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Reaproveitamento de Resíduo de Eps Como Agregado de Bloco Construtivo

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REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUO DE EPS

COMO AGREGADO DE BLOCO CONSTRUTIVO

L. A. C. Bezerra, M. M. F. Oliveira, G. S. Marinho

Laboratório de Transferência de Calor, UFRN, 59072-970, Natal, Brasil

RESUMO

Reconhecidamente, o poliestireno expandido (EPS) consagrou-se no mercado como um


excelente isolante térmico, haja vista sua natureza intrínseca que congrega propriedades como
baixa densidade, conseqüentemente baixa condutividade térmica, e estrutura mecanicamente
estável, embora não possua resistência elevada. Na construção civil sua utilidade evidencia-se
pelas aplicações: enchimento de laje, forros, isolamento termo-acústico etc. Neste contexto, o
presente trabalho propôs-se a avaliar quantitativamente o desempenho térmico de blocos,
utilizados como alvenaria de vedação, construídos com concreto cuja composição integrou o
EPS, proveniente de descarte, em substituição total ao agregado graúdo do concreto
“comum”, resultando no denominado “concreto leve”. Realizaram-se experimentos com
paredes de alvenaria, montados com blocos de concreto “comum”, tomado como referência,
outro com blocos de concreto leve e mais dois tipos disponíveis comercialmente: tijolos
cerâmicos de 8 furos e blocos de cimento vazados. As paredes foram dispostas de modo que
suas faces se encontravam voltadas para ambientes distintos, dos quais um foi mantido a
temperaturas em torno de 22ºC enquanto no outro, posicionou-se uma fonte de calor radiante
a 1m da face da parede avaliada, obtendo-se temperaturas de até 52,5ºC. De posse das curvas
de aquecimento foi possível avaliar o desempenho térmico de cada material utilizado,
comparativamente, em relação ao referencial adotado. Pôde-se, até então, concluir com os
resultados obtidos que é viável empregar-se o EPS como material constituinte da mistura para
concreto, com a finalidade de fabricar alvenaria de vedação capaz de comportar-se também
como isolamento térmico entre o meio externo e o interior da edificação.

PALAVRAS-CHAVE

Construção civil, concreto leve, isolamento térmico, EPS, alvenaria de vedação, desempenho
térmico.
INTRODUÇÃO

Nas duas últimas décadas, as facilidades proporcionadas pelos sistemas de ventilação e


climatização artificiais induziram a uma despreocupação com o consumo de energia
elétrica para obtenção de conforto térmico. Nesse período, a construção civil concebeu
ambientes onde o conforto térmico dependia exclusivamente desses sistemas. A busca
pela eficiência energética expressa através da redução de custos no uso e manutenção
de um edifício, e a escassez de recursos energéticos num futuro próximo são fatores
que devem ser levados em consideração no projeto e definição do uso de sistemas
construtivos e de matérias adequadas ao clima. Desta forma, arquitetos e engenheiros
civis podem contribuir, de maneira expressiva, na redução do desperdício de energia,
além de obter conforto térmico dos espaços construídos, através da adequação
climática.

Além da necessária e urgente conscientização que os profissionais da área da construção


civil devem ter com relação ao problema energético, outro fator também de suma
importância é a utilização de resíduos sólidos provenientes das indústrias e das
embalagens; assim como do entulho da construção civil, cuja geração se agrava a cada
dia com o crescimento populacional e o desenvolvimento urbano desordenado. Segundo
Aguiar et al. (2001), os números relacionados com resíduos de EPS (poliestireno
expandido), materiais provenientes de embalagens de aparelhos, máquinas e
equipamentos, no Brasil, são de aproximadamente 15 mil toneladas/ ano, ou seja, cerca de
40 toneladas / dia.

Várias técnicas vêm sendo aplicadas para reduzir os custos relativos à climatização. Utilizar
materiais de baixa densidade como agregado para concreto empregado na fabricação de blocos
para alvenaria de vedação é uma delas. O emprego de resíduo do EPS é um bom exemplo, visto
que esse material apresenta vantagens, tais como: baixa condutividade térmica, baixo peso,
resistência mecânica, baixa absorção de água, facilidade de manuseio, versatilidade, resistência ao
envelhecimento, absorção de choques e resistência à compressão.

Em termos econômicos, Cassa et al. (2001) afirmam que o uso de agregado reciclado apresenta
vantagens em relação aos agregados naturais, podendo-se chegar a diferenças de custos finais
de até 50%. Esse fato pode ser aproveitado para promoção de benefícios sociais, através da
ampliação da oferta pública de infra-estrutura urbana e habitação popular.

O uso do EPS na produção da arquitetura além de contribuir com a minimização dos gastos com
energia elétrica para a climatização, por ser um material isolante, apresenta outras vantagens tais
como: ambientais – a retirada deste material do ambiente e seu confinamento nos elementos
componentes das edificações já justificariam seu uso como material de construção, além da
conseqüente diminuição do espaço físico nos lixões; social – geração de empregos; e
econômicas – diminuição de custos na construção civil e produção de estruturas mais leves.

“Atualmente, somente cerca de 5% da produção de EPS no Brasil (ou 2 mil toneladas) passam
por processo de reciclagem. Segundo o presidente da Abrapex, Albano Schmit, o isopor é
100% reciclável, embora não seja biodegradável. Por seu aspecto leve, o material (composto
de 98% de ar e 2% de plástico) ocupa muito espaço nos aterros sanitários e a desobstrução dos
lixões é outra finalidade de seu reaproveitamento. No aterro sanitário da Caximba, em
Curitiba, o isopor ocupa atualmente 335 metros cúbico de área” (Scheller, 2000).
O uso do EPS em obras civis é uma tecnologia comprovadamente viável para conservação
de energia, necessitando apenas maior divulgação de suas qualidades. Na Europa, a
construção civil responde por 65% do consumo de EPS, enquanto no Brasil chega a apenas
4% (Krüger et al., 1999).

Desse modo, o conhecimento das propriedades termofísicas dos materiais de construção


constitui o ponto de partida para abordagem do problema da transferência de calor através
da alvenaria de vedação das edificações. Assim, escolhendo-se corretamente o tipo de
material a ser utilizado nas construções, pode-se chegar à concepção de sistemas
alternativos com capacidade para reduzir a carga térmica devida à radiação solar, que
atravessa as paredes das habitações. No presente trabalho fez-se uma análise comparativa
entre o desempenho térmico apresentado por sistemas construtivos convencionais e um
sistema alternativo construído com concreto leve.

METODOLOGIA

Os experimentos foram realizados utilizando-se os seguintes equipamentos e corpos de prova:

Sistema de aquisição de dados (SAD) – composto por um microcomputador equipado com


placa de aquisição de dado com compensação automática de junta fria, e termopares tipo T –
cobre-constanatn: temperatura de trabalho de –190ºC a 370ºC, de acordo com Borchardt &
Gomes (1979). Na Figura1 apresenta-se o SAD citado.

FIGURA 1. SISTEMA DE AQUISIÇÃO DE DADOS

Fonte de calor – utilizada como fonte radiante para aquecimento de uma das faces das paredes
avaliadas, o aparato era formado por um conjunto de lâmpadas incandescentes, com 200W
cada, dispostas tal como mostrado na Figura 2.

FIGURA 2. FONTE RADIANTE DE CALOR


Blocos de concreto leve - foram construídos agregando-se EPS à mistura de cimento areia e
água (traço: 1 saco 50kg de cimento + 60 l de EPS + 100 l de areia + 30 l de água). Também
foram colocadas placas de EPS no interior dos blocos, compondo um elemento de seção
transversal na forma de sanduíche: 0,03m de concreto leve/0,04m de EPS/0,03m de concreto
leve, como apresentado na Figura 3.

0,03m 0,03m
0,04m
(a) (b)

FIGURA 3. (A) BLOCOS DE CONCRETO LEVE; (B) DIMENSÕES E SEÇÃO TRANSVERSAL

Corpos de prova – foram construídas paredes para cada tipo de bloco considerado.
Posicionadas em lugar de uma abertura preexistente, as paredes dividiam dois ambientes que
ficavam fechados durante os experimentos, evitando a interferência de rajadas de vento. Um
desses ambientes teve sua temperatura mantida por volta de 22ºC, através de condicionadores
de ar. O outro continha a fonte de radiação térmica utilizada para aquecer uma das faces das
paredes. A montagem foi feita de acordo com a Figura 4.

(a) (b) (c) (d)


(a)BP, (b)BCV, (c)TC8F, (d)BCL6_10

FIGURA 4. CORPOS DE PROVA MONTADOS E INSTRUMENTADOS


Adotou-se a seguinte convenção para os blocos avaliados:

BP bloco padrão, construído em concreto comum;


BCV bloco de concreto vazado;
TC8F tijolo cerâmico 8 furos;
BCL6_10 bloco de concreto leve com proporção de EPS/areia igual a 6/10, em relação
a um saco de cimento (50kg).

Para as seções consideradas, convencionou-se o seguinte:

Seção A – Face da parede voltada para o interior da sala climatizada;

Seção B – Face da parede voltada para a fonte de radiação térmica.

RESULTADOS E ANÁLISES

Como o concreto leve apresenta em sua composição um material de baixa resistência à compressão
(EPS), além dos experimentos para avaliar o desempenho térmico dos sistemas construtivos
empregados foi necessário realizar-se ensaios para verificar a resistência à compressão dos blocos
de modo que seu emprego como alvenaria de vedação esteja respaldado por documento normativo.

As normas utilizadas como referência foram a NBR 6461(ABNT, 1983) e a NBR 7171(ABNT,
1983) que, embora se refiram especificamente a blocos cerâmicos, o método de ensaio e as
especificações de resistências mínimas referem-se à aplicação (no caso, vedação) e não ao tipo de
material do qual os blocos são fabricados. Os valores mínimos exigidos pela norma e o valor obtido
nos ensaios, realizados no Laboratório de Concreto da UFRN, se encontram na tabela 1.

TABELA 1. RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO DE ALVENARIA DE VEDAÇÃO

Alvenaria de vedação Resistência (MPa)


Categoria Mínima Bloco de concreto leve
A 1,5
3,88
B 2,5

Pode-se observar na Tabela 1 que o bloco de concreto com EPS cumpre com os padrões de
resistência à compressão, exigidos pela NBR 7171 (ABNT, 1983).

Quanto ao desempenho térmico, nas Figuras 5 a 8 podem-se observar os gráficos de


temperaturas médias em função do tempo, traçados a partir dos dados coletados.
Na Tabela 2 estão as médias de temperaturas para as últimas cinco horas de cada
experimento.

TABELA 2. DIFERENÇA DE TEMPERATURA ENTRE AS SEÇÕES A E B

Temperaturas (ºC) BP BCV TC8F BCL6_10


TB 43,7 49,9 50,3 51,3
TA 34,7 33,4 30,0 27,5
∆T = TB – TA 9,0 16,5 20,3 23,8
Como revela o comportamento dos gráficos mostrados nas Figuras 5 a 8, o bloco de concreto leve
apresentou um gradiente de temperatura superior aos demais. Esta superioridade encontra-se
quantificada na Tabela 2, onde se pode constatar um aumento de 164,44% do ∆T em relação ao bloco
padrão, enquanto que a alvenaria cerâmica e o bloco de concreto vazado apresentaram aumentos no
∆T de 125,56% e 83,33%, respectivamente.

55

50

45
Temperatura ( C)
o

40

35

30

25
Seção B
Seção A
0 5 10 15 20 25
Tempo (h)

FIGURA 5. TEMPERATURAS MÉDIAS DO “BLOCO PADRÃO”

55

50

45
Temperatura ( C)
o

40

35

30

25
Seção B
Seção A
0 5 10 15 20 25
Tempo (h)
FIGURA 6. TEMPERATURAS MÉDIAS DO “BLOCO DE CIMENTO VAZADO”
55

50

45

Temperatura ( C)
o

40

35

30

25
Seção B
Seção A
0 5 10 15 20 25
Tempo (h)
FIGURA 7. TEMPERATURAS MÉDIAS DO “TIJOLO CERÂMICO 8 FUROS”

55

50

45
Temperatura ( C)
o

40

35

30

25
Seção B
Seção A
0 5 10 15 20 25
Tempo (h)
FIGURA 8. TEMPERATURAS MÉDIAS DO “BLOCO DE CONCRETO LEVE”

Tendo-se como aspecto mais relevante, para esta pesquisa, a quantidade de calor que cada
sistema construtivo lhe permite atravessar, traduzida pela temperatura atingida na face oposta
à fonte de calor foi imprescindível traçar-se o gráfico mostrado na Figura 9, onde se
apresentam as temperaturas médias na “Seção A”, para cada parede avaliada.
35

Temperatura ( C)
o
30

25
BP
BCV
TC8F
BCL6_10

0 5 10 15 20 25
Tempo (h)
FIGURA 9.TEMPERATURAS MÉDIAS NA “SEÇÃO A”

Dentre os elementos construtivos avaliados observa-se pela Figura. 9 que o bloco de concreto
leve possui menor capacidade de transferir calor de um meio a outro. Fato ratificado pelos
valores exibidos na Tabela 2, na qual constata-se que em relação ao padrão, foram obtidas
diferenças de temperatura na “Seção A” de 1,3ºC, 4,7ºC e 7,2ºC, respectivamente, para o
bloco de cimento vazado, tijolo cerâmico 8 furos e para o bloco de concreto leve.

CONCLUSÕES

A partir da análise dos dados coletados, pôde-se concluir que:

• os blocos de concreto com agregado de EPS têm seu uso, como alvenaria de vedação,
garantido pelas normas NBR 6461 (ABNT, 1983) e NBR 7171 (ABNT, 1983), pois apresentam
resistência mecânica superior às mínimas exigidas por tais normas.

• a metodologia utilizada na pesquisa mostrou-se adequada às analises dos desempenhos


térmicos dos elementos construtivos;

• o desempenho térmico dos blocos com EPS deixou evidente a vantagem do seu uso como
forma de reduzir a transferência de calor de um meio a outro, tendo em vista que em relação
ao padrão obtiveram-se diferenças de temperatura, na face oposta à fonte de calor, de 1,3ºC,
4,7ºC e 7,2ºC para o bloco de concreto vazado, tijolo cerâmico 8 furos e para o bloco de
concreto leve, respectivamente.

• além da contribuição para a melhoria do conforto térmico dos usuários das edificações, o
reaproveitamento do EPS na forma de agregado para a construção civil, também permite
reduzir o impacto causado pelo descarte desse material no meio ambiente.

• a diminuição da quantidade de energia transferida para o interior das edificações possibilita


economia de energia elétrica necessária à climatização de ambientes. Esse fato deve ser mais
evidente em edificações comerciais e públicas.
AGRADECIMENTOS

A realização da pesquisa descrita neste trabalho só se tornou possível graças ao financiamento


do CNPq, através do Projeto CT ENERG – Processo N° 552.372/01-3 e à CAPES pela bolsa
concedida ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica – PPGEM da UFRN.

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1983). NBR 6461 Bloco Cerâmico para
Alvenaria – Verificação da Resistência à Compressão. Método de Ensaio.

Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1983). NBR 7171 Bloco Cerâmico para
Alvenaria, Especificações.

Aguiar, E.C.C. et al. (2001). A Tecnologia do Concreto Aliada ao Meio Ambiente. ANBio –
Associação Nacional de Biossegurança. Disponível em: < http//:www.abio.org.br>. Acesso em 10
set. de 2003.

Borchardt, I.G.; Gomes, A.F. (1979). Termometria Termoelétrica: Termopares. Ed. Sagra S.
A., Porto Alegre-RS, 2ª ed., 79p.

Cassa, J.C.S. et al. (2001). Reciclagem de Entulho para a Produção de Materiais de


Construção. EDUFBA, Salvador-BA, Caixa Econômica Federal, 312p.

Krüger. G.V. (1999). Avaliação Comparativa de Desempenho Térmico de Painéis de


Vedação para Edificações em Estruturas Metálicas. In: Anais do 2º Encontro Latino-
Americano de Conforto no Ambiente Construído, Fortaleza, em CD-ROM.

Lamberts, R.; Dutra, L.; Pereira, F. O. R. (1997). Eficiência Energética na Arquitetura. São
Paulo: P.W., 192p.

Scheller, F. (2000). Lixo Transformado em Casa Popular. Disponível em


<http//:www.unilivre.org.br>. Acesso em 10 set. de 2003.

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