07 Abrigo Ou Lar
07 Abrigo Ou Lar
07 Abrigo Ou Lar
FLORIANÓPOLIS
2008
ALINE EYNG SAVI
FLORIANÓPOLIS
2008
ALINE EYNG SAVI
_________________________________________
Profª. Carolina Palermo Szücs, Dra.
_________________________________________
Profª. Marta Dischinger, PhD.
Orientadora – Universidade Federal de Santa Catarina
__________________________________ _________________________________
Profª. Vera Helena Moro Bins Ely, Dra. Prof. Roberto de Oliveira, PhD.
Membro Interno – Universidade Federal de Membro Interno – Universidade Federal de
Santa Catarina Santa Catarina
__________________________________ _________________________________
Profª. Thêmis da Cruz Fagundes, Dra. Meritíssimo Juiz Francisco José Rodrigues
de Oliveira Neto, Msc.
Membro Externo – Universidade Federal
de Santa Catarina Membro Externo
4
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
SAVI, Aline Eyng. Shelter or home? An architectural look on the continued stay of
shelters for children and adolescents in a situation of social vulnerability. Master’s
Thesis. Postgraduate Program in Architecture and Urbanism. Federal University of Santa
Catarina. 2008. 180 p.
Over the years of brazilian social history, the infancy and youth were attended with principles
based in watchfulness and repression. After the approval of Children and Adolescent Statute,
the whole protection is assured in order to make feasible the total psychological, physical and
social development. Therefore, a lot of attendance modalities were promoted, such as: shelter.
Shelter assists children and adolescents, both male and female, from zero to 18 years old, and
it does not imply in confinement, but in heath, education, home and food rights, and it
assumes temporarily, or not, the role of family, because it is responsible to transmit
citizenship values. Thus, it is necessary to think over about shelter because besides providing
welfare work to basic necessities for the human development already approached by the
Children and Adolescent Statute, it has to provide quality of life, through the (re)structure of
emotions brought from home experiences. The dissertation investigates, however, the shelter
problem observing which aspects of environment can interfere in children and adolescent’s
spatial behavior. The general objective was develop standard and guidelines to prolonged
permanence shelter, from the legal parameter – provide basic assistance and temporary home
– and psycho-social – provide resources for the quality life. The applied methodology was:
Literature Review, Observation, Interview and Images and Words Game. The Literature
Review and structural Interview were used in theoretical framework, the Observation and
non-structural Interview resulted in spatial evaluation of the two sites of case study and
Images and Words Game collected primary source information (children and adolescent
sheltered in sites of case study). In Literature Review, relevant subjects such as: shelter, the
importance of environment context into the human development and Environmental
psychology to the understanding of spatial behavior, were brought. The case study was based
in evaluation of physical category (architectonical infrastructure of case study sites),
behavioral dimension (social relationship promoted by spatial characteristics) and
environmental dimension (comfort conditions). Thus, with the systematization from the
obtained data of empirical and theoretical research, the projects standard and guidelines, not
just related to the legal aspects, but also psycho-social, that has the objective to transform the
prolonged permanence shelter as an idea of place, free from physical and mainly socials
barrier.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 11
1.1 PROBLEMAS E QUESTÕES DE PESQUISA ........................................................... 12
1.2 OBJETIVOS ................................................................................................................. 14
1.2.1 Objetivo Geral ......................................................................................................... 14
1.2.2 Objetivos Específicos ............................................................................................... 14
1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA ........................................................................... 15
1.4 DIFICULDADES NA DISSERTAÇÃO ...................................................................... 17
1.5 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO ..................................................................... 18
5 METODOLOGIA .......................................................................................................... 88
5.1 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA ............................................................................... 88
5.2 INSTRUMENTOS METODOLÓGICOS DA DISSERTAÇÃO................................. 89
5.2.1 Revisão de literatura ............................................................................................... 90
5.2.2 Leitura espacial ........................................................................................................ 91
5.2.2.1 Observação direta intensiva assistemática e sistemática ........................................ 92
5.2.2.2 Entrevista não-estruturada ...................................................................................... 97
5.2.3 Entrevista estruturada ............................................................................................ 99
5.2.4 Jogo de imagens e palavras ..................................................................................... 101
5.2.4.1 Testes pilotos do Jogo de Imagens e Palavras ........................................................ 102
5.2.4.2 Aplicação do Jogo de Imagens e Palavras .............................................................. 105
5.3 DESCRIÇÃO DO TRATAMENTO DOS DADOS .................................................... 107
1 INTRODUÇÃO
1
O Levantamento foi realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e promovido pela
Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH) da Presidência da República, por meio da Subsecretaria de
13
transitória e varia entre sete meses e cinco anos de institucionalização. Assim, cabe discutir de
que forma os abrigados são atendidos em suas necessidades e especificidades. Afinal, a
permanência deve ser pouco agressiva psicologicamente, mesmo que, segundo a Lei, os
abrigos sejam provisórios e medidas de exceção.
Aliada à ambigüidade existente entre legislação e realidade, a “santificação
institucional” (SOMMER, 1973) apresenta-se como a problemática principal para a coleta de
dados da pesquisa. O abrigo possui regras e condutas, que são obedecidas e o tornam
adequado funcionalmente. Assim, tanto “[...] os internados quanto os encarregados passam a
aceitar a rotina como sagrada e a estabilidade como um valor absoluto” (SOMMER, 1973, p.
100).
O “mal do institucionalizado” (SOMMER, 1973, p. 117), resultado da “santificação
institucional”, ocasiona passividade nas interações com o ambiente e dificuldade de
verbalização, principalmente acerca do espaço em que se vive.
Promoção dos Direitos da Criança do Adolescente (SPDCA) e do Conselho Nacional de Direitos da Criança e do
Adolescente (Conanda). Contou com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e do Fundo das
Nações Unidas para Infância (Unicef). A pesquisa, seguindo as orientações do Comitê de Reordenamento da
Rede Nacional de Abrigos para Infância e Adolescência, buscou conhecer as características, a estrutura de
funcionamento e os serviços prestados pelos abrigos beneficiados com recursos do Governo Federal, repassados
por meio da Rede de Serviços de Ação Continuada (Rede SAC) do MDS. Com as informações coletadas,
pretendeu-se contribuir para a melhoria das políticas públicas voltadas para o ordenamento e o financiamento
dos serviços de abrigo para crianças e adolescentes, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Foram pesquisadas 626 instituições, em todas as regiões brasileiras (IPEA; CONANDA, 2003).
14
1.2 Objetivos
Em levantamento realizado pelo Ipea e Conanda (2003), 86,7% das crianças e dos
adolescentes em medida de abrigamento possuem família, com a qual a maioria mantém
vínculos (58,2%). Nesses casos, o período de institucionalização varia entre dois e cinco anos
para 32,9% dos abrigados. Assim, acreditar na aplicação da medida de abrigamento como
situação temporária mostra-se errônea.
Ressalva-se, no entanto, que não há parâmetros para estipular quantos dias, meses ou
anos correspondem ao período longo de institucionalização. Mas essa dissertação julga que
pela instabilidade emocional envolvida na medida de abrigamento, qualquer período de tempo
pode ser longo.
2
Diretora da INSTITUIÇÃO do estudo de caso em Entrevista não-estruturada concedida à pesquisadora em 10
jul. 2007, durante a primeira visita (Apêndice C).
16
traumas psicológicos das crianças e dos adolescentes abrigados. A carência de material que
trace critérios e diretrizes de projeto arquitetônico, a partir dos parâmetros legal e
psicossocial, procura ser suprida por essa dissertação.
Ainda, nos abrigos de permanência continuada apenas o ECA e os Códigos de Obras
municipais referentes à higiene e salubridade são os parâmetros a serem obrigatoriamente
respeitados, sob pena do não funcionamento das instituições. No entanto, essas determinações
são limitadas no tocante do desenvolvimento humano, principalmente o psicológico, e abrem
um leque para várias interpretações. Assim, essa dissertação visa, através dos conhecimentos
espaciais, complementar o artigo 923 do ECA, agregando critérios e diretrizes projetuais
comprometidos com aspectos psicossociais, fundamentais para a promoção da qualidade de
vida.
Esses critérios e diretrizes projetuais pretendem contribuir para que haja a
padronização de alguns aspectos que são fundamentais ao desenvolvimento de todo o ser
humano, inclusive para as crianças e os adolescentes abrigados, que manifestam algumas
particularidades comportamentais, frutos das mazelas sofridas anteriores ao abrigamento.
A contribuição nos estudos acerca do tema torna a dissertação relevante, mas
também, a forma de avaliação do ambiente físico auxilia estudantes e profissionais
interessados na elaboração de projetos de abrigos de permanência continuada e locais
similares. A dissertação utiliza instrumentos metodológicos tradicionais (observação e
entrevistas), mas complementa a coleta de dados com a aplicação do Jogo de Imagens e
Palavras, que facilita a coleta de informações de crianças e adolescentes em medida de
abrigamento.
Por acreditar que o projetista, em especial o arquiteto, deve ouvir e entender o
usuário, seja para a elaboração de diretrizes projetuais ou de um projeto executivo, é que a
sistematização dos procedimentos para a aplicação do Jogo visa permitir que outras pesquisas
o utilizem, sempre que seja necessária a opinião de usuários de difícil acesso (e.g. crianças e
idosos).
3
O artigo 92 do Estatuto da Criança e do Adolescente aponta as determinações legais a serem cumpridas pelas
várias formas de aplicação da medida de abrigamento.
18
2 AMBIENTE INSTITUCIONAL
4
Praça da Marinha de graduação inferior ao marinheiro e superior ao aluno marinheiro (HOUAISS, 1995).
5
“Dada à falta de mulheres brancas nas possessões portuguesas, a Coroa procurou reunir mulheres pobres de 14
a 30 anos nos orfanatos de Lisboa e Porto [...] no Brasil a prática de amancebar-se com nativas suavizava o
problema da constituição de famílias, prática comum principalmente a partir da segunda metade do século XVI.
Eram estranhamente consideradas como órfãs até mesmo as meninas que tinham apenas o pai falecido. Assim,
podemos supor que existiu uma espécie de seqüestro de meninas pobres, principalmente menores de 16 anos, em
Portugal” (CHAMBOULEYRON, 2000, p. 32-33).
21
6
Ordem religiosa fundada em 1534 por um grupo de estudantes da Universidade de Paris, liderados por Íñigo
López de Loyola e contrários à Reforma Protestante. Conseguiram grande influência na sociedade européia nos
séculos XVI e XVII e trabalharam na América do Sul, entre os séculos XVI e XVIII, como missionários com o
intuito de catequizar os nativos (DEL PRIORE, 2000).
22
No entanto, nas grandes cidades, como Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro, o
crescimento da população livre e pobre fez a natalidade subir e por conseqüência, o abandono
de crianças e adolescentes nas ruas.
Por conta disso, Marcílio (1998) intitula o período colonial até meados do século
XIX, de fase caritativa. Nela, o atendimento era emergencial e sem pretensões de mudanças
de cunho social, privilegiando a caridade e a beneficência, pelos quais os mais ricos tentavam
minimizar o sofrimento das crianças e dos adolescentes desvalidos, com o objetivo de
salvarem suas próprias almas. A fase caritativa, além da continuação das ações jesuíticas,
apresentava outras três formas de atuação: o acolhimento em casas de famílias, as Câmaras
Municipais e as confrarias das Santas Casas de Misericórdia. A primeira era informal e as
duas últimas eram legais.
As famílias afortunadas recebiam as crianças e os adolescentes sob os valores
religiosos de caridade e estes faziam os trabalhos domésticos, sem partilharem dos mesmos
direitos e regalias dos “filhos de sangue”. Os “filhos de criação”, como eram chamados,
trabalhavam em troca de moradia e alimento (MARCÍLIO, 1998). A prática, apesar da
informalidade, perdurou durante todo o histórico brasileiro de assistência à criança e ao
adolescente.
As Câmaras tinham o dever de auxiliar na manutenção financeira das instituições. No
entanto, foram, quase sempre, omissas ou parciais quanto à responsabilidade em relação às
crianças e aos adolescentes sem família, não os assistindo com totalidade. Assim, durante a
fase caritativa, o atendimento institucional foi, basicamente, de responsabilidade dos
religiosos e de doações da sociedade (MARCÍLIO, 1998).
As primeiras instituições organizadas de proteção à infância e adolescência foram as
Rodas dos Expostos ou dos Enjeitados7, nas Santas Casas de Misericórdia, no século XVIII
(Figuras 01 e 02).
As Rodas serviam para garantir o anonimato dos pais no abandono e assim, tentarem
reduzir o número de infanticídios e abortos induzidos, além de salvaguardarem a honra das
famílias, em casos de gravidez fora dos padrões sociais da época (BRANT DE CARVALHO,
1993). Pelas características religiosas, as Santas Casas tinham preocupação imediata com o
batismo para a salvação da alma, visto que a maioria eram crianças recém-nascidas. O
7
A denominação provém do mecanismo composto por um tambor cilíndrico, que girava em torno de um eixo
vertical e estava localizado, na maior parte dos casos, no muro de divisa da instituição de acolhimento. O
procedimento consistia em colocar a criança no tabuleiro externo, girar o tambor e tocar a sineta para alertar a
presença. Os responsáveis pelo acolhimento aguardavam alguns minutos para que o expositor (como era
chamada a pessoa que abandonava a criança) deixasse o local sem ser identificado (MARCÍLIO, 1998).
23
atendimento era prover de alimento e moradia. Não havia nenhum programa de assistência às
famílias dos abandonados, para a preservação dos vínculos e o possível retorno ao convívio
familiar (MARCÍLIO, 1998).
Figura 01: Roda dos Expostos do Convento de Santa Figura 02: Roda dos Expostos da Santa Casa de
Clara do Desterro, Salvador, Bahia, Brasil. Misericórdia de São Paulo, São Paulo, Brasil.
Fonte: ARAÚJO, 2007. Disponível em: Fonte: O GLOBO, 2007. Disponível em:
<http://www.klepsidra.net>. Acesso em: 28 ago. 2007. <http://oglobo.globo.com>. Acesso em: 11 dez. 2007.
No Brasil, houve Rodas nas seguintes cidades: Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ),
São Paulo (SP), Porto Alegre (RS), Rio Grande (RS), Pelotas (RS), Desterro (SC), Campos
(RJ), Cuiabá (MT), Vitória (ES), Cachoeira (BA), Olinda (PE), São João Del Rei (MG) e São
Luís (MA). Em 1734, na capital baiana, a primeira foi instalada e a última a ser extinta foi em
São Paulo, em 1951. Em Santa Catarina, instituiu-se a prática em 1828, na capital Desterro,
aos cuidados da Irmandade do Senhor Bom Pastor dos Passos. Os serviços, na capital
catarinense, encerraram-se em 1841, devido à escassez de verbas do governo da província.
Segundo Marcílio (1998), a Roda foi um recurso tardio, urbano e pontual e a falta de
recursos resultava em altas taxas de mortalidade infantil. Logo, a pressão da classe médica
gerou o abandono gradativo da prática. A assistência nas Santas Casas de Misericórdia passou
então, para o sistema de Casas de Expostos, com admissão aberta. As crianças assistidas eram
mais velhas, não somente recém-nascidos, e os asilos passaram a ter um caráter temporário,
funcionando analogamente às creches.
O abandono dessa prática e as mudanças de cunho socioeconômico, como a abolição
da escravatura, a queda da Monarquia, a separação da Igreja e do Estado e a quebra do
monopólio religioso na assistência social, deram início à segunda fase de assistência à criança
e ao adolescente, intitulada Fase Filantrópica e que perdurou do século XIX até meados da
década de 60 do século passado (MARCÍLIO, 1998).
Nesse período, nas grandes cidades brasileiras cresceram paulatinamente a indústria,
o comércio, o mercado de serviços e, conseqüentemente, a exclusão social de vastas camadas
24
populacionais (e.g. índios, imigrantes europeus e negros recém-libertos). Com isso, cresceu o
número de crianças abandonadas em instituições, para que se garantissem a vida dos
pequenos através da misericórdia cristã e das ações do Estado.
No entanto, o regime democrático da proclamação da República não resultou em
ações políticas voltadas ao bem-estar do cidadão, mas em medidas para coibir a formação de
criminosos e ativistas políticos. A filantropia deu continuidade à obra da fase anterior, mas
com uma nova concepção de assistência, voltada à reintegração social dos “desajustados”. Era
a fase da intervenção da Medicina e das Ciências Jurídicas influenciadas pelo Iluminismo8. As
atuações assistencialistas eram baseadas não apenas na cura da alma, mas também do corpo
(MARCÍLIO, 1998).
Despontaram, então, os estabelecimentos privados e religiosos especializados na
reclusão e internação. Supunha-se que a criança e o adolescente abandonado deveriam ser
preparados para o trabalho e essas instituições visavam, “[...] corrigir, disciplinar, reformar –
um contingente que não se ajustava aos padrões de conduta da época” (BRANT DE
CARVALHO, 1993, p. 13).
O Estado, até a década de 20 do século passado, pouco participou das ações. Na
filantropia, ele deveria atuar na assistência e proteção à infância e adolescência abandonada e
transgressora, mas as maiores ações foram de iniciativa privada. Segundo Brant de Carvalho
(1993), o Estado assumiu tardiamente o atendimento à criança e ao adolescente e somente em
1922, no Rio de Janeiro, fundou o primeiro estabelecimento público para atendimento dos
abandonados. Assim, “[...] a caridade misericordiosa e privada praticada prioritariamente por
instituições religiosas [...] cede lugar às ações governamentais como políticas sociais”
(PASSETTI, 2000, p. 350).
Para legalizar o papel do Estado e substituir a legislação portuguesa, foi elaborado,
em 1927, o primeiro Código de Menores. A legislação perpetuou o conceito de pobreza como
causa à marginalidade e generalizou a idéia de que: lugar de criança e adolescente pobre é em
instituição.
8
O Iluminismo foi um movimento sócio-cultural que se desenvolveu, principalmente na Inglaterra, Holanda e
França, entre os séculos XVII e XVIII. As principais características eram: a valorização da razão, a crença nas
leis naturais para regerem o comportamento humano, a liberdade política e econômica e a igualdade de todos
perante as leis (ROUANET, 1998). Fonte: ROUANET, Sérgio Paulo. As razões do iluminismo. 5. ed. São
Paulo: Companhia das Letras, 1998. 349 p. (Original de 1987).
25
9
A Constituição brasileira de 1967 entrou em vigor durante o regime militar e, segundo Aguiar (1986), ela
instaura, juridicamente, a doutrina de segurança nacional. Isso significava, legalmente, que todas as pessoas
deveriam estar vigilantes contra os atentados à segurança, ao mesmo tempo em que poderiam ser
responsabilizadas por sua ação ou omissão (AGUIAR, 1986). Fonte: AGUIAR, Roberto A. R. de. Os militares e
a Constituinte: poder civil e poder militar na constituição. São Paulo: Ed. Alfa-Omega, 1986. 88 p.
27
10
Este subcapítulo considera Goffman como a principal referência porque o autor aborda, essencialmente, o
caráter de fechamento das “instituições totais”, fundamentais para responder aos objetivos geral e específicos
dessa dissertação.
28
físico através de portas fechadas, paredes altas e arame farpado (GOFFMAN, 1996).
No processo de admissão há também, em alguns estabelecimentos, a substituição do
nome do interno por nomenclaturas que representam uma numeração de série ou
características físicas e psíquicas. A posse do nome, segundo Goffman (1996), é uma das
possessões mais significativas ao ser humano e a perda é a maior das “mortificações do eu”.
Outra característica comum em “instituições totais” é a ausência de bens. O conjunto
de bens individuais tem relação muito forte com o eu. Então,
[...] ao ser admitido numa instituição total, é muito provável que o indivíduo seja
despido de sua aparência usual, bem como dos equipamentos e serviços com os
quais a mantém, o que provoca desfiguração pessoal (GOFFMAN, 1996, p. 28).
pouco do mundo externo fornecido, é considerado como o todo pelo interno, e uma existência
estável e satisfatória é estabelecida entre ambos. A experiência do “mundo externo” é usada
como ponto de referência para demonstrar como a vida no interior da instituição é desejável
(GOFFMAN, 1996). Assim, a usual tensão entre os dois mundos tende a diminuir com o
passar do tempo e o indivíduo assimila a instituição como lar.
Todavia, conforme Goffman (1996, p. 22), as “instituições totais” são incompatíveis
com a família ou com o lar,
A “instituição total” é, portanto, um híbrido social, visto que trabalha sob a trilogia:
moradia - alimentação – saúde e é onde residem pessoas que, teoricamente, não se ajustam ao
quadro social. “Em nossa sociedade, são as estufas para mudar pessoas; cada uma é um
experimento natural sobre o que se quer fazer do eu” (GOFFMAN, 1996, p. 22).
A institucionalização total e prolongada cria, para a criança ou o adolescente, um
quadro de referências que permeia toda vida cognitiva, afetiva e emocional, norteia as
relações e dita as respostas comportamentais.
A falência do sistema de atendimento das “instituições totais” - Roda dos Expostos,
SAM, RPM, Funabem e Febems - é constatada na sua concepção repressiva e na apresentação
dos dados concretos sobre a situação de pobreza e, sobretudo, de maltrato.
Por esse viés, a resposta, que a sociedade brasileira deu no enfrentamento da questão,
foi ancorada por um novo ordenamento no campo jurídico. Em meio ao processo de
redemocratização política brasileira, aprovou-se o ECA e alterou-se a maneira de tratar,
atender e gerir a infância e a adolescência. A seguir, apresentam-se algumas características do
ECA.
Oliveira Neto11 (2007) diz que o ideal é diminuir a permanência das crianças e dos
adolescentes nos abrigos. Contudo, para ele, mais importante do que fixar prazos, é tentar
todos os recursos para reaproximar pais e filhos.
Havendo condições de retorno, deve-se trabalhar para isso. Não se deve violar o
direito daquela criança de ser criada por uma família. Não havendo essa condição,
deve-se encaminhar essa criança para um processo de destituição e uma família
substituta (OLIVEIRA NETO, 2007).
Caso não haja êxito nessas ações, os juízes devem aplicar a medida de família
ampliada, que concede guarda (definitiva ou não) aos irmãos, avós ou tios. Durante a
definição do quadro, que pode ser de acolhimento ou não pela família ampliada, a criança ou
o adolescente deve permanecer sob custódia do Estado, em abrigos. Essa medida é aplicada
também, para crianças e adolescentes que tiveram a guarda destituída dos pais ou da família
ampliada, e estão em processo de adoção (colocação em família substituta). Ressalva-se que a
adoção é o último recurso, usado quando falharam todas as demais medidas e apenas com
autorização da família de origem e/ou ampliada (OLIVEIRA NETO, 2007).
O abrigo é executor, portanto, de uma das medidas de proteção previstas e segundo o
parágrafo único do artigo 101 do ECA, “O abrigo é medida provisória e excepcional,
utilizável como forma de transição para a colocação em família substituta, não implicando
privação de liberdade” (BRASIL, 1990).
Conforme Oliveira Neto (2007),
11
Francisco José Rodrigues de Oliveira Neto é juiz da Vara da Infância e da Juventude de Florianópolis, Santa
Catarina, Brasil, e coordenador nacional da campanha “Mude um Destino”, em favor das crianças e adolescentes
que vivem em abrigos. Ele concedeu a entrevista à pesquisadora em 22 ago. 2007 (Apêndice E).
35
de forma célere, embora deva respeitar os prazos necessários para a realização do trabalho de
“resgate” familiar, a ser tentado junto à família de origem da criança ou adolescente ou com a
busca e adaptação a uma família substituta.
Para contrapor a solução do abrigamento como definitiva e tratá-la como medida de
exceção, o ECA enumera no artigo 92, uma série de incisos a serem cumpridos pelas
instituições que desenvolvam esse tipo de atividade, sejam elas públicas ou privadas. Esse
artigo é a legislação a ser seguida pelos abrigos e é fiscalizada pelo Ministério Público, com
auxílio dos demais órgãos protetores envolvidos. Os incisos são gerais e abrem uma gama de
avaliações e interpretações, influenciadas fundamentalmente por quem avalia o ambiente. Não
há critérios ou diretrizes específicas acerca do espaço, da gerência do atendimento, entre
outros. Assim, as considerações após cada inciso são, basicamente, espaciais e legais, a partir
das informações coletadas na entrevista com Oliveira Neto (2007).
Ressalva-se que foram elaboradas cartilhas para orientação das direções dos abrigos,
por órgãos de classe (e.g. Associação de Magistrados do Brasil, em campanha Mude um
Destino) e públicos (e.g. Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas), mas essas não são
documentos legais.
A seguir são abordadas as determinações dos incisos do artigo 92.
No inciso I do artigo 92 do ECA, a “[...] preservação dos vínculos familiares”
(BRASIL, 1990) ocorre através do estímulo e viabilização de visitas dos pais e da família
ampliada ao abrigo. Para Oliveira Neto (2007), é obrigação do abrigo “[...] ir à casa do pai
e/ou da mãe, chamá-los com certa freqüência e assim, fazer com que eles não percam o
contato com o filho”. Evidentemente, há exceções, onde o desligamento é necessário e
autorizado judicialmente.
O inciso II do artigo 92 do ECA - “[...] integração em família substituta, quando
esgotados os recursos de manutenção na família de origem” (BRASIL, 1990) - reforça a
importância da recolocação familiar das crianças e dos adolescentes abrigados através da
adoção, reforçando a provisoriedade da medida de abrigamento.
O inciso III do artigo 92 do ECA cita a importância do “[...] atendimento
personalizado e em pequenos grupos” (BRASIL, 1990). O abrigo deve se configurar,
portanto, em unidades pequenas, com poucos integrantes (não há definição exata do número
de abrigados) e estimular a participação em atividades comunitárias.
A extinção dos grandes complexos de internação e a construção de unidades
menores, que mais se assemelham às condições de um ambiente familiar, são medidas com o
pano de fundo na compreensão da erradicação das condições institucionais, que favorecem o
36
reestruturada, e ser uma instituição aberta, uma segunda casa que não aniquila, nem distorce
idéias e metas.
Ressalva-se que, apesar do ECA regulamentar genericamente os abrigos, a medida de
abrigamento pode ser aplicada das seguintes formas: abrigo de permanência continuada,
casas-lares, família acolhedora, casa de passagem, casa de acolhida, casa transitória ou
albergue e as repúblicas. A seguir descrevem-se cada uma delas, com suas próprias
características e particularidades.
[...] a unidade residencial sob responsabilidade de casal social, pais sociais, mães
sociais12, que abrigue até 10 (dez) menores; § 1º - As casas-lares serão isoladas,
formando, quando agrupadas, uma aldeia assistencial ou vila de menores; § 2º - A
instituição fixará os limites de idade em que os menores ficarão sujeitos às casas-
lares; § 3º - Para os efeitos dos benefícios previdenciários, os menores residentes nas
casas-lares e nas Casas da Juventude são considerados dependentes da mãe social a
que foram confiados pela instituição empregadora (BRASIL, 1987).
12
Profissão regulamentada pela Lei 7.644, de 18 de dezembro de 1987, com obrigações segundo artigo 4 da Lei
referida: propiciar o surgimento de condições próprias de uma família, orientando e assistindo os menores
colocados sob seus cuidados; administrar o lar, realizando e organizando as tarefas a ele pertinentes; dedicar-se,
com exclusividade, aos menores e à casa-lar que lhes forem confiados. O trabalho desenvolvido pela mãe social
é de caráter intermitente, realizando-se pelo tempo necessário ao desempenho de suas tarefas. A candidata ao
exercício da profissão de mãe social deverá submeter-se a seleção e treinamento específicos, a cujo término será
verificada sua habilitação. São condições para admissão como mãe social: idade mínima de 25 (vinte e cinco)
anos; boa sanidade física e mental; curso de primeiro grau, ou equivalente; ter sido aprovada em treinamento e
estágio exigidos por esta Lei; boa conduta social; aprovação em teste psicológico específico (BRASIL, 1987).
13
Disponível em: <http://www.aldeiasinfantis.org.br>. Acesso em: 21 dez. 2007.
41
[...] dada sua característica de flexibilidade quanto aos atendimentos para adultos, as
muitas entradas e saídas, por vezes diárias, ou semanais, de uma mesma criança ou
adolescente da casa, constituindo-se mais como um projeto vinculado a programa
sócio-educativo em meio aberto (CARREIRÃO, 2004, p. 313).
2.3.2 Fatores para o abandono e o perfil das crianças e dos adolescentes abrigados
15
Secretaria da Criança e do Adolescente (SECAD) do município de Itajaí, Santa Catarina, Brasil. Disponível
em: <http://secad.itajai.sc.gov.br/>. Acesso em: 21 dez. 2007.
44
16
Informações coletadas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a partir da Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (PNAD) realizada em 2002. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br>. Acesso em:
20 dez. 2007.
17
Enid Rocha (2004) citando dados coletados junto aos Conselhos Tutelares nacionais, através do Sistema de
Informações para a Infância e Adolescência (SIPIA), em 2002.
45
negligentes;
e) fatores situacionais como a depressão pós-parto, a separação abrupta, as
expectativas distorcidas e irreais entre pais e filhos ou o estresse por crise econômica
ou conjugal.
Com a elucidação de outros fatores de risco, reforça-se que a pobreza é insuficiente
para justificar todas as manifestações de violência, todavia influencia direta ou indiretamente.
As carências materiais sofridas pelas famílias de baixa renda impõem dificuldades adicionais
para a sobrevivência do grupo, ampliando as chances de crianças ou adolescentes pobres
sofrerem de negligência e abandono e passarem por períodos de institucionalização.
A decretação da falência da instituição familiar pode resultar nas seguintes formas de
abandono:
a) precoce: nessa situação encontram-se os recém-nascidos abandonados e,
geralmente, desconhece-se o paradeiro dos pais biológicos;
b) tardio: geralmente, a criança ou o adolescente é institucionalizado porque sua
família de origem ou ampliada está incapacitada de criá-lo e provê-lo por razões
diversas;
c) por desinteresse: é o caso da criança ou do adolescente que é internado pelos
seus pais ou responsáveis e “esquecida” no abrigo. Por vezes, os pais manifestam o
desejo de reaver a guarda e reintegrá-lo à família, mas isso não acontece. Na maior
parte desses casos, não há consentimento para a adoção, o que condena a criança ou
o adolescente a passar toda a infância e/ou a adolescência em medida de
abrigamento, pois legalmente não está abandonado, embora o esteja de fato.
O quadro nacional brasileiro confirma que 24,1% das crianças e adolescentes são
abrigados por carência de recursos materiais (IPEA; CONANDA, 2003). Mesmo em
contrariedade com a disposição do artigo 23 parágrafo único do ECA, “[...] a falta ou carência
de recursos materiais não constitui motivo de suspensão do pátrio poder” (BRASIL, 1990).
Todavia, o fato dos pais ou responsáveis não proverem as próprias famílias pode dar
margem a uma série de violações de direitos (e.g. exploração do trabalho infantil), que
resultam nos motivos para o ingresso nos abrigos. Ainda, a incapacidade de prover de bens
necessários para a sobrevivência faz com que os pais ou responsáveis vislumbrem na
institucionalização a garantia dos direitos básicos dos filhos, especialmente moradia e
alimentação.
Entre os principais motivos do abrigamento das crianças e dos adolescentes
pesquisados estão também: o abandono pelos pais ou responsáveis (18,8%); a violência
46
Esse fenômeno de entrega dos filhos para serem criados em instituições não é novo.
No Brasil Colônia, o regime de internato era utilizado tanto para os filhos dos ricos, na busca
de uma educação de excelência, quanto para os dos pobres, em associação às medidas de
assistência. Com o tempo, esse modelo educacional desapareceu nas famílias abastadas, mas
perdurou nas pobres e atualmente, as razões para o abrigamento são semelhantes às passadas.
47
3 DESENVOLVIMENTO HUMANO
18
Há muitas definições acerca do que é o desenvolvimento humano e classificações das teorias, por isso, e como
não é o âmbito dessa dissertação estudá-las profundamente e nem de competência da pesquisadora a
classificação de quais são as teorias mais importantes, que Newcombe (1999) tornou-se a principal referência. A
autora aborda o desenvolvimento infantil, centrando seus estudos no desenvolvimento espacial.
49
19
Teoria desenvolvida por John Watson (1878-1958), psicólogo americano e fundador da corrente behaviorista
ou comportamentalista na Psicologia. Watson desenvolveu sua teoria utilizando animais e humanos em suas
experiências. Sua pesquisa se contrapôs às abordagens introspectivas, pois entendia a Psicologia como sendo a
parte das Ciências Naturais (NEWCOMBE, 1999).
20
A Teoria Social é de autoria de Albert Bandura (1925), psicólogo canadense da linha behaviorista. Bandura
procurou confirmá-la utilizando o brinquedo “João-bobo”. Segundo ele, no momento em que o brinquedo é
apresentado à criança, esta não tem quaisquer atitudes hostis com o boneco. Porém, após observar o adulto tendo
comportamento agressivo com o brinquedo, a criança também passa a agredi-lo. Bandura foi presidente da
Associação Americana de Psicologia em 1973 e, atualmente, é professor na Universidade de Stanford
(BANDURA, 1978).
50
estudos de Watson, reconhecendo que as crianças são formadas não apenas pelos prêmios e
punições recebidos, mas também pelas observações do que os outros fazem. Segundo a teoria,
os atos dos indivíduos produzem as condições ambientais que afetam os comportamentos,
inclusive o espacial. Esse fenômeno, chamado de aprendizagem por observação, demonstra
que o ambiente afeta a pessoa, mas, nele, ela é mera absorvedora do conhecimento
disponibilizado (BANDURA, 1978).
Uma visão contrária aos behavioristas é adotada por Jean Piaget21. Nela, a criança
interpreta ativamente seu ambiente. Segundo Piaget (1996), há dois princípios básicos que
guiam o desenvolvimento humano: organização e adaptação. As crianças organizam suas
experiências em estruturas cognitivas e ao interagir com o ambiente, adaptam-nas para
responder às novas expectativas. Essa teoria pressupõe que as pessoas possuem tendência
inata à curiosidade e exploração e que a organização das experiências vividas resulta em
arcabouços mentais. Então, as formas como as crianças interagem com o ambiente são
determinadas por seus estágios correntes de compreensão. Assim, bebês possuem
entendimentos muito diferentes de crianças mais velhas.
Por outro lado, a psicologia sócio-histórica, com base na teoria de Vygotsky22,
acredita no desenvolvimento humano a partir das relações sociais que a pessoa estabelece ao
longo da vida. Nesse referencial, o processo de ensino-aprendizagem se constitui dentro dos
diferentes contextos sociais e inclui o indivíduo que aprende, aquele que ensina e a relação
entre eles (VYGOTSKY, 1994).
Para Vygotsky (1994), da mesma forma que o homem transforma o ambiente para
atender às suas necessidades, transforma a si mesmo. A teoria trabalha com a importância do
meio cultural e das relações entre os indivíduos. Desde o nascimento, o ser humano é envolto
num contexto de símbolos, normas e padrões que estabelecem significados ao comportamento
humano, inclusive ao espacial. Assim, ao apreender o contexto, o desenvolvimento é inerente
21
Jean Piaget (1896-1980), biólogo e psicólogo suíço, estudou a evolução do pensamento da criança até a
adolescência, procurando entender os mecanismos mentais que o indivíduo utiliza para captar o ambiente no
qual interage. Sua teoria do Desenvolvimento Cognitivo pressupõe que os seres humanos passam por uma série
de mudanças ordenadas e previsíveis. Através de várias observações com seus filhos e com outras crianças,
Piaget deu origem à Teoria Cognitiva, onde demonstra que existem quatro estágios de desenvolvimento
cognitivo no ser humano: Sensório-motor, Pré-operacional, Operatório concreto e Operatório formal (PIAGET,
1996).
22
Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934), russo e contemporâneo de Piaget, foi professor e pesquisador. A
partir de 1924, dedicou-se à Psicologia Evolutiva, Educação e Psicopatologia. Devido a vários fatores, inclusive
a tensão política da Guerra Fria, o trabalho de Vygotsky permaneceu desconhecido durante décadas. Um dos
conceitos mais importantes é o de Zona de Desenvolvimento Proximal, que se relaciona com a diferença entre o
que a criança consegue aprender sozinha e aquilo que consegue aprender com a ajuda de um adulto. A Zona de
Desenvolvimento Proximal é, portanto, tudo o que a criança pode adquirir em termos intelectuais, quando lhe é
dado o suporte educacional devido (VYGOTSKY, 2001).
51
23
Maria Montessori (1870-1952) foi educadora, médica e feminista. Iniciou os estudos com crianças portadoras
de deficiências na Universidade de Roma. Ali, empregou conceitos de aprendizagem onde a criança era induzida
a observar e avaliar as interações que realizava, tanto com o ambiente, quanto com as pessoas. Montessori pôs
suas idéias em prática na Casa dei Bambini (Casa de Crianças, tradução nossa), aberta no centro de Roma. Em
1922, o governo italiano nomeou-a inspetora-geral das escolas da Itália. Porém, com a ascensão do regime
fascista, ela decidiu deixar o país e continuar os trabalhos na Espanha, no Ceilão (atual Sri Lanka), na Índia e na
Holanda. Disponível em: <http://www.montessori.org>. Acesso em: 15 dez. 2007.
52
portanto, não é moldar o ser humano a qualquer imagem pré-determinada, mas ajudá-lo, passo
a passo, guiando-o no seu desenvolvimento. Nesse papel, a família é a personagem principal,
como é visto a seguir.
satisfatória entre pai e mãe (casados ou não) está associada com a educação com
vínculos afetivos estáveis dos filhos. Porque pais emocionalmente maduros “[...]
tendem a reagir com sensibilidade e aconchego aos sinais e necessidades de seus
filhos [...] promovem segurança emocional, independência, competência social [...]”
(NEWCOMBE, 1999, p. 339).
As inferências dos pais ou responsáveis sobre o comportamento dos filhos são
determinantes significativas das práticas e técnicas disciplinares utilizadas na educação, mas
as formas de educação podem alterar-se conforme a resposta da criança ou do adolescente. As
técnicas mais usadas na educação são: a recompensa, a punição e o raciocínio ou indução. A
recompensa (reforço) pode ser de natureza social (e.g. elogio) ou não (e.g. brinquedo). Se essa
técnica falhar, a alternativa mais comum é a punição, que pode ser: verbal (e.g. crítica ou
xingamento), a perda de privilégio ou, até mesmo, a punição física. Estratégias disciplinares
não-punitivas – chamadas de técnicas de raciocínio ou indutivas – incluem apontar e ponderar
sobre os atos realizados e as conseqüências. A aplicação bem sucedida das técnicas depende
da boa comunicação entre pais (ou responsáveis) e filhos (NEWCOMBE, 1999).
As crianças e os adolescentes não são educados apenas com as técnicas diretas de
treinamento, mas também através de imitação e identificação. Imitar é copiar as
características específicas de alguém (e.g. atitudes de algum cantor) e identificar-se é um
processo mais sutil, no qual uma pessoa incorpora padrões de comportamento (inclusive o
espacial), posturas, valores, interesses e maneirismos. Para que haja identificação, é
necessária a presença de vínculo emocional, ao contrário da imitação (NEWCOMBE, 1999).
Os estilos de educação para socialização variam conforme o contexto
socioeconômico e cultural da família, além do histórico de vida do responsável. Identificam-
se quatro padrões gerais de controle: autorizado, autoritário, permissivo e negligente. O
padrão autorizado combina altos níveis de exigência com altos níveis de afeto e parece ser o
que mais possui resultados positivos. Os autoritários costumam ser altamente exigentes, mas
pouco atenciosos. Os permissivos são pais ou responsáveis que não estipulam regras, nem
padrões para o comportamento da criança ou do adolescente. Os pais ou responsáveis
negligentes, um dos motivos principais para o abrigamento, têm baixas expectativas sobre o
relacionamento com os filhos e as tentativas de disciplinar são erráticas. A ameaça, punição
física, crítica, desaprovação, raiva e ironia são características das reações dos pais ou
responsáveis negligentes (NEWCOMBE, 1999).
É importante destacar que uma educação amorosa, em que se vê, escuta e acolhe,
promove o respeito por si e pelas outras pessoas envolvidas na interação. No caso das
54
famílias, o fundamento do prazer “de estar” onde está a confiança, seja pelo contexto ou pela
presença das pessoas, é centralizado na relação da criança e do adolescente com a sua mãe
(pai ou responsável) e seu entorno familiar (MATURANA, 1998). Maturana (1998) afirma,
ainda, que se observadas as histórias de vida de crianças ou adolescentes chamados anti-
sociais, descobre-se que sempre há enredos de negação do “amor” e de educação com
violação da identidade, falta de respeito e negação do eu.
As primeiras conseqüências dessa negligência podem ser vistas nas interações
esquivas do recém-nato. As crianças maiores são resistentes e desobedientes, desconfiam das
pessoas, podem ameaçá-las e atacá-las, “[...] um padrão que elas podem vir a manter e utilizar
quando se tornarem pais e mães” (NEWCOMBE, 1999, p. 358).
Conforme Newcombe (1999, p. 350) essas,
24
O Complexo de Édipo, pesquisado por Sigmund Freud (1856-1939), é verificado, na segunda infância, quando
a criança atinge o período sexual fálico. Nesse período, a criança dá-se conta da diferença de sexos, tendendo a
fixar a sua atenção nas pessoas do sexo oposto, no ambiente familiar. Freud baseou-se na tragédia de Sófocles
para intitular a teoria (MUZA, 1998).
25
Urie Bronfenbrenner (1917-2005) fez doutorado na Universidade de Michigan, em 1942. Proeminente
ecologista humano, ele buscou o equilíbrio entre homem e ambiente e lutou para que os direitos humanos
atentassem para a gravidade das condições ecológicas de vida, principalmente, de crianças e adolescentes
institucionalizados (BRONFENBRENNER, 1996).
56
Figura 03: Esquema da Teoria Desenvolvimento Ecológico aplicada às crianças e adolescentes abrigados.
Fonte: adaptação de Bronfenbrenner (1996).
26
Em 1953, René Spitz (1887-1974) apresentou uma pesquisa onde descrevia a “Depressão Anaclítica”, como
resultado da privação afetiva.
62
afetivo que lhe oferece apoio, proteção e cuidados. Assim, o Quadro 02 sistematiza as
necessidades e os possíveis distúrbios frutos da negligência à criança e ao adolescente.
ambiental. Pressupõe a capacidade de cada indivíduo de efetuar uma síntese positiva dos
elementos envolvidos na sua vida, a partir do que a sociedade considera como padrão de
conforto e bem-estar. Ressalva-se que, em todas as abordagens feitas sobre a qualidade de
vida, valores não materiais como: amor, felicidade, liberdade, solidariedade e inserção social,
compõem a concepção.
Para o ser humano, o valor da vida está intimamente ligado às oportunidades dadas.
Assim, a qualidade de vida é uma representação social, através dos elementos subjetivos e de
incorporação cultural, e é também, uma representação quantitativa com alguns parâmetros
materiais na construção dessa noção.
O patamar material mínimo e universal para se falar em qualidade de vida diz
respeito à satisfação das necessidades mais elementares da vida humana, que são:
alimentação, acesso à água potável, habitação, trabalho, educação, saúde e lazer. Esses
elementos materiais, e outros tantos, têm como referência noções relativas de conforto, bem-
estar e realização individual e coletiva. No mundo ocidental, por exemplo, é possível dizer
que o desemprego, a exclusão social e a violência são reconhecidos como a negação da
qualidade de vida. Para crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, a
história de vida de abandono, negligência e maus-tratos e, até mesmo, o abrigamento são
aspectos de negação da qualidade de vida.
Entre os primeiros instrumentos de medida quantitativa e qualitativa da qualidade de
vida, o mais conhecido e difundido é o Índice de Desenvolvimento Humano28 (IDH). O IDH
foi criado com a intenção de deslocar o debate sobre desenvolvimento humano de aspectos
puramente econômicos (e.g. nível de renda, produto interno bruto e nível de emprego) para
aspectos de natureza social e cultural. Encontra-se nesse indicador a concepção de que a
renda, a saúde e a educação são elementos fundamentais da qualidade de vida de uma
população (ONU, 2008).
Assim, a noção de qualidade de vida transita através das condições e estilos de vida;
inclui, atualmente, as idéias de desenvolvimento sustentável e ecologia humana; relaciona-se
ao campo da democracia, do desenvolvimento e dos direitos humanos e sociais; e no que
concerne à saúde, une-se à construção coletiva dos padrões de conforto e tolerância que
determinada sociedade estabelece como parâmetros.
28
O IDH, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), é um indicador
sintético de qualidade de vida, que soma e divide por três os níveis de renda, saúde e educação da população. Na
média, a renda é avaliada pelo PIB real per capita; a saúde, pela esperança de vida ao nascer; e a educação, pela
taxa de alfabetização de adultos e taxas de matrículas nos níveis primário, secundário e terciário combinados.
Renda, educação e saúde são atributos com igual importância como expressão das capacidades humanas,
segundo o Índice (ONU, 2008).
67
4 PSICOLOGIA AMBIENTAL
abrigar e sociabilizar, com o intuito de suprir suas necessidades vitais. Esses ambientes foram
conceituados como “construídos” e reformulados com o passar dos anos.
O “ambiente construído” pode ser definido também, como “[...] a criação do espaço
vivencial, tanto para o indivíduo quanto para o meio social, onde se está em permanente
deslocamento de uma atividade para outra” (OKAMOTO, 2002, p. 149).
Ao abordar o ambiente sob a ótica da Psicologia Ambiental, esse ambiente é definido
como um sistema de influência para as atividades humanas. O ambiente construído aparece
como um modelo social de organização da atividade humana, operando ao mesmo tempo
como instrumento funcional e contexto cultural. Essa função numa moradia, por exemplo, não
equivale apenas ao abrigo, mas à expressão das emoções e da vivência desenvolvida pelo
sentimento “de estar e sentir-se em casa”.
O ambiente construído como o arranjo de características físicas e construtivas é
indissociável do ambiente social. Por isso, é considerado espaço de vida, sujeito à ocupação,
leitura, re-interpretação e/ou modificação pelos usuários. O ambiente construído interage com
o ambiente social, cultural e psicológico. É fruto do comportamento humano e resultado de
uma série de padrões e normas sociais que, por conseqüência, influenciarão as atividades ali
realizadas (OKAMOTO, 2002).
No espaço, as necessidades do homem variam em função do contexto. Por isso, num
projeto, atividades e ações do ambiente social devem ser consideradas e avaliadas na
elaboração do ambiente construído, como afirma Bins Ely (2003),
Pode-se concluir então, que a realidade é tudo o que existe, em oposição ao que é
mera ilusão, imaginação e idealização, e a percepção não significa a verdadeira realidade,
porque ocorre sob a influência de conceitos, símbolos e crenças dos contextos em que se vive.
A percepção ambiental é particular e há uma variedade de elementos envolvidos, e
não implica apenas o que pode ser percebido, mas igualmente o que pode ser eliminado.
Conforme os filtros, os indivíduos aprendem desde a infância, e sem o saberem, a eliminar ou
conservar com atenção tipos de informação muito diferentes, através da identificação ativa de
elementos objetivos e subjetivos no processo perceptivo (OKAMOTO, 2002).
No ambiente construído, esses elementos objetivos são: forma, função, cor, textura,
aeração, temperatura ambiental, iluminação, sonoridade (Figura 05). Cada um desses valores
resulta no espaço dimensionado, funcional e significante. “Por meio deles, sentimos o
ambiente e os fatos e eventos que nos chamam a atenção ou que selecionamos como de
interesse, quando, então, temos a percepção da realidade de forma consciente [...]”
(OKAMOTO, 2002, p. 106).
pesquisa exclusiva.
VALORES SUBJETIVOS
Sentido Perceptivo Visão, audição, tato, olfato e paladar;
Sentido Espacial Movimento, cinestesia e vestibular (equilíbrio e gravidade);
Sentido Proxêmico Espaço pessoal, territorialidade, aglomeração e privacidade;
Sentido Pensamento Abdução (símbolo, mito, metáfora, alegoria, arte, estética, poesia, religião e enredo);
Sentido da Linguagem Não-verbal;
Sentido do Prazer Princípio afetivo.
Quadro 04: Valores subjetivos que influenciam na percepção ambiental.
Fonte: adaptação de Okamoto (2002, p. 107).
29
A definição é baseada na teoria da Affordance (teoria dos Recursos, tradução nossa), de James Jerome Gibson
(1904-1979), publicada em 1966. O autor define as Affordance como os recursos que o ambiente providencia ou
fornece à pessoa, sejam benéficos ou não. O observador pode ou não perceber ou atender aos recursos, conforme
as suas necessidades. No entanto, o recurso é invariável e sempre está ali para ser percebido. Essa teoria não é
baseada apenas em sofrer as sensações, mas em percebê-las. Essas informações são detectadas pelos seguintes
canais sensoriais: sistema de orientação, auditivo, háptico, olfato-paladar e visual. O sistema de orientação é
responsável por identificar as forças da gravidade e a disposição de todo o corpo, garantindo equilíbrio, e por
sentir a posição do corpo no espaço tridimensional, coordenando a posição corporal (abaixo e acima, à esquerda
e à direita, à frente e atrás) com as direções externas do espaço. O sistema de orientação coopera com os demais
canais sensoriais, servindo de base para a localização espacial e temporal (GIBSON, 1983).
77
Esse sentido é o que nos faz dar sentido à vida, por meio das relações entre nós e o
ambiente em que vivemos. É ele sem dúvida o mais importante nas escolhas,
conscientes ou inconscientes, do comportamento humano (OKAMOTO, 2002, p.
240).
[...] o espaço pessoal, é também descrito como território portátil, pois o indivíduo o
leva consigo onde quer que vá, embora sob certas condições – por exemplo, excesso
de pessoas – possa desaparecer (SOMMER, 1973, p. 35).
[...] são possuídos ou controlados por uma pessoa ou por um grupo; satisfazem
alguns motivos ou necessidades, como status ou uniões; são marcados, quer
simbolicamente, quer concretamente; e as pessoas os defenderão ou pelo menos se
sentirão desconfortáveis se eles forem violados de qualquer forma por estranhos
(SNYDER; CATANESE, 1984, p. 72).
pelo Estado e possuem acesso restrito para determinados fins (e.g. escola);
f) áreas urbanas públicas, relacionadas com o acesso público irrestrito, tais como:
praças e ruas.
Contrário à privacidade, está a aglomeração. Diferente da densidade, que é uma
medida matemática referente ao número de pessoas por unidade de espaço, a aglomeração é
um conceito de comportamento ambiental ou psicológico que se refere à sensação de
bloqueio, desgaste e incômodo pela presença excessiva de pessoas. Ela é fruto da densidade
percebida e isso é sujeito à pessoa e ao contexto (GIFFORD, 1987).
A experiência da aglomeração é acentuada por fatores pessoais (personalidade,
expectativas e sexo), fatores sociais (ações das outras pessoas e qualidade dos
relacionamentos interpessoais) e fatores físicos (Arquitetura). A aglomeração pode prejudicar
a saúde, o desempenho em atividades e a interação social (GIFFORD, 1987).
A familiaridade com o ambiente diminui o estresse causado em situações de grande
aglomeração. No entanto, ela é muito mais prejudicial em ambientes primários (e.g.
residências). Por exemplo, em dormitórios com três pessoas, geralmente, duas se unem e uma
fica isolada, e conseqüentemente, com sinais de estresse. Também, nos grandes alojamentos,
as pessoas podem sentir-se aglomeradas e nos pequenos, sós. Ao contrário, se a dimensão for
suficiente, os quartos menores tendem a incentivar relações em par, quando os maiores podem
promover interações de grupo (TRANCIK; EVANS, 1995).
A densidade do abrigo é importante, também, para que crianças e adolescentes não se
sintam oprimidos pelo número de abrigados ou pela equipe de funcionários, descaracterizando
o atendimento personalizado.
De modo geral, os estudos têm verificado que o aumento da densidade percebida de
crianças em áreas sociais contribui, substancialmente, para comportamentos espaciais
agressivos ou passivos, tais como observar e vagar. Nesses ambientes, as relações tornam-se
angustiantes porque há maior contato físico (GIFFORD, 1987).
Por fim, Altman (1980) desenvolveu um esquema reunindo espaço pessoal,
territorialidade, privacidade e aglomeração. Nele, o autor argumenta que defender o espaço
pessoal e o território são dois mecanismos que as pessoas utilizam para conseguir privacidade
em situações de aglomeração, a fim de evitar algum tipo de estresse (Esquema 03).
Segundo Trancik e Evans (1995) há, ainda, três características espaciais que
influenciam na apropriação ambiental, são elas: comportamentos espaciais restritos,
manipulação e gradientes de desafio. Aqueles são os fatores físicos que limitam a maneira
como um espaço é utilizado (e.g. localização de um ponto fixo de luz para leitura). A
83
Habitar uma casa constitui o arquétipo mais rico de significados ao ser humano. É
símbolo de todas as “peles” que o envolvem: o seio materno, a família e o universo. “Estar em
casa” significa dispor de um espaço que, por um lado, se pode assinalar com uma marca e, por
outro, delimita um território inviolável sobre o qual se exerce um direito (FISCHER, 19--).
A expressão “minha casa” possui duas vertentes principais: a proteção contra o
mundo exterior e o apego a um lugar como fator de identidade. Todo o alojamento é, antes de
tudo, um abrigo no interior do qual o indivíduo se sente protegido. A casa representa,
portanto, uma espécie de barreira às intromissões externas, porque limita e controla o número
de interações e na sua construção, separa-se o mundo externo – inseguro e ameaçador – do
interno – protegido (FISCHER, 19--).
A casa é construída pelo homem e aparece como representativa dos elementos
fundamentais do ser, “[...] de sua natureza mais profunda, inteira, e como tal, de alguma
forma, a pedra angular da personalidade humana” (GRUBITS, 2003, p. 99). Por isso, ela é
carregada de ressonância afetiva capaz de desencadear lembranças (e.g. casa da infância) e
cada uma possui particularidades, estímulos e sensações diferentes. É resumo das aquisições
efetuadas, ao logo das diferentes etapas do desenvolvimento humano. Essa imagem, positiva
ou não, acompanha o homem por toda a vida (GRUBITS, 2003).
A casa natal grava no habitante a hierarquia das diversas funções de habitar. É o
centro dos sonhos e, não raro, traz lembranças ao adulto. A casa serve de cenário às
experiências humanas. Ela é uma das maiores forças de integração entre os pensamentos e os
sonhos humanos (BACHELARD, 1998).
móveis são elementos fundamentais para a preservação da privacidade. Sem esses objetos, a
vida íntima não teria um modelo de identidade. O espaço interior do armário, por exemplo, é
um espaço de intimidade, que não se abre para qualquer um (BACHELARD, 1998). Ainda,
Os cantos de uma casa são refúgios que asseguram um dos primeiros valores do ser:
a imobilidade. Eles são locais seguros, onde é possível encontrar a paz. Certamente, fugindo
do espaço real da casa e refugiando-se no canto, o ser humano toma consciência de existir
(BACHELARD, 1998). Assim, os pormenores numa casa podem ser os signos de um
contexto e conter atributos importantes do todo.
A casa, enquanto lugar de apego, intimidade protegida, carregada de significados e
lembranças, é capaz de confortar o homem. É um lugar onde a hierarquia dos espaços
corresponde às necessidades. É um local onde uns se preocupam com os outros. É um espaço
fechado e humanizado, dotado de valores e sentimentos.
Assim, comprova-se a importância da vivência numa casa para o desenvolvimento
humano. Para descobrir quais particularidades espaciais são indispensáveis numa casa que
acolhe em medida de abrigamento crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade
social, o capítulo a seguir descreve a metodologia usada na dissertação, em especial no estudo
de caso.
88
5 METODOLOGIA
30
Projeto número 217/07, com parecer consubstanciado em 31 jul. 2007.
93
2 – Dimensão Comportamental
a) Privacidade:
____________________________________________________________________________________
31
A planilha é baseada no recurso desenvolvido por Renata Thaís Bomm Vasconcelos, em sua dissertação de
mestrado no Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo (PósARQ) da Universidade Federal de
Santa Catarina, em 2004. Segundo Vasconcelos (2004), o objetivo geral de sua pesquisa foi “analisar o contato
que as características arquitetônicas de integração interior/exterior - ambientes e/ou elementos construtivos -
promovem entre o paciente internado e o ambiente externo nas anatomias hospitalares atuais e quais os
benefícios proporcionados por esta relação”. As Leituras Espaciais basearam-se na planilha de observação do
espaço, confeccionada a partir das informações colhidas na revisão de literatura. A planilha serviu para levantar
as informações gerais do edifício hospitalar e avaliar as características de cada ambiente, relacionando-as com as
dimensões de análise (ambiental, sensorial e comportamental) (VASCONCELOS, 2004).
94
c) Territorialidade:
_________________________________________________________________________________
3 – Dimensão Ambiental
a) Condições de Iluminação:
_________________________________________________________________________________
b) Condições de Conforto Térmico:
_________________________________________________________________________________
c) Condições de Conforto Acústico:
_________________________________________________________________________________
OBSERVAÇÕES
A escolha dessas foi porque elas basearam a Leitura Espacial no levantamento das
informações gerais do edifício (abrigo de permanência continuada) e nas dimensões
comportamental e ambiental, fundamentais para que o abrigo de permanência continuada seja
ambientado nos aspectos legais e, principalmente, psicossociais que promovem e
potencializam a qualidade de vida, indispensáveis ao desenvolvimento humano pleno e
saudável.
A escolha dos ambientes da sede antiga da INSTITUIÇÃO onde foram aplicadas as
planilhas levou em conta, a partir das Observações sistemáticas, os cômodos de maior
relevância para os abrigados na dimensão comportamental (interações entre usuário-ambiente
e usuário-usuário). Os ambientes escolhidos foram:
a) o quarto das adolescentes, porque no ambiente eram permitidas e incentivadas
as demarcações do território, havia cuidados com relação à privacidade e o quarto era
o ambiente de maior permanência das adolescentes;
b) o quarto das meninas, porque elas são o perfil de abrigados mais comum na
INSTITUIÇÃO e, no quarto, quaisquer manifestações de privacidade e
territorialidade eram coibidas;
c) o banheiro, pela localização espacial, falta de privacidade e dimensões
pequenas para atender os abrigados e funcionários.
d) a cozinha, pela localização na planta, que limitava a circulação sem supervisão
e não permitia a permanência dos abrigados de quaisquer idades;
95
e os outros dois, após a qualificação, numa organização não-governamental que trabalha com
famílias em situação de vulnerabilidade social e é sediada na mesma cidade da
INSTITUIÇÃO. Essa ONG realiza atividades de assistência psicológica aos adultos e são
disponibilizadas atividades extracurriculares, como aulas de dança, artesanato e reforço
escolar para as crianças e os adolescentes. A escolha da ONG foi porque as crianças e os
adolescentes que a freqüentam possuem o mesmo perfil socioeconômico e cultural dos
abrigados. A escolha da aplicação dos testes pilotos na ONG foi para evitar o desgaste do
Jogo com as crianças e os adolescentes da INSTITUIÇÃO.
Os testes pilotos e a aplicação do Jogo são descritos a seguir.
Para os três testes pilotos, uma série de imagens foi escolhida em meio eletrônico,
impressa (dimensão: 9 x 13 centímetros) e colada em papel tipo cartão. As imagens evocavam
a dimensão comportamental, sob os mesmos fatores de análise citados no instrumento de
Observação sistemática. Essa dimensão é determinante na apropriação espacial e fundamental
para o desenvolvimento humano sadio, mas muitas vezes desconsiderada na Arquitetura, em
especial na institucional. Algumas imagens, com referências à dimensão ambiental, também
foram selecionadas. Visto que, apesar de normatizadas, são critérios pouco ou erroneamente
utilizados.
A partir da escolha pela pesquisadora, as imagens, uma a uma e nos três testes
pilotos, foram classificadas em quadros, conforme as características particulares (exemplo,
Quadro 11). Os quadros fizeram uma leitura da imagem, caracterizando as dimensões mais
evidentes. No entanto, não impediram que os participantes avaliassem algumas sob outros
parâmetros. Os quadros não foram apresentados aos participantes, apenas serviram de
material de apoio à pesquisa, para o gerenciamento dos debates posteriores pela pesquisadora.
É importante destacar que algumas imagens foram alteradas ao longo da aplicação
dos testes (o porquê será abordado a seguir). Contudo, os procedimentos de seleção e
elaboração dos quadros foram os mesmos para todas.
Para a aplicação do primeiro teste piloto, o local escolhido foi o refeitório na sede
antiga da INSTITUIÇÃO, e para os outros dois, uma sala de aula da ONG. Ambos os espaços
possuíam infra-estrutura ideal para a atividade. A identificação de todos os participantes foi
103
através de crachás, com o número do jogador, o nome e a idade (Quadro 12). Esse recurso
serviu, apenas, para o controle dos dados na transcrição das conversas. Antes de iniciarem os
testes, a pesquisadora explicou como eles seriam desenvolvidos e respondeu às perguntas dos
participantes. Esse procedimento foi rigorosamente igual nos três testes pilotos.
Dimensão Ambiental:
Figura 06. Fonte: BANANA STOCK, 2008.
Disponível em: <http://www.fotosearch.com.br>. Aparência de conforto lumínico e térmico, e possibilidade
Acesso em 25 jan. 2008. de barulho, porque as crianças estão reunidas.
Quadro 11: Representativo de uma das imagens utilizadas e as dimensões evocadas.
Fonte: AUTORA, 2007.
As conclusões do primeiro teste serviram para definir as três perguntas a serem feitas
na aplicação do Jogo, e para concluir que não era possível aplicar o Jogo com crianças abaixo
dos sete anos e com idades muito diferentes (seis e doze anos), porque havia dificuldade de
104
Figura 07: Imagem conceitual. Fonte: GLOW, 2007. Figura 08: Imagem onde não é possível ver as faces
Disponível em: <http://www.gettyimages.com>. das crianças. Fonte: ALTRENDO IMAGES, 2007.
Acesso em: 30 ago. 2007. Disponível em: <http://www.gettyimages.com>.
Acesso em: 30 ago. 2007.
Os testes pilotos resultaram em novos critérios para a seleção das imagens, porque
foi constatado que os participantes as escolhiam conforme o seguinte modelo: cenas com
crianças ou adolescentes, em que era possível ver os seus rostos ou grande parte do corpo
(cabeça, tronco e membros superiores), independente da cor da pele, do sexo e do status
social da criança ou do adolescente. Assim, as imagens selecionadas para o Jogo deveriam,
obrigatoriamente, respeitar esse modelo, evitando discussões vagas acerca da cena e focando
nas dimensões comportamentais e ambientais que se gostaria de discutir.
Essas dimensões, conforme se constatou nos testes pilotos, deveriam ser padrões
antagônicos (e.g. ordem e desordem, quente e frio, cheio e vazio), porque os participantes
reconheciam facilmente essas imagens e conseguiam responder às perguntas da pesquisadora.
105
Os participantes do Jogo viam duas imagens, por exemplo, uma com um equipamento de um
parque infantil cheio de crianças (Figura 09) e outra do mesmo contexto com apenas uma
criança (Figura 10), e quando indagados do que achavam, as conversas focavam-se na
preferência ou não e nos porquês da escolha do ambiente cheio ou vazio, e não nos aspectos
secundários da cena. Isso porque o padrão infantil reconhecido como preferencial, era comum
às duas imagens.
Figura 09: Ambiente cheio. Fonte: MAEERS, 2007. Figura 10: Ambiente vazio. Fonte: GP, 2007.
Disponível em: <http://www.gettyimages.com>. Disponível em: <http://www.gettyimages.com>.
Acesso em: 30 ago. 2007. Acesso em: 30 ago. 2007.
diferentes.
O início das atividades deu-se com a pergunta que foi definida no teste piloto 01: “O
que vocês mais gostam de fazer?”. Após, foi feita a segunda pergunta: “Vocês podem fazer o
que gostam aqui na INSTITUIÇÃO?”. Conforme a resposta afirmativa ou não, perguntas
acerca do porquê eram feitas. Posteriormente, eram colocadas sobre a mesa todas as imagens
do Jogo e feita a seguinte indagação: “Qual dessas imagens lembra o que vocês fazem aqui na
INSTITUIÇÃO?”. Os participantes eram incentivados a escolherem as imagens em grupo e
separá-las em duas pilhas, uma onde a imagem recordava a INSTITUIÇÃO e outra onde não
havia ligação. Posteriormente, as vinte e seis imagens escolhidas eram objetos de perguntas e
discussões, mediadas pela pesquisadora. Todas as falas dos participantes do Jogo foram
gravadas, transcritas e tratadas por análise do conteúdo.
sedes, com a Diretora apresentam a INSTITUIÇÃO. Trechos das Entrevistas estruturadas com
o Juiz da Vara da Infância e Juventude são utilizados na revisão de literatura e com a
psicóloga da INSTITUIÇÃO, para caracterizar os abrigados.
Na Leitura Espacial das sedes, são apresentados um panorama geral de ambas,
realizado a partir do preenchimento dos quadros (Quadro 16 e preenchidos no Apêndice H).
Esses são resultados das planilhas e neles contam: localização na planta-baixa da edificação,
planta-baixa com layout, a categoria física (função, dimensão/área, características de
acabamento/mobiliário, segurança), a dimensão comportamental e a ambiental. A cada
dimensão, ratifica-se ou não as informações colhidas com as entrevistas não-estruturadas. Na
sede antiga, foram entrevistados os funcionários e na atual, o Arquiteto responsável pelo
projeto da INSTITUIÇÃO.
A compilação das informações, colhidas pelas Leituras Espaciais com a revisão de
literatura, permite que cada dimensão seja avaliada segundo o sistema adaptado de
Vasconcelos (2004), que consiste em:
a) (☺) positivo, atende a maioria dos requisitos/parâmetros pré-estabelecidos;
b) () negativo, não atende a maioria dos requisitos/parâmetros pré-
estabelecidos;
c) (☺ ) conflito, atende um ou mais requisitos/parâmetros, mas interfere
negativamente nos outros aspectos analisados.
CÔMODO (continua)
Sede Antiga (Planta-baixa)
Sede Atual (Planta-baixa)
Sede Avaliação ☺ Análise
Função Antiga ☺
Atual
CATEGORIA FÍSICA
Atual
Informação Antiga
Atual
Territorialidade Antiga
Atual
Funcionários ou Arquiteto Antiga
Atual
110
CÔMODO (conclusão)
Conforto lumínico Antiga
Atual
Conforto térmico Antiga
AMBIENTAL
Atual
Conforto acústico Antiga
Atual
Funcionários ou Arquiteto Antiga
Atual
Quadro 16: Quadro resultado dos cômodos onde foram aplicadas as planilhas.
Fonte: AUTORA, 2008.
6 ESTUDO DE CASO
apenas o sexo masculino. No entanto, essas regras, muitas vezes, são alteradas pela demanda
de abrigados e falta de locais de acolhida.
Na INSTITUIÇÃO, as crianças e os adolescentes são atendidos, na primeira visita,
pela Diretora, Psicóloga e Assistente Social, individualmente. Esse momento é crucial porque,
33
Psicóloga da INSTITUIÇÃO em Entrevista estruturada concedida à pesquisadora em 12 jul. 2007 (Apêndice
F).
34
Na reforma do Código Penal de 1984, a Lei 7.209/84 introduziu penas restritivas de direitos no ordenamento
jurídico pátrio, entre elas: a prestação de serviço à comunidade ou entidades públicas. Essas penas são
substitutivas e a sociedade as apelidou de “Penas Alternativas” (OLIVEIRA, 2001). Fonte: OLIVEIRA, Cláudio
Márcio de. O fundamento de punir e os fins da pena. In: Jus Navigandi. Teresina, a. 5, n. 51, out. 2001.
114
35 O artigo 170 é oferecido na forma de bolsa de estudos aos alunos economicamente carentes pelo Estado de
Santa Catarina, Brasil, de acordo com as Leis complementares nº 281/2005 e nº 296/2005. O Governo repassa os
recursos às universidades privadas e estas organizam e divulgam os critérios do processo seletivo (AMPESC,
2008). Fonte: Associação de Mantenedoras Particulares de Educação Superior de Santa Catarina (AMPESC).
Disponível em: <http://www.ampesc.com.br>. Acesso em: 14 jan. 2008.
115
Psicossocial). Para agilizar esse processo, há o cadastro de uma rede social de colaboradores
do setor privado. Eles gerenciam a resolução de problemas de infra-estrutura e/ou carência de
recursos materiais da família e auxiliam com cesta básica, material escolar e medicamentos.
Há um grande número de pessoas que freqüentam a INSTITUIÇÃO, sejam
funcionários, estagiários ou visitantes, que distribuem carinho e atenção às crianças e aos
adolescentes, mas a grande maioria não o faz com freqüência, resultando em inexistência de
vínculo afetivo, indispensável aos abrigados. Essa alta rotatividade de pessoas na
INSTITUIÇÃO resulta também em desordem de vínculo, comentado no capítulo 3.
A seguir são caracterizados as crianças e os adolescentes acolhidos em medida de
abrigamento pela INSTITUIÇÃO.
Nesse levantamento, constatou-se também que 80% das crianças e dos adolescentes
abrigados possuíam família e desses, cerca de 45% recebiam visitas periódicas de pais,
responsáveis ou parentes próximos.
No quadro de internos e ex-internos da INSTITUIÇÃO, das 510 crianças e
adolescentes abrigados desde a fundação até o segundo semestre de 2007, cerca de 65%
retornaram às famílias de origem por determinação judicial. No entanto, muitos deles
voltaram à INSTITUIÇÃO pouco tempo depois, perpetuando um ciclo chamado por Brant de
Carvalho (1993, p. 09) como “[...] processo de triangulação: casa-rua-instituição. Neste vai e
vem os vínculos familiares perdem o seu significado e estas crianças e adolescentes deslocam
totalmente das suas raízes: a família e a comunidade”.
Mesmo com a rede de colaboradores para sanar os problemas de infra-estrutura e a
carência material das residências das famílias dos abrigados, não há eficácia no retorno das
crianças e dos adolescentes para as famílias de origem na maioria dos casos da
INSTITUIÇÃO. Problemas, como pais dependentes químicos, fazem com que não haja
condições de retorno, independente de solucionadas as questões de moradia.
Nesses casos, a Justiça trabalha para a destituição do poder familiar, mas a lentidão
nos processos (realidade nacional) perpetua a estada das crianças e dos adolescentes na
INSTITUIÇÃO. O privilégio legal permite que se tente o retorno familiar sempre que os pais
mostrem indícios significativos de mudança de vida. Justo ou não, a criança e o adolescente
retornam para família. A grande maioria, logo após, volta à INSTITUIÇÃO. Esse círculo
vicioso não pode ser rompido pelo abrigo. Às instituições, cabe prover as crianças e os
adolescentes de moradia e cuidados com a saúde, a educação e o lazer.
Tal fator confirma a importância da medida de abrigamento como proposta de
atendimento em pequenos grupos, e reforça a importância da ambiência das instituições como
lares. Pois a longa permanência faz com que, mesmo havendo a preservação dos vínculos
familiares através de visitas, muitas crianças e adolescentes vivenciem o espaço físico do
abrigo de permanência continuada como “sua casa” e procurem construir ali vínculos afetivos
mais estáveis.
Vale ressaltar que essa dissertação não pretende, de forma alguma, desqualificar a
INSTITUIÇÃO, que mesmo não adequada em vários critérios aqui avaliados, foi aprovada
segundo a legislação de obras e edificações existente no município e é registrada no conselho
municipal de direitos das crianças e dos adolescentes, da maneira como está estruturada. Isso
indica que as alterações propostas nessa dissertação não dependem da iniciativa isolada dessa
ou daquela entidade, mas do envolvimento de todos os órgãos do processo.
117
Uma vez que a INSTITUIÇÃO, durante a pesquisa, mudou-se de uma sede alugada
para outra por ela projetada e executada, fez-se necessário a Leitura dos dois espaços físicos.
As descrições e as leituras espaciais das sedes antiga (alugada) e atual (própria) estão a seguir.
A INSTITUIÇÃO permaneceu oito anos (de 1999 até 2007) numa área central da
cidade. A localização num bairro com infra-estrutura urbana (água, luz, rede de esgoto e
internet), escola pública e particular, praça com parque infantil e quadra de esportes, hospital
e posto de saúde, transporte público e comércio vicinal, facilitou a promoção da participação
na vida comunitária e contribuiu para a preservação dos vínculos familiares. Ressalva-se que
não é o foco dessa dissertação o estudo aprofundado da relação da INSTITUIÇÃO com o
entorno urbano, afinal, isso requer uma pesquisa a parte.
A sede antiga da INSTITUIÇÃO localizava-se num terreno de 1.225 m² (Figura 11),
com área construída aproximada de 210 m² e o restante, ajardinada, com um parque infantil
(orientação nordeste). A edificação tinha como partido arquitetônico uma planta térrea (Figura
12), adaptada para atender um abrigo de permanência continuada, priorizando, basicamente, o
atendimento emergencial (moradia e alimentação).
unifamiliares, com o setor íntimo, social e de serviço. No entanto, ainda que fosse dado
destaque à semelhança residencial e as dimensões dos cômodos fossem semelhantes, o
atendimento de 20 abrigados (em média) resultava em ambientes diferentes dos padrões
“tradicionais”. Assim, hábitos cotidianos, como a higiene pessoal e as refeições, eram
coletivos e com horários controlados.
Figura 12: Planta-baixa da sede antiga da INSTITUIÇÃO, com a denominação dos cômodos.
Fonte: AUTORA, 2007.
familiares (Figura 16). Esse ambiente não possuía quaisquer mecanismos para controle de
privacidade e, pela localização na planta, servia de circulação para outros cômodos,
resultando, muitas vezes, em constrangimentos durante os encontros.
Figura 13: Quarto das meninas na sede antiga, com Figura 14: Quarto dos meninos na sede antiga,
nenhuma identificação feminina. nenhuma identificação masculina.
Fonte: AUTORA, 2007. Fonte: AUTORA, 2007.
Figura 15: Nota-se a personalização no quarto das Figura 16: Vista da sala de espera.
adolescentes. Fonte: AUTORA, 2007.
Fonte: AUTORA, 2007.
[...] todos os ambientes dessa casa são pequenos [...] falta espaço para as questões
práticas, como guardar mantimentos e objetos e para as crianças [e adolescentes] [...]
precisamos de local calmo para estudarem e brincarem em segurança, sem móveis
atravancando [...] espaço para dormirem em segurança, sem beliches [...].
refeitório/sala de estar, que possuía pontos de umidade nas paredes e deteriorações no forro.
No setor íntimo, o piso era de madeira, favorecendo o conforto térmico e no refeitório/sala de
estar, era cerâmico, que é de fácil manutenção, mas prejudicial ao conforto. Nas áreas
molhadas (lavanderia e banheiro), o piso cerâmico era escorregadio, requerendo cuidados
extras dos funcionários, especialmente durante os banhos.
Nas paredes, as pinturas eram nas cores amarelo ou azul, mas a escolha de quais
paredes pintar era aleatória. No hall de entrada e na sala de espera, havia papel de parede com
referências infantis (Figuras 17 e 18). Segundo um dos funcionários,
[...] o papel de parede nesses dois ambientes nos convida a entrar numa casa onde
moram crianças [...] acho que deveria ser em todos os cômodos ou naqueles onde as
crianças ficam, porque o papel de parede serve para decorar, alegrar [...] assim
parece uma sinalização, um alerta aos visitantes [...] e não uma decoração a quem
realmente importa: os abrigados [...] (FUNCIONÁRIO 07).
Figura 17: Hall de entrada, papel de parede e quadro Figura 18: Sala de espera, papel de parede e quadro
com motivos infantis. com motivos infantis.
Fonte: AUTORA, 2007. Fonte: AUTORA, 2007.
menores. Os pontos elétricos e fios dos aparelhos eletrônicos, na maioria dos cômodos,
estavam em fácil acesso e desprotegidos. Nas janelas, apenas o quarto das adolescentes
possuía rede de segurança.
Na dimensão comportamental, é preciso ressaltar que a privacidade é um conceito
em formação até a pré-adolescência. Assim, a privacidade requerida pelos abrigados e
disponibilizada pelos funcionários era referente aos horários distintos de banho para meninos
e meninas. Nos quartos infantis, havia portas (mecanismo regulador da privacidade), mas
raramente eram fechadas, conforme afirmaram os funcionários. No quarto das adolescentes,
porém, fechar a porta era permitido e havia cortinas na janela para regular a privacidade. Nos
setores social e serviço, não foi considerado esse aspecto, mas há uma mesa de estudo na sala
de espera subutilizada pela falta de controle da interação social.
A obtenção de informação interna ou externa ocorria com boas condições em todos
os ambientes. Tal aspecto é fundamental para a saúde física e, principalmente, mental das
crianças e dos adolescentes. Afinal, além de regular o ritmo circadiano, faz com que o
abrigado não se sinta preso e excluído do convívio social.
A territorialidade, fundamental para que se permita a formação do sentido de lugar,
era permitida e incentivada no quarto das adolescentes. No entanto, nos demais ambientes do
setor íntimo, não havia atributos espaciais que a encorajassem. Quaisquer atitudes das
crianças pequenas de atribuírem “propriedade”, seja por um objeto ou um ambiente, eram
repreendidas. Notou-se que os funcionários acreditavam que o compartilhamento era mais
benéfico à socialização e à formação de vínculos afetivos, do que quaisquer atos de posse.
Contudo, mesmo repreendida, havia demarcação do território no setor social
(refeitório/sala de estar e parque infantil). Nesses ambientes, foram observadas demarcações
psicológicas exercidas pelas crianças mais velhas e/ou com maior tempo de internação. As
atitudes de domínio eram na elaboração e condução das brincadeiras, nas escolhas dos
equipamentos do parque infantil e dos lugares à mesa e no sofá.
Na dimensão ambiental, a iluminação natural e artificial eram suficientes em todos
os ambientes. No setor de serviço, a orientação oeste causava desconforto térmico e eram
usados ventiladores de teto e portáteis, mesmo não sendo seguros às crianças menores. O
desconforto acústico, por fim, prejudicava as atividades dos abrigados, que não possuíam um
ambiente calmo para a realização das tarefas escolares, e da Diretora, que recebia
colaboradores e outros profissionais para reuniões.
122
Figura 19: Vista aérea, com destaque para a sede atual da INSTITUIÇÃO.
Fonte: GOOGLE EARTH, 2008.
36
Arquiteto responsável pelo projeto arquitetônico e execução da sede atual da INSTITUIÇÃO em Entrevista
não-estruturada concedida à pesquisadora em 22 out. 2007 (Apêndice D).
123
Figura 20: Planta-baixa da sede atual da INSTITUIÇÃO, com a denominação dos cômodos.
Fonte: AUTORA, 2007.
Figura 21: Vista do quarto das Figura 22: Vista do quarto das Figura 23: Vista do quarto dos
adolescentes. meninas. meninos.
Fonte: AUTORA, 2008. Fonte: AUTORA, 2008. Fonte: AUTORA, 2008.
Figura 24: Vista do berçário, detalhe para o papel de parede e mobiliário idêntico.
Fonte: AUTORA, 2008.
pelo controle coletivo dos abrigados. Com isso, a territorialidade e privacidade, que atribuem
condicionantes comportamentais individuais, são descartadas em prol do atendimento
emergencial eficiente (moradia e alimentação).
Na dimensão ambiental, o banheiro masculino, que possui ventilação indireta, é o
único ambiente com pontos negativos.
[...] aqui na sala [sala de estar da sede atual da INSTITUIÇÃO] tem os sofás, onde
ficam os mais velhos, a área de brincar, tem as mesas onde comemos e fazemos as
tarefas da escola. Cada coisa e atividade têm o seu lugar, a sua função [...]
(JOGADOR 02, JOGO 04).
Durante o Jogo, a identificação das imagens com a realidade dos participantes estava
condicionada à coletividade (característica principal de um abrigo de permanência
continuada) e à freqüência ou não do abrigado naquele ambiente. Assim, os cômodos onde era
impedida a entrada sem supervisão, não eram sequer citados nas conversas (e.g. sala da
diretora).
Para os participantes, a vida pareceu não existir como conceito. Nas conversas,
houve apenas dados de experiências vividas e concretas. A vida ficou ligada ao espaço como
lugar físico, discriminado, diferenciado e conhecido. Assim, quando feitas perguntas sobre
como ocorria determinada ação, a resposta era onde ocorria. O espaço era identificado e
identificava. No entanto, não era uma indicação de posse, mas de referência.
Com relação à área dos ambientes, os participantes não se importaram com
dimensões grandes ou pequenas (Figuras 26 e 27), independente da função à que se
destinavam. Os comentários feitos foram referentes, apenas, aos cuidados que os funcionários
tinham para evitar acidentes nos ambientes pequenos. Conforme alguns participantes,
[...] aqui [sede atual da INSTITUIÇÃO] é maior do que na casa velha [sede antiga
da INSTITUIÇÃO] [...] não que eu me importe [...] mas com mais espaço, as tias
[funcionários] ficam mais tranqüilas, param de chamar nossa atenção (JOGADOR
03, JOGO 02).
tem que tomar mais cuidado para que elas não se machuquem [...] e para nós, que somos
maiores, não há lugares só nossos [...]” (JOGADOR 03, JOGO 05).
Figura 26. Fonte: BUILDING INCLUSIVE, 2006. Figura 27. Fonte: P. CLARK, 2007.
Disponível em: <http://www2.northampton.edu>. Disponível em: <http://www.gettyimages.com>.
Acesso em 12 jun. 2006. Acesso em: 30 ago. 2007.
Figura 28. Fonte: IMAGE SOURCE, 2008. Figura 29. Fonte: ASIA STOCK, 2008.
Disponível em: <http://www.fotosearch.com.br>. Disponível em: <http://www.fotosearch.com.br>.
Acesso em 25 jan. 2008. Acesso em 25 jan. 2008.
[INSTITUIÇÃO], mas não fazemos nada! Apenas devemos guardar os brinquedos depois de
brincar” (JOGADOR 01, JOGO 04); e “[...] na minha casa [casa de origem] eu sempre
ajudava. Sinto falta aqui! Não precisa ser sempre, mas seria legal [...] assim ficaria mais
parecido com uma casa [...]” (JOGADOR 03, JOGO 05).
Figura 31. Fonte: DIGITAL VISION, 2007. Figura 32. Fonte: DIGITAL VISION, 2008.
Disponível em: <http://www.gettyimages.com>. Disponível em: <http://www.gettyimages.com>.
Acesso em: 30 ago. 2007. Acesso em: 30 jan. 2008.
Figura 33. Fonte: ROYALTY FREE, 2008. Figura 34. Fonte: IMAGE BANK, 2008.
Disponível em: <http://www.fotosearch.com.br>. Disponível em: <http://www.gettyimages.com>.
Acesso em 25 jan. 2008. Acesso em: 25 jan. 2008.
Figura 35. Fonte: STOCKBYTE, 2008. Figura 36. Fonte: PRIOR, 2007.
Disponível em: <http://www.gettyimages.com>. Disponível em: <http://www.gettyimages.com>.
Acesso em: 25 jan. 2007. Acesso em: 30 ago. 2007.
[...] é assim que as famílias de verdade são! Você tem espaço para ficar só, mas
numa sala, todos estão juntos! Não precisa nem conversar ou fazer coisas juntos,
mas só estando no mesmo lugar, a sensação é de apoio [...] (JOGADOR 04, JOGO
04).
[...] essa mesa cheia, isso é uma família! Um lugar onde estão todos juntos, é um
lugar onde todos são donos [...] cada um pode fazer o que quiser [...] mas todos
juntos, como numa família de verdade [...] (JOGADOR 01, JOGO 05).
131
Figura 37. Fonte: BANANA STOCK, 2008. Figura 38. Fonte: C. E., 2007.
Disponível em: <http://www.fotosearch.com.br>. Disponível em: <http://www.gettyimages.com>.
cesso em 25 jan. 2008. Acesso em: 12 dez. 2007.
Figura 40. Fonte: DIGITAL VISION, 2008. Figura 41. Fonte: BURCHAM, 2007.
Disponível em: <http://www.gettyimages.com>. Disponível em: <http://www.gettyimages.com>.
Acesso em: 30 jan. 2008. Acesso em: 30 ago. 2007.
há diretrizes sugeridas, são apenas citados. Ressalva-se que essa dissertação não esgota a
questão e ainda há muito o quê pesquisar. A seguir estão as diretrizes projetuais sugeridas.
Artigo 92. As entidades que desenvolvam programas de abrigo deverão adotar os
seguintes princípios:
I - preservação dos vínculos familiares;
São as visitas que, durante o período de abrigamento, preservam os vínculos
familiares, mas segundo a Diretora da INSTITUIÇÃO, não há espaço físico na maior parte
dos abrigos para que a visitação ocorra sem constrangimentos ou receios. E em alguns casos,
é necessário que se “ensine” como devem ocorrer esses reencontros. Então, é necessário que o
abrigo de permanência continuada disponha de mecanismos, entre eles, espaço físico, para
acolher os abrigados e suas famílias durante os encontros.
É fundamental que haja semelhança com um lar, porque a casa remete à sensação de
aconchego e não intimida, como abordou o subcapítulo 4.5. Assim, a decoração não deve
possuir quaisquer indicações de ordem administrativa. O espaço deve ser integrado e possuir
dimensão suficiente para uma pequena cozinha, sala de estar e um banheiro. O layout deve ser
versátil, com mobiliário confortável e convidativo às atividades terapêuticas longas ou a
períodos de reunião, brincadeiras e realização, inclusive, de tarefas escolares e refeições. Na
sala, é necessário mobiliário adequado para acomodação dos familiares e de seus pertences
durante as visitas e para que atividades coletivas e individuais ocorram simultaneamente. A
cozinha deve ser equipada para refeições rápidas, com eletrodomésticos básicos. Isso
permitiria a recuperação ou o ensino de ações cotidianas fundamentais para a preservação dos
vínculos familiares, tais como o companheirismo e a ajuda mútua, como visto no capítulo 3.
Essa infra-estrutura pode ser separada ou não do abrigo de permanência continuada,
mas é necessário que seja um ambiente calmo, com pouca ou nenhuma circulação de pessoas
e que disponha de mecanismos para privacidade, evitando o constrangimento que ocorre na
maior parte das visitas familiares, como foi observado durante o estudo de caso realizado.
No entanto, para a segurança das crianças e dos adolescentes, é importante que a
privacidade seja vigiada. Assim, sugere-se a colocação de portas à meia altura, com visores de
vidro transparente e que haja janelas de vidro espelhado, para que o corpo psicopedagógico
possa acompanhar as visitas sem serem vistos. Este mecanismo é muito comum em
atendimentos psicológicos. Também, esses ambientes não devem ser afastados das áreas
sociais e de serviço.
É importante ressaltar que esse ambiente auxiliaria no retorno da criança ou do
adolescente abrigado à família de origem - conclusão ideal dos casos de vulnerabilidade social
137
37
A NBR 9050, cujo título é Acessibilidade a Meios, Edificações, Mobiliário, Espaços e Equipamentos Urbanos,
é uma norma brasileira publicada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Criada em 1983, a
última revisão da norma foi em 2004.
139
num canto da sala, por exemplo) ou externos (um banco sob uma árvore) para que o abrigado
escolha a permanência só ou em grupo reduzido, evitando a coletividade.
Nos quartos, é importante que se incentive a realização de outras atividades além de
repousar. Porque o quarto, como citado, é um dos primeiros territórios de domínio da criança
e do adolescente e no abrigo de permanência continuada, é o ambiente no qual a coletividade
pode ser menos latente. Para isso, cada abrigado deve dispor de leito individual, local para
guardar roupas e objetos pessoais e para vestir-se. É importante que haja penteadeira,
prateleira, cômoda e/ou criado-mudo individual e ao lado dos leitos, permitindo a apropriação
e personalização com objetos pessoais. É interessante, também, uma mesa de estudos ou
escrivaninha para que algumas atividades escolares sejam realizadas no quarto. Sugere-se a
colocação de espelhos para preservação da imagem. Evitando a padronização, é interessante
que os cômodos tenham cores de acabamentos e decoração variadas, conforme o sexo e a
faixa etária. Ainda, na ausência de recomendações acerca do número de usuários por cômodo,
recomenda-se, baseado nas pesquisas realizadas, a acomodação máxima de quatro pessoas por
dormitório, com a separação por sexo e idade.
Para evitar que se estipulem horários rigorosos para a higiene pessoal, os banheiros
devem ser divididos por sexo e compartimentados, com o vaso sanitário separado da pia. A
privacidade é desejada, mas a vigilância é necessária porque usar o toalete, por exemplo, é
uma prática recém-aprendida pela maioria dos abrigados. Assim, devem ser instaladas portas
curtas nas cabines sanitárias, que permitem ao adulto o monitoramento das atividades. Nos
banheiros, os cuidados com a acessibilidade, como sugerido, permitirão ainda, que um adulto
auxilie uma criança durante a higiene pessoal, se necessário. Cuidados referentes à dimensão
infantil e adulta também devem ser tomados, para aumentar a independência dos abrigados e
diminuir a carga sobre os funcionários e o risco de acidentes.
Verificou-se, através das observações sistemáticas, que: quanto mais aberta e
indefinida a estruturação do espaço, menores são as interações entre os abrigados. Assim, o
setor social deve ter organização espacial bem definida. Isso pode ocorrer com os
acabamentos, objetos e mobiliário. Por exemplo, com o piso colorido na área de brincar; na
área de refeições, pela disposição das mesas e cadeiras; na de entretenimento, com os sofás ou
outros móveis, como prateleiras cheias de brinquedos e livros. Assim, o setor social é
integrado, mas as atividades são facilmente reconhecidas, e os abrigados definem os seus
lugares preferidos no ambiente mais coletivo do abrigo.
No setor social, a importância dos ambientes integrados só deve ser descartada para a
sala de estudos, fundamental para os abrigos de permanência continuada em função da ampla
140
faixa etária atendida. Essa deve dispor de mobília confortável, uma variedade de escolhas de
assento (cadeiras, pufes, poltronas e sofás) e condições de conforto ambiental (lumínico,
térmico e acústico) adequadas para atividades diurnas e noturnas. Ao contrário do que fora
sugerido no Jogo, mas considerando as Observações realizadas no estudo de caso, sugere-se
que haja mobiliário infantil e adulto. A sala de estudos segue as sugestões dadas, para que o
mobiliário permita a apropriação e personalização.
Todos os materiais de acabamento arquitetônico e o mobiliário devem atender aos
aspectos de segurança estabelecidos pelos órgãos responsáveis (e.g. ABNT e INMETRO). As
aberturas não devem ser demasiadamente pesadas, devem possuir fechaduras de fácil
manuseio e mecanismos que evitem o trancamento. As janelas podem possuir peitoril mais
baixo, o que permitirá a visualização externa, mas os caixilhos devem ser fixos e possuírem
redes de segurança.
O mobiliário deve atender as necessidades funcionais e de segurança, ser durável e
de fácil manutenção, visualização, compreensão e uso. Deve ser executado em material
atóxico e sem cantos vivos, que podem provocar injúrias. Armários, cômodas e estantes
devem ser fixados no chão e nas paredes, para evitar tombamentos. Todas as gavetas e portas
devem possuir mecanismos de trava de segurança. Deve ser evitada a colocação de mobiliário
próximo às janelas e o uso de beliches. Se esses forem necessários, devem possuir grades de
proteção lateral e escada para auxiliar o acesso à cama superior.
Na decoração, devem ser evitados objetos tóxicos, frágeis e cortantes. Para evitar o
uso de tapetes, visto que podem provocar tropeços e acidentes, recomenda-se o uso do piso de
madeira ou vinílico e nas áreas molhadas, o piso deve ser antiderrapante.
Também com relação à segurança nos ambientes, os pontos elétricos e fios de
aparelhos eletrônicos devem ser embutidos ou camuflados. Caso não seja possível, é
importante a colocação de protetores plásticos nos pontos elétricos.
Por fim, devem ser tomados outros cuidados, considerando as determinações do
Corpo de Bombeiros, da Vigilância Sanitária e de outros órgãos de classe para as edificações
e do INMETRO, da ABNT e de ONGs (e.g. Criança Segura) que trabalham com segurança
doméstica. Afinal, mesmo diminuindo o número de abrigados e aumentando o de
funcionários, a probabilidade de algum acidente ainda é muito grande.
Para que o atendimento seja personalizado e não haja (ou se minimize) o
preconceito, é importante também, que a Arquitetura do abrigo acompanhe os padrões
socioeconômicos do entorno urbano no qual está inserido. Desaconselha-se quaisquer
identificações na fachada, em veículos ou noutros equipamentos que façam menção à natureza
141
saúde), transporte público, educação (escola e creche) e lazer (quadras esportivas e praças),
conforme a realidade da comunidade.
Os gestores dos abrigos devem incentivar que os abrigados tenham amigos e vida
social fora do perímetro do abrigo, que desfrutem das oportunidades de entretenimento,
cultura e esportes e tenham liberdade para convidar os amigos para visitas ao abrigo.
VIII - preparação gradativa para o desligamento;
IX - participação de pessoas da comunidade no processo educativo.
As visitas de voluntários têm o papel de incluir socialmente as crianças e os
adolescentes. É importante, portanto, que o abrigo disponha de um cadastro de voluntários e
de espaço físico interno e externo para as atividades desenvolvidas.
Na área externa, para atividades como a prática de esportes, o abrigo deve dispor de
piso regularizado (de preferência ter uma parte gramada e outra pavimentada, para facilitar o
acesso do todos os tipos de usuários) e com condições de acessibilidade. Para a área interna,
principalmente nas atividades artísticas, culturais e lúdicas, é interessante que haja mobiliário
flexível e confortável.
A sala de estudos, sugerida anteriormente, pode ser utilizada para as atividades de
voluntariado, porque possui mobiliário adequado e não interrompe a rotina do abrigo. Assim,
os abrigados poderão optar pela participação ou não.
143
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
mesma forma que quaisquer outras pessoas, representa uma barreira ao relacionamento social.
Quanto ao estudo de caso, o intuito era levantar, onde fossem possíveis, aspectos
arquitetônicos positivos e negativos no estudo de caso, com base no Estatuto da Criança e do
Adolescente e na Psicologia Ambiental. Para isso, foi necessária a utilização de instrumentos
metodológicos que se complementaram de forma lógica e estratégica, alcançando o objetivo
esperado. Obviamente, cada instrumento teve suas vantagens e desvantagens, que foram
lapidadas ao longo da pesquisa.
O primeiro instrumento – observação assistemática – serviu não apenas para o
reconhecimento da INSTITUIÇÃO do estudo de caso, mas para a identificação das atividades
cotidianas e para permitir que as crianças e os adolescentes abrigados se acostumassem com a
presença da pesquisadora. Após a adaptação, a observação sistemática foi aplicada sob a
condição de controle – periodicidade - e registrou fatos e fenômenos referentes à dimensão
comportamental, além de determinar os critérios da planilha de observação arquitetônica. As
entrevistas não-estruturadas complementaram as informações coletadas, fazendo a Leitura
Espacial das condições ambientais das sedes da INSTITUIÇÃO.
A aplicação dessa seqüência de instrumentos, no estudo de caso, permitiu a
constatação de que as políticas de atenção às crianças e aos adolescentes devem atentar para a
estrutura física das entidades de atendimento. Não somente no sentido de medir a eficiência
dos metros quadrados construídos ou do valor agregado das benfeitorias espaciais, mas
prevendo que o ambiente ideal para acolher provisoriamente crianças e adolescentes em
situação de vulnerabilidade social pode ser encontrado na simplicidade do lar, onde cada
abrigado tem espaço para desenvolver as atividades comuns à sua faixa etária e expressar-se
individualmente. Afinal, essas instituições são substitutas na falta da família e respondem
analogamente, porque (re)formam os valores de cidadania.
Durante a revisão de literatura e posteriormente, no estudo de caso, constatou-se a
dificuldade das crianças e dos adolescentes em verbalizar seus sentimentos e opiniões,
principalmente acerca do ambiente no qual vivem. Para vencer a dificuldade de acesso a esse
público e coletar informações de fonte primária, objetivou-se definir um instrumento, ou
instrumentos, para coletar informações de crianças e adolescentes em situação de
vulnerabilidade social e medida de abrigamento, visando analisar quais aspectos do
ambiente físico fossem mais relevantes na ambiência de um abrigo de permanência
continuada como um lar.
O instrumento escolhido foi o Jogo de Imagens e Palavras. Durante os Jogos, quando
apresentadas as imagens, os participantes imediatamente iniciavam a seleção, mostrando
146
grande interesse em participar e expor suas opiniões. É claro que foram necessárias
adaptações ao longo da pesquisa, principalmente na escolha das imagens e na seleção dos
participantes. Porém, foram realizados Jogos suficientes para identificarem opiniões
relevantes acerca dos aspectos positivos e negativos do estudo de caso e das melhorias e/ou
modificações no ambiente.
A combinação entre revisão de literatura e os instrumentos metodológicos aplicados
no estudo de caso permitiram a compreensão de uma nova e possível forma de funcionamento
dos abrigos de permanência continuada. Onde se considera a possibilidade de organização
semelhante ao ambiente familiar, possibilitando uma condição para a formação de vínculos
afetivos entre as pessoas e com o ambiente e constituindo um contexto de desenvolvimento,
que favorece a socialização.
Com as ricas informações obtidas, foi possível propor critérios e diretrizes referentes
não apenas aos aspectos legais, mas também psicossociais, fundamentais para o
desenvolvimento sadio e pleno e para promoção da qualidade de vida das crianças e dos
adolescentes durante o período de abrigamento, alcançando, portanto, o objetivo principal da
pesquisa.
Vale ressaltar que essa dissertação não pretendeu, de forma alguma, desqualificar a
INSTITUIÇÃO ou outras tantas que ainda não estejam adequadas segundo os critérios e
diretrizes aqui elaborados. Muitas delas foram aprovadas segundo a legislação de obras e
edificações existente em seus municípios e estão registradas nos conselhos municipais de
direitos das crianças e dos adolescentes, da maneira como são. Isso indica que as alterações
dessa ordem não dependem exclusivamente da iniciativa isolada e sim, de uma ação conjunta,
como a que marcou a aprovação do ECA.
Por fim, espera-se que essa pesquisa, além de contribuir para o (re)planejamento de
abrigos de permanência continuada, seja também, um estímulo ao desenvolvimento de novas
investigações arquitetônicas relacionadas a institucionalização, em especial ao abrigamento, e
que a combinação dos instrumentos metodológicos possa colaborar para novas pesquisas com
públicos de difícil acesso para coleta de informações diretas.
vários os enfoques que podem ser dados e um estudo realizado sempre abre espaço ao
desdobramento de novas pesquisas e projetos.
A necessidade de mudanças da realidade do abrigamento mostrou-se evidente e é
fundamental trabalhar na melhoria desses ambientes, porque as conseqüências da
institucionalização são notadas no desenvolvimento e principalmente, na sociabilidade das
crianças e dos adolescentes abrigados.
Nessa dissertação, desejou-se aprofundar as questões referentes ao comportamento
espacial de crianças e adolescentes em abrigos de permanência continuada, mas se sabe que
há ainda, diversos aspectos a serem pesquisados e complementados. Portanto, cabe sugerir
algumas (mas não todas) investigações relacionadas ao tema em questão e vistas como
importantes durante o desenvolvimento deste trabalho. São elas:
a) a realização de pesquisas em outras grandes áreas do conhecimento para
discriminação das necessidades ao crescimento e desenvolvimento saudável e pleno
de crianças e adolescentes em medida de abrigamento;
b) a realização de pesquisas similares em outras formas de aplicação da medida de
abrigamento, inclusive nas casas-lares, que são as unidades mais próximas do ideal
sugerido ao longo dessa dissertação;
c) para complementar o estudo de caso realizado, sugere-se uma pesquisa das
interfaces da institucionalização, em especial da medida de abrigamento, com os
aspectos sociais urbanos;
d) a aplicação do método Jogo de Imagens e Palavras com o mesmo público, mas
abordando outras dimensões, tais como a sensorial, fundamental para facilitar e
promover o desenvolvimento psicológico e cognitivo;
e) avaliação da dimensão ambiental com instrumentos metodológicos
quantitativos e não apenas qualitativos, como foi realizado nessa dissertação;
f) comparar as pesquisas brasileiras referentes ao tema, inclusive essa dissertação,
com as realizadas em outros países, confrontando assim as diferentes realidades;
g) com a realização das sugestões acima e a complementação com outras
pesquisas, sugere-se o desenvolvimento de um instrumento de metodologia para
avaliação de abrigos de permanência continuada para crianças e adolescentes em
situação de vulnerabilidade social.
148
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154
2 – Dimensão Comportamental
a) Privacidade e Interação:
a.1) a atratividade do elemento de integração (dimensão e conforto): As meninas passam a maior parte
do dia nesse quarto.
a.2) a existência de reguladores espaciais: A porta é de vidro; Há cortinas na janela; Há permissão para
fechar a porta, mas não trancar.
b) Informação:
b.1) informação do exterior (fenômenos meteorológicos, dia/noite, fatos corriqueiros do entorno):
JANELA – difícil acesso, porque há móveis na frente.
b.2) distinção da temperatura externa: OK.
b.3) mecanismos de controle da entrada de estímulos visuais, olfativos e/ou auditivos: porta de vidro –
janela com cortina – afastado dos outros cômodos do abrigo.
c) Territorialidade: Apropriação do espaço com fotos das meninas, objetos de estimação. As meninas são
responsáveis por arrumar o quarto. INSTITUIÇÃO INCENTIVA A PERSONALIZAÇÃO.
3 – Dimensão Ambiental
a) Condições de Iluminação: Quarto bem claro, orientação sul, iluminação artificial pontual (parece
atender à função.
b) Condições de Conforto Térmico: POSSUI AR-CONDICIONADO. Ventilação natural satisfatória quando
abertas a janela e a porta.
c) Condições de Conforto Acústico: Quarto voltado para a rua de acesso principal. Movimento moderado
do tráfego. Cômodo distante dos demais da INSTITUIÇÃO. Condições de conforto aparentemente boas.
OBSERVAÇÕES
3) vinculação/orientação religiosa;
Aqui não possuímos nenhuma orientação religiosa, mas somos todos [funcionários] católicos
praticantes e isso faz com que as crianças e os adolescentes se interessem pelos ritos e
atividades aos quais participamos. No entanto, há adolescentes, principalmente, que possuem
outras religiões e nós estimulamos que sejam preservadas e, algumas vezes, os
acompanhamos nos cultos. As palavras de Deus são também proferidas durante algumas
sessões de terapia, nada que faça referência há religiões específicas, apenas os sentimentos
de paz, amor e fraternidade.
4) regime de permanência (podem visitar as famílias, realizam atividades fora, quais e por
quê);
Nós incentivamos a participação como sujeito ativo, protagonista da sua própria história [...]
As crianças e os adolescentes vão à escola todos os dias. Nós as levamos de carro quando
pequenas e algumas vão a pé [...] A saúde é atendida nos postos municipais e nos hospitais,
ou ainda, em consultórios particulares dos nossos voluntários. O lazer é feito aqui no abrigo.
As crianças menores brincam no nosso parque infantil, sempre ‘montamos’ um playground e
até uma piscina plástica no verão. [...] algumas vezes somos convidados a visitar pontos
turísticos da região e vamos com todas as crianças de ônibus. [...] os adolescentes também
podem ir ao cinema, mas sempre com algum funcionário acompanhando [...] temos a guarda
dessas crianças e adolescentes e responsabilidade sobre as ações deles. Por isso, não
podemos deixá-los sós. [...] O abrigamento tem que ter um programa, não é simplesmente um
corredor de espera. O tempo pode ser curto, mas dois ou três meses na vida de uma criança
ou de um adolescente é muito longo [...] imagine-se esperando, com a vida suspensa [...]
quais os planos e os sonhos que você pode criar e realizar assim? [...].
deficiência motora nessa sede [sede antiga], mas nos preocupamos com isso no projeto da
sede nova [sede atual]. Quando atendemos crianças com deficiências cognitivas, pedimos
auxílio da APAE [Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais]. Eles buscavam a criança
e levam-na para as atividades [...] Nós também recebemos aulas [na APAE] para sabermos
como cuidar melhor dela.
11) quem encaminha para a INSTITUIÇÃO (conselho tutelar, juizado, Ministério Público);
Na maioria das vezes é o Conselho Tutelar e o Juizado da Infância e Juventude. É o Juiz
quem determina tudo: a internação, o tempo, o retorno para a família de origem e a adoção.
Nós cumprimos as ordens. Claro que em algumas audiências nós [INSTITUIÇÃO]
interferimos, expomos nossa opinião acerca da decisão, mas a decisão final acerca do
destino da criança e do adolescente é da Justiça.
“[...] todos os ambientes dessa casa são pequenos [...] nos falta espaço para as questões
práticas como guardar os mantimentos e objetos das crianças [e dos adolescentes] [...] e
precisamos de local calmo para elas estudarem, local para brincarem em segurança, sem
móveis atravancando o espaço [...] espaço para elas dormirem em segurança, sem beliches
[...]” (em conversa durante a apresentação da INSTITUIÇÃO).
ENTREVISTADO: Arquiteto
LOCAL DA ENTREVISTA: sede atual da INSTITUIÇÃO
DATA: 22/10/2007. Início da entrevista: 14h00min Término da entrevista: 14h40min
3) materiais utilizados;
Eu especifiquei os materiais utilizados na obra. No entanto, a escolha foi muito mais por
questões financeiras, do que quaisquer outros motivos. Desde as telhas até as cerâmicas,
tudo foi pensado a partir da possibilidade de se conseguir em doações.
3) No parágrafo único do artigo 91, cita-se que será negado o registro à entidade que “não
ofereça instalações físicas em condições adequadas de habitabilidade, higiene, salubridade e
segurança”. O que se entende por habitabilidade?
Não só o Estatuto, mas as Legislações brasileiras, ambas desenham o ideal. Mas esse nem
sempre é o real. [...] Hoje a idéia de abrigo é que ele atenda poucas crianças, num sistema
familiar, não mais o modelo de grandes abrigos com 50 ou 60 abrigados. O modelo ideal são
casas com 5 até 10 crianças, onde haja o respeito às condições citadas [pelo artigo 91] [...]
Este conceito de habitabilidade é extremamente amplo e aberto. O que a gente [Poder
Judiciário] quer é um ambiente sadio.
5) Quando as crianças brincam num grupo maior, como elas se separam (por idade,
167
afinidade)?
Elas [as crianças] brincam juntas e estipulam quem vai desempenhar os papéis no faz-de-
conta. [...] As brigas ocorrem, mas são rápidas, logo as crianças brincam juntas novamente.
[...] As brigas são, geralmente, porque alguém não fez o quê foi pedido ou combinado. [...]
Quanto à exclusão, é difícil uma criança chegar aqui [INSTITUIÇÃO] e ser excluída por
alguma coisa.
AMBIENTE CALMO
Dimensão Comportamental:
Comportamento individual; Contexto ambiental
(motivos infantis; brinquedos e aparelho eletrônico;
sensação de conforto).
Dimensão Ambiental:
Fonte: ROYALTY FREE, 2008. Aparência de conforto lumínico, térmico e acústico
Disponível em: <http://www.fotosearch.com.br>. (aparente silêncio).
Acesso em: 25 jan. 2008.
AMBIENTE AGITADO
Dimensão Comportamental:
Relação social (alegria e companheirismo; adulto
contando história para criança); Contexto ambiental
(bem conservado).
Dimensão Ambiental:
Fonte: PEISL, 2007. Aparência de conforto térmico (cobertas e roupas
Disponível em: <http://www.gettyimages.com>. adequadas), ambiente escuro e possibilidade de
Acesso em: 30 ago. 2007. barulho, porque as crianças estão reunidas.
AMBIENTE FECHADO
Dimensão Comportamental:
Relação social (adultos interagindo com as crianças);
Contexto ambiental (bem conservado).
Dimensão Ambiental:
Aparência de conforto lumínico (ambiente claro) e
Fonte: DIGITAL VISION, 2008. térmico e possibilidade de conversa em volume normal
Disponível em: <http://www.fotosearch.com.br>. de voz entre os adultos e as crianças.
Acesso em: 25 jan. 2008.
AMBIENTE COM MUITA INFORMAÇÃO
Dimensão Comportamental:
Comportamento individual (pensativo); Contexto
ambiental (muitos objetos com motivos infanto-
juvenis; sensação de conforto e propriedade sobre o
espaço).
Fonte: DIGITAL VISION, 2008. Dimensão Ambiental:
Disponível em: <http://www.fotosearch.com.br>. Aparência de conforto lumínico, térmico e acústico.
Acesso em: 25 jan. 2008.
AMBIENTE COM POUCA INFORMAÇÃO
Dimensão Comportamental:
Comportamento individual (pensativo, ouvir música e
brincar com a bola); Contexto ambiental (motivos
infanto-juvenis; sensação de conforto e propriedade
sobre o espaço).
Fonte: STOCKBYTE, 2008. Dimensão Ambiental:
Disponível em: <http://www.gettyimages.com>. Aparência de conforto lumínico, térmico e acústico.
Acesso em: 25 jan. 2007.
AMBIENTE COM ILUMINAÇÃO NATURAL
Dimensão Comportamental:
Relação social (alimentação; companheirismo e
alegria); Contexto ambiental (bem conservado).
Dimensão Ambiental:
Aparência de conforto lumínico, térmico e
Fonte: IMAGE BANK, 2008. possibilidade de conversa em volume normal de voz
Disponível em: <http://www.gettyimages.com>. entre as crianças.
Acesso em: 25 jan. 2008.
AMBIENTE COM ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL
Dimensão Comportamental:
Relação social (companheirismo e alegria); Contexto
ambiental (bem conservado).
Dimensão Ambiental:
Aparência de conforto lumínico, térmico e
Fonte: DESIGN PICS, 2008. possibilidade de conversa em volume normal de voz
170
AMBIENTE ORDENADO
Dimensão Comportamental:
Relação social (crianças arrumando e conversando;
companheirismo); Contexto ambiental (bem
conservado).
Dimensão Ambiental:
Fonte: STOCKBYTE, 2008. Aparência de conforto lumínico e térmico e
Disponível em: <http://www.gettyimages.com>. possibilidade de conversa em tom normal de voz entre
Acesso em: 25 jan. 2007. as crianças.
AMBIENTE DESORDENADO
Dimensão Comportamental:
Comportamento individual (confusão); Contexto
ambiental (desordem, mas boa conservação dos
objetos e mobiliário).
Dimensão Ambiental:
Fonte: SARTORE, 2007. Aparência de conforto lumínico, térmico e acústico.
Disponível em: <http://www.gettyimages.com>.
Acesso em: 30 ago. 2007.
173
Planta-baixa com destaque para o quarto das adolescentes. Planta-baixa do quarto das adolescentes com layout.
Fonte: AUTORA, 2008. Fonte: AUTORA, 2008.
Sede Avaliação Análise
☺
Função Antiga Quarto com 4 leitos, para as adolescentes do sexo feminino a partir
do 10 anos, ou conforme a demanda. Usado para repousar, assistir
televisão, brincar, ouvir música e estudar.
Atual Quarto com 5 leitos, para acolher o mesmo perfil. Usado para dormir.
Área e Layout Antiga ☺ A área de 19,75 m² (5,20 x 3,80 metros) era suficiente às atividades.
O layout prejudicava o acesso à janela e o uso dos armários.
Atual ☺ A área de 19,40 m² (4,00 x 4,85 metros) é suficiente às atividades. O
layout prejudica a circulação entre as camas.
Acabamentos e Antiga ☺ Os acabamentos e o mobiliário apresentavam-se bem conservados,
CATEGORIA FÍSICA
Planta-baixa com destaque para o quarto das meninas. Planta-baixa do quarto das meninas com layout.
Fonte: AUTORA, 2007. Fonte: AUTORA, 2007.
Sede Atual
Planta-baixa com destaque para o quarto das meninas. Planta-baixa do quarto das meninas com layout.
Fonte: AUTORA, 2008. Fonte: AUTORA, 2008.
175
BANHEIROS (continua)
Sede Antiga
Planta-baixa com destaque para os banheiros. Planta-baixa dos banheiros com layout.
Fonte: AUTORA, 2008. Fonte: AUTORA, 2008.
Sede Avaliação Análise
☺
Função Antiga Atendia aos funcionários, abrigados e visitantes.
Atual Há dois banheiros, um feminino e outro masculino. Ambos são de
uso exclusivo dos abrigados. Ressalva-se que há outros banheiros
para os funcionários, berçário e visitantes.
Área e Layout Antiga A área de 9,10 m² (1,05 m² cada cabine) era insuficiente para as
atividades. Não havia nenhuma cabine adaptada para deficientes,
mas a INSTITUIÇÃO, freqüentemente, atendia esse perfil.
Atual ☺ Cada banheiro possui 10,20 m², sendo suficiente para as atividades.
Novamente, não há cabines adaptadas.
CATEGORIA FÍSICA
BANHEIROS (conclusão)
Sede Avaliação Análise
☺
Atual Idêntico a sede antiga, a exceção está na divisão por sexo.
Informação Antiga Item não considerado porque é um ambiente de curta permanência.
Atual Item não considerado porque é um ambiente de curta permanência.
Territorialidade Antiga ☺ Os abrigados possuíam um armário com objetos pessoais,
identificados por cores e iniciais dos nomes.
Atual ☺ Utiliza-se o mesmo sistema da sede antiga.
Funcionários Antiga “[...] os banheiros não são divididos por sexo, por isso, quando as
ou Arquiteto adolescentes tomam banho, nós controlamos a entrada e a saída,
para que elas se tenham mais privacidade” (FUNCIONÁRIO 02).
Atual ☺ “[...] considerei o público diversificado” (ARQUITETO).
Conforto Antiga ☺ Condições adequadas de conforto.
lumínico Atual A iluminação natural não é satisfatória. É necessária a luz artificial
em qualquer parte do dia. Essa é pontual e atende à função.
DIMENSÃO AMBIENTAL
COZINHA (continua)
Sede Antiga
COZINHA (conclusão)
Sede Avaliação Análise
☺
Função Antiga Destinava-se ao preparo das refeições servidas na INSTITUIÇÃO,
além de servir de circulação entre o refeitório/sala de estar e o setor
íntimo.
Atual Destina-se ao preparo das refeições servidas na INSTITUIÇÃO.
Área e Layout Antiga A área de 11 m² (4,40 x 2,50 metros) era insuficiente para as
atividades.
Atual ☺ A área de 15,5 m² (3,20 x 4,85 metros) é suficiente para as
atividades, porque há uma despensa anexa onde são guardados os
CATEGORIA FÍSICA
mantimentos e utensílios.
Acabamentos e Antiga ☺ Os acabamentos e o mobiliário estavam em bom estado de
mobiliário conservação.
Atual ☺ Os acabamentos e o mobiliário estão em bom estado de conservação.
Segurança Antiga Ponto positivo: botijão localizado no ambiente externo.
Pontos negativos: ausência de detector de gases; mobiliário sem
quinas arredondadas e travas de segurança; e pontos elétricos de
fácil acesso.
Atual Idêntico a sede antiga.
Funcionários Antiga “A cozinha é pequena para a quantidade de refeições que servimos.
ou Arquiteto Acho que deveria ter mais armários, uma bancada e duas pias”
(FUNCIONÁRIO 04).
Atual ☺ “[...] a cozinha deveria ter espaço suficiente para o preparo de
alimentos e lavagem da louça [...] ela deveria ser próxima dos
demais ambientes de serviço, para funcionalidade” (ARQUITETO).
Privacidade Antiga Esse item não foi considerado na Leitura Espacial da cozinha.
Atual Esse item não foi considerado na Leitura Espacial da cozinha.
Informação Antiga Possibilidade de coletar informações do entorno imediato, mas o
COMPORTAMENTAL
☺
controle era exclusivo dos funcionários.
Atual ☺ Idêntico a sede antiga.
Territorialidade Antiga Esse item não foi considerado na Leitura Espacial da cozinha.
Atual Esse item não foi considerado na Leitura Espacial da cozinha.
Funcionários Antiga “[...] temos muito conflito com a cozinha porque ela divide a casa,
ou Arquiteto as crianças precisam passar por aqui [...] e isso faz com que
coloquemos as grades de madeira que impedem os pequenos de
passarem sem a nossa autorização” (FUNCIONÁRIO 01).
Atual Esse item não foi considerado pelo Arquiteto no projeto.
Conforto Antiga ☺ Condições adequadas de conforto.
lumínico Atual Idêntico a sede antiga.
☺
DIMENSÃO AMBIENTAL
Planta-baixa com destaque para o refeitório/sala de estar. Planta-baixa do refeitório/sala de estar com layout.
Fonte: AUTORA, 2007. Fonte: AUTORA, 2007.
Sede Atual
Planta-baixa com destaque para o refeitório/sala de estar. Planta-baixa do refeitório/sala de estar com layout.
Fonte: AUTORA, 2008. Fonte: AUTORA, 2008.
ambiente.
Acabamentos e Antiga Os acabamentos e o mobiliário (à exceção das mesas) estavam
mobiliário avariados.
Atual ☺ Os acabamentos e o mobiliário estão em bom estado de conservação.
Segurança Antiga ☺ Ponto positivo: grades de segurança removíveis nas portas.
Pontos negativos: mobiliário sem quinas arredondadas, travas de
segurança e fixação na parede ou no chão; objetos de decoração
frágeis; almofadas com espuma de consistência mole; e pontos
elétricos desprotegidos.
Atual ☺ Ponto positivo: dispositivos plásticos de proteção nos pontos
elétricos.
Pontos negativos: idênticos a sede antiga.
Funcionários Antiga “[...] aqui as condições dos materiais [acabamentos] estão muito
ou Arquiteto ruins. [...] os móveis também não são adequados [...]”
(FUNCIONÁRIO 02).
Atual ☺ “[...] Na sala, foi preciso colocar acabamentos que priorizassem a
manutenção fácil [...] O partido foi as aberturas, para integrarem o
ambiente interno e externo” (ARQUITETO).
180
1) Título da Pesquisa:
Abrigo ou lar? Um olhar arquitetônico sobre os abrigos de permanência continuada para crianças e
adolescentes em situação de vulnerabilidade social.
2) Descrição:
Esta pesquisa é realizada pela pesquisadora responsável/orientadora Marta Dischinger e pela
pesquisadora principal/orientanda Aline Eyng Savi junto ao Programa de Pós-graduação em Arquitetura e
Urbanismo (Pós-ARQ) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na linha de pesquisa Planejamento e
Projeto de Arquitetura, como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
2.2) Objetivos:
A pesquisa tem com objetivo geral: Definir critérios e diretrizes projetuais na concepção de abrigos
de permanência continuada, que garantam e permitam às crianças e aos adolescentes em situação de
vulnerabilidade social e medida de abrigamento a apropriação espacial harmônica sob os aspectos legal - lar
provisório - e psicossocial – qualidade de vida.
Florianópolis, __/__/____.
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Pesquisador principal/orientando: Aline Eyng Savi
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Entrevistado (nome legível) / Entrevistado (assinatura)