Instrumentosdegarantianocomercioexterior N
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SUMÁRIO
ABSTRACT
This paper examines the main guarantee instruments available to Brazilian exports, as means to
mitigate some of the risks related to foreign trade, in line with the governmental policies aimed at
the internationalization of Brazil. The document examines bank guarantees, following the
evolution of their complexity; the manner in which letters of credit are regulated by Lex
Mercatoria; and the mechanisms offered by the Brazilian government and other institutions. In
the end, reference is made to the Reciprocal Credits Agreement (CCR) executed among the
Central Banks of the several countries belonging to ALADI.
I. - INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o governo brasileiro tem envidado grandes esforços para
“internacionalizar” o Brasil, tanto do ponto de vista político quanto comercial. Nesse contexto,
vários órgãos governamentais e associações da indústria têm tentado incrementar as exportações
de empresas brasileiras.
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(i) O Risco Comercial, que inclui a mora do devedor, exceto se provocada por fatos
de natureza política ou extraordinária, bem como sua falência, concordata, insolvência ou outro
fato similar;
(ii) O Risco Político, também conhecido como risco soberano ou risco-país, que
inclui (a) a mora ou rescisão arbitrária do contrato por parte de ente do poder público; (b) a
moratória geral decretada por autoridades do país do devedor ou de outro país através do qual o
pagamento deva ser efetuado; (c) qualquer decisão ou ato das autoridades de outro país que
impeça a execução do contrato; e (d) decisão do governo local, de governos estrangeiros ou de
quaisquer organismos internacionais, tomadas após a celebração dos contratos, que impeça o
devedor de efetuar os pagamentos devidos; e
benefício de exportadores não são um mecanismo de proteção muito comum. De um lado, por
causa do seu custo, que é elevado se comparado ao custo de um seguro de crédito à exportação, e
de outro, porque dificilmente haverá uma instituição financeira que mantenha relacionamento
tanto com o exportador (que deve confiar no banco que vai lhe pagar) quanto com o importador
(que é para quem o banco dá o crédito).
Além disso, uma garantia autônoma não possui vínculo com a operação comercial - via de
regra, essas garantias prevêem simplesmente que, se o importador não pagar, o exportador pode
acionar o banco, que deve imediatamente quitar o débito, sem questionamentos. Isso não dá
segurança ao importador, pois caso haja alguma desconformidade nas mercadorias exportadas,
por exemplo, o banco não poderá se eximir de pagar (e, por conseguinte, buscar ressarcimento
junto ao importador).
Exatamente para evitar esses inconvenientes é que se criou as cartas de crédito, que nada
mais são que garantias bancárias vinculadas à performance adequada pelo exportador,
comprovada mediante a apresentação dos documentos previamente exigidos pelo importador e
listados na carta de crédito.
Não obstante, pode haver casos em que, tendo em vista a estrutura da operação, faz
sentido a utilização de uma garantia bancária ao invés de uma carta de crédito. Imagine-se, por
exemplo, uma multinacional cuja matriz fica no exterior, mas que tem forte presença no Brasil e
um bom relacionamento com um banco brasileiro X. Se a matriz (no exterior) for exportar algo
para uma empresa brasileira, é possível que a matriz, ao invés de exigir uma carta de crédito,
aceite uma fiança do banco X, pois neste caso o banco de confiança do exportador (a matriz cuja
filial brasileira tem relação com o banco) pode avaliar e dar crédito ao importador brasileiro.
Por meio de uma carta de crédito, um banco localizado no país do exportador garante a
este que, se o embarque das mercadorias for feito nas condições pactuadas, o exportador receberá
a importância devida. Outro banco, localizado no país do importador, garante a este que o
pagamento somente será feito se atendidas todas as condições previamente impostas pelo
importador e constantes da carta de crédito. Essas condições devem ser objetivas: diz-se que
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cartas de crédito não existem para ser interpretadas, mas para ser cumpridas. Se houver qualquer
ambiguidade sobre uma carta de crédito, esta perde seu caráter de garantia e torna-se um
documento de cobrança simples.
Por seu caráter internacional, as cartas de crédito não são regulamentadas em legislações
domésticas. Ao contrário, elas decorrem dos usos e costumes internacionais, a chamada Lex
Mercatoria, que se formou ao longo de séculos de comércio exterior. Esses costumes foram
compilados - e são frequentemente atualizados - pela Câmara de Comércio Internacional (CCI),
órgão sediado em Paris, França. A CCI, de tempos em tempos, edita livretos descrevendo os usos
e costumes relacionados a diferentes assuntos, visando a minimizar as diferenças de
interpretação pelos vários cantos do mundo. Talvez o mais “famoso” desses livretos seja o
INCOTERMS, que estabelece a divisão de obrigações entre importador e exportador (como, por
exemplo, as modalidades FOB e CIF). Especificamente no caso das cartas de crédito, o livreto
que as regulamentam é chamado UCP500.
As regras publicadas pela ICC não são impositivas, até porque aquele órgão não tem
jurisdição sobre os particulares. Tais regras apenas se tornam obrigatórias se (i) adotadas pela
legislação de algum país, o que acontece se o Poder Legislativo local editar lei “copiando” os
termos da ICC, ou (ii) se expressamente adotadas pelas partes de um contrato, com cláusulas
fazendo referência, por exemplo, aos “INCOTERMS do ano 2000”. Não obstante, tribunais de
vários países do mundo embasam-se nas regras da ICC para a solução de conflitos em comércio
internacional.
O artigo 2o. da UCP500 estabelece que cartas de crédito significam qualquer acordo,
independentemente de sua denominação ou descrição, através do qual um banco (o “Banco
Emitente”), agindo a pedido e de acordo com as instruções de um cliente (o “Tomador”), ou em
seu próprio interesse, (i) obriga-se a efetuar um pagamento a ou à ordem de um terceiro (o
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“Beneficiário”) ou obriga-se a aceitar e pagar letras de câmbio (saques ou drafts) emitidas pelo
Beneficiário, (ii) autoriza outro banco a efetuar tal pagamento, ou a aceitar e pagar tais letras de
câmbio (saques ou drafts), ou (iii) autoriza outro banco a negociar, sempre contra a entrega de
documentos estipulados, e desde que as condições da carta de crédito sejam cumpridas.
Quando fala que o banco obriga-se a pagar, a UCP500 faz referência às chamadas cartas
de crédito à vista - o banco recebe os documentos e imediatamente paga o exportador. Quando
fala que o banco obriga-se a aceitar letras de câmbio, A UCP500 está se referindo a cartas de
crédito a prazo - o banco recebe os documentos e aceita a letra de câmbio, comprometendo-se a
pagar o exportador em data futura.
(ii) Banco Emitente (Issuing Bank): banco que, a pedido do importador, procede à
abertura da CC, sendo responsável pela operação bancária, garantindo, dessa forma,
em nome do importador, o pagamento das divisas ao exportador, desde que este
respeite os termos, exigências e requerimentos inseridos no texto da carta de crédito;
(iii) Banco Avisador (Advising Bank): banqueiro na praça do exportador que transmite a
abertura da carta de crédito sem responsabilidade de sua parte (isto é, ele negocia com
o exportador sem, entretanto, obrigar-se pelo pagamento devido pelo Banco
Emitente);
(v) Banco Negociador (Negotiating Bank ou Paying Bank): banco que paga ao
exportador, em moeda nacional;
(vi) Banco Confirmador (Confirming Bank): banco que assume o compromisso de pagar
ao exportador em qualquer circunstância – o Confirmador garante o cumprimento da
obrigação de pagar por parte do Emitente.
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Quando alguma exigência da carta de crédito não tiver sido atendida, ou quando algum
documento não tenha sido elaborado conforme estipula a carta de crédito, então se diz que
existem “discrepâncias” (discrepancies) entre a documentação apresentada e as exigências da
carta de crédito. O banco negociador, ao examinar a documentação apresentada pelo exportador,
tem a obrigação de apontar qualquer discrepância que houver e, em seguida, comunicar ao
exportador sobre as irregularidades, que a essa altura dos acontecimentos não podem mais ser
resolvidas uma vez que a mercadoria já foi embarcada e os documentos entregues. O banco
negociador, ao remeter os documentos ao banco emitente, tem a obrigação de mencionar que a
documentação apresentada está com discrepâncias. Caso se trate de carta de crédito à vista,
ocorrerá o seguinte:
(a) O banco emitente não tem a obrigação de informar ao importador sobre as discrepâncias
(conforme o artigo 14 da UCP500), mas na prática bancária ele convoca o importador
para saber sua opinião sobre os documentos discrepantes, até porque se a discrepância
pode ser irrelevante para o importador;
(c) O importador pode informar ao banco emitente que prefere aguardar a chegada da
mercadoria para depois verificar se está tudo certo e autorizar o pagamento. Isto pode
levar certo tempo e, enquanto isso, o exportador não pode receber o pagamento;
(d) Caso o importador aceite as discrepâncias, instruirá o banco emitente para honrar o valor
da carta de crédito.
O artigo 9º(a) da UCP500 determina que, no caso de um crédito irrevogável (crédito este
mais utilizado na prática comercial, ao contrário do crédito revogável, que pode ser cancelado
pelo banco emitente a qualquer momento, sem nenhum aviso prévio ao exportador), o
compromisso do banco emitente de pagar é firme e, naturalmente, irrevogável, estendendo-se
esta garantia de forma solidária com o banco negociador que foi autorizado a negociar os
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Artigo 14
Além dos créditos documentários, existem ainda as SLC, cujo conceito e propósito é um
tanto diferente. A SLC surgiu porque a legislação de certos países, principalmente dos EUA,
proibia que bancos concedessem garantias - essa era uma função das companhias seguradoras.
Assim, os bancos procuraram um mecanismo que pudesse proteger suas operações. A SLC,
apesar de chamar-se carta de crédito, funciona na prática como um instrumento de garantia (carta
de garantia).
qual fica o exportador autorizado a sacar uma letra de câmbio contra o banco.
O SCE é, entre as modalidades de garantia disponíveis ao exportador, uma das que tem
custo mais reduzido. Protege as exportações brasileiras contra riscos comerciais, políticos e
extraordinários, e pode ser contratado tanto pelo exportador quanto pelo financiador do
exportador. O SCE pode inclusive ser dado em garantia, pelo exportador, na contratação de
adiantamentos de contratos de câmbio (sejam eles pré ou pós embarque) com bancos brasileiros,
bem como financiamentos do programa BNDES-Exim e do PROEX.
O SCE oferece dois tipos de cobertura: cobertura por risco comercial e cobertura por risco
político e extraordinário. Fica a critério do exportador a decisão de qual seguro contratar. No caso
de risco comercial, a cobertura do SCE atinge 90% do valor da exportação (determinado de
acordo com o Incoterm negociado entre as partes). Para o risco político e extraordinário, a
cobertura chega a até 95% do valor da exportação.
Os SCEs podem também ser divididos em “de curto prazo”, para exportações com prazo
de pagamento de até dois anos, e “de longo prazo”, com prazo superior a tal período.
Quando contrata um SCE, a SBCE assume totalmente o risco comercial das operações de
curto prazo. Nas operações de longo prazo, esse risco é assumido pelo FGE - Fundo de Garantia à
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Exportação, que é um fundo criado pelo Governo Federal com o propósito específico de garantir
os financiamentos à exportação. Independentemente do prazo, o risco político e extraordinário é
sempre assumido pelo FGE.
Por conta dessa assunção de riscos, cabe sempre ao Conselho Diretor do FGE a análise
das operações previamente à contratação do SCE, ressalvado, entretanto, que via de regra o
Conselho determina limites de exposição para cada país e cada tipo de seguro, permitindo que a
SBCE tenha certa autonomia na decisão de como distribuir esses limites.
Para operações de curto prazo, e especialmente aquelas cujos prazos de pagamento não
supere 180 dias, é possível a contratação de uma apólice global e rotativa, que cobre todas
exportações do contratante efetuadas no período de validade da apólice. Isso, além de
desburocratizar o procedimento do ponto de vista do exportador, ajuda a diluir o risco da
seguradora, reduzindo bastante o custo da apólice.
Nas operações de longo prazo (e mesmo as de prazo entre seis meses e dois anos,
conforme o caso), os produtos exportados geralmente fazem parte de um projeto individualizado
para o importador específico, não havendo que se falar em apólice global. Com efeito, esse tipo
de operação, em que o exportador concede prazos longos para que o importador realize o
pagamento, geralmente tem por objeto produtos de ciclo produtivo mais longo, como
embarcações, máquinas pesadas, aviões, produtos que, na maioria das vezes, são customizados
para atender necessidades específicas do importador. A formalização desse tipo de contrato é
geralmente mais demorada, os valores costumam ser mais elevados e pode ser necessária uma
análise de risco individual de cada importador, o que justifica a exigência de contratação de
garantia individualmente, ao invés de uma mera apólice global.
O prêmio do SCE deve ser negociado entre o exportador e a SBCE. Entretanto, via de
regra a cobertura pelo risco comercial custa entre 0,5% e 1,8% do valor das exportações cobertas.
Por fim, cabe notar que o SCE não cobre eventuais juros a que o exportador tenha direito,
seja em consequência da inadimplência do importador (juros moratórios), seja em consequência
do prazo concedido para pagamento (juros remuneratórios)
Além dos mecanismos de garantias citados acima, vale a pena mencionar outros, que não
se enquadram em nenhum dos itens anteriores, mas que têm papel importante na promoção do
comércio exterior.
Um outro mecanismo, mais recente, é o acordo celebrado entre o Banco Central do Brasil
e o Banco Central da Argentina para permitir a liquidação de operações de comércio exterior em
moeda local. Tradicionalmente, uma remessa de valores do Brasil à Argentina demandaria uma
conversão de Reais em Dólares dos EUA, e uma segunda conversão de Dólares dos EUA para
Pesos Argentinos. Com esse acordo, tornou-se possível converter, diretamente, Reais em Pesos
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VI. - CONCLUSÃO
Conforme visto, muito embora haja grande desconfiança por parte de certos exportadores
brasileiros ao iniciar negociação com importadores “não tradicionais”, há mecanismos por meio
dos quais os exportadores podem se proteger dos diversos riscos inerentes às exportações.
Inegavelmente, tais mecanismos implicam em custos adicionais para a operação, razão pela qual
seria recomendável que os esforços de promoção de comércio exterior atualmente envidados
pelo governo brasileiro e pelas associações da indústria incluíssem estratégias para redução do
impacto de tais custos sobre o exportador.