MAT028 Fundamentos de Lgebra 12
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A decomposição de um polinômio em R[x] é um pouco mais complicada do que em C[x], mas não muito.
Veremos que f (x) ∈ R[x] é um produto de fatores ou lineares (como em C[x]), ou quadráticos.
Dado z = a + bi em C, se lembre que o seu conjugado complexo é z = a − bi. Num exercı́cio, provaram
que y + z = y + z e que y · z = yz. Observe também que z = z se, e somente se, z ∈ R.
Lema. Se f (x) ∈ R[x] tem raiz z ∈ C, então z também é raiz de f .
Demonstração. Seja f (x) = αn xn + . . . + α1 x + α0 com cada αi ∈ R. Temos
f (z) = αn z n + . . . + α1 z + α0
= αn · z n + . . . + α1 · z + α0
= αn z n + . . . + α1 z + α0
= f (z)
= 0. ✓
Fundamentos de Álgebra MacQuarrie e Schneider 2
Se lembre da fórmula quadrática que o polinômio quadrático ax2 + bx + c ∈ R[x] possui raizes reais se,
e somente se, o seu discriminante ∆ = b2 − 4ac for ⩾ 0.
Teorema. Seja f (x) ∈ R[x] mônico de grau n ⩾ 1. Então f (x) pode ser escrito como um produto de fatores
lineares x − α com α ∈ R, e fatores quadráticos x2 + β + γ com discriminante β 2 − 4γ < 0.
Demonstração. Indução sobre n. Se n = 1 então f (x) = x − α já está na forma procurada. Suponha que
f (x) tem grau n e que o resultado vale para qualquer polinômio de grau menor (nossa HI).
Se f (x) tem raiz real α então escreva f (x) = q(x)(x − α). Já que gr(q) = n − 1 < n, o teorema vale para
q, e logo para f .
Se não, seja z = a + bi ̸∈ R uma raiz complexa de f (x). Pelo lema anterior, z também é raiz de f (x), e
logo
f (x) = (x − z)(x − z)q(x)
com gr(q) = n − 2. Afirmamos que (x − z)(x − z) ∈ R[x]: temos
Observe que ∆(x2 − 2a + ∥z∥2 ) < 0, pois suas raı́zes não são reais. Assim
Mas q(x) pode ser escrito da forma procurada pela HI, e assim f (x) também pode.
Obtemos um fato conhecido de Cálculo:
Corolário. Se f (x) ∈ R[x] tem grau ı́mpar, então f possui raiz real.
Demonstração. Pelo teorema, se f não tivesse raiz real, então f (x) seria um produto de fatores quadráticos,
e assim o grau de f seria par.
Exemplo. Vamos decompor f (x) = xn − 1 ∈ R[x]. Observe que −1 é raiz de f se, e somente se, n é par.
Assim temos dois casos:
n par: As raı́zes são α0 = 1, αn/2 = −1, α1 , . . . , α n2 −1 , α1 , . . . , α n2 −1 (o desenho das raı́zes de 1 deixa isso
nı́tido, veja a Seção sobre C!). Temos
(((( + cos(2kπ/n) − (
( (
i sen(2kπ/n)
αk + αk = cos(2kπ/n) + ( i sen(2kπ/n)
((((
= 2cos(2kπ/n).
e
αk · αk = ∥αk ∥2 = 1,
assim os fatores quadráticos de xn − 1 são x2 − 2cos(2kπ/n)x + 1 com k ∈ {1, . . . , n2 − 1}. Temos
n
2 −1
Y
f (x) = (x − 1)(x + 1) (x2 − 2cos(2kπ/n)x + 1).
k=1
Demonstração. Seja b ∈ Z×
p de ordem k. Sabemos que k | φ(p) = p − 1. Afirmo que existem exatamente
m
φ(k) elementos de ordem k em Zp : as k potências distintas b (m ∈ {1, . . . k}) de b são raı́zes de xk − 1, pois
m k m
(b )k − 1 = (b )m − 1 = 1 − 1 = 0.
Já que xk − 1 tem no máximo k raı́zes, segue que essas são todas. Por um exercı́cio de uma lista,
m
|b | = k/mdc(k, m)
m
e assim b tem ordem exatamente k se, e somente se, mdc(k, m) = 1. Ou seja, tem exatamente φ(k) delas,
como afirmado.
Seja ψ(k) o número de elementos de ordem exatamente k em Z× p . Pelo argumento acima, para cada
divisor k de p − 1, ψ(k) é ou 0 ou φ(k). Mas por um outro exercı́cio, temos
X
φ(k) = p − 1.
k|(p−1)
Assim X X
p − 1 = | Z×
p |= ψ(k) ⩽ φ(k) = p − 1.
k|(p−1) k|(p−1)
Logo a desigualdade tem que ser igualdade, e em particular temos que ψ(p − 1) = φ(p − 1) ̸= 0. Ou seja,
existem φ(p − 1) elementos de Z×
p com ordem p − 1.
A questão de irredutibilidade em Q[x] e Z[x] é mais sútil e passaremos tempo com essa questão depois.
uf + vg = 1
=⇒ uf h + vgh = h
=⇒ (uh + vc)f = h
=⇒ f | h.
Teorema. (O Teorema de Fatoração para polinômios) Sendo f (x) ∈ F[x] um polinômio de grau pelo menos
1, existem α ∈ F× e polinômios mônicos irredutı́veis q1 , . . . , qk com
f = αq1 . . . qk .
então se xn + . . . + ααn1 x + ααn0 tem fatoração única, então f também tem. Então vamos supor que f é mônico.
Existência da fatoração: Indução sobre gr(f ). Se gr(f ) = 1 então f é irredutı́vel então f = f já é a
decomposição. Fixe f mônico de grau > 1 e suponha que temos a fatoração para qualquer polinômio de
grau menor do que gr(f ) (nossa HI). Se f é irredutı́vel, então f = f é a decomposição que queremos. Se
não, então podemos escrever f = f1 f2 com f1 , f2 mônicos de grau < gr(f ). Pela HI, temos
f1 = q1 . . . qs , f2 = r1 , . . . , rt
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f = f1 f2 = q1 . . . qs r1 . . . rt
é a decomposição procurada.
Unicidade da fatoração: Suponha que
são duas decomposições de f como produto de fatores irredutı́veis, com k ⩽ m. Trabalharemos por indução
sobre k. Se k = 1 então f = q1 é irredutı́vel, logo m = 1 e r1 = q1 , como a gente querı́a. Suponha (nossa
HI) que qualquer polinômio que tem uma decomposição como produto de menos que k fatores possui uma
única fatoração. Temos
q1 | r1 . . . rm
e assim pelo lema, q1 | ri para algum i. Mas ri é irredutı́vel, e assim q1 = ri . Reordenando podemos supor
que q1 = r1 . Assim
q1 . . . qk = q1 r2 . . . rm ,
e podemos aplicar a lei de cancelamento, assim
q2 . . . qk = r2 . . . rm .
Mas agora, pela HI, m = k e para cada i ∈ {2, . . . k}, qi = rj para algum j ∈ {2, . . . m = k}. A unicidade
segue.
Exemplo. Nem é sempre que existe uma decomposição única como produto de elementos irredutı́veis num
domı́nio. O exemplo mais famoso onde der ruim é
√ √
Z[i 5] = {a + bi 5 | a, b ∈ Z}.
Neste domı́nio, temos duas decomposições distintas do elemento 6 como produto de irredutı́veis:
√ √
6 = 2 · 3 = (1 − i 5)(1 + i 5).
Essas observações nos dizem que basta considerar f ∈ Z[x] primitivo. Faremos isso para frente.
f = an xn + . . . + a1 x + a0 ∈ Zp .
Demonstração. Suponha que p divide todo coeficiente de h, assim h ∈ Zp [x] é 0. Mas assim
0 = h = f · g.
Já que Zp [x] é domı́nio, segue que ou f = 0, assim p divide todo coeficiente de f e f não é primitivo, ou
g = 0, assim p divide todo coeficiente de g e g não é primitivo.
Com essas ferramentas em mão, chegamos pra questão: dado f (x) ∈ Z[x], quero saber se ele é irredutı́vel
em Q[x]. O Lema de Gauss nos dirá que para decidir, basta confirmar se ele é irredutı́vel em Z[x]:
Teorema. Se f (x) é redutı́vel em Q[x], então ele também é redutı́vel em Z[x].
Demonstração. Suponha que f se decomponha como f = gh em Q[x], com gr(g), gr(h) < gr(f ). Sendo a
o produto dos denominadores dos coeficientes de g e b o produto dos denominadores dos coeficientes de h,
temos ag, bh ∈ Z[x] e
abf = (ag)(bh) ∈ Z[x].
Agora sejam x ∈ N o maior divisor comum dos coeficientes de ag e y ∈ N o maior divisor comum dos
coeficientes de bh. Assim ag = xg0 , bh = yh0 com g0 , h0 ∈ Z[x] primitivos. Temos
xy
abf = (ag)(bh) = (xg0 )(yh0 ) = (xy)(g0 h0 ) =⇒ f= g0 h0 .
ab
Já que g0 , h0 são primitivos, g0 h0 é primitivo pelo lema. Segue que xy ab ∈ Z, pois senão, ele teria
denominador maior que 1 e logo pelo menos um coeficiente de xy ab g0 h0 = f não seria em Z. Assim n = xy
ab ∈ Z.
xy
Mas agora f = n · g0 h0 e logo n = ab = ±1, já que f é primitivo. Então xy = ±ab e podemos cancelar,
obtendo
f = ±g0 h0 – um produto de polinômios de grau < gr(f ) em Z [x].
Exemplo. Mostraremos que f (x) = x4 + x2 + x + 1 é irredutı́vel em Q[x]. Pelo Teorema da raiz primitiva
(um exercı́cio anterior), as únicas raı́zes racionais possı́veis são ±1, mas nenhuma delas é raı́z. Assim f não
tem fator linear. Se ele se decomposse, teria que ser assim:
Agora
a + c = 0 =⇒ c = −a e bd = 1 =⇒ b = d.
Assim
1 = ad + bc = ad − ba = a(d − b) = 0 – impossı́vel!
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f (x) = an xn + . . . + a1 x + a0 ∈ Z[x]
e suponha que existe p primo tal que p ∤ an , p | ai ∀i < n e p2 ∤ a0 . Então f é irredutı́vel em Q[x].
Demonstração. Suponha, procurando contradição, que f se decompõe em Q[x]. Assim, pelo Lema de Gauss,
f = gh com g, h ∈ Z[x] de grau menor que n. Escreva
g(x) = br xr + . . . + b1 x + b0 ,
h(x) = cs xs + . . . + c1 x + c0
com r, s < n. Já que p divide a0 = b0 c0 mas p2 não, segue que p divide ou b0 ou c0 , mas não ambos.
Suponha (sem perda de generalidade) que p | b0 . Já que p ∤ an = br cs , temos que p ∤ br .
Seja t ∈ {1, . . . , r} o menor valor tal que p ∤ bt . Vamos analizar o termo at :
at = b0 ct + b1 ct−1 + . . . + bt−1 c1 + bt c0 .
p | at já que t < n, e também p | bi para todo i < t pela escolha de t. Mas p ∤ bt e p ∤ c0 , assim p ∤ bt c0 . Mas
então bt c0 = at − b0 ct − . . . − bt−1 c1 : p divide o lado direito mas não divide o lado esquerdo – absurdo!
Exemplo. Pelo critério de Eisenstein, o polinômio xn − p ∈ Z[x] é irredutı́vel em Q[x] para todo n. Segue
que existem polinômios irredutı́veis de qualquer grau em Q[x].
Exemplo. Às vezes temos que ser espertos para usar Eisenstein: Seja p primo. Temos
Afirmo que não dá para simplificar mais em Q[x]: ou seja, que o “p-ésimo polinômio ciclotômico”
f (x) = xp−1 + . . . + x + 1
Assim cancelando x − 1,
O Critêrio de Eisenstein se aplica pro lado direito, então do teorema, concluı́mos que f (y + 1) = f (x) é
irredutı́vel, como afirmado.