Dissertacao AptidaoReprodutivaAcasalamentos
Dissertacao AptidaoReprodutivaAcasalamentos
Dissertacao AptidaoReprodutivaAcasalamentos
BELÉM-PA
2015
JAMILLE COSTA VEIGA
BELÉM-PA
2015
JAMILLE COSTA VEIGA
_________________________________________________
Prof. Dr. Felipe Andrés León Contrera
Instituto de Ciências Biológicas, UFPA
(Orientador)
_________________________________________________
Dr. Cristiano Menezes
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, EMBRAPA
(Co-orientador)
_________________________________________________
Dra. Denise Araujo Alves
Universidade de São Paulo, USP
_________________________________________________
Prof. Dr. Breno Magalhães Freitas
Universidade Federal do Ceará, UFC
_________________________________________________
Prof. Dr. Lúcio Antônio de Oliveira Campos
Universidade Federal de Viçosa, UFV
_________________________________________________
Prof. Dr. Helder Lima de Queiroz
Instituto Mamirauá, MCT
_________________________________________________
Dra. Anita Roberta Stone
Michigan State University
Kaiser & Creager em “O jeito certo de errar” - Scientific American, Julho de 2012.
i
Agradecimentos
Agradeço a todos que me ajudaram a realizar o presente trabalho! A seguir,
uma singela listagem daqueles que me permitiram iniciar, dar continuidade e concluir
a minha dissertação de mestrado. Meus imensuráveis agradecimentos à:
Auriel Costa, Jorge Veiga, Jéssica Veiga (e Mabel), minha pequena grande
família, que compreende o meu trabalho, me incentiva e vibra comigo a cada passo
que dou em minha carreira.
Felipe Contrera e Cristiano Menezes, meus orientadores e grandes amigos,
agradeço por tudo. Tudo mesmo!
Ayrton Vollet Neto, pela revisão crítica (e voluntária, eu espero) do meu
trabalho.
Aline Borba, Gláucia Mecca e Ayrton Vollet Neto (de novo!), por me
acolherem em Ribeirão Preto, nos diferentes momentos (sempre de última hora) em
que precisei ir até lá para aprender coisas novas!
André Sá, Lucas von Zuben e Sidnei Mateus, por me ensinarem novas técnicas.
Por mais que algumas não façam parte do presente trabalho, elas me ajudaram a
enxergar as interações das abelhas sob outra perspectiva. Uma delas foi essencial para
a execução dos experimentos. Muito obrigada!
Kamila Leão, Ana Carolina Queiroz e Joyce Teixeira, minhas amigas,
companheiras de laboratório e colegas de profissão. Simplesmente agradeço por tudo
que tem nos acontecido até o momento. A nossa jornada continua! Agradeço por
continuarmos juntas.
Kateanne Lira e Rodriga Silva, estagiárias do laboratório (iniciação científica e
TCC, respectivamente), que muito me auxiliaram na manutenção dos experimentos,
em especial quando tive que fazer viagens e ministrar cursos. E à Renata Reis (do
estágio obrigatório) que, mesmo passando pouco tempo no laboratório, foi essencial
na a confecção do mini-estúdio para a gravação dos acasalamentos.
Epifânia de Macêdo, doutoranda da Universidade Federal do Ceará, minha
amiga e colega de profissão, que muito me ajudou nos meses de julho e agosto de
2014. Sua companhia e dedicação foram essenciais. Espero tê-la ajudado tanto quanto
me ajudou.
ii
Todos que, em algum momento, caíram no conto e tiveram que me
acompanhar no laboratório durante os fins de semanas, feriados e jogos do Brasil. E
também àqueles que foram por vontade própria, claro!
Janete Teixeira Gomes, técnica do Projeto de Educação Ambiental, pelos
cuidados com as colmeias do nosso laboratório.
Milton José de Paula, meu namorado, pelas discussões, pelo apoio,
companheirismo e cumplicidade enquanto paríamos nossas dissertações!
A todos que contribuíram diretamente, ou indiretamente com esse trabalho,
meus sinceros e eternos agradecimentos!
iii
Sumário
RESUMO ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 18
ABSTRACT ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- 19
INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 20
MATERIAL E MÉTODOS -------------------------------------------------------------------------------------------- 22
RESULTADOS ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 26
DISCUSSÃO --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 32
REFERÊNCIAS ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 37
CAPÍTULO 2: ATRATIVIDADE SEXUAL DE RAINHAS VIRGENS DE MELIPONA FLAVOLINEATA FRIESE (APIDAE,
MELIPONINI) EM DIFERENTES IDADES E A IMPORTÂNCIA DO CONTEXTO SOCIAL ----------------------------------- 42
RESUMO ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 42
ABSTRACT ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- 44
INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 45
MATERIAL E MÉTODOS -------------------------------------------------------------------------------------------- 48
RESULTADOS ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 54
DISCUSSÃO --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 58
REFERÊNCIAS ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 63
CAPÍTULO 3: ACASALAMENTOS EM CONDIÇÕES ARTIFICIAIS E O CONTROLE DA CÓPULA POR RAINHAS VIRGENS
NA ABELHA SEM FERRÃO MELIPONA FLAVOLINEATA (APIDAE, MELIPONINI)--------------------------------------- 67
RESUMO ------------------------------------------------------------------------------------------------------------ 67
iv
ABSTRACT ---------------------------------------------------------------------------------------------------------- 69
INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 70
MATERIAL E MÉTODOS -------------------------------------------------------------------------------------------- 72
RESULTADOS ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 78
DISCUSSÃO --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 84
REFERÊNCIAS ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 89
DISCUSSÃO GERAL E CONSIDERAÇÕES FINAIS-------------------------------------------------------------- 94
REFERÊNCIAS ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 96
v
Lista de figuras
Introdução geral
Capítulo 1
Capítulo 2
vi
os limites das amostras (com exceção dos outliers), e o círculo vazado, os valores dos
outliers. As letras indicam diferenças significativas entre os ranks das categorias de idade,
a um nível de significância de 5%. ----------------------------------------------------------------------- 56
Figura 4 – Atratividade sexual (medida em número de eversões de machos maduros) de
rainhas virgens de M. flavolineata com 06 dias de idade, pertencentes a diferentes
contextos sociais. C1: Rainha virgem sozinha em placa de Petri; C2: Rainha virgem
acompanhada de 10 operárias jovens em placa de Petri; C3: Rainha virgem acompanhada
de outra rainha virgem em placa de Petri; C4: Duas rainhas virgens acompanhadas de 10
operárias jovens em placa de Petri; C5: Rainha virgem em contexto de minicolônia; C6:
Duas rainhas virgens em contexto de minicolônia. O ponto central e o box-plot indicam a
mediana e a variação das amostras numa faixa de 25% a 75%, respectivamente. A linha
vertical representa os limites máximo e mínimo das amostras. As letras indicam
diferenças significativas entre os ranks das categorias ao nível de 5%. ------------------------ 57
Capítulo 3
Figura 1 – Rainha virgem de Melipona flavolineata, indicada pela seta, sendo induzida à
narcose através da exposição ao fluxo de CO2, que passa através do tubo transparente
sem cor. A rainha encontra-se dentro do tubo transparente azul, que contém um
pequeno orifício na extremidade mais fina, por onde flui a corrente de CO2. Foto: Jamille
Veiga. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 75
Figura 2 – Representação do teste de acasalamento na espécie Melipona flavolineata,
utilizando dez machos sexualmente maduros, e uma rainha virgem, em arena de cópula
confinada. ------------------------------------------------------------------------------------------------------ 76
Figura 3 – Representação do teste de acasalamento de Melipona flavolineata realizado em
campo, próximo a uma agregação reprodutiva. A seta indica uma rainha virgem sendo
ofertada, a aproximadamente a um metro de distância (linha tracejada) do agregado de
machos (indivíduos aglomerados no Meliponário), sobre uma lona estendida no solo. -- 77
Figura 4 – a) Tentativas de cópula em Melipona flavolineata, com eversão da genitália
masculina; b) Cópula efetiva, na qual o macho introduziu com sucesso o seu endófalo na
rainha virgem narcotizada c) Macho com endófalo evertido; d) Rainha virgem inerte após
exposição ao CO2. Fotos: Cristiano Menezes. --------------------------------------------------------- 80
vii
Lista de tabelas
Capítulo 1
Tabela 1 - Descrição dos diferentes tratamentos de contextos sociais em que foram mantidos
confinados, durante 15 dias, os machos de Melipona flavolineata. ---------------------------- 25
Tabela 2 – Número estimado de espermatozoides de 55 machos de Melipona flavolineata
pertencentes a diferentes categorias de idade, acondicionados em minicolônias
confinadas. ---------------------------------------------------------------------------------------------------- 28
Tabela 3 – Variação da estimativa do número de espermatozoides presentes nas vesículas
seminais de machos de Melipona flavolineata. Os indivíduos foram mantidos em
diferentes contextos sociais, em confinamento, durante 15 dias. ------------------------------ 31
Capítulo 2
Capítulo 3
Tabela 1 – Número de tentativas (eversões dos machos) e cópulas bem sucedidas com rainhas
virgens de Melipona flavolineata em condições normais ou inertes (narcotizadas pelo uso
de CO2). --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 81
Tabela 2 – Número de tentativas (eversões dos machos) e cópulas bem sucedidas com rainhas
virgens de Melipona flavolineata em arenas de cópula e no agregado reprodutivo. ------- 83
viii
INTRODUÇÃO GERAL
Devido a uma íntima relação com as flores, e notável diversidade, as abelhas sem
ferrão são consideradas um importante grupo de insetos polinizadores, em especial da
flora nativa pertencente a sua área de ocorrência natural (Roubik, 1992; Wilms, 1996;
Ramalho et al., 2004). As abelhas sem ferrão, também chamadas de meliponíneos, são
insetos eussociais (Wilson, 1971; Lin & Michener, 1972), com ferrão atrofiado
(Michener, 2007), e distribuem-se por toda a Zona Tropical e Subtropical do mundo,
com exceção das Ilhas do Pacífico (Camargo & Pedro, 2007; Rasmussen, 2008; Eardley
et al., 2009). As 500 espécies conhecidas para esse grupo fazem parte da tribo
Meliponini (Hymenoptera, Apidae) (Michener, 2013), na qual estão inclusas abelhas de
variados tamanhos, formas, cores e repertórios comportamentais (Michener, 2007;
2013).
Nos últimos anos, o produto que vem ganhando notável importância são as
próprias colônias. A meliponicultura encontra-se num momento em que grande
número de colônias é necessário, frente às demandas do mercado, em especial o da
polinização agrícola (Cortopassi-Laurino, 2006; Contrera et al., 2011; Venturieri et al.,
2012). Através da massiva produção de novos ninhos será possível alimentar tal
mercado. A produção em larga escala de colônias ainda não é uma realidade para as
abelhas sem ferrão, mas existem bons exemplos a serem seguidos, como o caso da
2
produção de colônias de abelhas melíferas (Apis mellifera) e de abelhas mamangavas
(Bombus terrestris), ambas direcionadas para o mercado da polinização de culturas
agrícolas em todo o mundo (Seeley, 1985; 2009; Velthuis, 2002; Velthuis & Van Doorn,
2006).
3
a b
4
virgens são mortas pelas operárias, na maioria das vezes (Koedam et al., 1995; Jarau et
al., 2009; Kärcher et al., 2013).
5
dentro de alguns dias (Engels & Engels, 1988; Engels & Imperatriz-Fonseca, 1990). As
rainhas recém-copuladas retornam aos seus ninhos, onde irão desenvolver o abdome
e iniciar a postura. Assim, para que essa sucessão de eventos ocorra (cópula –
fecundação – ativação da postura), é necessário que tanto as rainhas quanto os
machos estejam reprodutivamente aptos1 para o acaslamento.
1
*A palavra aptidão significa tendência, capacidade natural ou adquirida, para realizar algo
(Houaiss, 2001). Com base nisso, consideramos nesse trabalho a expressão aptidão
reprodutiva, como a capacidade adquirida por um indivíduo de realizar a cópula, no sentido de
possuir os requisitos necessários para tal. Sendo assim, a aptidão reprodutiva envolve
diferentes traços do desenvolvimento e da história de vida dos organismos, a exemplo da
maturidade, da capacidade de voo, da atratividade e da receptividade sexual (aspectos
investigados nesse trabalho).
6
Figura 2 – Operárias de Melipona flavolineata desempenhando comportamento de
formação de corte ao redor de uma rainha virgem dominante (indicada pelo círculo
branco), com abdome inflado. Foto: Cristiano Menezes.
Os machos, por sua vez, não emergem sexualmente maduros. A migração dos
espermatozoides dos testículos para as vesículas seminais se inicia após a emergência
do adulto e, ao final da migração, o indivíduo é considerado sexualmente maduro
(Camargo, 1984; Cruz-Landim & Dallacqua, 2002; Araújo et al., 2005). O tempo
necessário para a maturidade sexual dos machos varia de acordo com a espécie.
Enquanto ainda são imaturos, despigmentados e incapazes de voar, os machos
permanecem dentro dos ninhos (Van Veen et al., 1997). Assume-se que deixam o
ninho somente após se tornarem reprodutiva e comportamentalmente aptos, quando
estarão prontos para viver fora dos ninhos. Nesse ambiente externo, os machos
formam agregações reprodutivas (Engels & Imperatriz-Fonseca, 1990; Sommeijer &
Bruijn, 1995; Cortopassi-Laurino, 2007). Essas agregações consistem de dezenas a
centenas de machos reunidos em um local, onde aguardam a chegada das rainhas
(Sommeijer & Bruijn, 1995; Van Veen & Sommeijer, 2000).
Uma vez que a maturidade sexual dos machos e a atratividade das rainhas se dão
ao longo da vida adulta e dentro dos ninhos, espera-se que fatores associados à idade,
bem como ao contexto colonial, tenham influência no desenvolvimento da aptidão
7
reprodutiva desses indivíduos. Esses fatores são importantes para entendermos as
diferentes estratégias adotadas por machos e rainhas virgens, quando estes ainda se
encontram na segurança da colmeia. As decisões tomadas podem ter consequências
tanto para o seu objetivo final, que é realizar o acasalamento, como para a colônia,
que é gerar novas unidades (colônias-filhas). Além disso, entender como os sexuados
se tornam aptos para copular é particularmente importante quando o objetivo é
realizar acasalamentos em condições controladas (Camargo, 1972b, 1976; Engels &
Engels, 1988).
8
Nas abelhas sem ferrão, poucos foram os trabalhos voltados para o controle da
reprodução de fato. Na maioria dos estudos, a técnica de acasalamento em
confinamento, na qual machos e fêmeas são confinados em um recipiente até que
ocorra a cópula, foi utilizada como um método para testar hipóteses. A partir de
acasalamentos controlados com a espécie M. quadrifasciata foi possível estudar, por
exemplo, os efeitos do endocruzamento nas colônias, comparar machos diploides e
haploides, a ativação do ovário de rainhas recém-acasaladas e as modificações no seu
aparelho reprodutor (Camargo, 1972; Campos & Melo, 1990; Bezerra, 1995; Melo et
al., 2001; Martins & Serrão, 2004).
9
Além disso, M. flavolineata é comercialmente relevante no nordeste do estado
do Pará, por ser considerada boa produtora de mel (Magalhães & Venturieri, 2010), e
por apresentar grande potencial como agente polinizador de culturas agrícolas, como a
cultura do açaí (Euterpe oleracea Mart.) (Venturieri et al., 2005; dados não publicados).
Devido à sua importância, entendemos que avanços no manejo dessa espécie se fazem
necessários. Dentre outros tópicos, estudar os aspectos da biologia reprodutiva,
focando aqueles que permitam o controle da reprodução dessa espécie, pode
contribuir para avanços teóricos e práticos.
Dessa forma, a dissertação foi organizada em três capítulos, cujos objetivos são
apresentados a seguir.
No segundo capítulo, nosso objetivo foi investigar em que idade e sob quais
contextos sociais as rainhas virgens de M. flavolineata se tornam sexualmente
10
atrativas. Também foi possível acompanhar o desenvolvimento da receptividade
sexual nessas rainhas.
11
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17
CAPÍTULO 1
Resumo
In the societies of bees with advanced eusocial behavior, the males have the only
function to fertilize reproductive females. Therefore, there is a need for outline a
reproductive strategy to increase and promote their chances of mating. Assuming this
strategy should be drawn when they are still in the safety of the hives, our study aimed
to test the effect of age and the experienced social context on sexual capability of
males of a stingless bee, Melipona flavolineata. In confined conditions, 82 males were
divided in two experimental groups, one related with the effects of age on individuals
sexual capability (n = 55), in which groups of males were accompanied during
adulthood until certain ages (categories: 0, 5, 10 , 15, 20 and 25 days); the other one,
was about the effects of social context (n = 27), in which the males were divided into
three categories of contexts where amount of workers differed, maintained for 15
days. The onset of flight behavior and sexual maturity were the variables used to
measure sexual capability of males. Therefore, at the end of each assay, the flight
ability of males was tested. The individuals were sacrificed, and their number of
spermatozoa was estimated (metric sexual maturity). The migration of sperm to
seminal vesicles started at five days of age. The sexual maturity was reached at 10
days, and flight ability, at 15 days. The social context had no effect on maturity, but
affected the flight, causing a delay on this behavior. Whereas males of this species
remain in the nest for up to five days after becoming able for copulation (mature and
capable of flying), the results of this study suggest Melipona males awaits in the nest
until they reach their maximum reproductive performance, which may favor their
survival and competition for females.
19
Introdução
“Social insect males are not just simple-minded mating machines, they are shaped,
constrained and perhaps trapped by sexual selection.”
20
ambiente, se aglomeram e formam agregações reprodutivas, próximas a ninhos co-
específicos (Sommeijer & Bruijn, 1995; Van Veen et al., 1997; Sommeijer et al., 2004).
Nelas, de dezenas a centenas de machos aguardam a chegada de rainhas virgens, e
competem pela oportunidade de copular com elas (Sommeijer & Bruijn, 1995;
Sommeijer et al., 2004). Ao deixarem os ninhos, os machos estão sujeitos a duas
intensas pressões, a sobrevivência no ambiente (uma vez que, até o momento, se
encontravam na segurança do ninho) e a competição com outros machos por parceiras
sexuais. Contudo, é antes da saída, que diferentes características dos machos serão
selecionadas, como o tamanho corporal, a rapidez no desenvolvimento dos
espermatozoides, a sua maturação e subsequente transferência para as vesículas
seminais (Pech-May et al., 2012), e possivelmente, a rapidez no desenvolvimento da
musculatura associada ao voo (Cruz-Landim, 2009; Correa-Fernandez & Cruz-landim,
2010). Logo, é esperado que a etapa da vida em que os machos passam dentro da
colmeia afete seu desempenho na fase final do ciclo.
21
Material e métodos
Procedimentos gerais
22
de 5 ml) e cerca de 40 operárias de diferentes idades, porém ainda incapazes de voar.
Diariamente, foram adicionadas cinco operárias recém-emergidas, para simular a
constante substituição de indivíduos que ocorre dentro de uma colônia. Quando as
operárias já estavam aptas a voar, eram liberadas da colônia. É importante destacar
que as abelhas estiveram confinadas dentro da minicolônia, portanto sem acesso ao
ambiente externo à caixa de madeira.
O segundo sistema consistiu no acondicionamento dos indivíduos em placas de
Petri. No presente estudo, foram utilizadas placas de Petri com diâmetro de 9 cm, e
altura de 1,2 cm. O pólen e o mel foram ofertados em microtubos eppendorf de 1 ml, e
foram trocados diariamente. Tanto as placas de Petri, como as caixas de minicolônias
foram mantidas em estufa B.O.D. (28 ºC).
A manutenção dos sistemas de confinamento das abelhas foi realizada
diariamente, consistindo na reposição dos alimentos ofertados, retirada de resíduos
(lixo e fezes), e registro de possíveis mortes dos indivíduos. Antes dos procedimentos
de manutenção, o comportamento dos indivíduos era observado por algum tempo,
com o objetivo de caracterizar/diferenciar qualitativamente os diferentes sistemas de
confinamento.
23
Desenho experimental
24
Tabela 1 - Descrição dos diferentes tratamentos de contextos sociais em que foram
mantidos confinados, durante 15 dias, os machos de Melipona flavolineata.
Antes da extração das vesículas seminais de cada macho, foi realizado um teste
de voo. O indivíduo foi colocado na margem de uma superfície plana (cerca de 1m de
altura em relação ao chão), de frente para uma janela iluminada, a 1,5 m de distância.
O macho era estimulado ao voo a partir de uma leve compressão, recebida sobre o
dorso do tórax. Nos próximos segundos, verificamos se o macho voava em direção à
janela, ou se caía no chão. Caso desempenhasse com sucesso o voo até a janela, era
considerado “voo perfeito”. Caso caísse no chão, andasse ou realizasse voos rasantes,
como se estivessem pulando, era considerado “iniciando voo”. Se o indivíduo apenas
andasse, era considerado “não iniciou voo”.
Esse procedimento foi realizado com machos pertencentes aos experimentos
anteriormente descritos. Portanto, os resultados dos testes de voo serão apresentados
em correspondência aos respectivos experimentos.
25
Análise dos dados
Resultados
27
Tabela 2 – Número estimado de espermatozoides de 55 machos de Melipona flavolineata pertencentes a diferentes categorias de idade,
acondicionados em minicolônias confinadas.
Categorias de Número de Número médio de Número mínimo e máximo de
Descrição
idade (dias) indivíduos (n) espermatozoides estimados ± D. P. espermatozoides estimados
Presença de espermatozoides
05 10 96.450 ± 122.332 2.750 - 313.750 livres (n = 10) e de feixes de
espermatozoides (n = 10).
Presença de espermatozoides
10 10 303.875 ± 122.988 97.500 - 521.250 livres (n = 10) e feixes de
espermatozoides (n = 02).
Presença de espermatozoides
15 09 499.444 ± 122.144 327.500 - 637.500
livres (n = 09).
Presença de espermatozoides
20 10 494.500 ± 163.387 220.000 - 700.000
livres (n = 10).
Presença de espermatozoides
25 10 429.500 ± 171.316 97.500 - 666.250
livres (n = 10).
28
Encontramos diferenças no número de espermatozoides em machos
pertencentes a diferentes idades (KW-H (5;55) = 36,425; p < 0,001). Dentre elas, as
categorias de zero e cinco dias de idade não diferiram entre si, mas se diferenciaram
das demais idades. Por outro lado, não houve diferença entre machos pertencentes às
idades de 10, 15, 20 e 25 dias (Figura 2).
Em relação ao comportamento de voo, houve diferença entre indivíduos
pertencentes a diferentes idades (χ2 = 110; GL = 10; p < 0,001). Entre zero e cinco dias,
nenhum indivíduo realizou voo (n = 16; 29,09%). O comportamento se iniciou aos 10
dias (n = 10; 18,8%), quando os machos desempenhavam apenas voos rasantes (para
visualizar o comportamento, acesse o link: http://migre.me/oPhbo). Aos 15 dias, já
eram capazes de realizar voos perfeitos, mantendo tal capacidade até os 25 dias (n =
29; 52,73%).
8E5
KW-H(5;55) = 36,425; p < 0,001
b
b
Número estimado de espermatozoides
4E5
a
2E5
a
0
-2E5
0 5 10 15 20 25
Idade dos machos (dias)
Figura 2 – Número estimado de espermatozoides nas vesículas seminais de machos de
Melipona flavolineata pertencentes a diferentes idades. O ponto central indica a
mediana, o boxplot representa 25% - 75% do conjunto de dados, e a barra vertical
informa os valores mínimo e máximo de cada categoria. As letras indicam diferenças
significativas entre as categorias ao nível de 5%.
29
Número de espermatozoides e comportamento de voo em diferentes contextos
30
Tabela 3 – Variação da estimativa do número de espermatozoides presentes nas
vesículas seminais de machos de Melipona flavolineata. Os indivíduos foram mantidos
em diferentes contextos sociais, em confinamento, durante 15 dias.
Machos em placa de
Petri sem operárias 07 503.214 ± 286.429 58.750 - 905.000
(C1)*
Macho em placa de
Petri com operárias 10 583.375 ± 209.486 230.000 - 826.250
(C2)
Machos em
minicolônia 09 499.444 ± 122.144 327.500 - 637.500
(C3)
*Esse contexto compreende os tratamentos C1 e C2, definidos no item Material e
métodos como C1: Macho sozinho (sem operárias), e C2: Machos acompanhados de outros
machos (em grupo). Separadamente, a estimativa do número de espermatozoides (média ± D.
P.) para cada categoria, C1 (n = 2) e C2 (n = 5), foi de 551.250 (± 126.250) e 484.000 (±301.302)
células, respectivamente.
31
Discussão
32
aos 11 dias, e que deixavam o ninho somente aos 18,6 ± 2,8 dias (média ± D.P.). Há
muito tempo se assume que os machos deixam os ninhos logo após atingirem a
maturidade sexual. Entretanto, fica claro que existe um descompasso entre a idade em
que os machos atingem tais requisitos e a idade em que deixam definitivamente o
ninho (Cortopassi-Laurino, 1979; Van Veen et al. 1997; ver Resultados). A constatação
de um intervalo entre o início do comportamento de voo e o momento em que os
machos de meliponíneos partem para a formação de agregações reprodutivas
despertou o seguinte questionamento: por que os machos continuam dentro do ninho,
por algum tempo, mesmo já sendo sexualmente maduros e capazes de voar? (Van
Veen et al., 1997).
Até o momento, as etapas do ciclo de vida dos machos de abelhas sem ferrão, e
sua relação com a idade, haviam sido investigadas de forma fragmentada, e o ciclo
descrito a partir de informações de diferentes espécies. No presente estudo,
apresentamos dados de uma mesma espécie, pela primeira vez, referentes a duas
etapas decisivas no ciclo de vida de um macho. O desenvolvimento da maturidade
sexual e a aquisição da capacidade de voo, aqui explorados, são complementados por
um estudo recente, realizado por Silva (2014). A autora acompanhou 96 machos, a
partir da sua emergência, em quatro colônias de M. flavolineata, registrando
comportamentos intra- e extranidais desses indivíduos. Com o presente trabalho e o
de Silva (2014), temos dados que podem ser analisados em conjunto.
Os machos emergem sem a capacidade de voar (Correa-fernandez & Cruz-
landim, 2010) e de se reproduzir (Camargo, 1984), permanecendo dentro do ninho no
início de sua vida adulta (Cortopassi-Laurino, 1979; Van Veen et al., 1997). Nessa fase,
eles têm acesso à alimentação, interagem constantemente com operárias de
diferentes idades (Veen et al., 1997; Silva,2014), e com outros machos (Silva, 2014). É
nesse contexto, portanto, que se inicia e se completa o desenvolvimento de sua
musculatura alar (Veen et al. 1997; Cruz-Landim 2009; ver Resultados - Início do
comportamento de voo), e a migração de espermatozoides para as vesículas seminais
(ver Resultados – Maturidade sexual em diferentes idades). Os machos de M.
flavolineata, por volta dos 14 dias de vida, iniciam um deslocamento em grupo, em
direção à entrada no ninho (Silva, 2014; comportamento também observado em T.
angustula por Santos, 2012). Demonstramos que aos 10 dias, os indivíduos já iniciaram
33
o comportamento de voo, e muitos já se encontram sexualmente maduros, portanto,
aos 14 dias de idade, poderiam ser considerados completamente aptos a deixar o
ninho. Entretanto, os grupos de machos permanecem próximos à entrada do ninho
durante alguns dias, até que decidem voluntariamente abandonar a colmeia aos 20,5
dias (Silva, 2014), partindo para a formação de agregações reprodutivas.
Para as colônias, manter um macho maduro dentro da colônia (ou vários, como
pudemos constatar), pode representar um risco de endocruzamento. Em
meliponíneos, o acasalamento entre irmãos tem como consequência a produção de
machos diploides (Camargo, 1979; Carvalho, 2001; Alves et al., 2011). Numa colônia, a
presença desses machos não é desejada, uma vez que estes não contribuem com a
força de trabalho (por serem machos), tão pouco com a reprodução (por terem
longevidade reduzida e sua prole não ser viável; Camargo, 1982; Cook & Crozier,
1995). A presença desses machos resulta em elevadas taxas de substituição de rainhas
34
(Alves et al., 2011). Num ciclo vicioso, a colônia produz cada vez mais machos
diploides, consequentemente reduz sua população de fêmeas (em especial de
operárias), reduz os estoques de alimento e, aos poucos, definha (Zayed & Packer,
2005; Hedrick et al., 2006).
As chances de um acasalamento ocorrer dentro do ninho são reais, como ocorre
em outros grupos de abelhas. Em pelo menos seis espécies de abelhas do gênero
Bombus (Apidae: Bombini), os machos têm o comportamento de aguardar por fêmeas,
que estão prestes a emergir, próximos a entrada de seus ninhos (Krüger, 1951; Foster,
1992; Darvill et al., 2007), permitindo que a cópula aconteça no interior dos ninhos,
antes que essas fêmeas saiam para o ambiente. Se considerarmos que as rainhas
fisogástricas dos Meliponini, mesmo após o acasalamento, continuam a atrair machos
(Sakagami & Laroca, 1953; Campos & Melo, 1990; observação pessoal em M.
flavolineata), é possível que estes sejam estimulados a copulá-las dentro da colmeia.
Ou ainda, num contexto de orfandade, existe a possibilidade dos machos tentarem
copular com suas irmãs rainhas virgens, quando estas estão sexualmente atrativas,
uma vez que é processo que se dá dentro do ninho. Em ambas as situações, manter
esses indivíduos pode comprometer a sobrevivência da colônia.
Por outro lado, manter os machos dentro do ninho também pode ser vantajoso
para as colônias. Por mais que os zangões não realizem tarefas ligadas à manutenção
do ninho, sendo muitas vezes considerados como parasitas intra-coloniais (Wilson,
1971; Beani et al., 2014), entendemos que os machos são aquilo que de mais valioso
existe para o superorganismo colônia (Seeley, 1985; Tautz, 2008), os seus gametas de
alta mobilidade. Portanto, representam para a colônia a sua capacidade de dispersar
genes (Seeley, 1985). Assim, ao assegurarem a viabilidade dos zangões até o momento
de sua liberação no ambiente, as colônias favorecem as chances de manterem seus
próprios alelos representados na população.
35
Contexto social e a aptidão reprodutiva
36
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Comparison of age-dependent quantitative changes in the male labial gland
secretion of Bombus terrestris and Bombus lucorum. Journal of Chemical Ecology,
35, 698–705.
41
CAPÍTULO 2
Resumo
42
o desenvolvimento da aptidão reprodutiva de rainhas virgens, que devem ser
adequadas para que elas desenvolvam suas capacidades reprodutivas.
43
Abstract
Investigating the effect of age and social interactions that reproductive females of
eusocial bees experience over their sexual capability, we can get evidence on
reproductive strategies they adopt. In stingless bees, a tribe of eusocial bees, the
reproductive strategies seem to vary as much as their number of species. Our goal was
to describe the development of sexual attractiveness of virgin queens of Melipona
flavolineata throughout adulthood, and test it in different social contexts. Thus, a total
of 124 virgin queens were distributed in two groups of experiments. In the first queens
were placed in 64 minicolonies, where they were kept until they reach certain ages
(categories: 0, 3, 6, 9, 12, 15 and 18). Then, the queens were subjected to six different
social contexts, with a variation in the number of workers and virgin queens present,
where they were manteined for six days. When they had reached the stipulated age,
sexual attractiveness of queens was tested by means of your individual submission on
10 sexually mature drones in a mating arena. The virgin queens become sexually
attractive from the third day of age, remaining attractive up to 18 days. Isolated
queens from social contexts did not become attractive, differing greatly from queens
who have experienced complex social settings such as minicolonies. We show that
attractiveness (number of males attempts) and sexual receptivity (effective matings)
develop in adulthood. The level of attractiveness is maintained at this phase and may
change as a result of experienced social context. With the investigation of sexual
capability, at different times of life of the queens we could get behavioral evidence
about a possible reproductive strategy in Melipona. This strategy is that the queens
must be always ready to mate, by maintaining constant its attractiveness and sexual
receptivity for as long as possible. Moreover, we demonstrated the importance of
social interactions on the development of sexual traits of virgin queens, which should
be adequate to enable them to develop their reproductive capacities.
44
Introdução
“Ela, que chega agora de outro mundo, está ainda atordoada, um tanto pálida,
vacilante. Tem o aspecto débil de um velhinho, que fugiu do túmulo. Parece um viajante
coberto de poeira de caminhos desconhecidos que levam ao nascimento. Entretanto, é perfeita,
dos pés à cabeça, sabe imediatamente tudo que é preciso saber...”
45
Zucchi, 1995). A atratividade, bem como a receptividade, é adquirida ao longo da fase
adulta, e é indicada por traços fisiológicos (e. g. como a produção de compostos
químicos atrativos; Grajales-Conesa et al., 2006; Fierro et al., 2011), morfológicos (e. g.
distensão abdominal; Veen et al., 1999; Kärcher et al., 2013) e comportamentais (e. g.
comportamentos ritualizados, como o de girar repetidamente em torno do próprio
eixo; revisado por Imperatriz-Fonseca & Zucchi, 1995). As rainhas atrativas podem
gerar comportamentos específicos em outros indivíduos. Nas operárias, podem
estimular tanto a formação de corte (ao redor da rainha), como a perseguição e a
própria execução (Wenseleers et al., 2004; Jarau et al., 2009). Ao saírem para o voo
nupcial ou em condições artificiais, atraem os machos para si, e estimulam o
comportamento de cópula (Camargo, 1972; Engels & Engels, 1988; Imperatriz-Fonseca
et al., 1998).
As rainhas de Melipona acasalam apenas uma vez, com um único macho, sendo
assim, monândricas (Strassmann, 2001; Jaffé et al., 2014). Além disso, como nas
demais abelhas sem ferrão, suas colônias apresentam apenas uma rainha dominante
(Michener, 2007), com exceção de Melipona bicolor (Velthuis et al., 2006).
Percebemos, então, que a possibilidade de uma rainha ser reprodutivamente bem-
sucedida, dentre tantas outras, se torna mais restrita a cada passo que dá em direção à
fisogastria. É esperado, portanto, que a elevada quantidade de rainhas virgens
produzidas gera uma intensa competição por oportunidades reprodutivas (Koedam et
al., 1995; Van Veen et al., 1999; Kärcher et al., 2013).
47
Material e métodos
Procedimentos gerais
Obtenção de indivíduos
Por sua vez, os machos utilizados na última etapa dos experimentos foram
obtidos de agregações reprodutivas localizadas próximo às colônias co-específicas. Por
48
encontrarem-se no ambiente, assumimos que todos os machos utilizados estavam
sexualmente maduros (Capítulo 1).
49
a b
Desenho experimental
a b
51
Um total de 60 rainhas virgens foi distribuído em sistemas de criação confinados.
As rainhas experimentais foram introduzidas individualmente em placas de Petri ou
minicolônias diferentes. Antes da introdução, cada uma teve suas asas cortadas à
metade, no intuito de impedir fugas.
Cada tratamento foi montado com rainhas recém-emergidas, as quais
permaneceram em diferentes níveis de condição social até seis dias após a
emergência. Ao atingirem essa idade, a atratividade sexual foi testada através do
método usado no experimento anterior (apresentação individual de cada rainha a dez
machos maduros diferentes, em uma arena de cópula confinada).
Nos tratamentos com duas rainhas virgens, sempre foram acondicionadas
rainhas emergidas no mesmo dia, porém de origens diferentes. Ao completarem seis
dias de vida, testamos o nível de atratividade de ambas. Para a realização dos testes
estatísticos, utilizamos apenas os dados referentes às rainhas que atraíram machos. Se
numa dupla de rainhas nenhuma provocou eversões em machos ou o mesmo número
de eversões, a primeira foi escolhida para ser incluída nas análises.
52
Tabela 1 – Descrição dos tratamentos correspondentes aos diferentes níveis de
contexto social, em que foram mantidas as rainhas virgens de Melipona flavolineata
durante seis dias após a emergência.
Condição de Significado do
Tratamento Descrição do tratamento
criação tratamento
Contexto social
Duas rainhas virgens
completo e
C6 acompanhadas de várias Minicolônia
competição entre
operárias (n = 10)
rainhas virgens
53
Resultados
54
diferença no nível de atratividade entre rainhas pertencentes a diferentes categorias
(KW-H (6;64) = 22,775; p = 0,0009). A categoria 0 dias foi a que mais diferiu das
demais, uma vez que essas rainhas não manifestaram atratividade (Figura 3).
55
7
KW-H(6;64) = 22,7754; p = 0,0009
b
6
1
a
0
-1
0 3 6 9 12 15 18
Idade das rainhas virgens (dias)
Qual o efeito do contexto social sobre a atratividade sexual das rainhas virgens?
Dos 60 testes realizados com rainhas com seis dias de idade, em diferentes
contextos sociais, 40% (n = 24) se tornaram sexualmente atrativas, ocorrendo cópulas
efetivas em 1,66% dos eventos (n = 1; contexto social C2: rainha virgem acompanhada
de 10 operárias, em placa de Petri). Observamos que houve diferença na atratividade
de rainhas virgens provenientes de diferentes contextos sociais (KW-H(5,60) = 24,624; p
= 0,0002). As rainhas pertencentes ao contexto de minicolônias (com ou sem
competição com outra rainha, respectivamente C5 e C6) provocaram maior número de
eversões em machos maduros, quando comparadas com as demais (Figura 4).
Constatamos ainda que nenhuma das rainhas virgens sem contexto social (C1) se
tornou atrativa (Figura 4).
56
7
KW-H(5,60) = 24,624; p = 0,0002
b
6 Mediana 25%-75% Mín-Máx
-1
C1 C2 C3 C4 C5 C6
Contextos sociais
57
Discussão
58
de abelhas sem ferrão (não-Melipona), nota-se que as rainhas de Melipona
desenvolvem a atratividade muito mais rápido. Em S. postica (Engels & Engels, 1988;
Engels et al., 1997) as rainhas se tornam atrativas entre 10 e 12 dias, e em T.
angustula, entre 12 e 14 dias (Santos, 2012). Em ambas as espécies, as rainhas levam
cerca de três a quatro vezes mais tempo que as rainhas de M. flavolineata (ver
Resultados). A antecipação da aptidão reprodutiva também foi registrada em outras
Melipona, por exemplo, em M. quadrifasciata e M. favosa, em que Silva et al. (1972) e
Sommeijer et al. (2003), respectivamente, observaram rainhas virgens entre um e oito
dias de idade sendo aceitas em colônias órfãs, e saindo do ninho para realização do
voo nupcial. Camargo (1972), em seu estudo sobre acasalamentos em condições
controladas, obteve cópulas bem-sucedidas de M. quadrifasciata, utilizando rainhas
virgens ainda mais jovens, com menos de 24h de emergidas.
60
Aptidão reprodutiva de rainhas virgens e o contexto social
Os zangões não foram atraídos por rainhas que nunca participaram de interações
sociais, mas tentaram copular com as rainhas que vivenciaram diferentes contextos.
Uma vez que o interesse dos machos por rainhas é mediado por sinalizações químicas
específicas, através de feromônios sexuais produzidos por elas (Ayasse et al., 2001;
Fierro et al., 2011), podemos supor que as rainhas que não se tornaram atrativas não
produziram tais compostos. Novos experimentos devem ser realizados para
61
demonstrar se esses compostos de fato não são produzidos por rainhas isoladas do
contexto social.
62
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Press, Cambridge.
66
CAPÍTULO 3
Resumo
68
Abstract
The costs of a mating between genetically related individuals is high, the most
alarming case being between brothers and sisters. As a result of inbreeding, colonies of
stingless bees lose half of its workforce, and the dominant queen is eliminated in a
short time. Such details of the reproductive biology of stingless bees, among others,
should be considered when the goal is to create techniques to control the
reproduction of these bees. Reproduction is an important step, and control it will
speed up the foundation of new nests. However, control techniques still run into gaps
in basic knowledge on these bees, as the ability of virgin queens in choosing their
sexual partners. The aim of our study was to test the performance (and success) of
matings in artificial conditions in the species Melipona flavolineata, and test whether
the virgin queens are able to decide on the occurrence of copulation. A total of 39
queens was distributed in two experiments. In the first, 15 queens were presented
individually to 10 sexually mature males in confined mating arenas. The same queen
was used in two physiological conditions: a) normal; b) inert (drugged by the use of
CO2), resulting in paired samples. Then, 24 virgin queens were individually presented in
two environments: a) confined in mating arena; b) in the field, next to a cluster of
reproductive males, also resulting in dependent samples. In both cases, we counted
the number of males who tried to mate with the queens and the effective amount of
matings. During the tests, we observed virgin queens preventing the occurrence of
matings by actively closing their genital plates. Thus, most of the males in an attempt
to copulate, released the endophallus, being unable to enter it into the gyne. In the
first experiment, matings indeed took place only when the queens were inert (66%; n =
10), prevented from taking any decision in relation to their potential partners. In the
second, matings occurred only in the field, with low success (8.33%, n = 2). One
hypothesis that could explain these behaviors would be that queens are trying to avoid
inbreeding. If they really can identify a related male and use it as a reason to decide to
mate or not, is a hypothesis that remains to be tested in stingless bees.
Key words: mating behavior, mating arena, male eversion, narcotizing, inbreeding.
69
Introdução
71
criação racional e o manejo das abelhas sem ferrão, atividade econômica conhecida
como meliponicultura (Nogueira-Neto, 1953; 1997).
Material e métodos
72
Procedimentos gerais
Obtenção de indivíduos
73
Desenho experimental
A seguir são apresentados os procedimentos de dois experimentos: a)
acasalamentos com rainhas virgens em diferentes condições fisiológicas (normais ou
inertes); b) acasalamentos em diferentes ambientes (campo e em confinamento).
Nesses experimentos, tentamos induzir acasalamentos entre rainhas virgens e machos
em condições controladas, observando seus comportamentos e registrando a
ocorrência de tentativas de cópulas e a de cópulas efetivas.
74
Figura 1 – Rainha virgem de Melipona flavolineata, indicada pela seta, sendo induzida
à narcose através da exposição ao fluxo de CO2, que passa através do tubo
transparente sem cor. A rainha encontra-se dentro do tubo transparente azul, que
contém um pequeno orifício na extremidade mais fina, por onde flui a corrente de
CO2. Foto: Jamille Veiga.
Cada teste teve duração total de três minutos, durante os quais contabilizamos o
número de tentativas de acasalamento com eversões, por parte dos machos (número
de perdas da genitália masculina), e o número de acasalamentos efetivos (número de
machos que introduziram a sua genitália na fêmea). A arena de cópula utilizada
consistiu numa caixa de madeira (dimensões: 12 cm x 12 cm x 6 cm), coberta por uma
lâmina de vidro, assim permitindo a visualização do seu interior. Após os testes, as
rainhas virgens foram acondicionadas em placas de Petri (9 cm de diâmetro), contendo
75
12 operárias (ainda incapazes de voar) e alimento ad libitum (pólen fermentado e mel
de Apis mellifera).
76
perdas da genitália masculina), e o número de acasalamentos efetivos (número de
machos que introduziram a sua genitália na fêmea).
Meliponário
77
Análises dos dados
Resultados
78
Observamos também outros dois comportamentos compartilhados entre os
ambientes. O primeiro deles foi o fechamento das placas genitais, por parte das
rainhas, enquanto os machos tentavam copular com elas. Esse comportamento
sempre precedia o segundo comportamento inesperado, a perda do endófalo por
parte dos machos (Figura 4a; para visualizar os comportamentos, acesse:
http://migre.me/oPhJL). Ao everterem suas cápsulas genitais, e incapazes de inseri-las
com sucesso nas rainhas virgens, os machos perdiam definitivamente seu órgão
copulador (Figura 4c). Apenas em campo, observamos um macho de outra espécie, M.
melanoventer, sendo atraído por uma rainha de M. flavolineata, e evertendo sua
genitália, sem conseguir inseri-la na rainha virgem.
79
a b
c d
80
Em até três dias após os procedimentos de acasalamento, e subsequente
acondicionamento das rainhas em placas de Petri, nove rainhas morreram. Portanto,
procedemos à dissecção das espermatecas para verificar se as mesmas estavam
repletas de sêmen. Constatamos que, dessas nove rainhas, cinco foram inseminadas
com sucesso. Dentre as acasaladas, tivemos uma que sobreviveu aos procedimentos,
desenvolveu fisogastria e fundou uma colônia independente.
Tabela 1 – Número de tentativas (eversões dos machos) e cópulas bem sucedidas com
rainhas virgens de Melipona flavolineata em condições normais ou inertes
(narcotizadas pelo uso de CO2).
Rainhas em condições
Rainhas narcotizadas
normais
(Depois do CO2)
Rainha # (Antes do CO2)
Cópulas Cópulas
Eversões Eversões
efetivas efetivas
1 4 0 1 0
2 1 0 0 1
3 0 0 0 0
4 4 0 0 1
5 3 0 0 1
6 2 0 0 1
7 2 0 0 1
8 3 0 0 1
9 5 0 1 1
10 9 0 0 1
11 3 0 0 1
12 1 0 0 0
13 2 0 0 0
14 0 0 0 1
15 3 0 0 0
81
Acasalamentos em diferentes ambientes
82
Tabela 2 – Número de tentativas (eversões dos machos) e cópulas bem sucedidas com
rainhas virgens de Melipona flavolineata em arenas de cópula e no agregado
reprodutivo.
1 2 0 19 0
2 1 0 8 0
3 0 0 0 0
4 0 0 5 0
5 1 0 5 0
6 0 0 10 0
7 0 0 0 0
8 1 0 0 0
9 0 0 3 1
10 1 0 6 0
11 2 0 2 0
12 1 0 3 0
13 3 0 0 0
14 0 0 0 0
15 0 0 0 0
16 1 0 0 0
17 0 0 0 0
18 0 0 2 0
19 3 0 0 0
20 0 0 0 0
21 0 0 0 0
22 0 0 0 0
23 4 0 1 0
24 0 0 9 1
83
Discussão
84
pequenas colônias, a machos sexualmente maduros em arenas de cópula. Tal
procedimento foi repetido com sucesso em outros estudos que, utilizando a mesma
espécie, também obtiveram acasalamentos efetivos (Bezerra, 1995; Melo et al., 2001).
Contudo, nenhum desses estudos registrou a eversão do endófalo dos machos em
consequência do fechamento das placas genitais de rainhas atrativas. Considerando
que esses comportamentos são bastante específicos (o fechamento das placas e a
eversão do endófalo), e possíveis indicadores de uma forte seleção de parceiros, ou
das condições adequadas para a ocorrência de cópulas, acreditamos que os
acasalamentos sejam rigidamente controlados em M. flavolineata. Sendo assim, a que
se deve esse controle tão intenso?
Os machos férteis dos meliponíneos se originam de ovos não fecundados (ou
haploides), enquanto as fêmeas, rainhas virgens ou operárias, se originam de ovos
fecundados (ou diploides) (Wilson, 1971; Heimpel & de Boer, 2008). Nos meliponíneos,
adicionalmente ao sistema haplo-diploide de determinação do sexo dos himenópteros,
existe outro sistema que contribui na determinação sexual, o sistema complementar
de determinação do sexo com lócus único (single-locus complementary sex
determination, em inglês; Cook & Crozier, 1995). Devido a esse sistema, existe a
possibilidade genética de surgir um novo tipo de indivíduo, o diploide homozigoto
(para lócus sexual), que dará origem a machos inférteis e menos longevos, os machos
diploides (Camargo, 1979; 1982). Essa possibilidade se torna real quando ocorrem
endocruzamentos, ou seja, acasalamentos entre indivíduos que compartilhem o
mesmo alelo no lócus sexual, sendo a combinação mais alarmante entre irmãos (Cook
& Crozier, 1995; Zayed & Packer, 2005; Hedrick et al., 2006). Como consequência, uma
população que seria completamente dominada por fêmeas, se torna composta por
50% de machos diploides.
A presença de machos diploides em uma colônia não é desejada, uma vez que
estes não contribuem com a força de trabalho (por serem machos), tão pouco com a
reprodução, por terem longevidade reduzida e sua prole não ser viável (Camargo,
1982; Cook & Crozier, 1995). Ao invés de valiosos, como são os machos haploides, os
diploides representam um custo para a colônia. O endocruzamento, portanto, é um
grave problema para as populações de abelhas sem ferrão. A produção desses machos
85
resulta em elevadas taxas de substituição de rainhas (Alves et al., 2011), um
mecanismo das operárias para reverter a situação.
Porém, existem mecanismos de evitar que os endocruzamentos aconteçam nas
populações naturais. Um deles é promover a dispersão dos machos dos seus locais de
origem (observado em M. favosa, Sommeijer & Bruijn, 1995; em S. mexicana, Mueller
et al., 2012; e em T. angustula, Santos, 2012). Nossos resultados sugerem estratégia
complementar, que seria o intenso controle da cópula pelas rainhas virgens. Em
condições artificiais, registramos que as rainhas oferecem resistência ao acasalamento,
fechando ativamente suas placas genitais e, mesmo assim, provocam eversões da
genitália dos machos. Uma hipótese que poderia explicar esses comportamentos seria
que tais rainhas estão tentando evitar cópulas com indivíduos geneticamente
relacionados e, ainda, conseguem eliminá-los da população de “machos disponíveis”,
penalizando-os com a perda da sua única chance de acasalar.
O acasalamento com um irmão pode acontecer em dois contextos, o primeiro
seria fora dos ninhos, em agregados reprodutivos compostos por machos de ninhos
próximos. Esse cenário depende da densidade de colônias no local, bem como do nível
de isolamento genético da população (Alves et al., 2011; Taft & Roff, 2012). Quanto
menor a diversidade da população, maiores são as chances de uma rainha virgem
acasalar com um macho irmão. Por outro lado, devido às baixas taxas de enxameação
em meliponíneos (Roubik, 2006; Oliveira et al., 2013), e ao curto raio de dispersão de
seus enxames (Nogueira-Neto, 1954; Sakagami, 1982; Roubik, 2006), é de se esperar
que o endocruzamento seja uma ameaça real às populações naturais dessas abelhas.
Contudo, nesse contexto dificilmente uma rainha virgem conseguiria distinguir um
macho irmão de outro macho. Mais provável é que ela utilize a capacidade de escolha
para decidir, dentre os machos disponíveis, aquele que tenha melhores aptidões (e. g.
capacidade de voo, força para dominá-la, dentre outros).
O segundo contexto seria dentro dos ninhos. Embora nunca tenha sido
comprovada em meliponíneos, a ocorrência de acasalamentos entre irmãos dentro das
colmeias (em condições naturais), como ocorre em pelo menos seis espécies de
Bombus (Krüger, 1951; Foster, 1992; Darvill et al., 2007), a possibilidade existe. Como
demonstramos, os machos das abelhas sem ferrão se tornam sexualmente maduros e
permanecem por algum tempo dentro dos ninhos (Capítulo 1; Van Veen et al., 1997). A
86
permanência desses machos no mesmo ambiente em que as rainhas virgens se tornam
sexualmente atrativas e receptivas (Capítulo 2; Jarau et al., 2009; Kärcher et al., 2013),
são eventos que podem favorecer a ocorrência de endocruzamentos dentro dos
ninhos. Isso reforça, mais uma vez, que a habilidade das rainhas virgens em fechar as
placas genitais pode ser interpretada como um mecanismo para evitar acasalamentos
com irmãos. Para identificá-los, as rainhas podem ser guiadas através de pistas
químicas, como fazem as vespas escavadoras (Herzner et al., 2006), ou as abelhas
primitivamente eussociais do gênero Bombus (Foster, 1992); especialmente através
dos perfis de hidrocarbonetos da cutícula, os quais costumam apresentar uma
porcentagem compartilhada entre indivíduos relacionados (Nunes & Turatti, 2009;
Pianaro et al., 2009; Ferreira-Caliman et al., 2013). Se elas realmente fazem essa
identificação e usam-na como motivo para decidir acasalar ou não, é uma hipótese que
ainda precisa ser testada em meliponíneos.
Destacamos, contudo, que o baixo número de acasalamentos em campo pode
não ter relação com um mecanismo para evitar endocruzamentos, e sim com uma
falha natural na proporção de fêmeas que irão acasalar de fato em uma dada
população (Rhainds, 2010). Em condições experimentais, Camargo (1976) observou
que em M. quadrifasciata, 35% das rainhas virgens nunca copulam. Devido à
diversidade de espécies em Meliponini, é possível que essa margem de falhas de
cópula também seja variável, mesmo dentro de um único gênero.
87
É importante destacar que, em vários testes, algumas rainhas não atraíram
machos em confinamento, mas o fizeram quando apresentadas em campo (Tabela 2).
Isso indica que, ao levar certa quantidade de machos ao confinamento, pode-se estar
selecionando indivíduos que talvez não respondam aos estímulos visuais e químicos
das rainhas virgens atrativas (Engels et al., 1993; Imperatriz-Fonseca & Zucchi, 1995;
Jarau et al., 2009; Fierro et al., 2011; Kärcher et al., 2013).
Esse raciocínio é reforçado pelo que aconteceu quando apresentamos as rainhas
virgens próximas ao agregado reprodutivo, onde no máximo 19 machos, dentre
aproximadamente 100 indivíduos, realizaram o “voo de patrulha” em busca das
fêmeas ofertadas. Sugerindo, finalmente, que apenas uma porcentagem desses
indivíduos é estimulada pela presença de determinada rainha virgem. Logo, ao levar os
zangões para o confinamento, corre-se o risco de selecionar indivíduos que nunca
seriam estimulados por aquela rainha virgem, mesmo em condições naturais,
excluindo aqueles que demonstrariam interesse (Sommeijer et al., 2004). Uma solução
para esse problema é se utilizar de grande número de machos, como feito por Engels
& Engels (1988), também em testes de confinamento.
Observamos ainda que um macho de outra espécie, M. melanoventer, foi atraído
por uma de nossas rainhas virgens (M. flavolineata), realizando o mesmo
comportamento observado em machos anteriores: everteu sua genitália, sem
conseguir inseri-la na rainha virgem. A presença de outras espécies num agregado de
machos de determinada espécie tem sido observada nos meliponíneos (Santos et al.
2014; observação pessoal). Mas uma rainha virgem atraindo um macho de espécie
diferente da sua é um acontecimento nunca registrado. Essa observação é, no mínimo,
interessante, e reforça a possibilidade de ocorrência de hibridização entre espécies
dentro de Melipona (registrado entre M. scutellaris e M. capixaba; Nascimento et al.,
2000).
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Discussão geral e considerações finais
O ciclo de vida dos sexuados (machos e rainhas virgens) da abelha sem ferrão
Melipona flavolineata tem início quando estes ainda se encontram dentro do ninho.
Ao longo da vida adulta, os machos desenvolvem a maturidade sexual e a habilidade
de voo, as quais se estabilizam entre 10 e 15 dias de idade (Capítulo 1). Da mesma
forma, as rainhas virgens desenvolvem atratividade e receptividade sexual, a qual se
manifesta antecipadamente no início da fase adulta e mantem-se constante ao longo
dela, podendo sofrer alterações devido ao contexto social em que as rainhas estão
inseridas (Capítulo 2).
94
et al., 2011; Venturieri et al., 2012) as informações levantadas com o presente estudo
podem incrementar, futuramente, as práticas de manejo nessa espécie. Tais práticas
atualmente estão bem estabelecidas apenas para a produção de mel e a multiplicação
de ninhos (Magalhães & Venturieri, 2010; Contrera et al., 2011), enquanto o manejo
específico para a produção massal de colônias ainda esbarra em questões básicas,
como o conhecimento da biologia reprodutiva. Agora, temos informações sobre como
criar machos e rainhas virgens em laboratório (Capítulos 1 e 2) para serem utilizados
em acasalamentos sob condições controladas (assim como temos para M.
quadrifasciata; Camargo, 1972; 1976). E, sabendo que a indução de acasalamentos em
condições artificiais tem baixo sucesso em M. flavolineata (como teve em Apis
mellifera; Réaumur, 1740; Nowakowski & Morse, 1971) os esforços de pesquisa podem
ser direcionados para outras técnicas de controle da reprodução, como os núcleos de
fecundação e a inseminação artificial (Laidlaw, 1944; Woyke, 1962; Baer & Schmid-
Hempel, 2000; Cobey et al., 2013).
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