Cartografia Social e Etnomapeamento Com Comunidades Tradicionais Localizadas Nos Rios Trombetas e Mapuera, Amazônia Oriental, Brasil
Cartografia Social e Etnomapeamento Com Comunidades Tradicionais Localizadas Nos Rios Trombetas e Mapuera, Amazônia Oriental, Brasil
Cartografia Social e Etnomapeamento Com Comunidades Tradicionais Localizadas Nos Rios Trombetas e Mapuera, Amazônia Oriental, Brasil
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo apresentar o projeto de cartografia social e
etnomapeamento realizado nas comunidades quilombolas ribeirinhas do rio Trombetas e aldeias
indígenas do rio Mapuera, ambos situados no município de Oriximiná, noroeste do Estado do
Pará, dentro da Amazônia Oriental. Este projeto é um dos eixos de trabalho do Programa
Geogafia da Produção Alimentar vinculado a Universidade Federal Fluminense. Tal programa
atua nestas localidades com o intuito de promover a soberania alimentar e fornecer ferramentas
fundamentais para autonomia destes povos.
Introdução
O descaso com estes povos é histórico. Apenas mais recentemente, sobretudo a partir
da luta dos seringueiros do Acre, comandada por Chico Mendes entre as décadas 1970/80, que
estes estão aparecendo para o mundo, com o surgimento de vários movimentos sociais que
lutam por direitos e autonomia em relação as tradicionais classes dominantes. A internet aparece
também como aliada nessa luta, permitindo a difusão das demandas e reivindicações desses
grupos no cenário nacional e internacional, como forma de pressionar o governo.
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universidade possui uma unidade avançada na cidade de Oriximiná, a UAJV (Unidade Avançada
José Veríssimo).
Com isso, o intuito deste artigo é apresentar o trabalho realizado por este projeto e, além
disso, busca também trazer discussões relevantes para o entendimento e aprofundamento da
questão territorial de povos tradicionais na floresta amazônica.
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comunidades normalmente têm uma longa história de ocupação sobre os
espaços em que vivem, a qual se expressa numa relação de ancestralidade,
memória e sentido de pertencimento a um lugar específico;
ii. Relação com a natureza – essas comunidades têm uma relação profunda com a
natureza, os seus modos de vida estão diretamente ligados à dinâmica dos
ciclos naturais, suas práticas produtivas e o uso dos recursos naturais são de
base familiar, comunitária ou coletiva;
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Em primeiro lugar, a ideologia territorial do Estado-nação é vinculada ao fenômeno do
nacionalismo, que reivindica um espaço geográfico para o uso exclusivo dos “membros” de
sua comunidade (Gellner 1983). Em segundo lugar, esta ideologia territorial se fundamenta
no conceito legal de soberania, que postula a exclusividade do controle de seu território nas
mãos do Estado. (LITTLE, 2002b:6)
Outro embate recorrente nessa região (e nas outras também) é causado pela criação de
Unidades de Conservação, principalmente as categorizadas como de Proteção Integral. A
política ambiental vigente, muito pautada no paradigma da natureza intocada e do
preservacionismo, tem apresentado uma postura autoritária ignorando o potencial
conservacionista das populações tradicionais, desconsiderando que a maior parte das áreas
ainda preservadas do território brasileiro é habitada com maior ou menor densidade por
populações indígenas ou por comunidades rurais tradicionais (ARRUDA, 1999).
Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e
tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo
à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.
§ 2º - As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse
permanente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos
nelas existentes. (BRASIL, 1988)
Já o Artigo 68 das Disposições Transitórias afirma: “Aos remanescentes das
comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade
definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos” (BRASIL, 1988). Com isso, as
terras indígenas são definidas como bens da União e destinam-se à posse permanente dos
índios, evidenciando uma situação de tutela (através dos processos de demarcação e
homologação). Enquanto as terras das comunidades remanescentes de quilombos são
reconhecidas como propriedade definitiva dos quilombolas (pelos processos de reconhecimento
e titulação).
Esta nova constituição busca também contemplar uma antiga luta dos povos pelo
reconhecimento das diferenças, enunciando o reconhecimento de direitos étnicos e culturais.
Não são apenas lutas fundiárias por redistribuição de terras e reparação de erros do passado,
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são movimentos pela afirmação da identidade das comunidades tradicionais, pela defesa de
seus modos de vida e organização social, os quais possuem íntima relação com o espaço em
que vivem, passando de luta pela terra à luta pelos territórios e suas territorialidades. Nesse
sentido, a territorialidade é entendida “como o esforço coletivo de um grupo social para ocupar,
usar, controlar e se identificar com uma parcela específica de seu ambiente físico, convertendo-o
assim em seu território” (SACK, 1986 apud LITTLE, 2002b:3), sendo assim, o território é
produzido historicamente por processos sociais e políticos e surge diretamente das condutas de
territorialidade de um grupo social.
É um dos municípios mais importantes da Calha Norte, pois com a extração de bauxita
em Porto Trombetas – distrito minero-siderúrgico, torna-se um dos principais pólos de extração
de minério do país (MME, 2009). Contudo, contrastando com esta atividade econômica de
grande porte, encontram-se no município economias locais baseadas na subsistência e na
venda do pequeno excedente, como foi observado nas comunidades quilombolas e aldeias
indígenas onde o trabalho foi realizado.
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Suas fronteiras com outros países de culturas não latino-americanas (Figura 1) acarreta
uma peculiaridade cultural, pois encontram-se indígenas de origem guiana ou surinamense que
possuem fluência em inglês e parentes além da fronteira brasileira, criando uma rede cultural
internacional paralela aos domínios do Estado.
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enfraquecimento do sistema escravista, culminando com a abolição em 1888, criou as condições
para que os quilombolas descessem as cachoeiras e se estabelecessem, sobretudo, no Lago do
Jacaré e adjacências, ocupando também parte do Lago do Erepecu. Esta incidência ocupacional
nesta área não se deu à toa. A parte da floresta em torno destes lagos é considerada até hoje,
pelos remanescentes de quilombos, como a melhor área para extração da castanha de toda
região, além de vários outros recursos florestais utilizados tradicionalmente, como a copaíba;
andiroba; açaí; bacaba; taperebá; breu; diversos tipos de cipós; e outros.
2Termo utilizado pelos comunitários, ao remontar suas histórias, para designar os “brancos” proprietários de terras
com mais de 30 árvores de castanha-do-pará (Bertholletia excelsa Bonpl)
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Figura 2: Unidades de Conservação e Territórios Tradicionais
Fonte: ISA, Funai, Imazon, ICMBio e Sema-PA
A atuação do projeto nesta região deu-se entre os anos de 2011 e 2012 em três
comunidades quilombolas (Último Quilombo, Nova Esperança e Mãe-Cué) e duas aldeias
indígenas (Kwanamari e Takará). Das comunidades, Último Quilombo e Nova Esperança se
encontram dentro do Lago do Erepecu e consequentemente da Rebio do Rio Trombetas e,
portanto, reivindicam titulação de terras dentro de uma UC de Proteção Integral. A comunidade
Mãe-Cué por sua vez, ocupa a margem direita do rio Trombetas e por isso estaria dentro da
Flona Saracá-Taquera, porém parte desta comunidade está fora dos limites da UC, localizando-
se na zona de amortecimento da mesma (Figura 3). A Mineração Rio do Norte (MRN) tem
direitos de pesquisa e futura lavra na região, configurando parte dos conflitos territoriais da
comunidade.
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Figura 3: Mapa de Localização das Comunidades Quilombolas do Rio Trombetas
Fonte: GPA, 2011
Os indígenas do rio Mapuera pertencentes ao tronco lingüístico Karib e a macro-etnia
Waiwai se encontram em terras brasileiras pelo menos desde 1948, quando há relatos de
missioneiros participantes da MEVA – Missão Evangélica da Amazônia. Foi, inclusive, a MEVA
(que na época ainda se chamava Unenvangelized Fields Mission) que cuidou de aldear os
indígenas na aldeia principal, hoje chamada Mapuera, pois já dominavam a língua. É importante
destacar que este aldeamento proporcionou a construção de uma identidade artificial, uma vez
que outras etnias foram incorporadas aos Waiwai para facilitar o processo de evangelização. A
cultura Waiwai foi valorizada sobre as demais etnias, porém, em campo, se pôde observar como
as catorze sub-etnias, incluindo os Waiwai, se diferenciam e destacam estas diferenças, apesar
de não haver confronto entre as partes. Hoje todos são registrados com o último nome sendo
“Waiwai”.
3Portaria nº 1.806 de 16 de setembro de 2005 – documento publicado no Diário Oficial da União (DOU) de
19/09/2005, Seção 1, pg. 31 e 32
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ambas as aldeias são instáveis, pois estão numa região de fronteira e incidem sobre uma área
com interesses energéticos de grande porte.
Metodologia
Isso significa dizer que a metodologia não é aplicada pronta a priori, ela se constrói
coletiva e continuamente, à medida que os sujeitos envolvidos respeitam seus conhecimentos e
interagem seus diálogos. Na maioria das vezes, há uma inclinação maior dos pesquisadores de
manter uma postura de "escuta", e elucidação dos vários aspectos da situação, sem imposição
de concepções unilaterais (THIOLLENT, 1998), até porque, o planejamento das ações práticas
se dá de acordo com a observação das possibilidades apresentadas no campo.
Para tanto, utilizamos a etnometodologia para embasar nossas ações práticas, pois ela
propõe a suspensão dos valores e (pré-)conceitos do pesquisador para a obtenção de uma
compreensão profunda das lógicas e estruturas internas de determinada sociedade (COULON,
1995). A etnometodologia nasce dentro das necessidades de sistematização dos saberes
desenvolvidos pelas sociedades indígenas, para que passem a ser reconhecidos e legitimados
enquanto saberes independentes do cientificismo hegemônico ocidental, que tem sua lógica
própria de transmissão do conhecimento e aprendizagem, e para que deixem de ser
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subordinadas às formas de interculturalidade fundamentadas nas relações coloniais (LITTLE,
2002a). Essa produção do conhecimento a partir de outro paradigma do saber, desenvolvida por
outras sociedades humanas e suas inter-relações com o meio sócio-natural, designa-se por
Etnociência4, outra área de conhecimento que não se faz pertinente adentrar em seu percurso
epistemológico neste momento, pois as experiências práticas do campo, os objetivos específicos
do trabalho e a destinação dos resultados salientarão a ética a que se fundamenta essa
linhagem de estudo.
4Para aprofundamento do conceito: LITTLE, Paul E. Etnoecologia e direitos dos povos: elementos de uma nova
ação indigenista. In SOUZA LIMA, A. C. de; BARROSO-HOFFMAN. (org.). Etnodesenvolvimento e políticas
públicas: bases para uma nova política indigenista. 2002.
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variadas apreensões sobre o território, levando em consideração suas “leis consuetudinárias”
que não estão necessariamente em concordância ou mesmo contempladas no sistema legal do
Estado brasileiro (LITTLE, 2002b), não é contundente realizar um trabalho em cartografia que
siga os padrões gerais da cartografia eurocentrada de origem. Por isso a escolha da Cartografia
Social, já que tem como determinação a forma própria e autônoma dos povos tradicionais de
identificar seus territórios e produzir materialmente suas simbologias, a fins de utilização em
benefício desses mesmos sujeitos coletivos organizados. E como meio técnico busca registrar
relatos e representações no processo de automapeamento, além de identificar situações de
conflitos na forma de uso do território em questão (LIMA & COSTA, 2012), se fazendo coerente
com o tipo de ação educativa e emancipatória a qual o projeto propõe realizar.
Assim, para além de ser uma pesquisa acadêmica, é uma ação estratégica de estímulo
aos povos a reviver suas memórias, grafando suas cosmovisões, valorizando sua história, seus
conhecimentos sobre o espaço vivido no contexto político, social, econômico e cultural a que
construíram suas trajetórias, até o atual momento. Dessa forma, aproveita-se o renascer destes
conhecimentos, para sistematizá-los em saberes formais através da linguagem gráfica, para
construção de um instrumento que sirva de comprovação de suas territorialidades e das
situações sociais que imperam suas realidades cotidianas.
5Conceito usado pelo autor Alfredo Wagner de Almeida em seu texto de 2004, anterior ao Decreto nº 6040 de 2007
que define o conceito territórios tradicionais.
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como elas percebem seu território, sua relação histórica e cultural, permite também aos
planejadores conceber arranjos espaciais multidimensionais, conciliando propostas de
zoneamento ecológico econômico, com as necessidades e o costume local (ATAÍDE &
MARTINS, 2005).
Portanto, para que o processo de leitura e entendimento do mapa seja eficiente, são
realizadas oficinas de alfabetização cartográfica juntamente às atividades de mapeamento. Carl
Sauer, no Seminário de Cartografia Social e Território na América Latina, ocorrido no Rio de
Janeiro em 2010, destacou "la infalibilidad de la imagen contenida en el mapa está dada por su
eficacia en la comunicación, más allá de palabras y textos, en tal grado de síntesis, que le
permite expresar varias ideas al mismo tiempo y en un pequeño espacio" (SAUER, 2010). O
processo de alfabetização cartográfica não limita as criações subjetivas dos que participam da
confecção do mapa, ela auxilia no processo de compreensão do estudo formal do mapa e do
desenvolvimento da capacidade de interpretar dados geográficos de outros mapas (PISSINATI &
ARCHELA, 2007).
O trabalho é organizado pela equipe, além da prática no campo, com atividades pré e
pós-campo. As atividades pré-campo se resumem em: pesquisa bibliográfica, levantamento de
dados institucionais, preparação da logística necessária para o campo; revisão de informações
obtidas no campo anterior, reelaboração de oficinas, criação de cronograma parcial (um
6Para aprofundamento do conceito, ler o texto: LITTLE, Paul E. Etnoecologia e direitos dos povos: elementos de
uma nova ação indigenista. In SOUZA LIMA, A. C. de; BARROSO-HOFFMAN. (org.). Etnodesenvolvimento e
políticas públicas: bases para uma nova política indigenista. 2002.
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panorama das atividades, pois o cronograma será pensado junto aos comunitários) e articulação
com entidades do local trabalhado.
1. Reunião inicial
As caminhadas pelo território são imprescindíveis para auxiliar o ato de mapear, para o
ato de conhecer o território (por parte do mediador), dialogar sobre a paisagem com os "guias",
obter conhecimento sobre o histórico de uso dos espaços e suas atividades produtivas, elaborar
croquis e marcar pontos. Durante estas caminhadas, surgem certos tipos de informações que
não aparecem nas entrevistas, conversas ou oficinas, pois a pessoa rememora os fatos quando
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se defronta com sua realidade material.
3. Mapa Mental
O mapa mental é a representação do saber percebido, o lugar se apresenta tal como ele
é, com sua forma, histórias concretas e simbólicas, cujo imaginário é reconhecido como uma
forma de apreensão do lugar (NOGUEIRA, 1994 apud SIMIELLI, 2007). Assim, o mapa mental é
construído em forma de oficinas, na qual o grupo de participantes deve ser o mais diverso
possível (homens, mulheres, idosos, jovens, crianças, agricultores, professores, lideranças, etc).
São estimuladas as criações através de sua própria noção e memória espacial, e a interferência
dos mediadores deve ser no sentido de problematizar durante o processo, dando prioridade à
expressão de definições e classificações do próprio povo. Em algumas oficinas, os mapas
mentais são estratégias para iniciar uma atividade de alfabetização cartográfica (ampliando a
abordagem de conceitos iniciais - proporção e escala, legenda, visões oblíqua e vertical,
orientações, dimensões e título). Outras são para interagir as diferentes representações e
questionar as diferentes percepções, extrair informações sobre o espaço e diagnosticar
processos. Podem contribuir para o planejamento de novas ordens e revisão de outras, criando
um novo mapa mental coletivo.
7 Este jogo foi criado após experiências vividas em campos anteriores. A partir dos relatos feitos pelos comunitários
sobre a chegada do IBDF e sobre as primeiras aberturas na mata para pesquisa do potencial de exploração mineral,
pôde se perceber que as principais modificações que se dão no espaço físico e sócio-político da região tiveram seu
início na década de 1970.
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5. Marcação de pontos e percursos com o GPS
Esta etapa serve para coletar pontos de lugares importantes relacionados às suas
representações simbólicas e seus usos cotidianos, para posterior associação a fotografias
aéreas e georeferenciadas pelo sistema SIG, para criação de novos mapas, caracterizados por
elementos locais sobrepostos à base cartográfica convencional. O objetivo é formalizar o
conhecimento dos comunitários a partir de suas próprias construções coletivas, políticas e
simbólicas acerca do território.
6. Gravação de conversas/entrevistas/depoimentos
Os calendários são feitos em visitas nas casas dos comunitários, durante entrevistas ou
em dinâmica coletiva. Eles servirão para incrementar as informações contidas nos mapas, que
digitalizados e organizados em cartilhas, poderão ser inseridos em caixas de diálogos embaixo
do mapa. Utiliza-se como referencial técnico-metodológico o Diagnóstico Rural Participativo - Um
guia prático, produzido pela Secretaria da Agricultura Familiar, em que Miguel E. Verdejo (2006)
diz que "os calendários permitem analisar todos os aspectos relacionados ao tempo. Podem ser
destacadas as atividades que mais tempo ocupam e as épocas dos diferentes cultivos e seus
respectivos trabalhos num período agrícola. Podem ser cobertos processos longos num
calendário histórico ou a distribuição do tempo num dia habitual de trabalho”. (VERDEJO,
2006:31)
8. Reunião de encerramento
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espacial e alfabetização cartográfica, assim como para os agradecimentos gerais.
Resultados
Considerações Finais
A Cartografia Social aparece como uma importante ferramenta de luta e a partir dela
pode-se entender algumas formas diferenciadas de apropriação do território por parte de
remanescentes de quilombos e indígenas. É importante considerar estas diferenças nos âmbitos
nacional e internacional, pois, como exposto ao longo deste artigo, criam-se redes internacionais
entre estes povos e isto deve ser considerado dentro das políticas externas latino-americanas.
Enquanto trabalho de extensão universitária, destaca-se a quantidade de campos para
qualificar as ações. Os diagnósticos feitos nos campos anteriores foram fundamentais para o
trabalho com os remanescentes de quilombo. A análise pós-campo, feita na universidade, é
fundamental para melhor eficácia das propostas para os campos seguintes. Cabe dizer ainda,
que a extensão universitária proporciona um contato direto entre representantes do Estado
(discentes e coordenadores de projetos) e a sociedade numa situação criativa, onde não há
imposições estabelecidas. Isto cria a possibilidade dos grupos abarcados por estas propostas
terem suas vozes diretamente envolvidas com a produção intelectual pública, proporcionando
um processo de incorporação da cosmovisão destes grupos à produção científica. Esta
perspectiva, de envolver os conhecimentos dos grupos com a produção acadêmica, norteou a
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busca por realizar as atividades a partir da realidade de cada grupo. Assim, a extensão funciona
como um elo potencialmente eficaz e que deve ser mais explorado.
A análise geográfica foi feita, sobretudo, a partir das diferentes noções de território que
estão presentes nas vivências de cada grupo e como elas dialogam com a aparição deste
conceito na academia. A partir de HAESBAERT (2004) podemos compreender a
multiterritorialidade como condição inerente de qualquer território. Ou seja, nenhum território está
sob a influência de um grupo, ele é um campo de lutas em que diferentes vetores querem
apropriar-se do espaço a partir de suas simbologias e práticas. A região do Alto Trombetas é um
exemplo marcante nesta discussão, pois nela a multiterritorialidade não se dá apenas entre
grupos com interesses semelhantes sobre o espaço, mas também entre forças antagônicas que
muitas vezes estão fora da compreensão dos residentes da área. Neste sentido, afirma-se
novamente a necessidade de atividades que contribuam para a compreensão multiterritorial por
parte dos comunitários, que hoje, são os legítimos residentes da região.
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