Dawkins, Roger. Páginas 1 e 2 - Primeira Versão.
Dawkins, Roger. Páginas 1 e 2 - Primeira Versão.
Dawkins, Roger. Páginas 1 e 2 - Primeira Versão.
- Deleuze (1983/1985) utiliza o cinema como guia para desenvolver ideias filosóficas. Exemplo disso: sua
tese sobre o movimento cinemático. Seu estudo baseia-se em uma compreensão bergsoniana da imagem.
- Para ele, a imagem cinemática é uma “imagem movimento”, a partir daí ele pensa uma gama de problemas
filosóficos, tais como a relação entre matéria(matter) e imagem em termos da questão de movimento/tempo.
- O conceito deleuziano de signo também está presente em seus livros de cinema, mas é menos examinado.
- Pensar a imagem em termos do problema do signo e da linguagem remonta aos anos 1920. Em 1960, Metz
foi o primeiro a usar modelos estruturais/linguísticos modernos para desenvolver esse problema (Guzzetti
292). Segundo Metz, a imagem é um signo na medida em que: 1) é um material que representa a realidade;
2) a natureza dessa representação da realidade depende do modo como o signo é moldado pelos códigos
sociais/culturais.
- A perspectiva de Deleuze é um pouco diferente. Para ele, primeiramente, a semiótica é desenvolvida em
consonância com sua determinação da imagem como movimento-imagem. Assim, se a imagem é
movimento imagem, a equação de imagem e matéria (matter) subjaz todo o projeto cinemático de Deleuze,
o que torna sua semiótica do cinema também uma semiótica do mundo material.
- Em segundo lugar, Deleuze descarta a primazia dada ao papel do código na semiologia. Para ele, um signo
é significativo por causa de seu conteúdo/matter semiótico, e não por causa do código. Ele usa um conceito
de expressão (de seu trabalho anterior sobre Spinoza) para descrever a formação do signo como uma auto-
modulação independente de estruturas transcendentes. Em terceiro, ele adapta a semeiotics peirceana para
descrever uma série de resultados de expressão, uma série de signos diferentes no cinema.
- Neste ensaio, Dawkins explica detalhadamente a semiótica de Deleuze, resaltando a escassez de textos
dedicados ao exame e engajamento com o conceito deleuziano de signo e sobre o potencial da semeiotics
para uma análise semiótica da imagem em movimento. Para o autor, houve incursões neste problema, mas
elas só avançaram a ponto de considerar a imagem em movimento em relação à tipologia que Peirce
constrói acerca da condição representativa do signo — a relação signo-objeto como um Primeiro (Ícone),
Segundo (Index) e Terceiro (Símbolo) — usando essa variedade de representação como um modo de
oferecer uma alternativa para a preferência da semiologia pelo signo codificado. Dawkins esclarece como o
uso de Deleuze de Peirce e desenvolvimento de uma semiótica é muito mais complicado e produz um
grande potencial para futuras análises semióticas do cinema.
- Para Dawkins, o mais importante sobre seu argumento é o modo como Deleuze traduz seu conceito de
expressão em semeiotics e desenvolve uma variedade rica e prática de signos no cinema. Observando
atentamente o cinema, a leitura entrelinhas da tese de Deleuze revela uma versão do Tri-Square dos
elementos do signo peirceano de Peirce subjacente aos livros de cinema, e em termos da combinação
(hierárquica) desses elementos, uma versão dos signos triádicos (completados) de Peirce. A diferença, no
entanto, é o sentido no qual os signos de Deleuze são expressões de conteúdo/matéria/matter semiótica, e,
consequentemente, que a estrutura da semiótica de Deleuze é uma estrutura de imanência. Deleuze não
explicita isso, mas Dawkins acredita que dissecar seu argumento e pensar sobre seus signos desse modo
nos dá uma semiótica prática que podemos tirar de quaisquer livros de cinema e aplicar a todos os filmes.
1. Background e Contexto
- Ao considerar a relação chave nos livros de cinema, observa-se que essa relação envolve um material
signalético por um lado e o signo por outro. O material signalético é o conteúdo/matter da imagem. Isso é a
imagem em termos de suas qualidades, cores e sons — o sentido mais básico da imagem. Além disso, já
que Deleuze específica como a imagem se move (“imagem-movimento”), equacionando imagem e
realidade, o material signalético da imagem é o mesmo subjazendo o que faz os objetos, corpos, vistas e
sons do mundo material.O signo é a função da imagem como unidade significativa para alguém. Significado
nesse sentido é identificado com o modo particular que o material signalético é corporificado em uma
imagem; por exemplo, o modo como qualidades, formas, cores e sons são corporificados na imagem de um
cão rosnando. Significado não é o resultado final de relacionar a imagem de um cão rosnando a um código
(cão rosnando = raiva); significado reside estritamente na natureza da corporificação.
- Deleuze descreve o material signalético do seguinte modo: ele chama 1) um “material a-significante e o a-
sintático” mesmo que, 2) “não seja amorfo” (Time 29). Desse primeiro ponto, o a-significante significa que o
material signalético não é naturalmente um conteúdo/matter significante — em outras palavras, não é
naturalmente significativo. Além disso, o a-sintático significa o mesmo, mas com uma sutil diferença. O a-
sintático significa que o material signalético não é naturalmente organizado em uma estrutura de unidades
significativas. O segundo ponto nos diz que o material signalético não é amorfo: ele não é indeterminado e
sem qualquer forma ou característica. Ao colocar esses dois pontos juntos, então, Deleuze está nos dizendo
que o material signalético não é uma substância significativa e organizada, mas que também não
desprovido de significado ou amorfo.Consequentemente, Deleuze também explica como o material
signalético é virtual. Ele é real mas não factual. Não podemos vê-lo, mas sabemos que ele está lá.
- Por que Deleuze determina o material signalético de acordo com os dois pontos acima? Primeiro, se o
material signalético é significante/sintático então ele já seria significativo em alguma medida. Assim,o signo,
ao encarnar o material signalético, poderia de fato estar funcionando para revelar um significado latente ou
possível. Agora, se o significado do signo é possível,ele é inseparável do significado existente factual.
Consequentemente, o significado revelado pelo signo poderia sempre ser determinado em alguma medida
pelo significado pré-existente. Segundo, se o material signalético fosse amorfo, então o signo não poderia
revelar o significado latente (pois não haveria significado para ser revelado). Ao invés disso, o signo, ao
encarnar o material signalético, poderia de fato estar moldando o material signalético e moldando-o em
substância significativa. Pois para o signo assumir uma tal função ele já deveria ser significativo em alguma
medida, implicando que o significado resultante da relação material signalético-signo poderia, na melhor das
hipóteses, ser uma versão do significado pré-existente. Para Deleuze, ambas as posições acima sobre o
significado tem um impacto negativo na criatividade na linguagem.
- Deleuze afirma que o material signalético não é nem amorfo nem significante/sintático. Ele é um
conteúdo/matter existente, mas já que sua natureza não está de acordo com as condições acima, ele o
chama de “massa plástica” (Time 29), assegurando que o significado produzido em sua concepção do signo
não é uma versão de algo preexistente, mas algo completamente novo, fresco, original e espontâneo. Para
Deleuze, qual é a relação entre o signo e o material signalético? Sabemos que o signo, como a encarnação
do material signalético, não funciona para tornar factual algum significado possível, e nem molda o material
signalético. Deleuze nos diz que o signo é 1) “irredutível” ao material signalético, ainda assim 2) “não sem o
relação determinável para com ele” (Time 34). Para Deleuze, então, o signo determina o material
signalético, mas não no sentido que observei até agora. Uma forma de descrevermos esse processo é com
a concepção deleuziana de expressão. Deleuze desenvolve esse conceito mais detalhadamente em sua
monografia sobre Benedict de Spinoza. André Pierre Colombat (2000:16) nos dá um insight em seu
significado quando define expressão como um processo de desdobramento e envolvimento. O que é
sugerido é um sentido no qual o signo é uma expressão do material signalético na medida em que marca a
extensão e transformação do material signalético em algo diferente. Considere novamente o exemplo acima
de um signo: a imagem de um cão rosnando. Para Deleuze, essa imagem não é um signo na medida em
que é uma mistura de coisas (qualidades, formas, cores) para a qual significado é atribuído (códigos). Para
ter certeza, é uma junção de coisas que é significativa por causa do modo, como uma junção, em que o
conteúdo/matéria/matter semiótica é desdobrado, existindo levemente diferente para si mesmo em sua
forma como um signo.
- “Não se pode fazer muita coisa com códigos” (Deleuze Time 28). Essa é a afirmação que Deleuze faz nos
livros de cinema quando nivelando uma crítica contra a semiologia.
- Keyan G. Tomaselli (1989 qtd. in 1996: 44-5) é da mesma opinião. Quando considerando um modelo
adequado para a análise de como o significado é feito em documentários etnográficos, ele afirma que a
semiologia toma os códigos como garantidos. Ele escreve que os códigos não são |naturais, neutros ou
mesmo necessário”. Tomaselli defende que o signo codificado traz consigo uma noção de significado que é
“saturada com imperativos ideológicos da sociedade” (45). Além disso, ele sente que esses imperativos
ideológicos inevitavelmente restringem a habilidade do signo de representar uma experiência.
- Para Tomaselli, a semeiotics de Peirce é uma teoria do significado que considera o signo
independentemente dos códigos (estruturas transcendentes). Em sua leitura de Peirce, os signos são o
modo como um sujeito faz sentido de um encontro, mas esse processo de faz sentido não depende
inteiramente das referências do sujeito aos códigos. Tomaselli explica que esse ponto na semeiotics quando
ele nota três passos envolvidos na tentativa de um sujeito de fazer sentido de um encontro. Esses passos
correspondem às propriedades fundamentais do universos, ou o que Peirce chama de categorias
fenomenológicas de Ser: Primeiridade, Secundidade, Terceiridade. Cada passo, tomado separadamente,
implica uma noção diferente do que seja um encontro, e cada passo implica uma noção diferente do signo
(há signos de Primeiridade, Secundidade e Terceiridade). E, o signo semiológico é apenas uma parte da
semeiotics: ele recai entre o signo lógico ou convencional peirceano de Terceiridade (Símbolo). Assim,
semeiotics sustenta uma ideia mais ampla e variada de signo e significado do que a semiologia.
- Semelhante a TOmaselli, Deleuze usa Peirce para mover-se para além das limitações dos signos
codificados e estruturas transcendentes. Mas Deleuze também usa semeiotics para desenvolver uma teoria
da expressão no cinema. Baseado na ontologia matter/tempo de Bergson, Deleuze equaciona
matéria/matter no universo com a imagem cinemática (imagem-movimento). ELe então usa os signos
peirceanos de Primeiridade, Secundidade e Terceiridade para conceber uma teoria do significado no cinema
que é independente de estruturas transcendentes —em outras palavras, ele usa os signos peirceanos para
conceber uma ideia semiótica de expressão. Assim, a leitura deleuziana Spinoza também é chave aqui.
Deleuze concebe os signos peirceanos como expressões porque, a partir de Spinoza, ele entende as
categorias peirceanas como imanentes para o universo/cinema. As categorias e o universo estão “em
imanência” ( que eu pego emprestado de Deleuze) no sentido que as categorias legitimamente existem e
não são determinadas a existir por uma força transcendente no mundo material.
- A teoria de Peirce depende de sua divisão do universo em três categorias fundamentais, que são ordinais e
hierárquicas — em outras palavras,Terceiridade contém Secundidade e Primeiridade, e Secundidade
contém Primeiridade — do mesmo modo como uma boneca russa contém uma boneca dentro de uma
boneca dentro de um boneca. Quando as categorias são separadas, Primeiridade é existência em-si
mesma, por exemplo, vermelhidão (independente de sua corporificação em um objeto) é uma Primeiro;
Secundidade é existência factual ou genuína, quando a vermelhidão é encarnada em um objeto em um
estado das coisas (uma rosa, um barrete árabe, uma Ferrari); Terceiridade é existência lógica, quando um
objeto em um estado das coisa é concebido como um tipo geral que é representativo de alguma lei.
- Considere o conceito peirceano de signo. As categorias do Ser tem uma influência no conceito peirceano de
signo de dois modos: 1) Para Peirce, um signo, como todas as outras coisas no universo, é divisível em três
categorias. Há, então, três propriedades (ou o que eu chamo de aspectos) de cada signo. Eles são aparente
quando Peirce define o signo como algo que significa uma outra coisa (seu objeto) para alguma mente
interpretadora. Dessa definição, um signo é antes de tudo algo em-si mesmo, e Peirce chama esse aspecto
do signo de Representamen. Segundo, um signo se coloca em relação com um objeto, e Peirce chama esse
aspecto do signo de o Objeto. Terceiro, a relação signo-objeto é interpretada por alguém, e Peirce chama
esse aspecto do signo de Interpretant; 2) O signo é o modo como um sujeito faz sentido de um encontro.
Em semeiotics, há três tipos de Representamen, três tipos de Objeto, e três tipos de Interpretant.
- Para maior clareza, chamo os aspectos peirceanos do signo, quando considerados da perspectiva de seus
tipos categóricos diferentes, os elementos de signo da semeiotics. Dos três aspectos de cada signo, há
nove elementos de signo da semeiotics. Esses elementos sºao representados abaixo na Tri-Square
peirceana:
Tabela 1
Um Tri-Square dos Nove Elementos de Signo da Semeiotics:
Tabela 2
* Nota: Todas as expressões como R1, O2, I3 devem ser lidas de acordo com Peirce do seguinte
modo: um Representamen que é um Primeiro, um Objeto que é um Segundo, e um Interpretant que é
um Terceiro (8.353).
- Não explicarei esses signos completados aqui, mas meramente oferecer exemplos: um Rhematic
Iconic Qualisign é um sentimento de vermelho; um exemplo de um Dicent Indexical Sinsign é um
telefone tocando; e um exemplo de um Argument Symbolic Legisign é um silogismo (Parmentier
1994: 18).
- A coisa mais importante sobre a apropriação deleuziana de Peirce é sua compreensão da imanência
das categorias. Se as categorias são imanentes, então, não há nada transcendente que determina
um certo tipo de experiência como um certo tipo de signo. Isso significa que um signo simplesmente
existe, e a relação de um sujeito com um signo é baseada em nada mais do que nas propriedades
materiais daquele encontro em particular. Em A Imagem-Movimento, Deleuze faz grandes esforços
para provar como as categorias são imanentes ao universo/cinema. E nesse ponto a ontologia de
Bergson também é fundamental para o argumento deleuziano. Ele equaciona as categorias
peirceanas com o que Bergson descreve como níveis de subjetividade diferentes.
Consequentemente, a dedução da subjetividade, de acordo com a qual a subjetividade não é
determinada por uma força transcendente, é homóloga à dedução das categorias — de acordo com
as quais as categorias surgem no universo — e testemunho sua imanência.
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- Na medida em que as categorias são essencialmente imanentes, torna-se aparente nos seus
livros de cinema que as categorias, na sua forma naturalmente “enroladas” (Pierce 1.280), são
a matéria semiótica do cinema (massa plástica). Elas estão em imanência/ Eles são
imanentes: nada é transcendente ao material sinalético. Além disso, segue-se que os sinais
produzidos a partir das categorias / material sinalético não são corretamente formados como
resultado de qualquer força transcendente. Seu significado não é justamente predeterminado.
Assim, com a identificação das categorias no cinema, Deleuze tem as bases para desenvolver
sua semiótica
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- De Peirce, Deleuze observa três categorias no cinema, e eu as chamo de imagens-tipos do
cinema. Deleuze chama de Firstness (primeireza- Achei estranho, preferi deixar em inglês) a
imagem afetiva: semelhante a Peirce, é a categoria da existência da matéria em si mesma,
não como algo real (algo delimitado no universo, um Segundo), mas uma qualidade, uma
impressão visual, um efeito óptico só. Deleuze chama Secondness a imagem-ação:
novamente é semelhante à categoria de Peirce, pois é o domínio de objetos reais em espaços
reais: é o domínio do realismo (Movement 141). Deleuze chama Thirdness de imagem-
relação: como a Thirdness em semiótica, a imagem-relação também se preocupa com
relações lógicas.
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- Em seguida, enquanto Peirce descreve três aspectos do signo - Representamen, Objeto e
Interpretante - Deleuze começa observando apenas dois aspectos do signo cinematográfico.
Ele os chama de Gênesis e Composição. Nessa fase, é bastante claro que Deleuze está se
aproximando bastante dos conceitos de Representamen e Objeto de Peirce, respectivamente.
No entanto, a terminologia de Deleuze também enfatiza a importância dos conceitos
spinozísticos em sua semiótica.
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- Na leitura de Deleuze da Ética de Spinoza, ele enfatiza a afirmação de Spinoza de uma
substância imanente no universo. Spinoza define substância como ser "absolutamente infinito"
(Ética ID4), e nessa definição ele concebe Deus como aquilo que é "em si mesmo e é
concebido por si mesmo" (ID3). Além disso, o ser humano “é um modo dos atributos da
natureza” e é concebido como “parte de um todo dinâmico e interconectado” (Gatens, 1996:
165). Deleuze identifica como, desde o Ser é unívoco a coisas particulares (plantas, animais,
rochas), são produzidas como o efeito de um processo duplo da expressão da substância. No
primeiro estágio da expressão, os atributos são constituídos. Deleuze ressalta que os atributos
são “formas comuns a Deus” e contém as essências da substância (Expressionismo 47). Elas
são as formas básicas pelas quais a vida é desenvolvida e são potencialmente infinitas em
número. Por esse motivo, Deleuze identifica atributos com gênese, chamando-os de
"elementos genéticos" (80). O segundo estágio é baseado na expressão de uma essência nos
atributos de uma coisa específica, à qual Deleuze se refere geralmente como um corpo (uma
planta, animal e rocha são todos corpos). Deleuze (1978/2002:6) nota que um corpo expressa
um elemento genético da substância (atributo) através de “composta ou complexa" de suas
partes (minha ênfase).
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- A compreensão de Deleuze desses dois estágios de expressão é fundamental em sua leitura
de semiótica e em seu próprio desenvolvimento do signo cinematográfico. Mencionei acima
que Gênesis é o conceito que Deleuze utiliza para conceber o signo em si mesmo
(Representamen), mas, na minha opinião, esse conceito também revela sua compreensão de
como o signo, em si mesmo, é equivalente à essência (elemento genético) de um corpo na
teologia de Spinoza. Em relação a essa equivalência, podemos notar que o signo (em si
mesmo) é uma essência de uma categoria de Ser e é imanente ao cinema.
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