Coreografias de Gênero em Covers de K-Pop: Intercom - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares Da Comunicação
Coreografias de Gênero em Covers de K-Pop: Intercom - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares Da Comunicação
Thiago SOARES2
Lúcio SILVA3
Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, PE
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anos 2010, com a emergência de um nicho de jovens interessados na cultura pop sul-
coreana, principalmente, no ambiente digital, tendo os vídeos de dance practice4 como
um dos possíveis impulsionadores do fenômeno (URBANO e KAUTSCHER, 2018).
São as convenções ligadas às culturas tradicionais e pop japonesa 5 que estabelecem a
formação de uma cena K-cover, através da reiteração da importância de concursos e de
sociabilidade dentro desses espaços, numa relação que também é atravessada pela
presença do K-pop na trilha sonora dos animes japoneses, até então, elementos centrais
nesses eventos (URBANO e KAUTSCHER, 2018).
Para além da ocupação espacial urbana, grupos juvenis de K-cover se espraiam
nas redes sociais digitais, compartilhando vídeos com suas coreografias e disputando
atenção, curtidas e comentários em plataformas de compartilhamento de vídeos como o
Youtube. A criação de desafios (challenges) para que K-covers – com diferentes graus
de formalização – se engajem e mobilizem fãs e admiradores através da criação de
vídeos coreográficos compartilhados em diferentes redes sociais digitais é uma prática
na circulação de produtos, valores e afetos. Este artigo é parte das reflexões de uma
pesquisa em curso sobre K-covers da Região Metropolitana do Recife (RMR), que
abriga uma cena cultural ativa, em que covers de K-pop participam desde pequenas
competições dentro de shopping centers até eventos mais complexos realizados em
centros de convenções6.
Como fenômeno integrante das práticas de transculturação a partir da
globalização, o K-pop se particulariza quando em contato com diferentes contextos. Na
Tailândia, como atesta a análise de Käng (2014), os K-covers fazem emergir a figura do
“sissy”, o jovem afeminado e magro que, de “super fãs” de K-pop passam a figurar
como “proto-idols”, evocando o processo de celebrização de jovens gays afeminados no
contexto do Sudeste Asiático. Laurie (2016) reconhece que, no processo de
globalização, o K-pop, ao se capilarizar por contextos ocidentais, faz emergir novas
arenas de disputa sobre o feminino, na medida em que estabelece novos horizontes
comparativos com feminilidades vividas nas Américas.
Na América Latina, parece fazer emergir as particularidades da história colonial,
4 Vídeos dos ídolos do K-pop praticando suas coreografias. Geralmente são utilizados pelos grupos K-cover para
aprenderem a coreografia e distribuição no palco.
5 Como o Sana Fest no Ceará, Anime Friends, em São Paulo e SuperCon, em Pernambuco, entre outros.
6 Até o ano de 2019, os locais preferidos para reunião e ensaio dos diversos grupos covers da Região Metropolitana
do Recife (RMR) eram os parques da Jaqueira e Dona Lindu, ambos localizados em áreas nobres da cidade, ou o
Bairro do Recife, no centro da capital. Fora da RMR, destaca-se a presença do K-cover em Caruaru, situada na região
agreste do Estado e conhecida como “Capital do Forró”.
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na medida em que, a partir do espaço especulativo em que os covers emulam seus ídolos
coreanos, “faz aparecer” diferentes corpos, em sua grande maioria de pessoas mestiças,
revelando o passado de mestiçagem e hibridismo já evocado por Taylor (2013) na
história cultural das Américas. Há modulações específicas no contexto mexicano. Ao
evocar os K-covers no contexto da Cidade do México, Torres (2020) ressalta a
existência de aspectos morais ligados a questões de gênero na identificação de
diferentes padrões de beleza e sexualização de jovens. Para o autor, o “horizonte moral”
da sociedade sul-coreana emerge como uma dimensão comparativa para o tratamento de
aspectos ligados a vivências urbanas juvenis mexicanas.
Grande parte dos estudos sobre K-pop desenvolvidos no contexto
latinoamericano apresentam como foco, as problemáticas de gênero, seja a partir da
corporificação de “asianidades” em corpos ocidentais; de dilemas morais sobre a
sexualização, infantilização e erotização de corpos de jovens adolescentes; do diálogo
com masculinidades asiáticas que, quando postas em perspectiva, ressaltam
problemáticas queer ou desviantes e sobretudo a partir do reconhecimento de um
conjunto de mal-entendidos culturais (GARCÍA CANCLINI, 2009) que emergem nos
processos de transculturalidade. Estes estudos encontram reverberação nos “problemas
de gênero” dos K-covers da cidade de Recife: ao contrário dos corpos consagrados no
centro da indústria musical sul-coreana, que prezam pela magreza e pele clara, o que se
evidencia nos grupos recifenses é a larga presença de jovens mestiços, negros, gordos e
LGBTQIA+7, apresentando rasuras raciais típicas também dos fenômenos
transnacionais.
Este artigo pretende debater questões de gênero em grupos covers de K-pop a
partir do reconhecimento de que a dança é um lugar privilegiado para o debate sobre
performatividade de gênero, na medida em que as marcações regulatórias dos gêneros
são “colocadas em cena”, dançadas, generificando corpos a partir de movimentos,
gestos e, portanto, coreografias. Utiliza-se o conceito de “coreografias de gênero”
(FOSTER, 1998), para quem a performatividade seria tanto uma reiteração de normas
quanto a dissimulação das convenções na repetição, para se debater a atuação de grupos
covers de K-pop como um conjunto de movimentos deslizantes: 1. entre performances
consagradas de grupos sul-coreanos e suas reencenações em diferentes contextos
7 Performance cover do grupo Glamour no Festival da Cultura Coreana em Pernambuco ilustra bem quais corpos
habitam a cena K-pop local. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=xmm3Fh5Jtm4>. Acesso em: 06 de
out. 2020.
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Interculturalidade e gênero
Como fenômeno da cultura jovem, estudar o K-pop significa tatear por “dentros
e foras” do fenômeno, em função de sua natureza cifrada, específica e repleta de
códigos – acentuados a partir também do alto grau de imersão de fãs e admiradores a
partir de dinâmicas da cultura digital. Os “dentros e foras” do K-pop são lugares
epistemológicos em que se formulam perguntas e problemas de investigação, variando a
partir de diferentes lugares de fala (RIBEIRO, 2017) e pontos de vista (COLLINS,
2019) de onde se encenam as questões. Pensar diferentes lugares de observação de
fenômenos que orbitam sobre o K-pop permite construir problemas a partir tanto de
vivências específicas de fãs, suas disputas e jogos performáticos em rede, quanto diante
de questões mais gerais e amplas – “de fora” – no que tange as semelhanças e diferenças
deste gênero musical dentro de uma história da cultura pop.
A música pop sul-coreana (K-pop) é a resposta do pequeno país peninsular no
jogo de disputas da cultura pop. Num cenário de crise econômica a partir da recessão
que atingiu os países que integravam os Tigres Asiáticos em 1997 (KIM, 2012) e sem
dispor de grandes faixas de terra, a Coreia do Sul decide investir na cultura como uma
de suas principais “commodities” e, assim, surge a complexa indústria do K-pop, que
treina, gerencia e produz artistas pop em larga escala. A expansão do pop oriental está
associada a “um projeto ativo de construção de identidades nacionais e regionais, com
base em um projeto que alia métodos baseados na lógica de mercado a objetivos
políticos” (ALBUQUERQUE; CORTEZ, 2015, p. 253). Isto é, a cultura pop conjuga a
lógica econômica à política, ancorada nos conceitos de soft power (MARTEL, 2012) e
nation branding (construção de marca de nações). A Coréia do Sul, especificamente, se
utiliza de elementos genéricos e estratégias de hibridização a fim de propiciar um
sentimento de proximidade cultural que converse tanto com os demais países do
Extremo-Oriente quanto com os do Ocidente.
É neste “entre” as diferentes partes que constituem o globo que os problemas de
interculturalidade emergem, na medida que a distância, as forças midiáticas e as
resistências locais permitem “incomensurabilidades, incompatibilidades e
intradutibilidades das culturas” (GARCÍA CANCLINI, 2009, p. 18). Ao tratar os
problemas da interculturalidade a partir da emergência de pesquisas sociológicas que
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consumo da música negra por plateias brancas na década de 1960 num Estados Unidos
racialmente segregado foi o amplo uso deste formato de grupos de jovens negros
separados por gênero. Jackson 5 e The Supremes, grupos musicais formados por jovens
homens negros e mulheres negras, foram, nas palavras do sociólogo, formas de atenuar
as diferenças dos corpos negros para seu amplo consumo no contexto de acirramento
racial em âmbito midiático.
Pensando a interculturalidade como a dimensão de interação, diálogo, mas
também exclusão e domesticação entre culturas, propõe-se debater como o formato de
boy bands e girl bands integra tanto uma história dentro da indústria musical e do
entretenimento quanto de uma série de negociações de cunho geopolítico. Ainda na
década de 1990, grupos como New Kids on the Block, Five, Westlife e Spice Girls
foram centrais na indústria musical da Inglaterra a partir da relação com o fenômeno
chamado de Cool Brittania, de orgulho britânico a partir da ostentação de bandeiras e
do nacionalismo.
É dentro da indústria da música e do entretenimento, que se propõe pensar os K-
covers como parte integrante do conjunto de práticas interculturais da territorialização
do K-pop em diferentes contextos globais, na medida em que, como alerta Canclini,
deve-se prestar atenção às misturas, hibridizações, mas sobretudo “mal-entendidos” que
vinculam grupos, ou seja, problematizar como se dão as apropriações materiais e
simbólicas em suas reinterpretações. “Não só as misturas, mas também as barreiras que
se entrincheiram” (GARCÍA CANCLINI, 2009, p. 23).
Observar as interculturalidades implica em problematizar também questões de
gênero, uma vez que o gênero é atravessado por enquadramentos culturais. Generificar
corpos, atribuir-lhes sentidos e sensibilidades passa pelo reconhecimento de
movimentos, dramaticidades e teatralidades que se dão nos campos de disputa das
culturas. A questão não é apenas perceber como noções de masculino e feminino são
engendradas por atores sociais em contextos interculturais, mas sobretudo, pensar sobre
os movimentos “coreográficos” que permitem o gênero aparecer e se estabilizar –
embora sempre passível de novas instabilidades.
É sobre este argumento “coreográfico” do gênero que Susan Foster (1998)
apresenta críticas a Judith Butler (2009) pela filiação excessivamente linguística do
conjunto de teorias sobre performatividade formuladas pela filósofa. A “coreografia do
gênero”, como defendida por Foster, evocaria um corpo sempre situado e em situação,
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“Tais artistas reúnem fãs, frequentadores, curiosos e apreciadores de música que, por
sua vez, performatizam maneiras de estar, de fruir e de sentir a música, corporificando
resistências, obediências, cidadanias, gêneros, etnicidades, entre outros aspectos”
(AMARAL, SOARES e POLIVANOV, 2018, p. 10).
Pensar as performances cover de K-pop inclui debater portanto a formação de
repertórios coletivos que têm como arquivos, em grande parte, videoclipes e
apresentações ao vivo, realizadas por grupos de sul-coreanos e disponibilizados em
plataformas de vídeo e também em redes sociais digitais. As performances de K-covers
são tentativas de corporificação de arquivos visuais de K-pop a partir das marcas
territoriais, geográficas, políticas e estéticas disponíveis. Neste sentido, visualizar os
espaços entre “arquivos” e “repertórios” no que tange os K-covers auxilia a reconhecer
as diferenças, desigualdades, assimetrias e ambiguidades presentes em processos
globais. A ideia de diferença aparece como um importante marcador das utopias
possíveis nestes embates, diante das imagens e sons arquivadas em audiovisual pelas
instâncias profissionais da indústria do pop sul-coreano e a corporificação destes
arquivos gerando um território afetivo e simbólico em que fãs e covers fabulam sobre
seus ídolos orientais.
Falar dos K-covers inclui, principalmente, visualizar corpos que estão a dançar.
Por isso, ao debate sobre performance proposto por Taylor (2013) acrescentamos o de
“coreografia de gênero” a partir de Foster. A proposta da autora é debater gênero a
partir da metáfora da dança, uma vez que corpos em movimento seriam mais propícios a
apresentarem os “não-ditos” e os silêncios que não seriam enquadráveis no campo mais
“sedimentado” do discurso. Foster debate as coreografias como enquadramentos,
formas de ler e interpretar o social na medida em que corpos que dançam “incorporam”
o social, ou seja, as marcas das sociedades estariam atravessadas nas corporalidades a
partir também do que André Lepecki (2011) chama de “política do chão” – que corpo
emerge do chão que pisa, do território, do clima e da geografia implicada.
Para Foster, mudanças coreográficas ajudariam a compreender as mudanças
sociais, suas reencenações e disposições. A autora chama atenção para como a dança
presentifica momentos sociais (a criação das normas do balé clássico em consonância
com uma série de racionalismos presentes no século XIX) em diferentes contextos (do
conhecimento erudito de matriz europeia, para a relação entre dança e protesto no
contexto de segregação racial nos Estados Unidos, passando pelas dinâmicas
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Ele todos são belos, sem falhas e detém os padrões estéticos da Hallyu
coreana. As mulheres têm pele de porcelana, figuras esbeltas, cabelos
macios e brilhantes, olhos grandes, narizes perfeitamente retos com
altas pontes parecendo caucasianas, lábios carnudos e faces do
tamanho de um punho que são impossíveis de envelhecer. Os homens
compartilham características similares com rostos sem pelos e
ausência de marcas, corpos longos e magros com abdomens
perfeitamente tonificados, com personalidades e sorrisos que
transpiram calor e romance do Dia dos Namorados. (KIM, 2012, p.
11, tradução nossa)
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Generificando o aegyo
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Por outro lado, grupos masculinos também são atravessados pelo aegyo, mas
costumam fazê-lo em terrenos fora do reino da dança, em entrevistas, aparições
públicas, etc, gesticulando de forma fofa, a exemplo do “finger heart”, o ato de fazer um
coração cruzando os dedos indicador e polegar que se tornou popular entre os ídolos.
No palco, é comum que os artistas masculinos do K-pop distanciem-se da estética da
fofura, performando uma atitude mais agressiva: abdomens definidos são expostos com
frequência, enquanto a dança é composta por movimentos mais marcados, que
aparentam exigir força, acionando heranças da cultura hip-hop que é parte fundante do
K-pop. Há grupos femininos, como BLACKPINK, que são classificados como “girl
crush”, que evocam uma ideia de “girl power” e de atitude feminina, atrevimento, mas
ainda são atravessados pela estética da fofura; parece que há um limite para sua
agressividade em cena.
Segundo Foster (1998), o processo de criação da coreografia mobiliza o campo
semiótico do corpo - as conotações de membros como cabeça, mãos e pélvis - e situa o
corpo dentro dos recursos simbólicos do espaço da performance. Fazendo-o, desenha-se
um repertório de ações corporais que confirmam ou transgridem um horizonte de
expectativas de comportamento generificado. Portanto, é possível pensar no aegyo
como uma coreografia da fofura que desenha um horizonte de expectativas e atravessa
as performances dos idols sul coreanos, em especial as coreografias dançadas pelos
grupos femininos.
A autora aponta que o (a) dançarino (a) cultiva seu corpo através do treino e
exercício, podendo, até mesmo, desenvolver uma musculatura pouco característica de
corpos femininos ou uma flexibilidade dificilmente associada ao corpo masculino,
afinal, o corpo é codificado em termos do sexo, e seus movimentos serão vistos como
generificados, acionando códigos comportamentais socialmente inscritos. Diante desta
problemática, a questão é reconhecer como o ato de dançar dramatiza e generifica as
maneiras de se mover.
Se a coreografia está associada a uma noção de roteiro da dança, uma espécie de
referencial coletivo, então, quando o dançarino apreende uma coreografia prévia,
adequa para suas capacidades corporais – tornando-a “sua”. O deslocamento da
coreografia para a corporificação abre espaço para o desvio, fazendo com que os gestos
se territorializem nos corpos dançados, fazendo “aparecer” aquilo que era previsto
porém repleto de improbabilidades. Embora a dança dramatize as dissidências entre o
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SNATCHED”10. Isto é, para além dos corpos deslizando num horizonte de expectativas
de gênero, o uso dessas gírias ligadas à cultura drag e à comunidade LGBTQIA+,
reivindica a performance em questão para a esfera queer.
O grupo The Hive Dance Crew ao performar um cover de Icy 11, do girlgroup
ITZY, faz aparecer outras noções de desvio em cena. Primeiro, observam-se as mesmas
questões levantadas nos exemplos anteriores: esses corpos masculinos se apropriando de
uma coreografia de gênero categorizada como feminina. Jogadas de cabelo, sorrisos
cênicos para a câmera e a energia dos movimentos são ressaltados pelos comentários. O
grupo cover é parabenizado pela execução da dança, ou seja, percebe-se, pelos
comentários, que há o reconhecimento de que eles são “fiéis” aos gestos coreográficos
“originais”. Por outro lado, essa performance cover também promove um deslizamento
das expectativas em relação ao corpo que pode dançar e ao próprio chão em que se
dança – a ideia de “política do chão” (LEPECKI, 2011). Este grupo é de origem
francesa e executa a coreografia diante de espaços públicos da capital da França, Paris.
Esta dimensão territorial, sobretudo em função de sua carga clichê, torna-se um
operador analítico importante sobretudo quando “dançada” por homens negros,
mestiços e gordos.
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Considerações finais
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REFERÊNCIAS
FOSTER, Susan Leigh. Choreographies of Gender. Source: Signs, Vol. 24, No. 1
(Autumn, 1998). pp. 1-33. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/3175670.
LOPES, Denilson. O homem que amava rapazes e outros ensaios. Rio de Janeiro:
Aeroplano, 2002.
MARTEL, Frédéric. Mainstream: a guerra global das mídias e das culturas. Rio de
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