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O DESAFIO DE PLANEJAR
E PRODUZIR EXPANSÃO
URBANA COM QUALIDADE
A Experiência Colombiana dos
Planos Parciais em Bogotá, Colômbia
Pa u l a F r e i r e S a n t o r o
INTRODUÇÃO
As novas dinâmicas econômicas das últimas décadas têm promovido mudanças
significativas na organização e no funcionamento do urbano, com reflexos na América
Latina. Dentre elas, o aumento do investimento nas atividades imobiliárias põe em des-
taque o território como ator e exacerba a mercantilização do desenvolvimento urbano
(Mattos, 2007, p.82-3). Essas dinâmicas refletem a política econômica capitalista que,
para geógrafos como Harvey (2005), produz, reproduz e reconfigura o espaço. Para os
autores, as formas contemporâneas de globalização e de organização do território não
são nada mais que outro circuito do capitalismo, que se dá acompanhado de inovações
nos sistemas de transporte e comunicação e que reestrutura geograficamente a atividade
capitalista no planeta. Atividades de desindustrialização em um lugar e reindustrialização
em outro são exemplos nesta direção.
Se as dinâmicas econômicas sempre (re)estruturaram o espaço, o que diferencia o
momento atual é o alcance delas, que alguns autores até chamam de nova ou terceira
revolução urbana (Ascher, 2001; Soja, 2000). Tamanho alcance é possibilitado, entre ou-
tras razões, pelo forte estímulo das políticas de desregulação, privatização e liberação dos
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mercados que marcaram os anos 1990, e pelo aumento de oferta de capital, que migra das
atividades produtivas (Oliveira, 2003), alimenta a financeirização da economia mundial
e possibilita investimentos em terra e imóveis (Mattos, 2007).
Estas novas dinâmicas econômicas refletem-se no território – ou às vezes apenas na
1 Ferreira (2003) mostra em imagem que se constrói dele1 – em suas diversas escalas, não apenas global, mas também
sua tese, por exemplo, que
São Paulo não é global. No
estadual, regional e intraurbana. A forma como se expressa na escala intraurbana relacio-
senso comum, uma cidade é na-se fortemente com as estratégias dos agentes dos mercados de solo urbano. Segundo
global a partir do que ela “de-
manda” – como de edifícios Abramo (2009) 2 são, principalmente, usadas duas estratégias: a busca da economia da
“inteligentes” – e não pela proximidade, que traz soluções de estrutura compacta às cidades; e da redução de custos,
sua estrutura de produção.
Segundo o autor, vende-se a que não raramente reflete-se na implantação de uma estrutura difusa nas cidades. A
imagem de global, no entan- produção de loteamentos periféricos – informais e precários, ou mesmo, formais, com
to as dinâmicas que dirigem
a produção da cidade são a tipologia de condomínios fechados horizontais – frequentemente configura o crescimento
representação do mais arcai-
co patrimonialismo.
urbano através de conurbação ou, o que é mais frequente, manchas dispersas pelo terri-
tório regional. Esta forma é frequente na América Latina, através de ofertas de tipologias
2 No estudo de mercado
imobiliário, um dos autores
formais como country clubs, barrios cerrados, clubs de chácras, pueblos privados em Buenos
que se debruça sobre as Aires (Vidal-Koppman, 2005); barrios cerrados em Santiago do Chile (Cáceres & Saba-
estratégias dos atores ur-
banizadores e a morfologia tini, 2004); verdadeiras cidades dispersas são como ilhas no território, como no México
resultante destas é Pedro (Duhau and Giglia, 2008; Sheimbaun, 2010), ou os loteamentos fechados e condomínios
Abramo (2007 e 2009), que
afirma que as cidades latino- horizontais, fenômeno que ganha impulso no Brasil, mesmo que desacompanhado de
americanas possuem “uma legislação que permita este fechamento (Freitas, 2008).
estrutura “híbrida”, ao mes-
mo tempo compacta e difu- Esses diversos autores latino-americanos colocam a década de 1980 como marco de
sa, produzida pelo mercado
informal e formal que, por
um rompimento com a morfologia do padrão tradicional de segregação (centro-perife-
razões vinculadas às suas ria) promovendo uma dispersão desconhecida até então. Esta nova morfologia promove
próprias lógicas de funciona-
mento, produzem a cidade
uma fragmentação que pode significar também uma redução da escala de segregação
“COM-FUSA”. (Cárceres & Sabatini, 2004; Sabatini, 2000), com a expansão destas tipologias não
apenas para alta, mas outras rendas familiares, desde que haja disponibilidade de terras
para se urbanizar.
Ampliar este mercado imobiliário envolve, portanto, disponibilizar terras, por meio
3 Vidal-Koppmann (2011) de ações públicas como aumento do perímetro urbanizável,3 e também, manter as po-
em seu doutorado sobre a
expansão das tipologias de
líticas e planos que, por muito tempo, evitaram tratar do tema da expansão urbana ou
expansão urbana privadas regular o crescimento urbano horizontal. Não se admite, portanto, que neste processo
em Buenos Aires – countrie
clubs, barrios cerrados etc. existe uma grande valorização da terra que beneficia proprietários – que mantém altas
– afirma que praticamente rentabilidades e a possibilidade de especular com a terra –, onera a gestão pública, nem
todos os projetos se locali-
zaram em zonas rurais, mo- sempre produz espaços justos, com mesclas sociais e com qualidade urbano-ambiental e,
tivando uma re-zonificação mais importante, raramente está voltado para atender as necessidades urbanas e habita-
por parte do município.
cionais da população (Santoro & Bonduki, 2009).
Se há um consenso de que esta é a forma usual de crescimento de nossas cidades, por
um lado, há um rechaço em planejá-la, associado à ideia de que a expansão urbana deve
ser restringida ou não deve acontecer. E, também, por outro, há o consenso construído
“crescer é desenvolver-se” a qualquer custo. Paralelamente às opiniões em prol de uma
corrente ou outra, o crescimento urbano horizontal segue acontecendo nas cidades brasi-
leiras e latino-americanas e ganha novas feições e novos atores, com interesses mais acir-
rados. Este novo cenário coloca o tema na pauta da agenda latino-americana, trazendo
a necessidade de refletirmos se é possível admitir que a expansão urbana aconteça, e, em
caso positivo, se é possível fazê-la voltar-se às necessidades habitacionais e à recuperação
da valorização da terra para a coletividade de forma que consiga produzir espaços com
boa qualidade urbano-ambiental.
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Neste artigo procura-se trazer reflexões nesta direção, por meio da implementação
de planos em área de expansão urbana em Bogotá, Colômbia, de forma a repensar a ex-
pansão urbana, fenômeno que afeta grande parte das cidades latino-americanas.
O PLANEJAMENTO NA COLÔMBIA
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através de seus instrumentos, articular projetos urbanos, financiar esses projetos e reorga-
nizar as propriedades e formas jurídicas (fidúcias), de forma a “dotar as administrações
municipais de ferramentas concretas para lograr os objetivos de ordenamento territorial”
(idem, p.63). A construção de um processo democrático não estava em jogo no processo
de criação do ordenamento territorial colombiano.
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renda migram paulatinamente para a região norte da cidade, saindo do centro que aos
poucos ganha feições de centro de serviços e escritórios. O crescimento negativo das áreas
centrais em termos populacionais mostra claramente este esvaziamento populacional.
Nos anos 1970, a cidade atinge aproximadamente 2,5 milhões de habitantes, em um pe-
ríodo de grande crescimento que se deu principalmente nos bairros ao sul, como Ciudad
Bolívar, Bosa, Usme, regiões que ainda hoje mantêm altas taxas de crescimento.
Fonte: Censos populacionais DANE nas datas e estimações preliminares para 2005. Briñez,
12 Possivelmente pela for-
2007, p.57. mação de uma região me-
tropolitana no seu entorno.
Dureau (1996) explica este
Em termos populacionais, entre 1970 e 1990, a população cresceu consideravelmen- crescimento menor a partir
te, embora nos anos 1980 tenha mostrado uma diminuição no ritmo de crescimento.12 A da queda de natalidade e de
mortalidade e da diminuição
distribuição dos estratos13 no território mostra uma concentração dos mais baixos, entre de fluxos migratórios para a
1 e 3 salários mínimos, que somados à faixa de 3 a 5 s.m. totalizam 72,9% da população. capital, embora os conflitos
na área rural dos últimos 40
As áreas ao sul foram as que mais cresceram e também concentram os estratos mais baixos anos continuem produzindo
deslocamentos forçados que
da população, embora seja possível encontrar uma pequena parte dos baixos estratos ao escolhem a cidade como re-
norte, onde encontram-se, prevalentemente, os estratos de renda mais altos. sidência.
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Não há falta de solo urbanizável dentro do perímetro urbano da cidade. Existem mais de
5.000ha de solo urbanizável dentro do perímetro urbano da cidade. Além disso, estão dis-
poníveis 670ha de solos urbanizados ainda não construídos, repartidos em lotes dispersos
onde o melhoramento de bairros é prioritário. O problema atual tem origem na lenta gestão
da administração para adquirir, urbanizar e transferir o solo urbanizado aos promotores
privados e sociais – de acordo com as prioridades determinadas pelo déficit habitacional – e
utilizar as faculdades e instrumentos da Ley 388 de 1997 (Secretaria Distrital del Habitat,
2008, p.215-6).
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2010, a cidade teria de oferecer moradia, serviços e empregos para 1,8 milhões de habi-
tantes adicionais. Respondendo a esta projeção, o POT colocou como meta a construção
de 440 mil novas moradias em uma média de 44 mil ao ano, sendo que destas, apenas
18.600 estariam voltadas para famílias de baixa renda no formato HIS (Metrovivienda,
2002, p.51-3). Parte delas seria construída em áreas de expansão urbana. No quadro de
classificação do solo, destinam-se aproximadamente três hectares de terra para expansão
urbana. De acordo com a Ley 388/97, um POT pode conter solo urbano (Art.31), solo
de expansão urbana (Art. 32), solo rural (Art. 33), solo suburbano (Art. 34) e solo de
proteção (Art. 35).
As áreas de expansão urbana foram criticadas por alguns que consideraram superdi-
mensionadas, opiniões que apareceram durante a revisão do POT, mostrando dados sobre
áreas disponíveis para expansão muito diferentes dos oficiais descritos acima. É o caso da
análise de Pérez Preciado:
De fato, contrariamente à propaganda oficial, o POT não faz outra coisa que reafirmar o
modelo tentacular de expansão urbana inaugurado com Chapinero desde o final do século
XIX, caracterizado pela conformação de assentamentos periféricos distantes do perímetro
urbano, destinados a valorizar e a urbanizar paulatinamente as terras intermediárias entre
estes assentamentos e a cidade, com altos custos nas redes viárias e de serviços públicos.
Prova disso é que, dentro do atual perímetro urbano existem 7.025 hectares brutos para
desenvolvimento, segundo os próprios estudos de população utilizados pelo Distrito para o
POT, quando as necessidades de solo para os próximos 10 anos são inferiores a esta cifra, o
que indica que a cidade não necessitaria, na realidade, de solo de expansão. Não obstante,
o POT, não estimando as possibilidades de densificação e de renovação no perímetro atual,
propõe um total de 8.140 hectares de expansão total (fora do perímetro), das quais 5.604 se
destinam ao desenvolvimento urbanístico. Para justificar estas cifras acrescenta uma série de
argumentos que, (...), não passam de simples mito (Pérez Preciado, 2003, p.92).
Tais críticas demonstram que, por um lado, as propostas de plano queriam expandir
e, por outro, havia resistência em permitir essa expansão. O resultado final é que a área de
expansão corresponde a apenas três hectares e não a oito, como a crítica sugere.
Veremos adiante que há pouco avanço nas novas urbanizações e parte das dificulda-
des envolve o processo de planejamento e realização deste.
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planejamento de uma área mais extensa, necessária para que o conjunto seja racionaliza-
do, articulando com a estrutura da cidade e com a infraestrutura existente procurando
evitar áreas residuais, problemas como descontinuidade de vias ou outros que possam
acarretar em um obstáculo para a boa mobilidade.
Além disso, objetiva promover a eficiência econômica no desenvolvimento urbano.
Idealmente são projetados por meio de um processo interdisciplinar, envolvendo diversos
participantes, embora possam ser regulamentados pelo município mediante um decreto
que se converte em norma urbanística, de cumprimento obrigatório por todos. Existindo,
portanto, um plano parcial regulamentado, o POT deve ser ajustado. Um plano parcial
deve ser composto pela:
- Delimitação e características da operação urbana ou da unidade mínima de atuação
urbanística contemplada no plano parcial ou local;
- Definição de objetivos e diretrizes urbanísticas específicas que orientam a unidade de
atuação urbanística a respeito de aproveitamento dos imóveis, criação e ampliação
de espaço público, qualidade do entorno, alternativas de expansão, melhoramento
integral ou renovação considerados, estímulos para os proprietários e empreendedores
para facilitar os processos de concertação, integração imobiliária ou reajuste de terras
e outros mecanismos para garantir o reparto equitativo de cargas e os benefícios vin-
culados ao melhor aproveitamento dos imóveis; programas e projetos urbanísticos da
operação e as prioridades no seu desenvolvimento;
- As normas específicas para a unidade de atuação ou para a área objeto da operação do
plano, tais como: a definição de usos do solo, intensidade de ocupação e construção,
afastamentos, recuos, isolamento e alturas;
- A definição do traçado e características de espaço público, vias e, especialmente no caso
das unidades de atuação, da rede viária secundária; das redes secundárias de abasteci-
mento de serviços públicos domiciliares; da localização de equipamentos coletivos de
interesse público ou social (como templos); centros de educação e de saúde, espaços
públicos e zonas verdes destinadas a parques, e complementos do conteúdo estrutural
do plano de ordenamento;
- A adoção dos instrumentos de manejo do solo, recuperação de mais-valias fundiárias,
reparto de cargas e benefícios, procedimentos de gestão, avaliação financeira das obras
de urbanização e seu programa de execução, junto ao programa de financiamento. (Ley
388 de 1997, Art. 19).
Como se pode ver, a Ley 388 pode funcionar como um manual de instruções de
planejamento detalhado e os PPs são planos detalhados em menor escala que os POTs.18 18 O Decreto 2181 de 2006
complementa a Ley 388 de
O instrumento mais próximo deste que temos no Brasil são as Operações Urbanas Con- 1997 no que tange o tema
sorciadas (OUCs). dos procedimentos de ado-
ção de planos parciais, deta-
Por um lado, se a Ley 388 parece muito detalhada, descrevendo os conteúdos mí- lhando as etapas envolvidas
nimos dos planos, estabelecendo regras para cada escala de planejamento, o que muitas na sua formulação e adoção:
formulação e revisão; con-
vezes torna o processo trabalhoso face ao tempo e conhecimento técnico que exige, além certação e consulta; e ado-
de dificultar o monitoramento participativo. Por outro, a legislação federal brasileira (Es- ção. E também especifica
os conteúdos de um plano
tatuto da Cidade) faz a opção oposta: não detalha em lei o projeto da operação. Como parcial de desenvolvimento
urbano.
resultado, tem-se operações aprovadas sem plano ou desenho da área, sem articulação
com o financiamento do projeto urbano ou um desenho sobre como será gerido. Desta
forma, as operações podem incorrer em resultados urbanos ruins: não atender às necessi-
dades básicas do interesse público nas áreas delimitadas como OUCs, não delimitar áreas
públicas, parques; não construir as infraestruturas públicas privilegiando ações do inte-
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resse do mercado imobiliário privado; não fazer a justa distribuição dos ônus e benefícios
da urbanização, como propõe em suas diretrizes (traduzindo para os colombianos, não
necessita fazer o “reparto de cargas e benefícios”), entre outros.
Um PP também cumpre com a função de articular os objetivos do ordenamento
territorial com os de gestão do solo unindo as condições técnicas, jurídicas, econômico-
financeiras e de desenho que permitam a geração dos suportes necessários para novos usos
urbanos ou para a transformação de espaços já existentes. É no âmbito do plano parcial,
por exemplo, que são concebidas as formas de reajuste de terras e de reparto de cargas e
benefícios.
Um PP é composto de “Unidades” de “Atuação Urbanística” ou de “Gestão”, que
identificam porções do território e lotes de um PP para que este possa ser implementado
por etapas. A execução de uma Unidade de Atuação Urbanística implica na gestão asso-
ciada dos proprietários de terra que conformam a sua superfície mediante o sistema de
reajuste de terras ou integração imobiliária ou cooperação, segundo o que o plano parcial
determine (Ley 388 de 1997, Art.44).
O POT de Bogotá determinou três etapas para o processo de adoção dos planes
parciales. Uma primeira, de definição de determinantes, corresponde à solicitação inicial
do interessado em desenvolver o PP e a expedição da delimitação e das determinantes do
plano; uma segunda, de formulação, corresponde ao desenho urbanístico do plano par-
cial, e a estruturação do reparto equitativo de cargas e benefícios. Para compreender as
dificuldades de implementar ideias arrojadas presentes nas leis colombianas, apresentamos
um caso de plano parcial em solo de expansão.
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As duas glebas objeto de dois diferentes planos foram adquiridas pela Metrovivienda
Empresa Industrial y Comercial del Distrito Capital. A Metrovivienda é uma empresa
de capital misto que foi criada em 1998 no bojo de uma inversão no papel do Estado como
protagonista da produção de habitação de interesse social em direção a um maior protagonismo
do setor privado. Dois marcos foram fundamentais para esta inversão. O primeiro deles, a
Ley 9 de 1989, pela primeira vez leva em consideração o problema da urbanização irregu-
lar e ilegal e estabelece normas especiais de titulação através de processos mais simplifi-
cados; e, além disso, cria instrumentos para adquirir, por compra ou por expropriação os
terrenos necessários para projetos de utilidade pública, incluindo projetos de HIS através
de bancos públicos de terra.
É neste contexto que a Ley 3 de 1991 aprova uma transformação nas instituições de
habitação que abandonam o modelo de oferta, onde o Estado constrói e vende as urbani-
zações, e voltam-se para a demanda. Neste modelo o Estado concentra seus recursos em
apoiar técnica e financeiramente as famílias mais pobres por meio de subsídios diretos à
demanda – definida como famílias com renda familiar inferior a quatro salários mínimos
– de forma a permitir o acesso à moradia ofertada pelo mercado.
Nesta inversão de papéis – onde o Estado urbaniza, mas não constrói casas, e dá
financiamento e subsídios para a compra de habitações ofertadas pelo mercado –, em-
presas como a Metrovivienda seriam responsáveis pela criação de bancos de terra e pela
urbanização de glebas onde o poder privado desenvolveria projetos para serem vendidos
mediante créditos imobiliários e subsídios estatais à demanda.
Nessa reorganização de papéis, o projeto urbano ganhou importância, por meio da
obrigatoriedade de elaboração de planos parciais para desenvolver novas áreas urbanas e
o poder público também deverá se estruturar para fazer os planos parciais. No caso dos
dois estudados, o interessado em urbanizar era a Metrovivienda que, portanto, desenvolve
um modelo de gestão implementado inicialmente na gleba El Recreo e que seguirá sendo
implementado em El Porvenir.
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Bogotá, governada por Enrique Peñalosa (1998-2000), elaborou seu Plano de Orde-
namento e começou a conceber o que seria o modelo de gestão que foi implementado por
meio de planos parciais. Os PPs começaram a ser implementados pelo prefeito seguinte,
Antanas Mockus (2001-2003), que terminou por influenciar outras cidades a fazerem o
mesmo. El Recreo já estava quase totalmente construído quando Mockus deixou a admi-
nistração; o El Porvenir ainda está em andamento.
Voltando ao governo Peñalosa, é no âmbito deste que é montada uma estratégia
para melhorar a situação habitacional por meio de duas ações principais: melhorar os
assentamentos de habitação informal, através do que se chamou Programa de Desmar-
ginalização; e substituir o modelo de urbanização precária por um planejado, mediante
um sistema de gestão, com regulação e incentivos que ampliariam o mercado de HIS para
famílias com menor renda.
A Metrovivienda foi fundada em 1998 com o objetivo de “promover a oferta massiva
de solo urbano para facilitar a execução de projetos integrais de Habitação de Interesse
Social e desenvolver as funções próprias dos bancos de terras ou bancos imobiliários”
(Acuerdo 15 de 1998). Mais do que isso, esperava-se também que a empresa pudesse
capturar mais-valias fundiárias em benefício do Estado, mediante aquisição e venda de
terras, papel que o Estado não pode ter, com o objetivo de ter insumos para a produção
de projetos de interesse público. Por este motivo, as leis outorgaram ao Estado e, portanto,
à Metrovivienda, a possibilidade de utilizar instrumentos de intervenção sobre o mercado
de terras e permitem a aquisição de bens por meio da oferta voluntária dos proprietários
ou por expropriação para fins de utilidade pública.
O mesmo acordo que cria a Metrovivienda também dá origem a uma nova categoria
de habitação para a qual devem estar destinados os terrenos do banco de terras que é a
Habitação de Interesse Social Prioritária (HIP), uma categoria com preços próximos aos
70 salários mínimos (parcela que compõe o déficit de 18.600 mil unidades/ano previsto
no POT) para a qual haveria subsídio de 25 salários mínimos e, para recebê-lo, as famílias
deveriam ter renda próxima a 1,6 salários mínimos.
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estava a ideia de que o poder público poderia concentrar em sua propriedade terras com
alta vulnerabilidade à ocupação informal e precária, especialmente promovida por gri-
leiros de terra. Assim, o Estado estaria se antecipando a esta forma de expansão precária
e sem infraestrutura, urbanizando-a antes que a expansão informal ocorresse. Segundo
Ceballos (2000) os objetivos perseguidos eram:
a) adotar um modelo de intervenção de dois andares, no qual o Estado não assume a
cadeia total da produção da moradia, apenas orienta os investimentos;
b) gerar um desenho “ótimo” das vias e redes de serviços públicos, de grandes áreas da
cidade, superando o desenvolvimento lote a lote;
c) diminuir os lucros cessantes de investimentos em infraestruturas de desenvolvimento
lote a lote;
d) evitar a “distração” de capitais privados em “armazenar terrenos”;
e) gerar para os construtores economias nos custos de transação (trâmites) e diminuição
dos riscos empresariais;
f) evitar que as ações do Estado (normas, obras etc.) se traduzam em valorização dos
terrenos a favor dos proprietários, de forma a não permitirem a construção de HIS;
g) ofertar solo urbanizado nas áreas ameaçadas pela ocupação ilegal.
Metrovivienda vê a possibilidade, por meio do banco de terras, de adiantar projetos
de urbanização – e consequentemente, de habitação de interesse social – colaborando para
a diminuição do déficit quantitativo de moradia e freando os processos de urbanização
informal e ilegal que se davam na periferia da cidade.
A empresa, portanto, compra muitos terrenos, a preços mais caros que um empre-
endedor privado, em áreas limites entre o rural e o urbano, sobre os quais produz lotes
urbanizados, licitados para construtores privados interessados em fazer habitação de inte-
resse social, segundo parâmetros específicos.
A compra da terra foi anunciada no jornal e várias ofertas foram recebidas, algumas
das quais foram aceitas. A aquisição dos terrenos teve dois enfoques: o primeiro, conheci-
do como projetos de primeira geração, foi feita a compra direta do solo. Os investimentos
em urbanismo eram custeados pela Metrovivienda, como foi o caso das áreas El Recreo e
Ciudadela El Porvenir.
Comprando mais caro, a Metrovivienda pagou ao proprietário mais-valias fundiá-
rias da transformação de solo rural para urbano. O próprio processo de anúncio no jornal
de interesse de compra de terrenos funcionou como um processo especulativo que, aliado
às expectativas de interesse por terra urbanizável, colaborou para aumentar os preços das
terras. Além disso, as terras marcadas como Solo de Expansão Urbana no POT já incor-
poravam nos preços ofertados as expectativas de que seriam urbanizados.
Reconhecendo essa dificuldade, em outro projeto em fase de urbanização, na área
do Usme, também ao sul de Bogotá, foi utilizado o instrumento de gestão (e financia-
mento) conhecido como Anúncio de Projeto, que congelou preços aferidos no momento
do anúncio e possibilitou a expropriação a preços rurais. Este caso é exemplar de como
o conhecimento dos preços, por meio de um Observatório de Preços existente na cida-
de, é fundamental para instruir bem os peritos que aferem este valor antecipadamente,
determinando-o como valor justo. Neste caso, os preços aferidos foram fixados em va-
lores rurais, diferentemente dos preços obtidos em El Porvenir, por exemplo, que foram
pagos a valores comerciais; além disso, “o valor comercial se determinará tendo em conta
a regulamentação urbanística municipal ou distrital vigente no momento da oferta de
compra em relação com o imóvel a adquirir, e em particular com sua destinação eco-
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(...) sem um mecanismo que permita obter maior intensidade do uso da terra, não é fácil
obter um aumento dos valores da terra que sirva para compensar proprietários por sua con-
tribuição. No Japão, o que se conseguiu por meio do land readjustment foi a criação de novas
e maiores parcelas de terrenos conectadas a ruas mais amplas, e somente assim a permissão
para a construção de altos edifícios (Sorensen, 2002, p.XII).
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O autor afirma que, para que o instrumento do reajuste de terras seja utilizado, é
preciso que ele seja fundamental para que a incorporação seja atraente ao empreendedor.
Tornar este instrumento atraente passa por restringir (ou não estimular) a utilização de
outros instrumentos que possibilitem diferentes tipos de ganho, que possam ser mais fa-
cilmente implementados e que enfrentem menos resistências. Deduz-se da sua afirmação
que, se fosse mais fácil para os japoneses ganharem a partir de usos mais intensos da terra
– permitindo construir mais ou expandir sobre outras terras –, possivelmente empreen-
deriam dentro de seus lotes privados, lote a lote. No entanto, para eles, para construir
um edifício no Japão, é preciso remembrar lotes, compensar proprietários, articular ins-
trumentos de gestão, financiamento e projeto urbano, tornando o reajuste de terras um
instrumento fundamental para seu desenvolvimento urbano.
Mas além de enfrentar o desafio da fragmentação entre muitos proprietários de ter-
ra, pode-se afirmar que há um histórico na América Latina de resistências, por parte dos
empreendedores privados, em se envolverem de forma consorciada com governos para o
desenvolvimento de projetos urbanos públicos, com medo dos riscos deste investimento.
Isto decorre de uma história de falência destes projetos – malfeitos, não terminados,
desvalorizadores das propriedades do entorno, essencialmente populares –, na opinião
dos privados; histórico de paralisação de projetos urbanos que, por estarem associados a
um determinado governo (partido ou gestor), estão suscetíveis a paralisações por boicotes
políticos durante o processo ou nas mudanças de gestão, e podem não ocorrer.
Em relação ao financiamento, é importante apontar que os recursos da Metrovivien-
da são públicos, escassos e têm diminuído nos últimos anos. O instrumento do reparto de
cargas e benefícios serviria para colaborar no custeio da implementação do projeto, possi-
bilitando cobrar antecipadamente pelos benefícios gerando recursos em caixa para a cons-
trução do plano. O reajuste de terras colaboraria para evitar gastos com a compra da terra,
permitindo que a empresa tivesse recursos em caixa para gerir o banco de terras. Desta
forma combinados, colaboram na gestão e no financiamento do desenvolvimento urbano.
No caso das áreas de expansão urbana aqui estudadas, o fato de estes instrumentos
não terem sido utilizados aponta para o desafio de articular os empreendedores priva-
dos e proprietários na promoção de habitação de interesse social e prioritário. Se todos
os terrenos e recursos são públicos, reproduz-se um modus operandi muito próximo de
governos tradicionais que não contam com estes intrumentos contemporâneos para o
desenvolvimento urbano.
Importante apontar para estudos futuros que o município de Medellín na Colômbia
segue um modelo diferente, no qual as Empresas Públicas funcionam como financiadoras
do desenvolvimento urbano na transformação da cidade, fazendo o papel da Metrovivienda,
em alguns sentidos, com muito mais recursos provenientes dos serviços públicos prestados.
Por fim, a não utilização dos instrumentos de financiamento – como o reparto de
cargas e benefícios – termina por não envolver os privados na urbanização mostrando-se
como um projeto tradicional, inteiramente público, como veremos nos resultados descri-
tos adiante.
Expropriação
No caso de El Porvenir, das 560 propriedades, 63% estavam localizadas nos bairros
de origem informal, o que ilustra sobre a complexidade da negociação para a aquisição
das propriedades. Conseguiu-se que 83% das propriedades fossem adquiridas por meio
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da Enajenación Voluntária, ou seja, de forma voluntária, não forçosa; e 17% delas a partir
de Expropriación por via judicial, das quais alguns ainda se encontram em processo de
aquisição. A possibilidade de utilização do instrumento da expropriação para utilidade
pública é um trunfo para o Estado e para empresas públicas como a Metrovivienda. No
caso de planos parciais de iniciativa privada, há demora e resistências nos processos de
compra e venda de terras e de aprovação do plano parcial. Isso fez com que, por exemplo,
alguns empreendedores privados quisessem fazer uma parceria com o poder público em
um plano parcial para enfrentar estas resistências por meio da expropriação.
Para fazer o plano da área El Recreo foi aberto um concurso de projetos. O projeto
ganhador estrutura-se sobre um parque linear cortado pela Av. Primeiro de Mayo. A par-
tir deste, estruturam-se quatro peças que dividem o projeto. Em El Recreo espera-se que
sejam produzidas 10 mil unidades habitacionais – dentre elas 7.900 de HIP (maior valor
de subsídio) e 2.100 de HIS – e El Porvenir 18 mil.
Para esse projeto urbano foram analisados sete critérios de qualidade de projeto:
1) apresentar conectividade com a malha viária e urbana existente para que a futura zona
urbana da Ciudadela El Recreo beneficie seu entorno;
2) propor como se garantirá a mobilidade pedreste e por bicicleta, especialmente em di-
reção à futura estação e terminado da Primeira Linha de Metrô (Estação El Porvenir)
como também ao futuro Parque El Porvenir;
3) qualificar o público dando-lhe maior hierarquia e acessibilidade;
4) propor zonas educativas ladeando zonas para parques;
5) que a proposta urbanística deveria conter uma distribuição lógica de volumes, tanto
de edificações como de arborização;
6) ter em conta o tema do comércio, abordar o estudo da utilização econômica das casas,
a proliferação de comércios dentro delas ou em espaços públicos e propor soluções
integrais buscando uma regulação espacial do comércio;
7) propor pouca variedade de desenhos de “superquadras” para promover a competição
entre os futuros edificadores de moradias.
Todas as propostas tinham de conter projeto de uma unidade ou célula básica, da
quadra residencial, que se convertiria no produto final que a Metrovivienda venderia
aos construtores (Metrovivienda, 2002, p.124-5). Estes critérios estavam no edital,
pontuavam, e, ao mesmo tempo funcionavam como diretrizes de aprovação do projeto
ganhador. No caso do Brasil, estas poderiam ser, em última instância, diretrizes para a
aprovação de um novo parcelamento. No entanto, como o poder público por aqui não
tem sido ativo no sentido de pedir nas diretrizes suas necessidades naquela área, não há o
planejamento da expansão, e como diretrizes, reproduzimos uma lista de infraestruturas
reserva de áreas para espaço público contidas na Lei Federal de Parcelamento do Solo (Lei
Federal nº 6.766/79).
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solvência econômica das empresas candidatas aos editais, escolhidos os construtores com
condições e feita uma lista ordenada de construtores. Os que ofereceram pagar mais na
primeira parcela à Metrovivienda puderam escolher as quadras, o que só foi possível
porque as quadras tinham área e preços iguais. O pagamento pela quadra foi dividido
em dois: o primeiro correspondeu à cota inicial oferecida e a diferença seria paga men-
salmente, de acordo com o ritmo de venda das unidades dentro dos 18 meses. Em en-
trevista, técnicos da Metrovivienda afirmaram que critérios como tamanho da unidade
habitacional, estratos aos quais os usos estão determinados, entre outros, também foram
previamente acertados no edital.
Como primeiro critério para escolha dos ganhadores esteve a maior oferta de pri-
meiro pagamento pela compra da terra em metros quadrados, o que permitiria à Metro-
vivienda recuperar recurso de seu caixa que havia sido gasto com a urbanização. Como
outros critérios, os técnicos entrevistados disseram que foram considerados a maior área
útil da unidade habitacional (geralmente giram em torno de 38 e 42m2 com dois quartos)
e maior quantidade de unidades. Nem sempre esses critérios procuram priorizar bons
projetos, mas, como veremos, há uma grande diversidade de resultados.
A licitação de projetos por quadra abre ao mercado a possibilidade da entrega de
empresas menores no desenvolvimento urbano. De acordo com urbanistas de Bogotá, isto
também acontece porque o quadro de empresas no país é de instituições menos estrutu-
radas, não são grandes empresas, não abriram seu capital incorporando outras formas de
obter recursos para suas atividades, são mais tímidas e menos ligadas à financeirização
da atividade imobiliária.
No projeto El Recreo foi montado um estande de vendas com diversas tipologias (ver
fotos que seguem), as quais possuíam o mesmo preço e um apartamento ou casa “modelo”
poderiam ser visitados. O estande também tinha como objetivo fazer conhecer, para os
moradores do entorno e destes estratos, a possibilidade de comprar uma habitação formal
e regular. As unidades habitacionais vendidas foram parcial ou totalmente subsidiadas
pelo governo nacional, dependendo da estratificação da família, e, em 2009, estavam
sendo vendidas por 30 milhões de pesos (pouco menos de 15 mil dólares), obedecendo o
teto proposto no edital de licitação.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora observações pontuais tenham sido feitas no processo de descrição dos casos,
é possível retomar aqui algumas considerações sobre o planejamento colombiano apon-
tando para os desafios que o urbanismo brasileiro deverá enfrentar nos próximos anos,
com a radicalização do mercado imobiliário e das indústrias associadas a este.
Procuramos mostrar que a década de 1990 na Colômbia embasou-se em marcos
jurídicos e planejamento, em diversas escalas, detalhados, procurando articular plano,
execução, investimentos e rever o papel do Estado priorizando urbanizar e deixando a
construção de moradias aos empreendedores privados. A pesquisa mostrou que, apesar
das possibilidades criadas e dos instrumentos ofertados pelo planejamento colombiano,
no caso das áreas de expansão urbana, o mercado privado parece não se interessar por
empreender planos parciais e urbanizar novas áreas. No entanto, responde positivamente
à possibilidade de construir moradias, principalmente face aos subsídios propostos na
política habitacional do país.
O resultado construído das políticas, estratégias e ações dos diversos atores envolvidos
na urbanização de El Recreo e El Porvenir não parece muito diferente de outras urbanizações
em massa desenvolvidas em diversas cidades latino-americanas. O que há de novo? Cria-se
uma política que freia o processo de expansão informal, formando um semianel com ur-
banizações feitas com qualidade e integralmente terminadas, garantindo urbanização com
qualidade ex-ante, preventivamente. Opta-se por uma política pública de urbanização (e não
de habitação), admitindo que o Estado urbaniza com maior qualidade e que o privado está
tão ou melhor estruturado que o poder público para produzir habitação de forma mais ágil.
Nessa política o plano tem um papel central. Não apenas como articulador dos
instrumentos de gestão e financiamento de uma determinada parcela de terra, mas sim
como articulador de redes de infraestrutura, de projetos metropolitanos e regionais, de
projetos de outras temáticas (como parques, escolas, entre outros equipamentos). Além de
gestor de custos e benefícios da urbanização, ou seja, equacionando sua implementação.
A figura do planejador salta dos planos integrais, mais universais e generalizantes para
projetos concretos, factíveis, em um salto do plano para o projeto.
Como resultado, diferentemente do que usualmente temos no Brasil – onde os
projetos habitacionais podem estar desconectados da malha urbana, desarticulados com
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Desta forma, mantêm-se alguns padrões que compõem o “padrão periférico”, não
nos moldes concebidos nos anos 1970 – combinando loteamento periférico, autoconstru-
ção e casa própria –, mas em outros, como a não mescla de classes sociais, a concentração
de habitação sem outros usos ou trabalho.
E, apesar da quantidade de leis, instrumentos urbanísticos e regras para estabelecer
parcerias com o privado no processo de desenvolvimento urbano, várias delas não foram
utilizadas, pois não houve o interesse dos privados em urbanizar a região. Esse fato ques-
19 Termo que pego empres- tiona e mostra que os desafios ligados à rentabilidade da terra permanecem – a valorização
tado de Erminia Maricato, na mudança de uso rural urbano deu-se no momento da compra da terra pela Metro-
que utiliza esta expressão
para problematizar diversas vivienda e a resultante do processo de urbanização foi recuperada apenas parcialmente
questões mais amplas de
distribuição de direitos e ter-
nos preços de venda de quadras –, ou seja, ainda há muito que caminhar para realmente
ra no Brasil. enfrentarem o “nó da terra”.19
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