2022 SamyraEspindolaLima
2022 SamyraEspindolaLima
2022 SamyraEspindolaLima
Brasília
2022
SAMYRA ESPÍNDOLA LIMA
À minha orientadora Drª Silviene Fabiana de Oliveira, pela oportunidade, pelo suporte,
pelas suas correções e pelos incentivos.
Aos pacientes e seus responsáveis por gentilmente aceitarem participar desse estudo.
Thomas Huxley
RESUMO
Figura 19. Deleção de 4.7kb dos genes STRC, CKMT1B, SNOU13, RNU6-554P do
paciente 10970. Imagem gerada pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers . 54
Figura 20. Deleção de 1.1kb dos genes STRC, CKMT1B e RNU6-554P do paciente
10970. Imagem gerada pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers. .............. 55
ºC Grau Celsius
µL Microlitro
AATD do inglês alpha-1-antitrypsin deficiency
ACMG do inglês American College of Medical Genetics and Genomics
BERA Potencial evocado auditivo do tronco encefálico
BOR Síndrome branquio-oto-renal
CEAL Centro Educacional da Audição e Linguagem
CPT II Carnitina palmitoil transferase II
CX26 Conexina 26
dB Decibel
DFNB deficiência auditiva não sindrômica autossômica recessiva
DNA do inglês Deoxyribonucleic Acid
dNTPs Desoxirribonucleotídeos fosfatados
EDTA do inglês Ethylenediamine Tetraacetic Acid
EIM Erros Inatos do Metabolismo
ES Espírito Santo
EUA Estados Unidos da América
EVA do inglês enlarged vestibular aqueduct
GWAS do inglês Genome Wide Association Studies
H2O Água
HD do inglês homeodomain
HUB Hospital Universitário de Brasília
IA inteligência artificial
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MG Minas Gerais
MgCl2 Cloreto de magnésio
min Minuto
mM Milimolar
ng Nanograma
NGS do ingês Next-Generation Sequencing
OMIM do ingês Online Mendelian Inheritance in Man
PA Pará
pb Par de base
PCR do inglês Polymerase Chain Reaction
pmoles/µL Picomol/microlitro
PR Paraná
PVC Policloreto de vinila
rpm Rotação por minuto
RS Rio Grande do Sul
SD do inglês SIX domain
seg Segundo
SP São Paulo
TBE Tris-borato-EDTA
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
U/µL Unidade/microlitro
UV Ultravioleta
VUS Variante de significado incerto
WES do inglês whole exome sequencing
WGS do inglês Whole Genome Sequencing
10
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 13
1.1 Funcionamento normal da audição .................................................................... 14
1.1.1 Orelha – anatomia .............................................................................................. 14
1.1.2 Ouvir: da vibração ao som ................................................................................. 17
1.2 Classificação da deficiência auditiva ................................................................. 18
1.2.1 Deficiência auditiva sindrômica ........................................................................ 19
1.2.1.1 Síndrome branquio-oto-renal ................................................................. 20
1.2.1.2 Síndrome de Waardenburg .................................................................... 20
1.2.1. 3 Síndrome de CHARGE .......................................................................... 21
1.2.1.4 Síndrome de Usher ................................................................................. 21
1.2.2 Deficiência auditiva não sindrômica .................................................................. 22
1.2.2.1 GJB2 ... .................................................................................................. 22
1.2.2.1.1 Variante 35delG ......................................................................................23
1.2.3 Genes associados a deficiência auditiva ............................................................ 25
1.2.3.1 SLC26A4 ............................................................................................... 26
1.2.3.2 MYO7A ................................................................................................. 26
1.2.3.3 SIX1 ....................................................................................................... 26
1.3 Sequenciamento de Nova Geração (NGS) ......................................................... 27
1.3.1 Achados Incidentais ........................................................................................... 28
1.3.2 Achados Secundários ......................................................................................... 28
2. JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 29
3. OBJETIVOS ...................................................................................................... 30
4. MATERIAL E MÉTODOS .............................................................................. 31
4.1 Aspectos éticos ................................................................................................. 31
4.2 Seleção de pacientes .......................................................................................... 31
4.3 Coleta de material biológico .............................................................................. 32
4.4 Extração e quantificação de DNA ..................................................................... 32
4.5 Análise da presença da mutação c.35delG ......................................................... 32
4.6 Exoma ................................................................................................................ 35
4.7 Plataforma Franklin ........................................................................................... 36
4.8 Análise dos Exomas ........................................................................................... 37
11
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................... 39
5.1 Triagem 35delG ................................................................................................. 39
5.2 Exomas ................................................................................................................41
5.3 Apanhado geral .................................................................................................. 74
6. CONCLUSÕES ................................................................................................. 77
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................. 79
ANEXO 1 ...................................................................................................................... 84
ANEXO 2 ...................................................................................................................... 85
ANEXO 3 ...................................................................................................................... 88
ANEXO 4 ...................................................................................................................... 91
ANEXO 5 ...................................................................................................................... 94
ANEXO 6 ...................................................................................................................... 97
ANEXO 7 ...................................................................................................................... 99
12
1. INTRODUÇÃO
14
Figura 1. Anatomia da orelha externa, média e interna. Imagem modificada de Bear (2017).
A cóclea dá duas voltas e meia sobre si mesma, ao redor de seu eixo central, o
modíolo (Figura 2 A); isso faz com que tenha o formato espiralado (lembrando a concha
de um caracol). A cóclea possui três canalículos: escala vestibular, média e timpânica
(Figura 2 B). A escala média está separada da vestibular (posicionada superiormente)
pela membrana de Reissner e da escala timpânica (posicionada inferiormente) pela
15
membrana basilar. A escala vestibular e a timpânica estão preenchidas de perilinfa e,
por uma abertura intitulada helicotrema, há a comunicação da perilinfa ao longo do
canal ósseo. A escala média é composta pelo órgão específico da audição, o órgão de
Corti (Figura 2 C), que recebe terminações nervosas periféricas provenientes da porção
coclear do VIII nervo craniano; a parede lateral da rampa média está ligada ao labirinto
pelo ligamento espiral. A ligação modiolar da rampa média é a lâmina espiral óssea.
Juntando-se à lâmina espiral está a membrana basilar (FULLER D, 2014).
16
Figura 2. Corte transversal da cóclea. A. Enrolada ao redor do núcleo ósseo, a cóclea protege suas fibras
nervosas. B. O labirinto membranoso divide o labirinto ósseo em duas partes: a rampa do vestíbulo acima
e a rampa timpânica abaixo; a rampa média aloja o órgão terminal receptor da audição. C. as estruturas do
órgão de Corti repousam na membrana basilar. Retirado de Fuller (2014).
18
por exemplo, dismorfias, deficiência
intelectual, alterações cardíacas, polidactilia,
dentre outros
Não Sindrômica: quando não apresenta
associação com outras características
clínicas, ou seja, quando a perda auditiva é o
único fenótipo presente
20
II AR/AD não apresenta MITF, SNAI2 READ; NEWTON, 1997;
distopia canthorum e SOX10 SONG, J. et al., 2016
21
Quadro 3. Diferenciação entre os quadros fenotípicos da Síndrome de Usher e seus respectivos genes
associados.
1.2.2.1 GJB2
22
O gene GJB2 está localizado na região cromossômica 13q12.11. Diversas
mutações já foram descritas como associadas com a deficiência auditiva. Esse é o gene
responsável por codificar uma proteína de ligação gap, chamada conexina 26 (CX26), e
apresenta um único exon (LEFEBVRE; VANDEWATER, 2000). Seis subunidades de
CX26 formam uma conexona, sendo que conexonas de duas células adjacentes se ligam
criando um canal intercelular (LEFEBVRE; VANDEWATER, 2000) que, por sua vez, é
indispensável para o sistema de trocas de eletrólitos e metabólitos das células
(BRUZZONE; WHITE; PAUL, 1996). Na cóclea, esses canais são responsáveis por
manter a homeostase de íons de potássio nas células ciliadas, cuja função é transformar
o estímulo sonoro em sinal bioelétrico pelo fluxo dos íons de potássio (LEFEBVRE et
al., 1990). Dessa forma, quando a CX26 não é codificada corretamente, ocorre uma
interrupção da reciclagem do potássio e a sua alta concentração na endolinfa dos dutos
cocleares causa uma intoxicação no órgão de Corti, ocasionando a perda de audição
neurossensorial (LEFEBVRE et al., 1990). Dentre as mutações no gene GJB2 que
ocasionam deficiência auditiva não sindrômica autossômica recessiva (DFNB), a
variante c.35delG (rs80338939) é a mais frequente (60-85%) na população europeia e
eurodescendente (ANGELI; LIN; LIU, 2012). Nos indivíduos afetados, esta mutação
pode estar presente em homozigose ou heterozigose composta (CORDEIRO-SILVA et
al., 2010).
23
de que esta é uma variante fundadora entre populações de ascendência europeia
(LEBEKO et al., 2015).
24
Uma série de estudos acerca da prevalência desta variante em indivíduos com
deficiência auditiva foi realizada no Brasil (Quadro 4). Observa-se que a maior
frequência alélica foi em São José do Rio Preto e a menor em Belém.
TOTAL 652 36 47 -
25
Os genes aqui descritos foram selecionados por serem causai tanto para a
deficiência auditiva sindrômica quanto para a não sindrômica.
1.2.3.1 SLC26A4
Também conhecido como gene PDS, está localizado na região cromossômica
7q22.3. Variantes no gene SLC26A4 são conhecidamente causativos da Síndrome de
Pendred (OMIM 274600) e da deficiência auditiva autossômica recessiva 4, com
aqueduto vestibular alargado (EVA) (OMIM 600791). Esse gene codifica um
transportador de ânions conhecido como pendrina. Essa proteína é expressa nas células
epiteliais cocleares da proeminência espiral, células da raiz, nas células fusiformes da
estria vascular, na membrana apical das células epiteliais do saco endolinfático e nas
células epiteliais que circundam as células ciliadas do sáculo, utrículo e ampola. A
maioria das variantes missense associadas à deficiência auditiva leva à perda de função
de pendrina com retenção intracelular (ALPER; SHARMA, 2013).
1.2.3.2 MYO7A
1.2.3.3 SIX1
26
mamíferos, um complexo SIX1-DACH regula a proliferação celular e a apoptose. SIX1
tem dois domínios evolutivamente conservados: o domínio SIX (SD) é responsável
pelas interações proteína-proteína, e o homeodomínio (HD) é essencial para a ligação
proteína-DNA (KOCHHAR et al., 2008).
27
1.3.1 Achados Incidentais
À medida que o sequenciamento passou a ser realizado em larga escala,
surgiram questionamentos, dentre eles o grande desafio da definição dos limites de
análise de dados. Quando a amostra de um paciente é analisada utilizando NGS,
principalmente em análise de exoma e genoma, um grande número de variantes, além
das de interesse para a resolução do caso em questão, pode ser detectado. Embora
muitas dessas variantes não sejam clinicamente relevantes ou não sejam interpretáveis,
uma minoria pode ter implicações médicas importantes para o indivíduo sequenciado,
bem como para outros membros a amília. Essas variantes são intitula as “acha os
incidentais" (WATSON, 2015).
28
1.3.2 Achados Secundários
A análise de NGS pode, ainda, identificar variantes causais que não respondam a
pergunta inicial do teste ou não se enquadrem como achados incidentais. Nesses casos,
optou-se por usar o termo “acha os secun rios” ao se re erir a essas variantes.
29
2. JUSTIFICATIVA
A deficiência auditiva é considerada o distúrbio sensorial mais comum, afetando
aproximadamente um em cada mil indivíduos no nascimento ou durante a primeira
infância. Pode estar relacionada a causas genéticas, ambientais ou a uma combinação de
ambas. Com relação às causas genéticas, foco do presente trabalho, observa-se que o
melhor conhecimento associado a ampliação no repertório de novas tecnologias, vem
permitindo o encontro do diagnóstico molecular para um número muito maior de casos.
O diagnóstico molecular de deficiência auditiva no Distrito Federal, em particular na
rede pública de saúde, é ainda deficitário. Neste trabalho buscou-se contribuir na busca
da etiologia genética de casos de deficiência auditiva, visando não só possibilitar um
melhor aconselhamento genético das famílias envolvidas, como também expandir o
conhecimento a respeito.
30
3. OBJETIVOS
Objetivo geral
O objetivo principal deste trabalho é buscar a etiologia genética para casos de
deficiência auditiva sindrômica e não sindrômica em pacientes do Distrito Federal.
Objetivo específico
● Implantar e realizar triagem da variante c.35delG em pacientes dos ambulatórios
de genética e otorrinolaringologia do Hospital Universitário de Brasília.
31
4. MATERIAL E MÉTODOS
33
Primer F: 5’ CCTGTTTTGGTG GGTTGTGT 3’
Tabela 1. Concentrações dos reagentes na solução de reação de PCR para amplificação da região
contendo a mutação c.35delG.
Reagente Concentração μl por amostra Final
(solução de trabalho)
34
Amperes por 60 minutos. A análise do gel foi feita com o uso de um transluminador
com luz UV.
H2O 4.0
Total 10.0
1. desnaturação 95 20 seg
2. hibridação ** 15 seg
3. extensão 72 1 min
35
4. repetir 30X --- ---
a partir da 1º etapa
5. Frio 10 ∞
6. Fim
4.6 Exoma
As amostras de DNA selecionadas para o sequenciamento de exoma completo
(WES) foram enviadas para a empresa Macrogen® com sede em Seul, Coréia do Sul.
Antes do processamento das amostras, elas passaram por um teste de qualidade interno
da Macrogen® e as amostras qualificadas seguiram para a etapa seguinte do processo: a
construção da biblioteca. A metodologia solicitada para o sequenciamento foi a Illumina
NGS.
36
as reações de fragmentação e ligação em uma única etapa. Os fragmentos ligados ao
adaptador foram amplificados por PCR e purificados em gel.
Para geração de cluster, a biblioteca foi carregada em uma célula de fluxo onde
os fragmentos foram capturados pelos oligos ligados à superfície complementar aos
adaptadores da biblioteca. Cada fragmento foi amplificado em clusters clonais distintos
pela amplificação em ponte. Quando a geração do cluster foi concluída, os modelos
ficaram prontos para o sequenciamento. A tecnologia Illumina SBS utiliza um método
patentea o “basea o em termina or reversível” reversible terminator-based) que
detecta bases únicas à medida que foram incorporadas às fitas do molde de DNA. Ao
final do sequenciamento, o sequenciador Illumina gera imagens brutas utilizando
software de controle de sequenciamento para controle do sistema e base calling
(chamada de base), por meio de um software de análise primária integrado, chamado
RTA (Real Time Analysis). O BCL (base call) binário é convertido em FASTQ
utilizando o pacote Illumina bcl2fastq. Os adaptadores não são retirados das leituras. Os
dados assim obtidos nos foram enviados pela Macrogen®.
38
Painel Genes D.A. Genes D.A.
39
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
40
Figura 5. Eletroferograma do paciente DA_15. Em destaque, no retângulo vermelho, é possível identificar
a variante 35delG em heterozigose. Variante de mudança de quadro de leitura.
Caso similar se aplica ao paciente 11284 (Figura 6), que é heterozigoto para a
variante c.35delG, ou seja, essa variante sozinha não explica, molecularmente, o seu
fenótipo. Porém, foi possível a realização da técnica de exoma como análise posterior e,
com isso, observar a presença da variante c.550C>T em heterozigose no gene GJB2.
Para que essas duas variantes expliquem molecularmente o quadro de deficiência
auditiva do paciente, elas precisam estar em alelos diferentes, ou seja, o paciente precisa
ter heterozigose composta. Uma forma de verificar se o paciente tem heterozigose
composta é verificando se há a presença das variantes c.550C>T e 35delG nos pais.
Caso as duas variantes sejam verificadas só no pai ou só na mãe, não há heterozigose
composta, pois se encontram no mesmo alelo; caso um dos pais tenha a variante
c.550C>T e o outro a variante 35delG, então se confirma a heterozigose composta.
41
juntamente com o DNA dos outros pacientes oriundos do Ambulatório de Genética;
tendo isso em vista, optou-se por não realizar a triagem da variante c.35delG.
5.2 Exomas
O exoma foi utilizado somente para os pacientes oriundos do Ambulatório de
Genética. Destes pacientes, a amostra do 10598 não passou no controle de qualidade
interno do protocolo do exoma utilizado pela Macrogen. Portanto, o exoma foi realizado
em 12 pacientes.
Dos 12 pacientes, o exoma auxiliou no diagnóstico molecular da deficiência
auditiva em sete pacientes sindrômicos (10727, 10765, 10970, 11089, 11178, 11284 e
11294) e em dois pacientes não sindrômicos (10941 e 11289); três pacientes
sindrômicos (10581, 10921 e 11024) não tiveram diagnóstico molecular da deficiência
auditiva (Tabela 5). Abaixo estão apresentados os quadros clínicos dos pacientes para os
quais realizou-se a análise de exoma.
Tabela 5. Diagnóstico genético molecular obtido para os pacientes com deficiência auditiva incluídos na
pesquisa.
Análise da deleção
Amostra Fenótipo Análise do exoma
35delG no gene GJB2
DA_01 NS ausente -
DA_03 NS ausente -
DA_04 NS ausente -
DA_05 NS ausente -
DA_06 NS Homozigose -
DA_07 NS ausente -
DA_08 NS ausente -
DA_09 NS ausente -
DA_10 NS ausente -
DA_11 NS ausente -
DA_12 NS ausente -
DA_13 NS ausente -
42
10581 S ausente CPT2 (c.338C>T) em heterozigose; SERPINA1
(c.863A>T) em homozigose
Paciente 10581
Refere-se a paciente do sexo masculino, nascido em 23 de setembro de 1999,
filho de pais não consanguíneos e sem relatos de perda auditiva na família. Histórico
familiar relata parentes do lado materno com síncope vaso-vagal e glaucoma congênito
(Figura 7).
43
Figura 7. Heredograma da família do paciente 10581.
44
A análise do exoma revelou a presença de duas variantes, não relacionadas ao
fenótipo de deficiência auditiva do paciente. A primeira foi uma variante deletéria
localizada no gene CPT2, a c.338C>T (rs74315294), já descrita em indivíduos com
Deficiência de carnitina palmitoil transferase II, forma miopática (CPT II) (OMIM
255110). Essa variante foi observada em heterozigose com o alelo referência e leva a
mudança de uma serina para uma leucina na posição 113 da proteína (Figura 8). A
deficiência de CPT II já foi descrita como tendo padrão de herança tanto autossômico
recessivo como dominante (ANICHINI et al., 2011). É um distúrbio metabólico
hereditário que afeta a oxidação de ácidos graxos de cadeia longa mitocondrial
(BONNEFONT et al., 1999). A forma miopática se apresenta mais frequentemente em
crianças ou adultos jovens (BONNEFONT et al., 1999; MARTÍN et al, 1999). As
manifestações clínicas são caracterizadas por: ataques de rabdomiólise, mialgia,
concentração elevada de ácido graxo de cadeia longa em circulação, aumento da
concentração de creatina quinase sérica, entre outros. Os sintomas podem ser
desencadeados ou exacerbados devido a exercícios físicos prolongados, jejum
prolongado e extremos de temperatura (BONNEFONT et al., 1999; MARTÍN et al,
1999). Até o presente momento, o único gene associado a Deficiência de CPT II é o
CPT2 e a variante mais comum é a p.Ser113Leu c.338C>T (BONNEFONT et al.,
1999; JOSHI et al, 2012; MARTÍN et al, 1999).
Figura 8. Variante c.338C>T identificada em heterozigose com alelo de referência no gene CPT2 do
paciente 10581. Imagem gerada pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers.
Figura 9. Variante c.863 A>T identificada em homozigose com alelo de referência no gene SERPINA1
do paciente 10581. Imagem gerada pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers.
46
As variantes causais identificadas no paciente estão associadas a duas doenças
genéticas classificadas como Erros Inatos do Metabolismo (EIM). Nenhuma variante
que explicasse o quadro de deficiência auditiva, encefalopatia espástica bilateral,
microcefalia e baixa estatura. A não identificação de variantes causais não exclui a
existência delas. Em casos como esse, é imprescindível que o exoma seja reanalisado no
futuro, à medida que ocorra avanço no conhecimento.
Paciente 10727
Refere-se ao paciente do sexo masculino, nascido em 26 de fevereiro de 2006.
Paciente sindrômico, cujo fenótipo de deficiência auditiva está associado a deficiência
intelectual, dismorfias faciais e polidactilia pós-axial nos pés (removidos
cirurgicamente). Filho de pais não consanguíneos, sendo que mãe apresenta alcoolismo .
Não há relato de familiares com deficiência auditiva, mas a mãe tem deficiência
intelectual e dismorfias faciais, sendo que o paciente apresenta fenótipo similar a mãe
(Figura 10). O paciente teve atraso motor importante, sendo que sentou aos 10 meses e
andou aos 3 anos. A deficiência auditiva foi diagnosticada aos 10 meses. Além disso, o
paciente tem transtorno comportamental.
Análise genética:
Na análise do exoma observou-se a presença da variante c.127G>T em
heterozigose com o alelo referência no gene ACTB, que leva a mudança de uma valina
para uma leucina na posição 43 da proteína (Figura 11). Essa variante é classificada
como possivelmente patogênica e variantes nesse gene já foram descritas em pacientes
com Síndrome de Baraitser-Winter 1 (OMIM 243310). A Síndrome de Baraitser-Winter
1 é um distúrbio de desenvolvimento raro de herança autossômica dominante. É
caracterizada por: deficiência auditiva neurossensorial, deficiência intelectual (leve a
grave), dismorfias faciais (trigonocefalia, fissuras palpebrais longas e largas inclinadas
para baixo, ptose bilateral, sobrancelhas arqueadas, nariz largo com uma ponta grande
bulbosa ou plana, raiz do nariz proeminente, filtro longo e leve micrognatia), coloboma
ocular (íris ou retina); também podem apresentar lábio leporino e palato ogival,
lisencefalia, baixa estatura, doença cardíaca congênita, malformações geniturinárias e
microcefalia (pode se desenvolver com o tempo) (YATES, 2017).
48
Figura 11. Variante c.127G>T em heterozigose com o alelo referência identificada no gene ACTB do
paciente 10727. Imagem gerada pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers.
Paciente 10765
Refere-se a paciente do sexo feminino, nascida em 17 de julho de 2015, com
1545g e prematura de 33 semanas, tendo passado 32 dias internada. A paciente
apresenta deficiência auditiva sindrômica é filha de pais não consanguíneos e tem um
sobrinho com deficiência auditiva (Figura 12).
49
Figura 12.Heredograma da família do paciente 10765.
50
Figura 13. Variantes c.145C>T e c.146C>T identificadas no gene GSDME do paciente 10765. Imagem
gerada pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers.
Paciente 10941
Refere-se a paciente do sexo feminino, nascida em 17 de outubro de 2015 com
deficiência auditiva não sindrômica e filha de pais não consanguíneos. Em relação ao
histórico familiar, é relatado que irmão e tio paterno têm deficiência auditiva (Figura
14).
51
Figura 14. Heredograma da família da paciente 10941.
Análise genética:
Na análise do exoma observou-se a presença da variante n.523-1G>A
(rs114616241), em heterozigose com o alelo referência, no gene MCM2 (Figura 15). É
uma variante em uma região de receptor de splicing. Essa variante é classificada como
variante de significado incerto e já foi descrita em outros indivíduos com deficiência
auditiva não sindrômica autossômica dominante 70 (OMIM 616968).
Figura 15. Variante n.523-1G>A identificada em heterozigose com alelo de referência no gene MCM2 do
paciente 10941. Imagem gerada pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers.
Figura 17. Variante c.3579+2T>C identificada em heterozigose com alelo de referência no gene CDH23
do paciente 10941. Imagem gerada pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers.
Paciente 10970
Refere-se a paciente do sexo feminino, nascida em 30 de dezembro de 2003.
Filha de pais consanguíneos, primos de primeiro grau, a paciente é sindrômica, cujo
fenótipo de deficiência auditiva está associado a microcefalia, dismorfias, malformações
no olho e deficiência intelectual. Em relação ao histórico familiar, é relatado que a irmã
tem um quadro similar e que o pai e quatro tios paternos têm deficiência auditiva
(Figura 18).
53
Figura 18. Heredograma da família da paciente 10970.
Em 2017 foi realizado exame de cariótipo onde foram analisadas 25 metáfases
(coradas para bandamento G), obtidas da cultura temporária de linfócitos do sangue
periférico. Todas as metáfases apresentaram cromossomos normais, em número e em
estrutura. O cariótipo determinado foi 46,XX, característico de pessoa do sexo feminino.
Análise genética:
Na análise do exoma observou-se a presença de duas deleções associadas a
deficiência auditiva: uma deleção de 4.7kb em heterozigose (Figura 19) e uma deleção
de 1.1k em heterozigose (Figura 20).
Figura 19. Deleção de 4.7kb dos genes STRC, CKMT1B, SNOU13, RNU6-554P do paciente 10970.
Imagem gerada pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers.
54
Figura 20. Deleção de 1.1kb dos genes STRC, CKMT1B e RNU6-554P do paciente 10970. Imagem gerada
pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers.
Figura 21. Variante c.692T>C identificada em heterozigose com alelo de referência no gene TNNT2 do
paciente 10970. Imagem gerada pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers.
Foi encontrada uma deleção de 4.7kb que foi descrita na literatura como causal
para deficiência auditiva autossômica recessiva não sindrômica 16 (OMIM 603720). No
entanto, a deleção foi encontrada em heterozigose e, por se tratar de uma doença
descrita como autossômica recessiva, essa deleção sozinha não explica o quadro de
deficiência auditiva do paciente. Como há uma segunda deleção em heterozigose, que
também abrange uma região do gene STRC, há a possibilidade de se tratar de
55
heterozigose composta, o que explicaria o quadro de deficiência auditiva da paciente.
Para as demais características fenotípicas (microcefalia, dismorfias, malformações no
olho e deficiência intelectual), não foi proposto um diagnóstico molecular.
A variante c.692T>C no gene TNNT2 está descrita como associada à Não-
compactação ventricular esquerda. Apesar dessa variante não estar relacionada com o
fenótipo do paciente e ser um achado incidental, ela tem implicações médicas
importantes. A doença com a qual essa mutação está associada é caracterizada por
trabéculas ventriculares esquerdas proeminentes e recessos intratrabeculares profundos,
consequentemente, há disfunção sistólica e diastólica progressiva, anormalidades de
condução e, ocasionalmente, eventos tromboembólicos (FILHO et. al., 2021; RIPOLL-
VERA et. al., 2016).
Paciente 11089
Refere-se a paciente do sexo feminino, nascida em 28 de novembro de 2013,
com 2700g, gêmea univitelina, filha de pais não consanguíneos. Gemelar falecida aos
três meses apresentava quadro clínico semelhante ao da paciente (Figura 22); mãe relata
que o falecimento foi por engasgo, devido a fenda palatina. A mãe relatou perceber
atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e deficiência intelectual na paciente.
A paciente é sindrômica, sendo que o fenótipo de deficiência auditiva está
associado a deficiência intelectual, fenda palatina (corrigida cirurgicamente),
macrocefalia e dismorfias faciais discretas (fronte ampla, sobrancelhas arqueadas no
terço distal, sinófise leve, fenda palpebral esquerda reta e direita oblíqua para cima,
epicanto bilateral invertido, raiz nasal média, dorso nasal alto e médio largo, base nasal
larga, columela grossa, filtro bem marcado e curto).
56
Figura 22. Heredograma da família do paciente 11089.
Análise genética:
Na análise do exoma observou-se a presença de duas variantes patogênicas que
potencialmente explicam o quadro fenotípico do paciente:
i. Variante c.1523C>T (rs754901033) em heterozigose no gene EYA1, onde ocorre a
mudança de uma alanina para uma valina na posição 508 (Figura 23). Variantes nesse
gene foram descritos como associados a Síndrome branquio-oto-renal (vide 1.2.1.1).
Figura 23. Variante c.1523C>T identificada no gene EYA1 do paciente 11089 em heterozigose com alelo
de referência. Imagem gerada pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers.
Figura 24. Variante c.737C>T identificada no gene PTEN do paciente 11089 em heterozigose com alelo
de referência . Imagem gerada pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers.
59
mamários mensais e exames mamários anuais, bem como ultrassonografias
transvaginais ou biópsias endometriais a partir dos 35 anos (YEHIA; ENG, 2021).
A Síndrome branquio-oto-renal tem um padrão de herança autossômica
dominante e somente 10% dos casos são causados por variantes patogênicas de novo.
Por isso é recomendado fazer uma avaliação física e genética dos pais da paciente. A
avaliação física consiste em identificar os seguintes fenótipos: perda auditiva, fossas
pré-auriculares, estenose do ducto lacrimal, fístulas branquiais e / ou cistos e anomalias
renais. A avaliação genética consiste em verificar se algum dos pais tem a variante
encontrada na paciente (SMITH, 2018). Caso seja confirmada se tratar de uma variante
de novo: a paciente tem 50% de chance de ter filhos portadores da Síndrome branquio-
oto-renal a cada gestação. O risco não é aumentado para os demais familiares, incluindo
futuros irmãos. Caso algum dos pais seja diagnosticado com BOR, o pai ou a mãe terá
50% de chance de ter filhos portadores da Síndrome branquio-oto-renal a cada gestação;
se a mãe for a portadora, os irmãos da paciente deverão ter uma consulta com
geneticista.
A Síndrome de Cowden tem também um padrão de herança autossômica
dominante. Visto que os pais da paciente são hígidos, ou seja, não apresentam fenótipo
compatível com nenhuma das duas síndromes, considera-se que o caso da paciente é
uma mutação nova. A paciente tem 50% de chance de ter filhos portadores da Síndrome
de Cowden a cada gestação. O risco não é aumentado para os demais familiares,
incluindo futuros irmãos. O fato da paciente ter gemelar univitelina com quadro clínico
semelhante corrobora a hipótese de que a mutação ocorreu na gametogênese.
Paciente 11178
Refere-se a paciente do sexo masculino nascido em 03 de fevereiro de 2016,
filho de pais não consanguíneos e com relato de meio irmão paterno com deficiência
auditiva unilateral de 25% (Figura 25).
60
Figura 25. Heredograma da família do paciente 11178 mostrando a segregação de deficiência auditiva e
pigmentação da íris.
Análise genética:
Na análise do exoma observou-se a presença de uma variante causal para
Síndrome de Waardenburg, a variante c.1230G>A (rs1057521096) em heterozigose
61
com o alelo de referência no gene MITF, que é uma mutação silenciosa (Figura 26). No
artigo em que foi descrita, a variante está referida como c.1212 G>A, em outra versão
do genoma (BRENNER et al., 2011; SWANSON, 2011). (vide 1.2.1.2).
Figura 26. Variante c.1230G>A em heterozigose com o alelo de referência identificada no gene MITF do
paciente 11178. Imagem gerada pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers.
Durante a análise desse caso, o filtro utilizado na análise não incluiu mutação
silenciosa/sinônima, no entanto a plataforma detectou a variante patogênica. O fato de
uma mutação silenciosa ser patogênica torna a análise molecular mais complexa.
A Síndrome de Waardenburg tipo II se caracteriza, principalmente, por
deficiência auditiva neurossensorial congênita e hipopigmentação da íris. O cognitivo é
preservado. Por ser uma doença autossômica dominante, considera-se que o caso do
paciente é uma mutação nova, visto que os pais do mesmo não são portadores da
síndrome. O paciente tem 50% de chance de ter filhos portadores da Síndrome de
Waardenburg para cada filho/gestação. O risco não é aumentado para os demais
familiares, incluindo as irmãs.
O paciente não apresenta outras características da Síndrome de Waardenburg,
tais como mecha branca no cabelo, leucodermia, telecanto ou fendas palpebrais
pequenas. É possível que isso se deva pelo paciente ter uma variante silenciosa, ou seja,
por não haver uma troca no aminoácido que forma a proteína.
A deficiência auditiva e a heterocromia observada nos familiares provavelmente
tem etiologia diferente do observado no paciente.
Paciente 11284
O paciente do sexo masculino, nasceu em 03 de abril de 1994. É um paciente
sindrômico (encaminhado ao serviço de genética por endocrinologista), com deficiência
62
auditiva neurossensorial, Síndrome de Kabuki e alterações faciais típicas, deficiência
intelectual, diabetes mellitus e baixa estatura. Filho de pais não consanguíneos e com
uma irmã com deficiência auditiva não sindrômica e um irmão com deficiência auditiva
não sindrômica e transtorno psicótico. Histórico familiar do lado paterno relata um
primo de segundo grau com deficiência auditiva, um primo de segundo grau com
deficiência intelectual e um primo de segundo grau com distúrbio psicótico (Figura 27).
Paciente compareceu ao serviço de genética do HB com sua mãe, que foi quem
relatou o histórico do filho. Com 19 horas de vida apresentou episódio de enterorragia e
também de hipoglicemia e ficou sete dias internado na UTI. Evoluiu com atraso no
desenvolvimento neuropsicomotor, apesar do início da estimulação precoce aos 6 meses
de idade.
No período neonatal, paciente apresentou episódios convulsivos, mas nega uso
de medicação. Aos 4 anos foi avaliado pela primeira vez por geneticista e diagnosticado
com Síndrome de Kabuki. Em 2010 apresentou episódio de hematúria maciça e
sufusões hemorrágicas. Houve acompanhamento na hematologia com diagnóstico de
plaquetopenia recidivante, recebendo alta da hematologia entre 2011 e 2012. Em 2016
63
foi diagnosticado com diabetes mellitus e faz tratamento com insulina. Frequentou
ensino especial até os 22 anos.
Ao exame físico o paciente apresenta: peso e altura abaixo de terceiro percentil e
perímetro cefálico dentro da normalidade; fendas palpebrais retas e alongadas; cílios
longos, eversão das pálpebras inferiores; sobrancelhas retas e curtas, com rarefação de
⅔ e ternos, rai nasal mé ia, orso e base alarga os, columela curta; palato alto,
ausência de incisivo central inferior esquerdo, sendo que o direito é diminuído de
tamanho; prognatismo discreto; orelhas simples e protusas, normoimplantadas; pescoço
alargado; pectus excavatum; abdome sem visceromegalias; testículos tópicos;
retificação da lordose lombar e cifose torácica. fosseta sacral; discreta restrição articular
de pequenas e grandes articulações; mãos sem alteração de pregas; quintos (5º)
quirodáctilos diminuídos de tamanho; apagamento de prega interfalangeana distal de
uarto 4º uiro ctilos bilateralmente; “Pa s” iscretos nos e os; pés planos com
descamação em dedos e unhas.
Análise genética:
Apesar de já ter o diagnóstico clínico para Síndrome de Kabuki, esse diagnóstico
não explicava o quadro de deficiência auditiva do paciente. Considerando seu histórico
familiar (irmãos com deficiência auditiva não sindrômica), optou-se por fazer a triagem
para a variante c.35delG, que foi observada em heterozigose no paciente, o que também
não explicava o fenótipo de deficiência auditiva por esta ser uma condição com herança
autossômica recessiva. Pela análise do exoma, confirmou-se a presença da variante
c.35delG (rs80338939) (Figura 28) e observou-se a presença de outra variante no
mesmo gene GJB2. A segunda variante, c.550C>T (rs998045226), detectada em
heterozigose com o alelo referência no gene GJB2, leva a mudança de uma arginina
para um triptofano na posição 184 da proteína (Figura 29). Se for confirmado que as
duas variantes encontradas no gene GJB2 estão em posição cis nos cromossomos, será
contastada uma heterozigose composta, e o quadro de deficiência auditiva do paciente
estará explicado. Não foi possível a confirmação da fase da mutação até o momento.
64
Figura 28. Variante c.35delG em heterozigose com alelo referência identificada no gene GJB2 do
paciente 11284. Imagem gerada pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers.
Figura 29. Variante c.550C>T em heterozigose com alelo referência identificada no gene GJB2 do
paciente 11284. Imagem gerada pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers.
Figura 30. Variante c.15142C>T identificada em heterozigose com o alelo referência no gene KMT2D
do paciente 11284. Imagem gerada pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers.
Figura 31. Variante c.396A>C identificada em hemizigose no gene F8 do paciente 11284. Imagem gerada
pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers.
Paciente 11289
Refere-se a paciente do sexo feminino, nascida em 01 de abril de 2009, filha de
pais não consanguíneos e com relato de avô e bisavô paternos com deficiência auditiva
de origem desconhecida (Figura 32). O diagnóstico clínico desta paciente foi deficiência
auditiva neurossensorial moderada, bilateral, não sindrômica.
Análise genética:
Na análise do exoma observou-se a presença de uma deleção de 9.4kb
englobando os genes STRC, CKMT1B, SNOU13, RNU6-554P em homozigose. em
15q15.3 (Figura 33). A deleção do gene STRC está descrita como causal para
deficiência auditiva autossômica recessiva não sindrômica 16 (OMIM 603720). O STRC
é um gene conhecidamente associado à deficiência auditiva, que causa perda auditiva
leve a moderada (YOKOTA et al., 2019). Nesta paciente, o STRC, juntamente com
outros genes, são deletados na região 15q15.3, levando a uma grande deleção.
67
Figura 33. Deleção de 9.4kb em homozigose englobando os genes STRC, CKMT1B, SNOU13, RNU6-
554P do paciente 11289. Imagem gerada pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers.
Paciente 11294
Refere-se ao paciente do sexo masculino, nascido em 26 de maio de 2014, filho
de pais não consanguíneos. Paciente sindrômico, cujo histórico familiar (Figura 34)
apresenta o relato de ambos os pais terem deficiência auditiva e de múltiplos casos de
deficiência auditiva por parte paterna. O quadro de deficiência auditiva da mãe foi
descrito como associado a rubéola congênita.
Ao exame físico apresentou: fronte ampla, fendas palpebrais discretamente
oblíquas para baixo, palato sem anormalidades, microtia bilateralmente, apêndice pré-
auricular na orelha direita e sinus pré-auricular na orelha esquerda.
Paciente falhou no teste da orelhinha. Pai e avó perceberam que o paciente, aos 8
meses, apresentava dificuldade para ouvir. Atualmente fala palavras-chaves.
68
Figura 34. Heredograma da família do paciente 11294.
Análise genética:
Na análise do exoma observou-se a presença de duas variantes patogênicas,
sendo que uma explica o quadro fenotípico do paciente e a outra se caracteriza como
achado incidental.
A primeira variante, c.1081C>T (rs121909202), observada em heterozigose com
o alelo referência no gene EYA1, na região exônica é uma mutação sem sentido que leva
a truncagem da proteína posição 361 (Figura 35). Variantes nesse gene são conhecidas
como causa para a Síndrome branquio-oto-renal (vide 1.2.1.1). Essa variante sozinha
explica o quadro de microtia do paciente e esse defeito estrutural ocasiona a deficiência
auditiva e, potencialmente, é a mutação recorrente na família paterna do paciente. O
quadro de deficiência auditiva devido a rubéola, apresentado pela mãe, se trata de
deficiência auditiva de etiologia ambiental, fazendo com que seja descartada como
causa genética da deficiência auditiva do paciente.
69
Figura 35. Variante c.1081C>T identificada em heterozigose com alelo de referência no gene EYA1 do
paciente 11294 . Imagem gerada pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers.
Figura 36. Variante c.1040C>T identificada em heterozigose com o alelo referência no gene KCNQ1 do
paciente 11294. Imagem gerada pelo programa IGV - Integrative Genomes Viewers.
70
Paciente 10921
71
determinado foi 45,X[45]/46,XY[15], característico de Disgenesia Gonadal Mista.
Ultrassonografia das mamas identificou ginecomastia bilateral benigna.
Em 2019 foi realizado eletrocardiograma (miocardiopatia segmentar do
ventrículo esquerdo com disfunção sistólica de grau discreto. Insuficiência mitral e
tricúspide de grau discreto. Aumento moderado do átrio esquerdo. Disfunção diastólica
do ventrículo esquerdo grau II) e Holter (ritmo de base sinusal, com extrassístoles
ventriculares raras repolarização). Audiometria mostrou perda auditiva severa à direita e
moderadamente severa à esquerda.
Análise genética:
Na análise do exoma não se observou a presença de variantes patogênicas que
explicassem o quadro fenotípico do paciente, apesar de apresentar um quadro
sindrômico amplo.
Paciente 11024
Refere-se a paciente do sexo masculino, nascido em 17 de agosto de 1993, filho
de pais não consanguíneos e sem relatos de perda auditiva na família (Figura 38). O
paciente é sindrômico, sendo que o fenótipo de deficiência auditiva está associado a
deficiência intelectual, atresia de coana e assimetria facial (desvio da rima labial e do
nariz para a direita, assimetria de fendas palpebrais, sendo a direita reta e a esquerda
oblíqua para cima, com hemiface esquerda menor que a direita, orelhas pequenas e
simplificadas, fenda palatina e paralisia facial à direita. A tomografia computadorizada
de mastóides revelou ausência da cadeia ossicular bilateralmente, obliteração da janela
oval por placa óssea atrésica bilateralmente e esclerose óssea da cápsula ótica bilateral
(não há coloboma). Foi levantada a hipótese diagnóstica de Síndrome de CHARGE.
72
Figura 38. Heredograma da família do paciente 11024.
Análise genética:
Na análise do exoma não se observou a presença de variantes patogênicas que
explicassem o quadro fenotípico do paciente, apesar de apresentar um quadro
sindrômico amplo.
Paciente 10598
Refere-se a paciente do sexo feminino, nascida em 26 de maio de 2011. A
paciente apresenta deficiência auditiva sindrômica e pais não consanguíneos (Figura
39). Ao exame físico apresenta testa ampla, raiz nasal média, ponta nasal bulbosa,
epicanto discreto, olhos de implantação profunda, fendas palpebrais retas, boca reta,
orelhas normais, sobrancelhas curtas. Com relação às mãos e pés, apresenta dedos
afilados em ambos, pregas ok.
74
periférico. Todas as metáfases apresentaram cromossomos normais, em número e em
estrutura. O cariótipo determinado foi 46,XX, característico de pessoa do sexo feminino.
Análise genética:
A amostra não passou no controle de qualidade interno da Macrogen, portanto
não foi possível realizar a análise molecular para este paciente.
75
554P
11024 - - -
Em laranja: variantes de sentido trocado (missense); em azul escuro: variante em região de receptor de
splicing (splice acceptor); em vermelho: variante em região de doador de splicing (splice donor); em azul
claro: deleção; em verde: variantes (frameshift); em roxo: variante silenciosa (synonymous); em rosa:
variante stop gain.
Também foram encontrados achados incidentais nos pacientes 10970 (no gene
TNNT2, relacionado a Não-compactação ventricular esquerda) e 11294 (no gene
KCNQ1, relacionado a Síndrome do QT longo) além de achados secundários nos
pacientes 10581 (no gene CPT2, relacionado a deficiência de carnitina palmitoil
transferase II, forma miopática e no gene SERPINA1, relacionado a deficiência de alfa-1
antitripsina), 10941 (no gene CDH23, relacionado à Síndrome de Usher tipo I), 11089
(no gene PTEN, relacionado a Síndrome de Cowden) e 11284 (no gene KMT2D,
relacionado a Síndrome de Kabuki e no gene F8, relacionado a hemofilia A).
Dos três pacientes com hipótese diagnóstica de Síndrome de CHARGE, um teve
diagnóstico molecular de Síndrome de Waardenburg (11178) e os outros dois não
tiveram diagnóstico molecular (10941 e 11289).
A verificação da variante 35delG no gene GJB2 foi realizada como uma triagem
em todos os pacientes, ou seja, tanto nos pacientes não sindrômicos quanto nos
pacientes sindrômicos. Essa primeira análise teve o objetivo de determinar se o quadro
de deficiência auditiva dos pacientes era devido a variante 35delG em homozigose.
Tendo sido realizada em 25 pacientes, a triagem teve uma taxa de diagnóstico de
deficiência auditiva de 4% (1/25 pacientes). Também foi possível identificar a
heterozigose dessa variante em dois pacientes (DA_15 e 11284). Tendo isso em vista, a
metodologia proposta foi adequada para detectar a presença da variante 35delG e
determinar se o quadro de deficiência auditiva dos pacientes é devido a homozigose
dessa variante.
78
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83
ANEXO 1 - PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP
84
ANEXO 2 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE
ADULTOS
Desenvolvimento de diagnóstico molecular e fluxograma para deficiência auditiva não sindrômica de etiologia
genética
É possível que o/a senhor(a) venha a se beneficiar dos resultados deste projeto, a
partir dos resultados dos exames laboratoriais de forma a identificar os genes
85
relacionados a condição dele, permitindo precisão no seu acompanhamento e de seus
familiares, desde que consentido pelo(a) senhor(a).
Se o (a) Senhor (a) tiver qualquer dúvida em relação à pesquisa, por favor,
telefone para: Dra. Silviene Fabiana de Oliveira, na Universidade de Brasília, telefone:
(61) 3107-3079, ou Yasmin Soares de Lima, telefone: (61) 98122-0531, havendo
possibilidade de ligação a cobrar.
Este documento foi elaborado em duas vias, uma ficará com o pesquisador
responsável e a outra com o sujeito da pesquisa.
______________________________________________
______________________________________
87
ANEXO 3 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE
PAIS/RESPONSÁVEIS
88
É possível que o seu dependente venha a se beneficiar dos resultados deste
projeto, a partir dos resultados dos exames laboratoriais de forma a identificar os genes
relacionados a condição dele, permitindo precisão no seu acompanhamento e de seus
familiares, desde que consentido pelo senhor(a) e assentido por ele(a).
Este documento foi elaborado em duas vias, uma ficará com o pesquisador
responsável e a outra com o sujeito da pesquisa.
______________________________________________
______________________________________
90
ANEXO 4 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE
É possível que o senhor (a) venha a se beneficiar dos resultados deste projeto, a
partir dos resultados dos exames laboratoriais de forma a identificar os genes
relacionados a sua condição, permitindo precisão no seu acompanhamento e de seus
familiares, desde que consentido pelo senhor(a).
Informamos que o Senhor (a) poderá se recusar a responder qualquer questão (ou
participar de qualquer procedimento) que lhe traga constrangimento, podendo desistir de
participar da pesquisa em qualquer momento sem nenhum prejuízo para o (a) senhor(a)
e nenhum comprometimento em seu acompanhamento médico. Sua participação é
91
voluntária, isto é, não há qualquer tipo de pagamento por sua colaboração. Caso solicite
e mediante comprovação, o senhor(a) poderá ser ressarcido(a) pelos gastos com
deslocamento e alimentação devido à participação nessa pesquisa. Além disso, será
garantido atendimento imediato e /ou indenização diante de eventuais danos
comprovadamente decorrentes dessa pesquisa, vistas as medidas administrativas e
judiciais cabíveis.
Se o (a) Senhor (a) tiver qualquer dúvida em relação à pesquisa, por favor
telefone para: Dra. Silviene Fabiana de Oliveira, na Universidade de Brasília, telefone:
(61) 3107-3079, em horário comercial ou Harumy Andrade Sakata, telefone: (61) 9265-
0437 em horário comercial.
Este documento foi elaborado em duas vias, uma ficará com o pesquisador
responsável e a outra com o sujeito da pesquisa.
92
Se você estiver de acordo, por favor, assine esta folha.
______________________________________________
______________________________________
93
ANEXO 5 – PROTOCOLO DE EXTRAÇÃO DE DNA
5 mM MgCl 2
1 mM EDTA pH 8,0
10 mM Tris pH 7,5
1 mM EDTA pH 8,0
1% SDS
7,5 M NH Ac
4
RBC
0,5 ml MgCl 1 M
2
CLS
1 ml Tris 1 M
Isopropanol 100%
Etanol 70%
Tampão TE 1X
95
1. Transferir o sobrenadante contendo o DNA para um tubo falcon de 15 ml
contendo 3 ml de isopranol 100%;
3. Centrifugar a 3400 rpm por 3 minutos, o DNA será visível como um pellet
branco pequeno;
96
ANEXO 6 – AVALIAÇÃO QUANTITATIVA E QUALITATIVA DAS AMOSTRAS
DE DNA (utilizando o sistema NanoDrop™ 2000 - Thermo Scientific)
97
11289 769 1,84 1,99
11294 618 1,82 1,55
98
ANEXO 7 – PAINEL: GENES D.A.
99
LMX1A OTOGL SLC26A5
100
ALMS1 ERAL1 POLR1C
DLX5 PAX3
DNMT1 PEX1
EDN3 PEX6
EDNRB PEX26
101