Ambiente, Alterações Climáticas, Alimentação e Energia: A Opinião Dos Portugueses
Ambiente, Alterações Climáticas, Alimentação e Energia: A Opinião Dos Portugueses
Ambiente, Alterações Climáticas, Alimentação e Energia: A Opinião Dos Portugueses
Bem Comum
A adesão de Portugal à Comunidade Europeia implicou
consequências marcantes para as questões ambientais. Se a nível
Ambiente, Luísa Schmidt é socióloga e
investigadora principal no
Público e/ou Privado?
João Pato
Luísa Schmidt
oficial se sucederam medidas, diretivas e reforço do quadro
administrativo, a nível social o interesse pelas questões ambientais Alterações Climáticas, ICS-ULisboa, onde coordena o
OBSERVA– Observatório de
Ambiente e Sociedade. Faz parte do
Educação Ambiental
embora de forma desigual, a sociedade portuguesa.
Este livro apresenta um panorama da evolução da opinião pública
em Portugal sobre questões de ambiente, consumo e energia nas
Alimentação Comité Científico do Programa
Doutoral em «Alterações Climáticas
e Políticas de Desenvolvimento
Sustentável». Autora de vários livros
Balanço e Perspectivas
para uma Agenda
mais Sustentável
últimas décadas. A enquadrar cada tema analisam-se as principais
políticas entretanto lançadas às escalas europeia e nacional.
As acentuadas e rápidas mudanças ocorridas no país desde 1986
e Energia e artigos, tem trabalhado sobre as
questões da comunicação,
participação e políticas públicas de
Luísa Schmidt
Joaquim Gil Nave
João Guerra
constituem um pano de fundo essencial para compreender muito
do que se passa e pensa atualmente neste domínio. Da energia à
A Opinião ambiente e, mais recentemente, sobre
os impactos sociais das alterações
climáticas e das políticas energéticas.
Ambiente no Ecrã
mobilidade urbana, das alterações climáticas aos resíduos, da água
ao consumo, as respostas dos portugueses aos inquéritos
dos Portugueses Colaboradora regular do jornal
Expresso.
Emissões e Demissões
no Serviço
Eurobarómetro são vistas à luz das tendências europeias e das
Público Televisivo
Luísa Schmidt
diferenças por idade, género ou nível de educação. São exploradas
questões como a informação sobre temas ambientais, nível de
Luísa Schmidt Ana Delicado é investigadora do
ICS-ULisboa e trabalha na área dos
Os Portugueses
preocupação com os problemas, concordância com as medidas
de política ou práticas do quotidiano.
Ana Delicado estudos sociais da ciência.
É doutorada em Sociologia pela
e os Novos Riscos O livro resulta da atividade do OBSERVA – Observatório de (organizadoras) Universidade de Lisboa. Coordenou
projetos sobre associações científicas
Entre Incerteza e Controvérsia
Maria Eduarda Gonçalves Ambiente e Sociedade, que realiza estudos e ações de divulgação e sobre energias renováveis. Também
(organizadora) sobre as dimensões sociais e políticas dos problemas de ambiente, participou em investigação sobre
energia e sustentabilidade. A obra constitui o primeiro número da alterações climáticas, energia nuclear,
Ambiente colecção de publicações dos Observatórios do ICS-ULisboa. o uso da internet pelas crianças, os
e Desenvolvimento museus de ciência e riscos ambientais.
Luísa Lima Autores: É vice-coordenadora do OBSERVA.
Manuel Villaverde Cabral
Jorge Vala
Ana Delicado José Gomes Ferreira Rui Carvalho
(organizadores) Ana Horta Luísa Schmidt Susana Fonseca
João Morais Mourato Mónica Truninger Susana Valente
Ambiente e Emprego:
Situação Actual Foto da capa: Carlos Cabral
e Perspectivas
João Ferrão
(organizador)
ICS ICS
www.imprensa.ics.ul.pt
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Ambiente,
Alterações Climáticas,
Alimentação
e Energia
A Opinião dos Portugueses
Luísa Schmidt
Ana Delicado
(organizadoras)
www.ics.ul.pt/imprensa
E-mail: [email protected]
Índice
Os autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Luísa Schmidt e Ana Delicado
Capítulo 1
Ambiente: das preocupações às práticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
SusanaValente e José Gomes Ferreira
Capítulo 2
A água e os resíduos: duas questões-chave . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
José Gomes Ferreira e Susana Valente
Capítulo 3
Alterações climáticas na opinião pública. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113
Luísa Schmidt e Ana Delicado
Capítulo 4
Energia: das fontes à eficiência energética. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
Ana Delicado, Ana Horta e Susana Fonseca
Capítulo 5
Consumo, alimentação e OGM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 199
Mónica Truninger e José Gomes Ferreira
Capítulo 6
Mobilidade urbana e cidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 247
João Mourato e Rui Carvalho
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Tabelas
1.1 Problemas ambientais que preocupam os portugueses, segundo
género, idade e idade de saída da escola, 2011 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
1.2 As prioridades dos cidadãos portugueses no quotidiano
para proteger o ambiente em função das principais variáveis
sociodemográficas, 2011 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
6.1 Perceção da evolução da condição do país no contexto da UE, 2009 253
Quadros
1.1 Quando se fala de «ambiente», dos seguintes temas, em que é que
pensa em primeiro lugar? (2008 e 2011) (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
1.2 Problemas mais associados a «dano ambiental», 1986-1997 (%) . . . . . 47
1.3 Problemas ambientais que mais preocupam os portugueses
e os europeus, 2005-2011 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
1.4 Problemas ambientais mais e menos preocupantes, 2011 (%) . . . . . . 49
1.5 Compras «amigas do ambiente», 1992-2011 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
1.6 Prioridades dos cidadãos no quotidiano para proteger o ambiente,
2008 e 2011 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
2.1 Ações realizadas nos dois últimos anos que contribuíram para reduzir
os problemas da água, 2009 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
2.2 Ações realizadas nos dois últimos anos que contribuíram para reduzir
os problemas da água, 2012 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
2.3 Iniciativas que poderiam convencer os inquiridos a separar (mais) lixo,
2011 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
2.4 Iniciativas para melhorar a gestão do lixo nas comunidades
dos inquiridos, 2011 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
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Figuras
1.1 Ter ouvido ou lido sobre o Ano Europeu do Ambiente, 1988 (%) . . 37
1.2 Quais são os dois problemas mais importantes que o país enfrenta?
(2012) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
1.3 Grau de importância atribuído ao ambiente, 2011 (%) . . . . . . . . . . . 40
1.4 A situação do ambiente no país é melhor ou pior do que a média
dos países da UE, 2012 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
1.5 Evolução da perceção da situação do ambiente, 2005-2010 (%) . . . . 41
1.6 Temas que associa a ambiente, segundo o género, 2011, Portugal (%) 43
1.7 Temas que associa a ambiente, segundo a idade de saída da escola,
2011, Portugal (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
1.8 Temas que associa a ambiente, segundo a autoavaliação do grau
de informação, 2011, Portugal (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
1.9 «Os problemas ambientais têm um efeito direto na sua vida
quotidiana», 2011 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
1.10 «Enquanto indivíduo, pode desempenhar um papel ativo na proteção
do ambiente», 2011 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
1.11 Evolução das principais práticas ambientais realizadas pelos
portugueses, 1986-2011 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
1.12 Poupar/reduzir consumo de água, 1986-2011 (%) . . . . . . . . . . . . . . . 57
1.13 Não fazer muito barulho, 1986-1995 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
1.14 Relação entre estar bem informado sobre questões ambientais
e a disponibilidade para pagar mais por produtos amigos do ambiente,
2011 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
1.15 Ações realizadas durante o último mês por razões ambientais,
2011 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
1.16 Ações realizadas durante o último mês por razões ambientais segundo
a idade de saída da escola, 2011, Portugal (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
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1.17 Ações realizadas durante o último mês por razões ambientais, segundo
o grau de informação, 2011, Portugal (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
1.18 Ações realizadas durante o último mês por razões ambientais,
segundo o tipo de família, 2011, Portugal (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
2.1 Grau de informação sobre os problemas da água no país, 2012 (%) . 81
2.2 Perceção dos inquiridos sobre a qualidade da água, 2009 (%) . . . . . . 82
2.3 A qualidade da água é um problema sério e deteriorou-se
nos últimos 10 anos, 2012 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
2.4 Principais ameaças ao meio hídrico, 2009 e 2012 (%) . . . . . . . . . . . . . 85
2.5 Opinião sobre a melhor forma de resolver os problemas da água,
2012 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
2.6 Qual deve ser o foco da nova estratégia europeia sobre água?,
2012 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
2.7 Evitar deitar papéis ou outro lixo para o chão, 1986-1995 (%) . . . . . . 94
2.8 A prática «separar o lixo para reciclar» e a percentagem de RU
recolhidos seletivamente em Portugal, 1986-2011 (%) . . . . . . . . . . . . 95
2.9 Disponibilidade para pagar pela gestão do lixo, 2011 (%) . . . . . . . . . 99
2.10 Reduzir o consumo de produtos descartáveis, 2008 e 2011 (%) . . . . . 101
2.11 Disponibilidade para comprar produtos em segunda mão, 2011 (%) 102
2.12 Fator mais importante na decisão de comprar produtos feitos
de materiais reciclados, 2011 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
3.1 Inquiridos que se declaram muito preocupados com as alterações
climáticas 1986-2002 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
3.2 Inquiridos que consideram as alterações climáticas um problema
muito grave 2008-2011 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
3.3 Inquiridos que consideram as alterações climáticas um problema
muito grave por escalão etário, 2011, Portugal (%) . . . . . . . . . . . . . . . 121
3.4 Inquiridos que consideram as alterações climáticas um problema
muito grave por idade de saída da escola, 2011, Portugal (%) . . . . . . 122
3.5 Inquiridos que consideram as alterações climáticas um problema
muito grave por posicionamento político, 2011, Portugal (%) . . . . . . 122
3.6 Concordância com a afirmação «A gravidade das alterações
climáticas tem sido exagerada», 2008-2009 (%) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
3.7 Concordância com a afirmação «A gravidade das alterações
climáticas tem sido exagerada» por escalão etário, 2009, Portugal (%) 125
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Os autores
Luísa Schmidt é socióloga e investigadora principal do ICS-ULisboa,
onde coordena o OBSERVA – Observatório de Ambiente e Sociedade.
Faz parte do Comité Científico do Programa Doutoral em «Alterações
Climáticas e Políticas de Desenvolvimento Sustentável». Autora de vários
livros e artigos, tem trabalhado sobre as questões da comunicação, par-
ticipação e políticas de ambiente e, mais recentemente, sobre os impactos
sociais das alterações climáticas e das políticas energéticas. Colaboradora
regular do jornal Expresso.
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Luísa Schmidt
Ana Delicado
Introdução
A entrada de Portugal na Comunidade Europeia, em 1986, implicou
consequências maiores para as questões ambientais, tanto ao nível polí-
tico como a nível da formação e da informação.
A nível político, Portugal inicia nessa altura um processo de acompa-
nhamento das medidas e políticas ambientais comunitárias, implicando
uma elevação dos seus padrões de exigência e a transposição sistemática
dos dispositivos legais europeus. Este processo e a sua articulação às con-
dições específicas da transformação acelerada da sociedade portuguesa
não se processou de forma linear. Basta pensar que, com a adesão, Por-
tugal instalou-se também na economia de mercado da Europa e dos seus
valores de consumo, ao mesmo tempo que lançava inúmeras obras pú-
blicas e infraestruturas básicas e menos básicas. O país abreviou em 10
anos o que os seus pares europeus mudaram em 30, como os indicadores
de consumo e modernidade demonstram (Barreto 1996). E mudou de-
pressa e muito e em quase tudo, sem dar tempo a si próprio para conso-
lidar ferramentas culturais que permitissem aos cidadãos e aos decisores
novas leituras para uma sociedade que acabara praticamente de sair de
um modelo ruralista, fechado e ditatorial. A nível social deram-se altera-
ções radicais sobretudo nos estilos de vida e de consumo, com impactos
crescentes no estado do ambiente, sem que as diretivas europeias viessem
a tempo para infletir a degradação dos recursos que então se agudizou
(Santos et al. 1990; Schmidt 2000).
Alguns efeitos perversos da adesão ligam-se justamente ao modelo de
crescimento então seguido que veio ao encontro de uma dinâmica que
já estava instalada em Portugal de ocupação urbana desordenada no li-
toral e nas áreas metropolitanas das duas grandes cidades (Ferrão 1996).
Este modelo de crescimento produziu como consequências um boom de
infraestruturas rodoviárias e de imobiliário suburbano que estão hoje na
base de dois graves problemas estruturais: por um lado, a ineficiência e
a dependência energéticas, devido à assunção do automóvel como trans-
porte dominante; e, por outro, o endividamento das famílias à banca
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Introdução
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Introdução
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tanto a nível das políticas comunitárias, como a nível das políticas locais
de mitigação e adaptação, como até a nível das decisões pessoais quoti-
dianas (capítulo 3 – Alterações climáticas na opinião pública). Depois a temá-
tica da energia, articulada à anterior e central nas decisões políticas sobre
as opções das fontes e o necessário debate acerca do mix energético, bem
como nas decisões coletivas e pessoais sobretudo no que respeita à adoção
das práticas de eficiência energética (capítulo 4 – Energia: das fontes à efi-
ciência energética). Em seguida as questões do consumo, particularmente
no que respeita a critérios de escolha num mercado alargado, bem como
às crises e riscos alimentares (capítulo 5 – Consumo, alimentação e OGM).
Por fim, uma breve abordagem à mobilidade urbana como aspeto rele-
vante tanto nos impactos como nas melhorias ambientais na vida das ci-
dades (capítulo 6 – Mobilidade urbana e cidades)
As análises realizadas não deixam margem para dúvidas quanto ao
significado e ao valor desta nossa inserção numa estrutura europeia de
conhecimento, informação e acompanhamento de dinâmicas sociais e
políticas públicas. Mesmo com os seus limites e necessidades de aperfei-
çoamento, a informação dos EB sociologicamente enquadrada torna-se
muito útil e permite-nos traçar um panorama fiável sobre as mudanças
de perceções, conhecimentos e práticas na opinião pública portuguesa
relativamente aos temas em análise desde a adesão à UE, reforçando,
aliás, muitos dos resultados que já havíamos trabalhado aquando dos in-
quéritos do OBSERVA (Almeida 2000 e 2004).
Ao longo dos capítulos seguintes, alguns aspetos marcantes e comuns
podem ser salientados.
Em primeiro lugar e de forma geral, podemos dizer que, no que res-
peita ao ambiente, os portugueses acompanham o crescendo de preo-
cupação da média dos cidadãos europeus, mas distinguem-se na maior
ênfase que atribuem aos problemas ambientais «clássicos», ou de «pri-
meira geração», como a poluição da água e do ar, enquanto os restantes
europeus, sobretudo do Centro e Norte, estão mais preocupados com
problemas apelidados de «segunda geração», como é o caso dos recursos
naturais e dos hábitos de consumo.
Em segundo lugar, é também notório ao longo das séries, seja de am-
biente, alterações climáticas, energia ou defesa do consumidor, o número
bastante superior de inquiridos nacionais que optam pela resposta «não
sabe» – número que é ainda mais elevado entre as mulheres e entre os
mais velhos. Seja ambiente, sejam as alterações climáticas e sobretudo as
questões energéticas, no que toca à informação, no quadro europeu, a
maioria dos inquiridos portugueses considera saber pouco sobre as ques-
26
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Introdução
Nota metodológica
Este livro toma como ponto de partida o relatório O Ambiente em 25
Anos de Eurobarómetro, editado em 2011 pelo OBSERVA Observatório
27
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Introdução
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Schmidt, Luísa et al. 2011. O Ambiente em 25 Anos de Eurobarómetro. Observa Report, abril.
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Susana Valente
José Gomes Ferreira
Capítulo 1
31
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1
A primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano realizou-
-se em Estocolmo, em 1972. Vinte anos mais tarde decorreu a Conferência das Nações
Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento, em 1992, no Rio de Janeiro (ECO 92).
Em 2002, realizou-se em Joanesburgo a Cimeira Mundial do Desenvolvimento Susten-
tável (Cimeira da Terra) e, por fim, em 2012, no Rio de Janeiro a Conferência das Nações
Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (Rio+20).
2
Atualmente, está em vigor o 7.º Programa de Ação sobre Ambiente (2013--2020),
que tem como objetivos específicos a prevenção das alterações climáticas, a manutenção
e recuperação da biodiversidade, a redução sustentável do uso dos recursos naturais e
fazer da Europa um local saudável para viver. Destaca-se ainda um enfoque específico
que visa a mobilização cívica para a redução da Pegada Ecológica com quatro domínios
de intervenção: i) integração dos objetivos ambientais em todas as políticas; ii) promover
um mercado que trabalhe a favor do ambiente; iii) inovação para uma governança sus-
tentável; iv) reforçar a mobilização dos cidadãos e a inovação institucional (EEB 2010).
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3
Quase em simultâneo, o país assiste ao desencadear de conflitos ambientais em re-
sultado de controvérsias públicas, por exemplo, contra a instalação de incineradoras de
resíduos industriais perigosos (Nunes e Matias 2003, 147; Gonçalves et al. 2007).
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Figura 1.1 – Ter ouvido ou lido sobre o Ano Europeu do Ambiente, 1988
(%)
Portugal UE12
NS/NR
NS/NR
4%
7%
Sim
Não 31%
35% Sim
58% Não
65%
37
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38
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Figura 1.2 – Quais são os dois problemas mais importantes que o país
enfrenta? (2012)
Desemprego
Situação económica
Subida de preços/inflação
Impostos
Dívida pública
Habitação
Reformas/pensões
Sistemas de saúde
e segurança social
Insegurança (criminalidade)
Terrorismo
Sistema educativo
Questões do ambiente, energia
e alterações climáticas
Imigração
PT UE27
39
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Portugal UE27
Muito melhor Definitivamente pior Muito melhor
2% 10% 9%
NS/NR
NS/NR 9%
13% Um pouco
melhor
22%
Definitivamente
pior
19% Um pouco melhor
Um pouco pior
44%
28%
Um pouco pior
44%
40
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Portugal UE27 Portugal UE27 Portugal UE27 Portugal UE27 Portugal UE27 Portugal UE27
2005 2006 2007 2008 2009 2010
Fonte: EB63 (2005), EB66 (2006), EB68 (2007), EB70 (2008), EB71 (2009), EB73 (2010).
ses, ainda que o contexto da crise, que absorve a atenção pública de forma
intensa, acabe por aproximar os valores nacionais dos europeus em 2010,
no que se refere à perceção da situação do ambiente (figura 1.5).
No entanto, a importância do ambiente junto da opinião pública
não acompanha nem o discurso mediático, nem o discurso político do-
minantes, nos quais o ambiente reduziu a sua presença.4 Como vimos,
para os portugueses, segundo o EB 75.2 (2011), o ambiente é conside-
rado um tema importante e/ou muito importante para 95% e a degra-
dação ambiental é avaliada como preocupante para 63%, em 2012
(EB77, 2012).
Em síntese, o ambiente tem de competir na agenda pública por um
lugar de relevo, perdendo peso em cenários como o da crise atual, onde
ganham ênfase as temáticas económicas e financeiras. Porém, isso não
significa que os portugueses não atribuam importância ao tema. Pelo
contrário, a preocupação ambiental continua elevada para a maioria dos
portugueses, os quais manifestam também uma visão mais crítica e pes-
simista face à situação do ambiente no país do que a média dos europeus.
4
O ambiente é um tema que não tem marcado uma presença forte nos meios de co-
municação social, nos últimos anos, excepto em 2007, após a mediatização sobre as Al-
terações Climáticas, em resultado da simultaneidade de divulgação do livro e filme de
AlGore (Uma Verdade Inconveniente), do Relatório Stern e dos resultados dos IPCC – In-
tergovernmental Panel on Climate Change (Schmidt, Horta e Carvalho 2011).
41
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Ambiente, o que é?
A abordagem ao ambiente nos EB tem sido feita com base numa lista
de preocupações e problemas ambientais predefinidas, sem questionar
o próprio conceito, ou seja, sem perguntar livremente aos inquiridos
o que é para eles o ambiente? Esta foi precisamente uma das questões iniciais
do inquérito nacional do Observa «Os Portugueses o Ambiente», apli-
cado em 1997, que revelou, de forma evidente, a polissemia do termo,
sobretudo por se tratar metodologicamente de uma questão aberta (Lima,
Coimbra e Figueiredo 2000).
Desde 2008, a pergunta está também presente nos Eurobarómetros,
ainda que de forma fechada – «quando se fala de ‘ambiente’, dos seguin-
tes temas, em que é que pensa em primeiro lugar?». Entre a opinião pú-
blica portuguesa, as respostas apontam para a presença de duas grandes
categorias: a poluição urbana e a proteção da natureza. Seguem-se as cate-
gorias mais mediáticas, nomeadamente as alterações climáticas que em
2008 estavam «em alta» (ver nota 4), os desastres antrópicos e ainda os
desastres naturais, isto é, assuntos ambientais que têm feito notícia. Com
percentagens menores surge a associação de ambiente a paisagens verdes
e agradáveis, ao estado do ambiente que os nossos filhos vão herdar, à
exploração de recursos naturais e à qualidade de vida do sítio onde vive.
Entre 2008 e 2011, mantêm-se as tendências de resposta, ganhando re-
levo a categoria sismos, cheias e outros desastres naturais, tendo em conta al-
gumas ocorrências com maior impacto (por exemplo, as trágicas cheias
na ilha da Madeira, em 2010).
Em 2011, a média da UE27 aponta para uma maior diversidade de
respostas em comparação com Portugal, predominando a associação
de ambiente à ideia de proteger a natureza. Em segundo lugar surge o es-
tado do ambiente que os nossos filhos vão herdar, o que contrasta com visão
de mais curto prazo que as respostas dos portugueses manifestam. As
paisagens verdes e agradáveis e a qualidade de vida do sítio onde se
vive também apresentam valores mais elevados entre o conjunto dos
europeus, expressando uma maior associação do ambiente a uma vi-
vência local e quotidiana e ao usufruto de uma envolvente natural agra-
dável. De uma forma global, os portugueses revelam uma conceção
mais desqualificada e dramatizada do ambiente, que se manifesta na
sua maior associação a poluição urbana, alterações climáticas, desastres
antrópicos, desastres naturais e exploração de recursos naturais, cate-
gorias que correspondem a 58% do total das respostas, contra 47% da
média UE27.
42
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Poluição urbana 27 20 13
Proteger a natureza 18 20 17
Alterações climáticas 13 11 13
Desastres antrópicos (marés negras e acidentes
industriais, etc.) 10 11 9
Sismos, cheias e outros desastres naturais 5 10 6
Paisagens verdes e agradáveis 9 7 10
O estado do ambiente que os nossos filhos vão herdar 7 7 14
Exploração de recursos naturais 2 6 6
A qualidade de vida do sítio onde vive 6 5 9
43
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44
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Fonte: EB25 (1986), EB29 (1988), EB37.0 (1992), EB43.1bis (1995) e EB47 (1997).
no topo da hierarquia dos danos duas categorias quase a par: o lixo nas
ruas, espaços verdes ou praias e as fábricas que libertam produtos químicos. Ou-
tros danos ambientais estavam menos presentes nas preocupações nacio-
nais, abaixo dos 25%, sendo os menos referidos os usos de químicos na
agricultura, o ruído e as chuvas ácidas. As respostas da média da UE12 in-
dicam algumas distinções relativamente às respostas dos portugueses,
com maior distribuição por todas as categorias, revelando maior sensibi-
lidade e abrangência sobre o significado de danos ambientais. Compara-
tivamente, em 1988, destaca-se a ênfase dada pela opinião pública euro-
peia ao uso de químicos na agricultura e às chuvas ácidas, esta última
ausente do conjunto dos problemas ambientais que afetam o nosso país.
Porém, a falta de sensibilidade à poluição agrícola prende-se com fatores
culturais ancestrais e profundos, que levam os portugueses a encarar a
atividade agrícola, em geral, como ambientalmente benigna (Almeida
2004) (quadro 1.2).
Nos anos 1990, reflexo da crescente complexidade da temática am-
biental, foi alargada a lista de categorias de danos ambientais, nomeada-
mente poluição global, esgotos, armazenamento dos resíduos nucleares e turismo
de massas. As respostas mantêm no topo da hierarquia dos danos am-
bientais a poluição química das fábricas, tanto em Portugal como na média
europeia (UE12). A poluição global surgiu num lugar cimeiro em 1992,
no contexto da ECO92. No entanto, passado esse momento, em Portu-
gal observa-se uma quebra da sua importância em 1995 e 1997. Nesses
47
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anos são os problemas locais-nacionais, como o lixo nas ruas, espaços verdes
ou praias e os esgotos que mais captam a atenção dos portugueses, ou seja,
questões associadas à falta de saneamento, limpeza e higiene públicas,
matérias com soluções já implementadas na maior parte dos Estados-
-membros, mas com uma cobertura bastante inferior no nosso país.
Na UE12 assume relevância a problemática do armazenamento de re-
síduos nucleares, e mais abaixo, o uso de químicos na agricultura em paralelo
com os resíduos industriais. Os portugueses manifestam uma visão de dano
ambiental mais centrada na indústria, salvaguardando a imagem de uma
produção agrícola muito menos «danosa» em termos ambientais, ten-
dendo a menosprezar os possíveis riscos para o ambiente e para a saúde
pública dos químicos na produção agrícola.
A partir de 2005, a pergunta abandonou a perspetiva do dano ambien-
tal, passando a solicitar-se aos inquiridos que assinalassem os cinco pro-
blemas ambientais que mais os preocupavam. Apesar de, nas categorias,
se deixar de explicitar as fontes da poluição, nomeadamente a associação
à indústria, as respostas acabam, ainda assim, por espelhar alguma con-
tinuidade quanto ao tipo de problemas ambientais que, no fundo, se ar-
ticulam aos danos, destacando-se a preocupação com a poluição da água,
48
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O ambiente no quotidiano
Os problemas ambientais apresentam uma dinâmica social ao longo
do tempo, reflexo das próprias mudanças que ocorrem nas esferas pública
e privada, conferindo-lhes relevância e novos significados, apresentando
um carácter transversal a várias questões relativas às condições de vida,
tais como a saúde, a segurança, o habitat, a mobilidade, etc. Nesse sentido,
a presença de problemas ambientais faz-se sentir de uma forma mais ou
menos visível no quotidiano. Um indicador de avaliação dessa perceção
é o grau de concordância com a frase «Os problemas ambientais têm um
efeito direto na sua vida quotidiana». Em 2011, as respostas indicam que
os problemas ambientais são considerados problemas que efetivamente
afetam o quotidiano. A maioria dos portugueses tende a concordar com
esta afirmação (52%), sendo os europeus ainda mais assertivos a esse res-
peito, manifestando mais a sua concordância total (35% contra 23% dos
portugueses) (figura 1.9).
Apesar deste efeito direto do ambiente no quotidiano, observa-se um
constrangimento na passagem à prática dos indivíduos no que diz res-
peito às suas ações para proteger o ambiente. Esta atitude é expressa no
nível de concordância total com a seguinte afirmação – «Enquanto indi-
52
01 Ambiente Cap. 1.qxp_Layout 1 29/01/14 18:56 Page 53
Figura 1.9 – «Os problemas ambientais têm um efeito direto na sua vida
quotidiana», 2011 (%)
Grau de concordância
Portugal UE27
Discorda NR Discorda NR
totalmente 2% totalmente 1%
2% 5%
Concorda Tende a
Tende a totalmente
discordar discordar Concorda
23% 18%
21% totalmente
35%
53
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Discorda NR Discorda NR
totalmente 3% totalmente 1%
1% 3%
Tende a
Tende a Concorda discordar
discordar totalmente 9%
17% 20%
Concorda
totalmente
42%
Tende a concordar
Tende a concordar 45%
59%
5
Os dados existentes não são lineares, havendo categorias que unicamente ocorrem
até aos anos 1990 e outras que surgem nessa altura, obrigando, portanto, a uma leitura
cuidadosa. Desde logo, à semelhança do que se observou nas categorias relativas aos
danos e preocupações ambientais, também no caso das práticas, as categorias de resposta
presentes nos EB são reflexo de uma agenda política, económica e social da UE. O de-
saparecimento de certas perguntas e categorias e a emergência de outras, reflete a própria
evolução das questões ambientais e das práticas que são desafiadas com as mudanças
que vão ocorrendo.
6
Nos anos 1980 (1986 e 1988) era pedido aos inquiridos que escolhessem dentro de
uma lista proposta quais as coisas que já faziam. Nesses dois EB também foi perguntado
quais as ações que o inquirido estaria preparado para fazer ou para fazer mais frequente-
mente, identificando as práticas mais cativantes ou aquelas que, à partida, oferecem mais
resistência em termos de adesão por parte da população. Na primeira metade da década
de 1990, nos EB de 1992 e 1995, perguntava-se, perante uma lista de ações, qual ou quais,
se a(s) houver, das ações já fez. E, tal como anteriormente, abordava-se ainda a predispo-
sição para realizar essas práticas, perguntado aos inquiridos se estavam preparados para
fazer mais vezes, ou para passar a fazer, caso não tenham feito, um conjunto de ações.
54
01 Ambiente Cap. 1.qxp_Layout 1 29/01/14 18:56 Page 55
fazer parte dos EB em 1995, por isso, optou-se por centrar a análise na
evolução das práticas realizadas e fazer uma incursão sobre os dados mais
recentes, no que diz respeito às prioridades quotidianas em termos am-
bientais dos cidadãos.
Começamos por apresentar a evolução das práticas ambientais reali-
zadas ao longo dos últimos 25 anos, tanto em Portugal, como na UE.7
De 1986 a 2011 é possível observar uma mudança progressiva dos com-
portamentos dos portugueses e dos europeus face ao ambiente através
da análise dos valores obtidos e das alterações sucessivas das categorias.
Efetivamente, verifica-se que, embora a maior parte das temáticas das di-
mensões das ações do quotidiano se mantenham, as expressões utilizadas
nas categorias que as indicam variam, refletindo a evolução e transfor-
mação da própria linguagem do discurso político e ambiental.
Verifica-se que, entre 1986 e 1995, evitar deitar papéis ou outro lixo para
o chão é a prática que a maior parte dos portugueses assinalavam, até 1995,
último ano em que essa categoria fez parte da lista de ações quotidianas
para proteger o ambiente, e que se articula a uma dimensão essencial-
mente cívica. Segue-se na hierarquia das práticas não desperdiçar/poupar
água da torneira, não fazer muito barulho (igualmente apenas presente até
1995) e, com valores mais baixos, separar o lixo (doméstico) para reciclagem.
Em 1992, com a entrada da categoria poupar energia, observa-se o assumir
de uma posição forte desta prática, passando a integrar as práticas am-
bientais mais realizadas pelos portugueses (figura 1.11).
55
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Fonte: EB25 (1986), EB29 (1988), EB37.0 (1992), EB43.1bis (1995), EB51.1 (1999), EB68.2 (2008)
e EB 75.2 (2011).
8
O desfasamento observado entre 1999 e 2008-2011 resulta do facto de a questão
remeter para ações realizadas especificamente no último mês.
56
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9
O grande peso desta categoria a nível nacional também pode estar relacionado com
características atribuídas aos povos do Sul da Europa, como sendo mais «ruidosos», à
qual se junta um fraco isolamento de som nas casas, o que faz com que os vizinhos sejam
sempre considerados «barulhentos», seja um café que fecha à meia-noite, seja um adoles-
cente a ouvir música em casa ou mesmo um convívio familiar mais animado.
57
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71
62
55 55 56
51 52 52
10
Esta inclusão da problemática do consumo na questão do ambiente nos anos 1990
também se verifica a nível dos EB Especiais de Consumo através de perguntas em que
se inclui o ambiente como critério de compra ou como informação pertinente a incluir
na rotulagem dos produtos.
11
A questão da importância dos produtos alimentares locais centra-se sobretudo no
impacto de comprar local e produtos de estação, o que assume um novo significado em
termos de emissões poluentes ao remeter para novas problematizações sobre a redução
dos «quilómetros alimentares» e a redução das emissões de carbono em contexto de al-
terações climáticas.
58
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Fonte: EB37.0 (1992), EB43.1bis (1995), EB51.1 (1999), EB68.2 (2008) e EB 75.2 (2011).
capítulo 5). Identificam-se, assim, duas facetas das questões que envolvem
as compras de produtos ecológicos. Por um lado, a compra de produtos
amigos do ambiente ou biológicos e, por outro lado, as compras com o
mínimo impacto a nível das emissões de carbono, expresso na categoria
comprar produtos locais. Mais uma vez os dados relativos a 2008 e 2011 re-
ferem-se a práticas realizadas no último mês (quadro 1.5).
De uma forma geral, o que se observa nestas categorias relativas a
compras é que os portugueses apresentam sempre valores mais baixos
que os da média europeia, por vezes menos de metade, o que pode sig-
nificar que estas práticas ainda não recrutaram muitos consumidores
entre os portugueses. Apesar de vários estudos (e. g., Shove 2003; Warde
2005) apontarem um conjunto de fatores que influenciam as práticas, o
que se constata no nosso país é que a informação e o poder de compra
influenciam de forma bastante significativa as práticas das compras «ami-
gas de ambiente», observável na figura 1.14 que mostra a relação entre o
grau de informação sobre questões ambientais e a disponibilidade para pagar
mais por produtos amigos do ambiente.
Efetivamente, Portugal posiciona-se no grupo de países com menor
grau de informação ambiental e é, simultaneamente, aquele que se mos-
tra menos disposto a pagar mais por produtos amigos do ambiente.
Por seu turno, relativamente à problemática do consumo, no final da
década de 1990, a questão emerge nas posições mais altas da hierarquia
das práticas realizadas, relativa aos resíduos das embalagens, com a cate-
goria comprar produtos em embalagens recicláveis (45% Pt; e 56% UE). Em
2008 e 2011, a articulação da produção do lixo com o ato do consumo
surge através da categoria redução do consumo de produtos descartáveis (sacos
de plásticos, certo tipo de embalagens). Mais uma vez, a ideia da redução está
59
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Figura 1.14 – Relação entre estar bem informado sobre questões ambientais
e a disponibilidade para pagar mais por produtos amigos
do ambiente, 2011 (%)
Suécia
90
Disposto a pagar mais por produtos amigos do ambiente
Luxemburgo
Chipre Malta
Dinamarca
Finlândia
80 Holanda
Áustria
Itália
Grécia Reino Unido
Bélgica Alemanha Eslovénia
França
70 UE27 Irlanda
Lituânia
Roménia Letónia
República Checa Eslováquia Polónia Estónia
Bulgária
Hungria
60 Espanha
Portugal
50
40
40 50 60 70 80 90
Bem informado sobre questões ambientais
60
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Figura 1.15 – Ações realizadas durante o último mês por razões ambientais
2011 (%)
62
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63
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Figura 1.18 – Ações realizadas durante o último mês por razões ambientais,
segundo o tipo de família, 2011, Portugal (%)
64
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12
O termo food miles refere-se à distância do transporte dos alimentos desde o mo-
mento da sua produção até chegar ao consumidor: É um indicador que avalia o impacto
da produção de alimentos nas alterações climáticas, tratando-se de uma especificidade
de cálculo da pegada ecológica (Seyfang 2006).
65
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pelo país (ver capítulo 2). Várias campanhas, locais e nacionais, promo-
vendo a separação de resíduos domésticos, também concorreram para a
consolidação desta prática ou pelo menos para a sua visibilidade pública
(Valente 2001; Schmidt e Martins 2006 e 2007; Valente 2013).
Relativamente às diferenças que emergem das características sociais
dos inquiridos, é percetível que, em termos de género, são as mulheres
que apresentam valores mais elevados no conjunto das práticas domés-
ticas, conferindo maior relevo à separação do lixo, redução do consumo
de energia, redução do lixo e compra de produtos ecológicos. Os homens
acentuam um pouco mais as categorias relativas à mobilidade, seja usar
os transportes públicos sempre que possível em vez de usar o carro ou
substituir o carro por um mais eficiente em termos energéticos mesmo
que mais pequeno e mais caro.
Em termos de escolaridade verifica-se que os estudantes e os mais es-
colarizados dão maior prioridade à separação do lixo, à redução do con-
sumo de energia e ao uso dos transportes públicos. Os mais escolarizados
dão também prioridade à substituição do carro por um mais eficiente e
66
01 Ambiente Cap. 1.qxp_Layout 1 29/01/14 18:56 Page 67
Comprar produtos Substituir o carro por Comprar mais produ- Considerar aspetos
amigos do ambiente um mais eficiente em tos locais, evitando ambientais quando
em produtos de uso termos energéticos produtos que venham faz grandes
diário mesmo que mais de longe investimentos/compras
pequeno e mais caro (viajar, comprar carro,
sistemas de
aquecimento,
comprar uma casa)
à redução do lixo. São os estudantes e, por isso, os mais novos que mais
enfatizam os aspetos ambientais em grandes compras. Por fim, se tiver-
mos em conta o local de residência, verifica-se que os que residem em
grandes cidades dão mais relevância à separação do lixo, redução do con-
sumo de energia e redução do lixo (tabela 1.2).
Em síntese, a identificação de prioridades quotidianas apresenta al-
guns paralelismos mas também desfasamentos na comparação entre Por-
tugal e a UE27, sobretudo no que diz respeito à ênfase atribuída às prá-
ticas relativas ao consumo e à mobilidade, muito menos enraizadas em
Portugal. Pelo contrário, os portugueses concentram as suas prioridades
em torno de práticas tradicionalmente mais associadas ao ambiente e à
economia doméstica, nomeadamente à separação do lixo e à redução do
consumo de energia.
67
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Conclusões
A adesão à União Europeia constitui um marco na história do país,
particularmente visível em matéria ambiental. O impulso externo trouxe
meios financeiros e tecnológicos, assim como um novo aparato legisla-
tivo e organizativo, mais informação e conhecimento e o relançar das
expetativas dos portugueses face ao tema que, pela sua novidade, se ade-
quava à nossa aspiração europeísta. Porém, nem tudo correu como de-
sejado. A concretização das políticas ambientais resultou no avanço de
umas e no adiamento de outras.
O impasse e a falta de soluções para alguns problemas não foram ape-
nas uma consequência do nosso atraso. Durante cerca de três décadas
assistiu-se a uma profunda alteração dos próprios problemas ambientais.
Se em 1986, com raras exceções, os problemas eram essencialmente en-
carados à escala do país ou do território, a partir da década de 1990 pas-
saram também a ser encarados à escala do planeta, exigindo, no entanto,
respostas regionais e sectoriais, de modo a salvaguardar a proteção da na-
tureza e do ambiente. Estamos perante problemas globais, que exigem
respostas globais, isto é, concertadas entre (todos) os países, o que coloca
à UE e seus Estados-membros novos e ambiciosos desafios, sobretudo
os que remetem de forma premente para mudanças sociais e comporta-
mentais. Problemas como as alterações climáticas, o esgotamento e de-
gradação dos recursos naturais, a tecnologia aplicada à produção agrícola,
a alteração dos hábitos de consumo e dos ciclos produtivos estão entre
os temas a serem encarados nessa ótica.
Perante a globalização da questão ambiental, paralelamente a altera-
ções registadas noutros sectores, as perceções, práticas e expetativas dos
portugueses e dos europeus foram-se alterando a partir do processo de
adesão à UE, no sentido de integrar valores mais europeístas. Porém, uma
leitura diacrónica mostra que, por ausência de consolidação desses valores,
se mantiveram algumas carências persistentes da sociedade portuguesa,
ainda que se tenham operado mudanças significativas a vários níveis.
À escala nacional não mudou apenas o estado do ambiente em ter-
mos objetivos, as políticas sectoriais e a perceção dos cidadãos face aos
problemas. Mudou igualmente o discurso político. Para a conquista de
protagonismo dos problemas ambientais muito contribuíram algumas
personalidades, como Ribeiro Telles e Carlos Pimenta, através de um de-
sempenho político envolvido na causa ambiental.
Contudo, apesar desse impulso nacional e dos bons exemplos em al-
guns domínios, a implementação de soluções para alguns problemas tem
68
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70
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Eurobarómetros
Eurobarómetros Standard
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Standard Eurobarometer 25. Bruxelas: Directorate-General Information, Communica-
tion, Culture.
Comissão das Comunidades Europeias. 1988. Public opinion in The European Community.
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Comissão das Comunidades Europeias. 1988. Public opinion in The European Community.
Standard Eurobarometer 30. Bruxelas: Directorate-General Information, Communica-
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Standard Eurobarometer 31. Bruxelas: Directorate-General Information, Communica-
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02 Ambiente Cap. 2.qxp_Layout 1 29/01/14 18:48 Page 75
Capítulo 2
A água e os resíduos:
duas questões-chave
Introdução
Tendo como quadro genérico de referência o capítulo 1 – Ambiente:
das preocupações às práticas, o objetivo deste segundo capítulo é analisar
de forma mais aprofundada os dois casos que se destacam a nível das
preocupações e das práticas ambientais: a água e os resíduos. Assim, apro-
fundam-se estes dois domínios ambientais: o primeiro, por constituir
para os portugueses a questão ambiental mais preocupante ao longo do
tempo; o segundo, por ter sido aquele no qual se verificaram mais mu-
danças, posicionando-se a separação do lixo doméstico como a prática
quotidiana com maior participação no âmbito das ações individuais de
proteção do ambiente.
A poluição da água e a problemática do lixo, ao contrário de outros
problemas ambientais, são assuntos mais visíveis, ou pelo menos domínios
tornados visíveis nos meios de comunicação social. Estes temas foram alvo
de grande mediatização – fosse através das notícias da mortandade de pei-
xes nos rios vitimados pela poluição, fosse das imagens de lixeiras clandes-
tinas a céu aberto – marcando o imaginário coletivo dos portugueses so-
bretudo nos anos 1990 de uma forma mais intensa (Schmidt 2003).
Quanto à problemática da água, as preocupações dos cidadãos são re-
flexo do adiamento de soluções de despoluição dos principais rios nacio-
nais e da falta de respostas políticas e técnicas que permitam a drenagem
e o tratamento dos efluentes com origem em todos os sectores económi-
cos. Assim, sem resultados visíveis, aumenta a falta de confiança dos por-
tugueses nas instituições e o pessimismo com que encaram a problemática
da água e a sua evolução. Os dados apresentados ao logo do capítulo 1,
paralelamente aos resultados dos inquéritos nacionais Os Portugueses e o
Ambiente (2000 e 2004), assim como dos inquéritos sectoriais realizados
75
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76
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1
Na perspetiva do legislador, o êxito da DQA «depende da estreita cooperação e de
uma ação coerente a nível comunitário, a nível dos Estados-membros e a nível local,
bem como da informação, consulta e participação do público, inclusivamente dos uten-
tes» (DQA 2000).
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2
Reforçando a autonomia financeira e administrativa e do sector, com o objetivo
prioritário de promover a utilização racional e proteção dos recursos hídricos, em 2009,
foi ainda criado o Fundo de Proteção dos Recursos Hídricos (DL n.º 172/2009).
78
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3
A este propósito vale a pena referir a evolução das categorias presentes nos EB de
Ambiente sobre a temática da água. Assim, em 1982 (EB18) as perguntas relativas a preo-
cupações ambientais incluíam as categorias «pureza da água de consumo», «poluição de
rios e lagos» e «danos causados à vida marinha e às praias pelos petroleiros». Em 1986
(EB25) as categorias «poluição da água, dos rios e dos lagos» e «danos causados à fauna
marinha e às praias» estavam presentes na listagem das preocupações ambientais, enquanto
a «qualidade da água potável» integrava uma questão sobre razões de queixa do local onde
habitavam. Em 1995 (EB43.1) na identificação dos maiores danos ambientais entre as op-
ções surgia «produtos químicos lançados no ar ou na água», «esgotos» e «poluição dos
mares e litoral por petróleo». Em 1999 (EB51.1), entre as razões de queixa do local de re-
sidência surgiam as categorias «qualidade da água da torneira» e «qualidade das águas bal-
neares». No âmbito das preocupações ambientais, as categorias relativas à questão da água
incidiam sobre a «poluição do mar e do litoral» e a «poluição de rios e lagos»; em 2002
(EB58.0) foi ainda adicionada a categoria «poluição das águas subterrâneas». Finalmente,
em 2005 (EB62.1), a «poluição da água (mares, rios, lagos e águas subterrâneas)» surgia
numa lista de problemas ambientais preocupantes, mantendo-se até hoje.
79
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4
Os dois inquéritos surgiram em momentos específicos: o primeiro antecipa o debate
público sobre os planos de bacia hidrográfica na Europa e o segundo encerra esse pro-
cesso. O Flash 261 foi realizado em janeiro de 2009 pela delegação húngara do Gallup,
a pedido da Direção-Geral do Ambiente da Comissão Europeia e coordenado pela Di-
reção-Geral de Comunicação, inquirindo 25 500 cidadãos dos 27 Estados-membros da
União Europeia, entre os quais, 1 006 portugueses. Quanto ao Flash 344 foi realizado
em março de 2012 pela TNS Political & Social, igualmente a pedido da Direção-Geral
do Ambiente da Comissão Europeia e coordenado pela Direção-Geral de Comunicação,
inquirindo 25 524 cidadãos europeus, onde se incluem 1 002 portugueses.
5
Centramos a nossa atenção na qualidade da água. Todavia, as preocupações com a
quantidade estão igualmente presentes. Veja-se que, em 2004, 80% dos portugueses con-
sideravam a escassez de água potável como um problema «muito grave» e 16% como
um problema «grave» (Gonçalves et al. 2007). Por seu turno, em 2009, no EB Flash 261,
63% dos europeus (UE27) consideravam ser este um problema extremamente sério, al-
cançando percentagens mais elevadas no Sul da Europa: Chipre (97%), Grécia (89%),
Portugal (86%) e França (84%) (Flash EB 261, 2009).
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Figura 2.2 – Perceção dos inquiridos sobre a qualidade da água, 2009 (%)
Áustria
Holanda
Reino Unido
Rep. Checa
Luxemburgo
Dinamarca
Finlândia
Alemanha
Eslováquia
Estónia
Irlanda
Suécia
Espanha
Malta
Lituânia
Letónia
Bélgica
Hungria
Polónia
Itália
Bulgária
Chipre
Eslovénia
Portugal
França
Roménia
Grécia
É um problema sério Não é um problema sério NS/NR
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100
Roménia
Itália
França
Bulgária
Grécia
Polónia Eslovénia
80
Chipre
É um problema sério
Malta Portugal
Bélgica
Lituânia Hungria Eslováquia
Espanha
UE27
República Checa
Irlanda Letónia
Luxemburgo
Dinamarca
60 Suécia
Estónia
Holanda Alemanha
20 30 40 50 60 70
A qualidade da água deteriorou-se
Fonte: Flash EB 344, 2012.
83
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84
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Quadro 2.1 – Ações realizadas nos dois últimos anos que contribuíram
para reduzir os problemas da água, 2009 (%)
Portugal UE27
85
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Quadro 2.2 – Ações realizadas nos dois últimos anos que contribuíram
para reduzir os problemas da água, 2012 (%)
Portugal UE27
Aumentar os impostos
sobre as actividades poluidoras
Portugal UE27
Fonte: Flash EB 344, 2012.
86
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87
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Figura 2.6 – Qual deve ser o foco da nova estratégia europeia sobre água?,
2012 (%)
Inundações
Portugal UE27
Fonte: Flash EB 344, 2012.
88
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6
Depois de ter entrado em vigor em 1977, foi alterada pela Diretiva 91/156/CEE, a
fim de incorporar as diretrizes estabelecidas na Estratégia Comunitária para a Gestão dos
Resíduos de 1989. Articulam-se ainda a este quadro legislativo várias diretivas, das quais
se destacam, no âmbito dos resíduos urbanos, a Diretiva 94/62/CE, relativa a embalagens
e resíduos de embalagens, e a Diretiva 99/31/CE, referente aos quantitativos de RUB
(Resíduos Urbanos Biodegradáveis) admissíveis em aterro.
89
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7
Esta situação perpetuou-se até muito recentemente, podendo considerar-se 2011
um ano marcante na estabilização de um sistema de monitorização de resíduos no nosso
país (CNADS 2011).
8
A criação da SPV – Sociedade Ponto Verde S. A. entidade privada, sem fins lucra-
tivos, em 1996, decorre desta orientação política, com a missão de promover a recolha
seletiva, a retoma e a reciclagem de resíduos de embalagens a nível nacional. Também a
nível do papel das autarquias houve algumas alterações, passando o modelo a ser quase
todo enquadrado em sistemas intermunicipais (EGF) ou multimunicipais (CNADS
2011).
91
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9
Em 1999, o EB 51.1 integrava duas categorias das práticas ambientais que não vol-
tam a surgir: «compra produtos com uma embalagem que pode ser reciclada» e «faz com-
postagem com o lixo do jardim ou doméstico».
93
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Figura 2.7 – Evitar deitar papéis ou outro lixo para o chão, 1986-1995 (%)
84 87 87 87
76 79 76 80
Portugal UE12
10
ECO92 refere-se à Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e Desenvol-
vimento, realizada em 1992, no Rio de Janeiro.
94
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11
O diferencial das percentagens entre o EB de Ambiente 365 (2011) e o Flash EB
316 (2011) remetem para um enquadramento da questão, que no primeiro caso é mais
específica, referindo-se a práticas realizadas no último mês, tratando-se, no segundo caso,
de uma pergunta de carácter mais genérico e abrangente.
96
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Não
Total Separadores
separadores
Portugal UE27 Portugal UE27 Portugal UE27
86% 89% 14% 11%
97
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Figura 2.9 – Disponibilidade para pagar pela gestão do lixo, 2011 (%)
Portugal UE27
Pagar
Pagar impostos
impostos NR
11% para gestão
para gestão do lixo
do lixo 14%
NR 17%
36%
Pagar Pagar
proporcionalmente proporcionalmente
à quantidade de lixo à quantidade de lixo
que cada um produz que cada um produz
47% 75%
Pagar NR Pagar
impostos 16% impostos
para gestão para gestão
NR do lixo do lixo
44% 26% 25%
99
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Os dados mostram que 75% dos europeus preferem uma opção que
favoreça uma certa equidade, «pagar proporcionalmente à quantidade
de lixo que cada um produz», numa lógica de sistema PAYT (Pay As You
Throw) (Batllevell e Hanf 2008; Schmidt e Martins 2006 e 2007), desta-
cando-se Portugal ao apresentar o valor mais baixo dos países da UE em
relação a esta opção (47%). O mesmo acontece no caso de «incluir o
custo da gestão do lixo no preço dos produtos que cada um compra»
que é uma opção escolhida apenas por 30% dos portugueses, para uma
média europeia de 59%.
Ao longo das últimas décadas, além da manutenção da categoria rela-
tiva à separação do lixo doméstico para a reciclagem, a abordagem das
práticas ambientais em torno do lixo nos EB surge mais recentemente
com um enfoque na redução de lixo associada ao ato de consumo. As po-
líticas públicas dos resíduos apontam para a necessidade de cumprir metas
de separação para reciclagem e, simultaneamente, acentuam cada vez mais
as metas de prevenção da própria produção dos resíduos, que se tornam
prementes, com a capacidade dos aterros sanitários a atingir os seus limites.
Assim, reduzir a compra de produtos passíveis de serem reconvertidos em
lixo, nomeadamente sacos de plástico, itens descartáveis e (sobre)embala-
gens, passa a integrar as categorias das práticas ambientais nos EB na última
década. No entanto, ao contrário da separação, que implica uma ação a
jusante – pós-produção de lixo – as práticas de redução do lixo pressupõem
por parte do consumidor uma capacidade de antecipação e de empower-
ment: prevenir a produção de lixo na prática das compras.
O lixo deixa de aparecer limitado ao final de uma cadeia de produção
– sendo atirado para o aterro ou sendo conduzido para a reciclagem –
passando a ser explicitado em momentos prévios, nomeadamente nas
práticas de compra/consumo, remetendo para uma visão de circulação
e de fluxos produção-consumo-lixo e uma perceção de um ciclo de vida
dos bens de consumo, o que se articula a níveis de informação e literacia
ambiental e de consumo sustentável (Nave, Horta e Lorga 2000; Nave e
Fonseca 2004; Truninger 2010; Schmidt e Guerra 2011; Valente 2013)
(ver capítulo 5).
Observados no seu conjunto, os dados do consumo chamado «eco-
lógico» mostram que Portugal se tem encontrado, ao longo do período
em análise, longe da média da UE, refletindo o contexto histórico da
emergência do consumo em Portugal (Valente e Schmidt 2011; Valente,
Truninger e Schmidt 2012). «Comprar produtos em embalagens reciclá-
veis» ou «reduzir o consumo de produtos descartáveis» ou «reduzir o lixo
ao comprar de forma mais seletiva e evitando produtos com excesso de
100
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2008 2011
Portugal UE
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Preço
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Conclusão
Vimos no capítulo 1 que, durante as últimas décadas, os problemas
da água se destacaram como principais preocupações ambientais dos por-
tugueses e dos europeus e que, por seu turno, as práticas em relação aos
lixos assumem maior relevo no quotidiano. Essa foi a razão para o apro-
fundamento dos dois temas no presente capítulo, evocando dados trata-
dos nos Eurobarómetros sobre Ambiente, e apresentando dados mais re-
centes publicados em Eurobarómetros Flash sobre a água (Flash EB 261,
2009; Flash EB 344, 2012) e sobre a eficiência de recursos (Flash EB 316,
2011).
Ao longo do capítulo 2, explorámos os dois temas que, não só têm
merecido grande atenção por parte dos cidadãos, como têm sido alvo
das políticas nacionais e europeias. Verificámos que a adesão à União
Europeia veio a repercutir-se diretamente nas políticas nacionais da água
e dos resíduos, bem como nas práticas e perceções dos cidadãos sobre
estes temas. Ainda assim, o resultado foi diferente quando transpostas
para a legislação nacional as diretivas sectoriais.
Como demonstrado em alguns trabalhos sobre o tema (Pato 2008 e
2013; Ferreira 2012; Schmidt 2008), o sector da água registou avanços
positivos em vários domínios (e. g., captação, abastecimento e tratamento
de água para consumo humano). Porém noutros domínios os avanços
foram menos notados (e. g., drenagem e tratamento de esgotos), o que se
repercutiu na qualidade da água dos principais rios nacionais. O adiar
de soluções técnicas e políticas capazes de resolverem os problemas de
poluição em algumas bacias hidrográficas – cite-se o sucessivo adiar da
despoluição da bacia do Lis, transformando-a em ícone da poluição hí-
drica nacional com origem nas suiniculturas da região (Ferreira 2012) –,
a que se junta a incapacidade do Estado em punir os infratores, podem
explicar a persistência do tema no topo das preocupações ambientais dos
portugueses.
Relativamente aos dados sobre a opinião pública, os resultados mos-
tram que a preocupação com a qualidade da água (e com a sua escassez)
não é exclusivamente nacional. Estamos perante uma preocupação pra-
105
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dade de lixo produzido pela mudança dos hábitos de consumo dos por-
tugueses no período pós-abertura à lógica de mercado. Assim, perante o
problema de saúde pública e ambiental que o lixo a céu aberto represen-
tava, foi realizado um conjunto de investimentos com apoio da União
Europeia. Várias metas foram atingidas num curto espaço de tempo, no-
meadamente o encerramento das lixeiras, mas, a nível da mudança de
comportamentos e práticas quotidianas, as mudanças não ocorreram com
a velocidade esperada e desejada, apesar de se tratar de um tema ambiental
alvo de muitas campanhas de sensibilização e de educação ambiental. No
entanto, o reforço na rede nacional de ecopontos realizado após a avalia-
ção do PERSU I, em 2005, reflete-se a nível da opinião pública, passando
a «separação de lixo» a ser a prática quotidiana mais realizada (ou dita)
pelos portugueses por razões ambientais, constituindo-se como um im-
pulso europeísta que nos coloca quase a par dos nossos parceiros da
União Europeia. Efetivamente, os resultados da análise dos EB eviden-
ciam uma crescente preocupação com o aumento dos lixos, o que favo-
rece um novo tipo de consumo – mais sustentável e eficiente a nível do
uso dos recursos, em particular um consumo que reduza o lixo produ-
zido – e, ao mesmo tempo, indica a importância de continuar a melhorar
a implementação das políticas e das soluções vigentes em relação ao lixo,
sobretudo à escala local.
Águas e lixos, duas temáticas transversais em termos sociais – todos
consumimos água e todos fazemos lixo –, dois «fluxos» que atravessam
as práticas do quotidiano. Transformados em problemas, afetam a qua-
lidade de vida, a saúde pública e os ecossistemas, seja por escassez de re-
cursos, seja por excesso de poluição. Constituem, assim, desafios incon-
tornáveis na criação de um futuro sustentável, que implica criar confiança
e concretizar, em tempo útil, políticas capazes de dar resposta a novas
ameaças; e, ao mesmo tempo, ensaiar modelos de participação e envol-
vimento das populações que resultem numa mudança de práticas.
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Luísa Schmidt
Ana Delicado
Capítulo 3
Alterações climáticas
na opinião pública
As alterações climáticas são um dos principais desafios que se colocam
às sociedades contemporâneas. Problema global reconhecido pela ciên-
cia, com potenciais consequências catastróficas, é, por enquanto, dificil-
mente identificável à perceção humana. Em seu redor têm-se tecido in-
tensas controvérsias com um teor mais político do que científico. As
atitudes e comportamentos das populações sobre este tema têm uma im-
portância crucial para a mitigação e adaptação ao fenómeno.
Apesar de as primeiras preocupações científicas com as transformações
do clima terem sido manifestas na década de 30 do século XX e terem ree-
mergido nos anos 1960 e 1970 (com a nomeação do primeiro painel de
peritos em 1975 e a realização da primeira conferência mundial em 1979),
será apenas na segunda metade dos anos 1980, em 1988, que é criado o
IPCC (International Panel of Climate Change), cujo primeiro relatório
seria divulgado em 1990. Este facto marca a passagem das preocupações
sobre o fenómeno das alterações climáticas da esfera científica para a esfera
política, diplomática e pública (Boehmer-Christiansen 1994).
Nesta sequência, seria assinada a Convenção para as Alterações Cli-
máticas na Conferência Rio 92, a qual levaria mais tarde ao Protocolo
de Quioto (1997) e às sucessivas COP (Conferences of the Parties), anual-
mente realizadas a partir de então.
Apesar de os países da UE terem assinado o protocolo de Quioto em
1997, apenas em 2000 se estabelece o primeiro Programa Europeu das Al-
terações Climáticas, com o objetivo de identificar as medidas de política
mais eficazes em termos ambientais mas também económicos, de forma a
cumprir as metas estabelecidas pelo Protocolo para 2012 (reduzir as emissões
de gases com efeitos de estufa em 8%, tomando por referência os níveis de
1990). São então criados 11 grupos de trabalho, dedicados ao comércio de
emissões, à oferta e procura de energia, à eficiência energética, à investigação
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1
Resolução do Conselho de Ministros n.º 119/2004, de 31 de julho.
2
Resolução de Conselho de Ministros n.º 104/2006, de 23 de agosto.
3
Resolução de Conselho de Ministros n.º 1/2008, de 4 de janeiro.
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4
Resolução de Conselho de Ministros n.º 24/2010, de 1 de abril.
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5
Os PSBC devem abranger as emissões de GEE das atividades prosseguidas em cada
ministério – designadamente as associadas aos edifícios, frotas, compras públicas e utili-
zação de recursos em articulação com as políticas públicas aplicáveis –, bem como devem
contemplar as emissões sectoriais das áreas da competência dos ministérios, em particular
as relativas aos sectores residencial e de serviços, processos industriais, transportes, agri-
cultura e florestas, resíduos e águas residuais.
6
O Roteiro Nacional de Baixo Carbono apresentava uma análise onde se concluía
ser possível alcançar no país, até 2050, uma redução de 50-60% das emissões nacionais
de GEE (face aos níveis de 1990). O estudo conclui também que todos os sectores de
atividade têm potencial de redução de emissões, em particular o sector da energia.
7
Entre os objetivos do Pacto dos Autarcas, conta-se: superar as metas definidas pela
UE para 2020, reduzindo as emissões nos concelhos correspondentes em, pelo menos,
20%; apresentação de um plano de ação em matéria de energia sustentável; adaptação
das estruturas municipais, incluindo a atribuição de recursos humanos suficientes, a fim
de levar a cabo as ações necessárias; mobilização a sociedade civil nos territórios corres-
pondentes; apresentação de um relatório de aplicação, para fins de avaliação, acompa-
nhamento e verificação.
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1986 1988 1995 1999 2002
UE Portugal
Fonte: EB 25 (1986), EB 29 (1988), EB 43.1 (1995), EB 51.1 (1999), EB 58.0 (2002).
8
Num inquérito sobre riscos ambientais realizado em Portugal em 2003, apenas
40% dos inquiridos classificam as alterações climáticas como um problema muito grave,
muito abaixo da destruição da camada de ozono (72%), que recebia na altura uma forte
atenção mediática (Delicado e Gonçalves 2007).
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2008 2009a 2009b 2011
UE Portugal
9
A oscilação registada entre os dois inquéritos realizados em 2009 (em janeiro-feve-
reiro e em agosto-setembro), não pode ser explicada com o «Climategate» (Jasanoff 2010;
Wynne 2010) que só ocorreu em novembro nem com a COP de Copenhaga, mas tarde
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15-24 25-39 40-55 mais de 55
Fonte: EB 75.4 (2011).
ainda. Por outro lado, 2009 foi um ano particularmente quente, segundo o Boletim Cli-
matológico Anual do Instituto de Meteorologia, pelo que a perceção das alterações cli-
máticas tenderia a aumentar, não a diminuir. A ocorrência de maior saliência neste pe-
ríodo em Portugal foi a realização de eleições legislativas. Como tal, estas variações
poderão dever-se mais a problemas de amostragem (os inquéritos realizados no verão
são particularmente problemáticos) do que a reais mudanças na opinião pública.
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Sem Até aos Até aos Até aos Ainda a
escolaridade 14 anos 18 anos 22 anos estudar
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Esquerda Centro Direita
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Discorda
NS
Concorda
NS
Concorda
Discorda
NS
2008 2009a 2009b
UE Portugal
dado que vários estudos comprovam que, em geral, são os que detêm
um nível de conhecimento científico mais elevado que mais se dispõem
a questionar a ciência, enquanto nos níveis de literacia mais baixos tende
a haver mais reverência e reconhecimento da autoridade dos cientistas
(Lorenzoni et al. 2007; Hulme 2009; Nerlich et al. 2010).
No entanto, no caso português a introdução do tema nos currículos
escolares e a perceção generalizada de credibilidade sobre este problema
(incluindo nos media) tenderão a explicar esta atitude.
Também aqui o posicionamento político é uma variável algo in-
fluente (figura 3.9). Tal como verificado por Leiserowitz (2006) e Dunlap
(2008) nos Estados Unidos, mais uma vez os inquiridos que se identifi-
cam com a direita tendem a considerar mais frequentemente que a gra-
vidade das alterações climáticas foi exagerada, embora no caso português
não cheguem a 25%.
Quanto ao ceticismo relativo às origens antrópicas das alterações cli-
máticas, nomeadamente o papel das emissões de gases com efeito de es-
tufa, é também minoritário na Europa e em Portugal. A descrença (ou
desconhecimento) sobre o papel do dióxido de carbono é ligeiramente
superior em Portugal do que na média europeia, bem como, acima de
tudo, a incapacidade de responder a esta questão (figura 3.10).
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Gravidade das AC NS
foi exagerada
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foi exagerada
Sem escolaridade Até aos 14 anos Até aos 18 anos
Até aos 22 anos Ainda a estudar
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Esquerda Centro Direita
Fonte: EB 71.1 (2009a).
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Concorda
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NS
Concorda
NS
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UE Portugal
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Homens Mulheres
Fonte: EB 71.1 (2009a).
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100
Informação Informação
90 elevada, Suécia elevada,
preocupação preocupação
moderada Holanda elevada
80 Finlândia
Letónia
Áustria Espanha Hungria Grécia
50 Estónia Eslováquia
Lituânia Malta
40 República Checa
Polónia
Bulgária
30 Portugal Roménia
20 Informação Informação
baixa, baixa,
preocupação preocupação
10 moderada elevada
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Preocupação
130
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30
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0
2008 2009a 2009b 2011
UE Portugal
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0
Homens Mulheres
Fonte: EB 75.4 (2011).
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0
15-24 25-39 40-55 mais de 55
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0
Sem Até aos Até aos Até aos Ainda a
escolaridade 14 anos 18 anos 22 anos estudar
133
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Reciclagem
0 10 20 30 40 50 60 70
Portugal UE
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Figura 3.21 – Razões para a ação contra as alterações climáticas, 2008 (%)
0 10 20 30 40 50 60 70
Portugal UE
Fonte: EB 69.2 (2008).
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Portugal UE
Outro dos fatores que influem sobre a decisão de agir ou não no com-
bate às alterações climáticas é a perceção da responsabilidade sobre esse
combate. Alguns estudos verificam que os indivíduos que atribuem essa
responsabilidade sobretudo a governos e empresas terão menor inclina-
ção para agir (Kenis e Mathijs 2011).
135
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Discorda
NS
Concorda
NS
Concorda
Discorda
NS
2008 2009a 2009b
UE Portugal
Fonte: EB 69.2 (2008), EB 71.1 (2009a), EB 72.1 (2009b).
30
25
20
15
10
0
15-24 25-39 40-55 mais de 55
Concorda NS
Fonte: EB 72.1 (2009b).
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Governos nacionais
UE
Empresas
Coletivo
Indivíduo
Autoridades locais
NS
0 10 20 30 40 50
Portugal UE
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30
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0
UE Portugal UE Portugal UE Portugal UE Portugal UE Portugal
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versal a todos os tipos de entidades (todas acima dos 50%), o que indicia
que as representações sociais acerca do «combate ao problema» são muito
negativas. Mas, mais uma vez, as taxas de não resposta a quase todas estas
questões em Portugal são o dobro da média europeia – o que aponta
para o facto já assinalado da sistemática ausência de informação e debate
sobre as medidas e programas de combate às alterações climáticas em
Portugal.
Como acima visto, a Estratégia Europeia 2020 definiu uma meta re-
lativa às alterações climáticas, mais especificamente a redução das emis-
sões de gases com efeito de estufa em 20% face aos valores de 1990.
Desde a aprovação desta Estratégia que os Eurobarómetros Standard (rea-
lizados duas vezes por ano) incluem uma questão sobre a concordância
com esta meta (bem como as restantes). Verifica-se então (figura 3.28)
que Portugal apresenta valores razoavelmente semelhantes à média eu-
ropeia, com mais de metade dos inquiridos a exprimirem concordância
com a meta. Como já visto, os valores das não respostas (não sabe) são
perto do dobro da média europeia, revelando o baixo grau de informação
sobre este tema. Porém, a proporção de europeus que considera a meta
demasiado modesta e, consequentemente, que gostaria de ver uma ação
política sobre as alterações climáticas mais incisiva, tem sido sempre su-
perior à proporção de portugueses que manifesta essa opinião. A posição
139
03 Ambiente Cap. 3.qxp_Layout 1 29/01/14 18:49 Page 140
Conclusão
Há 25 anos que o problema das alterações climáticas tem sido abor-
dado pelos inquéritos Eurobarómetro, muito embora de forma crescente
e específica a partir de 2008. Em Portugal e no conjunto da Europa, os
níveis de preocupação com as alterações climáticas têm-se mantido ele-
vados, sofrendo algumas oscilações em períodos de maior mediatização:
crescentes quando são divulgados os relatórios do IPCC, ou quando
algum outro motivo as projeta; decrescentes quando há outros temas
que suscitam maior preocupação.
Porém, quando postas em perspetiva com outros problemas ambien-
tais, as alterações climáticas perdem algum relevo, sendo ultrapassadas
por questões mais imediatas como os acidentes de origem humana e a
poluição. Esta subalternização é mais evidente em Portugal do que no
conjunto da Europa. No entanto, o ceticismo quanto à realidade das al-
terações climáticas e o questionamento da relevância das emissões de
gases com efeito de estufa assumem uma posição minoritária na Europa
e especificamente em Portugal. Ou seja, as pessoas acreditam no fenó-
meno das alterações climáticas e na sua origem antrópica, mesmo que
saibam pouco sobre o assunto e de como agir para o mitigar e se adap-
tarem.
Não foi de facto encontrada uma relação linear entre informação
sobre alterações climáticas e preocupação com as mesmas: há países com
níveis de conhecimento elevado e preocupação moderada. Portugal dis-
tingue-se neste caso pela negativa: é um dos países com taxas mais baixas
de informação sobre o problema, mas com preocupação média. Este
facto reflete-se também na elevada proporção de não respostas («não sei»)
à maioria das questões sobre alterações climáticas colocadas nestes in-
quéritos, o que denota uma ausência de debate público e político sobre
o tema. No entanto, os mais jovens e com a escolaridade mais elevada
aproximam-se dos seus congéneres europeus, revelando-se mais informa-
dos e preocupados.
Quanto aos comportamentos, a proporção de inquiridos que afirma
fazer alguma coisa para mitigar as alterações climáticas é elevada tanto
140
03 Ambiente Cap. 3.qxp_Layout 1 29/01/14 18:49 Page 141
Eurobarómetros
Comissão das Comunidades Europeias. 1986. Eurobarometer 25. The Europeans and their
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143
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Ana Delicado
Ana Horta
Susana Fonseca
Capítulo 4
1
Este capítulo recolhe também contributos do trabalho desenvolvido em vários pro-
jetos de investigação financiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia: Netzero
energy School: Ao Encontro das Comunidades (MIT-Pt/SES-SUES/0037/2008), Consensos e
Controvérsias Sociotécnicas sobre Energias Renováveis (PTDC/CS-ECS/118877/2010) e Por-
tugal Nuclear Física, Tecnologia, Medicina e Ambiente (1910-2010) (HC/0063/2009); bem
como de uma bolsa de pós-doutoramento (SFRH/BPD/39243/2007).
145
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2
www.encharter.org.
146
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3
O valor de referência para o total da Europa era 22%; contudo, estas metas não vi-
riam a ser atingidas.
4
Em 2003 a Diretiva 2003/30/CE relativa à promoção da utilização de biocombus-
tíveis ou de outros combustíveis renováveis nos transportes; em 2005 o Plano de Ação
Biomassa (COM(2005) 628 final); em 2006 a Estratégia da União Europeia no domínio
dos biocombustíveis (COM(2006) 34 final); em 2008 Energia Eólica Marítima: Ações
necessárias para a realização dos objetivos da política energética para 2020 e mais além
(COM(2008) 768 final).
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Fontes energéticas
O debate público e político sobre as fontes energéticas faz-se em torno
de uma multiplicidade de questões: a disponibilidade de energia (posta
em causa por problemas como a escassez de combustíveis fósseis ou a
intermitência das energias renováveis mas também por geopolítica, rela-
ção com países produtores), o custo da energia (associado ao problema
da disponibilidade, mas também ao custo de produção, ao estabeleci-
mento de preços no consumidor, à subsidiação da geração pelos Estados),
a segurança e o impacto ambiental (poluição, emissão de gases com efei-
tos de estufa, resíduos radioativos, acidentes, destruição de paisagem e
ecossistemas).
A política energética europeia das últimas décadas nesta matéria tem
sido, como vimos, marcada por uma crescente aposta nas energias reno-
váveis.
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1986 1991 1996 2003 1986 1991 1996 2003
UE Portugal
NS Renováveis Nuclear
Gás natural Petróleo Carvão
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1986 1991 1996 2003 1986 1991 1996 2003
UE Portugal
NS Renováveis Nuclear
Gás natural Petróleo Carvão
5
Em 2003 a energia hidroelétrica é segregada das restantes fontes renováveis nas
questões do Eurobarómetro, colhendo o maior volume de preferências dos inquiridos
em Portugal.
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1986 1991 1996 2003 1986 1991 1996 2003
UE Portugal
NS Renováveis Nuclear
Gás natural Petróleo Carvão
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Média* NS (%)
UE25 UE15 Portugal UE25 Portugal
Solar 6,38 6,41 6,34 4 13
Eólica 6,18 6,14 6,26 5 17
Hidroelétrica 5,95 5,89 6,08 11 14
Biomassa 5,67 5,61 5,52 10 26
Gás 5,21 5,05 5,45 4 9
Ondas 5,74 5,93 6,26 17 18
Petróleo 4,54 4,34 4,84 4 9
Carvão 4,03 3,84 4,76 5 13
Nuclear 3,40 3,24 3,04 7 18
*Valor médio entre 1 (totalmente contra) e 7 (totalmente a favor).
Fonte: EB 65.3 (2007).
0
Nuclear Eólica Solar Ondas
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2008 2010 2012 2008 2010 2012
Portugal UE
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Demasiado Adequada Demasiado NS
ambiciosa modesta
Fonte: EB 76 (2011).
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Demasiado Adequada Demasiado NS
ambiciosa modesta
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Demasiado Adequada Demasiado NS
ambiciosa modesta
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Energia nuclear
A energia nuclear é um dos temas mais controversos na problemática
ambiental. É uma tecnologia fortemente estigmatizada (Beck 1992; Kun-
reuther e Slovic 2001; Van Loon 2002), que combina o fator temor
(dread) com o fator desconhecimento (Flynn et al. 2001), associada por
um lado aos acidentes (Chernobil, Fukushima) e por outro à sua aplica-
ção militar (as bombas sobre Hiroxima e Nagasaki). Representa o risco
por excelência da modernidade avançada: «espetacular e único [...] in-
voluntário, diferido, desconhecido, incontrolável, não familiar, poten-
cialmente catastrófico, temido e grave (certamente fatal)» (Slovic et al.
2002, 117). O risco nuclear caracteriza-se por ser particularmente incon-
trolável, com potencial de criar efeitos catastróficos, disseminados por
vastas extensões geográficas e diferidos no tempo (sobre gerações futuras)
(Mays e Poumadere 1996). O protesto antinuclear é um dos exemplos
mais antigos e paradigmáticos do movimento ambientalista (Jasper 1992;
Angelier 1983; Delicado 2013).
Ao contrário das energias renováveis, a energia nuclear tem uma po-
sição relativamente ambígua nas políticas europeias. Apesar de estar no
cerne dos primórdios da comunidade europeia (com a constituição em
1957 da Comunidade Europeia da Energia Atómica pelo Tratado Eura-
tom, a única das comunidades europeias que ainda hoje persiste, man-
tendo uma natureza legal distinta da União Europeia), a política europeia
sobre o nuclear limita-se a um enquadramento legal para assegurar a se-
gurança e não proliferação do uso desta energia, cabendo a cada Estado-
-membro a decisão de uso ou não de energia nuclear. Assim, atualmente,
14 dos 27 países da União Europeia possuem centrais nucleares, mas, em
vários destes países, está em debate o encerramento das suas centrais,
muitas delas já obsoletas (Alemanha, Espanha, Bélgica).
Em Portugal, o projeto de construção de uma central nuclear nos
anos 1970 enfrentou uma forte contestação popular (suportada por con-
trovérsias na comunidade científica e por um emergente movimento am-
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1986 1991 1996 2003 1986 1991 1996 2003
UE Portugal
NS
Os riscos são inaceitáveis
Não vale a pena/não devem ser desenvolvidas nem abandonadas
Vale a pena
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2003
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2006 2009 2006 2009
UE Portugal
NS
Nem um nem outro
Riscos ultrapassam os benefícios
Benefícios ultrapassam os riscos
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Chipre
Áustria
Grécia
Malta
Irlanda
Espanha
Dinamarca
Portugal
Letónia
Luxemburgo
Roménia
Polónia
Estónia
UE
Itália
Alemanha
Eslovénia
Bélgica
Reino Unido
Holanda
França
Eslováquia
Hungria
Finlândia
Rep. Checa
Lituânia
Suécia
Bulgária
*Valor médio numa escala entre 1 (totalmente a favor) e 4 (totalmente contra); a cinzento-escuro
países sem centrais nucleares.
Fonte: EB 69.1 (2008).
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1986 1991 2006 2009 1986 1991 2006 2009
UE Portugal
Concorda Discorda NS
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1986 1991 2006 2009 1986 1991 2006 2009
UE Portugal
Concorda Discorda NS
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2005 2008 2005 2008
UE Portugal
NS Discorda Concorda
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2005 2008 2005 2008
UE Portugal
NS Discorda Concorda
6
Um movimento ambientalista internacional que advoga o recurso à energia nuclear
como forma de mitigação das alterações climáticas, fundado em 1996 mas que tem cres-
cido nos últimos anos, com a adesão de alguns ex-líderes de organizações de referência,
como a Greenpeace ou a Friends of the Earth.
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1986 1991 1986 1991
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2001 2005 2008 2001 2005 2008
UE Portugal
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CEE Portugal
Fonte: EB 26 (1986).
172
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90
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20
10
0
1999 2001 2005 2008 1999 2001 2005 2008
UE Portugal
Eficiência energética
A nível da União Europeia, tal como em Portugal, as políticas de pro-
moção da eficiência energética emergiram enquadradas pela necessidade
de atingir objetivos mais latos, como sejam os da segurança energética,
da competitividade ou da prevenção de problemas ambientais, surgindo
não tanto como um objetivo em si, mas antes como um meio para atingir
diferentes objetivos (Nilsson et al. 2011).
Com a sua génese nos anos 1970, estimulada pelas duas crises do pe-
tróleo, e surgindo então com a designação de uso racional de energia,
foram sendo estipuladas metas ao longo das quatro décadas que desde
então decorreram. A primeira década de intervenção política nesta área
foi bastante profícua, com os resultados a apontarem para ganhos de efi-
ciência de cerca de 20% entre os dez países constituintes da UE. Con-
tudo, tais resultados não voltaram a ser atingidos nas décadas seguintes,
muito devido à ausência de incentivos à poupança por via dos custos da
173
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40
30
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10
0
2006 2009 2006 2009
UE Portugal
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Consulta e participação
de ONG
Consulta e participação
do Parlamento
Consulta e participação
dos cidadãos
Nenhuma
NS
0 5 10 15 20 25 30
UE Portugal
175
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7
Resolução do Conselho de Ministros n.º 20/2013, Diário da República, 1.ª série —
n.º 70 — 10 de abril de 2013, 2022-2091.
176
04 Ambiente Cap. 4.qxp_Layout 1 29/01/14 18:49 Page 177
Portugal UE
Fonte: EB37.0 (1992), EB43.1bis (1995), EB51.1 (1999), EB68.2 (2008) e EB 75.2 (2011).
177
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178
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Redução do aquecimento
através da melhoria 18 47 15 40 12 39 9 33 8 20 – –
do isolamento da casa
Redução do uso
17 39 24 39 26 35 23 43 25 42 – –
do aquecimento da casa
Redução do combustível 23 28 19 30 14 28 7 22 9/6 21/16 6 20
usado no carro
Redução da iluminação
ou do uso de equipamentos
72 44 63 45 50 41 57 48 46 48 49 53
elétricos em casa
Nenhuma – – 26 20 25 25 27 19 36 21 8 6
Não sabe 22 16 – – – – 4 3 – – 1 1
* Em 2007 o item sobre a redução do consumo de combustível foi subdividido em dois: «redução
do uso do carro» e «redução da velocidade na condução».
Fontes: EB 36 (1988), EB 39.1 (1993), EB 46.0 (1997), EB 56 (2003), EB 65.3 (2007) e EB 75.2
(2011).
média europeia, indicando ser esta a sua opção preferencial para reduzir
o consumo energético: desligar a luz e usar menos equipamentos elétri-
cos. Esta observação está em consonância com os resultados de um outro
inquérito à escala nacional (Almeida 2004), em que «apagar as luzes em
divisões da casa em que não estão a ser usadas» foi uma prática referida
por 75% dos inquiridos como sendo frequente. Os resultados do Euro-
barómetro indicam, no entanto, um decréscimo progressivo na adoção
desta prática: se em 1987 reunia 72% das respostas, em 2007 e 2011 não
alcançou metade dos inquiridos portugueses, aproximando-se assim da
média europeia, que se tem situado constantemente a esse nível. Estes
dados sugerem que a entrada na CEE e os seus impactos económicos,
bem como os preços controlados da eletricidade, levaram os portugueses
a preocuparem-se menos com o seu consumo, pelo menos até 2007, ou
seja, antes da crise económica e social. Com a crise os portugueses retraí-
ram-se no investimento em melhorias nas casas e até na compra de novos
equipamentos, ainda que energeticamente mais eficientes, sobretudo de-
vido à sua carestia, surgindo por isso entre os que menos frequentemente
adotaram algumas das medidas sugeridas nos inquéritos do Eurobaró-
metro, tais como escolher modelos de eletrodomésticos (máquinas de
lavar, frigoríficos, televisores) mais eficientes (8%, contra uma média eu-
179
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ropeia de 30%); isolar a casa para reduzir o consumo energético (7% con-
tra 18%); ou comprar um carro novo com menor consumo de combus-
tível (1% contra 10%). Efetivamente, é entre os países com maior desa-
fogo económico que se encontram os mais elevados níveis de adesão a
estas medidas, enquanto nos países com mais dificuldades económicas
as respostas positivas são mais baixas (CE 2011).
Mesmo assim, a atenção mais elevada no quadro europeu dada pelos
portugueses ao consumo de eletricidade para iluminação e uso de ele-
trodomésticos parece refletir uma forte associação entre os conceitos de
luz/eletricidade e consumo/dinheiro/custos, também observada num in-
quérito realizado em Lisboa (Schmidt et al. 2012), devido à perceção de
que a iluminação e o uso de aparelhos elétricos têm um peso considerável
no orçamento familiar. O facto de terem deixado progressivamente de
se preocupar com estes consumos energéticos, até 2007, dever-se-á tam-
bém à entrada abrupta na sociedade de consumo, sobretudo desde a ade-
são à CEE e consequente formação de novas necessidades neste período,
a par de políticas de crédito facilitado e de promoção publicitária inten-
siva de novos equipamentos e gadgets. De facto, se no final dos anos 80
os portugueses tinham ainda um acesso relativamente limitado aos ele-
trodomésticos, em comparação com os outros membros da CEE – pelo
que a aquisição de novos equipamentos teria então impactos percetíveis
no consumo doméstico –, a progressiva generalização do acesso a estes
equipamentos, acompanhada da construção social de expetativas e pa-
drões sociais relativos ao conforto, contribuiu para que o seu uso fosse
180
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0
Reduzir consumo com iluminação Nenhuma ação
e electrodomésticos
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0
Garantir preços baixos Proteger o ambiente Reduzir o consumo
de energia
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1993 1996
Portugal CEE12 Portugal CEE15
É realmente importante que pessoas (como eu)
tenham melhor informação sobre como podem
poupar energia 89 82 90 81
2005 2006
Portugal UE25 Portugal UE15
185
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Portugal UE27
Subsidiar soluções energeticamente eficientes, por exemplo,
para as casas 33 48
Dar mais informação sobre o uso eficiente da energia 34 25
Adotar padrões mais restritivos para os equipamentos que
consomem energia 22 21
Outros 3 3
Nada 2 1
NS/NR 6 3
Figura 4.25 – Medidas que o Governo deve tomar para ajudar as pessoas
a reduzir o seu consumo de energia segundo a idade
de término dos estudos, 2007, Portugal (%)
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Sem educação 15 anos 16 a 19 anos 20 ou mais Ainda a
formal e menos anos estudar
186
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Figura 4.26 – Medidas que o Governo deve tomar para ajudar as pessoas
a reduzir o seu consumo de energia segundo os escalões
etários, 2007, Portugal (%)
45
40
35
30
25
20
15
10
0
15-24 25-39 40-54 +55
187
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mente mais a adoção de uma outra medida política possível que consiste
no estabelecimento de padrões de eficiência mais restritivos para os equi-
pamentos consumidores de energia (CE 2007a).
Num país em que esta necessidade de mais informação é sentida por
um elevado número de pessoas, compreende-se que, em 2002 (CE 2003),
tenham sido os portugueses, de entre os restantes europeus, que menos
concordaram com a ideia de que «podemos poupar, de forma simples e
barata, muita da energia que usamos nas nossas casas e nos escritórios»
(69%, contra uma média europeia de 80%). Foram os portugueses tam-
bém os que mais declararam não saber se aquela ideia está correta ou
não (21%, contra uma média europeia de 11%) e não saber que medidas
de poupança de energia estariam dispostos a apoiar (27%, contra uma
média europeia de 8%).
Quando a atenção se centra na seleção de outras medidas que os go-
vernos podem promover para fomentar a redução do consumo de ener-
gia por parte das famílias e tendo por referência os dados mais recentes
(2007), os portugueses estão em linha com a média europeia (UE27) no
que diz respeito à adoção de padrões mais restritivos para os equipamen-
tos que consomem energia. No que concerne à disponibilização de
apoios para soluções energeticamente eficientes, os portugueses preferem
esta medida à anterior, mas apresentam resultados abaixo dos registados
na UE (quadro 4.5).
Em Portugal regista-se uma tendência para os mais escolarizados e os
ainda a estudar assinalarem os subsídios e os apoios, bem como a defi-
nição de padrões e regulamentos de eficiência mais exigentes, com maior
frequência do que os que frequentaram a escola durante menos anos (fi-
gura 4.25).
188
04 Ambiente Cap. 4.qxp_Layout 1 29/01/14 18:49 Page 189
Portugal UE27
Muita influência 43 48
Alguma 31 32
Nem por isso 22 19
NS/NR 4 2
50
40
30
20
10
0
15-24 25-39 40-54 +55
Muita Pouca ou nenhuma
Alguma NS/NR
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80
60
40
20
0
Sem educação 15 anos 16 a 19 anos 20 ou mais Ainda a
formal e menos anos estudar
Alguma NS/NR
Fonte: EB 206a (2007).
190
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Conclusão
Perante a dupla ameaça do esgotamento das fontes convencionais e
das alterações climáticas em resultado da emissão de gases com efeitos
de estufa, a energia tornou-se um problema crucial sobretudo na última
191
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Mónica Truninger
José Gomes Ferreira
Capítulo 5
Introdução
Ambiente e consumo alimentar são dois temas que simultaneamente
convergem e se contradizem e até chocam em muitos aspetos. Desde
logo, porque o consumo alimentar implica não só a utilização de recur-
sos naturais escassos nos processos de produção de alimentos, como
também contribui para a poluição através de agroquímicos, de emissões
de gases com efeitos de estufa e da criação de resíduos orgânicos e ou-
tros. Num contexto mais geral – mediático, cultural e político –, é fre-
quente ligar a emergência da sociedade de consumo ao período de
afluência dos anos 1950 e 1960 no pós-guerra, ao agravamento dos pro-
blemas ambientais e à sua transformação em problemas sociais. Em con-
trapartida, a temática da sustentabilidade resulta, em parte, da própria
emergência da sociedade de consumo, sobretudo quando esta última é
simbolicamente enquadrada por um discurso reducionista que a associa
maioritariamente a valores materialistas, hedonistas e de prodigalidade.
Este processo ocorreu com calendário diferenciado em função das es-
pecificidades de cada país, mas os analistas da sociedade de consumo
apontam o século XX como aquele no qual o «consumidor» surge com
mais força como categoria de análise (Trentmann 2006, 2).
Em Portugal, por exemplo, devido a processos que têm a ver com cir-
cunstâncias políticas, económicas e sociais associados a 40 anos de regime
autoritário – o período do Estado Novo entre 1933 e 1974 –, a sociedade
de consumo emerge tardiamente no contexto da Europa Ocidental. Al-
guns dos produtos alimentares bem como de serviços que asseguram a
produção, distribuição e consumo alimentar, que fazem hoje parte do
nosso quotidiano, tiveram acesso restrito durante uma boa parte do sé-
culo XX. Mesmo serviços básicos, hoje considerados entre nós como ne-
199
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1
Veja-se a evolução rápida de alguns indicadores de conforto: em 1987 apenas 86% dos
lares portugueses possuíam frigorífico, percentagem que atingia 99,5% em 2010; também em
1987, apenas 44% possuíam máquina de lavar roupa, contra 95,5% em 2010; quanto aos apa-
relhos de televisão, em 1987 era um equipamento que fazia parte de 83% dos lares, atingindo
mais de 99% em 2010; outro exemplo é o do computador, adquirido em 1987 por uma mi-
noria (3%), em 2010 já fazia parte de mais de 57% dos lares (Pordata/INE 2011 e 2012).
200
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201
05 Ambiente Cap. 5.qxp_Layout 1 29/01/14 18:50 Page 202
2
Este capítulo enquadra-se nas atividades do projeto «Entre a escola e a família: co-
nhecimentos e práticas alimentares das crianças em idade escolar», financiado pela Fun-
dação para a Ciência e Tecnologia (PTDC/CS-SOC/111214/2009).
202
05 Ambiente Cap. 5.qxp_Layout 1 29/01/14 18:50 Page 203
3
Durante o VI Governo Provisório (setembro de 1975-junho de 1976), foi criada a
Subsecretaria de Estado para a Defesa do Consumidor (SEDC), na dependência do Mi-
nistério do Comércio Interno, que apresentou uma proposta de protocolo para a arti-
culação e coordenação de uma política de defesa do consumidor e de criação de um Ins-
tituto de Apoio e Defesa do Consumidor. No entanto, nenhuma das propostas teve
seguimento e a SEDC viria mesmo a ser extinta com a constituição do I Governo Cons-
titucional (setembro de 1976).
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4
Por exemplo, o que para os cientistas e os decisores políticos «tende a ser perspeti-
vado, essencialmente, como uma questão de mensuração de probabilidades e de avaliação
de fatores, para as populações [...] exprime-se muitas vezes em preocupação, ansiedade
ou receio» (Delicado e Gonçalves 2007, 689).
205
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5
A «doença das vacas loucas» ou BSE (Encefalopatia Espongiforme Bovina) consiste
«numa patologia que se manifesta em bovinos adultos», faz parte de um grupo de «doen-
ças progressivas e degenerativas do sistema nervoso central que afeta várias espécies ani-
mais e também a espécie humana» (Gonçalves et al. 2007, 21). O primeiro caso foi dete-
tado no Reino Unido em 1985, ao passo que em Portugal o primeiro caso foi detetado
em 1990.
6
Em 1996 foi comercializado pela primeira vez na Europa um alimento modificado
geneticamente (em Inglaterra o concentrado de tomate da empresa Zeneca); no ano se-
guinte, em 1997 a Comunidade Europeia autoriza a comercialização do milho GM da
empresa Novartis (CNADS 2000).
7
A BSE não foi o único episódio de segurança alimentar que gerou controvérsia,
preocupação e desconfiança em relação às instituições. Sem afetar o nosso país, em junho
de 1999 ocorreu na Bélgica a «chamada crise das dioxinas», que implicou a retirada do
mercado de produtos avícolas, de suínos e bovinos com origem em explorações belgas.
O problema deveu-se à entrada na cadeia alimentar de grandes quantidades de dioxinas
por via da contaminação de matérias-primas utilizadas em alimentação animal, tendo
resultado no abate de enormes quantidades de aves e suínos (Bánáti 2011). No nosso
país, em março de 2003 ocorreu um episódio gerado pelo uso ilegal de nitrofuranos (an-
tibióticos) na alimentação de aves, designadamente frangos, perus e codornizes, que le-
varam ao abate de milhares de aves no primeiro semestre desse ano (DECO 2003;
Schmidt e Ferreira 2004).
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8
A 21 de maio de 2011 foi lançado o primeiro alerta da Alemanha acerca da deteção
pouco usual de reações humanas à provável contaminação de pepinos pela bactéria
Escherichia coli (EHEC). Este problema sanitário gerou forte mediatização uma vez que
provocou vítimas mortais na Alemanha (16) e na Suécia (1). Inicialmente a Espanha foi
acusada pela Alemanha de estar na origem deste problema pois as importações provi-
nham daquele país. No entanto acabou por ser ilibada já que a estirpe encontrada nos
pepinos espanhóis não era a mesma que a estirpe que afetou os doentes contaminados.
Este incidente provocou um conflito diplomático entre os dois países com custos finan-
ceiros elevados para os produtores da Europa do Sul.
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9
Segundo o DL n.º 237/2005, a entidade congrega, entre outras, as atribuições e
competências detidas pela Inspeção-Geral das Atividades Económicas (IGAE) em matéria
de controlo oficial dos géneros alimentícios, como em matéria de fiscalização do sector
não alimentar, alargando essas competências à avaliação científica independente dos ris-
cos na cadeia alimentar e à fiscalização das atividades económicas a partir da produção
e em estabelecimentos industriais ou comerciais, concentrando tudo numa entidade.
10
Diretiva 98/81/EC sobre «Utilização Confinada» que revê a Diretiva/219/CEE e
a Diretiva 2001/18/EC sobre «Libertação Deliberada» que revê a Diretiva 90/220/CEE,
as quais foram transpostas para a legislação nacional (CNADS 2005, 20).
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11
É provável que estas áreas cultivadas possam ser reduzidas em alguns países, na se-
quência de a empresa multinacional de biotecnologia Monsanto ter concordado recen-
temente em retirar as suas plantações de vários países europeus, incluindo Portugal.
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Qualidade
Preço
Aspeto/frescura
Preferências familiares
Saúde familiar
Sabor
Hábito
Segurança alimentar
Métodos de produção
(biológica, ar livre,
amiga do ambiente)
Marca
Origem
Portugal UE25
Fonte: EB 64.1 (2006).
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Temos assim que, nos anos 1990, se registou uma aproximação dos
portugueses relativamente aos europeus, no que concerne às caracterís-
ticas de qualidade de um produto alimentar. Por seu turno, nas décadas
seguintes, verifica-se uma divergência quando se pergunta que fatores in-
fluenciam a compra de produtos alimentares. Nota-se uma maior atenção
aos diferentes critérios de qualidade por parte da média dos europeus,
os quais apontam uma maior diversidade de fatores que influenciam as
suas compras alimentares, desde a origem de produção, ao sabor, ao as-
peto/frescura, aos métodos de produção. Os portugueses não discrimi-
nam tanto os critérios, preferindo remeter as suas respostas para uma ca-
tegoria mais geral denominada de «qualidade». Ou seja, os critérios de
compra dos portugueses são governados pela dualidade qualidade/preço;
ao passo que entre os europeus há uma maior discriminação e diversi-
dade de critérios de qualidade (e. g., origem de produção, os métodos de
produção, segurança alimentar). Mais recentemente verifica-se que o
efeito da crise económica está a restruturar os critérios de compra ali-
mentar, já que os portugueses colocam o fator preço acima do da quali-
dade.
Ao cruzar com as variáveis «idade», «género» e «escolaridade», veri-
fica-se que é na marca e origem que se encontram maiores diferenças de
idade – os mais novos (15-29) valorizam mais a marca e os mais velhos
(mais de 55) a origem; em relação ao género, não há grandes diferenças
a reportar, a não ser no critério da qualidade, que os homens valorizam
ligeiramente mais. São os mais escolarizados que dão mais importância
à qualidade e à origem, ao passo que os menos escolarizados dão mais
importância ao preço e à marca (figura 5.5).
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Existem procedimentos
de controlo definidos
pelas associações de
pequenos comerciantes
(ex., talhos e padarias)
São feitos controlos pelos
grandes distribuidores
como grossistas
e supermercados
Portugal UE15
Fonte: EB 49 (1998).
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Embalagem adequada
Quantidade de pesticidas
ou hormonas
Contém apenas conservantes
autorizados
Contém apenas aditivos
autorizados
Não sabe
Nenhuma (espontânea)
Outra (espontânea)
Portugal UE15
Fonte: EB 49 (1998).
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Portugal UE27
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aves, porcos com dioxinas). Quanto aos portugueses, se até 2005 mos-
travam estar mais seguros, mais recentemente, com a criação e a atuação
mediatizada da ASAE, aproximaram-se dos níveis de insegurança alimen-
tar sentidos pela média dos europeus. Por outro lado, é mais elevada a
percentagem de europeus que afirmou ter mudado os hábitos alimentares
de uma forma mais consistente depois das crises de insegurança alimen-
tar. Ao passo que os portugueses afirmam ser temporariamente mais rea-
tivos face às referidas crises alimentares, sem que isso implique uma mu-
dança definitiva dos seus hábitos.
12
A categoria «rádio, televisão e imprensa» resultou da agregação de duas categorias
anteriores «rádio e televisão» e «imprensa». Quando se analisam os dados para Portugal
e para a Europa, destaca-se que os europeus confiam ligeiramente mais na imprensa e
que os portugueses confiam mais na rádio e na televisão. Estes resultados vão ao encontro
de estudos sobre a influência dos media na população portuguesa, designadamente a te-
levisão (ver Schmidt 2003).
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Professores e cientistas 63 72 — — 73 70
Instituições europeias 12 11 19 21 57 64
Rádio, televisão, imprensa 47 46 — — 48 58
Internet — — — — 41 46
Autoridades nacionais 12 15 19 26 — —
Associações de consumidores — — 36 52 — —
Associações de produtores/produtores 11 13 12 12 35 54
Agricultores — — — — 58 60
Supermercados, hipermercados
e grandes superfícies 9 12 6 18 36 47
Mercearias e mercados — — 14 35 — —
Governo 8 10 — — 47 49
Agências nacionais e europeias
de segurança alimentar — — — — 64 65
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Portugal UE27
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Portugal UE
13
No segundo inquérito Observa (Schmidt, Fonseca e Truninger 2004, 227) era tam-
bém notória uma alta percentagem de desinformação e desconhecimento em relação aos
OGM, sobretudo junto dos mais velhos, menos escolarizados, e das mulheres.
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70
60
50
40
30
20
10
0
1996 1999 2002 2005 2010
Europa Portugal
Nota: 1996-2002: Europa a 15; 2005: Europa a 25; 2010: Europa a 27.
Fonte: EB46.1 (1996), EB52.1 (1999), EB58 (2002), EB64.3 (2005), EB73.1 (2010).
Áustria 78 74 64 64 77 + 13
França 57 71 65 54 85 + 31
Alemanha 51 56 53 61 78 + 17
Grécia 50 79 61 63 89 + 26
Luxemburgo 56 73 71 60 80 + 20
Itália 49 58 58 42 75 + 33
Portugal 38 54 42 34 66 + 32
Espanha 34 43 37 34 66 + 32
Polónia – – – 54 69 + 15
Eslováquia – – – 50 62 + 12
Rep. Checa – – – 36 59 + 23
Reino Unido 47 63 49 52 56 +4
Dinamarca 67 68 63 55 68 + 13
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Concorda Discorda
Concorda Discorda
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Médicos – 26 52 39 43
ONGA 25 11 40 33 40
Associações de consumidores 39 20 37 23 35
TV e jornais – 11 40 21 17
Universidades 16 6 34 21 30
Governos 8 2 23 17 14
Instituições internacionais – 3 17 13 16
Organizações de bem-estar animal 3 5 24 10 16
Associações de agricultores √ 5 21 7 10
Indústria 1 0 9 3 4
Organizações religiosas 5 5 20 2 4
Partidos 1 0 6 0 2
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Sim Não
Homens Mulheres
Sim Não
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Sim Não
15-24 25-39 40-54 +55
Sim Não
Área rural ou vila Pequena e média cidade Grande cidade
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Figura 5.20 – Para cada uma das frases, por favor diga se concorda
ou discorda. A clonagem animal na produção
alimentar..., 2010 (%)
Não natural
Negativo
Portugal UE27
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Concordo Discordo
Homens Mulheres
Concordo Discordo
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Conclusão
É indiscutível o impacto da adesão à Comunidade Europeia na so-
ciedade portuguesa, a nível do crescimento dos índices de consumo em
todas as áreas – desde os serviços, aos eletrodomésticos, aos produtos ali-
mentares. Por exemplo, veja-se a evolução rápida da posse do frigorífico:
em 1987 apenas 86% dos lares portugueses possuíam esta tecnologia do-
méstica, em 2010 esta percentagem atingia 99,5% (Pordata/INE 2011 e
2012) (ver capítulo 4).
Porém, em matéria de defesa do consumidor e, em particular, de se-
gurança alimentar, foi apenas a partir de meados da década de 1990 que
mais se fez sentir a integração de Portugal no espaço europeu. Na pri-
meira fase, a abertura do Mercado Único Europeu, em 1993, liberalizou
as trocas comerciais entre países, sem que a abertura de fronteiras tivesse
sido acompanhada pela criação dos instrumentos necessários para lidar
com problemas que pudessem vir a surgir (e. g., OGM, BSE). Mas nos
anos seguintes, a Europa enfrentou novos riscos e desafios que exigiam
novas respostas. As crises alimentares subsequentes mostraram ser neces-
sário uma resposta institucional aos problemas, executadas à escala dos
países seguindo as orientações europeias.
Transversalmente, as crises revelaram-se um novo desafio, na medida
em que colocam em causa a neutralidade da ciência e convocam a par-
ticipação de todos os envolvidos nas fases de avaliação, gestão e comu-
nicação do risco, daí resultando uma solução de compromisso sobre as
medidas a adotar. Por outro lado, colocando igualmente em causa a neu-
tralidade da ciência, as novas aplicações da ciência e da tecnologia na
produção de alimentos desenvolvidas em maior escala, também a partir
de meados da década de 1990, trouxeram novos problemas éticos e po-
líticos que resultaram na oposição pública face aos seus possíveis efeitos,
no ambiente ou na saúde humana. Em resposta a estes episódios, e par-
ticularmente à crise das vacas loucas, foram criados mecanismos de atua-
239
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240
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Eurobarómetros
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João Mourato
Rui Carvalho
Capítulo 6
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Poluição e ruído
Espaços verdes urbanos
Reciclagem e gestão de resíduos sólidos
Gestão da água
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1
Metodologia: análises estatísticas descritivas univariadas (regressões lineares entre
um conjunto de variáveis dependentes (questões dos inquéritos) e uma série de variáveis
independentes) agrupadas em: i) variáveis sociodemográficas (sexo; idade; estatuto pro-
fissional e, quando disponível, composição do agregado, orientação política e principal
meio de transporte utilizado); ii) variáveis espaciais/territoriais, quer disponibilizadas nos
inquéritos (países, perceção da dimensão da área urbana), quer pela construção de indi-
cadores relativos à dimensão dos países, dimensão das áreas urbanas e modelos de gestão
e/ou governo territorial (grau de transição governo-governança; autonomia dos governos
locais face aos governos centrais; modelos de Estado), através das quais se procurou en-
contrar padrões espaciais nas práticas e perceções e nas opiniões prospetivas dos respon-
dentes. Foram ainda efetuadas análises correlacionais entre questões das várias bases de
dados no sentido de identificar padrões de resposta e estabelecer, quando possível, rela-
ções de comparabilidade temporal.
2
A análise longitudinal dos dados apresenta algumas lacunas, sendo possível apenas
(e de modo não linear) entre as questões 4b (F277) e D7 (F312). A nível das variáveis de
controlo, apenas para o sexo, a idade e o estatuto profissional (esta após recurso a reco-
dificações), foi possível efetuar comparações temporais universais. Do ponto de vista da
comparabilidade espacial, destacam-se os seguintes aspetos: i) as amostras totais e parciais
(nacionais e regionais/por cidade) têm dimensões diferentes, com prejuízo para a sua
comparabilidade, o que foi resolvido pela pesagem das variáveis pelo contexto espacial
(normalmente país) de referência; ii) foi concedido privilégio aos contextos nacionais e
às cidades (quando disponíveis, nos urban audit) em detrimento das análises a nível da
região, mais complexas e segmentadas; iii) derivado do objeto em análise (as cidades) os
residentes percecionados como «não urbanos» (standards e F312) foram excluídos das
análises; iv) estando nalguns casos disponível de forma objetiva, nos documentos ante-
riores, importa relevar que a variável relativa à dimensão da área urbana é uma autoava-
liação. Há ainda que sublinhar três outros constrangimentos metodológicos relevantes
referentes à própria estrutura de amostragem do Eurobarómetro (para além de questões
mais gerais, referentes especificamente ao urban audit): i) parece haver uma concentração
excessiva de indivíduos sem atividade profissional; ii) nalguns casos a estrutura da amostra
não é coincidente com o perfil do universo de inquirição; iii) a taxa de não resposta e os
missing values são elevados nalgumas questões.
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Perceções do urbano
A subjetividade inerente à formulação das perceções individuais
sobre o que nos rodeia transforma a análise das mesmas num processo
muito complexo. Ainda assim, considerando a sociedade em que nos
inserimos como um todo, é possível detetar a predominância de alguns
padrões comportamentais e perceções coletivas. Neste sentido, é inte-
ressante refletir sobre as perceções dos inquiridos não apenas sobre a
condição atual do país onde residem, mas também sobre a evolução do
mesmo no contexto da União Europeia.
Emergem de uma análise de correlação com variáveis espaciais/terri-
toriais alguns padrões de homogeneidade associados a características es-
truturantes, tais como o modelo de governança e o grau de descentrali-
zação administrativa dos países onde os inquiridos residem (tabela 6.1).
Pelo contrário, outras variáveis, como as referentes às características in-
dividuais (ou sociodemográficas; idade, género, etc.) dos inquiridos não
apresentam, aqui, qualquer carácter explicativo relevante.
Relembremos, neste contexto, que a autoanálise depreciativa e o pes-
simismo latente são um dos lugares-comuns mais perpetuados na socie-
dade portuguesa. Múltiplas análises sociológicas (e.g. Barreto 2008; Va-
lente 2002) e reflexões filosóficas (Gil 2010) avançam interpretações
possíveis para tal facto. É inegável o poder sugestivo da comparação des-
tas análises com a leitura que a tabela 6.1 permite.
Importa aqui sublinhar que são os países que há mais tempo perten-
cem à UE, mais descentralizados e com maior autonomia deliberativa a
nível local, que demonstram um maior grau de otimismo face ao seu fu-
turo. Tal correlação chega mesmo a ser estatisticamente significativa para
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3
Recordemos contudo que esta recolha não coincide temporalmente com o período
mais conturbado da crise económica atual (pós 2011), resultado da implementação dos
planos de resgate financeiro de alguns dos Estados-membros da União, nomeadamente
Portugal. Se estes inquéritos fossem realizados agora, teríamos muito provavelmente re-
sultados muito distintos em comparação com outros países da União Europeia pós-alar-
gamento.
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Práticas de mobilidade
A nível das práticas – e agora centrando-nos exclusivamente sobre a
questão da mobilidade urbana – começamos por explorar as prioridades
dos cidadãos no que respeita à promoção de alternativas à mobilidade
automóvel nos centros urbanos. Portugal destaca-se fundamentalmente
pela baixa importância atribuída às políticas destinadas à promoção do
uso da bicicleta enquanto meio de locomoção urbana. Apenas 61,7%
dos inquiridos consideram que esta deve ser uma prioridade na constru-
ção de alternativas ao uso do automóvel em 2011 (quadro 6.4). De facto,
esta é a percentagem mais baixa a nível da União Europeia. A justificação
para tal não se encontra apenas na topografia das cidades portuguesas
ou no contexto sociocultural das mesmas. Se tomarmos em consideração
os casos da Grécia, da Espanha e da Itália, países com características so-
cioculturais semelhantes a Portugal, a média é substancialmente superior
(75%), não atingindo, ainda assim, os valores de países tradicionalmente
bastante enraizados ao uso da bicicleta como, por exemplo, a Holanda
e os países escandinavos (em especial a Dinamarca).
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UE27 n. a. n. a. n. a.
UE15 86,9 79,0 87,3
Holanda 84,4 84,2 85,0
Escandinávia 88,2 87,3 90,1
Roménia/Bulgária n. a. n. a. n. a.
PIIGS 88,9 75,0 90,0
Portugal 88,8 61,7 89,6
Nota: Percentagem de transportes públicos, ciclistas e pedestres vs. automóvel.
Fonte: EB F312 (2011).
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Quadro 6.6 – Motivos para não utilizar transportes públicos, 2011 (%)
4
Ver, por exemplo, as análises de Hall (1997) e de Muñiz e Galindo (2005), esta última
para o caso da área metropolitana de Barcelona, que relacionam a descentralização (e
produção de novas centralidades intrametropolitanas) das estruturas do emprego e da
habitação e seus respetivos efeitos a nível da (des)adequação da oferta providenciada
pelas infraestruturas de transportes às condições da procura (mobilidade pendular quo-
tidiana, i. e., deslocação de trabalho e/ou estudo dentro de uma mesma área metropoli-
tana).
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Portugal UE
Fonte: EB37.0 (1992), EB43.1bis (1995), EB51.1 (1999), EB68.2 (2008) e EB 75.2 (2011).
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Portugal UE
Conclusão
A dependência do uso do transporte individual é um fenómeno con-
solidado particularmente em Portugal. Debater fórmulas alternativas de
mobilidade urbana implica, forçosamente, perceber o que os cidadãos
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Capa Ambiente Observa.qxp_Layout 1 18/02/14 10:36 Page 1
Bem Comum
A adesão de Portugal à Comunidade Europeia implicou
consequências marcantes para as questões ambientais. Se a nível
Ambiente, Luísa Schmidt é socióloga e
investigadora principal no
Público e/ou Privado?
João Pato
Luísa Schmidt
oficial se sucederam medidas, diretivas e reforço do quadro
administrativo, a nível social o interesse pelas questões ambientais Alterações Climáticas, ICS-ULisboa, onde coordena o
OBSERVA– Observatório de
Ambiente e Sociedade. Faz parte do
Educação Ambiental
embora de forma desigual, a sociedade portuguesa.
Este livro apresenta um panorama da evolução da opinião pública
em Portugal sobre questões de ambiente, consumo e energia nas
Alimentação Comité Científico do Programa
Doutoral em «Alterações Climáticas
e Políticas de Desenvolvimento
Sustentável». Autora de vários livros
Balanço e Perspectivas
para uma Agenda
mais Sustentável
últimas décadas. A enquadrar cada tema analisam-se as principais
políticas entretanto lançadas às escalas europeia e nacional.
As acentuadas e rápidas mudanças ocorridas no país desde 1986
e Energia e artigos, tem trabalhado sobre as
questões da comunicação,
participação e políticas públicas de
Luísa Schmidt
Joaquim Gil Nave
João Guerra
constituem um pano de fundo essencial para compreender muito
do que se passa e pensa atualmente neste domínio. Da energia à
A Opinião ambiente e, mais recentemente, sobre
os impactos sociais das alterações
climáticas e das políticas energéticas.
Ambiente no Ecrã
mobilidade urbana, das alterações climáticas aos resíduos, da água
ao consumo, as respostas dos portugueses aos inquéritos
dos Portugueses Colaboradora regular do jornal
Expresso.
Emissões e Demissões
no Serviço
Eurobarómetro são vistas à luz das tendências europeias e das
Público Televisivo
Luísa Schmidt
diferenças por idade, género ou nível de educação. São exploradas
questões como a informação sobre temas ambientais, nível de
Luísa Schmidt Ana Delicado é investigadora do
ICS-ULisboa e trabalha na área dos
Os Portugueses
preocupação com os problemas, concordância com as medidas
de política ou práticas do quotidiano.
Ana Delicado estudos sociais da ciência.
É doutorada em Sociologia pela
e os Novos Riscos O livro resulta da atividade do OBSERVA – Observatório de (organizadoras) Universidade de Lisboa. Coordenou
projetos sobre associações científicas
Entre Incerteza e Controvérsia
Maria Eduarda Gonçalves Ambiente e Sociedade, que realiza estudos e ações de divulgação e sobre energias renováveis. Também
(organizadora) sobre as dimensões sociais e políticas dos problemas de ambiente, participou em investigação sobre
energia e sustentabilidade. A obra constitui o primeiro número da alterações climáticas, energia nuclear,
Ambiente colecção de publicações dos Observatórios do ICS-ULisboa. o uso da internet pelas crianças, os
e Desenvolvimento museus de ciência e riscos ambientais.
Luísa Lima Autores: É vice-coordenadora do OBSERVA.
Manuel Villaverde Cabral
Jorge Vala
Ana Delicado José Gomes Ferreira Rui Carvalho
(organizadores) Ana Horta Luísa Schmidt Susana Fonseca
João Morais Mourato Mónica Truninger Susana Valente
Ambiente e Emprego:
Situação Actual Foto da capa: Carlos Cabral
e Perspectivas
João Ferrão
(organizador)
ICS ICS
www.imprensa.ics.ul.pt