Acórdão Sobre Pedido de Indenminização Cível
Acórdão Sobre Pedido de Indenminização Cível
Acórdão Sobre Pedido de Indenminização Cível
13.
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Relator: GILBERTO CUNHA
Descritores: PEDIDO DE INDEMNIZAÇÃO CIVIL
DENÚNCIA
QUEIXA DO OFENDIDO
Data do 10/05/2016
Acordão:
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Sumário:
I – O artigo 77.º do CPP consagra três momentos para a formulação do
pedido civil enxertado na acção penal:
IV - Não obstante não ser exigível que a queixa seja manifestada através de
qualquer fórmula tabelar usual, sendo a mais comum a “desejo
procedimento criminal contra”, o que não é admissível é a queixa
meramente suposta, implícita. Efectivamente, a queixa tem emergir de uma
declaração de vontade expressa de forma inequívoca, não valendo como tal
meras intenções presumidas de que seja exercida a acção penal.
Decisão Texto
Integral: Acordam, em conferência, na Secção Criminal do Tribunal da Relação de
Évora:
RELATÓRIO.
Decisões recorridas.
Recursos.
4ª. É lesado quem ainda não adquiriu a condição jurídica de assistente ou que
já não a pode obter, conforme decorre do artigo 74.º n.º 1 in fine do Código de
Processo Penal.
5ª. Nos termos deste n.º 1 in fine do artigo 74.º do Código de Processo Penal,
quem adquire a condição jurídica de assistente perde a de lesado; fica sujeito
ao estatuto de assistente e excluído do estatuto de lesado; sendo o que se passa
com a assistente.
6.ª A aplicação do n.º 1 do artigo 77.º (articulado com os artigos 284.º n.º1 e
74.º n.º1) do Código de Processo Penal, ao assistente, afasta a aplicação dos
n.ºs 2 e 3 do mesmo artigo 77.º, que se aplicam a quem não é assistente.
9.ª A assistente, porque é assistente e não lesado, tinha o prazo de 10 dias, que
se iniciou em 18/12/2014 e terminou em 09/01/2015, para apresentar o pedido
de indemnização civil pelos factos que constam do despacho de acusação do
Ministério Público.
13.ª Nos termos do artigo 77.º n.º 1 do Código de Processo Penal, a assistente
tinha que apresentar o pedido de indemnização, pelos factos constantes da
acusação pública, dentro do mesmo prazo de 10 dias, que tinha para deduzir
acusação nos termos do artigo 284.º n.º 1 do mesmo Código, prazo esse que
terminou em 09/01/2015.
1. Por despacho proferido nos presentes autos, a fls. 310, o Mmº Juiz indeferiu
a arguição de intempestividade/preclusão do pedido de indemnização civil
formulado pela assistente.
6. Ao ser deduzida, pelo Ministério Público, acusação por tal ilícito criminal, a
assistente apenas foi notificada nos termos e para os efeitos do disposto no art.
287º, nº 1 b) do C.P.P.
11. Pelo exposto, bem andou o Mmo Juiz no douto despacho, fazendo uma
correcta aplicação do direito, não merecendo o mesmo qualquer censura.
12. Razão pela qual, o respectivo recurso não deve merecer provimento
porquanto o douto despacho não violou o disposto nos arts. 74º, nº 1, 77º, nº 1
e 284, nº 1, todos do C.P.P, devendo, pois, manter-se a decisão proferida.
5.ª Os artigos 113.º n.º 1, 115.º n.ºs 1 e 3 e 116.º n.º 1 do Código Penal e os
artigos 246.º n.º 3 e 243.º n.º 1 alínea a) do Código de Processo Penal,
articulados entre si e com o artigo 29.º n.º 1 da Constituição da República,
impõem à denunciante o ónus de descrever, com rigor, os factos que
constituam o crime, que imputa ao arguido.
6.ª A queixa tem que ter um conteúdo material – os factos que constituam
crime – não pode ser um mero formalismo onde não há nada e vem, depois, a
cobrir tudo o que surja.
7.ª Não pode servir para tudo, pois, não pode cobrir os factos que dela não
constam, porque só existe para os factos que contém; sendo certo que, se não
contiver os factos, não existe queixa em relação aos factos cuja descrição se
omitiu.
c) A taxa diária da multa, pelo crime de ofensa à integridade física, deve ser
fixado no montante de 5,00 €.
2.ª O disposto nos artigos 68.º n.º 2 e 246.º n.º 4 do Código do Processo Penal
foram cumpridos no momento da notificação da ofendida.
3.ª As expressões insultuosas que o ora recorrente põe em causa resultam dos
elementos recolhidos que concretizaram a queixa e por tal razão constam do
despacho final de acusação e da acusação particular, que fixaram o objecto do
processo.
6.ª O ora recorrente não tem antecedentes criminais, porém, agiu com dolo
directo, com um grau de ilicitude médio e as consequências da sua acção
foram graves, provocando as lesões à ofendida melhores descritas nos autos.
2. Convém referir que os presentes autos foram autuados como crime público,
nomeadamente, por estar indiciada a prática de um crime de violência
doméstica, sendo que, aquando da queixa apresentada, a ofendida referiu que
o arguido a agrediu e lhe proferiu palavras ofensivas.
5. Pelo que, atenta a natureza particular que o crime de injúria reveste, sendo
necessário, além da queixa – que já existia – a constituição de assistente, a
ofendida, foi notificada ao abrigo do disposto nos arts. 68º, nº 2 e 246º, nº 4 do
C.P.P., para se constituir assistente, o que se verificou, tendo, por isso, sido
admitida a intervir nos autos naquela qualidade.
6. Nesse sentido e relativamente à falta de queixa alegada pelo recorrente,
veja-se o Ac. da Relação do Porto de 23 de Abril de 2014 ,
in www.dgsi.pt “Não é a queixa ou a denúncia que fixam o objecto do
processo mas apenas a acusação ou a pronúncia. Entendendo o Ministério
Público que não há indícios suficientes da prática de crime de violência
doméstica ficará sempre com os factos denunciados que, isoladamente
considerados, são susceptíveis de integrar outro tipo de crime. Ora, se os
crimes investigados são de natureza particular teria a ofendida de ser
advertida da obrigatoriedade de se constituir assistente e para deduzir
acusação particular.”
10. Havendo indícios da prática de um crime e de quem foi o seu agente, deve
ser deduzida acusação pelas entidades com legitimidade para tal, no caso
concreto, pela assistente.
11. Da acusação proferida pela assistente (acusação particular) consta a
narração dos factos (inclusive as expressões ora em causa), requisito esse que
é muito importante, pois é a acusação que fixa o objecto do processo.
14. As palavras “vaca” e “puta” que o recorrente diz não terem sido descritas,
constam das acusações e foram dadas como provadas.
15. E o Mmo Juiz a quo, na motivação constante da sentença, refere que as
mesmas são dadas como provadas, desde logo, porque o próprio arguido, ora
recorrente, a admitiu (“puta”) nas declarações que prestou, pelas declarações
da assistente onde confirma a expressão “puta”, bem como o depoimento da
testemunha Nélia que referiu que o arguido chamou à assistente “vaca”.
18. Além de que, para efeitos de fixação do quantitativo diário da multa penal
aplicada, o Mmo Juiz considerou a situação económico-financeira do arguido,
não esquecendo, contudo, que com vista a que a pena de multa traduza a sua
eficácia, tal multa deverá constituir um verdadeiro sacrifício para o arguido,
de modo a demovê-lo da prática de futuros crimes.
19. A sentença recorrida fez uma análise crítica e objectiva dos meios de
prova, pelo que, o tribunal a quo foi preciso e consistente, fundamentando, em
face da prova produzida, as razões pelas quais se convenceu de que os factos
tinham decorrido da forma mencionada.
20. Pelo exposto o tribunal a quo não violou os arts. 18º e 29º , nº 1 da CRP ,
arts. 72º, 113º, nº 1, 115º, nº 1 e 3, 116º, nº 1 do C.P. e arts. 47º, 49º, nº 1, 50,
nº 1, 243º, nº 1 a) , 246º , nº 3 e 285º , nº 1 do C.P.P. .
FUNDAMENTAÇÃO.
E o nº2 do mesmo preceito dispõe que “ quem tiver legitimidade para deduzir
pedido de indemnização civil deve manifestar no processo, até ao
encerramento do inquérito, o propósito de o fazer”.
Por sua vez, o art.77º do CPP consagra três momentos para a formulação do
pedido civil enxertado na acção penal.
Decorre dos autos que foi cumprido o disposto no nº1 do art.75º, do CPP
relativamente à lesada/demandante e que esta anteriormente à dedução do
pedido de indemnização que formulou não manifestou qualquer vontade nesse
sentido.
Tal pedido foi remetido por correio electrónico expedido às 17:28 horas do dia
16-1-2015 (fls.273), tendo-se por apresentado em juízo nessa data.
Essa acusação foi notificada ao arguido por via postal simples, tendo a carta
sido depositada na respectiva caixa do correio em 15-12-2014 (fls.269 e 271),
pelo que, nos termos do nº3 do art113º, do CPP, a notificação tem-se por
efectuada em 20-12-2014 (sábado).
Essa acusação foi também notificada ao Exmº Defensor do arguido por carta
registada expedida em 12-12-2014 (fls.270), presumindo-se feita a notificação
em 15-12-2014 (art.113º, nº2 do CPP).
Porém, quando, como é aqui o caso, a notificação deva ser feita ao arguido e
também ao seu defensor, o prazo para a prática de acto processual subsequente
conta-se a partir da data da notificação efectuada em último lugar (art.113º,
nº10, do CPP), ou seja, aqui em 20-12-2014.
Na verdade, como também diz o recorrente, essa condenação, não pode ter por
fundamento legal o art.513º, do CPP.
Por outro lado, embora com alguma reserva, não é para nós pacífico, que a
situação em causa seja enquadrável na previsão de taxa sancionatória
excepcional, tal como é definida no art.531º, do CPC, que é aplicável ao
processo penal por via da remissão do art.512º, nº1 do CPP.
Assim, entendemos que não tem justificação legal, que, aliás, o Exmº senhor
juiz a quo, não invocou, a condenação em custas declarada no despacho
recorrido, pelo que consequentemente nesse segmento deve ser revogado.
Prosseguindo.
8. Sabia o arguido que a sua conduta era proibida e punida por lei e tinha
capacidade de se determinar de acordo com esse conhecimento.
11. Ao agir daquela forma, o arguido sabia que estava a ofender a honra e
consideração da assistente, resultado que desejou e conseguiu alcançar
12. O arguido agiu livre, voluntaria e conscientemente, bem sabendo que que
sua conduta e proibida por lei.
14. No dia indicado em 2) dos factos provados, por estar agendada uma festa
a assistente precisou que uma pessoa amiga a ajudasse.
V. Condições pessoais
20. O arguido aufere rendimento no valor de €800.
21. O arguido é gestor comercial e casado vive com a mulher que exerce a
profissão de professora e aufere o valor de €505; têm dois filhos, com 10 e 3
anos de idade.
29. A assistente desferiu uma pancada com a mão fechada nas costas do
arguido.
A restante factualidade alegada não foi considerada nos factos provados nem
nos não provados, constituir matéria conclusiva, de direito ou sem relevo
para a boa decisão da causa.»
Não nos indica a lei como caracterizar a ofensa propriamente dita; ou seja, o
que sejam em concreto os factos ou juízos ofensivos.
No caso vertente, não restam dúvidas que atenta a factualidade acima dada
como provada, de que as expressões “puta” e “vaca”, dirigidas pelo arguido
à assistente são manifestamente ofensivas da honra e consideração desta,
atentos os padrões correntes de convivência social, colocando em cheque um
vector da personalidade da assistente, a sua probidade e rectidão da sua vida
pessoal e sexual.
De resto, logrou demonstrar-se que o arguido actuou da forma descrita, com
reflexão sobre o meio empregue, bem sabendo que, ao dirigir as palavras
acima referidas à assistente, ofendia a sua honra e consideração, o que
representou mentalmente e quis realizar, pelo que, se conclui que o arguido
agiu com dolo directo, mostrando-se, assim preenchidos, também os
elementos objectivo e subjectivo do crime de injúrias, de que o arguido vem
também acusado.
Da exclusão da culpa
Na contestação, o arguido sustenta que a conduta da assistente traduziu-se
em actos humilhantes, vexatórios e achincalhantes lesivos da sua
personalidade e liberdade de acção e que qualquer cidadão agiria da mesma
forma, pugnando pela exclusão da culpa do arguido.
É necessário que o juiz verifique que não era razoável exigir do agente,
segundo as circunstâncias do caso, comportamento diferente. Torna-se ainda
indispensável que o agente pratique a acção para determinar com ela a
preservação do bem jurídico ameaçado, isto é, o animussalvandi, o que bem
se compreende pois está em causa a prática de um facto ilícito e, por
conseguinte, juridicamente desaprovado.
Por outro lado, na situação presente, afigura-se-nos que os arguidos não têm
antecedentes criminais, sendo lícito ao Tribunal efectuar um prognóstico
favorável quanto ao efeito de uma condenação em pena de multa sobre os
seus futuros comportamentos.
Assim, crê este Tribunal, aparecem estes factos mais como um momento de
descontrole momentâneo do que uma personalidade criminógena. Tratou-se
de uma situação isolada decorrente de assuntos mal finalizados e de
contornos pessoais.
Por outro lado, o arguido está bem inseridos familiar e socialmente, e tal
deve ser valorado e considerado como atenuante da sua conduta, por
necessário à ressocialização que se almeja.
Nos termos dos artigos 30.º, n.º 1 e 77.º, nrs. 1 e 2 ambos do Código Penal,
tendo o arguido cometido diversos crimes, haverá que atender ao facto de
estarmos perante um concurso efectivo de crimes, cujas regras de punição
conduzem à condenação do agente numa pena única, determinada em função
dos factos e da personalidade do agente.
Considerando que o limite máximo da pena única é constituído pela soma das
penas concretamente aplicadas aos vários crimes e o limite mínimo pela mais
elevada das penas parcelares concretamente aplicadas [cfr. artigo 77.º, n.º 2
do Código Penal], temos como limites da moldura penal, 120 dias de multa,
como limite máximo e 80 dias como limite mínimo.
Nesta a assistente, além do mais, alegou que o arguido a ofendeu na sua honra
e consideração ao proferir as seguintes expressões que lhe dirigiu “ puta,
grande puta, queres estragar-me a vida, vou-te aos cornos” e ainda “ puta,
vaca, cadela”. (cfr. fls.238 e 249 a 252).
Ora, resulta dos factos atrás alinhados que os presentes autos tiveram a sua
génese no auto de efectuada à GNR em 27-7-2013 pela ora recorrida contra o
ora recorrente, por nesse dia, nas circunstâncias de lugar mencionadas no
respectivo auto de denúncia, a denunciante alegadamente ter sido agredida a
murro e insultada pelo denunciado, tendo logo aí a denunciante declarou
desejar procedimento criminal contra o denunciado.
Assim, atento o que atrás dissemos, relativamente aqueles factos dúvidas não
há quanto à legitimidade quer do assistente, quer do Mº Pº para o exercício da
acção penal pela prática daqueles factos - os descritos no auto de denúncia de
fls. 3 a 7 e no auto de declarações da ofendida de fls.16 a 18.
Sucede, porém, que no tocante ao crime de injúria, do substrato fáctico
constante da queixa não constava a expressão “vaca”, tida primeiramente na
acusação particular e depois na sentença proferida na 1ª Instância como
ofensiva da honra e consideração da assistente e integradora desse crime.
Não oferece duvidas de que só pode ser objecto de acusação particular o facto
juridicamente relevante expresso previamente na queixa (cfr. acórdão da
Relação do Porto, de 22-05-2013, proc. 16102/10.2TDPRT.P1, disponível
em www.dgsi.pt).
Assim, se é certo que no que concerne a essa expressão, não foi apresentada
queixa e, por conseguinte, falece legitimidade à assistente para com base nela
formular acusação particular pelo crime de injúria, ainda assim, a falta desse
pressuposto processual, no caso vertente, ao contrário do que proclama o
recorrente, não implica a sua absolvição pela prática desse crime, uma vez que
no que concerne à outra expressão “puta” que o arguido dirigiu à assistente e
tida na sentença recorrida por objectivamente injuriosa e integradora desse
crime (sendo que não vem sequer questionado no âmbito do recurso essa sua
aptidão), não falta esse pressuposto processual, pois consta da queixa
apresentada e foi posteriormente também incluída na acusação particular
deduzida pela assistente.
Todavia, não podemos ignorar que no momento em que uma e outra foram
efectuadas, os factos denunciados e que estavam em investigação foram
enquadrados, tanto pelo órgão de polícia criminal como pelo Ministério
Público como crime de violência doméstica previsto no art.152º, nº1 do C.
Penal, crime este que é de natureza pública e, certamente por isso, em tais
momentos, a denunciante também não foi advertida, tal como prescreve o
citado nº4 do art.246º, do CPP, da obrigatoriedade de se constituir assistente e
dos procedimentos a observar.
Finalmente há ainda que dizer que também não se descortina qualquer causa
que pudesse determinar a nulidade da acusação particular deduzida, como
pretexta o recorrente.
Avançando.
Por outro lado, o recorrente face à sua situação familiar e financeira e aos seus
encargos, também reputa ser exagerada a taxa diária fixada (€ 9,00)
entendendo que deve ser fixada em € 5,00.
Vejamos.
Em vista da moldura legal abstracta, prevista para os tipos legais de crimes
aqui em causa, importa considerar, antes de mais, o critério geral orientador da
selecção da pena concreta, estabelecido no art.70º, do mesmo Código, que no
caso em apreciação foi devidamente observado, sendo que nem sequer é posta
em crise a opção feita pelo julgador pela pena de multa.
Num segundo momento há que fixar a taxa diária da multa entre € 5,00 e €
500,00 – art.47º, nº2 do C. Penal - em função da situação económica e
financeira do condenado e dos seus encargos pessoais.
Prosseguindo.
No dizer da Prof. Fernanda Palma, “As Alterações Reformadoras da Parte
Geral do Código Penal na Revisão de 1995: Desmantelamento, Reforço e
Paralisia da Sociedade Punitiva”, in Jornadas sobre a revisão do Código Penal
(1998), AAFDL, pp.25-51 e in “Casos e Materiais de Direito Penal” (2000),
Almedina (32/33) «A protecção de bens jurídicos implica a utilização da pena
para dissuadir a prática de crimes pelos cidadãos (prevenção geral negativa),
incentivar a convicção de que as normas penais são válidas e eficazes e
aprofundar a consciência dos valores jurídicos por parte dos cidadãos
(prevenção geral positiva). A protecção de bens jurídicos significa ainda a
prevenção especial como dissuasão do próprio delinquente potencial. Por
outro lado, a reintegração do agente significa a prevenção especial na escolha
da pena ou na execução da pena. E, finalmente, a retribuição não é exigida
necessariamente pela protecção de bens jurídicos. A pena como censura da
vontade ou da decisão contrária ao direito pode ser desnecessária, segundo
critérios preventivos especiais, ou ineficaz para a realização da prevenção
geral.
Aliás, desde há bastante tempo que os nossos tribunais vêm entendendo que
«é indispensável que a aplicação concreta da pena de multa não represente
uma forma disfarçada de absolvição ou o ersatz (leia-se equivalente) de uma
dispensa ou isenção de pena que se não teve coragem de proferir (Ac. Rel.
Coimbra, de 5/6/1997, BMJ 468, pag. 489).
Ou como bem refere JeshecK, in “Tratado de Derecho Penal”, vol. I., pag.
1077, a multa deve, pois, traduzir-se num encargo sensível não podendo
converter-se num negócio cómodo para o condenado.
Culpa e prevenção são assim os dois termos do binómio com auxílio do qual
há-de ser construído o modelo da medida da pena (ou determinação concreta
da pena) – F. Dias, Ob. Cit., pag.274.
E mais adiante no § 148, diz:” é seguro que deverá atender-se (numa base, em
todo o caso, jurídico-penal, que não jurídico-fiscal) à totalidade dos
rendimentos próprios do condenado, qualquer que seja a sua fonte (do
trabalho, por conta própria ou alheia, como do capital, de pensões, como de
seguros), com excepção de abonos, subsídios eventuais, ajudas de custo e
similares. Como é seguro, por outro lado, que àqueles rendimentos hão-de ser
deduzidos os gastos com impostos, prémios de seguro – obrigatórios e
voluntários – e encargos análogos.
A taxa diária que ora se fixa em 6,00 euros é a aplicável também à pena de
multa aplicada pelo crime de injúria e necessariamente à pena única resultante
do cúmulo jurídico dessa pena e da imposta pelo crime de ofensa á integridade
física.
DECISÃO.
2. Alterar a sentença recorrida reduzindo para seis euros (€ 6,00) a taxa diária
das penas parcelares e unitária de multa fixadas nessa sentença;
2.2. No mais mantém-se a sentença recorrida.
GILBERTO CUNHA