Seção Iv: Ambiente Construído: Planejamento Urbano E Mobilidade Habitação de Interesse Social
Seção Iv: Ambiente Construído: Planejamento Urbano E Mobilidade Habitação de Interesse Social
Seção Iv: Ambiente Construído: Planejamento Urbano E Mobilidade Habitação de Interesse Social
AMBIENTE CONSTRUÍDO
PLANEJAMENTO HABITAÇÃO DE
URBANO E INTERESSE
MOBILIDADE SOCIAL
1 2
OPERAÇÃO E
INFRA-ESTRUTURA MANUTENÇÃO
VERDE DOS ESPAÇOS
3 4 PÚBLICOS
Cecilia Herzog
Versão Executiva
Novembro 2010
TEORIA E PRATICA EM CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS NO BRASIL – PROJETO CCPS
CECILIA HERZOG
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TEORIA E PRATICA EM CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS NO BRASIL – PROJETO CCPS
3.1. CONTEXTUALIZAÇÃO
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sempre que possível. Esses espaços ganhos dos veículos são devolvidos para os cidadãos
para que ruas voltem a ser lugares vivos, de encontros sociais e com comércio e serviços
ativos.
O planejamento da infraestrutura verde integra os modos de transporte, de modo a
permitir que pedestres e bicicletas utilizem meios de transporte de massa de maneira
articulada e confortável. A inserção de paisagens urbanas produtivas – agricultura urbana
em diversas escalas e agroflorestas -, deve ser considerada no planejamento urbano, e
incentivada em todos os locais possíveis. Bem planejada, implementada e monitorada a
infraestrutura verde pode se constituir no suporte para a resiliência das cidades. Pode ser
um meio de adaptar e regenerar o tecido urbano de modo a torná-lo resiliente aos
impactos causados pelas mudanças climáticas e também preparar para uma economia de
baixo carbono.
Aumenta a capacidade de resposta e recuperação a eventos climáticos, propicia mudança
das fontes de energias poluentes ou de alto custo para fontes renováveis, promove a
produção de alimentos perto da fonte consumidora, além de melhorar a saúde de seus
habitantes ao possibilitar transportes ativos como caminhada e bicicleta. Para que o
planejamento e projeto da infraestrutura verde sejam de fato eficientes e eficazes, é
preciso ter uma abordagem sistêmica, abrangente e transdisciplinar. Depende de um
levantamento detalhado dos aspectos abióticos, bióticos e culturais. Inicialmente é preciso
fazer um mapeamento dos condicionantes geológicos, geomorfológicos, hídricos (de
preferência ter a bacia hidrográfica como unidade de macroplanejamento), climáticos,
cobertura vegetal, e uso e ocupação do solo.
Também é importante conhecer a biodiversidade local. Levantar dados e mapas históricos
de uso e ocupação do solo, de hábitos e da cultura local. Conhecer o mais profundamente
o lugar. O processo deve ser dinâmico e flexível, além de efetivamente participativo
contando com representantes de todos os segmentos da sociedade que serão afetados pelo
projeto. É necessário identificar os anseios e problemas trazidos pela comunidade, em
busca de novas idéias fruto da vivência e experiência do lugar. Esse engajamento dos
usuários no desenvolvimento do planejamento e projeto é essencial para que seja a
infraestrutura verde seja sustentável no longo prazo. O diagnóstico irá indicar quais as
oportunidades e as limitações da área.
Idealmente, a infraestrutura verde deve ser planejada antes da ocupação, assim áreas
frágeis e de grande valor ambiental podem ser conservadas, como: áreas alagadas,
corredores ripários e encostas instáveis com risco de deslizamento.
A integração desses espaços na infraestrutura verde irá garantir a manutenção dos
serviços ecossistêmicos (ver quadro de serviços ecossistêmicos), como água e ar limpos,
estabilização de encostas de forma natural, prevenção de enchentes e deslizamentos,
conexão de fluxos hídricos e bióticos, prevenção de assoreamento entre outros.
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TEORIA E PRATICA EM CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS NO BRASIL – PROJETO CCPS
3.3.2. Bioengenharia
Técnicas ecológicas de contenção de muros, taludes e encostas que utilizam
conhecimentos milenares, com a combinação de materiais inertes e vegetação. Vem
substituir técnicas convencionais de engenharia para contenção de encostas e margens de
corpos d„água.
Figura 2 - Técnica de bioengenharia para contenção de margens Figura 3 - Técnica de bioengenharia para contenção de encostas
de cursos d‟água (fonte: Jack Ahern) em estradas.
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3.3.3. Biovaleta
São jardins lineares em cotas mais baixas ao longo de vias e áreas de estacionamentos.
Recebem as águas contaminadas por resíduos de óleos, borracha de pneus, partículas de
poluição e demais detritos. Promovem uma filtragem inicial.
Figura 4 - Biovaleta em estacionamento em Auckland, Figura 5 - Canteiro Pluvial, SW 12th street - projeto de Kevin
Nova Zelândia (Crédito: Maria Ignatieva) Robert Perry, Portland, Estados Unidos (Crédito: Maria
Ignatieva)
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Figura 9 - Teto verde em hotel em Bonn, Alemanha. Figura 10 - Muro vegetal em Paris, em rua de pouco movimento
e visibilidade.
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Figura 11 - Piso poroso na calçada e na gola da árvore. Permite Figura 12 - Estacionamento drenante da Ópera
circulação de pedestres em calçadas estreitas e área de proteção de Bayreuth, Alemanha.
do solo para a saúde da árvore. Freiburg, Alemanha.
Figura 13 - Freiburg, Alemanha. Rua verde Figura 14 - Via de uso múltiplo ou Rua Completa em Charlotte2,
Estados Unidos.
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Disponível em http://www.sf-planning.org/ftp/BetterStreets/index.htm acesso em 26 de junho de 2010
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Figura 15 - Escola do ensino médio Mount Tabor: Antes Figura 16 - Depois: jardim de chuva, introdução de
espaço impermeável, monofuncional. biodiversidade, visibilidade para os processos naturais, educação
ambiental – espaço multifuncional (projeto de Kevin Perry)
Atualmente, o cultivo de alimentos nas cidades faz parte de pautas que tratam de
sustentabilidade e resiliência urbana, e até mesmo de segurança nacional, como é o caso
da O planejamento e incentivo de áreas produtivas, jardins e hortas comunitários em
locais públicos e privados tem tomado mais força, na medida em que o abastecimento
distante leva ao consumo de energia e a emissões de gases de efeito estufa que podem ser
evitados. Além disso, o cultivo orgânico é preocupação cada vez mais freqüente em
muitos países, não apenas pela segurança alimentar, mas também pela contaminação das
águas e do solo causada pelo uso de agrotóxicos.
Criar e aproveitar oportunidades para paisagens produtivas e mercados de produtores nas
cidades tem inúmeras vantagens, dentre as quais a possibilidade de socialização e
educação sobre as fontes de alimentos, que estão muito distantes dos moradores das
grandes cidades. Agricultura urbana e agrofloresta são meios de desenvolver atividades
econômicas integradas às potencialidades naturais locais, à conservação da biodiversidade
e dos serviços ecossistêmicos em áreas urbanas.
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TEORIA E PRATICA EM CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS NO BRASIL – PROJETO CCPS
Quanto aos parques lineares ao longo de rios, estes devem ser corredores verdes
multifuncionais. Devem ter vegetação adequada às condições variáveis de umidade e ser
nativa. Os corredores verdes, além de proteger e manter a biodiversidade, têm função de
infiltrar as águas das chuvas, evitar o assoreamento dos corpos d‟água, abrigar vias para
pedestres e ciclistas, áreas de lazer e contemplação.
3
Região visitada pela autora em julho de 2007
4
Disponível em http://sustainablecities.dk/en/city-projects/cases/emscher-park-from-dereliction-to-scenic-
landscapes acesso em 24.06.2010
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.
Figura 19 e 20 - Parque Emsher da Paisagem. Alagado em antiga área
industrial, restaurou ecossistemas úmidos locais. Recuperação do rio
Emsher, rio morto por poluição de esgotos e resíduos industriais, hoje é
rico em biodiversidade e em atividades sócio-culturais
Berlim possui uma infraestrutura verde na escala urbana que interliga inúmeros parques e
mantém a conectividade dos rios. O planejamento urbanístico estabelece o Biotope Area
Factor – BAF (fator de biótopo/habitat de área), ou seja, calcula o índice de superfícies
vegetadas e permeáveis que abrigam biodiversidade e drenam as águas das chuvas no
local em uma determinada área. Esse fator faz com que as áreas urbanizadas, na medida
em que novas obras e renovações são licenciadas, se transformem em áreas
ecologicamente relevantes, multifuncionais. Assim passam a integrar a infraestrutura
verde, por restabelecerem as funções naturais de drenagem, habitat para biodiversidade,
redução do consumo de energia, captura de carbono. Ou seja, passam de infraestrutura
cinza para infraestrutura verde.
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as áreas urbanizadas. Na escala local trabalha junto com os proprietários para manter
consistência com o plano maior. As regras construtivas são bastante restritivas, não são
apenas parâmetros máximos e mínimos.
O planejamento urbano nas últimas duas décadas foi desenvolvido tomando como
referência os problemas causados por ocupações mal planejadas anteriormente -
“aprender planejando”. A articulação dos meios de transporte de baixo impacto pode ser
conferida no edifício verde (utiliza energia solar) onde os ciclistas guardam as bicicletas
para pegar o VLT, trens ou ônibus situados na estação central multimodal que abriga
hotel, comércio, serviços e escritórios.
Figura 26 - Freiburg. Vista edifício garagem de bicicletas do viaduto por onde passa o VLT. Figura 27 - Interior do edifício. Figura 28
- Parque urbano no centro de Rieselfeld, Freiburg, Alemanha. A construção com teto verde abriga quadras poliesportivas em meio a
diversos espaços para lazer, recreação e cultura. Figura 29 - Estacionamento e pavimentação drenantes.
O bairro de Rieselfeld foi criado onde antes era o destino de todo o esgoto da cidade
durante anos. Um cinturão verde, que tem áreas de preservação e rurais, foi projetado
para garantir a qualidade de vida do local e abrigar vida silvestre. A drenagem é toda
naturalizada, com uma sucessão de jardins, biovaletas, lagoas de retenção e detenção, vai
das edificações até a lagoa de detenção localizada na reserva ecológica. Uma pista de
bicicletas passa pela periferia do bairro e permite circular até a cidade e o interior do
cinturão onde está localizado um zoológico5.
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Cidade visitada pela autora em maio de 2010
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TEORIA E PRATICA EM CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS NO BRASIL – PROJETO CCPS
Nos dois bairros, Rieselfeld e Vauban, o tram, ou bonde moderno (VLT) foi projetado
antes do início da construção das casas. Conecta os bairros com o resto da cidade, integra
a infraestrutura verde, pois o pavimento é poroso e tem áreas com relvado. É um exemplo
de multifuncionalidade aliada a um meio de transporte de massa. A energia solar é visível
em quase todos os lugares de Freiburg, o que ocorre até mesmo em pequenas cidades no
interior da Alemanha.
Figura 32 - Vauban, Freiburg. Rua verde com biovaletas, prioridade para pedestres e ciclistas.
Figura 33 - Drenagem dos telhados conduzida por piso poroso para infiltração em chuvas normais.
Em Paris, o que era uma antiga linha ferroviária foi transformada na Promenade Plantée
um corredor multifuncional que conecta a região oeste da cidade, da praça da Bastilha até
o anel rodoviário Péripherique destinado a pedestres e ciclistas (ver fig. 36 a 39).
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TEORIA E PRATICA EM CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS NO BRASIL – PROJETO CCPS
Em Nanterre, área periférica próxima à La Défense, o parque Chémin d´Île (ver figs. 42 a
44) é multifuncional, centrado em atraentes alagados construídos que filtram as águas
antes de irem para o rio Sena, por onde se pode circular por passarelas e observar os
caminhos das águas e a variedade de espécies de flora e fauna presentes no local.
Aproveita uma área sob a autoestrada que chega na cidade. Seguindo ao longo do rio
existem áreas de cultivo agrícola que fazem parte do programa da Fédération des Jardins
Familliaux et Collectifs fundado em 1904. São áreas destinadas à população, que podem
ser alugadas por valor simbólico, onde não apenas cultivam o solo, mas mantêm as
relações sociais e com as fontes de alimentos e contato com a natureza. Vale frisar que os
parques têm programação e informações que podem ser acessados por sítios na internet.
6
Disponível em http://acaba.typepad.fr/.a/6a00e54efb082d883301310f1c75a2970c-500pi acesso em 15 de
junho de 2010
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Figura 43 - Nanterre. Parque ao longo do rio Sena, com hortas urbanas sob as linhas de transmissão.
Figura 44 - Nanterre. Horta sob as linhas de transmissão – Jardins Ouvriers.
Cidades dos Estados Unidos entraram numa competição pela sustentabilidade, que gerou
até mesmo um ranking nacional da cidade mais verde. Até o último ranking publicado
Portland, em Oregon é a campeã. A cidade do noroeste americano tem projetos de ponta
na área de drenagem urbana naturalizada (LID – Low Impact Development), com ruas
verdes que incorporam jardins-de-chuva para coletar, drenar e filtrar as águas do
escoamento superficial das vias e calçadas. Os projetos são desenvolvidos com a efetiva
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TEORIA E PRATICA EM CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS NO BRASIL – PROJETO CCPS
Seattle, também no noroeste do país, é uma cidade que desenvolveu no ano 2000 um
plano para 100 anos: Seattle 2100. Foi feito em conjunto com a comunidade e a
universidade, com a participação em oficinas para que o plano motivasse os interessados
na área. O resultado é um plano dinâmico que vai sendo adaptado ao longo do tempo.
Atualmente, a cidade dispõe de inúmeros exemplos de infraestrutura verde implantadas
em escala local, como jardins-de-chuva, biovaletas, detenção em níveis entre outros. As
duas cidades atraem empresas de tecnologia de ponta por oferecerem uma qualidade de
vida excepcional, o que ativa a economia local. A exemplo de Berlim, desenvolveu o
Seattle Green Factor (fator verde de Seattle), que estabelece 30% de área permeável e
vegetada e atribui pontos para o licenciamento de reformas e novas obras.
Figura 49 - Seattle, Washington, EUA. Canal adjacente ao riacho Thornton. (crédito: Nate Cormier)
Figura 50 - Seattle, Washington, EUA. Jardim de chuva no loteamento High Point. (crédito: Nate Cormier)
Figura 51 - Coleta de água em Growing Vine, alia manejo de águas das chuvas com arte de Buster Simpson
Figura 52 - Canteiros em declive para infiltração das águas em Growing Vine.
Figura 53 - Drenagem naturalizada em Growing Vine, degraus para interação das pessoas com os processos naturais Seattle,
Washington, EUA. (crédito de fotos: Nate Cormier)
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TEORIA E PRATICA EM CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS NO BRASIL – PROJETO CCPS
Figura 54 - High Line: corredor verde sobre elevado de antiga linha de trem desativada.
Figura 55 - Foto do slide de James Hunt durante a apresentação do plano verde de Boston, onde demarca a área do centro
administrativo da cidade que será alterado para se tornar ecológico.
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TEORIA E PRATICA EM CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS NO BRASIL – PROJETO CCPS
Figura 56 e 57 - Boston. BigDig - Demolição de elevado no centro de Boston. Transformação urbana com alto custo financeiro
Chicago é uma das cidades que mais tem investido em busca soluções para tornar a
cidade mais sustentável, visando ser mais atraente para o turismo, e também para reforçar
seu potencial de centro de atração de novos negócios. Para isso, procura melhorar a
qualidade de vida urbana, com a renovação de espaços ociosos ou monofuncionais
transformados em áreas que oferecem múltiplos benefícios. Os projetos que compõem
Millenium Park7 revitalizaram uma área de 24,5 acres, antes ocupada por trilhos e
estacionamentos asfaltados na beira do lago. O projeto foi implementado com parcerias
público-privadas, com projetos para diversos ambientes e usos. É um casamento entre
paisagismo, arte e arquitetura.
7
Disponível em http://www.millenniumpark.org/ acesso 24 de junho 2010
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TEORIA E PRATICA EM CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS NO BRASIL – PROJETO CCPS
Figura 60 - Millenium Park: biodiversidade com múltiplos usos e funções ecológicas e sócio-culturais no centro de Chicago, onde
antes era uma infraestrutura cinza (estacionamento e trilhos de trem).
Figura 61 - Millenium Park – Revitalização da área com usos noturnos
O oriente tem se destacado com muitos projetos inovadores. A Coréia lançou o plano para
ser o primeiro país verde do planeta. A visão é “Revivendo Rios para uma Nova Coréia”,
com quatro objetivos principais: se preparar para as mudanças climáticas, promover a
coexistência ser-humano-natureza, recriar o solo que está degradado e gerar equilíbrio
entre o verde e o desenvolvimento. É uma estratégia para: enfrentar os desafios causados
pelas inundações e secas freqüentes, que acarretam falta de água e prejuízos severos;
mitigar a deterioração da qualidade das águas e dos ecossistemas, devido ao excessivo
cultivo nas planícies inundáveis; modificar o uso inadequado das margens dos rios: áreas
abandonadas ou estacionamentos e insuficiência de áreas de lazer e atividades para
pessoas ao longo dos rios; fazer frente à crise econômica, que aumentou o desemprego e
desacelerou a economia. Tem feito a restauração ecológica dos seus quatro rios
principais, aliando diversos usos com ciclovias em percursos que cortam o país, para com
isso atingir os objetivos mais amplos.
Seul, a capital da Coréia é um exemplo de transformação urbana em uma megacidade,
que tinha engarrafamentos monumentais, considerados há 15 anos como um dos piores do
mundo. O desenvolvimento urbano pretende ser feito a partir do planejamento ambiental
e ecológico, que visa conciliar a convivência das pessoas com a natureza. Apesar da
dependência que tinha dos automóveis promoveu a abertura do rio Cheonggye que estava
coberto por vias e um elevado. O objetivo foi fazer o rio reviver para melhorar a
qualidade das águas e da vida na cidade. Considerou a estimativa de chuva de 200 anos
(chances de um para duzentos de acontecer) para o projeto das barragens e na área
urbanizada considerou chuva máxima 50-80 anos, devido às limitações físicas das áreas.
A recuperação foi mais voltada para os usos humanos no interior da cidade, e buscou a
restauração ecológica nas áreas menos urbanizadas.
Figura 62 - Seul, Coréia. Favela em palafita, sem sistema de esgotos, anos 1950.Figura 63 - Seul, Coréia. Paisagem urbana com o
viaduto, modernos edifícios residenciais, cidade orientada para automóveis, anos 1980 e 1990.
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TEORIA E PRATICA EM CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS NO BRASIL – PROJETO CCPS
Figura 64 - Seul, Coréia. Rio Cheonggye aberto onde antes tinha vias e elevado. Renaturalizado multifuncional, com melhoria da
qualidade de vida na cidade. Áreas mais voltadas para a biodiversidade, com calçadas para pedestres.
Figura 65 - Seul, Coréia. Rio Cheonggye área central.
O Japão busca nas tradições como se desenvolver de forma sustentável para conciliar a
convivência das pessoas e os ambientes naturais (MORIMOTO, 2010). Essa cultura se
reflete nos Satoyamas, que são áreas de interação entre o sistema urbano e os
ecossistemas naturais. Nessas áreas, historicamente periurbanas se cultivam alimentos,
especialmente arroz, base da alimentação do país (em que é autosuficiente), e
agroflorestas sustentáveis destinadas a madeiras para construção, carvão para
aquecimento entre outros usos. Atualmente parques e fragmentos florestados em áreas
urbanas estão sendo transformados em Satoyamas8, como o exemplo da floresta Higashi-
Yama no parque Heywa, no subúrbio de Nagoya. Estão em final de construção terraços de
arroz irrigados pelo curso d‟água, que é visível e se pode percorrer todo o trajeto desde o
alto, passando pelos cultivos (de arroz e bambu) até a bacia de retenção das águas das
chuvas. É multifuncional, pois além de promover drenagem, produzir alimentos e
material para construção (madeira e bambu) ainda possui áreas para lazer, educação
ambiental e contemplação, caminhada no meio da mata. O Satoyama fica no meio de área
densamente ocupada.
A cidade de Quioto, no Japão, é cortada por dois rios que possuem corredores verdes
multifuncionais (parque lineares) nas duas margens, ao longo de sua extensão urbana. É
muito utilizado pela população local, atrai turistas com restaurantes e cafés sobre o
parque.
9
Região visitada pela autora em abril e julho de 2010.
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TEORIA E PRATICA EM CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS NO BRASIL – PROJETO CCPS
Figura 67 e 68- Parque ao longo do rio Kamo-Gaw, visto da ponte e pedras para travessia do rio.
Figura 69 - Parque ao longo do rio Kamo-Gawa. Multifuncional: protege as águas com vegetação, habitat, fluxos abiótico (águas),
biótico (flora e fauna) e cultural (pessoas), circulação, lazer e contemplação.
Figura 70 - Palácio Imperial Shugakuin - terraços de arroz mantido por camponeses nos limites da cidade
Na costa norte de Tóquio o parque Kasai Rinkai possui um alagado construído na baía,
onde parte é dedicada a abrigar aves migratórias que passam por ali no inverno, só
pesquisadores têm acesso. Uma enorme área é destinada a lazer, recreação, caminhadas,
educação ambiental e para observação da natureza. Tem até mesmo um parque de
diversões com uma enorme roda gigante. É um parque urbano, na cidade mais populosa
do planeta, que alia conservação da biodiversidade e dos processos naturais da paisagem
com atividades que atraem milhares de pessoas.
Figura 71 - Parque Kasai Rinkai com alagado construído em primeiro plano. Parque de diversões e centro
da cidade ao fundo em dia de chuva.
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TEORIA E PRATICA EM CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS NO BRASIL – PROJETO CCPS
Em Buenos Aires existe a Reversa Ecológica Costanera Sur9. Foi construída com o
material de demolição dos imóveis que deram lugar à autoestrada que liga a cidade ao
aeroporto de Ezeiza. O entulho foi despejado ao longo da margem do rio para criar
terreno para construção imobiliária. Com a desaceleração da economia a área ficou
abandonada durante muitos anos, dando lugar a um rico ecossistema com enorme
biodiversidade. Hoje constitui uma reserva ecológica que presta serviços ambientais para
toda a cidade10.
Conta com lagoas e alagados que além de abrigar fauna e flora, ainda possui trilhas para
caminhada, áreas de piquenique, calçadão onde quiosques servem comida. Puerto
Madero, uma área urbanizada recentemente onde era o antigo cais do porto fica entre a
Reserva e o centro antigo da cidade. É um exemplo de infraestrutura ecológica
involuntária que hoje valoriza a cidade e proporciona uma qualidade de vida superior a
seus moradores, além de atrair turistas de todo o mundo.
Figura 72 - Calçadão com vista para o alagado construído, que reúne visitantes de todas as partes da cidade e turistas. Multifuncional:
reúne ecologia com funções sociais e de circulação.
Figura 73 - Vista dos novos prédios do centro. No interior os lagos e alagados construídos.
Figura 74 - Interior da Reserva atrai o público local e turistas, para prática de exercícios, relaxamento, atividades sociais e recreativas.
Ao fundo edifícios contemporâneos da nova área central.
3.4.1 Considerações
Os exemplos acima são alguns dos inúmeros que se proliferam em todos continentes, em
diferentes regiões e cidades do planeta. Oferecem soluções atuais fundamentadas na
realidade local. Podem ser seguidos por cidades que ocupam áreas frágeis e vulneráveis
baseadas no uso de veículos poluentes, que avançam sobre áreas que deveriam ser
conservadas. Esse padrão de urbanização, comum no estado do Rio de Janeiro, rompe os
processos naturais, com desmontes, aterros, impermeabilização generalizada do solo,
desmatamentos e eliminação da biodiversidade urbana. A qualidade de vida é baixa, com
poluição generalizada das águas, do ar e do solo, com carência de áreas públicas vivas e
7
Disponível em http://www.millenniumpark.org/ acesso 24 de junho 2010
10
Comunicação pessoal com a Dra. Ana Faggi, ecóloga da paisagem, Universidad de Flores, Insitut de
Ingeniería Ecológica, Buenos Aires, Argentina, em 16 de abril de 2010.
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TEORIA E PRATICA EM CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS NO BRASIL – PROJETO CCPS
Países como Holanda e Coréia, regiões como a bacia do Ruhr, e cidades como Freiburg,
Berlim, Portland e Seattle estabelecem um círculo virtuoso, onde a qualidade de vida atrai
investimentos de indústrias de ponta não poluentes e que desenvolvem tecnologias
limpas. A sociedade passa a ser fundamentada em novas bases sustentáveis. Não visam
apenas o desenvolvimento a qualquer custo de curto prazo, em detrimento dos recursos
naturais. Em diversos países é considerado prioritário manter áreas agrícolas próximas a
áreas urbanas para garantir suprimento de alimentos em qualquer circunstância. Na Suíça
o tema é considerado assunto de segurança nacional.
11
Disponível em http://www.cabe.org.uk/grey-to-gree acesso em 25 de julho de 2010
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TEORIA E PRATICA EM CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS NO BRASIL – PROJETO CCPS
tóxicos e poluentes. A poda também elimina as flores que são procuradas pelos insetos, o
que reduz a biodiversidade, potencializada com a aplicação de inseticidas. A drenagem
também é bastante limitada em áreas gramadas.
No Rio de Janeiro Fernando M. Chacel, arquiteto paisagista pioneiro em planejamento
ambiental e paisagístico, fez um planejamento de corredores verdes em torno das lagoas
da Tijuca, Camorim e Marapendi, na baixada de Jacarepaguá. São parques
multifuncionais, onde desenvolveu a “ecogênese”, um ecossistema de substituição
projetado com vegetação autóctone para recompor a flora e fauna local, com objetivos
estéticos e destinados a ser usados pelas pessoas. Alguns projetos de Chacel na Barra da
Tijuca, Rio de Janeiro: Parque em torno da lagoa da Penísula, Parque de Educação
Ambiental Professor Mello Barreto; Fazenda Parque da Restinga Rio Office Park, parque
Municipal Ecológico Marapendi
Figura 75- Rio Office Park. Chamado de calçadão ecológico, por onde circulam as pessoas que trabalham na área.
Figura 76 - Parque Mello Barreto. Vegetação nativa de restinga e mangue.
12
Disponível em http://sitepmcestatico.curitiba.pr.gov.br/servicos/meioambiente/planoambiental/pmcads-
versaocompleta.pdf acesso em 04 de julho de 2010
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TEORIA E PRATICA EM CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS NO BRASIL – PROJETO CCPS
Figura 77 - Maringá. Pode-se ver a infraestrutura verde proposta: o corredor verde nas margens do rio e as ruas verdes que conectam
os fragmentos de vegetação: ecologia da paisagem urbana. (Meneguetti, 2007)
13
Disponível na biblioteca da FAU-USP
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TEORIA E PRATICA EM CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS NO BRASIL – PROJETO CCPS
Figura 78 - Rio de Janeiro. Proposta de infraestrutura verde para a bacia hidrográfica dos rios do Portinho e Piracão em Guaratiba.
Figura 79 - Mapa com as áreas de risco de deslizamentos e inundação com a inserção do projeto do túnel da Grota Funda.
A Inverde, organização sem fins lucrativos fez uma audaciosa proposta de intervenção na
bacia hidrográfica urbana do rio dos Macacos: Plano Rio+Verde. Fica em uma área de
grande visibilidade da cidade do Rio de Janeiro.
O Rio+Verde foi apresentado em três eventos internacionais com grande impacto:
1)Congresso Internacional da IFLA (International Federation of Landscape
Architecture)14, no Rio de Janeiro, em outubro de 2009.
2)URBIO2010 – Conferência Internacional de Biodivesidade Urbana e Projeto, em
Nagoya, em maio de 2010.
3)1º Congresso das Cidades e a Adaptação às Mudanças Climáticas – Resilient Cities
(Cidades Resilientes) 2010, em Bonn na Alemanha, também em março de 2010.
14
TOPOS – The International Review of Landscape Architecture and Urban Design - Número 69, p.6.
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TEORIA E PRATICA EM CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS NO BRASIL – PROJETO CCPS
Esse plano se constitui de vários setores conectados por uma infraestrutura verde.
Apresenta uma visão holística e sistêmica que integra os ecossistemas locais, de Floresta
Atlântica, protegida pelo Parque Nacional da Tijuca, o Jardim botânico, a Lagoa Rodrigo
de Freitas até a praia passando pelo canal do Jardim de Alá.
O Rio+Verde procurou oportunidades para:
1) Recuperar as antigas instalações de tratamento de águas de modo a melhorar a
retenção de águas de chuvas, além estimular a educação ambiental e possibilitar
contato com a natureza, história e cultura local.
2) Propor um Satoyama na interface entre a área urbanizada e a floresta, com a
introdução de áreas de cultivo de alimentos e agrofloresta. Estimulando o contato
com as fontes de alimentos, o convívio social e geração de renda para os
moradores locais.
3) Minimizar o escoamento superficial, com: lagoas de detenção em pontos elevados
da bacia; desimpermeabilização dos pavimentos de áreas residenciais (quintais e
entradas de automóveis e pedestres) e públicas (calçadas, praças e vias);
introdução de jardins de chuva, biovaletas; tetos verdes e coleta de águas das
chuvas, entre outras tipologias de infraestrutura verde.
4) Prever a melhoria da circulação de pedestres e bicicletas ao longo de todo o
percurso, com: faixas exclusivas para cada um; cruzamentos seguros e
preferenciais nas duas principais vias; plantio intensivo de árvores para
sombreamento; aumento de espaços para esses meios de transporte limpos e
saudáveis.
5) Propor um parque linear vegetado e permeável, ladeando o canal da Rua General
Garzón que seria renaturalizado. Um lado do canal seria fechado ao trânsito de
veículos para ser densamente vegetado, com plantio de árvores nativas e
introdução de plantas nativas ornamentais. O foco é na conectividade das pessoas,
com a priorização do transporte baixo impacto e saudável, com faixas exclusivas
para pedestres e bicicletas. Seria um espaço multifuncional com a promoção de
biodiversidade autóctone com a conexão das áreas verdes.
6) Propor alagados construídos (wetlands) em área hoje subutilizada no interior das
pistas de corrida de cavalos do Jockey Club do rio de Janeiro. Seria um local
multifuncional, que descontamina de forma natural (fitoremediação) as águas
poluídas, dá visibilidade aos processos naturais, e incorpora a área para a o lazer e
recreação da população.
7) O parque ao longo da Lagoa Rodrigo de Freitas receberia um tratamento de parque
contemporâneo, com a renaturalização de suas margens, a introdução de tipologias
para deter as águas das chuvas, e interferências projetuais paisagísticas que dão
visibilidade aos ecossistemas locais e aos processos naturais.
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TEORIA E PRATICA EM CONSTRUÇÕES SUSTENTÁVEIS NO BRASIL – PROJETO CCPS
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