Acupuntura E Medicina Tradicional Japonesa: KANGENDÔ - Escola Brasileira de Terapias Japonesas
Acupuntura E Medicina Tradicional Japonesa: KANGENDÔ - Escola Brasileira de Terapias Japonesas
Acupuntura E Medicina Tradicional Japonesa: KANGENDÔ - Escola Brasileira de Terapias Japonesas
TRADICIONAL JAPONESA
SENSEI VALÉRIO LIMA
PROFESSOR CONTEUDISTA:
Prof. Sensei Valério Lima
5ª EDIÇÃO – 2021
A acupuntura surgiu na China há aproximadamente 3 mil anos, no período da Dinastia Shang, e se desenvolveu juntamente com os vários ramos que compõem a medicina tradicional
chinesa, como a herbologia, a moxabustão, a terapia alimentar, as massagens e os exercícios físico-energéticos do Chikung. Toda medicina antiga da China era pautada e elaborada
dentro de vários sistemas que objetivavam a manutenção da saúde e longevidade deste povo.
Para que a medicina chinesa chegasse e se desenvolvesse no Japão, um longo processo de intercâmbio cultural, educacional, econômico e religioso perdurou por vários séculos.
Como bem se sabe, o Japão importou, tanto da China quanto da Coreia, todas as bases que formaram os alicerces socioculturais e filosófico/educacionais de seu povo, inicialmente
incorporando à sua cultura as escritas pictográficas dos kanjis, posteriormente as religiões budistas e taoístas, os conceitos filosóficos e espirituais do confucionismo e, ainda, os
sistemas médicos oriundos da China.
Da antiguidade até os dias atuais, os japoneses mostraram-se especialistas em aprimorar e desenvolver todo e qualquer conhecimento adquirido e importado de outra cultura. Na
acupuntura, isto não se fez diferente e, ao longo dos séculos, os japoneses aprimoraram este conhecimento até desenvolverem sua medicina tradicional própria e em um sistema
bem refinado e particular de acupuntura.
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Outro aspecto que difere claramente a prática chinesa da japonesa, refere-se ao âmbito da diagnose, tanto nas técnicas empregadas, quanto no próprio material utilizado nas práticas
da acupuntura. Considerando que a arte japonesa se desenvolveu e se adequou para praticantes com deficiência visual, foi dado um grande enfoque na palpação para o diagnóstico,
desenvolvendo no praticante japonês uma sensibilidade tátil especial na localização de pontos, meridianos e na pulsologia, além do diagnóstico do hara, que caracteriza uma das
especialidades do acupunturista japonês; enquanto que no estilo chinês prevalece o interrogatório que, em alguns estilos, associa-se também com a pulsologia e a análise da língua.
No que diz respeito às agulhas, há uma grande disparidade entre os estilos, pois os chineses preferem agulhas maiores e de calibre mais espesso, os japoneses, no entanto, fazem uso
de agulhas muito delgadas que são inseridas obrigatoriamente com mandril (shinkan), de maneira muito superficial e com estímulo muito suave, uma vez que o estilo japonês busca
atuar sobre o Wei chi (energia defensiva), enquanto que nas técnicas chinesas a estimulação é mais forte e profunda produzindo o que é conhecido como techi, visando atingir o Yong
chi (energia nutridora).
Outro aspecto marcante da acupuntura nipônica é o uso bem particular da moxabustão como parte integrante e complementar do tratamento da acupuntura. Essa forma japonesa de
utilização da moxaterapia é uma prática muito antiga que teve seu conhecimento perdido na China e chegou ao Japão através da Coreia, tornando-se uma arte muito popular no país
do sol nascente. Conhecida formalmente no Japão por ÔKyu, esse estilo é muito forte e clássico no país, que já teve grandes mestres ao longo da história, como Sawada Ken e Isaburo
Fukaya, dois grandes especialistas na moxaterapia japonesa. Essa arte faz uso de pequenos cones da moxa amarela de forma direta e indireta na pele, tanto em pontos clássicos da
acupuntura como em pontos não convencionais.
Entre os séculos V e VI, a medicina tradicional chinesa foi levada da China para o Japão através da península coreana, devido ao intercâmbio religioso e econômico promovido pela
famosa rota da seda. Durante esse período, vários monges budistas especializados em herbologia, acupuntura e massagens transitaram por essa rota, possibilitando a expansão do
budismo e levando consigo as ciências médicas da China e da Coréia.
Por volta do século VII, o governo japonês estabeleceu contato direto com a China, enviando para a capital chinesa inúmeros sacerdotes e eruditos para estudarem, traduzirem e
copilarem várias fontes da cultura chinesa, dentre elas os principais textos médicos.
Em 701, houve a promulgação do código Taihõ, que estabeleceu o primeiro sistema legal no Japão voltado para os assuntos médicos, o Ishitsuryo, que se aplicava à pratica e ao
ensino médico no Japão, dando origem ao Tenyaku-ryo, o antigo ministério da saúde, trabalho e bem-estar, responsável por criar o departamento oficial de acupuntura e moxabustão,
outorgando os três graus de professor, terapeuta e
estudante de acupuntura. No período subsequente, Nara, todos os aspectos da medicina oriental foram estudados e praticados assiduamente, dando o pontapé inicial para a
profissionalização e qualificação da acupuntura no Japão que, em períodos precedentes, mantinha uma estreita relação com a religião, pois grande parte desse conhecimento ainda
estava muito atrelada aos monges budistas que praticavam tanto a acupuntura quanto a medicina herbária do kampo, sendo os primeiros a difundirem essas artes no Japão. Com a
instituição do código Taihõ, a formalização da profissão e do ensino da acupuntura, o número de monges terapeutas tornou-se cada vez menor.
Até o início do século X (período Heian), o sistema médico praticado no Japão nada mais era que uma imitação do sistema médico chinês. Nessa época, os médicos japoneses
tomaram a iniciativa de compilar suas próprias farmacopeias, e, em 984 dC, Yasuyori Tamba compilou o Ishimpô, o primeiro tratado e o mais antigo livro de medicina existente no
Japão, com 30 volumes de citações de numerosos textos médicos chineses. O Ishimpô tornou-se um texto definitivo, no qual se podia rastrear todas as raízes da medicina japonesa
até a medicina chinesa. Nele foram compiladas citações sistemáticas de vários textos clássicos chineses de mais de 200 títulos que envolviam não somente medicina, mas também
história e aspectos filosóficos e espirituais do Tao, confucionismo e budismo. Muitas dessas citações estavam perdidas na própria China. Isso fez do Ishimpô uma das mais
importantes fontes para o estudo da medicina chinesa antiga, pois Tamba não copiou simplesmente os textos originais, mas traçou uma visão particular dos textos antigos, por
exemplo, sobre a definição de energia espiritual como sendo superior à energia do corpo. Isso permitiu edificar na visão posterior da acupuntura japonesa que o processo de
adoecimento acontece inicialmente no nível espiritual, passando para o energético (canais de energia), para aí culminar no físico, por meio das inúmeras patologias e sintomatologias,
visão superior à chinesa que focaliza tão somente entre os níveis energético e físico, e é obscurecida nos padrões das síndromes.
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No final do século XVI, em meio a uma crise política e social que precedeu a unificação do Japão, muitos textos clássicos foram importados e traduzidos para o japonês. Nesse
período, um médico se destacou entre os demais: seu nome era Manase Dosan (1507-1594) e, apesar de destacado fitoterapeuta da arte médica do kampô, cuja medicina herbária
havia roubado o terreno da acupuntura, paradoxalmente foi o grande responsável pela revivificação dessa técnica.
O que podemos considerar como japonização da medicina tradicional chinesa ocorreu entre os séculos XIV, período Muromachi, e o século XVII, período Edo esse processo foi
favorecido pelo retorno do mestre Sanki Tashiro ao Japão, trazendo consigo o que era considerada a medicina mais avançada da China: Jin Yuan ou Li Zhu. Seu principal discípulo foi
Dosan Manase, que se tornou o responsável por estabelecer as bases para escola Gosei ou Goseihoha de Acupuntura.
Entre os séculos XVI e XVII, juntamente com a escola Gosei de Manase, floresceram mais duas novas e diferentes abordagens da medicina no Japão: as escolas Koho e Rampo. A
escola Koho ou Kohoha, conhecida como escola das fórmulas clássicas, surgiu no final do século XVII (período Edo) e foi essencial para a aceleração da japonização da medicina
chinesa, pois foi inspirada pela revivificação dos conceitos médicos da discussão de desordens induzidas por frio, eliminando as teorias especulativas da escola Gosei. A escola Koho
defendia o retorno às teorias práticas da medicina chinesa. Foi nessa escola que se defendeu a teoria de kiketsusui (energia vital, sangue e fluidos corporais), trazendo a ideia inicial
das toxinas doku (venenos) e Oketsu (sangue estagnado) na área abdominal do hara, estabelecendo um método inovador de diagnóstico abdominal: o Fukushin.
Já a escola Rampo surgiu entre médicos japoneses influenciados pela medicina ocidental trazida por jesuítas holandeses através do intercâmbio comercial e religioso entre esses dois
países após os trezentos anos de isolamento do Japão.
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Para seguir este princípio é fundamental o compromisso com a autodisciplina, autoanalise e busca pela superação, sempre visando a lapidação e aprimoramento. A constante busca
pelo aprendizado e desenvolvimento se faz mister neste processo de melhoria contínua; ou seja é necessário investir tempo, energia, esforço e dinheiro no estudo. Ao longo de mais
de vinte anos trilhados dentro da senda do caminho da cura e do autoconhecimento, não medi esforços, tempo e dinheiro. Viajei por todo Brasil e para o outo lado do continente, em
busca dos melhores cursos e dos mais renomados professores. Sem esforço, dedicação e empenho jamais cruzaremos a nossa zona de conforto, rumo ao aprimoramento pessoal e
profissional, os frutos que colhemos neste campo é inversamente proporcional ao esforço e dedicação que semeamos. Obviamente que, para colocarmos toda nossa energia em algo
em nossas vidas é fundamental sabermos o que alimenta e vivifica nosso ser, o nosso espírito, em suma é ter consciência do que nos move.
Atrelado ao conceito de Kaizen temos outro conceito – não menos importante e talvez primário ao conceito de Kaizen – que é a ideia de Ikigai – Iki, significa Vida e Gai – Valer a
Pena. O que faz a vida valer a pena ou o que te move, o que te faz levantar todos os dias pela manhã e encarar um dia de trabalho, as dificuldades e supera-las. Qual é o seu propósito
de vida, algo que te motiva, que te realiza. Identificar esse propósito de vida é fundamental para que trilhe o caminho do autoconhecimento e aprimoramento, seja em sua profissão
ou na vida pessoal.
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Waza
Ao praticar um kata dentro de um dojo, seremos apresentados aos Wazas (技), ou conjuntos de técnicas que compõem as artes marciais, por exemplo como as técnicas de Suwari
waza, realizadas no solo na posição de seiza ou Tachi waza, Técnicas realizadas em pés, ou até mesmo os atemi wazas, técnicas de pressão em pontos vitais do corpo, muito comuns
nas práticas do jujútsu tradicional. O mesmo se dá nas terapias japonesas, especialmente a acupuntura, onde teremos técnicas especificas desde a preparação do ponto de
acupuntura com as técnicas de junen, e as formas de inserção e manipulação da agulha no corpo, como seppi, jakutaku,senen jutsu. Além daquelas voltadas para suplementação Ho-
ho, e dispersão Sha-ho. Na Moxaterapia também temos inúmeras técnicas diferente de acordo com o estilo praticado, seja de forma direta ou indireta na pele. Tudo isso faz parte do
que conhecemos como waza, e são fundamentais para que o acupunturista desenvolva os recursos terapêuticos realizados dentro de um sistema ou estilo de acupuntura. Ao
decompormos o Kanji da palavra waza encontramos as palavras ferramenta e mão(才=手(て)tem relação com mão支える , que nos transmite a ideia de trabalho ou treinamento e
através deste treinamento continuo e diário que desenvolvemos destreza e habilidade técnica, fruto da experiência. Incluindo os macete que são concebidos a partir da pratica
cotidiana. No Japão essa ideia é muito bem sintetizada na filosofia pratica do: Hyakuren-Jitoku (百練自得) “Treinar cem vezes e assimilar com o corpo”. Compreendi isso
essencialmente na pratica especialmente com os ensinamentos de dois senseis japoneses, o sensei Yoshihiro Odo com que tive a oportunidade de me aprimora nas técnicas de
kanshin –ho, e moxaterapia onde passávamos praticamente um final de semana inteiro voltado para treinar o método de katate sokan e agulhamento com o uso do mandril, bem
como as continuas confecções dos pequenos cones de moxa. Também em uma das minha viagens para o Japão onde fui me especializar em Shoni hari (acupuntura pediátrica) tive a
oportunidade de estudar com um dos grande mestres da acupuntura pediátrica do Japão, o sensei Masanori Tanioka, herdeiro da acupuntura infantil da Escola Daishi-ryú em Osaka,
uma parte do seu treinamento era voltado para bater na cabeça da agulha “Daishi” de shoni hari, utiliza dentro do estilo familiar do mestre Tanioka, o treino consistia em bater num
ritmo de 150 batidinhas por minuto, realizando um ciclo de 3.000 batidinhas sem interrupções, sua sugestão era que nós pudéssemos treinar diariamente 1 a 3 ciclos de 3.000
batidas na cabeça da agulha por dia, para assim aprimorarmos a nossa técnica de agulhamento.
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Assim, como nas artes, marciais o praticantes só avançava para um outro nível, após dominar um conjunto de técnicas ou Kihon, para avançar para o segundo grau no reiki, o reikiano
necessitava dominar as técnicas de Byosen, percepção das áreas onde se acumulavam as toxinas e consequentemente os desequilíbrios energéticos, sem desenvolver essa
sensibilidade, o praticante não poderia passar para outro grau, pois, este conhecimento, seria básico para absorção e desenvolvimento das demais técnicas. Na moxaterapia japonesa
também é a mesma coisa, o moxaterapeuta necessita desenvolver fundamentos básicos, como confeccionar os cones, fixa-los no corpo, queima-los, com rapidez, segurança e
efetividade, caso não desenvolva essas bases, não é possível aprender as várias formas de tratamento e se aprimorar na arte terapêutica da moxa.
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O estilo japonês em detrimento ao chinês opta por agulhas bem finas, que são inseridas através do tubo guia (Shinkan), a partir de leves batidas no cabo da agulha. Sua inserção é
bastante superficial e em geral atinge entre 2 a 4 mm de profundidade. Já o estilo chinês prefere agulhas maiores e mais grossas com inserção profunda de 4 a 15 mm.
A acupuntura japonesa visa atuar sobre a energia defensiva Wei ki, enquanto que a chinesa realiza punções mais profundas e com manipulações fortes para despertar o techi, que é
uma forte sensação de choque ou irradiação no percurso do meridiano. O objetivo da profundidade da inserção no estilo chinês e atuar sobre a energia yong ki (energia nutridora)
Características:
Agulhas japonesas
Agulhas chinesas
Mais grossas e maiores 0,20, 0,25, 0,30;
Inserção profunda- em geral de 4 a 15 mm dependendo da região. Inserção manual sem tubo guia;
Estilo Japonês
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Estilo Chinês
No estilo chinês não se tem este tipo de cuidado e muitas vezes afirma-se que pode haver uma piora após a sessão para depois o corpo reagir e obter uma melhora.
Obs.: lembrando que alguns estilos utilizam somente uma agulha no tratamento conhecido por Ipponhari.
Inserção unilateral.
Estilo chinês
Em geral de 10 até 30 agulhas de retenção;
4. Habilidade técnica
O estilo de acupuntura japonesa
Neste estilo de acupuntura é exigido do praticante uma habilidade aguçada no que diz respeito tanto à maneira da inserção da agulha, quanto à sensibilidade táctil de localização de
pontos através da palpação.
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Estilo chinês
Já a maioria dos estilos chineses de acupuntura não se preocupam muito com a forma de inserção da agulha e, para muitos, o fato de sentir dor durante a inserção faz parte do
próprio processo terapêutico. Eles também desconsideram esse longo processo de palpação utilizado no estilo japonês.
● Diagnóstico;
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Temos em Sugiyama uma linha divisória, um marco na acupuntura do Japão, pois ele é o grande responsável pela criação do tubo-guia ou mandril, conhecido no Japão por Shinkan e,
ainda, reconhecido pela criação das quatorze técnicas secretas de manipulação e estímulo através do uso do mandril.
Wachi Sugiyama era cego e descendia de uma família de samurais do clã Uemon. Naquela época no Japão, os cegos só tinham duas formas de ganhar a vida: como praticantes da
massagem tradicional japonesa (Anma) ou acupunturistas. Sugyama optou por se tornar acupuntor e foi estudar em uma escola tradicional da época do estilo Yamase. No entanto,
após alguns anos de estudo, foi desencorajado pelo próprio mestre do estilo, que afirmou que ele jamais conseguiria se tornar um bom acupunturista, pois não havia desenvolvido a
habilidade de inserir a agulha de forma indolor. Após esse acontecimento, Sugiyama resolveu empreender em um retiro na caverna de Benzaiten Munakata, a equivalente no Japão à
Deusa hindu da sabedoria Sarasvati, buscando a iluminação e inspiração espiritual para sua vida. Após 21 dias de jejum e recitação de mantras para Benzaiten, Sugiyama saiu da
caverna sem ter recebido a inspiração que tanto buscava, mas ao deixar a caverna, tropeçou em uma grande pedra e ao cair teve seu pé perfurado por uma farpa de pinho. Sem
conseguir extrair o espinho do pé, ao tatear o chão encontrou um pequeno tubo de bambu, que utilizou contra a pele extraindo por dentro do tubo a farpa do espinho de forma
completamente indolor. Após essa experiência teve a inspiração de criar o tubo guia para a condução da agulha de forma indolor, criando seu próprio estilo que revolucionou a
acupuntura no Japão, abrindo caminho para a abertura de mais de 45 escolas de acupuntura voltadas para deficientes visuais. Sugiyama foi um dos grandes responsáveis pela
popularização da acupuntura e moxabustão no Japão, pois consegui o patrocínio e apoio do governo.
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Foi também durante o período Edo que se desenvolveram inúmeros estilos de acupuntura, pois, a partir dessa época foram introduzidas, pela primeira vez no Japão, as agulhas de
prata e ouro, favorecendo a criação de vários estilos como o da escola Dashin, criada por Mubunsai, monge zen budista do séc. XVII, responsável pela criação de um sistema
totalmente não invasivo, aplicado somente na área do abdôme (hara) através de agulhas espessas, tanto de prata quanto de ouro, com a ponta abaulada e estimulada por leves
batidas de um pequeno martelo de madeira de formato chato sobre as áreas reflexas dos órgãos no abdômen, com o objetivo de expurgar do corpo tanto os Dokus (venenos,
toxinas), como o Oketsu (sangue estagnado nos grandes órgãos). Ambos são os principais responsáveis pelo bloqueio de Ki quanto de sangue, na região do hara, considerada pelos
japoneses a principal sede ou centro vital do corpo. Isai Misono, Filho de Mubun e acupunturista da corte do Shogun, foi quem difundiu e ensinou a arte secreta do Mubun Dashin.
O clássico Shindo Hiketsu Shu (Compilação de Acupuntura Secreta) descreve as principais características e formas de tratamento através do estilo de Mubun, que promove um
estímulo muito peculiar através do movimento de ondas (hado) emitido pela vibração da batida do martelo nas agulhas de prata ou de ouro.
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Sawada foi um dos mais famosos e eminentes mestres Hari e kyu do período Meiji no Japão, estudante de Taijutsu, uma antiga arte samurai e de seitai: a arte japonesa de
alinhamento osteo-articular. Aperfeiçoou e desenvolveu grande parte de seus estudos no longo período que viveu na Coreia. Sawada pertenceu à famosa classe de estilo de
acupuntura não universitária, que via na prática a maior aliada ao desenvolvimento e aprimoramento da acupuntura. Seu estilo não priorizava os pontos tradicionais da acupuntura,
mas os pontos vivos e pessoais dos pacientes, pontos estes que mantinham uma relação intrínseca não só com o sintoma apresentado pelo paciente mas, a priori, com a raiz original
da doença. Esses pontos, segundo ele, eram diferentes e únicos em cada paciente e cabia ao acupuntor e moxaterapeuta localizá-los através de técnicas específicas de palpação,
sobretudo na região do hara e das costas, principalmente aqueles pontos que se apresentavam endurecidos (koris) e sensíveis à palpação em geral. Sawada fazia uso da técnica de
uma única agulha (ippon hari), estimulando a superficialização da energia Jaki (energia perversa, maléfica), para depois eliminá-la do corpo através da queima de moxa nesses pontos
que, em geral, após a inserção superficial da agulha, apresentavam-se avermelhados nas áreas próximas da agulha. Sawada ficou muito famoso no Japão e, pelo que consta, ele
atendia quase 100 pacientes por dia e obtinha resultados expressivos em seus tratamentos. Com o passar dos anos ele voltou às agulhas.
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Isaburo Fukaya nasceu em Tóquio em 1901 e, até os dias atuais, é considerado um dos maiores mestres de moxa (ôkyu) no Japão. Sua história de vida é muito curiosa, pois, quando
estudava direito na universidade Nippon Nichidai e se preparava para tornar-se monge budista, contraiu uma grave doença que o impossibilitou de continuar seus estudos e o deixou
acamado por cinco anos. Inconformado, buscou o tratamento de moxaterapia e curou-se completamente, fazendo com que se sentisse renascido. A partir daí resolveu devotar-se ao
estudo e prática da moxaterapia, criando um estilo próprio de ensino e tratamento, através da moxa (Artemísia vulgaris). Seu estilo, assim como o de Sawada, preconizava a
localização e tratamento através dos famosos pontos vivos ou operantes, descobertos por meio de um minucioso exame palpatório em cada um dos pacientes. A sua grande inovação
foi a utilização de um tubo de bambu oco com a abertura em um dos lados, para que, quando pressionado ao término da queima da moxa, aproximadamente a 1mm da pele,
promovesse não só a interrupção da queima dos cones de moxa antes que esses atingissem a pele produzindo bolhas, mas também produzisse um efeito único de penetração do
calor nos pontos e meridianos.
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Yoshio Manaka foi um grande médico japonês do séc. XX, graduado pela Kyoto Imperial University Medical School e PhD pela Kyoto Imperial University Medical School. Manaka
também era poeta, escritor, artista e pesquisador; um mediador cultural entre a China e Japão. Cirurgião do Exército Japonês, responsável por tratar com a acupuntura inúmeros
soldados feridos, Manaka atuou como pesquisador da acupuntura e sistematizou um novo mapa dos pontos de alarme (Boketsu) na década de 70. Esteve sempre envolvido com
inúmeras pesquisas comprobatórias do fenômeno de óxido-redução nos pontos de acupuntura. Também é reconhecido pela criação dos fios magnéticos de Ion Pumping, que permite
o fluxo de elétrons em um único sentido, tendo por objetivo criar uma espécie de ponte de transferência de energia a partir da polaridade contrária, positivo e negativo, transferindo
os íons positivos para lugares saudáveis.
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Hinaishin e Kyutoshin
Kobei Akabane foi um grande acupuntor, moxaterapeuta e pesquisador da acupuntura japonesa. Sua grande contribuição se deu em 1952, quando, ao tratar um paciente de mesmo
nome (Akabane), que era portador de diabetes, optou por tratar os pontos insensíveis nos pés com moxa (kyu), os famosos pontos Seiketsu, localizados nos cantos ungueais dos
dedos. Ao dar continuidade ao tratamento, ele percebeu a melhora drástica em seu paciente. Com isso, resolveu direcionar sua pesquisa aos pontos seiketsu. A partir das
experiências com esses pontos, Akabane percebeu que poderia avaliar os meridianos através da sensibilidade ao calor nos pontos seiketsu. Suas pesquisas apontaram para a energia
maléfica Jaki, sobre tudo aquela proveniente do frio e do vento, como sendo a principal responsável pelo desequilíbrio e alterações energéticas nos meridianos. Através desses
estudos, Akabane resolveu utilizar pequenas agulhas hipodérmicas (Hinaishin) de forma subcutânea com o objetivo de estimular o corpo a expurgar a energia Jaki para fora do
organismo e dos meridianos, fazendo com que o fluxo energético dos meridianos se restabelecesse. Segundo a lei de Osamu presente no Nanjing, a presença da energia Jaki pode ser
percebida através da vermelhidão formada ao redor da agulha.
A utilização das agulhas hinaishin de forma subcutânea é completamente indolor e, em geral, é associada também por Akabane ao Kyutoshin. Kyu significa moxa, Shin, agulha e To,
ponta; literalmente, a palavra kyutoshin significa moxa fixada no cabo da agulha. Associada com o Hinaishin, esse método é muitíssimo eficaz no tratamento de inúmeras doenças e
dores crônicas.
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Tadashi Irie foi um famoso acupunturista e farmacêutico da década de 70, um dos primeiros alunos do Dr. Yoshio Manaka e um dos continuadores de seu trabalho, pois foi através
dos fundamentos de Manaka e da utilização dos fios de Ion pumping que Tadashi Irie desenvolveu seu método de tratamento voltado para os meridianos distintos e meridianos
tendino musculares.
Após anos de pesquisa, o Dr. Tadashi Irie desenvolveu um sistema próprio, o qual utilizava o Irie Finger Test, um método similar o teste bidigital O-ring test de Yoshiaki Omura para
encontrar pontos pessoais do paciente e diagnose do pulso e de pontos de alarme assim como pontos do abdome (Hara). No caso do método desenvolvido por Tadashi, coloca-se o
dedo indicador de uma mão no ponto ou área a ser testado, enquanto o dedo indicador da outra mão é esfregado sobre a parte superior do dedo adjacente. Uma experiência de
resistência adesiva entre o polegar e o dedo indicador é um reflexo de que a área que está sendo testada está doente.
Com o tratamento dos meridianos distintos, o dr. Tadashi tratava tanto com os fios de ion pumping, quanto com pequenas tachinhas metálicas com esparadrapo e papel de alumínio
como eletrodos. Existe também o tratamento através de agulhas inseridas superficialmente na pele; no entanto, este método tem sido substituído pelas formas menos invasivas.
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de manuseio de uma haste de metal quente para estimular delicadamente meridianos e áreas do corpo. Ela foi desenvolvida pela acupunturista Yokoyama. A técnica é baseada na
agulha irie aquecida para tratar meridianos tendino musculares, segundo Tadashi Irie, tal sistema é muito difundido tanto dentro quanto fora do Japão.
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Iniciando em 1927 sua própria escola de acupuntura e, reunido vários adeptos para o seu ideal, deu origem ao que ficou conhecido como Keiraku Chiryo (terapia de meridiano).
Ao se graduar em filosofia oriental, Sorei tornou-se ainda mais fixo em seus estudo e ideais e, junto com Okabe Fukuji, um de seus primeiros alunos, Takeyama Shinichiro, jornalista
deu um renomado jornal de Osaka e Inou, formaram em 1939 um sociedade voltada para o estudo intensivo dos clássicos da acupuntura. Através do estudo dos clássicos, a terapia
de meridiano passou a desenvolver uma maneira sistemática de tratamento e diagnóstico. Trazendo um grande respaldo para acupuntura praticada no Japão, tornando-se até os dias
de hoje um dos estilos mais praticados dentro e fora do Japão.
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O Estilo de acupuntura Toyohari foi desenvolvido pelo mestre Kodo Fukushima. O senhor Kodo fazia parte das forças armadas do Japão e, quando estava em ação, perdeu a visão,
ficando completamente impossibilitado de continuar a exercer sua profissão, sendo aposentado por invalidez. Após este momento traumático, ele resolveu estudar acupuntura.
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O sistema Hari é fruto de anos de estudo e pesquisa do Mestre Koei Kuwahara, no campo da Terapia de meridiano, Aikidô, chikung medicinal, Kototama, Okidô e anos a fio de estudo
da acupuntura com renomados mestres como: Kodo Fukushima, Ikeda, Shudo Denmei, Tanyoka, dentre outros. Com mais de 30 anos voltados para o Aikidô e anos de prática e estudo
da acupuntura com afinco, como os 15 anos que ficou ao lado do mestre Kodo Fukushima, deram ao sensei Kuwahara experiência e conhecimentos suficientes para desenvolver um
estilo próprio de acupuntura.
O sistema Hari possui sua base na acupuntura clássica da terapia de meridiano e do sistema Toyohari; no entanto, o poder deste sistema emerge da combinação das práticas e
posturas corporais advindas do Akidô e do poder espiritual do kotodama/kototama.
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Na prática da acupuntura Hari, sua atuação vai além do físico e energético e atinge o campo espiritual do indivíduo que está sendo tratado. Segundo o sensei Koei Kuwahara, o
sistema Hari faz parte de um retorno à acupuntura original, que era considerada antes de tudo um tratamento espiritual, pois, segundo ele, adoecemos inicialmente no campo
espiritual e a ressonância deste reflete-se nos demais campos, como o energético, afetando os meridianos e, posteriormente, atingindo o corpo físico. Assim como o estilo Keiraku
Chiryo e Toyohari, o sistema Hari enfatiza o tratamento de raiz, em detrimento ao tratamento sintomático.
Tendo como principal técnica o método de tonificação Ho Ho, através de uma finíssima agulha de prata conhecida por ute te ou agulha Inoue, a sua principal característica é possuir a
ponta arredondada como a de um polegar, o que faz com que ela não seja inserida na pele. Com isso, o praticante Hari toca suavemente essa agulha na pele, canalizando através de
Kotodama/Kototama as vibrações adequadas que irão modificar o estado espiritual e energético do paciente.
O Mestre Koei Kuwahara atualmente está radicado na cidade de Boston - EUA, onde possui sua clínica particular e sua escola de acupuntura.
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No Japão existe um estilo próprio de acupuntura, voltado quase que exclusivamente para o tratamento de crianças. Esse método é conhecido por "shonishin”, palavra que vem do
chinês “Erzhen" e significa "agulha ou agulhamento de crianças”. Esse sistema surgiu durante o período Edo (do século XVII ao século XIX) e se popularizou na era Showa em meados
do século XX.
O método consiste em uma forma especializada de acupuntura que faz uso de instrumentos e agulhas metálicas, que, em geral, são deslizados de forma suave e superficial sobre a
pele da criança ou bebê, com o intuito de regular e promover o livre fluxo de Ki nos meridianos do corpo da criança. Enquanto que a acupuntura realizada em adultos envolve a
inserção de agulhas, o shonishin é uma forma completamente não invasiva de acupuntura, que utiliza várias agulhas e instrumentos dos mais diferentes formatos e tamanhos
somente sobre a pele do bebê.
Segundo inúmeros relatos, a prática regular do shonishin ajuda a promover e manter tanto a saúde física como mental da criança, tornando-as mais fortes e tranquilas, auxiliando
inclusive em seu crescimento e desenvolvimento.
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