouco oscilam em suas respostas, independentemente do grau de
escolaridade. De forma não tão clara parece que, ainda, os entrevistados mostram-se
preconceituosos em relação aos dialetos circulantes ou a mistura deles na sua capital, se não
forem aqueles utilizados pelos nativos da sua cidade.
Guedelha (2011) assim como Aguillera (2008), centra seus estudos no que pensam os
nativos de capitais em relação ao seu dialeto e a outros que circulam em seus centros urbanos.
Guedelha (2011) conclui que ainda se sobressai o mito da homogeneidade do falar da capital
em relação aos demais falares, principalmente os da região interiorana e de outros estados ou
regiões. O preconceito linguístico, portanto, continua sendo cultivado nessas regiões, sendo o
sotaque reconhecido como uma deturpação da língua, um “vício” que deve ser corrigido.
Já Barbosa e Cuba (2015), novamente no âmbito escolar, realizaram dois testes, um
de crenças e outro de atitudes, com alunos do Ensino Médio de duas escolas de Uberaba, uma
periférica e outra central. No teste de crenças, os resultados foram semelhantes nas duas
instituições de ensino: os alunos pensam que existem maneiras corretas e mais bonitas de falar
e que, para se falar e escrever bem, deve-se fazer conforme a gramática. Destaca-se ainda a
crença da superioridade da escrita, pois, em ambas as escolas, ela é considerada mais difícil e
mais correta. No teste de atitudes, houve também semelhança entre o resultado das duas
escolas, havendo, no entanto, mais olhares positivos sobre as variedades dos alunos. A
maioria, porém, revela avaliação negativa sobre algumas variedades linguísticas, acredita que
a língua é homogênea e que as pessoas se tornam mais ou menos confiáveis pelo seu modo de
falar. Os alunos também demonstraram preconceito linguístico em relação à fala mineira,
além de concordarem com o estereótipo do mineiro “caipira” veiculado pela mídia.
Percebe-se que os estudos apresentados, embora em alguns pontos divirjam na
metodologia, assemelham-se em uma questão pontual: A atitude linguística de um
determinado grupo (povo, etnia, comunidade) tem a ver com a sua identidade, formada por
características ou conjunto de características desse grupo e que permitem definir cada grupo.
De forma geral, ao caracterizar o outro grupo como diferente, o membro de um grupo o faz de
forma subjetiva, na tentativa de manter a identidade daquele a que pertence. Assim, dentro
43
dos traços que caracterizam o grupo, encontram-se os hábitos linguísticos, conforme sustenta
Aguilera (2008, p.106):
Esse mito de que nos fala Bagno (1999), possivelmente o pai de todos os mitos em
torno do português, abriu caminho para o que durante muito tempo foi chamado de ensino do
“português padrão”, da “norma” (como se houvesse uma única deusa norma). Tal conduta
esteve ancorada no ensino tradicional da língua portuguesa, aquele que entendia que para
haver um certo reconhecimento, ou aceitação social da forma como se escrevesse e falasse,
dever-se-ia bem falar e bem escrever como os clássicos escritores europeus o faziam.
Consideramos que advenham desse primeiro mito as crenças subsequentes (reflexão nossa):
✓ a escrita é inferior à fala – já que a escrita deveria reproduzir a linguagem utilizada
pelos grandes literatos portugueses;
✓ o Brasil é um país monolíngue – pois a língua oficial é o português, assim, outros
idiomas que convivessem com ele deveriam ser desconsiderados;
✓ os dialetos (ou variedades) deturpam a língua – a língua do colonizador seria
sempre mais prestigiada;
✓ escreve bem quem escreve conforme a gramática normativa portuguesa – tal
44
12
Destacamos novamente que, haja vista ser o lócus da nossa pesquisa uma escola de âmbito municipal, além de
a Base Nacional Comum Curricular ter sido implementada recentemente, muito após o período de formação
acadêmica dos professores sobre os quais verificamos crenças e atitudes, não a levamos em conta aqui como
outro documento norteador
13
Destaca-se aqui a coletânea elaborada por João Wanderley Geraldi, intitulada O texto na sala de aula, obra
basilar e orientadora, a partir de sua publicação em 1984, para a formação de professores de português e
pedagogos.
46
Uma vez adotando tal concepção de língua, os PCN abrem brecha para que a língua
no seu contexto social seja estudada, questão condizente com as teorias sobre o ensino por
meio dos gêneros textuais/ discursivos, as quais entendem a língua como instrumento de
interação, sendo a interação nada mais do que o uso da língua na sociedade em diversas
comunidades de prática e fala. Sobre tais questões, evidencia-se, no documento, ao mencionar
valores e atitudes subjacentes às práticas de linguagem: “Valorização das variedades
linguísticas que caracterizam a comunidade dos falantes da Língua Portuguesa nas diferentes
regiões do país” (BRASIL, 1998, p. 64).
Sobre o ensino da escrita, os PCN trazem à tona alguns dos mitos que
fundamentaram o ensino da língua portuguesa e que, por mais que haja outras veias que
alimentam novas teorias, ainda subjazem às práticas de ensino de português no contexto
escolar. O trecho abaixo citado resume de forma essencial como, de fato, deveriam ser as
metodologias de ensino e aprendizagem da língua, na sua modalidade escrita, desmitificando
crenças equivocadas e motivando um alargamento em torno da competência comunicativa do
aluno.
Para cumprir bem a função de ensinar a escrita e a língua padrão, a escola precisa
livrar-se de vários mitos: o de que existe uma forma correta de falar, o de que a
fala de uma região é melhor da que a de outras, o de que a fala correta é a que
se aproxima da língua escrita, o de que o brasileiro fala mal o português, o de
que o português é uma língua difícil, o de que é preciso consertar a fala do
aluno para evitar que ele escreva errado. Essas crenças insustentáveis produziram
uma prática de mutilação cultural que, além de desvalorizar a fala que identifica o
aluno a sua comunidade, como se esta fosse formada de incapazes, denota
desconhecimento de que a escrita de uma língua não corresponde a nenhuma de suas
variedades, por mais prestígio que uma delas possa ter. Ainda se ignora um princípio
elementar relativo ao desenvolvimento da linguagem: o domínio de outras
modalidades de fala e dos padrões de escrita (e mesmo de outras línguas) não se faz
por substituição, mas por extensão da competência linguística e pela construção
ativa de subsistemas gramaticais sobre o sistema já adquirido (BRASIL, 1998, p. 31
grifo nosso).
47
Por fim, após breve exame deste documento parametrizador, percebe-se que os PCN
trazem ferramentas que deveriam funcionar como guia para outros documentos oficiais. Tais
registros públicos encontram-se de acordo com o que se espera de um ensino da língua
portuguesa baseado em fundamentos sociolinguísticos: que não exclua quaisquer variedades
da língua que circundem a escola e a sala de aula e que, por consequência, respeite a
identidade da comunidade de fala de cada aluno. A visita a este documento previa que a
pesquisa seria contemplada por docentes de língua portuguesa, no entanto, tal expectativa
mostrou-se frustrada, a ver na análise dos resultados.
Uma vez que a concepção de língua(gem) adotada pelo documento tenha sido a que a
considera como instrumento de interação social, esperava-se que, por meio do incentivo ao
trabalho com os gêneros discursivos, fosse incentivado também o estudo da variação
linguística na sala de aula, pois é por meio do texto e, consequentemente, dos gêneros
textuais/ discursivos, que ela se manifesta. Contudo, ao analisar o documento com mais
afinco, percebemos apenas pinceladas sutis sobre o tema da variação (de forma indireta), sem
de fato colocá-lo em foco, sempre enfatizando a sua manifestação na oralidade e pouco
considerando a escrita também como expressão da variabilidade linguística.
Ainda, o documento enfatiza que a contextualização da interação utiliza-se de
estratégias de linguagem de um tipo ou outro, tais como o grau de formalidade, ser prolixo
ou objetivo, usar a primeira pessoa ou impessoalidade, marcar vozes por meio da citação ou
não fazer, por exemplo. Assim, ao mencionar o grau de formalidade, sugere, implicitamente,
uma das manifestações de variação da língua sem, contudo, mencionar os estudos
sociolinguísticos variacionistas.
No entanto, quando sintetiza os enfoques para o ensino e aprendizagem nos nove
anos do Ensino Fundamental, de forma detalhada, o documento menciona, dentro do enfoque
na asculta e autoria na oralidade/sinalização: “Reconhecer e empregar a variedade linguística
adequada a cada interação social” (FLORIANÓPOLIS, 2016, p. 94).
Perguntamo-nos, porém, como exigir dos alunos tal reconhecimento se à prática não
tenha cabido o entendimento em torno da variação linguística? Parece-nos impossível se o
documento parametrizador que deveria ser o mote para o planejamento do professor de
Língua Portuguesa em Florianópolis não trouxer diretrizes para esse viés de ensino e
aprendizagem da língua(gem).
49
Assim, a citação acima evidencia ser nítido que as escolhas da escola, do sistema de
ensino que adota, dos documentos parametrizadores que segue e da orientação que traz a seus
docentes são, e sempre serão, políticas. Logo, adotar uma metodologia ancorada na
sociolinguística variacionista nada mais é do que optar por respeitar as diferenças sociais que
se manifestam por meio dos usos da língua.
Para que nos fique um pouco mais clara a variação do português do Brasil, Bortoni-
Ricardo (2004) propõe-nos até mesmo novos nomes aos conceitos que antes mencionamos
aqui, norma-padrão, norma culta etc., entendendo que ao longo do tempo tais conceituações
tenham se impregnado de preconceito. Assim, a autora sugere:
Para entendermos a variação no português brasileiro, vamos propor a você que
imagine três linhas, a que vamos chamar de contínuos, e que são:
✓contínuo de urbanização
✓contínuo de oralidade-letramento
✓contínuo de monitoração estilística (BORTONI-RICARDO, 2004 p.51)
50
Contínuo de urbanização: Em uma das pontas dessa linha nós imaginamos que
estão situados os falares rurais mais isolados; na outra ponta estão os falares
urbanos que, ao longo do processo sócio-histórico, foram sofrendo a influência de
codificação linguística, tais como a definição do padrão correto de escrita, também
chamado ortografia do padrão correto de pronúncia, também chamado ortoepia, da
composição de dicionários e gramáticas. Enquanto os falares rurais ficavam muito
isolados pelas dificuldades geográficas de acesso, como rios e montanhas, as
comunidades urbanas sofriam a influência de agências padronizadoras da língua,
como a imprensa, as obras literárias e, principalmente, a escola. [...] Usamos o
contínuo de urbanização para situar os falantes de acordo com seus antecedentes e
seus atributos (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 51-52 grifo nosso).
Sintetizamos assim o que nos propõe a autora e que se torna bastante relevante à
análise dos testes que aplicamos:
Se o aluno ouvir que fala errado, provavelmente deverá pensar que falam errado seus pais, seus avós,
seus primos, seus amigos e toda a comunidade da qual faz parte. Não precisamos ir muito longe para ver que
esse tipo de tratamento dado à variação, para além de ser equivocado e preconceituoso, mais atrapalha do que
ajuda o aluno a aprender a norma culta. (COELHO et al., 2015, p.149):
52
Uma das tarefas do ensino na escola seria, portanto, discutir criticamente os valores
sociais atribuídos a cada variante linguística, chamando a carga de discriminação
que pesa sobre determinados usos da língua, de modo a conscientizar o aluno de que
sua produção linguística, oral ou escrita, estará sempre sujeita a uma avaliação
social, positiva ou negativa. (BAGNO, 2009, p. 318):
Contudo, há que se reparar que até mesmo os gramáticos aqui citados, Cunha e
Cintra (1985/2013), passam a considerar a escrita pós Romantismo como o tal padrão da
língua portuguesa, o que, de certo modo, pelo fato de adotarem esse recorte temporal, acende
uma luz para novos enfoques.
Sobretudo no Modernismo, com a tentativa de valorizar a cultura nacional,
alavancada pela Semana de Arte Moderna, tivemos alguns autores precursores na propagação
do falar brasileiro na literatura, o que fez deles, inclusive, foco de críticas negativas e
preconceito, pois o bom português era aquele fiel ao português de Portugal. Destacaram-se
entre esses literatos Oswald de Andrade, Mario de Andrade, Carlos Drummond de Andrade.
55
Um dos poemas que evidencia o intento de fugir da forma e trazer um português mais solto e
brasileiro para os textos poéticos e literários é Vício da fala, de Oswald de Andrade (1971):
Vício na fala
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.
[...] uma língua não para nunca. Evolui sempre, isto é, muda sempre. Há certos
gramáticos que querem fazer a língua parar num certo ponto, e acham que é erro
dizermos de modo diferente como diziam os clássicos. (LOBATO, 1934, p.100-101)
14
A respeito das obras de Monteiro Lobato, Caldeira (2019) faz um levantamento das formas nós e a gente na
fala dos personagens dos livros Reinações de Narizinho e Emília no País da Gramática, mostrando a variação no
uso das formas pronominais de expressão da primeira pessoa do plural na fala de diferentes personagens. O autor
propõe um conjunto de atividades didáticas a serem desenvolvidas a partir dos resultados de sua pesquisa.
56
De fato, a literatura, embora nem sempre de forma fiel, é, por si, uma das grandes
possibilidades de retratar o social em toda a sua diversidade cultural, sem deixar de mostrar
que uma sociedade única (tendo em vista a sua mescla) ainda é uma única sociedade.
Neste capítulo, (i) examinamos algumas passagens de documentos oficiais que
orientam a prática pedagógica, em nível nacional e municipal, buscando evidenciar qual o
lugar destinado ao tratamento da questão da variação linguística; (ii) discutimos o papel da
escola diante dessa questão; (iii) problematizamos a noção de “erro” linguístico,
considerando-o à luz da Sociolinguística; e (iv) refletimos sobre a importância da literatura no
tratamento da variação linguística.
Evidenciamos que algumas diretrizes metodológicas que deveriam ser fundamentais
para o professor de língua portuguesa, muitas vezes ficam lacunares, o que não sustenta uma
prática alicerçada em teorias que mobilizem um olhar efetivo sobre a variação linguística.
57
6 METODOLOGIA
Neste capítulo, descrevemos o locus da pesquisa para análise, bem como de que
forma se deu a elaboração dos testes de crenças e atitudes aplicados a docentes e discentes da
escola em que se engajam professores e alunos. Destacamos, também, como se deu a
contextualização do estudo no contexto escolar e de que maneira foi aplicado.
O bairro Saco Grande, comunidade em que está inserida a escola campo de pesquisa,
é um dos bairros florianopolitanos constantemente acrescidos de pessoas de várias regiões da
Ilha de Santa Catarina, de outras cidades do estado e de outras regiões do país.
Esse bairro está localizado na região centro-norte de Florianópolis. Seu nome tem
origem açoriana e a expressão “saco” designa uma área protegida de grandes ondas ou
ressacas. Inicialmente, o local possuía características rurais e era pouco povoado, porém, à
medida que se instala a sede da administração estadual no bairro, instalam-se, também, sedes
administrativas de empresas, centros de entretenimento, um cartório, um teatro, shoppings,
entre outros empreendimentos.
Contudo, apesar de um aparente crescimento de infraestrutura, encontram-se, no
bairro Saco Grande, casas de baixo a médio padrão socioeconômico, além de precárias
condições de moradia e até mesmo ocupações dos morros. A maioria dos alunos da escola é
moradora desse entorno e possui condição socioeconômica bastante baixa. Os familiares e
responsáveis pelos educandos, em geral, possuem o ensino fundamental incompleto.
diversas regiões do norte e nordeste do país, algo que poderia propiciar um enriquecimento
em torno do trabalho com as personagens de Cedraz.
Com base nessa contextualização, para o teste aplicado, utilizamos a história em
quadrinhos, que, embora tenha sido um gênero literário por muito tempo marginalizado nas
aulas de língua portuguesa, é uma excelente ferramenta de ensino para os primeiros anos das
séries finais do Ensino Fundamental, haja vista a familiaridade que os alunos possuem com
elas, além de apresentarem uma linguagem acessível e atrativa para o desenvolvimento
primário de habilidades de leitura e compreensão de texto. Dessa forma, levando em conta tal
histórico e os fatores atinentes a minha pesquisa, incluindo a utilização dos textos literários no
capítulo do livro didático da escola que aborda a variação linguística e utilização de distintas
variedades dialetais nas histórias, buscamos saber mais sobre a Turma do Xaxado. A partir da
leitura da obra “1000 Tiras da Turma do Xaxado”, de Cedraz (2012), fizemos análise breve
sobre a turma e as personagens que a compõem.
São seis as personagens centrais da Turma do Xaxado: 1. Xaxado, o líder da turma,
um menino atento e bastante justiceiro, descendente de Lampião; 2. Zé Pequeno, um menino
com fama de preguiçoso, de origem sertaneja e bastante humilde; 3. Artuzinho, filho de
fazendeiro, perspicaz e ganancioso, sempre tentando tirar vantagem dos outros; 4. Marieta,
uma menina amante da leitura, da gramática e que sonha ser professora; 5. Capiba, amante da
música sertaneja e que deseja ser cantor e 6. Marinês, defensora do meio ambiente.
Como pode se perceber, a partir da breve descrição das personagens, uma turma
composta por crianças de realidades semelhantes, mas com essenciais diferenças. O espaço
em que transcorrem as histórias é o sertão nordestino, lugar em que vivem todas as crianças,
contudo, dentro dessa realidade, as principais mazelas sociais acometem algumas delas, não
todas.
A personagem Zé Pequeno é a que o possui uma realidade socioeconômica mais
baixa, seu pai trabalha na roça e o menino o auxilia nos afazeres do campo, por conta disso,
são características da personagem a constante fome, cansaço e preguiça. A linguagem
utilizada por Zé Pequeno é aquela que, supostamente, utiliza a variedade rural.
A personagem Artuzinho, por ser filha de fazendeiro, sempre busca destacar as
oportunidades que o dinheiro proporciona, pois vive uma condição socioeconômica elevada,
diferente das demais crianças, isso faz dela aproveitadora e gananciosa, explorando as pessoas
que trabalham para os seus pais e seus amigos também. Por isso, a linguagem de que se utiliza
61
é a mais próxima da variedade culta daquela região, haja vista o seu maior contato com o
centro urbano da cidade.
A personagem Marieta é aquela mais estudiosa, tem acesso a livros na escola e no
meio familiar também, possui uma situação socioeconômica intermediária entre a de Zé
Pequeno e a de Artuzinho. O fato de a menina frequentar os bancos escolares e ser leitora
assídua faz dela uma das personagens mais críticas, assim, constantemente cita autores e
filósofos e busca sempre incentivar os amigos para que estudem. A linguagem utilizada por
Marieta reproduz uma norma padrão, bastante próxima dos que as gramáticas normativas
apresentam. Destaca-se, em alguns momentos, a artificialidade na forma como se expressa,
pois se utiliza de formalidade excessiva.
Essas personagens descritas foram aquelas sobre as quais optamos selecionar as tiras
em quadrinhos para o teste, haja vista, sobretudo, as diferentes variedades dialetais utilizadas
por elas, influenciadas por fatores diastráticos principalmente. O fato de haver distintas
realidades socioeconômicas propiciará a nós, ainda, avaliar não só as crenças em torno da
variação linguística do português brasileiro, mas também as atitudes diante dessas crenças:
será que Zé Pequeno possuirá uma avaliação mais positiva ou mais negativa por parte de
docentes e discentes? E Marieta, será vista com bons olhos pelos atores da comunidade
escolar? Artuzinho, por falar a variedade culta urbana, terá avaliações afetivamente positivas,
apesar de sua conduta questionável?
O teste de atitudes aplicado com discentes é composto por oito (8) questões com tiras
dessas personagens. O método de análise utilizado para esse teste também foi o
quantitativo/qualitativo, tendo como finalização a descrição dos resultados apresentada no
último capítulo da dissertação.
Para contextualizar a atividade em sala de aula, sendo que já estava previsto no meu
planejamento o trabalho com variação linguística e os alunos já vinham estudando o assunto,
expliquei aos discentes que realizariam atividades de análise e interpretação textual sobre as
tirinhas da Turma do Xaxado e que deveriam ficar atentos à forma como seus personagens
interagiam uns com os outros, principalmente quanto aos diálogos. Para isso, li as questões
com eles e pedi que as respondessem individualmente.
62
Para aplicação dos testes, constituição do corpus, ao final da pesquisa, contamos com
um universo de 29 informantes, 23 alunos que frequentam atualmente o 6º ano no turno
vespertino, e 6 professores, todos regentes dessa turma, 4 ministrando disciplinas e dois
atuando em projetos nos quais os discentes estão inseridos.
Compõem o grupo de docentes que participaram da pesquisa:
✓uma professora de Artes, licenciada em Artes Visuais pela UDESC em 2008,
natural do interior do Paraná (não informou a cidade) e atuante há 10anos;
✓uma professora de Música, licenciada em Artes/ Música pela UDESC em 2008,
natural de Porto Alegre/RS e atuante há 8 anos e meio;
✓um professor de Educação Física, licenciado em Educação Física pela UFSC em
2012, natural de Florianópolis e atuante há 9anos;
✓uma professora de projetos, licenciada em Pedagogia pela UNISUL em 2007,
natural de Rio Fortuna/ SC e atuante há 10anos;
✓um professor de Matemática, licenciado em Matemática pela UFSM em 2006,
natural de Santa Maria/ RS e atuante há 11anos;
✓uma professora de Educação Especial, formada em Pedagogia/ Educação Especial
pela UFSM em 2012, natural de Tupaciretã/ RS e atuante há 7 anos.
Reiteramos que esperávamos ter tido a participação de professores da disciplina de
Língua Portuguesa, o que completaria a comparação teoria e prática, iniciada ao analisarmos
os PCN para o ensino de língua portuguesa, no entanto, em sendo a pesquisa não obrigatória,
não obtivemos participantes.
Compõem o grupo de discentes que participaram da pesquisa 23 alunos, na faixa-
etária de 11/ 12 anos, todos do 6º ano do turno vespertino, moradores do bairro da escola e
adjacências, sendo eles:
✓treze alunos naturais de Florianópolis;
✓um aluno natural de Águas Claras/SC;
63
Para análise dos resultados, optamos, primeiramente, por observar os testes que
continham as assertivas a serem marcadas com verdadeiro ou falso (Apêndice1), pois são eles
praticamente idênticos, com certa adaptação vocabular na elaboração das assertivas no teste
aplicado a alunos para sua maior compreensão. Somente uma assertiva estava presente apenas
no teste dos professores, as demais tinham o mesmo teor, tratava-se da proposição em
qualquer situação da vida devo falar do mesmo jeito, pois entendemos que compreende
eventos e esferas de comunicação que ainda não contemplam a vida dos estudantes, tais como
a esfera profissional, a consciência sobre a variabilidade e/ou adaptação de linguagem
perpassa mais esferas e, portanto, é mais ampla para docentes.
Na nossa visão, identificar em que momento os olhares focam o mesmo caminho, e
quando não, possibilita perceber em que medida ensino e aprendizado estão interligados e se,
de alguma maneira, as crenças que permeiam as salas de aula podem influenciar nas atitudes
linguísticas dos alunos sobre o seu próprio idioma e na relação com aqueles com quem
interagem por meio dele.
A seguir, apresentamos os gráficos na sequência em que aparecem as assertivas,
seguidos de uma breve análise comparativa entre os dois testes.
64
Gráfico 1: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: O português bem falado é aquele que se
aproxima ao apresentado nas gramáticas normativas/ nos livros da escola
Percebe-se que, ao avaliar essa assertiva, a maioria concorda com a crença de que o
português bem falado é aquele apresentado nas gramáticas normativas/ nos livros da escola,
ainda que exista uma predominância maior de respostas verdadeiras no grupo de alunos,
sendo que 87% dos discentes considerou verdadeira a assertiva, com 20 pontos percentuais a
mais que os professores. Destacamos que, embora tenhamos substituído a expressão
gramática normativa por livros da escola nos teste dos discentes, sabemos, a partir da análise
do livro didático utilizado por eles, que ainda há o predomínio da gramática normativa como
norteadora na elaboração dos conteúdos, o que nos faz depreender que as respostas são
similares quanto ao objeto de análise.
65
Gráfico 2: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: A língua escrita é mais correta que a
falada
Gráfico 4: Respostas dos docentes a respeito da assertiva: Em qualquer situação de vida posso falar do mesmo
jeito.
Essa assertiva foi incluída propositalmente apenas no teste de crenças aplicado com
docentes, pois entendemos que esse grupo circula por esferas de comunicação nas quais os
alunos não circulam e, sabendo disso, acionariam a reflexão sobre o uso das diferentes
variedades em outros eventos que não os que os alunos frequentam, a exemplo da esfera
profissional e do evento curso de formação, contexto de uso que sugere um maior
monitoramento da língua(gem). Sabemos que os discentes também circulam por diferentes
esferas, contudo, o uso da língua nesses contextos não exige o mesmo grau de monitoramento
do que nos exemplos de uso já citados e utilizados pelos professores, por isso não pensamos
ser adequado comparar as assertivas. Os dados revelam que todos os professores parecem
cientes da necessidade de se ter competência comunicativa para interagir em situações
diversas.
Destacamos que, embora não tenham participado da pesquisa professores de língua
portuguesa, é por meio da língua portuguesa que todos os professores interagem com os
alunos, até mesmo aqueles que ministram aulas de línguas estrangeiras, assim, acreditamos
que a assertiva revelou que os docentes possuem consciência sobre a coexistência de diversas
variedades linguísticas e a importância de se saber quando e como usar cada uma delas.
Gráfico 5: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Para saber escrever bem é necessário
dominar as regras de ortografia/escrita
Destacamos que, na visão da sociolinguística, as regras de ortografia são leis por isso
categóricas, invariáveis, logo, há certa pertinência na questão, o que não se pode levar em
conta é que sejam elas as ditadoras do poder, supremas, pois são apenas um aspecto a se
relevar no escrever bem. Os resultados sugerem tanto os professores, quanto os alunos
acreditam que para escrever bem é preciso dominar as regras de ortografia; e suscitam
questionamento acerca do que ambos os grupos entendem por “escrever bem/direito”.
Gráfico 6: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Os adultos falam melhor que crianças e
jovens
informantes não crê que os adultos falem melhor do que crianças e jovens, no entanto, ainda o
contrário acontece, pois se infere que os alunos enxergam os docentes como superiores, pois
falariam melhor, na opinião deles. O que não é adequado, pois a variedade utilizada por
adultos não possui relação hierárquica com a utilizada por crianças e jovens, isto é, não os
torna superiores, embora, realmente, pelo grau de instrução maior, os docentes utilizem-se das
variedades cultas da língua com mais habilidade.
Gráfico 7: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Para escrever bem, é preciso ler muito.
O Gráfico 7 ilustra outra assertiva em que houve diferença mínima entre a resposta
de professores e alunos e que coincide a crença de que para se escrever bem, deve-se ler
muito. Tal crença talvez possa ter reverberado o senso-comum de que os livros ditem o “bem
falar” e o “bem escrever”, o que corrobora a gramática normativa, sobre a qual já discorremos
no referencial teórico, aquela que visa a um ideal de escrita e não o uso real dela, nem
tampouco considera outras variedades que não a norma-padrão; no entanto, os participantes
também podem ter associado um maior acesso à leitura ao avanço, grosso modo falando, de
repertório, o que, em certa medida, torna otimista o resultado.
70
Gráfico 8: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Para escrever bem, devo melhorar meu
jeito de falar
Gráfico 9: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: O bom professor de português fala sempre
de acordo com as regras de gramática
Gráfico 10: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: A linguagem dos livros é sempre melhor e
mais bonita do que meu modo de falar
Como sabemos que a norma dita padrão – para nós idealizada, irreal – existente em
grande medida só nos livros e que é ensinada com apoio na gramática tradicional, em geral, é
protagonista de encenar a crença de supremacia da escrita sobre a fala, o Gráfico 10, mais
uma vez, reitera o olhar mais libertário do professor sobre as variedades e o olhar mais
conservador por parte dos alunos. Os dados revelam que 69,6% dos discentes enxergam a
língua(gem) dos livros como melhor e mais bonita, ao contrário da certeza de que a assertiva é
falsa por parte dos docentes.
73
Gráfico 11: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Para aprender a escrever o aluno deve
aprender a falar como seu professor de Português
Sobre o Gráfico 11, é importante ressaltarmos que compila dados sobre a assertiva
que personifica o ensino de língua(gem) na figura do professor da disciplina de Língua
Portuguesa, para os alunos, assertiva verdadeira, para os professores, absolutamente falsa.
Esse resultado nos deixa esperançosos se pensarmos que aos nossos colegas no magistério
cabe a crença de que não somos os únicos (e nem pretendíamos sê-lo) a dominar a(s)
variedade(s) culta(s) e a compreender que ampliar a competência comunicativa dos discentes
não se dá somente pela mediação do professor de Português. Todos os docentes devem ser
agentes no movimento de auxiliar os alunos a descrer do pensamento que nos coloca, como
outrora, em um tablado que nos eleva, empodera-nos.
Supomos que, na maioria das vezes, é essa crença e hiper prestígio que é concedido
à(s) variedade(s) com que interagimos, nós professores de língua(gem), que distancia o aluno
do prazer em ampliar habilidades sobre o seu próprio idioma. Além disso, tal crença causa-
nos desconforto, pois, muitas vezes, quando o professor de português revela a profissão que
exerce, ouve crenças do tipo “Então devo cuidar como falo”. Na minha prática docente, tenho
74
ouvido frequentemente, ao longo dos anos, outra crença: “Os alunos não vão bem nas provas
(seja de Matemática, de Ciências, de História) porque não sabem interpretar, não leem bem”
(nas entrelinhas, culpa do professor de Português). Será que não cabe, também, a mais
nenhum docente desenvolver práticas de letramento? Seria o resultado negativo a essa
assertiva um indício de mudança de pensamento? Torçamos que sim.
Gráfico 12: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: A escola deve corrigir a fala dos alunos
Gráfico 13: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Para se escrever direito, é necessário
aprender gramática normativa/as regras que trazem os livros da escola
[...] “é ou não é para ensinar gramática?” Se for para ensinar gramática como uma
mera repetição da doutrina tradicional, anacrônica e encharcada de preconceitos
sociais, definitivamente não é para ensinar gramática. Se “ensinar gramática” for
entendido como decoreba de nomenclatura sem nenhum objetivo claro e relevante,
análises descontextualizadas e às vezes até ridículas, definitivamente não é para
ensinar gramática. [...] Mas se por gramática entendemos o estudo sem preconceitos
do funcionamento da língua, do modo como todo ser humano é capaz de produzir
linguagem e interagir socialmente através dela, por meio de textos falados e escritos,
portadores de um discurso, então, definitivamente é para ensinar gramática, sim. Na
verdade, mais do que ensinar, é nossa tarefa construir o conhecimento gramatical
dos nossos alunos, fazer com que eles descubram o quanto já sabem da gramática da
língua e como é importante se conscientizar desse saber para a produção de textos
falados e escritos coesos, criativos, relevantes, etc. (BAGNO, 2008, p. 69-70)
76
Gráfico 14: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Os professores de Português devem
ensinar gramática normativa para que os alunos escrevam bem/as regras apresentadas nos livros para que
escrevam bem
Gráfico 15: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: O meu jeito de falar é igual ao das
pessoas com quem convivo no lugar onde moro, por isso tenho orgulho do meu jeito de falar
Gráfico 16: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Eu tenho orgulho do meu jeito de falar
porque é igual ao das pessoas do lugar onde nasci
Gráfico 17: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Só há um modo de falar corretamente:
aprender o que a escola ensina
Gráfico 18: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: O jeito de falar em Florianópolis é bonito
comunidade escolar, pois os alunos que não naturais de Florianópolis poderiam perceber as
variedades regionais dos colegas nascidos aqui como bonitas no sentido de buscar uma
situação de pertencimento ao grupo.
Gráfico 19: Respostas dos docentes e discentes a respeito da assertiva: Há outras falas mais bonitas que a de
Florianópolis
No último gráfico, tanto para professores quanto para alunos, as respostas são muito
próximas, com apenas 3,1% de diferença entre as avaliações de docentes e discentes, o que
leva a concluir que a maioria considera a variedade florianopolitana como bonita ou tão bonita
quanto outras variedades regionais que circulam na escola, ainda que, como mencionado
anteriormente, o predomínio da naturalidade dos informantes não seja Florianópolis. Tal
resultado ratifica a hipótese interpretativa aventada em relação ao gráfico anterior, qual seja o
desejo de aceitação pela comunidade.
À última assertiva (Gráfico 19), Há outras formas mais bonitas que a de
Florianópolis, foi acrescida uma lacuna que possibilitava que docentes e discentes trouxessem
um exemplo de fala Exemplo a de _________, apenas um aluno que nasceu em Florianópolis
marcou que há outras falas mais bonitas e exemplifica com “nordestina” e aqueles que não
82
o tipo mais trágico de preconceito não é aquele que é exercido por uma pessoa em
relação a outra, mas o preconceito que uma pessoa exerce contra si mesma. [...] Se já
existe uma mudança de atitude nas políticas oficiais de ensino, por que o círculo
vicioso do preconceito linguístico continua girando? (BAGNO, 1999, p. 97):
[...] aqueles alunos que já chegam à escola familiarizados com a variedade culta
sofrem menos, porque cometem naturalmente menos “erros”. Mas ficam, em grande
medida, presos na memorização estéril de regras e classificações. É preciso que essa
questão continue sendo alvo de estudo. Nesse sentido, creio que procurar torná-la
explícita através do estudo das reações subjetivas dos alunos a diferentes variedades
83
de sua língua materna, em ambiente escolar pode ser mais uma contribuição da
pesquisa sociolinguística para se compreender o problema, tendo em vista a
necessidade de se resolvê- lo. (CYRANKA, 2007, p.67)
O aluno leva para a escola um conhecimento prévio (adquirido no lar e num mundo
social mais amplo) de que há formas linguísticas “erradas”, que devem ser
substituídas por forma “certas”. Ingressa, portanto, com uma pré-disposição para
assumir a visão prescritiva e proscritiva da escola.
Este pensamento proscritivo atual segue a mesma linha do que circulava outrora a
mente dos alunos que frequentavam a escola pública pesquisada por Santos já na década de
1970, os quais, após frequentar a escola, passavam a estigmatizar as variedades linguísticas
84
utilizadas pelos pais, pois acreditavam que eles falavam errado e que na escola se falava o
certo.
Quando traçamos o perfil da escola e dos discentes participantes da pesquisa,
destacamos que, em sua maioria, os alunos advêm de famílias com baixo nível de
escolarização, o que, em certa medida, cremos que estimule o pensamento do educando: a
escola ensina o correto. Essa questão traz à luz, e que fazemos inferência no título desta
dissertação, a evidência de que o preconceito linguístico está atrelado ao preconceito social,
pois é a (auto) avaliação da condição socioeconômica que o aluno tem que o faz crer que,
supostamente, a linguagem utilizada por aqueles que tenham ascendido socialmente seja a
correta. Ou seja, “dize-me como falo, que te direi quem sou”, a escola corrige o aluno, a
escola ensina o certo e o aluno conclui o status social que possui, estigmatizando as
variedades com que interagia antes de frequentar os bancos escolares e ainda interage neles e
fora deles.
Dessa forma, percebemos que urge a necessidade do docente não apenas mudar suas
crenças quanto à lingua(gem), mas de, também, mudar suas atitudes, pois vimos que uma das
crenças em que há concordância é a de que os professores devem corrigir a fala dos alunos e,
uma vez que o façam em qualquer circunstância de uso, estariam adotando uma atitude
proscritiva, excludente. Ora, só se corrige o que está errado e se sempre se deve fazer isso,
devemos partir do pressuposto que sempre estão erradas essas falas, o que desconsidera a
noção de adequação aos diferentes contextos de uso e gêneros de texto/ discurso pelos quais
as variedades transitam, tal como afirma Coelho et al. (2015, p.141):
É papel da escola oferecer condições para que o aluno desenvolva plenamente suas
competências sociocomunicativas. Para tanto, deve ensinar a norma culta (não a
norma padrão e muito menos a norma curta), não no sentido que o aluno substitua
uma norma (a dele, vernacular) por outra, mas no sentido de capacitá-lo a dominar
outras variedades para que possa adequar seu uso linguístico a diferentes situações.
(COELHO et al., 2015, p.141):
É fato, algo precisa ser feito para estreitar esse hiato que separa as crenças dos
professores, ora coincidentes com as crenças dos alunos em torno da língua(gem), ora não, das
atitudes que mobilizam as práticas de ensino não só na disciplina de Língua Portuguesa. Os
alunos demonstram um endeusamento das variedades cultas, as quais adquirem status de
prestígio, e daqueles que as utilizam, o que em nada colabora para o desenvolvimento da sua
competência comunicativa, mas colabora para o estigma das variedades com que interagem
nas diversas esferas de comunicação e para um consequente preconceito linguístico.
85
Quadro 1: Resposta à questão: Preencha o quadro abaixo marcando um X para a(s) qualidade(s) que você
reconhecer em cada uma das personagens:
analisou duas escolas de Uberaba, uma periférica e uma central, e o seu teste de atitudes
revelou as pessoas se tornarem, na avaliação dos participantes, mais ou menos confiáveis pelo
seu modo de falar, além de colaborarem no estereótipo do falar mineiro como caipira, da
mesma forma como os discentes da nossa pesquisa avaliaram a personagem Zé Pequeno.
Ninguém reconhece variedades distintas da sua, todos responderam que não.
A última questão trazia: “Você concorda com o que dizem as personagens na tira 4,
que Marieta fala certo e Zé Pequeno, errado? Por quê?” E as respostas foram:
✓a maioria respondeu que não concorda e não justificou;
✓um disse que nenhum dos dois fala errado, uma personagem fala como se fala na
cidade e outra como se fala na roça;
✓um disse que sim, Marieta fala certo e Zé Pequeno errado, porque Marieta tem
mais estudo.
Através das questões de análise textual que propusemos, traçamos outros trajetos
para chegar aos resultados sobre as crenças e atitudes dos alunos, contudo, verificamos
respostas muito condizentes com as crenças que nos revelaram os testes respondidos por
docentes e discentes e que parecem corroborar a supremacia dos mitos: a(s) normas culta(s)
(no caso da utilizada por Marieta, a curta, compreensão que obtivemos a partir da leitura de
1000 tiras do autor das HQs, nas quais, muitas vezes, Marieta comunicava-se com linguagem
demasiado formal, por meio da utilização de mesóclise, por exemplo, raramente apresentada
na fala do português brasileiro) ditam as regras e as demais variedades devem obedecer e
sucumbir, caso contrário, quem as fala não obtém prestígio, logo, não obtém poder. No
entanto, fechamos resgatando uma das respostas à última pergunta da análise textual e que
destacamos em negrito: “nenhum dos dois (personagens) fala errado, uma personagem fala
como se fala na cidade e outra como se fala na roça”, afirmativa que nos encanta. A
afirmativa que destacamos, associada à quantidade de avaliações solidárias que recebeu a
personagem Zé Pequeno, seria reflexo de novos olhares sobre a língua(gem) por parte dos
discentes? Torçamos que sim.
88
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final desta dissertação, cabe destacar que o objetivo geral deste trabalho foi
analisar as crenças e atitudes linguísticas de docentes e discentes sobre variedades linguísticas
coexistentes em um contexto escolar de afluxo sazonal, composto por professores e alunos
oriundos de diversas regiões do país, propiciando um olhar mais atento sobre a variação
linguística e sua fundamental importância no contexto socioeducacional. Para tanto,
aplicamos dois testes, um a docentes e discentes, e outro apenas a discentes de uma escola
pública municipal de Florianópolis, os quais, entre alguns objetivos, visavam a responder a
seguinte questão norteadora: como docentes e discentes avaliam as variedades linguísticas
coexistentes no contexto escola? Apresentamos a seguir nossa conclusão, à luz dos resultados
obtidos, em torno dos demais objetivos e hipótese geral, das limitações do trabalho e possíveis
desdobramentos da pesquisa.
A hipótese geral foi validada em parte, pois acreditávamos que os docentes e
discentes avaliavam de forma positiva as variedades cultas e de forma negativa as outras
variedades, no entanto, percebemos que há sim um grande prestígio concedido à norma culta
nos corredores escolares, tanto por parte de professores, quanto por parte de alunos, mas as
crenças dos docentes revelaram não haver estigma quanto às demais variedades com que
ambos os grupos interagem e se comunicam.
Identificamos, retomando os objetivos específicos, as crenças linguísticas acerca
dos diferentes modos de falar no contexto escolar; reconhecemos a avaliação que os
falantes da língua fazem sobre as variedades linguísticas circulantes na escola; mas ainda
nos ficou obscura a atitude dos discentes diante do domínio ou não das variedades cultas
por discentes e docentes.
Saber que ainda há reprodução de crenças e atitudes muitas vezes equivocadas sobre o
ensino de língua portuguesa, sobretudo quando esse ensino envolve discentes de um 6º ano,
momento da trajetória escolar em que é apresentada a figura do professor de Português, é ter
consciência que um caso de amor é rompido. Dizemos isso porque, antes desse período, os
alunos têm certo apreço pelas práticas com que tomam contato com a língua(gem) escrita
(pois já dominavam a falada e interagiam por meio dela), tais como aprender a escrever, a ler,
a inventar histórias, a escrever bilhetes carinhosos para o professor, e, ao ingressar nas séries
finais do Ensino Fundamental, algo se rompe e esse amor é deixado de lado, já que o prazer
em lidar principalmente com a escrita é substituído pela tensão de ter de decorar regras,
nomes e conceitos. Sabendo disso, buscamos, ;por meio da análise e descrição dos resultados
89
dos testes, verificar quais são as crenças em que há concordância entre docentes e discentes e
quais não, pensando que nos possibilitaria quiçá acender uma luz para práticas pedagógicas
que colaborem para o retorno àquele velho caso de amor.
Seguimos agora com pontos essenciais que esta dissertação trouxe à tona. Para ambos
os grupos, de docentes e de discentes, o português bem falado é aquele que se aproxima ao
utilizado nas gramáticas; para se escrever bem, é necessário ler muito, além de o professor de
português ensinar gramática tradicional, a qual sabemos que busca descrever a norma padrão
como um ideal de escrita, o que em pouco se aproxima do real uso da língua(gem) por parte
de professores e alunos. Essas crenças sobre as quais há consenso revelam o reforço à outra
crença equivocada: a de que a escrita é superior à fala.
Nesse contexto, também se insere o pensamento dos alunos de que só a escola ensina a
falar e escrever bem e de que os adultos, possivelmente os professores, falam melhor do que
eles. Que dominemos a norma culta, sabemos que é inerente à profissão que exercemos, no
entanto, os alunos não deveriam compreender que por isso falamos melhor do que eles, o que
corrobora essa ideia é a crença, por parte dos alunos, de que um bom professor de português
fala sempre de acordo com as regras, o que nos salva quando os colegas alegam pensar o
contrário. Ter a certeza de que não é sempre que utilizamos a norma culta, nem nós e nem os
demais docentes, tem a ver com a crença sobre a qual apenas professores refletiram: nem
sempre podemos utilizar o mesmo modo de falar, algo que pressupõe a consciência de que
existem diferentes variedades linguísticas para diferentes situações de uso.
Afirmamos que não ficou clara para nós a atitude dos professores diante das diferentes
variedades circulantes na escola porque as suas crenças revelam um olhar mais libertário
sobre o ensino da língua portuguesa, mas as crenças dos alunos, ao contrário, revelam um
olhar bastante conservador. Ora, se são os docentes que possuem o maior grau de instrução no
contexto escolar e que, teoricamente, dominam a norma culta, bem como o entendimento de
que não é em qualquer situação de uso que ela é adequada, por que, então, os alunos pensam
diferente e endeusam a norma culta como única, correta, e ensinada pela escola? Parece que
há aí um distanciamento entre teoria e prática, pois os professores deveriam fazer das suas
crenças, atitude, e colaborar no desenvolvimento da competência comunicativa do aluno. Em
alguma medida esse distanciamento pode estar fundamentado na crença que contradiz a ótica
maleável dos docentes, também apontada pelos testes: o professor deve corrigir a fala dos
alunos. Contudo, destacamos não ser nosso objetivo julgar, muito menos condenar, os
professores por possuírem crenças arraigadas ao ensino tradicional de língua portuguesa, pois
acreditamos que estejam fundamentadas na formação escolar que tiveram, bem como na
90
lacuna provável existente nos cursos de licenciatura em geral, os quais não contemplam,
exceto o curso de Letras, e nem sempre, reflexões sobre variação linguística. Ainda assim,
tanto docentes quanto discentes creem falar bem, o que soa, para nós, como um excelente
sinal de um desmistificar crenças equivocadas.
Essa necessária correção, a própria palavra já diz, aciona as noções de correto e
incorreto, certo e errado, que parecem rondar as crenças dos alunos quase que o tempo todo,
tal rodeio fica nítido quanto analisamos o teste de crenças e atitudes proposto só para eles. Os
resultados nos mostram que o distanciamento entre a variedade com que os alunos interagem
e que os professores dominam e se comunicam, a culta, faz com que pensem que a escola
ensina o certo. Entendemos assim, pois, ao desvelar crenças e atitudes linguísticas por meio da
análise de tiras em quadrinhos, percebemos que os alunos supervalorizam aqueles que
utilizam a norma culta e pouco valorizam aqueles que não a utilizam, a exemplo das
personagens sobre as quais elencaram qualidades: Artuzinho é poderoso, Marieta é
inteligente, Zé Pequeno é boa pessoa, honesto, mas não é inteligente, o que revela o status de
prestigio e poder associados aos falantes que se comunicam por meio da variedade culta, o
que não seria o caso de Zé Pequeno.
A maioria dos alunos acredita que fala como Marieta, desconsiderando a sua variedade
e alegando que não fala errado, bem como todos entendem que a personagem tem modo de
falar parecido ao dos professores. Destaco, ainda, mais uma vez a questão do estigma bastante
presente nas reflexões dos alunos, quando, antes de responder ao teste, os educandos
afirmaram que não tinham amigos “caipiras”, por isso ninguém falava como Zé Pequeno.
Percebemos encontros e desencontros, ficamos com a pulga atrás da orelha quanto aos
desencontros, mas ficamos satisfeitos. É nítido o novo horizonte apontado pelos professores
ao responder os testes, assim como é nítida a ideia de que não há supremacia entre os
diferentes falares, digamos assim, o que já nos salta aos olhos e nos faz crer que um caminho
diferente pode ser traçado. Da mesma forma, a maneira solidária com que os alunos avaliam
Zé Pequeno e até mesmo o fato de alegarem que falam como Marieta, aponta para a ideia de
que eles sabem que não podem ser depreciados se não utilizarem a norma culta, mas que a
conhecer é muito importante.
Como desdobramento deste trabalho, sugerimos que outras pesquisas investiguem se
as crenças e atitudes de docentes influenciam ou não na eficácia do ensino e aprendizagem de
língua portuguesa, buscando verificar, na prática, quais as atitudes linguísticas adotadas a
partir das crenças reveladas nesta dissertação. Sugerimos um teste de atitudes que verifique se
há reverberação das crenças na prática e uma intervenção pedagógica por meio de
91
REFERÊNCIAS
AZEREDO, JC. De. Gramática Houaiss da língua portuguesa. São Paulo, Publifolha, 2008.
BAGNO, M. Nada na língua é por acaso – por uma pedagogia da variação linguística. São
Paulo: Parábola, 2009.
CEDRAZ, A. 1000 Tiras da Turma do Xaxado. São Paulo: Martin Claret, 2012.
COELHO, Izete L.; GÖRSKI, Edair M.; NUNES DE SOUZA, Christiane M.; MAY,
Guilherme H. Para conhecer Sociolinguística. São Paulo:Contexto, 2015.
93
COSTA, C.; MARCHETTI, G.; SOARES, J. Para viver juntos – Manual do professor. 4. ed.
São Paulo: SM, 2015.
ECKERT, P. Communities of Practice. In: Brown, K., Ed., Encyclopedia of Language and
Linguistics, 2nd Edition, Elsevier, Amsterdam, 683-685, 2006.
FARACO, C. A.; ZILLES, A. M. Para conhecer norma linguística. São Paulo: Contexto,
2017.
FARACO, C. A. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. 2. ed. São Paulo: Parábola
Editorial, 2008
GÖRSKI, E. M.; SIQUEIRA, M. A. Para além da questão: (não) ensinar gramática? Working
papers em Linguística (Gramática & escola). v. 18, n. 2, p. 25-49, Florianópolis, ago./dez.,
2017.
SOARES, Magda. Linguagem e escola: uma perspectiva social. São Paulo: àtica, 1987.
APÊNDICES
APÊNDICE 1
Teste de crenças e atitudes aplicado a docentes
Dados de identificação:
Nível em que leciona: Ensino Fundamental/ anos iniciais ( ) anos finais ( )
Disciplina que leciona: _________________________________
Anos em que atua atualmente: ______________________________________________
Formação docente: __________________________________________________________
Instituição em que se formou: _________________________________________________
Ano de formação: ______________ Tempo em que atua como docente: ______________
Naturalidade: ______________________ Sexo: __________________________
Leia as afirmações e marque um X para V de verdadeiro ou F de falso:
Afirmações V F
Eu falo bem.
A linguagem dos livros é sempre melhor e mais bonita do que meu modo de falar.
Para aprender a escrever, o aluno deve aprender a falar como seu professor de
Português.
A escola deve corrigir a fala dos alunos.
Eu tenho orgulho do meu jeito de falar porque é igual ao das pessoas do lugar onde
nasci.
Só há um modo de falar corretamente: aprender o que a escola ensina.
Observações/comentários:
97
Eu falo bem.
O bom professor de Português fala sempre de acordo com as regras apresentadas nos
livros da escola.
A linguagem dos livros é sempre melhor e mais bonita do que meu modo de falar.
Para aprender a escrever, o aluno deve aprender a falar como seu professor de
Português.
98
Os professores de Português devem ensinar as regras apresentadas nos livros para que
os alunos escrevam bem.
O meu jeito de falar é igual ao das pessoas com quem convivo no lugar onde
moro, por isso eu tenho orgulho do meu jeito de falar.
Eu tenho orgulho do meu jeito de falar porque é igual ao das pessoas do lugar onde
nasci.
O meu jeito de falar é muito diferente do jeito de falar dos professores da escola.
APÊNDICE 2
Tira 1
Tira 2
100
Tira 3
Tira 4
Tira 5
Fonte: CEDRAZ, Antonio. 1000 Tiras da Turma do Xaxado. São Paulo: Martin Claret, 2012.
101
b) Qual das personagens tem o modo de falar mais próximo daquele com
que falam os seus professores na escola? Por que você acha que isso
acontece?
✓_____________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
____________________
c) Você fala parecido com a fala do Zé Pequeno ou conhece algum colega
que fale assim?
✓_____________________________________________________
_________________________________
d) Se conhece um colega que fale assim, você acha o modo como ele fala
bonito? Por quê?
✓_____________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
___________
e) Você tem algum amigo ou colega que fale bem diferente de você? Se
sim, você acha o modo como ele fala bonito? Por quê?
✓_____________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
___________
f) Você concorda com o que dizem as personagens na tira 5, que Marieta
fala certo e Zé Pequeno, errado? Por quê?
✓_____________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
__________
h) Preencha o quadro abaixo marcando um X para a(s) qualidade(s) que você reconhecer
em cada uma das personagens:
Artuzinho
Marieta
Zé
Pequeno
103
ANEXOS
ANEXO 1: TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
Nem você, nem o aluno precisarão pagar nada para participar e também não
receberão nada pela sua participação nesta pesquisa. Manteremos seus contatos, solicitados
abaixo, para os devidos acompanhamentos e assistências a que você tem direito durante ou
após a finalização da pesquisa para garantir seu bem-estar e do aluno participante.
Está garantida a indenização no caso de eventuais danos decorrentes da pesquisa.
Por fim, sinta-se absolutamente à vontade para cancelar a autorização na pesquisa a
qualquer momento, sem ter que apresentar qualquer justificativa e sem ter qualquer prejuízo
no restante das atividades.
Você também poderá contatar a mim, para solicitar assistência e/ou informações
pertinentes à pesquisa, ou, se preferir, contatar diretamente o Comitê de Ética (CEPSH) da
UFSC, órgão responsável por avaliar os projetos de pesquisa com seres humanos, através dos
endereços abaixo:
Telefone: .
NOME DA CRIANÇA/ADOLESCENTE
ASSINATURA DATA
NOME DO INVESTIGADOR
ASSINATURA DATA
106
Você está sendo convidado(a) como voluntário(a) a participar desta pesquisa, que tem como
finalidade investigar crenças e atitudes sobre a língua portuguesa no contexto escolar.
Envolvimento pesquisa: ao participar desta pesquisa você terá a oportunidade de realizar
atividades que visam a melhorar as práticas de produção de textos dos alunos na esfera
escolar, colaborando assim para um melhor desempenho em todas as disciplinas.
Para participar deste estudo, você precisa autorizar, assinando um termo de
autorização chamado Termo de Consentimento, depois disso, deverá responder a um
questionário. Você não vai precisar pagar nada para participar e também não receberá nada
pela sua participação nesta pesquisa. Você pode fazer qualquer pergunta e, se tiver alguma
dúvida sobre sua participação, a qualquer hora esta será respondida. A sua participação é
voluntária, ou seja, você participa se quiser, e o fato de você não querer participar não levará a
qualquer consequência para o seu trabalho na escola. Seu nome será mantido em segredo, só
os pesquisadores saberão e não irão contar para mais ninguém. Você não será identificado
em nenhuma publicação, pois os resultados deste trabalho poderão ser apresentados em
encontros ou revistas científicas, os quais mostrarão apenas os resultados obtidos como um
todo, sem revelar seu nome, instituição ou qualquer informação relacionada à sua privacidade.
A participação na pesquisa apresenta os riscos normais a que você está exposto ao
atuar na escola, ou, talvez, um cansaço mental ao responder o questionário, mas que não o
causará danos por ser uma ação recorrente na esfera escolar, além do risco involuntário de que
quebra de sigilo, sobre o qual, no entanto, tomamos os devidos cuidados para evitar, caso,
ainda, isso aconteça, as consequências serão tratadas nos termos da lei.
Está garantida a indenização no caso de eventuais danos decorrentes da pesquisa.
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Eu, , portador(a) do
documento de Identidade _, fui informado(a) dos
objetivos desta pesquisa de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que a
qualquer momento poderei fazer novas perguntas, e poderei mudar a decisão de eu participar
se quiser. Sei também que a minha participação no estudo não acarretará custos para mim e
não receberei nenhuma compensação financeira adicional. Declaro que concordo em
participar dessa pesquisa. Recebi uma cópia deste termo e me foi dada a chance de ler e
esclarecer as minhas dúvidas.
Assinatura do docente