Fazenda Pública
Integram o conceito de Fazenda Pública as pessoas jurídicas de direito
público, quais sejam, a União, Estados, Distrito Federal e Municípios, suas
respectivas Autarquias, Fundações de direito público e agências
executivas e reguladoras (autarquias especiais).
Ademais, atualmente, há na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal uma
tendência em aplicar algumas prerrogativas de direito público às empresas
estatais que prestam serviços públicos em regime não concorrencial.
Exemplos:
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) é uma empresa
pública abrangida dentro do conceito de Fazenda Pública por prestar serviço
público de competência da União de forma exclusiva e não concorrencial, não
desempenhando atividade econômica.
É aplicável às companhias estaduais de saneamento básico (Companhia
de Águas do Estado de Alagoas – CASAL) o regime de pagamento por
precatório, nas hipóteses em que o capital social seja majoritariamente público
e o serviço seja prestado em regime de exclusividade e sem intuito de lucro
(regime não concorrencial).
Prerrogativas da Fazenda Pública em Juízo
Quando um processo judicial tramita em face de pessoas jurídicas de direito
público, ou seja, quando a Fazenda Pública está em juízo, é o próprio
interesse público que está em jogo.
Ademais, diante de um processo judicial, a Administração Pública precisa
percorrer um caminho mais árduo que o particular, tendo em vista que seus
atos devem estar pautados na legalidade administrativa, atuando por meio de
ofícios, procedimentos administrativos ou consultas formais.
Diante dessa discrepância da atuação processual existente entre a
Administração e o particular, bem como da necessidade de proteção do
interesse coletivo, justifica- se a existência de prerrogativas processuais
quando a Fazenda Pública está em juízo, em respeito ao princípio da isonomia.
A seguir, vamos conhecer as prerrogativas da Fazenda Pública em juízo que
mais aparecem nas provas de concurso público.
Prerrogativas em espécie
1. Prazos em dobro para todas as manifestações processuais
A Fazenda Pública gozará das prerrogativas dos prazos diferenciados sempre
que atua em juízo, seja como parte, assistente ou interveniente, inclusive em
sede de ação monitória.
Entretanto, há uma exceção a essa regra. Não se aplica o benefício da
contagem em dobro para a fazenda pública, quando a lei estabelecer, de
forma expressa, prazo próprio para o ente público. Os casos mais
recorrentes em provas de concurso são os que seguem:
Proposição e contestação de Ação Rescisória:
Segundo o art. 975 do CPC, o direito à rescisão se extingue em 2 (dois)
anos contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no
processo.
Para contestar, o art. 970 do CPC dispõe que o relator ordenará a citação do
réu, designando-lhe prazo nunca inferior a 15 (quinze) dias nem superior a
30 (trinta) dias.
Com ou sem contestação, o processo segue o procedimento comum,
aplicando-se o prazo em dobro para as demais manifestações processuais.
Impugnação à Execução
Conforme art. 535, a Fazenda Pública será intimada para, querendo, no prazo
de 30 (trinta) dias e nos próprios autos, impugnar a execução.
Atente-se ao fato de que a Fazenda pode deixar de embargar (aquiescer), isso
é novidade do NCPC.
Prazo para Contestar a Ação Popular
Segundo o art. 7º IV da Lei da Ação Popular (Lei 4.717/65), o prazo de
contestação é de 20 (vinte) dias, prorrogáveis por mais 20 (vinte), a
requerimento do interessado, se particularmente difícil a produção de prova
documental.
Fax e momento da apresentação dos documentos originais
A Lei 9.800/99 em seu art.2º determina que a utilização de sistema de
transmissão de dados e imagens (fax) não prejudica o cumprimento dos
prazos, devendo os documentos originais serem entregues em juízo,
necessariamente, até cinco dias da data de término do prazo para sua
apresentação. O STJ pacificou a matéria afirmando a impossibilidade de
contagem diferenciada em favor da Fazenda Pública nestes casos.
Prazos em Ações de Controle de Concentrado de Constitucionalidade
Conforme decidido na ADI 5814, as prerrogativas processuais dos entes
públicos, tal como prazo recursal em dobro e intimação pessoal, não se
aplicam aos processos em sede de controle abstrato de
constitucionalidade.
Prestação de informações em Mandados de Segurança
Segundo o art. 7º da Lei do MS (Lei 12.016/2009), a autoridade impetrada será
notificada para que, no prazo de 10 (dez) dias, preste as informações.
Entretanto, para apresentar eventual recurso no procedimento de Mandado
de Segurança (seja apelação, agravo de instrumento, agravo interno ou
recurso especial/extraordinário), a Fazenda Pública dispõe de prazo em
dobro.
Atuação no Juizado Especial da Fazenda Pública
Não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual
pelas pessoas jurídicas de direito público nos Juizados Especiais da Fazenda
Pública, inclusive para a interposição de recursos, devendo a citação para a
audiência de conciliação ser efetuada com antecedência mínima de 30
(trinta) dias.
2. Intimação pessoal
A intimação pessoal poderá ser realizada por:
Carga;
Remessa;
Meio eletrônico.
Obs.: Não confundir intimação por meio eletrônico com publicação de decisão
no diário oficial eletrônico. A simples publicação não é considerada intimação
pessoal.
3. Remessa necessária
Estão sujeitas ao duplo grau de jurisdição as sentenças proferidas contra a
Fazenda Pública. Esta regra aplica-se nos seguintes casos:
Decisão (de mérito) proferida contra a União, os Estados, o Distrito
Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações
de direito público.
Decisão que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à
execução fiscal. Entretanto, o reexame necessário em processo de
execução limita-se à hipótese de procedência dos embargos opostos
em execução de dívida ativa, sendo incabível nos demais casos de
embargos do devedor.
Decisão interlocutória que resolve o mérito (art.356 do CPC).
Mandado de segurança: independentemente do valor da condenação,
das partes envolvidas e da matéria discutida, sempre haverá remessa
necessária na sentença que o conceder.
Na ação popular a remessa necessária está prevista em relação às
sentenças que extinguem o processo sem resolução do mérito e em
relação às sentenças que julgam improcedente o pedido.
Proposta ação monitória contra a Fazenda Pública, esconado o prazo
sem apresentação de embargos ao mandato monitório, a
constituição do título executivo judicial dependerá, em regra, da
remessa necessária ao tribunal.
Conforme jurisprudência do STJ, por aplicação analógica da primeira
parte do art. 19 da Lei nº 4.717/65 (Lei da Ação Popular), as sentenças
de improcedência de ação civil pública (com ou sem resolução do
mérito) sujeitam-se indistintamente ao reexame necessário.
Também segundo o STJ, caso o juiz julgue procedente a exceção de
pré-executividade e extinga a execução fiscal será obrigatória, em
regra, a remessa necessária. Mas, caso o fisco concorde com o
argumento do excipiente, não haverá reexame necessário.
Exceções legais à remessa necessária:
Conforme o disposto no CPC, não há remessa necessária nos seguintes
casos:
Condenação ou o proveito econômico com valor certo e líquido
inferior a:
I – 1.000 (mil) salários-mínimos para a União (autarquias e fundações
federais);
II – 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados (autarquias e
fundações estaduais) e capital de município (autarquias e fundações
municipais);
III – 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais
Municípios (autarquias e fundações municipais).
Sentença fundada em:
I – súmula de tribunal superior;
II – acórdão do STJ ou STF em julgamento de recursos repetitivos;
III – entendimento firmado em incidente de resolução de demandas
repetitivas ou de assunção de competência;
IV – entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito
administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação,
parecer ou súmula administrativa.
Obs.: não é uma exceção à remessa necessária a decisão fundada em
entendimento coincidente com a orientação emanada do respectivo tribunal
com competência recursal.
A remessa necessária não se aplica:
Ademais, conforme entendimento firmado pela doutrina e pela jurisprudência,
não há remessa necessária nos seguintes casos:
O STJ afasta o reexame necessário de embargos à execução de
natureza não fiscal.
Nas hipóteses de demandas cuja competência originária seja do
Tribunal, a decisão colegiada, ainda que contrária ao Estado, não se
sujeita ao reexame obrigatório.
Sentença arbitral.
Se o executado apresenta exceção de pré-executividade e a Fazenda
Pública concorda com o argumento do excipiente, o juiz irá extinguir
a execução. Neste caso, a jurisprudência entende que não haverá
reexame necessário porque o Poder Público com a peça do Executado
anuiu.
Acaso a execução fiscal seja extinta porque o Fisco cancelou a
inscrição de dívida ativa que a lastreava, também não haverá reexame
necessário, porque a própria Fazenda Pública reconheceu que não
havia título executivo. Nesse caso, segundo o STJ, não há reexame
necessário, ainda que a Fazenda Pública tenha sido condenada a
pagar honorários advocatícios.
É dispensável a remessa necessária nas sentenças ilíquidas em
desfavor do INSS, cujo valor mensurável da condenação ou do proveito
econômico seja inferior a mil salários mínimos.
Jurisprudência
Algumas decisões importantes sobre a remessa necessária:
Não admite agravar a condenação imposta à Fazenda
Pública: Súmula 45 – STJ – No reexame necessário é defeso, ao
Tribunal, agravar a condenação imposta à Fazenda Pública.
Devolve ao Tribunal o reexame inclusive dos Honorários
Advocatícios: Súmula 325 – STJ – A remessa oficial devolve ao
Tribunal o reexame de todas as parcelas da condenação suportadas
pela Fazenda Pública, inclusive dos honorários de advogado.
É admissível para o Tribunal rever sentença ilíquida proferida
contra a Fazenda Pública: Súmula 490 – STJ – A dispensa de
reexame necessário, quando o valor da condenação ou do direito
controvertido for inferior a sessenta salários mínimos, não se aplica a
sentenças ilíquidas.
Comporta julgamento unipessoal do Relator (tal qual o Recurso de
Apelação, em alguns casos): Súmula 253 – STJ – A remessa necessária
pode ser julgada apenas pelo relator, se configurada uma das hipóteses
relacionadas no art. 932, IV e V do CPC.
4. Despesas processuais
Litigar nos tribunais brasileiros é atividade bastante dispendiosa eis que
envolve o pagamento de despesas processuais, que englobam:
Custas: remuneração pela atividade jurisdicional (taxa).
Emolumentos: remuneração pelos serviços de cartórios e serventias
não oficializados (taxa).
Despesas em sentido estrito: remuneração de terceiros para auxiliar a
atividade judiciária.
As custas processuais e emolumentos devidos por qualquer ente da
Fazenda Pública não são pagos de forma adiantada. Esses valores serão
pagos ao final do processo pela parte vencida.
Ademais, não há imunidade recíproca no pagamento de taxas, então, quando a
União litigar nos Tribunais Estaduais, esta não terá isenção de pagamento de
custas e emolumentos.
Quanto às despesas relacionadas às pessoas estranhas ao Poder Judiciário
(despesas em sentido estrito) não é razoável exigir-se que se aguarde o
desenrolar da lide para receber sua remuneração.
Por isto os parágrafos 1º e 2º, do artigo 91, do CPC, dispõem sobre a forma
de pagamento de despesas com perícias se dá da seguinte forma:
a) Preferencialmente, as perícias devem ser realizadas por ente público ou,
podem ter suas despesas adiantadas por quem requereu, acaso haja
previsão orçamentária;
b) Não havendo previsão orçamentária, o pagamento ocorrerá no exercício
seguinte, ou ao final, pelo vencido – o que ocorrer primeiro.
Nesse sentido, o STJ já decidiu que a Fazenda Pública tem o ônus
de antecipar as despesas decorrentes de diligências realizadas pelo
oficial de justiça.
No mesmo sentido, a súmula 232-STJ determina que a Fazenda Pública,
quando parte no processo, fica sujeita à exigência do depósito prévio dos
honorários do perito.
Conforme a Lei de Execuções Fiscais em seu art. 39, a Fazenda Pública ainda
é dispensada da realização de preparo (despesas de recurso, pagas antes
da sua interposição) e depósito prévio (valor pago para ajuizamento de ação
rescisória).
5. Revelia e confissão
A revelia é a ausência de apresentação de defesa pelo réu, que induz dois
efeitos:
Efeitos processuais: dispensa de intimação do réu para os atos do
processo.
Efeitos materiais: declaração de veracidade dos fatos alegados pelo
autor.
Sendo ré a Fazenda Pública e não apresentando contestação, é ela revel, de
forma que o efeito processual da revelia a ela aplica-se normalmente.
Entretanto, o STJ já decidiu que, tendo em vista que, via de regra, a Fazenda
Pública lida com direitos indisponíveis, a ela NÃO SE APLICAM OS EFEITOS
MATERIAIS DA REVELIA ou da CONFISSÃO.
Entretanto, os efeitos materiais da revelia se aplicam contra a Fazenda Pública
quando a relação é de direito privado.
Dessa mesma ideia, decorre outra prerrogativa: a Fazenda Pública não se
sujeita ao ônus da impugnação especificada dos fatos.
Tendo em vista o interesse público envolvido nas matérias discutidas pela
Fazenda Pública, a ela não se aplica a pena de confissão quanto aos fatos
não impugnados. Cabe ao autor, portanto, o ônus de provar os fatos por ele
alegados, ainda que não impugnados especificamente pela defesa
apresentada pelo ente público.