Chico
Chico
Chico
Certa ocasião, em decorrência do estado de saúde, Chico não podia deslocar-se até o
Centro.
Quando o portão se abriu, a fila de pessoas tinha alguns quarteirões. Foram passando
uma a uma em frente ao Chico. Pessoas de todas as idades, de todas as condições sociais
e dos mais distantes lugares do País. Algumas diziam:
– Eu só queria tocá-lo…
Ao ver as pessoas ansiosas para tocá-lo, a interminável fila, a maneira como ele atendia
a todos, fiquei pensando: “Meu Deus, a aura do Chico é tão boa… seu magnetismo é tão
grande, que parece que pulveriza nossas dores e ameniza nossas ansiedades”. De
repente, ele se volta para mim e diz: Comove-me a bondade de nossa gente em vir
visitar-me. Não tenho mais nada para dar. Estou quase morto. Por que você acha que
eles vêm?
Aí pensei: Meu Deus, frente a um homem desses, a gente não pode mentir, nem dizer
qualquer coisa que possa vir a ofender sua humildade (embora ele sempre diga que
nunca se considerou humilde).
Comecei então a pensar que quando Jesus esteve conosco, onde quer que aparecesse, a
multidão o cercava. Eram pessoas de todas as idades, de todas as classes sociais e dos
mais distantes lugares. Muitos iam esperá-lo nas estradas, nas aldeias ou nas casas onde
Ele se hospedava. Onde quer que aparecesse, uma multidão o cercava. Tanto que Pedro
lhe disse certa vez: “Bem vês que a multidão te comprime”.
Tudo isso passou pela minha cabeça com a rapidez de um relâmpago. E como ele
continuava olhando para mim esperando a resposta, animei-me a dizer:
Palavras tiradas do fundo do coração, penso que elas não ofenderam sua modéstia.
A multidão continuou desfilando. Todos lhe beijavam a mão e ele beijava a mão de
todos.
Lá pelas tantas da noite, quando a fila havia diminuído sensivelmente, percebi que seus
lábios estavam sangrando. Ele havia beijado a mão de centenas de pessoas.
Fiquei com tanta pena daquele homem, nos seus oitenta e oito anos, mais de setenta
dedicados ao atendimento de pessoas, que me atrevi a lhe perguntar: