Fundamentos Do Desenvolvimento Psicossocial
Fundamentos Do Desenvolvimento Psicossocial
Fundamentos Do Desenvolvimento Psicossocial
Personalidade
O temperamento de um bebé é a forma como este interage com o mundo ao
seu redor. É o seu “estilo” pessoal. Embora o temperamento não defina os
comportamentos que a criança terá, é um ótimo indicador para a família
perceber como a criança poderá reagir às situações.
Emoções
Emoções, como tristeza, alegria e medo, são reações subjetivas à experiência
e que estão associadas a mudanças fisiológicas e comportamentais.
Os recém-nascidos deixam bem claro quando estão se sentindo
infelizes: soltam gritos agudos, agitam os braços e as pernas e enrijecem o
corpo. É mais difícil saber
quando estão felizes.
Choro Chorar é a maneira mais veemente – e às vezes a única – de os bebês
comunicarem suas necessidades.
Sorriso e risada: os primeiros sorrisos ocorrem espontaneamente logo após o
nascimento, aparentemente como resultado da atividade do sistema nervoso
subcortical.
Sorriso social: quando os recém-nascidos olham para os pais e sorriem para
eles não se desenvolve antes do segundo mês de vida.
O sorriso antecipatório: quando os bebês sorriem ao ver um objeto e depois
olham para um adulto enquanto continuam sorrindo – pode ser o primeiro
passo.
O temperamento às vezes é definido como o modo característico, com base biológica, de uma pessoa
abordar e reagir a outras pessoas e às situações.
O papel da mãe Numa série de experimentos pioneiros realizados por Harry Harlow e seus
colaboradores, macacos rhesus foram separados de suas mães de 6 a 12 horas após o nascimento e
criados num laboratório. Os macacos bebês foram colocados em gaiolas onde haviam dois tipos de
“mães” substitutas: uma simples tela cilíndrica de arame ou uma forma coberta de pelúcia.
O papel do pai O papel da paternidade é basicamente uma construção social (Doherty, Kouneski e
Erickson, 1998), tendo diferentes significados em diversas culturas. O papel pode ser assumido ou
compartilhado por alguém que não seja o pai biológico: o irmão da mãe, como na Botsuana; ou um avô,
como no Vietnã (Engle e Breaux, 1998; Richardson, 1995; Townsend, 1997). Em algumas sociedades, os
pais estão mais envolvidos na vida de seus
filhos pequenos – economicamente, emocionalmente e no tempo que lhe é dedicado – do que em outras.
Em muitas partes do mundo, o significado de ser pai mudou dramaticamente, e continua mudando (Engle
e Breaux, 1998).
Questões de desenvolvimento na
primeira infância
Como um recém-nascido dependente, com um repertório emocional limitado e com necessidades físicas
urgentes, torna-se uma criança com sentimentos complexos e com a capacidade de entendê-los e
controlá-los? Uma grande parte desse desenvolvimento gira em torno das relações com os cuidadores.
DESENVOLVENDO A CONFIANÇA
Os bebês humanos dependem dos outros para obter alimento, proteção e para a sobrevivência por um
período muito mais longo do que qualquer outro mamífero. Como eles passam a ter a confiança de que
suas necessidades serão satisfeitas? Segundo Erikson (1950), as primeiras experiências são
fundamentais.
O primeiro dos oito estágios do desenvolvimento psicossocial de Erikson é confiança básica versus
desconfiança. Esse
estágio começa no início da primeira infância e continua até por volta dos 18 meses.
Nesses primeiros meses, o bebê desenvolve
o senso de confiança nas pessoas e nos objetos de seu mundo. Ele precisa desenvolver um equilíbrio
entre confiança (que lhe
permite formar relacionamentos íntimos) e
desconfiança (que lhe permite proteger-se).
Se predominar a confiança, como deveria, a
criança desenvolve a “virtude” da esperan-
ça: a crença de que poderá satisfazer suas
necessidades e desejos (Erikson, 1982). Se predominar a desconfiança, a criança verá o mundo como
hostil e imprevisível e terá dificuldade para estabelecer relacionamentos.
DESENVOLVENDO O APEGO
Quando a mãe de Ahmed está por perto, ele olha para ela, sorri, balbucia e vai engatinhando até ela.
Quando ela sai, ele chora; quando ela volta, ele solta um gritinho estridente de alegria. Quando ele
está assustado ou infeliz, agarra-se a ela. Ahmed formou seu primeiro apego a outra pessoa.
O apego é um vínculo recíproco e duradouro entre o bebê e o cuidador, cada um contribuindo
para a qualidade do relacionamento. De um ponto de vista evolucionista, o apego tem valor adaptativo
para o bebê, assegurando que suas necessidades tanto psicossociais quanto físicas sejam satisfeitas
(MacDonald, 1998). Segundo a teoria etológica, bebês e seus pais estão biologicamente predispostos a
se apegarem entre si, e o apego promove a sobrevivência da criança.
Bebês com apego seguro podem chorar ou protestar quando o cuidador se ausenta, mas são
capazes de obter o conforto de que precisam, com eficácia e rapidamente, demonstrando
flexibiliverificador
você é capaz de...
Explicar a importância da
confiança básica e identificar
o elemento crítico em seu
desenvolvimento?
apego
Vínculo recíproco e duradouro entre
duas pessoas, especialmente entre
bebê e cuidador – cada um contribuindo para a qualidade do relacionamento.
Situação Estranha
Técnica de laboratório utilizada para
estudar o apego do bebê.
apego seguro
Padrão em que o bebê chora ou
protesta quando o cuidador principal
se ausenta, procurando-o ativamente
quando ele retorna.
Tanto Ana quanto Diana contribuem para o apego que há entre elas pela maneira como agem uma em
relação à outra. O modo como o bebê se molda ao
corpo da mãe mostra sua confiança e reforça os sentimentos de Diana pela filha,
que ela demonstra por meio da sensibilidade às necessidades de Ana.
Desenvolvimento Humano 221
dade e resiliência, quando diante de situações estressantes. Costumam ser cooperativos e raramente
sentem raiva. Bebês com apego evitativo não são afetados por um cuidador que se ausenta ou
retorna. Eles demonstram pouca emoção, seja positiva ou negativa. Bebês com apego ambivalente
(resistente) ficam ansiosos antes mesmo de o cuidador se ausentar e ficam cada vez mais
perturbados quando ele ou ela sai. Na volta do cuidador, bebês ambivalentes demonstram sua afli-
ção e raiva buscando contato com ele, ao mesmo tempo em que dão chutes e se contorcem. Bebês
ambivalentes podem ser difíceis de agradar, já que sua raiva frequentemente supera sua capacidade
de obter consolo do cuidador. Observe que não é necessariamente o comportamento do cuidador
quando se ausenta que determina a categoria de apego atribuída às crianças, mas o comportamento
do cuidador quando ele volta
Outra pesquisa (Main e Solomon, 1986) identificou um quarto padrão, o apego desorganizado-
-desorientado, que é o menos seguro. Bebês que apresentam o padrão desorganizado parecem não
ter uma estratégia coesa para lidar com o estresse da Situação Estranha. Em vez disso, apresentam
comportamentos contraditórios, repetitivos ou mal direcionados (por exemplo, procuram intimidade
com o estranho e não com a mãe). Poderão saudar a mãe com entusiasmo quando ela voltar, mas
depois se afastam ou se aproximam sem olhar para ela. Parecem confusos e temerosos (Carlson, 1998;
van IJzendoorn, Schuengel e Bakermans-Kranenburg, 1999).
O papel do temperamento Até que ponto e de que maneira o temperamento influencia o apego?
Em um estudo com crianças de 6 a 12 meses e suas famílias, tanto a sensibilidade da mãe quanto o
temperamento do bebê influenciaram os padrões de apego (Seifer et al., 1996). Condições neurológicas
ou fisiológicas podem ser a base das diferenças de temperamento no apego. Por exemplo, a
variabilidade no ritmo cardíaco de um bebê está associada à irritabilidade, e o ritmo cardíaco parece
variar mais em bebês de apego inseguro (Izard et al., 1991).
O temperamento do bebê pode não só ter um impacto direto sobre o apego, como também pode
causar um impacto indireto a partir de seu efeito nos pais. Numa série de estudos realizados na Holanda
(van den Boom, 1989, 1994), bebês de 15 dias, avaliados como irritáveis, estavam muito mais
propensos do que bebês não irritáveis a apresentar um apego inseguro (geralmente evitativo) com 1 ano
de idade. No entanto, bebês irritáveis cujas mães receberam visitas em casa e instruções sobre como
acalmar seus filhos foram tão propensos a serem avaliados como de apego seguro quanto os bebês não
irritáveis. Assim, a irritabilidade do bebê pode impedir o desenvolvimento de um apego seguro, mas
não se a mãe tiver habilidade para lidar com o temperamento do filho (Rothbart et al., 2000). A adequa-
ção da educação entre pais e filhos pode muito bem ser a chave para entender a segurança do apego.
Ansiedade diante de estranhos e ansiedade de separação Sofia costumava ser um bebê
amistoso, sorria para estranhos e se deixava pegar, continuando a arrulhar toda feliz, contanto que
alguém – qualquer um – estivesse por perto. Agora, aos 8 meses, ela se afasta quando uma pessoa
desconhecida se aproxima, e berra quando os pais tentam deixá-la com uma babá. Sofia está
vivenciando a ansiedade diante de estranhos, cautela com pessoas que não conhece, e a ansiedade
de
separação, aflição sentida quando um cuidador familiar se ausenta.
Efeitos de longo prazo do apego Conforme propõe a teoria do apego, a segurança do apego
parece afetar a competência emocional, social e cognitiva. Quanto mais seguro o apego com um
adulto atencioso, maior a probabilidade de a criança desenvolver um bom relacionamento com os
outros.
Questões de desenvolvimento
do 1o ao 3o ano
Aproximadamente no ponto médio entre o primeiro e o segundo aniversário, o bebê torna-se uma
criança. Essa transformação pode ser vista não apenas em habilidades físicas e cognitivas como andar
e falar, mas na maneira como a criança expressa sua personalidade e interage com os outros. A criança
pequena torna-se um parceiro mais ativo e intencional nas interações e às vezes é ela quem toma a
iniciativa. Os cuidadores agora podem “interpretar de modo mais claro” os sinais da criança. Essas
interações “sincronizadas” ajudam as crianças pequenas a adquirir habilidades comunicativas e
competência social, e motiva a aquiescência aos desejos dos pais (Harrist e Waugh, 2002).
Vejamos três questões psicológicas com as quais as crianças mais novas – e seus cuidadores – têm
de lidar: emergência do senso de identidade; crescimento da autonomia ou autodeterminação; e
socialização ou internalização de padrões comportamentais.
DESENVOLVIMENTO DA AUTONOMIA
À medida que a criança amadurece – fisicamente, cognitivamente e emocionalmente – ela é levada a
buscar sua independência em relação aos vários adultos aos
quais está apegada. “Eu fazer!” é a frase típica da criança quando começa a usar
seus músculos e sua mente para tentar fazer tudo sozinha – não somente andar,
mas alimentar-se, vestir-se e explorar o mundo.
Erikson (1950) identificou o período entre 18 meses e 3 anos como o segundo estágio no
desenvolvimento da personalidade, autonomia versus vergonha
e dúvida, marcado pela passagem do controle externo para o autocontrole.
A cooperação receptiva vai além da obediência comprometida. Trata-se de uma ansiosa disposição da
criança em cooperar harmoniosamente com o pai ou a mãe, não apenas em situações
disciplinares, mas em diversas interações cotidianas, incluindo rotinas, pequenas tarefas, higiene e
brincadeiras. A cooperação receptiva permite à criança ser um parceiro ativo na socialização
Fatores que favorecem a socialização O modo como os pais cuidam de socializar o filho
e a qualidade do relacionamento entre eles podem ajudar a prever se a socialização será fácil
ou difícil. No entanto, nem todas as crianças respondem da mesma maneira. Por exemplo, uma
criança de temperamento temeroso poderá responder melhor a lembretes gentis do que a duras
repreensões, enquanto uma criança mais ousada poderá exigir ações mais categóricas (Kochanska,
Aksan e Joy, 2007).
O apego seguro e um relacionamento afetuoso e mutuamente responsivo entre pais e filhos
parecem favorecer a obediência comprometida e o desenvolvimento da consciência moral. Do
segundo ano de vida da criança até o início da idade escolar, os pesquisadores observaram mais
de 200 mães e filhos em longas interações naturais: cuidados rotineiros, preparar e ingerir as refeições,
brincar, relaxamento e pequenas tarefas domésticas. Crianças que estabeleciam relações
mutuamente responsivas com a mãe tendiam a apresentar emoções morais como culpa e empatia;
conduta moral diante da forte tentação de desobedecer às normas ou violar padrões de comportamento; e
cognição moral, de acordo com a sua resposta a dilemas morais hipotéticos apropriados
para a idade (Kochanska, 2002).
O conflito construtivo relacionado ao comportamento inadequado da criança – conflito que
envolve negociação, argumentação e solução – pode ajudar a desenvolver sua compreensão moral,
permitindo que ela veja outro ponto de vista. Em um estudo observacional, crianças de 2 anos e
meio cujas mães deram explicações claras para suas ordens, negociaram ou barganharam com o
filho, mostraram-se mais capazes de resistir à tentação com 3 anos do que crianças cujas mães
haviam recorrido a ameaças ou provocações, ou que insistiram ou desistiram. A discussão sobre
emoções em situações de conflito (“Como você se sentiria se...”) também levou ao desenvolvimento
da consciência moral, provavelmente por promover o desenvolvimento das emoções morais (Laible
e Thompson, 2002).
Alguns bebês morrem de déficit de crescimento não orgânico, um tipo de crescimento físico
mais lento ou retardado, sem causa clínica conhecida, acompanhado de desenvolvimento precário e
problemas emocionais. Os sintomas podem incluir ganho de peso insuficiente, irritabilidade, sonolência
excessiva e fadiga, evitação de contato visual, ausência de sorriso ou vocalização, e desenvolvimento
motor retardado. O déficit de crescimento pode resultar de uma combinação de nutrição
inadequada, dificuldades na amamentação, preparação de fórmulas ou técnicas de alimentação
impróprias e interações conturbadas com os pais. No mundo inteiro, a pobreza é o maior fator de risco
do déficit de crescimento. Bebês cuja mãe, ou cuidador principal, é deprimida, abusa do álcool ou de
outras substâncias, vive sob forte estresse ou não demonstra afeto ou afeição também correm maior
risco (Block, Krebs, the Committee on Child Abuse and Neglect e the Committee on Nutrition, 2005;
Lucile Packard Childrens’s Hospital at Stanford, 2009).
A síndrome do bebê sacudido é uma forma de maus-tratos encontrada principalmente em
crianças com menos de 2 anos, geralmente bebês. Como o bebê tem uma musculatura fraca no pescoço
e uma cabeça grande e pesada, sacudi-lo faz o cérebro deslocar-se de um lado para outro dentro
do caixa craniana.