Dossie6 Rev CPF N14 Semana22
Dossie6 Rev CPF N14 Semana22
Dossie6 Rev CPF N14 Semana22
RESUMO
ABSTRACT
This text aims to analyse Macunaíma’s critical fortune: the hero wi-
thout any character (1928), the work of the modernist writer Mário de An-
drade, as a tool of indigenous exclusion. My argument is to present that
the critical fortune takes place on the creative process of Mário de Andra-
de, erasing the indigenous origins or without any commitment to them.
To this, I will divide this essay into three parts: in the first I will briefly
present what I call Contemporary Indigenous Literature; in the second,
the manifestation of Makunaimî in indigenous literature represented in a
positive way; and in the third I will show that the critical fortune of Bra-
zilian theorists results in the methodology of exclusion without dialoguing
112
REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 14, julho 2022
A fortuna crítica (da exclusão): Makunaimî na literatura indígena contemporânea
RITUAL DE INICIAÇÃO
113
REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 14, julho 2022
A fortuna crítica (da exclusão): Makunaimî na literatura indígena contemporânea
não devem existir em sua própria terra. Imagens como preguiça, antropo-
fagia, feiura são aceitáveis na representação brasileira, mas quando utili-
zadas para tratar dos povos indígenas são elementos de desumanização de
nossos corpos, modos de vida e sociedades.
114
REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 14, julho 2022
A fortuna crítica (da exclusão): Makunaimî na literatura indígena contemporânea
115
REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 14, julho 2022
A fortuna crítica (da exclusão): Makunaimî na literatura indígena contemporânea
2 No artigo “Para que Abiayala viva, las Américas deben morir”, o pesquisador Maya
Kiché, Emil’ Keme desvela por que nós, indígenas, chamamos Abya Yala o conti-
nente conhecido como América (do Sul, Central e do Norte) e as implicações políti-
cas para nós, indígenas (KEME, 2018).
3 Graça Graúna, em 2013, publicou o livro Contrapontos da literatura indígena con-
temporânea no Brasil (Mazza Edições). O livro, resultado de sua tese de doutorado,
foi pioneiro em afirmar que a autoria individual indígena também existia no Bra-
sil, na cidade, e carecia ser verificada, estudada e levada a sério, em contraponto a
pesquisas que afirmavam a literatura indígena, mas apenas em contexto de comu-
nidades e terras indígenas, de âmbito rural.
4 Emil’ Keme organizou em 2015 a obra Teorizando las literaturas indígenas contem-
poráneas” (A Contracorriente), expondo a produção de autoria indígena realizada
no Chile, Peru, Colômbia, Guatemala, Estados Unidos, entre outros.
5 Os povos indígenas que habitam o estado de Roraima, fronteira com Guiana e Ve-
nezuela, para citar alguns, são Macuxi, Wapichana, Wai Wai, Patamona, Ingaricó,
entre outros. O monte Roraima é a referência geográfica e sociocultural de Maku-
naimî, por isso esses povos têm em sua cosmologia a presença de Makunaimî, seja
como deus, seja como personagem de criação, seja como pai dos irmãos Anikê e
Insikiran, dois criadores, dois vôs ancestrais.
116
REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 14, julho 2022
A fortuna crítica (da exclusão): Makunaimî na literatura indígena contemporânea
A promessa foi mantida e ainda hoje aquele lote vive livremente por lá.
São os cavalos selvagens. Indomáveis como a força da natureza. Vivem
soltos no alto das serras mais distantes no pé do monte Roraima. Aris-
cos, raramente aparecem perto das malocas mais isoladas. Somem do
mesmo jeito que o curumim viu naquele dia. (ibidem, p. 63).
117
REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 14, julho 2022
A fortuna crítica (da exclusão): Makunaimî na literatura indígena contemporânea
Devo lhe avisar que estas estórias são parte da minha vida e que real-
mente Makunaima é meu avô; isso é um fato. Makunaima e muitos
outros vovôs são daqui do extremo norte da Amazônia. Nós temos uma
história e uma geografia. Somos parentes diretos. É uma relação bioló-
gica, genética, material e uma parte substancial em espírito, ou ener-
gia. (ESBELL, 2018, p. 12.)
118
REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 14, julho 2022
A fortuna crítica (da exclusão): Makunaimî na literatura indígena contemporânea
e embora ainda não exista essa unificação, razão de eu ter grafado macu-
xi com a letra C, quis nomear o demiurgo com k. No conto “Makunaima e
os manos deuses” (DORRICO, 2019, p. 33), invoco a pesquisa do professor
Devair Fiorotti sobre aspectos da cultura macuxi, no artigo “Erenkon do
circum-Roraima ou uma poética da repetição”, publicado na revista acadê-
mica O Eixo e a Roda, em 2017, tais como o Piatai Datai (tempo ancestral),
Makunaima (pai), Anikê e Insikiran (filhos), erenkon (cantos), pantonkon
(histórias), tarenpokon (cantos de cura). Porém, da página 35 a 38, exerci-
to a criatividade e a imaginação para mostrar o perigo de um deus único
e uma história única.
119
REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 14, julho 2022
A fortuna crítica (da exclusão): Makunaimî na literatura indígena contemporânea
120
REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 14, julho 2022
A fortuna crítica (da exclusão): Makunaimî na literatura indígena contemporânea
121
REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 14, julho 2022
A fortuna crítica (da exclusão): Makunaimî na literatura indígena contemporânea
122
REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 14, julho 2022
A fortuna crítica (da exclusão): Makunaimî na literatura indígena contemporânea
123
REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 14, julho 2022
A fortuna crítica (da exclusão): Makunaimî na literatura indígena contemporânea
124
REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 14, julho 2022
A fortuna crítica (da exclusão): Makunaimî na literatura indígena contemporânea
Não procuro aqui buscar na obra um fato histórico, por isso reitero
que não estou tratando o romance como documento histórico, mas, exata-
mente, analisando as imagens estéticas que a obra ensejou e que a crítica
literária rediscute ao longo dos anos. Aponto também o modo e a finalida-
de com que a literatura brasileira fez esses “empréstimos”, sem nenhum
retorno positivo para os povos indígenas
125
REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 14, julho 2022
A fortuna crítica (da exclusão): Makunaimî na literatura indígena contemporânea
126
REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 14, julho 2022
A fortuna crítica (da exclusão): Makunaimî na literatura indígena contemporânea
127
REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 14, julho 2022
A fortuna crítica (da exclusão): Makunaimî na literatura indígena contemporânea
RITUAL DE PARIXARA
9 O IBGE (2010) reconhece no país cerca de 305 povos originários, falantes de 274 línguas nativas.
128
REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 14, julho 2022
A fortuna crítica (da exclusão): Makunaimî na literatura indígena contemporânea
Diante de tudo isso, busquei mostrar como nós, autores indígenas, re-
presentamos com cuidado e respeito Makunaimã, nosso vô, na literatura
que fazemos e publicamos. Ainda há uma questão sensível, eu sei: como
teóricos brasileiros insistem em nos apagar, homogeneizar, folclorizar, em
suma, racializar-nos no século XXI. A estratégia aqui sugerida para mu-
darmos o rumo da história literária brasileira é meu convite para que
pesquisadores e produtores de conhecimento teórico estudem sistematica-
mente a literatura de autoria indígena, os ensaios, artigos e textos teóri-
cos de intelectuais indígenas que versam sobre nossas políticas; para que
estudem a política indigenista a fim de perceber que não foi uma opção
estarmos à margem do mundo literário nacional.
129
REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 14, julho 2022
A fortuna crítica (da exclusão): Makunaimî na literatura indígena contemporânea
REFERÊNCIAS
AMÓDIO, Emanuele; Pira, Vicente. Makusi maimu – língua makuxi: guia para
aprendizagem e dicionário makuxi. 3. ed. Manaus: Editora Valer, 2007
(1983).
ANDRADE, Mário. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Porto Alegre:
L&PM Pocket, 2018.
ARAÚJO, Valéria (org.). Povos Indígenas e a Lei dos “Brancos”: o direito à
diferença. Brasília: MEC/Secad; Laced/Museu Nacional, 2006.
CRISTINO WAPICHANA. “Makunaima e Macunaímas”. In: ANDRADE,
Mário. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Ilustrações Camile
Sproesser. Rio de Janeiro: Antofágica, 2022, pp. 313-25.
DANIEL MUNDURUKU. Mundurukando. Participação especial de Ceiça
Almeida. São Paulo: Ed. do Autor, 2010.
DORRICO, Julie. Eu sou macuxi e outras histórias. Nova Lima: Caos e Letras,
2019.
ESBELL, Jaider. Terreiro de Makunaima: mitos, lendas e estórias em vivências.
Rio de Janeiro: Funarte, 2012.
______. “Makunaima: o meu avô em mim!”. Iluminuras, Porto Alegre, v. 19, n.
46, pp. 11-39, jan.-jul. 2018.
FIOROTTI, Devair A. “Erenkon do circum-Roraima: ou uma poética da
repetição”. O eixo e a roda, Belo Horizonte, v. 26, n. 3, pp. 101-28, 2017.
______; FLORES, Clemente. Panton Pia’: a história de Macunaima/Macunaimü
Pantoni. Boa Vista: Wei, 2019.
______; PEDRO, Bernaldina José. Cantos e encantos: Meriná eremukon. 1. ed.
São Paulo / Boa Vista: Patuá / Wei, 2019.
FISCHER, Luís Augusto. “Macunaíma: um clássico modernista do Brasil”.
In: ANDRADE, Mário. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Porto
Alegre: L&PM Pocket, 2018, pp. 7-22.
HUPDA. In: Povos indígenas no Brasil (on-line). Brasília: ISA, 2021. Disponível
em: <https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Hupda>. Acesso em: 31 mar.
2022.
KAMUU DAN WAPICHANA. Makunaimã Taani: Presente de Makunaimã. 1.
ed. Brasília: aua editorial, 2020.
KEME, Emil’. “Para que Abiayala viva, las Américas deben morir”. Native
American and Indigenous Studies, v. 5, n. 1, pp. 21-41, 2018. Disponível
em: <https://bit.ly/38V325T>. Acesso em: 5 fev. 2022.
ME/CGEEI – Ministério da Educação/Coordenação Geral de Educação Escolar
Indígena. “Territórios Etnoeducacionais”. Brasília: MEC/CGEEI, 2015.
Disponível em: < https://adelco.org.br/wp-content/uploads/2018/06/Territorios-
Etnoeducacionais-texto-conceitual-CGEEI.pdf>. Acesso em: 7 fev. 2022.
MÉTRAUX, Alfred. A religião dos Tupinambás e suas relações com a das demais
tribos Tupi-Guaranis. Tradução e notas, Estevão Pinto. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1950 (1928).
130
REVISTA DO CENTRO DE PESQUISA E FORMAÇÃO / Nº 14, julho 2022
A fortuna crítica (da exclusão): Makunaimî na literatura indígena contemporânea
131