Caracterização Do Resíduo Do Corte de Rochas Da Região de Santo Antonio de Pádua para Utilização Na Produção de Argamassas
Caracterização Do Resíduo Do Corte de Rochas Da Região de Santo Antonio de Pádua para Utilização Na Produção de Argamassas
Caracterização Do Resíduo Do Corte de Rochas Da Região de Santo Antonio de Pádua para Utilização Na Produção de Argamassas
RESUMO
PALAVRAS-CHAVE
Devido a esses motivos e também por se apresentar como uma atividade amplamente
difundida, nada mais justo que utilizar este mercado em ascensão como alternativa no
consumo de materiais sólidos reciclados.
Na Conferência sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente das Nações Unidas (Rio 92) foi
consolidada, através da Agenda 21, a visão do desenvolvimento sustentável, de maneira a
garantir para as gerações futuras iguais condições de desenvolvimento - igualdade entre
gerações - mas, também uma maior equidade no acesso aos benefícios do desenvolvimento - a
igualdade intrageração (LIDDLE, ONU apud Gonçalves 2000).
O Brasil é um produtor de rochas ornamentais com grande potencial, tendo a região sudeste,
incluindo o Rio de Janeiro, papel significativo nesta produção. As principais rochas
beneficiadas são mármores e granitos, sendo a quantidade de resíduos gerada em torno de
200.000 toneladas por ano.
A produção dessas peças acabadas usualmente é feita a partir da serragem de grandes blocos
de rochas, em serrarias com teares de lâminas ou diamantados (Falcão e Stellin Júnior, 2001).
Estima-se que só o corte em chapas de 1.000 m3 de blocos de mármore produzam, entre 500 a
650 toneladas de natas com resíduo (Câmara Municipal de Estremoz).
No processo de serragem com disco diamantado as natas são constituídas geralmente pelo pó
oriundo do desgaste da rocha mais a água de lubrificação da serra. Esses resíduos são
normalmente canalizados para tanques de decantação e posteriormente acumulados ao redor
das serrarias. Muitas vezes as natas são lançadas ao meio ambiente, em locais inadequados,
até mesmo direto em cursos d’água.
Neste trabalho foi realizado um grupo de testes visando a avaliação do desempenho do RCR e
sua influência nas propriedades de argamassa, seguindo os limites especificados pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
MATERIAIS
O resíduo utilizado neste trabalho foi proveniente da região Norte Fluminense do Estado do
Rio de Janeiro, mais especificamente de uma serraria situada no município de Santo Antônio
de Pádua. Coletado do tanque de decantação, o material, ainda com alto teor de umidade, foi
seco em estufa por 24 horas, a uma temperatura de 110ºC, resultando um material em forma
de torrões. O destorroamento foi feito através de um moinho de bolas durante um período de
600 ciclos. Após este tratamento, o material apresentou, pela superfície específica Blaine,
uma finura de 340 m2/Kg e uma massa especifica teorica de 2,71 g/cm3.
20,0
325 0,044 87
0,0
FIGURA 1. CURVA GRANULOMÉTRICA DO RCR
A rocha de origem pode ser classificada geologicamente, como um Milonito Gnaisse, oriundo
de um metamorfismo de rochas ígneas semelhantes a Gnaisses (RETECMIN/RJ).
Outros Materiais
Características da areia
Foi utilizada areia comum do rio da região, por ser, na prática, a mais usualmente empregada
para confecção de argamassas. O material, caracterizado conforme recomendações da ABNT,
tem a granulometria apresentada abaixo.
8 2,4 0 90
80
16 1,2 12 70
60
30 0,6 60 50
40
50 0,3 94 30
20
100 0,15 99 10
0
200 0,075 100
FIGURA 2. CURVA GRANULOMÉTRICA DA AREIA
Para as outras propriedades, também segundo a ABNT, a areia utilizada um módulo de Finura
de 2,65, uma massa específica aparente no estado solto de 1,39 g/cm3 e uma massa específica
teórica de 2,65 g/cm3.
Características do cimento
O cimento empregado na produção das argamassas para ensaio foi o cimento Portland
composto com adição de escória de alto forno (CP II E 32), por ser o mais utilizado na região.
Suas características físicas são: Massa específica teórica de 2,92 g/cm3 e uma superfície
específica (Blaine) de 342 m2/Kg. A Tabela 5 mostra os resultados da análise química, feita
através do EDX.
Elementos Percentual
CaO 70,21%
SiO2 17,03%
Al2O3 5,89 %
SO3 3,38 %
Fe2O3 1,82 %
K2O 0,86 %
TiO2 0,44 %
Outros 0,38 %
Características da cal
A cal usada na confecção da argamassa é do tipo CH III, fabricada por uma empresa situada
na própria região, tem Massa Específica Teórica de 2,24 g/cm3 e Superfície Específica
(Blaine) de 703 m2/Kg. Os resultados da análise química, podem ser vistos na Tabela 6.
Elementos Percentual
CaO 96,24%
SiO2 1,35 %
SO3 1,04 %
K2O 0,95 %
Fe2O3 0,18 %
Outros 0,24 %
METODOLOGIA
Os percentuais de substituição da cal pelo resíduo foram iguais para os dois tipos de
argamassa, correspondendo a 50, 75 e 100%. Para o traço 1:1/2:5, a argamassa de referência,
isto é, sem resíduo, é denominada AR e as com substituições foram designadas A50, A75 e
A100, de acordo com o percentual de substituição. Com o traço 1:2:9 foi adotada uma
denominação similar, sendo RR a amostra referência e, R50, R75 e R100, as com
substituições. A Tabela 7 apresenta um resumo das substituições para ensaios.
Em todos os ensaios, as argamassas foram dosadas com teores de água de acordo com a
consistência em mesa de abatimento (table flow), normalizada pela NBR 13276 (ABNT,
1995a).
Os corpos de prova para ensaio de resistência à compressão foram curados nas condições
ambientais de laboratório com temperatura de 23º C ± 2 e uma umidade relativa do ar de 65%
± 5.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A interpretação dos resultados obtidos nos ensaios está centrada nas prescrições impostas
pela ABNT, que classificam as argamassas utilizadas no Brasil. Portanto faz-se necessário à
apresentação das propriedades regulamentadas pela norma e seus respectivos valores limites
de modo a enquadrar as argamassas ensaiadas na classificação existente.
Teor de Ar Incorporado
A100
Teor de ar incorporado(%)
12 Argamassa de
Assentamento
A75
10
A50
Argamassa de
R75
AR
R100
8 Revestimento
R50
6
RR
4
2
0
1 2 3 4
Argamassas
FIGURA 3. CAPACIDADE DE INCORPORAÇÃO DE AR DAS ARGAMASSAS DE REFERÊNCIA E
SUBSTITUIÇÃO
Retenção de Água
AR
Retenção de água(%)
94 Argamassa de
R75
A50
A100
R100
RR
Revestimento
92
R50
90
A75
88
86
84
1 2 3 4
Argamassas
Resistência à Compressão
Os valores de resistência à compressão, aos 7 e 28 dias, das argamassas são apresentados nos
gráficos das Figuras 5 e 6, respectivamente.
A100
A50
12 Argamassa de
Assentamento
A75
AR
10
Resistência (MPa)
Argamassa de
8 Revestimento
R100
R75
6
R50
RR
4
2
0
1 2 3 4
Argamassas
FIGURA 5. RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO DAS ARGAMASSAS ENSAIADAS AOS 7 DIAS
A100
A50
Argamassa de
AR
14
A75
Assentamento
12 Argamassa de
Resistência (MPa)
10 Revestimento
R75
8
R50
R100
6
RR
4
2
0
1 2 3 4
Argamassas
CONCLUSÃO
De acordo com os resultados apresentados pode-se concluir que o resíduo da rocha pode
substituir adequadamente a cal, em sua totalidade, para os traços ensaiados; sendo então uma
promissora alternativa para o consumo do resíduo gerado pelos processos de beneficiamento
de rochas ornamentais.
REFERÊNCIAS
Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1984a). NBR 6474 Cimento Portland e Outros
Materiais em Pó Determinação da Massa Específica, Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1984b). NBR 6508 Grãos de Solos que Passam
na Peneira de 4,8 mm – Determinação da Massa Específica, Rio de Janeiro.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. (1982). NBR 7251. Agregado em Estado Solto –
Determinação da Massa Unitária, Rio de Janeiro.
Gonçalves, J. P. (2000). Utilização do Resíduo de Corte de Granito (RCG) como Adição para
Produção de Concretos. Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre.