O Impacto Das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) Na Família Contemporânea
O Impacto Das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) Na Família Contemporânea
O Impacto Das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) Na Família Contemporânea
MESTRADO EM SOCIOLOGIA
M
2018
Eusébio Kaluvi Mateia
Setembro de 2018
O Impacto das novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) na
família contemporânea
“Relações entre pais e filhos”
Membros do Júri
Confrades e Amigos/as
Sumário
vii
CAPÍTULO II - O LUGAR DA CRIANÇA E O NOVO PARADIGMA DA INFÂNCIA NA
SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA ....................................................................................... 32
5.1. Panorama geral das tendências que assolam a família no mundo ocidental nos
últimos anos ..................................................................................................................... 64
5.2. Problemática da investigação ............................................................................................ 67
5.3. Abordagem metodológica ................................................................................................. 69
5.4. As técnicas de recolha de dados: inquéritos por questionário e entrevistas ...................... 69
viii
5.4.1. Inquéritos por questionários ........................................................................................... 69
5.4.2. Entrevistas semi-estruturadas ................................................................................. 70
5.5. Estratégias da aplicação das técnicas de recolha de dados ................................................ 72
ANEXOS:
Anexo 1.1. Declaração da orientadora do estudo ................................................................ 1
Anexo 1.2. Declaração do consentimento informado ......................................................... 2
Anexo 1.3. Guião das entrevistas aos jovens ...................................................................... 3
Anexo 1.4. Guião dos inquéritos por questionários aplicado aos pais ................................ 5
Anexo 1.5. Tabela 1.8 Grelha de categorização e análise das entrevistas dos jovens. ..... 15
ix
Declaração de honra
Declaro que a presente dissertação é da minha autoria e não foi utilizado previamente
noutro curso ou unidade curricular, desta ou de outra instituição. As referências a outros
autores (afirmações, ideias, pensamentos) respeitam escrupulosamente as regras da
atribuição, e encontram-se devidamente indicadas no texto e nas referências
bibliográficas, de acordo com as normas de referenciação. Tenho consciência de que a
prática de plágio e auto-plágio constitui um ilícito académico.
x
Agradecimentos
O meu agradecimento vai em primeiro lugar a Deus autor de tudo quanto existe
e guia de todos os projetos humanos, por me ter iluminando na delineação deste projeto.
Em segundo lugar o meu reconhecimento de gratidão dirige-se à Professora Doutora
Isabel Dias, que com a sua genial sabedoria e de forma incansável disponibilizou-se em
orientar-me nesta investigação. Muito obrigado.
À Doutora Sandra Rodrigues e a Professora Ana Maria, pelo tempo dispensado
em ajudar-me na estratégia do planejamento da aplicação dos inquéritos e das
entrevistas. O meu profundo reconhecimento. Ao doutor Carlos Costa Gomes pela sua
disponibilidade e dedicação em fazer a pré-correção desta dissertação. Muito obrigado.
Finalmente agradeço os meus confrades, pela ajuda e pelos incentivos que me
têm prestado neste estudo. O meu profundo reconhecimento.
xi
Resumo
xii
Abstract
This Master's thesis has as its main impact the new Information and
Communication Technologies (ICT) in the contemporary family. The study itself has as
basic reference the sociological theorists of the gender family, with an interest in family
interaction, taking into account the invasion and frequent use of new Information and
Communication Technologies (ICT) by the young. In this study we try to understand
the impact that this reality has had on the contemporary family.
To this end, we conducted a questionnaire survey of a sample of parents in order
to understand how the appropriation of the new Information and Communication
Technologies (ICTs) by young people has influenced family interactions and what the
parents' opinion about this topic. It is also better to lose the strategy of the parents
themselves to accompany their children in this matter, as well as the purpose with which
the children themselves use these technological devices. For this, we also applied some
interviews to the young people, in the sense of confronting opinions.
The conclusion of the research made it possible to perceive that with the
introduction of the new Information and Communication Technologies (ICT) and the
appropriation of these means by young people, the dynamics of the family relationship,
especially the interaction of parents and their children, have altered significantly. This
reality has also changed the behavior of their children, young people towards their
families.
xiii
Índice de Figuras
Figura 1.1. A idade com que os filhos começam a aceder às TIC .......................................... 76
Figura 1.2. Os dispositivos tecnológicos que os filhos têm e utilizam com frequência .......... 77
Figura 1.3. O tempo que os filhos dedicam à utilização das novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) .............................................................................. 78
Figura 1.4. Atitude dos pais face a aprendizagem dos filhos na
utilização das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) ..................... 79
Figura 1.5. O papel dos pais como mediação paternal no uso das novas
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) por parte dos filhos....................... 83
Figura 1.6. Atitudes dos pais em relação ao controlo ou acompanhamento do
filhos no uso das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) ................. 84
Figura 1.7. Atitude dos pais face ao uso das novas Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC) por parte dos filhos ....................................................................... 86
Figura 1.8. A utilização frequente das novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) por parte dos filhos em relação à família ............... 87
Figura 1.9. Opinião dos pais face a apropriação das novas Tecnologias de Informação
e Comunicação (TIC) por parte dos filhos e jovens, em relação à família................... 89
Figura 1.10. Expetativas dos pais em relação ao futuro dos seus filhos, tendo em
conta o uso das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) ................... 90
xiv
Índice das siglas e abreviaturas
Siglas
ARPA - Advanced Research Projects Agencie
APUD - termo de origem latina que significa “perto de”, “em”, “junto a”
AML - Área Metropolitana de Lisboa
FFMS - Retrato de Portugal na Europa
INE - Instituto Nacional de Estatísticas
ISF - Índice Sintético de Fecundidade.
UE - União Europeia
NUTS - Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos
OFAP/ICS-UL - Observatório das Famílias e das Políticas de família do Instituto de
Ciências
Sociais
OIT - Organização Internacional do Trabalho
R.A.A - Região Autónoma dos Açores
R.A.M - Região Autónoma de Madeira
SGM - Segunda Guerra Mundial
SPSS - Statistical Package for the Social Science
TIC - Tecnologias de Informação e Comunicação
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
UE - União Europeia
Abreviaturas
Cit - Citada/o
Cf. - Conferir
et. al., - E outros autores
Idem - mesmo autor e mesma página
Ibdem - mesmo autor e páginas diferentes
p. - página
pp. - páginas
v
Índice de tabelas
vi
Introdução
1
Lapa, Araújo e Cardoso (2009) “E-Generation 2008: os usos de mídia pelas crianças e
jovens em Portugal”; bem como: Ana Nunes de Almeida, Nuno de Almeida Alves e
Ana Delicado (2010) “as crianças e a internet em Portugal, perfis e usos”, constituíram
a base fundamental desta nossa investigação, ‘grosso modo’ as nossas teorias giraram
em torno destes autores.
O problema teórico levantado nesta investigação relaciona-se com a seguinte
questão: Qual é o impacto das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)
por parte dos filhos na família contemporânea?
A investigação partiu de um quadro teórico de referência e do interesse
particular baseando-se nos fatos constatados no dia-a-dia que envolvem o círculo
familiar, ou seja, a estrutura dos membros familiares. Assim, o estudo incidiu-se sobre
uma população específica, os pais com filhos (adolescentes e jovens) residentes nas
cinco freguesias do Concelho de Oliveira de Azeméis, distrito de Aveiro, cujo objetivo
geral consiste em perceber de que forma a apropriação das novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC), por parte dos jovens tem influenciado as interações
familiares e qual é a opinião dos pais sobre este assunto. Como suplemento do estudo,
os objetivos específicos consistem em entender de que forma os pais têm exercido o
papel de mediação paternal ou parental no controlo ou acompanhamento dos seus
filhos/as na utilização das novas Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC);
perceber também a finalidade com que os filhos/as, os jovens utilizam as novas
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC); Perceber ainda a opinião dos pais
sobre o futuro dos seus filhos/as, tendo em conta a utilização frequente destes
dispositivos. Para a concretização destes objetivos, em jeito de confrontação das
opiniões, efetuou-se uma entrevista a alguns jovens (22 – total) residentes no mesmo
Concelho.
Esta dissertação estruturou-se em seis capítulos, sendo que o primeiro deles
incidiu sobre o estudo das tendências que têm afetado e transformado o funcionamento
da família no mundo ocidental. Nos últimos anos, vários sectores têm sido atingidos por
inúmeras mudanças, incluindo a própria estrutura familiar (Moore, 1967, p. 2). São
vários os fatores que têm contribuído para tais alterações, podemos aqui referir a própria
realidade sociodemográfica, bem como a própria dimensão tecnológica que envolve a
globalização (Leandro, 2001, p. 142). Na dimensão sociodemográfica, cada vez mais
2
verifica-se uma redução significativa nas taxas de natalidade e fecundidade (INE, 2013
& 2014), em contraste com a taxa de envelhecimento. Por causa das taxas elevadas dos
divórcios, tem aumentado cada vez mais as famílias recompostas (Eurostat, 2012),
aumentou também as uniões de facto; bem como o número de pessoas a viver sozinhas,
sobretudo para a população idosa (Eurostat, UE-SILC, 2011; INE, 2013; Sullerot, 1999
[1997], p. 137), sem nos esquecermos do aumento das famílias monoparentais
(Lefuncheur, 1991, p. 231; INE, 2013) e do surgimento dos novos modelos familiares,
por exemplo, a família homossexual (Relvas, 2004; Alarção, 2006i, p. 97).
O segundo capítulo incidiu sobre o estudo da infância e o lugar da criança na
sociedade contemporânea. De lembrar que, nas sociedades antigas e tradicionais a
criança não tinha um lugar específico considerado por causa da sua fragilidade, o seu
papel não reconhecido (Ariès, 2013, p. 158). Segundo Ariès (1978) o sentimento de
infância praticamente só ocorreu a partir da renascença, antes a criança ocupava um
papel periférico na família (p. 70). Só a partir do século XVII e XVIII que, começa a
surgir o sentimento para com a criança, valorizando-se o seu papel na família, sobretudo
com o surgimento das instituições ligadas aos cuidados e educação das crianças; desta
forma a criança, “passou a permanecer mais tempo na escola do que em casa, aprende
mais com os professores do que com os seus pais (Silva, 2010, p. 33). Nunca como hoje
as crianças foram objeto de tantos cuidados e atenções (Sarmento, 2008, pp. 18-19).
O terceiro capítulo faz um estudo referente à sociedade de informação e
comunicação; sociedade caracterizada pela invasão das novas tecnologias, fazendo com
que o conhecimento, a informação e os dados sejam partilhados de forma rápida e
instantânea num espaço curto de tempo e a baixo custo (Cetic, 2014, p. 27). Uma
sociedade em que a tecnologia de informação é indispensável na manipulação da
informação e construção do conhecimento (Castells, 1999, p. 21); onde os mídia
assumem uma grande importância (Esteves, 2003, p. 169); onde as Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) são utilizadas com maior frequência (Gouveia &
Gaio, 2004, p. 3).
O quarto capítulo incidiu sobre o estudo da relação dos jovens com as novas
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). Na sociedade contemporânea, os
jovens cada vez mais são caracterizados por uma forte relação com os dispositivos
tecnológicos (Terceiro, 1997, p. 37); eles nasceram e estão a crescer num mundo cada
3
vez mais digital (Lepicnik & Samec, 2003, p. 10). Em muitos casos, esta realidade
constitui um benefício para eles, sobretudo no campo da aprendizagem e do próprio
desenvolvimento cognitivo. Mas também não deixo de constituir perigos ou riscos, ao
ponto de muitas vezes ser a base de conflitos no próprio relacionamento familiar
(Cardoso, Espanha & Lapa, 2008, p. 2). Dai o papel preponderante dos pais como
mediadores em orientar, educar, prevenir (Bleeker & Jacobs, 2004; Gonzalez-Deffass et
al., 2005, p. 42) e acompanhar os seus filhos/as nesta matéria (Van der Bulck & van
Den Bergh, 2000, Bybee at al., 1982; Dorr et al., 1989; Lin & Atkin, 1989, p. 73).
No quinto capítulo procurou-se fazer um estudo de recapitulação sobre as
tendências acima referidas, como panorama geral da investigação e fundamentação
teórica para o enquadramento da investigação do estudo em causa. Neste capítulo é
apresentada a metodologia de investigação, a mesma encontra-se ancorada numa
abordagem de caráter misto (quantitativa e qualitativa), utilizando como técnicas de
recolha de dados o inquérito por questionário e as entrevistas. No mesmo capítulo é
explicada a composição e a estratégia de aplicação das técnicas referidas, bem como os
traços gerais da descrição da amostra.
Por fim, o sexto capítulo apresenta os resultados dos dados recolhidos através do
estudo de campo, tendo como suporte as técnicas já mencionadas, seguindo-se da
análise e discussão dos mesmos bem como as considerações finais.
4
CAPÍTULO I
5
de relação familiar, a mulher era a que mais sofria descriminação, ela gozava de um
estatuto muito baixo, enquanto solteira era controlada pelo pai, enquanto casada pelo
marido, enquanto viúva pelo filho mais velho. O seu estatuto simplesmente elevava-se
de acordo com a proporção direta do número de filhos que conseguisse ter; de lembrar
que o filho nesta altura era considerado como a fonte de riqueza (Freitas, 2014, p. 27).
Deve dizer-se que, antes da Revolução industrial, na família prevalecia um
modelo familiar de tipo patriarcal, constituído por uma família extensa alargada, onde
os usos e os costumes que dão origem à família - o matrimónio - dependiam dos pais e
da família dos noivos; estes programavam a constituição da nova família,
independentemente dos noivos que pouca influência tinham nesses preparativos. Eram
os pais e a família que predispunham de todas as circunstâncias antes do matrimónio
(Burgalassi, 1974; Beltrão, 1989, p. 91).
Já depois da Revolução industrial sobretudo no final do século XVIII, com o
abandono das famílias às zonas rurais, instalando-se assim nas cidades para juntos das
fábricas, modificou-se também o funcionamento do novo sistema familiar, que fez
declinar o velho sistema. A estrutura hierárquica que no sistema antigo era centralizada
no homem - ancião/patriarca - perdeu a sua força, bem como os próprios serviços
mútuos; desta vez alterou-se também a forma da constituição dos próprios casais, cujo
domínio recai nas preferências pessoais na escolha do cônjuge. Aqui, verifica-se
também o declínio significativo do número de filho nas famílias, desta vez, os filhos já
não são vistos como fonte de riqueza, uma vez que os pais já não podem contar com a
ajuda dos familiares para os criar, mas sim um investimento (Freitas, 2014). Neste
sentido, a família tradicional vê-se substituída pela família conjugal ou mesmo nuclear,
unem-se assim os laços emocionais. O casamento passa agora a obedecer os critérios de
escolha pessoal, tendo por obediência as normas de afeição e de amor romântico. Isto
deu azo a ponto de que, a partir de meados do século XX, se generalizasse o sentimento
de que a família seja um mundo privado, onde existisse a realização pessoal, onde o
carinho, afetividade, a proteção, o estímulo à educação e formação, a promoção social,
entre outros, fossem imperativos (Freitas, 2014).
De lá para cá, tem-se verificado que a instituição familiar tem sofrido quase em
todas as épocas, algumas transformações e algumas delas com um grau de
profundidade. No caso das sociedades ocidentais, estas, foram passando do predomínio
6
das organizações estatais de poderes centralizados, para sistemas mais democráticos em
que se valoriza, predominantemente, a liberdade, a racionalidade e a igualdade de
oportunidades (Leandro, 2006, p. 221). Assim, deve dizer-se que, com a emergência da
sociedade moderna e contemporânea, dão-se mudanças e alterações profundas no
domínio da autoridade em relação à instituição familiar e não só, tornando-a assim cada
vez mais enfraquecida. Deve salientar-se que, na verdade a família moderna, tornou-se
uma família transformada, predominada pelo modelo de família nuclear (Beltrão, 1989;
Good, 1973, p. 436). “ [...] A família moderna é uma instituição na qual os membros
têm uma individualidade maior do que nas famílias existentes anteriormente. Essas
divergências individuais se acentuam se consolidam e, como elas são os cernes da
personalidade individual, esta vai necessariamente se desenvolvendo. Cada um constrói
uma fisionomia própria, sua maneira pessoal de sentir e pensar. O fato dos indivíduos
terem cada vez mais sua lógica própria tem como efeito diminuir o comunismo familiar,
pois este supõe, ao contrário, a identidade, a fusão de todas as consciências em uma
mesma consciência comum, que os envolve” (SINGLY, 2007, p. 35).
Nos meados da década de 60 do século XX, surgiram marcos de viragens na
história da família sobretudo nas sociedades ocidentais. Nesta época as mulheres
reivindicavam os reconhecimentos de direitos iguais aos dos homens em todos os
planos da vida social, impondo o reconhecimento da partilha das tarefas familiares, uma
vez que ambos exercem agora profissões no exterior da residência. Deste modo,
verifica-se que o conceito de família na atualidade, já não traduz construção mental, ou
seja, uma representação social, aquela constituída por um pai, uma mãe e filhos. Cada
vez mais encontramos famílias “anormais”, à luz dos novos paradigmas, em que os
membros nem sempre partilham a mesma residência, nem sempre os descendentes são
filhos dos adultos da família e nem sempre os adultos são de sexos diferentes (Alarcão
& Relvas, 2002, p. 146). Mas apesar da estrutura familiar, ter assumido novos
paradigmas, como é o caso de igualdade de papéis na estruturação das suas atividades
para todos os seus membros, verifica-se que é na mulher que continua a recair a maior
parte das funções alusivas à organização interna da vida familiar; os trabalhos
domésticos, os cuidados com as crianças e com as pessoas dependentes (Dias, 2011, p.
81).
7
1.2. Conceito de Família
“A família é um termo que não é possível definir, sendo apenas possível a sua
descrição; família é um conjunto de pessoas de que gostam umas das outras”
(Fernández, cit. Por Pereira, 2008, p. 49). Etimologicamente a palavra ‘família’ é de
origem latina ‘famulus’, que significa servidor. Um conceito que pouco se aplica ao que
hoje se entende por família, uma vez que este tinha por designação, o conjunto de
escravos e dos servidores, incluindo também a casa ‘domus’, isto é, todos os indivíduos
que vivem sob o mesmo teto e que partilham os bens patrimoniais pertencentes a este
espaço (idem).
De uma forma genérica, o conceito de ‘família’, era designado por ‘agnati’, que
são os parentes pertencentes à uma linha paterna e ‘cognati’, parentes pertencentes a
uma linha materna; bem como o conjunto dos parentes unidos pelos laços de sangue,
vindo a tornar-se em sinónimo de ‘gens’, termo usado na linguagem corrente (A. Ernout
et A. Meillet, 1951, p. 383). “Do latim ‘família’ de ‘famel´ (escravo, doméstico), é
geralmente tido em sentido restrito, como a sociedade conjugal” (Silva, 1999, p. 347).
De acordo com o Dicionário Larousse da Língua Portuguesa (2001), a palavra família
define-se como: “grupo de pessoas ligadas entre si por laços de casamento ou de
parentesco; pai, mãe e filhos; grupo de parentes mais ou menos próximos; conjunto dos
ancestrais ou os descendentes de um indivíduo; linhagem; filhos, prole” (p. 427). O
conceito em si foi por muito tempo, na cultura ocidental e nas próprias ciências sociais,
objeto de aceitação implícita e, por isso mesmo, essencialmente crítica (Rowland,
1997).
Geralmente tem-se por definição do conceito família, o núcleo constituído por
um pai, uma mãe e filhos, que coabitam num único espaço, onde partilham os afetos, os
sentimentos e convívios e ajudam-se mutuamente (Amaro, 2006; Gimeno, 2003, p. 39).
Esta definição vai de encontro com aquela que Relvas e Alarcão, (1989), nos
apresentam. Para estas autoras, a família é “um sistema social natural e, por isso, aberto
e autorregulado; sendo um conjunto de pessoas, unidas por laços sanguíneos e/ou
afetivos, em interação continua” (p. 88).
Antes de analisarmos aqui algumas perspetiva, sobre este conceito, importa
ainda referir que, de entre muitas definição que são apresentadas por vários autores,
parece-nos importante acrescentar aquela referida por Atkinson e Murray (cit. por Vara,
8
1996), para estes autores a família, é um sistema social uno, composto por um grupo de
indivíduos, cada um com um papel atribuído e, embora diferenciados, que
consubstanciam o funcionamento do sistema como um todo. Como podem ver, esta
definição tem uma grande relação com a teoria dos funcionalistas, que não define os
papeis sociais, mas também procura diferencia-las, neste sentido, os homens exercem a
função de ‘ganha-pão’, trabalhando fora de casa, assegurando assim o sustento da
família, - papel instrumental -; enquanto às mulheres executam o trabalho domestico,
socialização dos filhos e os cuidados de casa - papel expressivo - (Parsons, 2002, pp.
45-61). Cabe ao chefe de família exercer a sua autoridade não só na dimensão
económica, mas também na vertente moral (Silva, 2001, p. 146).
Singly (2007) afirma que, “se a família moderna e a família antiga não são
semelhantes, é porque os meios para obter tais objetivos mudaram. A continuidade da
função de reprodução assegurada pela família foi dissimulada pelas transformações da
sociedade e, assim, pelas transformações dos modos de transmissão” (p. 49). Todas
essas designações são hoje traduzidas na denominada “família alargada ou parentela”,
embora sob o ponto de vista das estruturas, dos papéis e das funções da noção de família
alargada reenvie a uma outra forma de família (Leandro, 200, p. 27).
Na perspetiva do senso comum, a família é entendida como uma construção
social, pelo fato de que esta representa um modo de agir e de pensar coletivo, que
evoluiu ao longo do tempo em relação à organização e o funcionamento da própria
sociedade (Silva, 2001, p. 145).
Já na perspetiva sociológica, vários autores do saber social, sustentam a opinião
segundo a qual o conceito de família deve ser abordado no plural ‘famílias’ e não no
singular, pelo fato de não existir um modelo familiar único e universal. Deste modo,
entende-se por família, um grupo de pessoas unidas diretamente por laços de
parentesco, onde os adultos assumem a responsabilidade de cuidar das crianças. Aqui os
laços de parentesco são entendidos como sendo as relações entre os indivíduos,
estabelecidas através do casamento ou por meio de linhas de descendência (Freitas,
2014, p. 4). Félix cit., por Pereira, (2008) argumenta que, a família é, o primeiro e o
mais marcante espaço de realização, desenvolvimento e consolidação da personalidade
humana, onde o indivíduo se afirma como pessoa, o ´habitat’ natural de convivência
solidária e desinteressada entre diferentes gerações, o veículo mais estável de
9
transmissão e aprofundamento de princípios éticos, sociais, espirituais, cívicos e
educacionais, o elo de ligação entre a consistência da tradição e as exigências da
modernidade (p. 45). A perspetiva sociológica considera o casamento como uma união
sexual entre dois indivíduos adultos, reconhecida e aprovada socialmente. O casamento
une igualmente, um número muito vasto de pessoas que se tornam parentes pela relação
de afinidade entre as duas famílias.
A perspetiva sistémica e comunicacional, entende a família como um sistema e
ao mesmo tempo como um processo de interação e também de integração dos membros
familiares. Aqui a comunicação é vista como um elo de ligação que constitui a condição
de convívio e de sustentação de todo o sistema, baseando-se assim tanto na igualdade,
quanto na diferença. Segundo esta perspetiva, a família constitui um sistema dinâmico,
que contem outros subsistemas que permitem desempenhar funções importantes no seio
da sociedade, tais como: o afeto, a educação, a socialização e a função reprodutora
(Dias, 2011, p. 141). A análise destas tendências explica-se pelo fato da família ter
vindo a enfrentar um processo de profundas transformações ao longo dos tempos no
sistema (Giddens, 2004, p. 141).
10
1.3.1. Família Tradicional ou Pré-moderna
Entende-se por família tradicional ou pré-moderna, aquela constituída por dois
adultos de sexos diferentes que vivem de forma marital, com os seus filhos biológicos
e/ou adotados. “Esta família é estruturada em função do género masculino/feminino
diferenciado” (Michel, 1977; Aboim & Wall, 2002, p. 105). Neste tipo de família, os
papéis entre os membros encontram-se especificado ou seja bem estabelecidos de
acordo com o género e a faixa etária. Isto muitas vezes condiciona sobrecarga de algum
ou alguns dos membros, e desvalorização de atividade produzida (Correia, 2002, p.
105).
Este tipo de família tinha por objetivo principal a transmissão do património
através de casamentos arranjados entre os País dos noivos. Geralmente os casamentos se
davam, numa idade ainda precoce e prescindiam do amor para se efetuarem, ou seja, a
vida sexual e afetiva do futuro casal não era levada em consideração no contrato do
casamento. Percebe-se aqui, a submissão da família frente à autoridade patriarcal e a
ausência de afeto na constituição do casal (Costa, 1983; Roudinesco, 2003, p. 3).
Esta família é fortemente marcada pelo tempo e pelas memórias, aspetos que
caraterizavam as sociedades pré-modernas, tal como já foi referido, dai a designação de
“família pré-moderna”. O exercício das tarefas dos cônjuges é bem localizado, assim, a
mulher não existe enquanto ser com uma votante própria, mas sim enquanto
transacionado num mercado particular, que passa de uma família para outra; a
autoridade está no homem-marido e no homem-pai (Patriarcado). Devemos ainda referir
que nestas sociedades, não havia separação entre espaço e lugar, ou seja o espaço e o
lugar coincidiam largamente, dado que as dimensões espaciais da vida social eram, para
a maior parte das famílias, e em muitos aspetos dominadas pela noção de presença e de
atividades localizadas (Giddens, 1995, p. 60).
Esta é chamada família tradicional, talvez porque, nela reina uma tradição muito
forte, orientada para o passado e também uma ligação muito forte à memória coletiva:
envolve ideal (…), tem guardiães e ao contrário do costume, tem um caráter de
obrigatoriedade que combina com um conteúdo moral e emocional (Giddens, 2000). As
memórias desta família assentam em valores de respeito pelas tradições, de sentido, de
responsabilidade e de solidariedade não só familiar, mas também e sobretudo
comunitária (Conen-Hulter, 1994, p. 67). Para além da questão solidaria, caraterística
11
própria desta família, a que referir também a questão da privacidade; tudo quase é
vivido e partilhado no fórum interno e em membros familiares restritos.
12
litoral sul e da Lezíria do Tejo, com valores superiores a 8%; e o Norte, onde a maioria
das sub-regiões apresenta valores abaixo dos 4%, com exceção do Grande Porto (5,9%)
e do Alto Trás-os Montes (4,1%).
A análise da escala municipal para 2011, salienta valores mais elevados num
conjunto de 27 municípios localizados, primordialmente na AML e no Algarve,
destacando-se ainda municípios do Alentejo Litoral (Grândola e Sines) e da R. A. dos
Açores (Lajes das Flores, Santa Cruz das Flores, Horta e São Roque do Pico). Este
padrão territorial contrasta com a dinâmica de municípios do Interior Norte e Centro
que registam, na sua maioria, valor abaixo do observado para o total de Portugal (6,6%).
Com proporções mais baixas relativamente à recomposição familiar, evidenciam-se
municípios como Póvoa do Lanhoso, Pinhel, Celorico de Basto, Aguiar da Beira e
Cabeceiras de Basto (INE, 2013).1
1
- Família nos censos de 2011: diversidade e mudança, 20 de Novembro de 2013.
13
dizer-se que, a trajetória sobre os divórcios nos últimos anos, tem-se verificado uma
inversão (2011 – 2012). Assim analisando em concreto os dados das famílias
monoparentais nestes anos, temos 80,8% onde o motivo foi separação/rutura
contrastando com 19,2% onde a monoparentalidade surge de forma tradicional, isto é,
por morte ou emigração do outro progenitor (INE, 2013). Olhando para evolução dos
indicadores demográficos que assolam a sociedade ocidental, podemos aferir que a
proporção de mães e pais sós, separados/divorciados tenderá a aumentar.
Nos últimos 50 anos assistiu-se em Portugal, ao aumento do peso relativo dos
núcleos familiares monoparentais (de 6% em 1960, para 9% em 2011). 2 A partir de
2011 as famílias monoparentais têm vindo a aumentar, ultrapassando assim as famílias
complexas, em resultado sobretudo do aumento das roturas conjugais (divórcios e
separações). O peso dos núcleos familiares monoparentais com filhos de todas as idades
no total de núcleos familiares era de 14,9%, e de 22,9% no total dos núcleos familiares
com filhos. O crescimento registado representou uma variação de 35,7% em relação a
2001, ligeiramente menor, no entanto, do que aquele ocorrido entre 1991 e 2001, de
39,2%. Para este crescimento contribui, sobretudo, a forte subida da proporção de
núcleos com filhos menores de 18 anos no total de núcleos monoparentais, que passou
de 42,1% em 2001 para 45,8% em 2011.
Por outro lado, cerca de 1/3 dos núcleos monoparentais com filhos menores
vivem em famílias complexas (32,4% em 2011). Destes, 47% são núcleos
monoparentais de pai ou mãe solteiros. Este dado aponta para a maior vulnerabilidade
social destas famílias, que se expressa na ausência de autonomia residencial e na
necessidade de apoio dos familiares mais próximos.
A análise da distribuição regional das famílias monoparentais com filhos com
menos de 18 anos, entre 2001 e 2011, revelou um aumento generalizado em
praticamente todas as regiões do país. Em 2011, as sub-regiões da Grande Lisboa
(15%), Península de Setúbal (14,2%) e Algarve (13,4%), assumiam maior
preponderância, reforçando assim uma tendência que era já visível em 2001. Destacam-
se ainda, com percentagens acima da média nacional (10,5%), a Lezíria do Tejo
2
- INE, Família nos Censos de 2011: diversidade e mudança. - Uma organização conjunta do
Instituto Nacional de Estatística (INE) e do Observatório das Famílias e das Políticas de Família do
Instituto de Ciências Sociais (OFAP/ICS-UL).
14
(10,6%) e o Grande Porto (11,4%), bem como a sub-região Oeste, com um valor
próximo da média (10,3%). As percentagens mais baixas, de 6%, ocorreram apenas na
Beira Interior Norte e no Pinhal Sul. Também nas Regiões Autónomas da Madeira e dos
Açores verificou-se um aumento do peso destas famílias, principalmente na Madeira em
que atingiam a percentagem de 11,6%.
15
Ainda voltando ao caso português, deve referir-se que, a distribuição das pessoas
que vivem em famílias unipessoais em Portugal é variável consoante o sexo, mas
também de acordo com a estrutura etária. Perto de metade das pessoas neste tipo de
famílias tem 65 e mais anos de idade (46,9%), distribuindo-se em proporções similares
nas diferentes faixas etárias até aos 84 anos. Se a este valor for acrescida a proporção de
quem tem idade compreendida entre os 50 e os 64 anos (21,6%), a percentagem de
indivíduos em famílias unipessoais com 50 ou mais anos de idade aumenta para 68,5%.
A proporção de pessoas com idade até aos 49 anos é substancialmente inferior: 7,4%
têm entre 15-29 anos e 24% têm idades compreendidas entre 30 e 49 anos. A análise
comparativa desta distribuição face aos dados censitários de 1991 demonstra que a
população adulta (com mais de 20 anos) a residir numa família unipessoal aumentou em
todos os grupos etários.
A distribuição etária das pessoas a viver em família unipessoal cruzada por sexo
permite observar três cenários distintos: o primeiro diz respeito à proporção similar de
mulheres (3,8%) e homens (3,6%) a viver em famílias unipessoais com idades
compreendidas entre os 15 e os 29 anos; o segundo evidencia a predominância, ainda
que pouco expressiva, de indivíduos do sexo masculino em idade ativa (13,8% face a
10,2% de mulheres); o terceiro representa um padrão inverso, passando a proporção de
mulheres a ser superior à dos homens nas pessoas que habitam sós com idades entre os
50 e os 64 anos (12,7% face a 8,9%) e com 65 e mais anos (36,1% face a 10,8%), (INE,
2018). Parece-nos claro que, esta tendência intensifica-se, aliás, à medida que a idade
vai aumentando, caracterizando-se a população idosa em família unipessoal por um
padrão claro de feminização, o que é indissociável do facto de a esperança média de
vida ser, em média, superior no caso das mulheres.
Quando comparado Portugal, com os países do estado membro da Europa,
verifica-se que Portugal ocupa a segunda posição no ranking das famílias unipessoais,
seguida de Chipre (Portugal, 19,6%, Chipre, 18,2%, UE 28, 31,7%), (Eurostat, 2015, p.
24).
1.3.5. Família nuclear ou moderna
Tal modelo de família emergiu juntamente com a ascensão da burguesia
ascendente do século XVIII e, portanto é caraterizada por todo um sistema de valores
burgueses, tais como: o amor entre os cônjuges e a sua união em benefício do bem-estar
16
dos filhos, maior interesse com a educação da prole, a valorização da maternidade e o
estabelecimento de relações hierárquicas entre homens e mulheres (Áries, 1981; Costa,
1983; Reis, 2010; Roudinesco, 2003, p. 28). Uma conceção de família fundada no amor
romântico e alicerçada na legitimidade, na indissolubilidade, na fidelidade e na
autoridade da figura paterna (Silva, 2010, p. 28).
Esta família é caraterizada pela união de duas pessoas adultos e que tenham um
só nível de descendência, como por exemplo, pai e mãe e o/s seu/s filho/s (Sampaio &
Gemeiro, 1985; Relvas, 2004; Saavedra Oviedo, 2005; Nunes, 2011; Consta et al.,
2011; Southern Kigs Consolidated School, 2012, p. 242). Na sociedade contemporânea,
este tipo de família, para muitos já não tem sido modelo de referência, embora continue
a ser o mais presente.
Este é tipo de família, que deve ser fomentado no antes da industrialização; ao
longo da história, ela teve um grande poder de resistência. Ela é caraterizada também
por um grau de parentesco muito forte, baseando-se em expetativas reciprocas. Os pais
tomam conta dos filhos na esperança de que estes tomem conta deles quando
envelhecerem. Mas o certo é que com o passar do tempo, esta família começou a
adquirir uma natureza individualista, surge na família a independência, a autonomia e as
obrigações. Se a família tradicional carecia da afetividade na relação conjugal, já na
familiar nuclear ou dita moderna, a afetividade esta bem presente, faz-se sentir, nela,
existe um pai e um marido cuja autoridade começa a diminuir e há uma mãe que trata de
tudo e que esta pronta a sacrificar-se pela família, mesmo que isso signifique uma
abdicação da sua realização profissional e dos seus interesses pessoais (Patel, 2015, p.
28).
O prolongamento da família nuclear dependia, sobretudo do bom desempenho
da mulher como esposa e mãe, ou seja, era a resignação histórica das mulheres que
sustentava os casamentos (Kehl, 2003; Pereira 2011; Reis, 2010, p. 31).
17
afeto, o companheirismo e/ou os objetivos em comum já não existem mais (Spengler,
2012, p. 31). Na família contemporânea, o casamento já não é visto como um pacto
familiar indissolúvel, mas sim um contrato livremente consentido entre um homem e
uma mulher que repousa no afeto, que, dura apenas enquanto durar o próprio amor
(Roudinesco, 2003, p. 39). Sendo comum nesta família a dissolução da conjugalidade e
os recasamento. “A conjugalidade contemporânea fornece suporte para a construção da
identidade de cada parceiro, ela se torna cada vez mais fluida, perdendo a caraterística
da indissolubilidade” (Singly, 2007, p. 5). Na sociedade contemporânea, “a
conjugalidade, muitas vezes, não é verdadeira. O que encontramos é a busca pela
estabilidade financeira, a satisfação pessoal e a realização de um sonho: casar-se, o que
acaba conduzindo a um casamento no qual os projetos individuais são esquecidos, em
que um se anula em relação ao outro” (Oliveira, 2009, p. 67). Anália Torres (2002),
referindo-se a este cenário, afirma que “antes a instituição protegia, oferecendo
segurança, compensando eventuais faltas de entusiasmo. Hoje, grandes apostas e
elevadas expetativas correspondem também a maior risco e menor proteção, pois são
claras para toda a gente as incertezas que tornam o sentimento amoroso,
simultaneamente poderoso e frágil. O amor, associado ao casamento, transformou a
conjugalidade nessa aposta de resultante incerta” (p. 57).
Giddens (1993, p. 3) afirma que na atualidade o ‘eros livre’, não é apenas
consistente com os relacionamentos sociais civilizados e duradouros, mais é própria
condição de sua existência; por isso, não é raro que as pessoas se separem e se casem
novamente. O recasamento, muitas vezes representa uma oportunidade não somente
para o casal conjugal de resgatar a vida amorosa em novas bases, como também para os
filhos de restabelecer novos vínculos familiares socio-afetivos, encontrando neles
suportes emocionais significativos (Magalhães, Féres-Carneiro, Henriques & Travassos-
Rodriguez, 2013, p. 4).
Na perspetiva de Giddens (1993), no laço conjugal contemporâneo há espaço
para o ‘autoquestionamento’, os parceiros se perguntam sobre como cada um se sente
em relação ao outro e o projeto conjugal é constantemente repensado e revalorizado (p.
5). Nesta família, os papéis e princípios hierárquicos de pai provedor e mãe
socializadora, abrem espaço para posturas mais individualistas e igualitárias dentro do
ambiente familiar (Kehl, 2003; Silva, 2010, p. 18).
18
Neste tipo de família, as pessoas são conjugadas em função do desejo. Assim, ao
contrário da família tradicional e nuclear, aqui as mulheres são vistas como seres
desejantes, elas abandonam o lugar exclusivo que lhes eram reservadas de ser
simplesmente ‘mãe’; disputando assim, o espaço pública com os homens. Salienta-se
aqui a democratização das próprias mulheres em optar por vários estilos de vida que
anteriormente eram simplesmente reservados para os homens.
3
- 1 002 Casamentos entre pessoas do sexo masculino, face a 525 casamentos entre pessoas do
sexo feminino.
19
O número tem aumentado com o passar dos anos, assim, em 2015 por exemplo
realizaram-se em Portugal cerca de 350 casamentos de pessoas do mesmo sexo, um
número ligeiramente elevado se o compararmos com o do ano anterior (308 em 2014).
No total, cerca de 223 foram casamentos entre pessoas do sexo masculino e 127, entre
pessoas do sexo feminino. Por regiões, neste mesmo ano, a Área Metropolitana de
Lisboa apresentou, tal como aconteceu em todos os anos em análise, o valor mais
elevado de casamentos entre pessoas do mesmo sexo, para ambas as modalidades,
seguida do Norte e do Centro, ainda que com valores bastante inferiores (INE, 2015).
Já em 2016 realizaram-se em Portugal cerca de 422 casamentos de pessoas do
mesmo sexo, valor superior ao do ano anterior (350 em 2015). No total, cerca de 249
realizaram-se entre pessoas do sexo masculino e 173 entre pessoas do sexo feminino
(223 e 127, respetivamente, em 2015). Por regiões, neste mesmo ano, a Área
Metropolitana de Lisboa apresentou, tal como aconteceu em todos os anos em análise, o
valor mais elevado deste tipo de casamentos (INE, 2016).
20
O período antes da década de 60 do século XX tem sido apontado por autores,
como um período denominado por ‘familialismo renovado’ (Almeida et al., 1998, p.
222), caraterizado quase por todo ocidente por uma elevada taxa das núpcias, por um
forte rejuvenescimento da idade média nos casamentos, por uma elevada taxa de
natalidade e fecundidade, embora muitas vezes contrariada pela alta taxa de mortalidade
sobre a mortalidade infantil. Já o período pós 60 do mesmo século, os autores
denominaram-no por ‘modernização’ (idem). Período que teve o seu início em meados
da década de 1970, fortemente caraterizado pela inversão das tendências anteriores
quase em toda sociedade ocidental; cujo cenário continua a alastrar-se até aos nossos
dias. “É com efeito uma vida familiar em mudança a que se nos apresenta no dealbar do
século XXI, atravessada pelos movimentos de modernização da sociedade portuguesa
que ocorrem nas últimas décadas, as vezes a um ritmo quase vertiginoso, aproximando
os padrões demográficos e familiares dos que mais se observaram noutras sociedades
ocidentais” (Aboim, 2006, p. 63).
Mudanças que em outros países se desenrolam de, forma gradual durante os
últimos sessenta ou quarenta anos – caso do declínio da agricultura tradicional na
maioria dos países europeus ou da variação em certos indicadores demográficos
(descida da natalidade e da nupcialidade, subida do divorcio e da taxa de atividades
feminina, por exemplo), ocorrem, em Portugal, em espaço curto de tempo e na
sequência de uma rutura institucional (Torres, 1996), em contextos recentemente
denominados de “modernidade inacabada” (Machado e Costa, 1998, p. 11).
Na família Portuguesa, de entre os principais indicadores que dão conta de tais
alterações está o aumento das taxas de atividade profissional feminina; a diminuição das
taxas de nupcialidade, diminuição dos casamentos, aumento da idade média ao
casamento, aumento das uniões de facto, aumento das taxas de divórcio, aumento do
número de famílias monoparentais; o aumento das famílias recompostas; sendo muitos
aqueles que depois de uma separação entram em novas uniões (segundas e de outra
ordem), de direito ou de facto (Sullerot, 1999 [1997], p. 137).
Cada vez mais aumenta o número de pessoas a viver sozinhas, sobretudo aquelas
com mais idade (Almeida et al., 1998), verifica-se também e cada vez mais a quebra das
taxas de natalidade e de fecundidade gerais; aumento da idade média ao nascimento do
primeiro filho e dos filhos em geral; diminuição do número de nascimentos ocorridos
21
dentro do casamento e aumento dos ocorridos fora do casamento, etc. “O número médio
de filhos por mulher diminuiu, deixando de estar assegurada a substituição de gerações,
as mulheres passaram a ser mães com idades tardias, a natalidade deixou de ser o
principal fator de aumento da população, passando assim a ser assegurada pela
imigração” (Rosa e Chitas, 2013, pp. 26-27).
22
recuperação do índice sintético de fecundidade, face ao ano de 2014, para um valor de
1,30 crianças por mulher em idade fértil. Neste ano (2015), registaram-se no país face
ao ano anterior, um aumento na taxa de fecundidade geral cerca de 34,25 para 36,00
nados-vivos por mil mulheres em idade fértil (INE, 2015)4.
As estimativas do Eurostat (2014) mostram-nos que apenas a Itália se sai pior do
que Portugal em termos de nascimentos. Em 2013, por exemplo, nasceram em Portugal
cerca de 87 mil bebés, o que perfaz uma taxa de 8,4 nascimentos por cada 1000
habitantes. Assim, Portugal registou neste ano a segunda taxa de natalidade mais baixa
entre os 28 Estados-membros da União Europeia e foi um dos países cuja população
diminuiu, de acordo com as primeiras estimativas sobre população publicados pelo
Eurostat. Em 2016, Portugal registou, a segunda taxa de natalidade da União Europeia
apenas à frente da Itália e foi um dos países da Europa a 28 que viu a sua população
decrescer. O número de nascimentos contrasta com os 110 mil óbitos - uma taxa de 10,7
mortes por cada milhar de habitantes. (INE, 2016).
Entre 2009 e 2014 o índice sintético de fecundidade (ISF) passou de 1,35 para
1,23 crianças por mulher em idade fértil. Esta tendência de declínio ocorreu em todas as
regiões. Em 2014 o ISF mais baixo verificou-se na Região Autónoma da Madeira (0,95
crianças por mulher em idade fértil) e o mais elevado na Área Metropolitana de Lisboa
(1,50 crianças por mulher em idade fértil), região onde se verificou um aumento face ao
ano anterior, assim como nas regiões Centro e Algarve, à semelhança de Portugal.
A diminuição da fecundidade, em particular na Europa, em parte é explicada
pela teoria da transição demográfica, é influenciada pelo processo de adiamento dos
nascimentos, decorrendo a emergência de um novo padrão no comportamento das
famílias, no respeitante às opções sobre o momento e o número de filhos desejados
4
- Em resultado da alteração dos padrões de fecundidade, entre 2010 e 2015 o índice sintético de
fecundidade (ISF) passou de 1,39 para 1,30 crianças por mulher em idade fértil. Esta tendência de
declínio ocorreu em todas as regiões NUTS II. Contudo, em 2015, face ao ano anterior, verificou-se um
aumento do ISF em Portugal de 1,23 para 1,30 crianças por mulher em idade fértil, tendo todas as regiões
apresentado aumentos, com exceção da Região Autónoma dos Açores onde se verificou um ligeiro
decréscimo. O valor mais baixo registou-se na Região Autónoma da Madeira (1,10 crianças por mulher
em idade fértil) e o mais elevado na Área Metropolitana de Lisboa (1,56 crianças por mulher em idade
fértil), (INE, 2015).
23
(Sobotka, 2004a e 2004b, p. 39). Ainda no âmbito das causas da diminuição da taxa da
fecundidade, autores como, Lutz, Skirbekk e Testa (2006) formularam a hipótese da
armadilha da baixa fecundidade, na qual argumentam que fatores demográficos, sociais
e económicos podem conjugar-se, numa espécie de espiral negativa, para perpetuar
baixas taxas de fecundidade (p. 40).
De facto, os dados do ano (2013) revelam que, no período entre 2006-2010, o
ISF atingiu valores de 1,86 no Norte da Europa e 1,64 no Ocidente, registando 1,43 no
Sul e 1,41 no Leste. No quinquénio 2006-2010, o ISF foi inferior a 1,5 filhos por
mulher em 25 países da Europa e apenas a Islândia e a Irlanda estavam acima de 2
filhos por mulher (2,13 e 2,00 respetivamente). França (1,97), Noruega (1,92), Suécia
(1,89), Reino Unido (1,88), Dinamarca (1,85), Finlândia (1,84) e Bélgica (1,82) são, dos
restantes, os únicos com ISF acima de 1,8. Com exceção da Albânia (1,75) e
Montenegro (1,73), todos os países do Sul Europeu apresentaram ISF inferior a 1,5,
acompanhados pela Alemanha (1,36), Polónia (1,34) e Letónia (1,49).
Portugal, após ter entrado em terreno da não-reposição no quinquénio 1981-
1985, não mais recuperou, apresentando perdas continuadas até ao período 2006-2010,
no qual aquele índice atingiu 1,36 (2013). Estas tendências mantêm-se em Portugal; nas
últimas décadas, a fecundidade neste país decresceu muito rapidamente: do valor médio
de 3,1 filhos por mulher em idade fértil registado em 1960 passou-se para 1,5 em 1999.
A partir de 1983, os valores nacionais da fecundidade deixam de assegurar a
substituição de gerações, que corresponde a um índice sintético mínimo de 2,1
(Almeida e André, 1995; Bandeira, 1996, p. 372). No período de 2006 a 2011, o índice
sintético de fecundidade apresentou oscilações entre 1,35 e 1,40, tendo posteriormente
descido até 1,21 filhos por mulher em idade fértil em 2013. Em 2016 atinge o valor de
1,36 filhos por mulher em idade fértil, o que traduz uma recuperação face aos valores
observados entre 2012 e 2015, (INE, 2017).
Nesta panóplia de ideias, Mendes, Rego e Caleiro (2006) aportam como causas
deste cenário “o rápido declínio da fecundidade portuguesa, a partir dos anos oitenta,
ficou a dever-se a uma alteração de comportamentos ao nível regional, mostrando as
regiões com fecundidade mais elevada uma velocidade de declínio superior e, em
poucos anos, as diferenças parecem ter-se esbatido em todo o espaço Português” (p. 1).
24
Num estudo que aborda a fecundidade no âmbito da sexualidade, conjugalidade
e procriação, com base nos resultados dos inquéritos à fecundidade realizados em
Portugal, Almeida, André e Lalanda (2002) enfatizam a importância dos progressos
tecnológicos desenvolvidos nos métodos contracetivos (e adesão expressiva) enquanto
condição crucial para o planeamento do número de filhos e da idade dos pais à
nascença. Segundo estes autores, meios como a pílula e o preservativo, entre outros,
devem ser interpretados como instrumentos técnicos que permitiram a concretização de
uma mudança de atitude em relação à fecundidade (p. 377).
Lesthaeghe (2001), com base num estudo aplicado a seis países da Europa
Ocidental, reuniu sete fatores gerais que explicam a baixa fecundidade e o seu
adiamento: a) - o aumento das habilitações literárias das mulheres e respetiva autonomia
económica destas; b) - o crescimento das aspirações de consumo das famílias,
concretizadas pelos rendimentos obtidos através do incremento da participação feminina
no mercado de trabalho; c) - a aposta na carreira profissional justificada pelo aumento
da competitividade no emprego e no mercado de trabalho; d) - a autorrealização, a
liberdade de escolha e a tolerância em relação ao não convencional; e) - a diminuição da
qualidade de vida pela via do stress, reforçando o gosto pelo lazer; f) - o afastamento de
compromissos irreversíveis e o desejo de manter um futuro em aberto; g) - o aumento
das probabilidades de divórcio e de separação. Não obstante a diversidade temática das
causas identificadas, todas remetem para o acentuar do individualismo na sociedade (p.
27).
1.5.2. Taxa de Envelhecimento em Portugal e na UE
As alterações na composição etária da população residente em Portugal e para o
conjunto da UE 28 são reveladoras do envelhecimento demográfico da última década.
Neste contexto, Portugal apresenta no conjunto dos 28 Estados Membros: o quinto valor
mais elevado do índice de envelhecimento; o terceiro valor mais baixa do índice de
renovação da população em idade ativa; o terceiro maior aumento da idade média entre
2003 e 2013, (INE, 2015). Ainda de acordo com os dados divulgados no relatório do
Eurostat (2014), a proporção mundial de pessoas com 60 e mais anos de idade
25
aumentou de 9,2% em 1990 para 11,7% em 2013 e espera-se que continue a aumentar,
podendo atingir 21,1 em 2050.5
A tendência de envelhecimento demográfico verifica-se há várias décadas na
Europa e Portugal não é exceção, com um crescente aumento da proporção de pessoas
idosas e um decréscimo do peso relativo de jovens e de pessoas em idade ativa na
população total. Entre 2008 e 2013, anos mais recentes para os quais existem dados
comparáveis disponibilizados pelo Eurostat, no conjunto dos 28 países da União
Europeia (EU 28), observou-se um aumento da proporção de idosos de 17,3% para
18,5%, um decréscimo da proporção da população jovem de 15,7% para 15,6%, e um
decréscimo da proporção de pessoas em idade ativa de 67,0% para 65,9% (Eurostat,
2014).
Em 2013, por exemplo, entre os países da EU 28, a maior proporção de jovens
na população verificou-se na Irlanda (22,0%), enquanto a percentagem mais baixa
verificou-se na Alemanha (13,1%). Neste quadro, Portugal apresentava uma proporção
de jovens inferiores à da EU 28 e uma das mais baixas entre os países da UE 28. Em
relação à proporção de pessoas idosas, Itália apresentava a maior proporção (21,4%)
enquanto a Irlanda detinha a menor proporção (12,6%) e em Portugal esta proporção era
superior à da UE 28, sendo o 4º país com maior proporção de idosos, apenas
ultrapassado pela Grécia, pela Alemanha e pela Itália (INE, 2013).
São vários os fatores que levam a cada vez mais a ampliar este ângulo do
envelhecimento da população, um deles tem a ver com o número reduzido de
nascimentos por ano (taxa de natalidade), tal como já acima foi referido, assim como os
próprios cuidados sobre a saúde cada vez mais presentes nas famílias atuais o faz com
que haja uma media de esperança de vida mais elevada, haja um prolongamento de
vida, sobretudo na população do sexo feminino. No período entre 2012 a 2014 a
esperança de vida à nascença foi estimada em 80,24 anos para ambos os sexos, em
77,16 para os homens e em 83,03 para as mulheres, o que representa um ganho de 1,32
5
- Em valores absolutos, as projeções das Nações Unidas apontam para que o número de pessoas
com 60 e mais anos de idade passe para mais do dobro, de 841 milhões de pessoas em 2013 para mais de
2 mil milhões em 2050, e o número de pessoas com 80 e mais anos de idade poderá mais do que triplicar,
atingindo os 392 milhões em 2050.
26
e 1,16 anos, respetivamente, comparativamente com os valores estimados entre 2007 a
2009 (INE, 2014). As melhorias na esperança de vida derivam em particular no caso das
mulheres, sobretudo dos ganhos sobre a mortalidade em idades cada vez mais
avançadas. Entre os triénios 2007-2009 a 2012-2014, a diferença na esperança de vida
de homens e mulheres diminuiu de 6,03 para 5,87 anos (idem).
As Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores são aquelas onde se
observaram valores mais baixos para a esperança média de vida à nascença em todos os
triénios considerados, tanto para o total da população, como para homens e mulheres.
Em contrapartida, a partir do triénio 2008-2010 a região Norte apresentou os valores
mais elevados para a esperança de vida à nascença para o total da população e para os
homens. No triénio 2012-2014, a Região Centro igualou os valores da esperança de vida
à nascença da região Norte para o total da população, em particular devido ao lugar
cimeiro que assumiu para a esperança de vida à nascença nas mulheres a partir de 2010-
2012.
Entre os triénios 2007-2009 e 2012-2014, o maior aumento da esperança média
de vida à nascença observou-se na Região Autónoma da Madeira. A esperança média de
vida à nascença passou de 75,79 anos para 77,68 anos, o que significa que, no triénio
2012-2014, as pessoas podiam esperar viver à nascença, em média, mais 1,89 anos do
que em 2007-2009.6
6
- Informação obtida a partir dos dados estatísticos da demografia, INE, 2014.
27
a 2014, a região do Alentejo é aquela que registou sempre a menor taxa de nupcialidade,
e a Região Autónoma dos Açores (no período 2009-2013) e o Algarve (em 2014) as que
registaram as taxas mais elevadas. Neste mesmo ano (2014), no Norte e na Região
Autónoma dos Açores (ambos com 3,3‰), e no Algarve (3,4‰) registaram-se taxas de
nupcialidade superiores ao valor médio nacional (INE, 2014).
Já em 2015, verifica-se um ligeiro aumento, sendo que neste ano realizaram-se
no país cerca de 32 393 casamentos, mais 915 (2,9%) do que no ano anterior (31 478).
A exemplo do ano anterior, diga-se que a região do Alentejo representou uma taxa baixa
de nupcialidade, seguida dos Açores. Em 2016, ouve um aumento apenas de mais seis
casamento (32 399) do que em 2015 (INE, 2015 & 2016).
Em 2013, ano mais recente para o qual existem dados comparativos divulgados
pelo Eurostat, a taxa bruta de nupcialidade de Portugal ocupa a 3ª posição mais baixa da
União Europeia (UE 28), a seguir à Bulgária e à Eslovénia. A Lituânia, Chipre e Malta
registaram as taxas brutas de nupcialidade mais elevadas da UE 28, com valores acima
de 6 casamentos por mil habitantes.
Por regiões, em 2014, a Área Metropolitana de Lisboa apresentou, tal como
aconteceu em todos os anos em análise, o valor mais elevado de casamentos entre
pessoas do mesmo sexo, para ambas as modalidades, seguida do Norte e do Centro,
ainda que com valores bastante inferiores. (Cf. Estatísticas Demográficas, INE, 2014, p.
85).
O adiar da idade ao casamento é uma tendência que se tem mantido ao longo das
últimas décadas para ambos os sexos, tendo-se registado, nos últimos seis anos, um
aumento de 2,4 anos para os homens e 2,5 anos para as mulheres, na idade média ao
casamento, e de 1,9 anos para homens e 2,0 anos para as mulheres, na idade média ao
primeiro casamento. Em 2014, a idade média ao casamento foi de 35,8 anos para os
homens e 33,3 anos para as mulheres. Em média, os homens que casaram naquele ano
tinham mais 2,5 anos do que as mulheres. Esta diferença era mais acentuada no Algarve
(3,1 anos) e na Área Metropolitana de Lisboa, Alentejo e Região Autónoma dos Açores
(2,7 anos). Verifica-se uma tendência de cada vez mais aumentar na medida em que os
anos vão passando, por exemplo, em 2015, a idade média ao casamento foi de 36,3 anos
para os homens e 33,8 anos para as mulheres. Já em 2016, a idade média ao casamento
passou de 36,8 anos para os homens e 34,3 anos para as mulheres (INE, 2015; 2016).
28
Esta realidade tem uma relação colateral das idades médias ao nascimento dos
filhos, que, segundo os dados, de 2009 e 2014 verificou-se o aumento da idade média
das mulheres à maternidade: a idade média ao nascimento do primeiro filho passou de
28,6 para 30,0 anos e a idade média ao nascimento de um filho de 30,3 para 31,5 anos
(INE, 2014). Neste a idade média ao nascimento do primeiro filho situava-se acima do
valor nacional nas regiões Norte, Centro e Área Metropolitana de Lisboa. A idade
média ao nascimento de um filho situava-se acima do valor nacional nas regiões Centro
e Área Metropolitana de Lisboa.
A Região Autónoma dos Açores manteve-se como uma região onde é mais baixa
a idade média ao nascimento do primeiro filho e a idade média ao nascimento de um
filho (28,2 anos e 30,0 anos, respetivamente). O valor mais elevado da idade média ao
nascimento do primeiro filho verificou-se na Área Metropolitana de Lisboa (30,3 anos),
e o valor mais elevado da idade média ao nascimento de um filho na região Centro (31,8
anos).
Tem-se apontado como causa deste cenário, o prolongamento dos estudos, ou
seja, cada vez mais termina-se muito tarde os estudos e como consequência disto
inserir-se também de forma tardia no mercado de trabalho.
7
- Esta informação foi obtida a partir do jornal expresso; com o título: “ Portugal, o país com
mais divórcios na Europa” publicada a 21 de Outubro de 2016 – 21h:37, in: Ana Baptista.
29
decretados, observando apenas os casais residentes em território nacional. Por regiões,
Área Metropolitana de Lisboa (AML) apresenta a maior quebra face a 2012 (-972) e a
Região Autónoma da Madeira (RAM) foi a única que apresentou um ligeiro aumento no
numero de divórcios decretados (+7), (INE, 2015). Os dados apresentam-nos um
decréscimo deste cenário, embora de forma ligeira no ano de 2016 (22 649), menos 984
em relação ao número registado em 2015 (INE, 2016).
No que se refere à taxa bruta de divórcio, em 2013 Portugal ocupava a 9ª
posição, no ranking dos países da UE 28. As taxas mais elevadas de divórcio
registaram-se na Letónia e na Lituânia e Dinamarca, com valores de 3,5 e 3,4 para os
dois últimos países, respetivamente, divórcios por mil habitantes; por outro lado, as
taxas mais baixas registaram-se na Irlanda, Malta e Itália, com valores abaixo de 1
divórcio por mil habitantes. A Dinamarca e o Luxemburgo completam o top 3 na lista
dos países onde os casais mais se divorciam. Malta é classificada como o país que
melhor cumpre os votos matrimoniais, apresentado a taxa mais baixa de divórcios na
Europa. Mesmo os dados dos anos posteriores ao 2013, confirmam esta posição que
Portugal ocupa (Cf. INE, 2014, 2015 & 2016).
O estudo da FFMS, “Retrato de Portugal na Europa”, mostra que só em 2013
houve mais de 22 mil divórcios em Portugal, o que, se compararmos com 1986, em que
se contabilizaram 8.400 divórcios, representa um aumento na ordem dos 62%.
As causas da elevada taxa bruta de divórcio, parecem não estar muito
relacionadas com a duração do próprio casamento. Parece estar muito mais relacionado
com alguns fatores, tais como: o aumento da esperança média de vida, a crescente
autonomia económica da mulher e também com a satisfação do próprio casamento,
sobretudo a satisfação sexual, (Amaro, 2004, p. 221).
Vários autores têm rejeitado o argumento segundo o qual, a aumento das taxas
de divórcio tem a ver com a desvalorização do casamento, este argumento parece ter
pouca relevância, uma vez que as pessoas que se divorciam no geral mostram tendência
ou interesse para casar de novo. Em Portugal por exemplo, se considerarmos o estado
civíl, podemos verificar que em 2003, nos casamentos, 10,8% dos homens e 8,9% das
mulheres eram divorciados. Também no mesmo ano, 1,4% dos homens que casaram
eram viúvos, o mesmo aconteceu com 0,9% das mulheres. Se nos reportarmos às
estatísticas demográficas do INE (2001), podemos verificar que 35,6% de todos os
30
homens viúvos ou divorciados voltaram a casar no prazo de um ano o mesmo cenário
aconteceu com 25,8% das mulheres nas mesmas categorias. Cerca de metade dos que
eram viúvos (51,6%) tinham menos de 50 anos e no caso dos divorciados 56,5% tinham
menos de 40 anos. Verificou-se também que a maior parte das viúvas e das divorciadas
voltou a casar com homens do mesmo grupo de idade ou mais velhos, exceto as viúvas
com mais de 64 e as divorciadas com mais de 69 anos que casaram preferencialmente
com homens mais novos (Amaro, 2004, p. 5).
Por tudo isto, parece-nos que as causas do divorcio, pouco têm a ver com o
casamento, o cenário provável talvez relaciona-se com os fracos laços da própria
afetividade, da falta do amor entre os cônjuges e outros fatores que afeta hoje a família
contemporânea.
31
CAPÍTULO II
32
Assim, os pais passaram a se preocupar muito mais com os filhos e estes poucas vezes
são entregue ao cuidado de outras famílias, como acontecia na sociedade medieval.
Têm-se aqui, relações cada vez mais sentimentais entre pais e filhos (idem). Esta
realidade estendeu-se ao menos até aos séculos posteriores, permitindo assim, criação
de zonas de intimidade física e moral que não existiam anteriormente. Assim, a partir do
século XVIII, a família que até então se concentrava em casas grandes e que era um
centro de relações sociais, passa agora a valorizar as pequenas residências e o convívio
intimo e exclusivo entre pais e filhos, mantendo assim a sociedade à distância, longe da
vida particular (Ariès, 1981; Badinter, 1985; Costa, 1983, p. 30).
Ainda se referindo ao estudo da infância no decorrer da história, Ariès (1978)
afirma que o sentimento de infância praticamente só ocorreu a partir da renascença. Até
ao início do século XVII a criança ocupava um papel periférico na família, o mesmo é
dizer que, não havia lugar para a infância no mundo ocidental, no sentido de uma
particularidade infantil diferenciada do mundo do adulto. O sentimento de infância só
surgiu no final deste mesmo século, quando a criança começou a ser vista como centro
do grupo familiar (p. 70).
Na perspetiva de Ariès, esta atitude de indiferença em relação às crianças, que
caracterizou os períodos anteriores, encontra a sua justificação na consequência direta
com demografia da época, nesta altura, a infância era vista como uma fase com menos
importância, já que se faziam muitos filhos mas poucos permaneciam vivos
(mortalidade infantil); ou seja, a criança mantinha-se em lugar anónimo e
intercambiável (Zornig, 2008). Até a própria medicina, (século XVIII), negligenciava
crianças e mulheres, relegando o parto e doenças infantis a uma categoria inferior
(Donzelot, 1986, p. 2).
No final do século XVIII e início do século XIX, a perceção que até então se
tinha à volta da criança foi gradualmente se modificando e a conceção de infância como
uma etapa distinta da vida se consolidou. De acordo ainda com Ariès (1986), essa
perceção, é concomitante à constituição da família nuclear, do Estado Nação e da nova
organização do trabalho produtivo. Assim, a partir do século XIX, consolidou-se o
direito da criança, fazendo assim emergir um novo conceito de paternidade; a partir daí,
toda a criança passa a ter direitos em função do seu interesse e bem-estar. É dever do
pai manter a condição de vida do filho, cuidar da sua educação e protege-lo. Deste
33
modo, a paternidade é definida em função do exercício de papéis a cumprir bem como
às tarefas a desempenhar (Silva, 2010, p. 32). Ainda de acordo com esta autora, a
política de assumir e proteger a infância/criança traduziu-se, por uma vigilância cada
vez mais estreita da família, o que é visto na consequente substituição deste papel do
patriarcado ‘familiar’ por um patriarcado ‘estatal’. A escola leiga e obrigatória foi uma
das instituições que limitou consideravelmente o poder paterno. A criança passou a
permanecer mais tempo na escola do que em casa e a ser educada mais pelo professor
do que que pelo seu pai, ou seja, a moral social e suas normas, que antes chegavam à
criança através de seu pai, passam a ser veiculadas agora pelo seu professor (Silva,
2010, p. 33).
34
meios sociais mais ou menos abastados e escolarizados. Deve dizer-se, que, estes
modelos são atentos às desigualdades sociais e seus efeitos na infância por um lado e
por outro baseiam-se também em modelos abstratos que simplificam processos
complexos e ignoram a importância da infância enquanto produtora de sociedade.
Corsaro (1997) considera que, os modelos reprodutivos são mais imaginativos que os
funcionalistas, como exemplo disso ele invoca a incorporação do conceito de ‘habitus’
de Bourdieu: o conjunto de predisposições para a ação adquiridas através das rotinas em
sociedade e incutidas na socialização das crianças, desenrolando-se reprodutivamente.
Nesta linha de raciocínio, pode incluir-se também o trabalho de Foucault, respeitante à
inculcação de disciplina e à institucionalização da infância enquanto mecanismo de
controlo social simbólico e exercício do poder (Sarmento, 2000ª; Sarmento, 2008;
Sarmento, 2009, p. 9);
c) Modelo construtivista: este modelo é impulsionado sobretudo pela psicologia
cognitiva de Piaget; ele oferece um contributo mais próximo da visão contemporânea de
criança, atribuindo a ela agora uma agência própria. Segundo este modelo, desde o
nascimento a criança interpreta, organiza e utiliza a informação que lhe é fornecida. O
mais importante contributo dos construtivistas está sobretudo na noção de que as
crianças organizam o mundo de uma forma qualitativamente diferente da dos adultos
(Corsaro, 1997, p. 9). Apesar de Piaget, não ter defendido um biológismo determinista,
ele criou um modelo baseado em etapas, perpetuando assim acima de tudo, a ideia da
criança como um ser menos completo que o adulto; este é um pensamento fundado na
idade cronológica e no desenvolvimento psicobiológico (Corsaro, 1997; Jameset al.,
1998; Jenks, 1996; Wyness et al., 2004, p. 9).
É importante ainda referir que, para este modelo, as crianças devem ser
consideradas ativas na construção e determinação dos seus próprios contextos de vida,
nas vidas das pessoas que as rodeiam ou da própria sociedade em que se integram. Elas
são tidas como sujeitos competentes de produção de vida social, “atores de sua
socialização”, “atores de corpo inteiro”, “ sujeitos de palavras” (Almeida, 2009, p. 26).
Na perspetiva de Piaget e Parsons, crescer é estar um passo à frente da dependência; as
pessoas nascem, crescem e, ao atingir a idade adulta, a socialização terá feito o seu
papel, de as completar e torna-las autónomas. Este quadro não considera o contexto
cultural ou histórico no qual o ser humano está inserido (Lee, 2001), de alguma forma
35
marginalizando as crianças, que aguardam a passagem do tempo até atingirem a
competência própria de um adulto;
d) Durkheim (2009): segundo este autor, cada sociedade tinha a fonte da sua própria
moralidade, esta moralidade definia-se como a manutenção eficiente da ordem pública.
Neste quadro a educação era considerada como um meio de indução do cidadão
cumpridor. Ou seja, os indivíduos pré-sociais, assim como as crianças, são
disfuncionais, imorais ou amorais. Durkheim, seguindo o espirito da Revolução
Francesa, opunha-se fortemente à autoridade paternal, segundo ele, os pais têm o dever
de cuidar da criança, mas cabe ao Estado intervir no seu interesse se necessário
(Lamanna, 2002, p. 10).
36
europeia e norte-americana uma curiosidade inédita sobre as crianças e a infância (p.
20).
O estudo sobre as crianças, nunca foi um tema ausente no pensamento
sociológico; assim, desde que a sociologia emergiu como ciência, o tema em si, esteve
quase sempre presente. Neste contexto, duas áreas afloraram o estudo sobre as crianças:
a sociologia da família e a sociologia de educação, embora nenhuma das duas confira à
criança um lugar social particularmente distintivo. No caso da sociologia da família,
esta, aborda o estudo da criança inserindo-a no contexto das práticas socializadoras
parentais e sua diversidade de acordo com o contexto social, assim como a estrutura
familiar e a própria origem étnica da criança. Já a sociologia da educação, foca o seu
olhar para o processo de escolarização das crianças, cujo interesse consiste em
enquadrar a criança nas instituições sociais e escolares, sendo que ai, a criança é vista
como um objeto de práticas pedagógicas. Mas apesar disso a consideração da infância
como categoria social apenas teve o seu desenvolvimento no final do século XX, tal
como acima já foi referido, como um significativo incremento a partir do início da
década de 90, do mesmo século (XX). No entanto, é importante referir que, a expressão
em si já se encontrava formulada desde os anos 30 (Qvortrup, 1995, p. 123).
A sociologia nunca deixou de considerar a inserção social das crianças; o
conceito de socialização nas suas diferentes versões e revisões a partir de Durkheim
(1972 [1938]); Parsons e Bales (1955), passando assim pela teoria da reprodução de
Bourdieu e Passeron (1970), e pela abordagem construtivista de Berger e Luckman
(1973), este conceito, constitui o domínio exato da hipostasia da infância como
condição social suscetível de ser estudada em si própria. Na dimensão sociológica a
criança, não é vista como um ser social, mas sim como um objeto sociológico na
condição de anomia ou de exclusão (e.g. Becker, 1973; Wiltis, 1991, 163).
Na perspetiva de Giddens, a infância é um fenómeno que revela agudamente a
dupla hermenêutica das ciências sociais; ou seja, proclamar um novo paradigma da
sociologia da infância é também envolver-se no processo de reconstrução da infância na
sociedade (Prout & James, 1990, pp. 8-9).
A entrada do conceito de infância/criança, na agenda da opinião e política
pública está, para os sociólogos da infância (Sarmento & Pinto, 1997), diretamente
relacionada com as novas circunstancias e condições de vida das crianças em todo o
37
mundo, resultado das profundas transformações económicas, políticas, culturais e
sociais surgidas no decorrer da segunda modernidade, tal como a define Giddens (1991,
2002) e Baumann (2001, p. 14).
38
corpóreo, quanto do ponto de vista das categorias que a pedagogia e a psicologia
educacional elaboram para construi-la (Narodowski, 1999, p. 233). Surge também a
família reconstituindo-se assim, em torno do “desenvolvimento da criança”, para a qual
convergem os estímulos e a prestação de cuidados de proteção e educação. “As crianças
foram constrangidas por e substancialmente incluídas nas instituições sociais da família
e da escola tornando-se invisível o seu relacionamento com o mundo social mais vasto.
Seja como for, um novo olhar é proposto: a infância não é um dado natural, mas uma
construção social” (Brande & O’Brien, 1996; in Almeida, 2009, p. 121).
A partir deste cenário, a criança tornou-se o centro das atenções e das relações
afetivas, bem como, a destinatária tanto dos projetos de ascensão social por parte das
classes populares (Sarmento, 2004), quanto do amor narcísico e de realização dos
próprios pais (Caligaris, 1994; Gauchet, 2004) ou mesmo de realização individual
(Dagenais, 2004, p. 233). E assim, o ‘ideal doméstico’ burguês ou o chamado
‘familiarísmo’ passa a significar, junto da base material e simbólica da ‘casa da família’
o local ‘natural’ de circunscrição da criança moderna (Marchi, 2009). Mas apesar disso,
deve dizer-se, que, no discurso social, as crianças foram sempre consideradas como
seres ‘invisíveis’ por não terem o estatuto social de pleno direito (Sarmento, 2008, p.
19). Por isso mesmo, tanto no estudo da medicina, da psicologia, quanto no da própria
pedagogia, elas, eram consideradas antes de mais como o destinatário do trabalho dos
adultos e alvo do tratamento, da orientação ou da ação pedagógica dos mais velhos (Cf.
Rocha & Ferreira, 1994; Rollet & Morel, 2000, p. 50).
39
filhos. Segundo estas pesquisas, as relações familiares na atualidade baseiam-se muito
mais no diálogo, na participação, na igualdade, na afeição e na compreensão. As
crianças, os adolescentes, veem a relação com os pais como satisfatórias e tomar suas
próprias decisões livremente se torna aceitável, não sendo mais uma situação
conflituosa (Bosma, Jackson, Zijsling & Zani, 1996; Kreppner, 2000; Scabini, 2000;
Montandon, 2001, p. 37). Essa transformação das relações entre pais e filhos, na
sociedade contemporânea, contribui ou seja faz com que os filhos permaneçam mais
tempo junto dos seus pais por um lado e por outro, permite o prolongamento da
coabitação em idades mais tardias (Gil Calvo, 1993; Scabini, 2000, p. 43).
Também devemos referir, que esta é uma sociedade caracterizada pela
aceleração, pela velocidade, pelo consumo, pela satisfação imediata dos desejos, pela
mudança das relações familiares e da relação crianças e adultos cujo processo de
socialização é bem distinto daquele ocorrido nas sociedades anteriores. Exalta-se na
sociedade contemporânea, o conceito de ‘juventude eterna’, os adultos querem ser
eternamente jovens, e que as relações entre pais e filhos se modificaram, com os pais
cada vez mais a perder a autoridade paternal, questionando assim o que fazem de
errado, a criança/adolescentes, revogam facilmente e cada vez mais os seus direitos. “O
século XX glorifica-se a juventude e diminui-se a autoridade dos pais” (Lasch, 1991, p.
38).
Os pais passam a hesitar sobre suas normas, sobre o que é certo e o que é errado,
isto é, sobre a imposição de seus padrões morais e acabam por depositar uma confiança,
que chega à dependência, nas orientações dos especialistas (Cunha, 1997; Lasch, 1991,
p. 39). Hoje facilmente, substitui-se o certo e o errado por relações humanas onde a
“amizade tornou-se a nova religião” (Lasch, 1991, p. 139) O amor e a disciplina não são
mais colocados na mesma pessoa, de modo especial na criança, poupando-se o
relacionamento de conflitos. Conforme afirma Lasch hoje, muitas das funções
assumidas anteriormente pela família estão a cargo de outras instituições, de tal forma
que a escola e as profissões assistenciais têm-se encarregado das funções familiares,
especialmente da função de socialização da criança (1991, p. 39).
Na sociedade contemporânea, o sentimento dos pais para com o filho é
inteiramente novo, eles, têm maior interesse em investir cada vez mais no filho (o filho
tornou-se fonte de um investimento económico), de tal sorte que nada lhe falte, ela tem
40
de estar em pé de igualdade com as outras nos seus interesses e nos seus gostos; os pais
acompanham com solicitude habitual o crescimento do filho/a, colmatando assim todas
as suas necessidades básicas. “A família começou a se organizar em torno da criança e a
dar-lhe uma tal importância, ela saiu de seu antigo anonimato, que se tornou impossível
perde-la ou substitui-la sem uma enorme dor, que ela não pode mais ser reproduzida
muitas vezes, e quase tornou-se necessário limitar seu número para melhor cuidar dela”
(Ariès, 1981, p. 12). Hoje, associam-se à privatização e sentimentalização da vida
familiar, protagonizada de forma pioneira pela burguesia ascendente das cidades
industriais, e implicam um novo olhar que não só confere à criança estatuto próprio (e
único), como também lhe reconhece um lugar específico de socialização que é a escola,
onde cresce entre pares e adquire competências técnicas e morais que farão dela um
cidadão do Estado moderno (Almeida, 2009, p. 30).
41
CAPÍTULO III
42
interação entre indivíduos com recurso a práticas e métodos em construção permanente
(Gouveia, 2004, p. 3).
A Sociedade da Informação e Comunicação, não pertence a um futuro distante;
ela assume uma importância crescente na vida coletiva atual e introduz uma nova
dimensão no modelo das sociedades modernas e não só. Castells (2001), afirma que, “a
sociedade da informação e comunicação é um conceito utilizado para descrever uma
sociedade e uma economia que faz o melhor uso possível das Tecnologias da
Informação e Comunicação no sentido de lidar com a informação, e que torna esta como
elemento central de toda a atividade humana” (p. 2). A sociedade de informação é
aquela em que vivemos hoje, onde a relação do homem com as tecnologias é cada vez
mais forte, onde a comunicação é cada vez mais veloz, encurtando assim o tempo e o
espaço […]. Ela “…está inserida num processo pelo qual a noção de espaço e tempo
tradicional estão em transformação pelo surgimento de um espaço virtual,
transterritorial, transtemporal […] ” (Echeverria, 2004; cit por Antunes, 2008, p. 8).
De forma sintética, deve dizer-se que, a sociedade de informação e comunicação
consiste na forma como a informação é exposta à sociedade através das “[…]
Tecnologias de informação e comunicação no sentido de lidar com a informação e que
toma esta como elemento central de toda atividade humana” (Castells apud Gouveia,
2004, p. 2); na qual a tecnologia de informação é considerada indispensável na
manipulação da informação e construção do conhecimento pelos indivíduos, pois “a
geração, processamento e transmissão de informação torna-se a principal fonte de
produtividade e poder” (Castells, 1999, p. 21).
43
do conceito deve-se a Peter Drucker que, em 1966, no “bestseller The Age of
Discontinuity”, referindo-se pela primeira vez sobre a sociedade pós-industrial
(Crawford, 1983, p. 6).
Referindo-se ao contexto histórico, deve dizer-se que, a sociedade de informação
e comunicação, teve a sua origem num contexto militar, ou seja, surgiu a partir de um
empreendimento militar no auge da Guerra Fria, na década de 60 do século XX, nos
Estados Unidos, que estavam preocupados com um possível ataque militar da extinta
União Soviética. Esta preocupação resultou através da solicitação da ARPA (Advanced
Research Projects Agencie), que desenvolvia uma rede de telecomunicações que não
fosse interrompida por algum dano local. Sendo assim, a ARPA não poderia possuir
uma central, para que não houvesse condições de sua destruição. Criada em 1970, a
ARPA estabeleceu conexão entre determinadas comunidades académicas e a
comunidade militar americana. E assim, no final da Guerra Fria (1947-1991), houve
uma expansão da tecnologia de comunicação, conectando vários centros de pesquisas
mundiais. E, a partir de intercâmbios de conhecimentos, ocorreu a criação do browser
ou navegador, sendo assim, a Internet tornou-se, finalmente, realidade e passou a ser um
novo meio de informação destinado à sociedade. E assim, a partir desta década surgiu
uma revolução tecnológica que leva ao final a Segunda Guerra Mundial, a mesma
configura-se à sociedade de informação, que modifica, em um curto período de tempo,
diversos aspetos da vida cotidiana (Salgado, 2002, p. 2).
Na perspetiva de José Amado da Silva (2001), esta sociedade deve ser entendida
como uma forma de organização social, proporcionada pelas novas caraterísticas da
informação […], de produção muito barata, graças ao enorme desenvolvimento das
tecnologias de informação e comunicação (p. 2). Uma sociedade estruturada a partir de
um contexto de aceitação global, na qual o desenvolvimento tecnológico tem a sua
configuração sobretudo no modo de ser, de agir, de se relacionar e da própria existência
dos indivíduos. Ela tem por base a forma como hoje a informação é processada,
difundida e divulgada a toda a sociedade através das novas tecnologias te informação de
uma forma muito rápida. “Na nossa sociedade os mídia assumem uma certa,
importância já que suportam conteúdos que contribuem para os processos de produção e
construção de reprodução e reconstrução e de representação social da realidade e da
cultura” (Esteves, 2003, p. 169).
44
3.2.1. Caraterização da sociedade de informação e comunicação.
A sociedade de informação e comunicação é caraterizada pela convergência
tecnológica dos meios de comunicação de massa, 8 através de um longo processo de
adaptação de seus recursos comunicativos às mudanças evolutivas. Importa salientar
que, grande parte desta sociedade é dominada pelos novos mídia vistas como extensão
dos mídia tradicionais, possibilitando assim ao público o acesso as informações através
de grande variedade de dispositivos digitais (Teixeira, 2007, p. 14). Salienta-se aqui, a
passagem de um modelo unidirecional para um modelo multidirecional de
comunicação, que estimula efetivamente a troca de mensagens muitas vezes de forma
excessiva.9
Na sociedade de comunicação e informação, o uso das novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) é cada vez mais frequente, para se fazer a troca de
informação digital entre indivíduos de forma a assegurar a comunicação entre os
mesmos. Nesta sociedade usa-se com frequência os meios de comunicação eletrónicos e
digitais, tais como: o telemóvel, o smartphone, o computador, o tablet, a internet entre
outros; permitindo assim, as pessoas informarem-se e estarem em contacto permanente
umas das outras, mesmo aquelas que se encontram cada vez mais distantes
geograficamente, estão cada vez mais próximas através destes meios. Estes dispositivos
não transformam a sociedade, mas integram-se no dia-a-dia dos indivíduos modificando
assim, os seus hábitos e costumes, bem como as suas afinidades […]; neste dia-a-dia, as
pessoas utilizam as tecnologias para o desempenho das diversas atividades e também
muitas vezes para o lazer, sobretudo na população mais jovem (Silva, 2007, p. 1).
Uma das caraterísticas dominante desta sociedade consiste na rapidez com que a
informação se ‘espalha’ de forma instantânea por todos os cantos ‘num olhar e fechar de
olho’. “Na sociedade de comunicação e informação a notícia chega a todo o lado com
enorme rapidez e é difícil ficar fora dela, sendo que os meios de informação são cada
vez mais abundantes e todos difundem informação, por vezes, em direto” (Silva, 2007,
8
- Entende-se por meios de comunicação de massa os instrumentos mediadores da transmissão
de mensagens escritas, sonoras, visuais ou textuais.
9
- Mensagens são documentos, registos e atestados do que efetivamente é importante e
fundamental para a vida em sociedade.
45
p. 2). Por isso, é importante referir que ela é caraterizada, acima de tudo pela partilha de
dados e pelo acesso à informação a baixos custos, onde a mesma informação, a
comunicação e a transmissão de dados são feitas e espalhadas com uma enorme
velocidade e facilidade (idem). Deste modo, percebe-se que nesta sociedade existe uma
forte relação entre a informação, a comunicação e a própria tecnologia. Para Luís
Manuel Borges Gouveia (2004), esta sociedade é caraterizada, pela frequente utilização
da informação como recurso estratégico; pela utilização intensiva das tecnologias de
informação e comunicação, baseada na interação entre indivíduos e instituições através
do processo digital, recorrendo assim, a formas diversas de ‘fazer as mesmas e novas
coisas’ (Gouveia & Gaio, 2004, p. 3).
Castells (2002) também destaca algumas caraterísticas que no seu entender, elas
constituem a base material desta nova sociedade, a que ele denomina por sociedade pós-
industrial, caraterizada pelas seguintes características:
a) A informação é a sua matéria-prima – segundo o autor, aqui, existe uma relação
simbiótica entre a tecnologia e a informação, em que uma complementa a outra, fato
este que diferencia esta nova era das revoluções anteriores, em que é dada a
proeminência a uma aspeto em detrimento de outro;
b) Capacidade de penetração dos efeitos das novas tecnologias – Refere-se aqui, ao
poder de influência que as novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)
exercem na vida social, económica e política da própria sociedade;
c) Lógica de redes – Castells (2000), entende esta lógica, como uma caraterística
predominante deste novo modelo de sociedade, que facilita a interação entre as pessoas;
podendo ser implementada em todos os tipos de processos e organizações, graças as
recentes Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), (p. 72);
d) Flexibilidade – Segundo Castells, esta caraterística refere-se ao poder de
reconfigurar, alterar e reorganizar as informações;
e) Convergência de tecnologias específicas para um sistema altamente integrado – o
autor quer com isso dizer que, o continuo processo de convergência entre os diferentes
campos tecnológicos resulta da sua lógica comum de produção da informação, onde
todos os utilizadores podem contribuir, exercendo um papel ativo na produção deste
conhecimento;
46
Na lógica do autor, estas caraterísticas estão ligadas diretamente ao processo de
democratização do saber, fazendo emergir novos espaços para a busca e o compartilhar
de informações; Lévy (1996) considera isto, como processo de ‘desterritorialização do
presente’, visto que não há barreiras de acesso a bens de consumo, produtos e
comunicação (Castells, 2002, p. 8).
10
- Ciência que estuda a informação desde a sua génese até ao processo de transformação de
dados em conhecimento.
11
- A sociedade em rede é a sociedade em que vivemos […] a sociedade em que estamos a
entrar, desde há algum tempo, depois de termos transitado na sociedade industrial durante mais de um
século” (Castells, 2005).
47
uma nova economia, na qual a tecnologia da informação é considerada uma ferramenta
indispensável na manipulação da informação e construção do conhecimento pelos
indivíduos, pois “a geração, processamento e transmissão de informação torna-se a
principal fonte de produtividade e poder” (p. 24).
Já Almeida (2000) salienta que, o êxito desta sociedade é bem conhecido, tendo
provavelmente correspondência na popularidade do conceito de globalização. Ambos
têm uma referência real, traduzem ou podem traduzir efetivos processos sociais e
tendências evolutivas verificáveis. Mas em todo caso carecem, de que lhes seja
precisado o conteúdo, de que lhes seja testada a capacidade heurística na análise das
evoluções sociais e no esforço prospetivo (p. 28). Como por vezes acontece nas ciências
sociais, não deixaram de surgir interpretações apressadas e redutoras. Umas cederam à
habitual tentação do determinismo tecnológico, atribuindo ao desenvolvimento
científico e às aplicações tecnológicas capacidade, por si só, de transforma as
sociedades. Também Pinto (2003), referindo-se a esta matéria, sublinha que, em rigor
não é um fenómeno novo, o que é novo é a velocidade das inovações tecnológicas,
conjugada com a performativa de cada novo ‘padget’ que tem contribuído para a
consolidação de um discurso de carga predominantemente positiva (p.120).
Na perspetiva de Lima (2006), a sociedade de informação e comunicação
desabrochou antes do limiar do século XXI e constitui-se numa revolução que só tem
paralelo nas maiores mudanças históricas, e uma delas, deu-se com a transformação da
informática e das telecomunicações em protagonistas decisivos dos tempos modernos.
Acrescenta ainda o autor, a disponibilização de recursos multimédia e a crescente
capacidade de armazenar e gerir dados transformaram o cenário da informação e da
comunicação (p. 83).
48
compras e pagar todo tipo de despesas, partilhar informações, entre outros, de forma
muito instantânea.
A Internet deve ser entendida como uma rede virtual composta por um enorme
conjunto de redes de computadores, públicas e privadas, espalhadas por todo o mundo,
que, mesmo tendo caraterísticas diferentes, estão interligadas e podem ser vistas como a
única rede gigantesca na sociedade contemporânea (Deleuze & Guattari, 1996, p. 27).
Este instrumento trouxe um mundo de informação que constantemente é atualizada,
permitindo assim, de uma forma rápida consultar e partilhar os mais diversos temas e
conteúdos. Diga-se ainda, que esta tecnologia permite as relações e interações entre a
sociedade. Segundo Castells (2005), o surgimento da internet permitiu a criação de um
espaço público diferente localizado na rede: Ciberespaço “é um local virtual fronteiro
sem espaço físico real, desterritorializado onde várias culturas se cruzam, permite
conceber espaços abstratos e símbolos é um local virtual, mas ativo, vivo e construído
pela humanidade” (p. 18).
Na verdade, a internet, transformou o modo de ser e estar da sociedade, na forma
como as pessoas estabelecem as relações, na forma de comunicar-se uns com os outros.
Na sociedade contemporânea, está-se permanentemente em contacto com as notícias e
informações de todo o planeta, influenciando a forma de ser, esta, pensar e agir. “A
internet é um meio de comunicação que permite, pela primeira vez, a comunicação de
muitos para muitos em tempo escolhido e a uma escala global. Do mesmo modo que a
difusão da imprensa no ocidente deu lugar ao que McLuhan denominou de “galáxia
Gutenberg”, entramos agora num novo mundo novo da comunicação: “a Galáxia
internet” (Castells, 2004, p. 16).
O contacto com este dispositivo, esta longe de ser uniforme entre a população
portuguesa, ou seja, o grau de proximidade a este meio de comunicação é bastante
diversificado entre diferentes categorias e grupos sociais (Cardoso et al., 2005, p. 139);
como veremos mais adiante. Segundo Cardoso (2005), […] mais de 70% da população
utilizadora da Internet nasceu depois de 1974. Para este autor, as pessoas nascidas
depois do 25 de Abril de 1974, têm estado mais em contacto com a internet uma vez
que já nasceram num regime democrático, em que todos, ou quase todos têm maneira de
aceder à internet, mesmo que seja só na escola. O que nos leva a considerar que a
população dominadora no uso deste dispositivo e não só, é relativamente e bastante
49
jovem na sua maioria. As franjas mais jovens, desde de muito cedo que utilizam a
Internet, por isso estão muito mais familiarizados, com este dispositivo do que os mais
velhos (Cardoso et al., 2005 in Silva, 2007, p. 9).
50
CAPÍTULO IV
12
- Marcador estatutário exclusivo da emancipação individual que mesmo assim não era
acessível a todos, dada a exiguidade do mercado matrimonial, em função de critérios económicos e
sociais de transmissão de patrimónios (Bandeira, 1996).
51
autor, a juventude deve ser entendida como caráter universal dado pelas transformações
do indivíduo numa determinada faixa etária, nas quais completa o seu desenvolvimento
físico, cognitivo e psicológico (p. 42). Outros ainda consideram a juventude, como um
período em que é possível gozar de alguma liberdade, apesar da situação de
dependência familiar; este período estende-se para além da infância (Cicchelli, 2001b;
Gillis, 1981, p. 73).
No seguimento desta ideia, a UNESCO13 (2004), definiu a juventude como o
“período do ciclo da vida em que as pessoas passam da infância à condição de adultos e,
durante o qual, se produzem importantes mudanças biológicas, psicológicas, sociais, e
culturais, que variam segundo as sociedades, as culturas, as etnias, as classes sociais e
género” (p. 23; cit por Pinto, 2012, p. 226). Como podemos ver, esta definição
pressupõe a transitoriedade (Salem, 1986, p. 41), de uma fase para outra, que neste caso
para a vida adulta, cenário referido por vários autores, com destaque a François de
Singly (2000b, 2005). Segundo Singly, a experiência juvenil contemporânea resultou da
dissociação entre as dimensões da autonomia e a da independência; os jovens não estão
dispostos a esperar pela independência financeira para usufruir da sua autonomia (p.
4039).
José Machado Pais (1990) considera que as representações mais correntes do
que se compreende por ser jovem podem de acordo com a sociologia da juventude, ser
traduzidas em duas grandes linhas ou tendências:
a) a primeira delas é, aquela que considera a juventude como um conjunto social ou
grupo homogéneo, cujo principal atributo é constituído por indivíduos pertencentes a
uma dada ‘fase da vida’, prevalecendo a busca dos aspetos mais uniformes e
homogéneos que caraterizariam essa fase da vida - aspetos que fazem parte de uma
‘cultura juvenil’, específica, portanto, de uma geração definida em termos etários;
b) a segunda tendência, considera a juventude como aquela que é tomada como um
conjunto social necessariamente diversificado, que reconhece a existência de múltiplas
culturas juvenis, em função de diferentes pertenças de classe, diferentes situações
económicas, diferentes parcelas de poder, diferentes interesses, diferentes oportunidades
ocupacionais […]. Esta realidade constitui diferentes visões, que implicam também
13
- Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
52
diferentes estratégias de abordagem, deste modo o conceito de Juventude deve ser
entendido no plural ‘juventudes’ e não no singular (Pais, 1990, p. 140); na defesa de que
existe uma especificidade nas diversas formas de ser jovem que, consequentemente, são
constitutivas da cultura juvenil (Pais, 2003, p. 35).
A verdade é que não existe uma só juventude, mas sim diferentes juventudes;
quer isto dizer que, a juventude é uma noção construída socialmente, que não pode ser
definida tendo em consideração critérios exclusivamente biológicos, psicológicos,
sociológicos, entre outros (Fernandes, 2001; Bourdieu, 2003; Santos, 2014, p. 161).
Desta forma, acaba-se por descontrair a representação social do senso comum sobre o
conceito e revelar o conceito como uma constrição sociológica - isto é, cientifica e
necessariamente paradoxo - da juventude. A representação social da juventude dará
lugar à realidade sociologicamente construída (idem, p. 146). Alguns autores
consideram a Juventude como uma categoria socialmente manipulada e manipulável, a
este respeito referiu Bourdieu (1980), “o fato de se falar dos jovens como uma ‘unidade
social’, um grupo dotado de ‘interesses comuns’ e de se referirem esses interesses a uma
faixa de idades constitui, já de si, uma evidente manipulação (p. 145).
Segundo José Machado Pais (1990), a noção da juventude adquiriu uma cera
consistência social a partir do momento em que, entre a infância e a idade adulta, se
começou a verificar o prolongamento com os consequentes “problemas sociais” daí
derivados dos tempos de passagem que hoje em dia mais caraterizam a juventude,
quando aparece referida a uma fase de vida (p. 148).
A faixa etária é tida também como um dos critérios fortemente relevante para se
poder definir o conceito de juventude (Almeida, 2009, p. 50). Assim, a partir de 1985
todos os serviços estatísticos do sistema das Nações Unidas têm utilizado a coorte etária
para descrever o conceito de juventude, neste contexto, entende-se por juventude o
grupo etário compreendido entre os 15 e os 24 anos de idade - calculado a partir de
1062 milhões de pessoas14, (UNESCO, 2004, p. 21).
14
- (Fonte: Indicadores-chave da OIT para o Mercado de Trabalho (KLIM). A taxa de
desemprego dos jovens (no grupo etário 15 -24) é o desemprego juvenil como percentagem da mão-de-
obra juvenil.
53
4.2. Relação dos jovens com as novas tecnologias
De acordo com Eisenstein e Estefenon (2006) os jogos e brincadeiras de ruas
que, caraterizavam as sociedades antigas e tradicionais, hoje caíram em desuso, os
mesmos foram substituídos pelos jogos eletrónicos, videogames, jogos nos ‘tablets’, nos
computadores, nos telefones, de entre outros. Deste modo percebe-se que, novos hábitos
e novos comportamentos surgiram, até mesmo ao ponto de muitas vezes substituir as
próprias conversas inter-famíliares. Na sociedade contemporânea o homem é
caraterizado por uma forte relação com os novos mídia; já não consegue viver sem as
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), estes dominam quase toda vida
humana. A dependência do homem sobre as máquinas é tal, o que levou Terceiro
(1997), a afirmar que “o homem poderá deixar de ser ‘homo sapiens’ e passará a ser
‘homo digitalis’” (p. 37).
Os jovens da sociedade atual, ainda muito cedo já são tomados pelo desejo de
possuir e dominar o novo integrado de inúmeros dispositivos tecnológicos, muitas vezes
em idades prematuras, conseguem já manipular e partilhar arquivos, acedem à Internet
com muita facilidade, fazem ‘downloads’, criam redes e perfis de amizades em sites
especializados com pessoas de diversos lugares do mundo, muitas vezes sem o
consentimento dos seus progenitores. Passam horas e horas no messenger, no facebook,
no correio eletrónico, em chats, a fazer jogos e também mandar mensagem aos amigos e
ouvir músicas, tudo ao mesmo tempo. Os jovens de hoje nasceram e estão a crescer num
mundo digital, muito cedo e com idade muito precoce já acedem com facilidade às
tecnologias (Lepicnik & Samec, 2013), por isso, alguns autores caraterizam esta
população como uma geração de nativos digitais (Fleer, 2011; Prensky, 2001a, 2001b),
que vive num mundo tecnológico, onde diariamente, acede aos dispositivos (Haia &
Payton, 2010; Plowman, Stevension, Stephen, & Mcpake, 2012; in Dias & Brito, 2016,
p. 10).
Alguns especialistas associam estas atividades, a uma hipótese de uma nova
doença, o ‘vicio’. “O tempo passado a ver televisão e vídeo, utilizar telemóveis, jogar
jogos eletrónicos, utilizar o computador, etc., envolvem uma grande parte da vida diária
dos jovens atuais. A exposição diária desta população a uma frequência elevada de
publicidade televisiva sobre alimentação e a existência de televisão no quarto tem
54
levado alguns investigadores a admitirem uma associação forte de risco no aumento de
obesidade infantil” (Neto, 2006ª, p. 1).
Os jovens de hoje são dotados também de uma especial aptidão em manusear as
novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), (Livingston, S., & Bovill, M;
2001), em que muitas vezes superam os seus pais nesta matéria. Cada vez mais assiste-
se a um número elevado de jovens que estão em permanente contacto com os
dispositivos tecnológicos, quase em todos os lugares aonde estes se encontram, isto faz-
nos perceber e concluir que estes meios entraram definitivamente na vida destas pessoas
(Papert, 1995, p. 11). Assiste-se hoje, a interação forte dos jovens com os meios
digitais, ao ponto de fazer declinar muitas vezes a comunicação face-a-face, dando azo a
comunicação à distância que se enquadra nas chamadas “vidas digitais” (Green &
Hanon, 2007, p. 4).
Num estudo realizado pela Comissão Europeia (2005), verificou-se que crianças,
cada vez mais jovens, já acediam à Internet. Neste mesmo estudo realizou-se um
inquérito a pais de Países Membros da Comunidade Europeia, cujo resultado indicou
que 34% de crianças de 6 a 7 anos de idade acediam à internet, e em 2008, num
inquérito equivalente a esta matéria, verificou-se um aumento para 42% para crianças
de 6 anos e 52% para crianças de 7 anos de idade (European Commision, 2006, 2008).
Dados reportados neste estudo, revelam uma pequena discrepância entre países sobre
esta matéria; por exemplo na Suécia, em 2011, metade das crianças de 2 anos de idade
acediam à Internet e em 2013 a idade das crianças diminuiu, passando a metade delas
para 2 anos (Findahl, 2013, p. 25).
No Reino Unido por exemplo, 33% das crianças de 3 a 4 anos de idade acediam
à internet num desktop ou portátil, 6% acediam à Internet num Tablet e 3% num
telemóvel; o número de crianças entre os 5 a 7 anos de idade que acedem à Internet
aumentou 68% comparativamente a 2007; 9% de crianças com 3 a 4 anos utilizam um
Tablet e 6% utiliza um Tablet para aceder à Internet (Ofcom, 2013, p. 25). Na
Finlândia, 50% de crianças de 4 a 5 anos de idade acedem à Internet ocasionalmente,
tornando este uso mais comum a partir dos 6 anos (Kupiainen, Suoninen & Nikunen,
2011) e 70% com 7 anos de idade acedem a internet (Pӓӓjӓrvi, 2012). Na Noruega, 58%
de crianças dos 0 aos 6 anos utilizam à internet (Guomundsdottir & hardersen, 2011, p.
25). Na Bélgica, 70% de crianças em idade pré-escolar acedem à Internet, normalmente
55
desde os 3 e 4 anos em diante e a maioria acede varias vezes por mês (Teuwen, DeGroff
& Zaman, 2012, p. 1).
Na Alemanha 21% de crianças com 6 e 7 anos de idade e 48% com 8 e 9 anos
acedem à Internet excecionalmente (Medienpädagogischer Forschungsverbund
Südwest, 2012, p. 33). Na Áustria praticamente metade das crianças de 3 a 6 anos
acedem à Internet regulamente (Jungwirth, 2013). Na Holanda 78% de crianças de 1 a 6
anos de idade já acederam à Internet, assim como 5% de bebés com menos de 1 ano de
idade (Brouwer et al., 2011, p. 26).
No que diz respeito à sociedade portuguesa, não foram encontrados dados
relativos a crianças com menos de 6 anos de idade, mas sim de crianças mais velhas.
Esta realidade é comprovada no estudo de Mascheroni & Cuman (2014), em que 72%
de crianças entre os 9 e os 16 anos acedem à Internet na escola e 67% acede em casa;
65% tem computador portátil pessoal, sendo que 52% acede à internet “todos os dias ou
quase todos os dias” (Simões, Ponte, Ferreira, Doretto, & Azevedo, 2014, p.7).
Podemos ainda atualizar estes dados, a partir da informação obtida através do
inquérito à utilização de tecnologia da informação e da comunicação (INE,), segundo
esta fonte, de 2005 a 2008, observou-se quase em todo país, na faixa etária dos 10 aos
15 anos um aumento significativo na proporção de utilizadores de computadores,
Internet e Telemóvel, com maior destaque à utilização da Internet, que passou de 73,5%
(2005), para 92,7% (2008), (INE, 2008). Entre 2007 a 2008, verificou-se uma
intensificação na utilização de telemóveis, em mais de 11 ponto percentuais, passando
assim de 73,3% (2007), para 84,6% (2008), (INE, 2008) e em 2012 passou para 93%
(INE, 2012).15
Reportando os dados dos anos mais recentes, fornecidos pela mesma fonte
(inquérito à utilização de tecnologia da informação e da comunicação), verificaremos
cada vez mais aumentos; por exemplo em 2016, verificou-se que dos 74% dos
agregados familiares em Portugal tem ligação á internet, o acesso à internet a partir de
casa neste país aumentou quase 20 pontos percentuais igualando assim a média da UE
15
- O uso das novas tecnologias por parte das crianças e jovens, cada vez mais vai aumentando à
medida que os anos passam, por exemplo em 2012, é visível este aumento, com 98% para o uso dos
computadores, 95% para utilização da Internet e 93% uso do Telemóvel (INE, 2012).
56
28, face ao inicio da década (INE, 2016), Já em 2017, verifica-se uma proporção
superior ao ano anterior, passando assim para 77 %, com uma diferença de cerca de três
pontos percentuais (INE, 2017).
Também é importante realçar, que muitos dos utilizadores destes meios, são
adolescentes e jovens ligados ao campo académico, de acordo com a fonte em causa, os
níveis da utilização é elevado para aqueles que frequentam o ensino secundário e
superior, que em 2012, os dados eram aproximadamente quase a 94%. Dados
disponíveis nos anos mais recentes, revelam claramente esta aproximação na utilização
destes dispositivos, com maior ênfase à Internet, (98%) para os dois níveis (secundário e
superior) (INE, 2016) e 97%) para ensino secundário e 99% para o ensino superior
(INE, 2017).
57
competências de literácia, nos conhecimentos e competências matemáticas, linguísticas
entre outros (Clements & Sarama, 2007; Elliott & Hall, 1997; Howard, Watson,
Brinkley, & Ingels-Young, 1994; Li & Atkins, 2004; Pange, 2003; Parette, Hourcade,
Dinelli, & Boeckmann, 2009, p. 27). Este pensamento também encontra-se bem patente
nas palavras de Pierre Sorlin (1997) ao considerar que, os meios de comunicação “têm
vindo a divulgar o conhecimento científico (…) e despertaram também a imaginação
sobre os mistérios do mundo animal em pessoas cujo interesse é habitualmente mais
excitado por imagens sensacionais do que por inquéritos científicos” (p. 75).
Pode-se também considerar, como oportunidade ou beneficio, a facilidade com
que hoje, os jovens adquirem grupos de amigos embora virtuais, de uma forma
acelerada, a facilidade com que eles estabelecem uma relação interpessoal através de
múltiplas plataformas disponíveis nestes meios. Deste modo, percebe-se de forma clara,
os benefícios e oportunidades que as novas Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC) proporcionam sobretudo no âmbito do desenvolvimento da comunicação, da
criatividade, da expressão e também do entretenimento (Livingstone, 2004; Norris,
2001, p. 27).
Neste quadro de interação e comunicação, deve salientar-se o papel da internet,
como instrumento que facilita esta interação; para isso, referiram Cardoso et al., (2005)
que, “a Internet tem assim o efeito de permitir a comunicação à distância e de diminuir
o sentimento de solidão e isolamento, na medida em que há possibilidade de entrar em
contacto com pessoas que estão do outro lado do mundo, em qualquer sítio, desde que
se esteja ligado à internet” (cit. por Silva, 2007, p. 5). Além disso, este dispositivo
permite ainda, realizar imensas atividades, tais como: lúdicas, profissionais, compras,
pagamento de dispensas, entre muitas outras (Silva, 2007, p. 3), tal como acima já foi
referido.
De uma forma geral, pode dizer-se que, os países europeus têm apoiado a oferta
destes dispositivos digitais e o desenvolvimento de competências de literácia digital na
valência do pré-escolar, reconhecendo assim a utilização da Internet com promotora de
novas oportunidades de aprendizagem, participação e comunicação (Plowman et al.,
2012, p. 27). Num dos estudos realizados nos Estados Unidos, com uma amostra de
8.283 crianças em idade pré-escolar, juntamente com crianças do 1º e 3º ano do ensino
primário, chegou-se a conclusão de que “ a utilização frequente da Internet e a
58
proficiência na utilização do computador correlacionam-se positivamente com o
rendimento escolar” (Judge et al., 2006, p.52).
Vários autores reconhecem a importância que as novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) têm nesta sociedade, em proporcionar enumeras
oportunidade, sobretudo para os mais jovens, tidos como os utilizadores mais frequentes
dos mesmos. Neste quadro de ideias, Esteves (2003) sustenta que “a importância dos
mídia nos nossos dias é um facto absolutamente iniludível e o reconhecimento dessa
importância apresenta-se tanto mais facilitado quanto as sociedades humanas atingem
níveis mais elevados de desenvolvimento” (p. 169). A mesma linha de pensamento, é
sustentado também por Nunes (2007) afirmando que, na sociedade contemporânea, a
mídia têm uma grande importância, já que suportam conteúdos que contribuem para os
processos de produção e construção, de reprodução e reconstrução e de representação
social da realidade e da cultura (p. 5).
59
primeiro deles consiste nas relações online com os próprios jovens e o segundo tem a
ver com conteúdos pornográficos (p. 73). Já Alfab (2000), considera que o maior perigo
consiste num encontro offline como estranhos que conheceram em Online (Simões,
2009, p. 57). Esta ocorre quando a relação interpessoal não é verdadeira, ou seja através
da falsificação da identidade ou da própria imagem. Este cenário tem sido muito
ocorrente nos dias atuais, fazendo-se passar por uma imagem não real à queda que o/a
jovem supostamente conheceu em online.
Autores como Poftak (2002), Livingstone (2003), referem essencialmente aos
perigos ou riscos ligados a conteúdos desadequados e a questões relacionadas com a
privacidade, que os jovens podem aceder inesperadamente. Segundo Oswell (1998),“os
jovens são considerados vitimas quando são alvo de atividades pedófilas mas, no caso
de acederem a conteúdos prejudiciais sem intenção, estão em perigo (p. 281). São
considerados conteúdos prejudiciais aqueles que podem afetar o seu desenvolvimento
mental (European Commission, 1996, p. 6).
Na sociedade atual em plano do uso das novas tecnologia, sobretudo para as
populações mais vulneráveis, como é o caso dos jovens, vários perigos estão claramente
eminentes, como são aqueles radicados nos telemóveis, conteúdos menos apropriados
expostos muitas vezes na própria televisão bem como os próprios comportamentos
violentos associados a jogos interativos, disponíveis na Internet e conteúdos ou questões
de privacidade que este meio dispõe.
No estudo do uso das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC),
por parte dos jovens, verifica-se que, muitos dos perigos e riscos eminentes nestes
meios quase 95% estão associados ao uso da Internet. Por isso, neste estudo deve-se dar
maior ênfase o papel que este dispositivo exerce, sem descurar sua potencialidades; até
porque Ponte e Vieira (2007) referem que, “ a Internet em si não é boa nem é má,
depende do uso que se faça dela […] a Internet, para além de um possível risco é
sobretudo, uma oportunidade” (p. 13). Estes autores consideram ainda, os riscos como
sociais, na medida em que estes podem ter um forte impacto sobre a vida social,
emocional e física dos jovens, porém consideram que o maior risco é o ‘não uso’, já que
esta se converteu na ferramenta básica de troca de informação do século XXI. Eles
dividem os riscos da Internet em três categorias: riscos associados aos conteúdos; riscos
60
relacionados com a participação em serviços interativos e riscos ligados ao excesso de
tempo de utilização, que podem conduzir ao vício e ao isolamento social (idem).
Nos nossos dias os jovens utilizam a Internet, num contexto muito amplo e de
forma muito diversificada, tais contextos podem ser: domestico, familiar, social,
cultural, politico, lúdico, económico, entre outros. Deste modo admite-se que, são vários
os fatores que podem influenciar a potencialidade do uso deste meio, em geral, e os
riscos com os quais se podem deparar, em particular (Simões, 2009, p. 50). Gomes et
al., (2007) salientam que, o acesso à Internet é importante para evitar a infoexclusão16,
mas também adiantam que é necessário desenvolver competências. “Não basta ser um
utilizador da Internet, importa ser um utilizador crítico e consciente” (p. 768). Deve-se
ter em conta, que muitas dos jovens, utilizam a Internet sem qualquer intenção de
explorar coisas menos boas, mas o perigo ocorre quando estes se deparam com estas
coisas e muitas das vezes sem qualquer preparação para tal. Para isso, Cidália Neto
(2006b), faz alusão aos maus conteúdos comparando-os com o que ela denomina por
‘ervas daninhas’ que prejudicam o trabalho do agricultor quando as tem de separar, mas
elas estão escondidos (p. 36). Muitas das pessoas mesmos aquelas com pouca instrução
nesta matéria, não só os jovens, muitas vezes, desconhecem totalmente que, muitas das
informações disponível nestes dispositivos, e que facilmente se podem aceder através da
internet, carregam consigo uma doze de falsidade e riscos. Por isso, torna-se muito
importante o papel das pessoas mais avisadas nesta meteria, no sentido de alertar para
estes perigos e riscos.
16
- Exclusão digital, conceito que se refere à desigualdade digital dos campos teóricos da
comunicação, sóciologia, tecnologia da informação.
61
destes meios. Mais do que preocupar-se com o tempo e horas em que os filhos passam
em online, torna-se importante criar um clima de envolvimento entre estes e seus
educadores, de modo particular os pais transmitindo-lhes assim maior confiança e
capacidades em filtrar as informações disponíveis nestes dispositivos, a ponto de estes
serem eficientes no uso destas novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC),
(Bleeker & Jacobs, 2004; Gonzalez-Deffass et al., 2005, p. 42).
Muitos dos pais hoje partilham da opinião de que, os seus filhos tirem partido às
oportunidades que as novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)
fornecem. Muitos dos pais, permitem aos seus filhos conectarem-se à internet, tendo em
conta somente a preocupação académica (Buckingham, 2002; Livingstone & Bovill,
2001, p. 22). Mas por tudo isso, é importante também referir que ele deve preocuparem-
se com as ameaças e perigos eminentes nestes dispositivos, sobretudo na Internet (Facer
et al., 2002; Livingstone, 2002, Turow & Nir, 2000, p. 38).
O papel fundamental dos pais para com os seus filhos nesta matéria, não só deve
resumir-se em acompanhar os seus filhos ou proibi-los (Van der Bulck & Van Den
Bergh, 2000; Bybee at al., 1982; Dorr et al., 1989; Lin & Atkin, 1989). Cabe aos pais e
outros encarregados delinear estratégias próprias, sobretudo aquelas que se pautam na
educação e prevenção; sabendo que, vivemos numa sociedade em que cada vez mais o
tempo de a família partilhar o mesmo espaço tornou-se cada vez mais escasso. Os pais
não têm tempo para dedicarem aos seus filhos, acompanhar de perto os seus trajetos
diários, muitos dos filhos são entregue à sorte do dia, governando-se a si mesmos, ou
quanto muito ficam sob o cuidado de gente muito mais adulta no caso dos avôs, gente
quase totalmente impotente, sem literácia no uso destes novos dispositivos tecnológicos
(Certeau, 1984, p. 28).
Perante este cenário, os pais precisam de serem ajudados a não olhar os filhos
através do ‘espelho do retrovisor’, esta perceção deve ser desmistificado através de um
diálogo verdadeiro entre pais e filhos, tendo em conta as atividades que os filhos
desenvolvem nestes meios, para isso, os pais precisam de estar atentos à educação das
tecnologias e a segurança digital, promovendo as boas práticas existentes na família
(Dias & Brito, 2016, p. 10). O envolvimento parental na educação dos filhos para o uso
dos dispositivos tecnológicos, torna-se aqui uma chave fundamental, no sentido de
melhorar os resultados das aprendizagens dos filhos (Becta, 2010; Harris, & Goodall,
62
2008, p. 16). É necessário que os pais saibam utilizar os dispositivos e a Internet de um
modo seguro, de forma a poderem mediar as atividades dos filhos adolescentes, (idem).
Num estudo realizado em Malta (Lauri, Borg e Farrugia, 2015), dos 1 324 pais
questionados de crianças com idades compreendidas entre os 8 e os 15 anos, a maioria
manifestou o receio na utilização das redes sociais pelos seus filhos; 80,6% referiu ser
importantes os filhos terem definições de privacidade nas redes sociais; 56,8% referiu
ter receio que os filhos se encontrem com pessoas que só conheceram em online e 56%,
consideram importante saberem as palavras passe dos seus filhos. Noutro estudo os pais
mencionam ter receio pela segurança dos seus filhos online e por isso, optaram por um
tipo de solução que consiste em controlar o tempo em que os seus filhos utilizam estes
meios (81,2%), a verificação do histórico do Browser 71%, (Delen, Kaya, Ritter &
Sahin, 2015, p. 87).
Talvez esta última opção teve uma ideia genial, mas a questão que se levanto, é
que nos dias de hoje muitos dos jovens não têm apena um único dispositivo, ele pode
não usar em casa por causa do controle dos pais, poderá usar sim na escola, ou em casa
de um amigo, ou mesmo no dispositivo do seus amigos ou colegas, deste modo, a
proibição pode ser um veneno em vez de ser uma solução, assim a melhor forma
consiste desde já, em educar e prevenir. Cabe aos próprios pais desempenhar um papel
fundamental na educação dos seus filhos (Paul & Attewel, 2003); devem ensinar-lhes
também comportamentos corretos online, que poderão permanecer, desenvolver-se no
resto das suas vidas (Livingstone & Haddon, 2009); desta forma poderão adquirir
resiliência em se protegerem contra futuros danos. “Cada vez mais é importante
conhecer e entender as utilizações de meios digitais pelas famílias, em especial pelas
crianças, de modo a poder educa-las numa utilização responsável e protege-las de
riscos” (Dias & Brito, 2016, p. 10).
As novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), quer queiramos
quer não, hoje, fazem parte do mundo de todos, sobretudo o dos jovens, por isso, desde
pequenos os pais devem ensinar-lhes a utiliza-los de modo seguro; esses ensinamentos
devem começar pela formação dos próprios pais na segurança online, pois as crianças
têm os pais como modelos.
63
CAPÍTULO V
64
ganhando terreno, valorizando-se a liberdade, a racionalidade e a igualdade de
oportunidades (Leandro, 2000, p. 221); desta forma, novas transformações foram
surgindo na família, passando a predominar um modelo de família nuclear (Beltrão &
Good, 1973, p. 436).
Nos anos 60 do século XX e sobretudo com a taxa elevada da escolarização
feminina, surgiram novas viragens no quadro do exercício das tarefas e funções de casa,
em que as mulheres passaram a reivindicar a existência do reconhecimento dos deveres
e direitos iguais aos dos homens, uma vez que ambos exercem agora profissões fora da
residência, fazendo cair por terra o modelo parsoniano ou tradicional. Desde lá, novos
paradigmas e novos tipos de famílias têm vinda a surgir (Alarcão & Relvas, 2002, p.
146). Cada vez mais na sociedade ocidental tem-se verificado de forma significativa o
surgimento e a existência de novos modelos familiares, como é o caso das famílias
recompostas, aquelas constituídas por um pai, uma mãe com ou sem filhos. Estas
famílias são na sua maioria fruto de divórcio ou separação (Costa, et al., 1994, p. 19).
Em Portugal este tipo de família tem aumentado cada vez mais, desde 2001 até 2011, o
seu número duplicou, passando assim de 46 786 para 105 763 (Eurostat, 2012).
O tipo de famílias monoparentais e unipessoais tem vindo também a crescer no
mundo ocidental (INE, 2013). Entende-se por famílias monoparentais aquele núcleo
familiar constituído por um pai e uma mãe que não vivem e casal mas que têm filhos
sob tutela dos seus cuidados. E entende-se por famílias unipessoais, aquelas famílias de
indivíduos que vivem sozinhos. Nos últimos anos tem-se registado um número
significativo deste tipo de famílias em Portugal, sobretudo para aquela população idosa.
Se em 1991 as pessoas que viviam sozinhas em Portugal representavam 12,4% do total
de famílias, este valor aumentou para 15,5 % em 2002 e em 2011 passou para 20,4%
(INE, 2012).
Para além destes tipos de famílias acima referidos, tem surgido também no
mundo ocidental alguns novos modelos de família, por exemplo a família homossexual,
entendida como a coexistência de uma união conjugal entre duas pessoas do mesmo
sexo (Relvas, 2004; Alarcão, 2006i, p. 97). Este tipo de família tem aumentado de
forma significativa, em 2013 por exemplo, foram celebrados 308 casamentos de pessoas
do mesmo sexo, três anos depois, ou seja, o número aumentou passando assim para 422,
valor superior ao do ano anterior (350, em 2015), (INE, 2016).
65
Existem ainda outras tendências que também têm vindo assolar as famílias
ocidentais nos últimos anos (Dias, 2000, Leandro, 2001, p. 142; Aboim, 2006, p. 63).
Verifica-se uma redução significativa nos nascimentos de bebés ou seja, a taxa de
natalidade baixou consideravelmente, que em contra partida é superada pela taxa bruta
de envelhecimento. Cada vez mais nasce-se menos e vive-se muito mais tempo, ou seja,
morre-se mais tarde, sobretudo para a população do sexo feminino (INE, 2016). No
conjunto dos 28 Países Estados Membros, no período decorrido entre 2003 a 2013,
Portugal apresentava o quinto valor mais elevado índice de envelhecimento; o terceiro
valor mais baixo do índice de renovação da população em idade ativa e o terceiro maior
aumento da idade média. Em 2013 por exemplo, a Itália apresentava a maior proporção
de pessoas idosas (21,4%), ao contrário da Irlanda (12,6 %) e Portugal apresentava uma
proporção superior a da UE 28, neste período era o quarto país com maior proporção de
idosos, apenas ultrapassado pela Grécia, Alemanha e Itália, (INE, 2013; 2015).
Verifica-se também um aumento significativo de idade médio ao primeiro
casamento, bem como ao nascimento do primeiro filho. “O número médio de filhos por
mulher diminuiu, deixando de estar assegurada a subsistência de gerações que
corresponde a um índice sintético mínimo de 2,1; as mulheres passaram a ser mães com
idades tardias, a natalidade deixou de ser o principal fator de aumento da população”
(Rosa & Chita, 2013, pp. 26-27; Almeida & André, 1995; Bandeira, 1996, p. 372). Nas
últimas décadas, a fecundidade em Portugal decresceu muito rapidamente, do valor
médio de 3,1 Filhos por mulher em idade fértil que se registava em 1960 passou-se para
1,5 em 1999. Mas apesar disso, nos últimos anos verificou-se um ligeiro crescimento,
por exemplo no período entre 2006 a 2011 registou-se algumas oscilações entre 1,35 e
1,40, tendo posteriormente descido até 1,21 filhos por mulher em idade fértil em 2013.
Em 2016 atingiu o valor de 1,36 filhos por mulher em idade fértil, o que traduz uma
recuperação face aos valores observados nos anos de 2012 e 2015, (INE, 2017).
As nupcialidades constituem também uma outra tendência que assola a família
nos últimos anos, tem-se verificado uma queda significava nesta vertente. Em 2014 por
exemplo em Portugal realizaram-se cerca de 31 478 casamentos, menos 520 (1,6%) do
que no ano anterior, ou seja, em 2013 (31 998). Mas apesar disso, em 2015, registou-se
um ligeiro aumento, sendo que neste ano realizaram-se no país cerca de 32 393, mais
915 (2,9%) do que no ano anterior (31 478), (INE, 2015).
66
O adiamento da idade ao primeiro casamento é uma das tendências que também
tem dominado bastante. Em 2015 a idade média ao primeiro casamento foi de 36,3 anos
para os homens e 33,8 para as mulheres. No ano seguinte (2016) passou para 36,8 para
os homens e 34,3 para as mulheres (INE, 2015 & 2016). Esta realidade tem uma relação
colateral com a idade média ao nascimento do primeiro filho, cada vez mais tem-se
optado por se ter o filho mais tarde. Por exemplo no período entre 2009 a 2014 esta
tendência passou de 28,6 para 30,0 (INE, 2015).
Uma outra tendência a ter em conta relaciona-se com o aumentou significativo
dos divórcios, tem-se tornado cada vez mais fácil e frequente divorciar-se, os laços
matrimoniais tornaram-se tão frágeis talvez fruto daquilo que Baumann chama de amor
líquido, já que hoje a própria indissolubilidade é questionável, o casamento dura
enquanto durar o amor (Giddens, 2007, p. 43). Em 2013 Portugal decretou cerca de 22
784 divórcios, menos 2 938 do ano anterior (2012), 22 525. Neste mesmo ano (2013),
Portugal ocupava a 9ª posição no ranking dos 28 Países Membros. As taxas mais
elevadas registaram-se na Letónia e na Lituânia e Dinamarca e em contra posição as
taxas mais baixas registaram-se na Irlanda, Malta e Itália (INE, 2014, 2015 & 2016).
67
no messenger, no facebook, no histograma, nos chats (Lepicnik & Sanec, 2013, p. 68).
Por isso, eles são bem dados em manusear estes meios, superando assim em muitos
casos os seus pais e não só (Livingston, S., & Bovill, M., 2001, p. 26).
Esta forte interação dos jovens com as novas Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC) tem alterado não só as próprias dinâmicas de se comunicar entre os
indivíduos ou membros familiares, mas também a maneira de relacionar-se uns com os
outros. Verifica-se um declínio no tipo de comunicação presencial ou seja do tipo face-
a-face, usando assim a linguagem goffmaniana, primando pela comunicação à distância
(Giddens, 2000, pp. 374-389), que se enquadra claramente no “mundo digital” (Green
& Hanon, 2007, p. 4). Mesmo nos momentos em que os membros familiares partilham
o mesmo espaço, em muitos casos dá-se primazia em conversar e dialogar com alguém
que esteja mais distante daquele espaço através das redes sociais. Cada vez mais
verifica-se que “os membros das famílias tendem a isolar-se e a comunicar-se menos”
(Williams & Merten, 2011, p. 68).
Deste modo, o interesse desta investigação ajusta-se a esta crescente utilização
das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) por parte dos jovens da
sociedade contemporânea, assim sendo, a investigação partiu com a seguinte questão:
qual é o impacto do uso frequente das novas Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC) por parte dos filhos/as na família contemporânea?
Por seu turno, os objetivos gerais consistem em: i - perceber de que forma a
apropriação das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) por parte dos
jovens tem influenciado e alterado as interações familiares. ii – conhecer a perceção dos
pais sobre este assunto.
Com os objetivos específicos, pretende-se: i - entender de que forma os pais têm
exercido o papel de mediação paternal ou parental no controlo ou acompanhamento dos
seus filhos na utilização das novas Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC); ii -
perceber com que finalidade os filhos utilizam as novas Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC); iii – perceber a expetativa dos pais em relação o futuro dos seus
filhos tendo em conta o uso frequente dos dispositivos tecnológicos. Expostos os
objetivos é importante também referir que, como complemento desta investigação,
delineou-se uma estratégia metodológica mista.
68
5.3. Abordagem Metodológica
69
A abordagem de caráter quantitativa traduziu-se na utilização dos inquéritos por
questionário como ferramenta para a recolha de dados. Esta técnica permite a utilização
de questões, cujo objetivo consiste em adquirir informação de dados imprescindíveis
para utilização posterior, através de uma análise quantitativa (Creenwood, 1965, cit. por
Almeida & Pinto, 1995, pp. 94-95).
Também contribui para o desenvolvimento e validação de conhecimentos,
colocando os dados necessários à disposição do investigador para possível
generalização e predição dos acontecimentos (idem). Para além disso permite captar
atitudes, opiniões e tendências de uma população ou da amostra de uma população, com
o objectivo de desenhar nas considerações finais o panorama geral da população ou
amostra estudada (Fowler, 2008, cit., por Creswell, 2014, p. 13).
Quivy e Van Campenhoudt (2003) consideram os inquéritos por questionário,
bons instrumentos de verificação de hipóteses e de recolha de dados. Mas para além
destas vantagens, esta é uma técnica como todas, que não está isenta de desvantagens,
nomeadamente: o custo e a superficialidade das respostas são consideradas como
características limitadoras desta técnica (Cit., por Miranda, 2015, p. 51).
O questionário dos inquéritos foi elaborado de acordo com os objetivos que
pretendemos alcançar neste estudo, por isso, o mesmo encontra-se concebido através de
duas dimensões; a primeira delas cingiu-se sobre a caracterização sociodemográfica dos
pais (população-alvo) e a segunda parte incidiu sobre o estudo das suas atitudes em
relação ao uso das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), por parte
dos seus filhos.
70
de dados ou para ajudar no diagnóstico ou no tratamento de um problema social.”
(Marconi e Lakatos, 1996, p. 84).
Dos três tipos de entrevistas existentes - entrevistas estruturadas, entrevistas
semi-estruturadas e entrevistas não estruturadas - para esta investigação, optou-se pelo
uso das entrevistas do tipo semi-estruturadas, pelo fato de esta apoiar-se num guião
previamente elaborado pelo investigador e também por permitir que as questões
principais e inerentes sejam adaptadas e complementadas no momento da aplicação das
próprias entrevistas, caso seja necessário.
Autores como Triviños (1987) e Manzini (1990/1991) tentaram definir e
caracterizar o que se pode entender por entrevista semi-estruturadas. Triviños (1987),
por exemplo, considera que, as entrevistas semi-estruturadas têm como caraterísticas os
questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam
com o tema de pesquisa. Segundo o autor, estes questionamentos dariam frutos a novas
hipóteses surgidas a partir das respostas dos informantes. O foco principal seria
colocado pelo investigador-entrevistador (p.146). Complementa o autor, afirmando que
a entrevista semi-estruturada “ [...] favorece não só a descrição dos fenómenos sociais,
mas também sua explicação e a compreensão de sua totalidade [...] ” além de manter a
presença consciente e atuante do pesquisador no processo de coleta de informações
(Triviños, 1987, p. 152).
Para Manzini (1990/1991), a entrevista semi-estruturada está focalizada num
assunto sobre o qual o investigador ou entrevistador confeciona um roteiro com
perguntas principais, complementadas por outras questões inerentes às circunstâncias
momentâneas à entrevista. Para o autor, esse tipo de entrevista pode fazer emergir
informações de forma mais livre e as respostas não estão condicionadas a uma
padronização de alternativas. A entrevista pode fazer emergir informações de forma
mais livre e as respostas não estão condicionadas (p. 154).
Um ponto semelhante, para ambos os autores, refere-se à necessidade de
perguntas básicas e principais para atingir o objetivo da pesquisa. Dessa forma, Manzini
(2003) salienta que é possível um planeamento da coleta de dados ou informações por
meio da elaboração de um guião ou questionário com perguntas baseadas nos objetivos
pretendidos. Neste sentido o guião ou o questionário, serve não só para a coleta de
dados ou informações básicas, mas também serve como meio ou instrumento favorável
71
em promover a interação entre o pesquisador, investigador ou entrevistador e o
investigado ou entrevistado (p. 2).
72
CAPÍTULO VI
17
- INE, Recenseamento da população e habitação, 2011.
73
Tabela 1.1.Descrição da amostra e caraterização sociodemográfica (N = 102)
VARIAVÉIS SEXO
Total
Feminino Masculino
CONCELHO
TOTAL 70 32 102
FREGUESIA
TOTAL 70 32 102
NACIONALIDADE
TOTAL 70 32 102
IDADE
49 - 52 13 12,7% 5 4,9% 18
46 - 48 25 24,5% 15 14,7% 40
42 - 45 17 16,6% 10 9,8% 27
38 - 41 10 9,8% 2 2,0% 12
TOTAL 70 32 102
74
ESTADO CIVÍL
TOTAL 70 32 102
NIVEL DE ESCOLARIDADE
TOTAL 70 32 102
TOTAL 70 32 102
TOTAL 70 32 102
Fonte: Inquéritos - 2018
75
6.2. Uso das TIC: atitudes e representações
Nesta parte do nosso estudo, apresentamos de forma descritiva os resultados
obtidos, com base numa análise descritiva de algumas variáveis com um peso
diferenciador ao nível das atitudes relativas aos nossos objetivos de pesquisa (Cordeiro,
1999, p. 121).
A figura 1.1 abaixo apresenta, exprime os dados percentuais sobre a opinião dos
inquiridos (pais) em relação à idade com que os filhos começaram a aceder às novas
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).
Através desse gráfico podemos observar que, 32,4% no total dos indivíduos
inquiridos referiu que os seus filhos começaram a aceder aos dispositivos tecnológicos,
com menos ou com 6 anos de idade. Neste quadro de respostas, podemos observar que,
as mulheres apresentam uma percentagem elevada em relação aos homens (17,6% para
a população feminina, 14,7% para a população masculina).
76
mulheres com cerca de 25,5%, em relação aos homens com uma percentagem apenas de
11,8%.
Podemos perceber ainda através do gráfico, a percentagem referida pelos 20,6%
dos inquiridos referente ao começo do uso das tecnologias por parte dos filhos, que se
enquadra na casa dos 8 a 10 anos de idade (Figura 1.1). O dado percentual que este
gráfico (Figura 1.1) nos apresenta, faz-nos perceber que, os jovens da nossa amostra,
muito cedo e ainda com idades prematuras já acedem às novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC).
De seguida, a figura 1.2, mostra um gráfico de linhas que exprime a proporção
de respostas dos inquiridos (pais) em relação aos dispositivos tecnológicos que os seus
filhos têm e utilizam com frequência.
77
Esta preferência pelos dispositivos tecnológicos conectados à internet tem muito
a ver com as atividades que os jovens desenvolvem nestes dispositivos sendo que
muitas delas só são possíveis de execução através da internet. Isto revela a grande
importância que a internet tem hoje em dia (Gustavo Cardoso, 1998; Castells, 2007, p.
74).
A figura 1.3 abaixo, apresenta um gráfico de barras com dados relativos e
percentuais ao tempo que os filhos dedicam ao uso das novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC).
Através deste gráfico, podemos observar que, no total dos indivíduos inquiridos,
30,4% referiu que os seus filhos usam os dispositivos tecnológicos, entre as 4 e as 6
horas por dia. No quadro desta afirmação ressalta a predominância significativa em
termos percentuais exercida pelas mulheres (21,6%) em relação aos homens (8.8%)
(Figura 1.3).
Figura 1.3. O Tempo que os filhos dedicam à utilização das novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC)
Podemos ainda observar através desse mesmo gráfico que, 35,3% refere que os
seus filhos dedicam 6 horas ou mais horas. No conjunto dos respondentes, uma vez
mais, observa-se aqui uma percentagem mais elevada por parte das mulheres (19,6%),
embora de forma relativa, em relação aos homens (14,7%). Por seu turno, 20,6% refere
78
que os filhos dedicam às novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) entre
as 2 e as 4 horas por dia.
Os dados mostram que os jovens da nossa amostra passam boa parte do tempo a
navegar nos dispositivos tecnológicos, por vezes de forma exagerada, sem controlo do
próprio tempo (Csikszentmihalyi, 1999, p. 47).
Na figura 1.4 abaixo, apresenta-se um gráfico de barras que exprime os dados
percentuais relativos à aprendizagem dos filhos na utilização das novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC).
Figura 1.4. Atitude dos pais face a aprendizagem dos filhos na utilização das novas
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)
Através deste gráfico (Figura 1.4), podemos observar que 86,3% dos pais
inquiridos afirma que os filhos aprenderam com alguém a utilizar as novas Tecnologias
de Informação e Comunicação (TIC). Uma vez mais é possível observar a
predominância percentual representada pelas mulheres (57,8%), em relação aos
indivíduos do sexo masculino (28,4%). No total dos inquiridos, apenas 13,7% afirmou
que os filhos não aprenderam com alguém a aceder às novas Tecnologia de Informação
e Comunicação (TIC).
79
A tabela 1.2 abaixo, mostra os dados estatísticos em termos percentuais, dos
aspetos indicados pelos inquiridos (pais), em relação a aprendizagem dos seus filhos na
utilização dos dispositivos tecnológicos.
Através da tabela 1.2 supraapresentada, pode-se observar que, das sete variáveis
indicadas e representadas na mesma, duas delas enquadram-se dentro das escolhas de
mais de 20% no total da amostra: a aprendizagem com os professores e a aprendizagem
com os amigos (Tabela 1.2). E também duas delas inserem-se dentro das escolhas de
mais de 18% no total da amostra: a aprendizagem com os pais e a aprendizagem com os
colegas da escola (Idem). Isto revela que muitos dos jovens, aprenderam a usar as novas
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) com o grupo de pares (amigos,
colegas) e na escola com os professores, a aprendizagem em casa com pais, não
constitui como um dos aspetos comuns.
A tabela 1.3 abaixo, apresenta um conjunto de dados estatísticos (numéricos e
percentuais) sobre a finalidade com que os filhos utilizam as novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC).
80
Tabela 1.3. Finalidade com que os filhos/as utilizam as novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC)
Finalidade com que os filhos/as utilizam as TIC n %
81
Já a tabela 1.4 abaixo, apresenta os dados sobre o uso frequente das novas
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) por parte dos seus filhos, se este
cenário constitui um perigo/risco, um benefício, uma desvantagem ou uma vantagem.
Tabela 1.4. O uso frequente das TIC por parte dos filhos
Constitui: n %
Um benefício 30 29,6
Observamos que para mais de 60% do total da amostra o uso das novas
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC): constitui quer um perigo/risco, quer
um benefício. Estas duas representações inserem-se dentro das escolhas de mais de 25%
do total da amostra (Tabela 1.4). Dentro do quadro geral, é possível verificar que a
predominância em termos percentuais é representada pela primeira variável, com mais
de 30% (Tabela 1.4).
A partir da figura 1.5 abaixo observa-se que 35,8% do total da amostra referiu
que cabe aos pais o papel de orientar, educar, alertar e prevenir os seus filhos nesta
matéria. Através desse mesmo gráfico seguinte, podemos observar que 32,5% do total
da amostra considera que o papel dos pais nesta matéria passa pelo acompanhamento
dos filhos na utilização das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).
Apenas 21,4% sustenta a opinião segundo a qual os filhos têm que ter noção dos riscos
que estão presentes na utilização destes dispositivos tecnológicos. O castigo e a
proibição foram as opções com uma percentagem menos significativa (Figura 1.5).
82
Figura 1.5. O papel dos pais como mediação paternal no uso das TIC
por parte dos filhos
83
Figura 1.6. Atitude dos pais em relação ao controlo ou acompanhamento dos
filhos no uso das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)
A tabela 1.5 abaixo, ilustra os dados estatísticos e percentuais das respostas dos
inquiridos, que referiram que têm feito algum tipo de controlo ou acompanhamento dos
filhos na utilização das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).
Observa-se que o tipo de controlo mais referido consiste em perguntar o que é
que os filhos têm feito nas novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)
quando navegam atingindo mais de 45% no total da amostra. Segue-se o visionamento
constante dos dispositivos dos filhos, que representa as escolhas de mais de 30% dos
inquiridos (Tabela 1.5). Ficar com os filhos de vez em quanto ensinando-lhes a navegar
nas novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), apresenta-se como uma
das opções menos escolhidas. Este cenário revela o grau de dificuldades que muitos pais
têm em estar muitas vezes com os filhos nos dias úteis, talvez por causa das atividades
que muitas deles exercem fora de casa e a tempo inteiro (Tabela 1.5).
84
Tabela 1.5. Tipo de controlo ou acompanhamento dos pais sobre os filhos no uso
das TIC
Controlo dos pais aos filhos no uso das TIC n %
Fica com ele de vez em quanto e ensina-lhe a navegar nas TIC 17 16,7
85
Figura 1.7. Atitude dos pais face ao uso das novas Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC) por parte dos filhos
86
primeira situação obteve um pouco mais de 33% das respostas (Tabela 1.6). Para menos
de 20% dos respondentes obrigam os filhos desligarem os seus dispositivos
tecnológicos nas horas de fazerem as tarefas de casa e nos momentos de convívios
familiares.
A figura 1.8 abaixo, mostra um gráfico de barras que, apresenta os dados
estatísticos e percentuais das respostas dos pais inquiridos, em relação à utilização
frequente das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) por parte dos
filhos e se este cenário tem tido interferência no relacionamento familiar. Através do
gráfico verifica-se que 61,8% referiu que este tipo de comportamento por parte dos
filhos tem tido interferência no relacionamento da própria família. No quadro geral da
sustentação desta matéria, importa realçar uma vez mais a predominância das mulheres
(39,2%) face aos homens (22,5%) (Figura 1.8).
Podemos ainda observar através desse gráfico (Figura 1.8) que 38,2% dos pais
referiu que, o uso frequente das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)
por parte dos filhos não tem tido qualquer interferência no relacionamento familiar. No
conjunto desta afirmação, é notável uma vez mais a percentagem significava das
mulheres (29,4%) em relação aos homens (8,8%) (Figura 1.8).
87
A tabela 1.7 abaixo, apresenta as respostas dos pais que sustentaram a opinião
segundo a qual, a utilização frequente das novas Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC) por parte dos filhos tem tido interferência no relacionamento
familiar.
Tabela 1.7. Aspetos que têm sido afetados pela utilização frequente das novas
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) por parte dos filhos
Aspetos que têm sido afetados n %
Presta mais atenção a estes dispositivos e aos amigos do que aos 10 9,0
pais e à familia
Dialoga muito pouco connosco, mesmo nas horas das refeições 9 8,2
88
A figura 1.9 abaixo, mostra respostas dos pais em relação ao grau de
concordância ou discordância sobre a apropriação das novas Tecnologia de Informação
e Comunicação (TIC) por parte dos filhos e jovens da sociedade contemporânea, no
sentido de se perceber se este cenário tem alterado significativamente as dinâmicas de
relacionamento da própria família.
Figura 1.9. Opinião dos pais face a apropriação das novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) por parte dos filhos e jovens
Através do gráfico acima (Figura 1.9), podemos observar que, no total dos pais
inquiridos, 41,2% esta de acordo com afirmação acima referida. Com maior destaque
para os indivíduos do sexo feminino (31,4%) em relação aos indivíduos do sexo
masculino (9,8%) (Figura 1.9). É possível ainda observar que, no conjunto dos pais
inquiridos, apenas 28,4% referiu que está totalmente de acordo. Uma vez mais, as
mulheres apresentam uma percentagem bastante significativa (21,6%) em relação aos
homens (6,9%) (Figura 1.9). No universo dos inquiridos (pais), os indiferentes, ou seja,
aqueles que não concordam, nem discordam, representam 19,6% (8,7% para as
mulheres, 10,8% para os homens) (Figura 1.9).
Apesar da percentagem elevada dos pais que concordam e dos que estão
totalmente de acordo (Figura 1.9), no conjunto dos indivíduos inquiridos (pais), 46,5%
referiu que este comportamento por parte dos seus filhos não terá qualquer interferência
89
para o futuro dos próprios filhos, ou seja, acreditam que os seus filhos terão um futuro
bom, tal como podemos observar através do gráfico abaixo (Figura 1,10). No conjunto
dos indivíduos que sustentam esta ideia, destaca-se uma vez mais, as mulheres (36,3%)
em relação aos homens (9,9%) (Figura 1.10).
Figura 1.10. Expetativas dos pais em relação ao futuro dos seus filhos, tendo em
conta o uso das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)
É possível ainda observar através deste gráfico que no total dos inquiridos,
27,7% referiu que por causa da utilização frequente das novas Tecnologia de
Informação e Comunicação (TIC) e do acesso generalizado à internet os filhos terão um
futuro suficiente (Figura 1.10). Nesta matéria, podemos verificar a existência de uma
percentagem moderada dos indivíduos do sexo feminino (15,8%). Quando comparada
com a dos homens (11,9%). O gráfico em si (Figura 1.10) apresenta-nos apenas 15,8%
do conjunto dos inquiridos afirmando que por causa do uso das novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) e do acesso generalizado à internet por parte dos seus
filhos, eles (filhos) terão um futuro mau. Uma vez mais, verifica-se aqui uma
percentagem significativa de mulheres (10,9%) comparativamente aos homens com
apenas 5% (Figura 1.10).
90
6.3. Análise e discussão dos resultados à luz dos contributos das entrevistas
dos jovens utilizadores das TIC
Tal como acima foi referido, a nossa amostra é representada e predominada pela
população do sexo feminino (68,6%) quando comparada com a população do sexo
masculino (31,4%). A partir dos dados, observamos que, essa predominância prevaleceu
quase em todas as respostas sobre às questões aplicadas aos nossos inquiridos,
apresentando assim, uma taxa percentual a nível das respostas.
O questionário dos inquéritos aplicados aos pais subdividiu-se em duas partes, a
primeira delas teve como foco a caraterização sociodemográfica da população inquirida
(pais), a segunda ocupou-se do estudo das atitudes dos pais sobre o uso das novas
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) por parte dos filhos.
Os resultados obtidos neste estudo sugerem que os jovens filhos dos pais que
fazem parte da nossa amostra ainda muito cedo acedem às novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC). Esta realidade demonstra que a relação dos jovens
com os dispositivos tecnológicos estabelece-se numa fase ainda prematura em termos de
idade por parte destes jovens. Hoje em dia as crianças nascem num mundo caraterizado
pelas novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), acedem a estes
dispositivos com muita facilidade, (Lepicnik & Samec, 2013, p. 10) fazendo destes
meios brinquedos prioritários do dia-a-dia, substituindo assim as brincadeiras que eram
consideradas tradicionais das ruas (Eisenstein & Estefenon, 2006, p. 11).
Se compararmos os dados obtidos com os obtidos pelo estudo realizado pela
Comissão Europeia (2005), conclui-se que este cenário não é novo e cada vez mais vai
se alastrando. Por exemplo, no estudo da Comissão Europeia aplicou-se um inquérito a
alguns dos pais dos Países Membros, relativo à idade com que os seus filhos
começavam a aceder às novas tecnologias, os resultados obtidos sugeriram que, 34% de
crianças de 6 a 7 anos de idade acediam aos dispositivos tecnológicos. Já em 2008, num
estudo equivalente a percentagem passou para 42% para crianças de 6 anos e 52% para
crianças de 7 anos de idade (Europen Comision, 2005, 2008). Na Suécia por exemplo,
em 2011 metade das crianças de 2 anos de idade acediam às novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC), sobretudo à internet e em 2013 a idade das mesmas
passou para metade (Findahl, 2013, p. 25). O cenário torna-se ainda pior se analisarmos
os dados da Holanda, em que em 2009, 78% de crianças com menos de 1 a 6 anos de
91
idade já acediam às redes sociais, 5% eram crianças com menos de um ano de idade
(Brouwer et ali., 2011, p. 26).
A própria literatura, de certa forma ajuda-nos a perceber esta realidade,
afirmando que “o contacto das crianças com os meios digitais começa muito cedo, nos
primeiros brinquedos, nos aparelhos de produção e reprodução de música e vídeo, nos
jogos e nos telefones” (Prensky, 2001, p. 12) adquirindo assim, uma especial aptidão
para o manuseamento destes dispositivos pondo em causa em algumas vezes a própria
literacia dos pais ou da população adulta (Livingstone & D., & Bovill, M., 2001, p. 12).
Esta realidade é sustentada e confirmada pelos próprios jovens, como se observa
a partir de algumas das suas afirmações:
“Eu acho que comecei a usar isto com os meus 5 ou 6 aninhos, não me lembro
muito bem quantos anos tinha na altura, mas o certo é que comecei muito cedo”.
[Rosana, 17 anos, 12º ano de escolaridade]
“Tinha 6 anos quando a minha mãe comprou o meu primeiro Tablet e ai comecei
a usar” […]. [Bruno, 18 anos, Ensino Superior]
“Eu acho que tinha 7 ou 8 anos […]. Só sei que ainda era muito pequena,
obrigava a minha mãe a conectar o meu Tablet, para ver bonecas, fazer jogos e
outras coisas”. [Joana, 13 anos, 8º ano de escolaridade]
92
“Eu gosto de usar mais o telemóvel ‘Smartphon’, porque facilita-me em muitas
coisas, falo com toda gente, partilho mensagens com amigos a partir dos meus
perfis”. [Liliana, 19 anos, Ensino Superior]
“Uso muito mais o telemóvel, o Tablet não é assim tanto […], porque gosto de
navegar na internet a partir do meu Smartphon”. [Isabel, 15 anos, 10º ano de
escolaridade]
A preferência dos jovens por estes dispositivos prende-se, de certo modo, com a
múltipla função que os mesmos apresentam, em que muitas vezes substituem outros
dispositivos e por outro lado, talvez por serem móveis, sobretudo o Smartphon que
facilmente transportado para todos os lados. Segundo Arza (2010), “hoje em dia os
telemóveis não servem apenas para enviar e receber chamadas, podem ainda serem
completadas pelo envio de mensagens escritas curtas (SMS) e mensagens de multimédia
(MMS), pelo download de conteúdos multimédia […] pelo fotografar ou filmar, pela
troca de conteúdos de multimédia com utilizadores, pelo ouvir música e por outras
funcionalidades (p. 23). Daí o seu êxito atual nos mercados ocidentais e a sua posse
entre as populações (Moreno & Cataňo, 2010, p. 23).
Por outro lado, a preferência pala utilização deste dispositivo no quadro geral,
prende-se com o valor que se deve atribuir à internet. Como se pode verificar, através da
figura 1.2, a percentagem obtida a partir dos dispositivos não conectado à internet, é
bastante ínfima, isto demostra a importância que a internet tem no mundo atual. Arza
(2010), o qual já nos referimos acima, numa das suas investigações, verificou que, ao
incorporar a internet no seu quotidiano, várias alterações surgiram: na forma de
trabalhar, de estudar, de aceder às informações, de comunicar, de negociar e de entreter,
convertendo-se assim numa ferramenta necessária” (p. 27). Daí a importância e o valor
que se deve atribuír a este dispositivo no mundo atual, apesar de algumas desvantagens
e perigos que lhes são associadas. Os jovens preferem utilizar dispositivos conectados à
internet, para melhor poderem executar as suas tarefas e funções, assumindo os seus
papéis podendo, assim, criar narrativas em colaboração com outros pares (Castells,
2007, p. 27).
Por causa da internet, as próprias atividades e funções por parte dos jovens são
muitas vezes exercidas sem qualquer questionamento sobre o tempo que se fica aí
navegando nas redes sociais (Figura 1.3). A própria literatura, em grande parte, ajuda-
93
nos melhor para percebermos esta realidade. Por exemplo, numa investigação realizada
por certos autores como: Rideont, Foehr e Foberts (2010) chegaram à conclusão de que
crianças e adolescentes com idades compreendidas entre os oito e os dezoitos anos
passavam em média sete horas e meia por dia e sete dias por semana navegar nas novas
tecnologias (p. 20). De fato, hoje em dia, o tempo dedicado ao uso das novas
Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), sobretudo pela população jovem,
muitas vezes é visto num patamar acima da média.
Quando se está a navegar nas redes sociais através das novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) pouco interessa revisar o tempo que ali é despendido,
daí a preferência dos jovens pelos dispositivos conectados à internet, porque permite
muitas vezes passar o tempo, sobretudo quando se esta só. Basta verificarmos as
afirmações abaixo, para compreendermos esta situação:
“Todo dispositivo que eu uso tem de estar conectado à internet ou então aos
dados, senão não há nenhuma piada”. [Camila, 14 anos, 8º ano de escolaridade]
“Eu não tenho controlado as horas, mas quase sempre estou aí, eu acho que por
dia tenho estado aí 8 horas, mas não fico aí o tempo todo, intercalo fazendo
algumas coisas”. [Helena, 16 anos, 12º ano de escolaridade]
“Muitas horas […] só não fico na internet quando preparo o texte, ou então
quando faço outros trabalhos de casa ou da escola”. [Daniela, 15 anos 9º ano de
escolaridade]
Este cenário muitas vezes gera conflitos entre filhos e os seus progenitores (pais)
e os outros membros da família. Cardoso et al., (2007), num dos estudos que realizaram
‘E-Generation’, chegaram à conclusão de que, o tempo que os filhos passam em online
tem sido motivo de discussão entre os membros da família. O período do dia em que os
filhos acedem à Internet gera menos conflitos que o tempo de utilização (p. 59). As
afirmações dos próprios jovens abaixo descritas, confirma este dado:
94
“Deste que comecei a navegar nas redes sociais, a minha relação com os meus
pais tem sido menos boa, eles queixam-se muito do meu comportamento”. [João,
16 anos, 10º ano de escolaridade]
“Acho que tenho sido um pouco mal-educada […] as vezes não respeito ao que
os meus pais dizem, porque estou a ficar um pouco viciada com isto”. [Camila,
14 ano, 8º ano de escolaridade]
“Eu fico mais tempo na internet, porque converso com amigos, com os colegas
as vezes para tirar uma dúvida da escola, mas também gosto de me entreter ali e
pesquisar outras coisas na internet”. [Roberto, 18 anos, Ensino Superior]
95
“Uso muito os meus dispositivos para falar com os meus amigos, colegas da
escola e com os meus primos que estão no estrangeiro”. [Rodrigo, 16 anos, 12º
ano de escolaridade]
Ainda assim e a partir da percentagem das respostas (Tabela 1.3) percebe-se que,
existe um certo equilíbrio embora de forma relativa em algumas variáveis ou em alguns
aspetos. Este fato demonstra que os jovens utilizam as novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) para vários fins, ou seja, a partir do mesmo
dispositivo é possível executar inúmeras tarefas e atividades ao mesmo tempo:
comunicar com os pais, amigos e colegas; fazer jogos, ouvir música, ver filmes ou
cinemas, partilhar ficheiros e fotografias, trocar mensagens através vários perfis, entre
outros (Arza, 2010, p. 23).
Os resultados obtidos sugerem que muitos dos filhos aprenderam a utilizar as
novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) não em casa com os pais em
primeira mão, mas sim, com os professores, a partir da escola e com os amigos e
colegas (Tabela 1.2). Deste modo, a aprendizagem com os pais não é tida como
primeira opção; isto demostra que, muitos dos filhos aprendem a usar as novas
tecnologias fora do circuito familiar e muitas vezes sem o consentimento dos próprios
pais. O Especial Eurobarómetro ‘Safer Internet’ publicado em maio de 2006
demonstrou, de forma clara, o papel dos professores, da escola, dos colegas e amigos,
grupos de pares na utilização das novas Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC) por parte das crianças. De certa forma os próprios jovens confirmam este cenário,
como se pode ver a partir das afirmações descritas abaixo:
“Eu aprendi usar os meus aparelhos com os amigos, colegas e com os meus
professores” [Francisco, 16 anos, 12º anos de escolaridade]
96
Os resultados obtidos mostram que o uso frequente das novas Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) por parte dos filhos dos participantes neste estudo,
para além de trazer benefícios e vantagens sobretudo para a vida dos próprios jovens, no
campo da aprendizagem e do próprio desenvolvimento cognitivo, também representa
um perigo/risco ou desvantagem (Tabela 1.3). Desde modo, sugere-se que os pais
devem orientar, educar, alertar, prevenir e acompanhar os seus filhos nesta matéria
(Figura 1.5). Sugere-se também que os pais despertem os seus filhos sobre os perigos ou
riscos presentes na utilização destes dispositivos. Sobre este dado a literatura é bastante
sugestiva, afirmando que, “é necessário educar e sensibilizar as crianças e os
adolescentes para a importância de se manterem seguros online, fornecendo-lhes
informação, ferramentas e estratégias para uma utilização responsável; capacitar os
filhos é muito mais eficaz do que tentar controlar todos os aspetos das suas atividades
em online” (Marian Merritt, 2010, p. 15). Esta medida parece-nos relevante, sabendo
que boa parte dos pais hoje passam horas distantes dos filhos e quando o fazem é por
pouco tempo. Por isso, proibir ou castigar os filhos, não é uma das medidas adequadas.
“Mais do que a experiência e do que as horas que as crianças estão online, são as
expetativas e o envolvimento dos educadores, transmitindo confiança nas capacidades
dos seus filhos, que influenciam a eficiência das crianças no uso das tecnologias e lhes
permitem atingir, de forma bem-sucedida os seus objetivos” (Bleeker & Jacobs, 2004;
Gonzalez-Dehass et al., 2005, p. 13).
Os resultados mostram que muitos dos pais têm controlado e acompanhado os
seus filhos nesta matéria, no sentido de se saberem o que é que os filhos têm feito nestes
meios ou através do visionamento constante dos dispositivos usado pelos filhos (Tabela
1.5). O ficar com os filhos e ensinar-lhes a navegar nas novas tecnologias, foi uma
opção pouco comum entre os pais (Tabela 1.5). Isto demonstra as dificuldades que os
próprios pais têm em acompanhar de perto os filhos, algo que já foi referido.
Comparativamente estes dados relacionam-se com os que o estudo ‘E-Generation’ nos
apresenta, em que no total dos jovens inquiridos, 7,1% referiu que os seus pais se
sentavam ao lado do computador com eles; 6,8% referiu que os pais os ajudavam a
navegar, 11,2% respondeu que os seus pais ficam no mesmo espaço quando estão
ligados à internet e 53,6% referiu que os seus pais não utilizam qualquer tipo de
controlo (Cardoso et al., 2007, p. 59). Apesar desta evidente dificuldade por parte dos
97
pais, os resultados demostram que, tem existido momentos em que muitos dos pais têm
obrigado os seus filhos a desligar os seus dispositivos, sobretudo nas horas das refeições
com a família e nas horas em que os filhos estudam ou fazem as tarefas da escola
(Tabela 1.6). Supõe-se que esta prática seja comum, talvez aos fins de semanas,
alegando-se as dificuldades acima expostas.
Tal como foi referido no início deste projeto, um dos nossos objetivos, senão
mesmo geral, consistia em saber, a partir dos pais, o impacto ou a interferência que as
novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) têm tido no relacionamento
familiar, tendo em conta o uso frequente destes dispositivos por parte dos seus filhos.
Sobre esta matéria, os resultados são bastante significativos no sentido de favorecer a
questão em estudo (Figura 1.8). Assim, através dos resultados é possível perceber que o
uso frequente das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) por parte dos
mais jovens tem interferido significativamente no relacionamento da família
contemporânea, sobretudo na relação entre pais e filhos e vice-versa. Esta realidade é
sustentada pela literatura, segundo a qual a apropriação dos mídia e das novas
tecnologias pelos jovens sugere que possam estar a ocorrer transformações no âmbito da
interação familiar em torno das novas Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC). Segundo este dado, essas transformações poderão incluir a ocorrência de
conflitos específicos em torno do consumo dos mídia – por exemplo, em termos dos
tempos de utilização e conteúdos (Espanha, Soares e Cardoso, 2006, p. 2). A este
respeito também Arza (2010) afirma que, “o surgimento, desenvolvimento e utilização
das novas tecnologias tem provocado mudanças sociais e culturais e, principalmente nas
famílias tem influenciado as suas dinâmicas” (p. 17). Cenário que acaba de ser
confirmado pelos próprios jovens. Vejamos algumas das suas afirmações, a este
respeito:
“A minha mãe nestes últimos meses, desde que comecei a navegar com
frequência nas redes sociais, diz que sou arrogante e desobediente, ao contrário
do meu pai, que não me considera assim, não sei”. [Salomé, 16 anos, 12º ano de
escolaridade]
“Os meus pais dizem que mudei para o pior. Mas eu acho que não assim tanto,
porque eu conheço algumas minhas amigas, muito mais viciadas que eu, mas eu
dou-lhes razão”. [Rita, 14 anos, 8º de escolaridade]
98
“Muitas vezes a minha mãe chateia-se comigo […] porque eu as vezes
desobedeço muito ela, por causa de navegar, acho que não é boa coisa, tenho de
mudar”. [Isabel, 15 anos, 10º de escolaridade].
Neste quadro da interferência, vários aspetos têm sido afetados (Tabela). Entre
eles o mais comum entre os pais é o aspeto relacionado com o ‘isolamento dos filhos
nos quartos de dormir’. Muitos dos pais referiram que os seus filhos se isolam
facilmente quando estão em casa, preferem retirarem-se de imediato para o quarto de
dormir, navegando assim nas redes sociais. Certamente o quarto é o lugar preferido para
os jovens utilizarem os dispositivos tecnológicos, por isso, eles isolam-se do resto dos
membros da família, virando todas as atenções ao mundo digital expondo-se em online
para trocar impressões com os amigos e colegas os chamados grupos de pares. Por isso,
afirma Mesch (2006b), “as relações de proximidade física entre os membros familiares
reduziram significativamente e contrariamente fortaleceram-se os laços e as relações
online” (p. 34). A mesma ideia também é sustentada por Hameededdin (2010),
afirmando que “hoje, a simples utilização do telemóvel encoraja os indivíduos a
interagir com outros, maioritariamente pelo telemóvel do que presencialmente, ou seja,
diminuindo o contacto próximo” (p. 32).
O isolamento dos jovens no quarto de dormir por causa do uso das tecnologias,
tem sito apontando por certos autores como algo que tem alterado as dinâmicas do
público para o privado, fazendo com que cada vez mais se decline tanto a chamada
‘cultura de rua’, quanto o próprio convívio familiar (Livingstone, 2002, p. 2). Como
podemos verificar, o isolamento dos filhos, aspeto referido pela maioria dos pais, acaba
por afetar também outros aspetos, como é o caso da própria convivência familiar. Para
isso, Bovill e Livingstone (2002) referindo-se ao conceito de ‘cultura do quarto’,
afirmam que “as crianças e os adolescentes, ao terem novas tecnologias no seu quarto,
passam proporções consideráveis do seu tempo de lazer em casa com as tecnologias, em
vez de passarem o seu tempo com a família ou no espaço familiar” (p. 15). As
afirmações abaixo proferidas pelos jovens, vão neste sentido:
“Quando uso o meu telemóvel em casa para navegar por muito tempo, a minha
mãe me repreende logo, por isso mesmo quando quero vou para o meu quarto, aí
99
fico mais a vontade, senão ela passa-se logo”. [Camila, 14 anos, 8º ano de
escolaridade].
“Eu gosto muito de navegar na internet estado em casa e no meu quarto, aí sinto-
me a vontade, mas também na escola, sobretudo para pesquisar alguns temas de
trabalhos escolares”. [Cidália, 18 anos, curso especial na área de hotelaria]
100
Considerações finais
101
familiares, a fraca prestação de atenção dos filhos/as às indicações dos pais, agressões
verbais, bem como o próprio rendimento académico, entre outros.
A partir dos resultados obtidos foi possível perceber que os jovens começam a
apropriar-se dos dispositivos tecnológicos com uma idade considerada precoce (Papert,
1999, p. 21), fazendo destes meios, brinquedos prioritários do dia-a-dia (Eisenstein &
Estefenon, 2006, p. 11). Muito cedo e ainda crianças já são dotadas de aptidão e
competências nesta matéria, ao ponto de muitas vezes superar aos seus pais e outros
adultos (Sala & Blanco, 2005, p.2). Existe uma relação entre os jovens da sociedade
contemporânea e as novas tecnologias. Relação que é bastante sólida para com os
dispositivos conectados à internet, cenário que demostra o grande potencial que este
dispositivo - internet - tem tido na atualidade (Castelos, 2007; Gustavo Cardoso, 1998,
p. 25). De entre os dispositivos mais usuais entre os jovens, tem sido comum o uso do
telemóvel de marca Smartphon (Arza, 2010; Moreno & Cataño, 2010; Rideout, Foehr e
Roberts, 2010, p. 23); o Tablet (moreno & Cataño, 2010, p. 68). E as Consolas de jogos
(Priberam Dicionário, 2016; Lawigan, Bold & Chenoweth, 2009, p. 25).
Esta preferência bastante acrescida pelo telemóvel (Smartpton) por parte dos
jovens é entendida por um lado, por ser um dispositivo móvel e facilmente é
transportado ou carregado por todos os lados. Por outro lado, pelo fato de ser um
dispositivo que não só permite comunicar, mas também permite efetuar múltiplas
atividades (Arza, 2010, p. 23). Os dispositivos tecnológicos conectados à internet
dominam o mundo dos jovens, porque permitem o acesso fácil às redes sociais; por isso
mesmo, muitas vezes navega-se sem se ter a noção do limite do tempo, isto tem gerado
muitos conflitos entre membros familiares (Espanha, Soares & Cardoso, 2007, p. 59).
Curiosamente apesar de os próprios resultados nos fornecerem dados que nos leva a
entender que os jovens começam bastante cedo a aceder às novas Tecnologia de
Informação e Comunicação (TIC), a verdade é que os dados demonstram que muitos
deles aprenderam com os amigos, colegas e professores e pouco com os pais a partir de
casa (Morais, 2006, p. 59).
Como era de esperar, os resultados sugereram que a utilização frequente das
novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) por parte dos jovens, para além
de interferir no relacionamento da própria família, acarreta consigo vários perigos e
riscos (Espanha, Soares & Cardoso, 2007, p. 59), (Face te al., 2003; Livingstone, 2002;
102
Turow & Nir, 2000, p. 38), sem descurar as vantagens e os benefícios constituídos por
essa realidade, sobretudo no campo da aprendizagem, da comunicação e do próprio
desenvolvimento conceitual e cognitivo (Lauricella, Wartella & Rideont, 2016;
Theobald et al., 2016, p. 27).
Um dos objetivos preconizados no início deste estudo consistia em saber de que
forma os pais têm exercido a mediação paternal na utilização das tecnologias por parte
dos seus filhos. Referindo-se aos aspetos negativos (perigos, riscos, desvantagens)
percebe-se aqui a dificuldade que os pais têm em acompanhar os seus filhos nesta
matéria, no exercício do papel de mediação parental, dificuldade que se associa à falta
de tempo em acompanhar de perto os seus filhos nesta matéria. Assim, a mediação deve
ser exercida através da educação, orientação, prevenção (Marian Merritt, 2010, p. 15).
Uma outra forma de exercer esta mediação consiste em os pais despertarem os filhos
para os perigos e riscos presentes no uso destes dispositivos (Bleeker & Jacobs, 2004;
Gonzalez-DeHass et al., 2005, p. 15).
Ainda consistia no leque dos nossos objetivos perceber a finalidade com que os
jovens utilizam com frequência as novas Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC). Curiosamente, os dados alteraram as nossas expetativas iniciais, pelo fato de se
verificar que os jovens utilizam os dispositivos tecnológicos para comunicar em
primeiro lugar com os amigos e colegas e, em segundo lugar, usam estes meios para o
lazer ou para entreter-se navegando navegando assim na internet, só em terceiro lugar, é
que se preocupam em comunicar com pais. Este aspeto insere-se no mesmo quadro de
percentagem da conversa que os próprios jovens têm tido com os amigos e colegas
através dos seus perfis. Mas apesar disso, através dos resultados entende-se que, a
finalidade do uso das novas tecnologias por parte dos jovens é bastante transversal, ou
seja, usam estes meios para vários fins, uma vez que o mesmo dispositivo permite
executar várias tarefas ao mesmo tempo (Arsa, 2010; Hasebrink et al., 2009, p. 2223).
Algo curioso também nesta investigação, consiste em perceber que apesar da
alteração do comportamentos dos próprios filhos e jovens e das interferências que as
novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) têm tido no relacionamento
familiar, sobretudo na relação entre pais e filhos (Cardoso, Espanha & Lapa, p. 2),
muitos dos pais acreditam que este cenário não terá qualquer impacto no futuro dos
filhos, isto é, os seus filhos terão um futuro bom, quanto muito suficiente. Algo que
103
contrasta com as nossas expetativas iniciais, sobretudo se analisarmos os depoimentos
anteriores sustentados pelos próprios pais em relação ao comportamento dos seus
filhos/as na utilização das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).
Assim sendo, esperava-se que a opinião dos pais fosse diferente em relação ao futuro
dos filhos.
Portanto, as conclusões finais desta investigação, demostram que o uso frequente
das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) por parte dos filhos, dos
jovens, tem alterado significativamente as dinâmicas do relacionamento familiar; desta
forma, percebe-se o impacto que isto tem criado na família contemporânea. Neste
quadro de interferência um dos aspetos que mais tem sido afetado é aquele relacionado
com o isolamento dos filhos, nos quartos de dormir (Espanha, Soares & Cardoso, 2006;
Bovill & Livingstone 2001, p. 15). Os próprios jovens têm maior preferência pelos
dispositivos tecnológicos conectados à internet, com realce ao Smartphon e ao Tablet,
não só por estes serem os dispositivos móveis, mas também pelas múltiplas funções que
os caracteriza, substituindo assim muitos outros (Moreno & Cataño, 2010; Arza, 2010,
p. 23). A finalidade do uso destes dispositivos, por parte dos jovens, consiste em
primeiro lugar em comunicar-se com amigos e colegas, em segundo lugar entreter-se
navegando assim na internet, em terceiro lugar conversar com grupos de pares através
perfis, só em quarto lugar é que são utilizados para interagir com os membros familiares
no caso de comunicar-se com os pais. Mas apesar de tudo isso, muitos dos pais
acreditam num futuro bom para os seus filhos.
A investigação tem as suas fragilidades e limitações, a primeira delas prende-se
com a falta do cumprimento de tempo na execução das atividades que previamente
tinham sido definidas no cronograma. Outra limitação prendeu-se com a dificuldade da
implementação do estudo de campo, na aplicação das técnicas de recolha de dados, em
que algumas vezes o processo não sucedeu como se previa, isto por falta de tempo e
disponibilidade por parte dos inquiridos, este cenário estendeu-se até aos jovens na
tentativa da aplicação das entrevistas. Apesar disso, resta-nos o sentimento do dever
cumprido e a expectativa de continuarmos a aprofundar este estudo.
Como recomentações, consideramos que é importante promover uma estratégia
de educação que se adeqúe a idade dos filhos e dos mais jovens, esta responsabilidade
não dever só dos pais, mas também das Instituições e do próprio Estado.
104
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Teses de Mestrado e Doutoramento
FERREIRA, M. (2002). A gente aqui o que gosta mais é de brincar com os outros
meninos! As crianças como atores sociais e a (re)organização social do grupo de pares
no quotidiano de um jardim de infância. Tese de Doutoramento em Ciências da
Educação. Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação. Universidade do Porto.
TEIXEIRA, M. (2009). Análise do uso da rádio web como uma interface dinamizadora
da prática educativa. Estudo de Caso da RUM. Tese de Mestrado em Educação, Área
de Especialização em Tecnologia Educativa. Braga: Programa de Pós-Graduação em
Ciências da Educação do Instituto de Educação da Universidade do Minho – IEUM.
119
Sites consultados
120
121
ANEXOS
122
Anexo 1.1. Declaração da Orientadora do estudo
1
Anexo 1.2. DECLARAÇÃO DO CONSENTIMENTO INFORMADO
Este estudo incide sobre o impacto das novas Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC) na família contemporânea e tem como objectivo conhecer de que forma a
apropriação das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), por parte dos
jovens tem influenciado as interações familiares e qual é a opinião dos pais sobre este
assunto. Sei que a participação no estudo consiste na realização de uma entrevista, realizada
pelo investigador responsável e tem uma duração entre 25 e 30 minutos.
Foi-me garantido que todos os dados relativos à identificação dos Participantes neste estudo
são confidenciais e que será mantido o anonimato. Sei que posso recusar-me a participar ou
interromper a qualquer momento a participação no estudo, sem nenhum tipo de penalização
por este facto. Foi-me ainda garantido que a transcrição da entrevista só poderá estar
disponível para fins académicos/científicos.
Declaro ter lido e compreendido este documento, bem como as informações que me foram
fornecidas pelo investigador responsável. Desta forma, declaro que aceito participar neste
estudo de acordo com a informação que me foi fornecida, confiando na garantia de
confidencialidade que me é dada pelo investigador.
Assinatura:
Data:
Sim Não
2
Anexo 1.3. Guião das entrevistas aos jovens
Identificação da Freguesia_______________________________________________________
Local da entrevista_____________________________________________________________
Entrevistador_________________________________________________________________
Entrevista nº__________________________Data_______________________Hora________
Esta entrevista insere-se num estudo sobre “o impacto das Novas Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC) na família contemporânea: relações entre pais e filhos” que está a ser realizado no
âmbito do Mestrado de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Tem como objetivo
conhecer de que forma a apropriação das novas Tecnologias de informação e Comunicação (TIC) tem
influenciado as interações familiares e qual é a opinião dos jovens utilizadores sobre este assunto. Assim
sendo, peço-te o favor de responder às questões que te vou colocar com o maior rigor possível. Os dados
recolhidos serão tratados de forma a garantir a confidencialidade e o anonimato das tuas respostas.
Agradeço, desde já, a tua colaboração.
3
▪ O que mais gostas de fazer quando navegas na internet?
▪ Como é que tem sido a tua relação com a tua família a partir do momento em
que usas as novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) com
recurso à internet?
▪ Qual tem sido a atitude dos teus pais em relação ao tempo que ficas a utilizar
esses dispositivos e a navegar na internet?
▪ Em comparação com os teus pais, quem é que está mais apto para o uso desses
dispositivos e também para navegar na internet?
▪ Alguma vez os teus pais te castigaram por causa do mau uso do teu
dispositivo?
4
Anexo 1.4. Guião dos inquéritos por questionário aos pais
Identificação da Freguesia_____________________________________________________
Local ______________________________________________________________________
Entrevistador_______________________________________________________________
Inquérito nº_________________Data_________________________Hora______________
Este questionário insere-se num estudo sobre “O impacto das Novas Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC) na família contemporânea: relações entre pais e filhos” que está a ser realizado no
âmbito do Mestrado de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Tem como objetivo
conhecer de que forma a apropriação das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), por
parte dos jovens tem influenciado as interações familiares e qual é a opinião dos pais sobre este assunto.
Assim sendo, peço-lhe o favor de responder às questões que lhe vou colocar com o maior rigor possível.
Os dados recolhidos serão tratados de forma a garantir a confidencialidade e o anonimato das suas
respostas. Agradeço, desde já, a sua colaboração.
1. Sexo
Feminino (1)
Masculino (2)
4. Naturalidade
2. Idade______Anos
Concelho______________________
Freguesia ______________________
3.Estado Civil
Casado/a (1)
Solteiro/a (2)
Divorciado/a (3)
União de fato (4) 5.Nacionalidade ____________________
Viúvo/a (5
5
6. Nível de escolaridade
Patrão (1)
Trabalhador por conta própria sem trabalhadores (2)
Trabalhador por conta própria com trabalhadores (3)
Trabalhador por conta de outrem (4)
Outra situação (55)
Qual? (66)_________________________________________________
6
II - ATITUDES DOS PAIS - USO DAS NOVAS TECNOLOGIAS POR PARTE DOS FILHOS
≤ 6 anos (1)
Entre 6 a 8 anos (2)
Entre 8 a 10 anos (3)
Entre 10 a 12 anos (4)
≥ 12 anos (5).
Não sabe (99)
2. Dos seguintes dispositivos tecnológicos, indique qual ou quais é que o seu filho tem?
Sim Não
(1) (2)
Computador de Mesa (PC), sem Internet.
Outro ou outros
Qual ou quais?__________________________________________
7
3. Dos seguintes dispositivos, qual é o que o seu filho usa com mais frequência?
8
4. Quanto tempo é que o seu filho/a dedica à utilização dos dispositivos tecnológicos que
referiu anteriormente?
≤ 1 hora (1)
Entre 1 a 2 horas (2)
Entre 2 a 4 horas (3)
Entre 4 a 6 horas (4)
≥ 6 horas (5)
Sim (1)
Não (2)
5.1. Se sim, indique com quem é que o seu filho/a aprendeu a usar as Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC).
9
6. Na sua opinião o uso frequente das novas Tecnologias de Informação e Comunicação
(TIC), por parte do seu filho/a constitui:
Um perigo/risco (1)
Um Benefício (2)
Desvantagem (3)
Vantagem (4)
Outra situação (5)
Qual? (66)____________________________________________
6.1. Se constitui um perigo ou risco, qual deve ser o papel dos pais?
Sim Não
(1) (2)
Eles têm que ter noção dos riscos que estão presentes no uso do TIC
10
7. Com que finalidade o seu filho/a utiliza as novas Tecnologias de Informação e
Comunicação (TIC)?
Sim Não
(1) (2)
Comunicar com os pais
Comunicar com os amigos e colegas
Fazer jogos
Pesquisa de material de estudo para aulas
Enviar emails e ficheiros
Conversar com os amigos no Facebook
Conversar com os amigos no Messenger
Ouvir Música
Ver firmes/cinema
Navegar na Internet
Lazer e entretenimento
Outra ou outras (55)
Qual/is? (66)________________________________
Sim (1)
Não (2)
11
8.1. Se sim, que tipo de acompanhamento faz?
Sim Não
(1) (2)
Fica com ele de vez em quando e ensina-lhe a navegar nas TIC
Pergunta o que é que tem feito
Vê constantemente os seus dispositivos
Só o deixa utilizar o dispositivo na sua presença
Qual/is? (66)_________________________________
Sim (1)
Não (2)
Qual/is? (66)_________________________________
12
10. A utilização frequente das TIC por parte do seu filho/a, tem tido interferência no
relacionamento familiar?
Sim (1)
Não (2)
10.1. Se sim, indique os aspetos que têm sido afetados pelo uso das Tecnologias de
Informação e Comunicação (TIC) por parte do seu filho/a: (pode assinalar mais do que
uma resposta).
13
13. Tendo em conta o uso das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e
o acesso generalizado à internet, como vê o futuro do seu filho/a?
14
Anexo 1. 5. Tabela 1. 8. Grelha de categorização e análises das entrevistas
CATEGORIAS SUB - CATEGORIAS UNIDADE E TRANSCRIÇÃO DE REGISTOS
15
16