5-Um Estudo Do Gênero Artigo de Opinião - Procedimentos para Torná-Lo Um Objeto Ensinável (17030)
5-Um Estudo Do Gênero Artigo de Opinião - Procedimentos para Torná-Lo Um Objeto Ensinável (17030)
5-Um Estudo Do Gênero Artigo de Opinião - Procedimentos para Torná-Lo Um Objeto Ensinável (17030)
Resumo
O presente artigo visa a apresentar uma pesquisa desenvolvida à luz da concepção enunciativo-discursiva da
linguagem acerca do ensino do gênero artigo de opinião, fundamentada nos estudos de Bakhtin/Voloshinov
(1997); Bronckart (1999) e Dolz e Schneuwly (2004). Embora haja um consenso sobre a adoção dos gêneros
como objetos de ensino, falta muito para esta, realmente, chegar à escola, devido às dificuldades de
tratamento didático desses textos pelos professores. Assim, objetivamos evidenciar os aspectos do gênero
artigo de opinião para explicitar procedimentos para torná-lo objeto de estudo e ensino. Inicialmente,
analisamos exemplares desse gênero, especialmente os elementos: a) conteúdo temático; b) construção
composicional; c) estilo. Ademais, utilizamos o modelo de análise de texto proposto por Bronckart, que está
inserido no quadro teórico do Interacionismo Sociodiscursivo e, para discutir questões de ensino do gênero,
orientamo-nos pelas pesquisas de Dolz e Schneuwly sobre os gêneros enquanto objetos de ensino. Para
apresentar os resultados da pesquisa, organizamos o texto em quatro seções: na primeira, apresentamos o
aporte teórico; na segunda, a metodologia; na terceira, razões para se trabalhar com o gênero pesquisado e,
na quarta, considerações finais.
Palavras-chave: gêneros do discurso, interacionismo sociodiscursivo; procedimentos metodológicos de
ensino.
A study on the genre opinion article: procedures to make it a teachable genre
Abstract
This paper presents a research developed under the light of enunciative-discursive language conception about
teaching opinion article genre, based on studies of Bakhtin / Voloshinov (1997); Bronckart (1999) and
Schneuwly and Dolz (2004). There is a consensus about the adoption of genre as object of teaching, but it
didn´t really get to school because of the difficulties of such didactic texts for teachers. We aim to highlight
the genre aspects of the opinion article to explain procedures to make it an object of study and teaching.
First, we analyzed some texts of this genre, especially the elements: a) thematic content, b) compositional
structure, c) style. Furthermore, we use the text analysis model proposed by Bronckart that is inserted in the
field of socio-discursive interacionism and we discussed issues of genre in education research guided by
Schneuwly and Dolz researches of genre as objects of teaching. To display the search results we organized
the text in four sections: first, we present the theories, second, the methodology, third, reasons for working
with searched genre in fourth, closing remarks
Keywords: Discoursive Genres socio-discursive interacionismo, teaching methodological procedures
Embora a concepção bakhtiniana de gêneros o que conseguimos depreender dos textos são
do discurso possa fornecer subsídios para representações/interpretações, uma vez que não há
reconhecer os textos como formas pré-determinadas como recuperar as reais intenções do produtor do
e que, portanto, realizam-se por meio de um gênero texto.
ou de outro, optamos por ampliar nosso aporte O plano da arquitetura interna relaciona-se à
teórico a fim de apresentar uma metodologia de identificação do nível organizacional, ou seja, à
análise que reconheça e nos faça reconhecer as análise do plano global visando a perceber as
formas concretas de uso da linguagem e, mais do características mais gerais do texto e,
que isso, uma concepção que coloque a linguagem consequentemente, o gênero que o texto mobiliza.
no foco das interações humanas; para isso, Dentre essas características, temos a organização
discorreremos, nesta seção, acerca do modelo de das seções que dividem o texto, título, elementos
análise de textos que se insere no quadro teórico do paratextuais como imagens, gráficos, tabelas etc..
Interacionismo Sociodiscursivo (ISD doravante). Temos também conteúdo temático, que nos permite
De modo geral, os procedimentos utilizados observar a temática central desenvolvida pelo autor,
à luz do ISD foram propostos pelo grupo bem como os demais temas que dele desencadeiam;
denominado Language, Action, Formaction (LAF), tal procedimento permite compreender não apenas
que está vinculado à Unidade de Didática das o que foi privilegiado pelo autor, mas, sobretudo,
Línguas da Universidade de Genebra e tem como temas que deixaram de ser abordados.
principal pesquisador Jean Paul Bronckart (1999). Ainda nesse primeiro nível é possível notar
O preceito fundamental do quadro do ISD refere-se que o gênero textual mobilizado apropria-se de
à concepção da linguagem como uma atividade determinados tipos de discurso, ou seja,
social, enxergando-a como a principal ferramenta dependendo do objetivo do enunciador do texto,
do funcionamento e do desenvolvimento humano. algumas marcas linguísticas são utilizadas para que
Essa linha teórica é constituída a partir de várias se crie um discurso com implicação ou não do
ciências ligadas à natureza das atividades sociais enunciador em relação ao texto e também em
humanas e tem como suporte a teoria da conjunção ou não com o mundo real.
perspectiva histórico-cultural desenvolvida por As marcas linguísticas que emanam de um
Vygotsky em seus estudos ligados à psicologia, texto caracterizam quatro tipos de discurso: a) o
haja vista que, para esse último, o papel da discurso interativo – no qual se explicita uma
linguagem, em consonância com a aprendizagem, interação do enunciador com seu interlocutor por
eram fundamentais no processo de meio de marcas linguísticas relacionadas ao tempo
desenvolvimento do indivíduo. presente (verbos no presente, advérbios e pronomes
Para o quadro do ISD, a linguagem pode que indicam proximidade em relação ao mundo
representar um objeto de estudo quando real/físico); b) o relato interativo – tipo de discurso
manifestada nos textos, sejam eles orais ou escritos em que, embora haja interlocução entre enunciador
e, sendo assim, eles podem se transformar em e enunciatário do texto, as marcas denotam certo
objetos de análise que auxiliam na compreensão das distanciamento em relação ao mundo real (verbos
atividades humanas. Em sua proposta de análise, no passado, marcadores temporais e pronomes que
Bronckart (1999) nos convida a olhar para os textos remetem ao distanciamento do enunciador em
sob duas vertentes: primeiramente, para as relação ao local onde o discurso é produzido); c)
condições de produção ou contexto discurso teórico – distanciamento total do
sociointeracional e, posteriormente, para sua enunciador em relação à atitude enunciativa
arquitetura interna em três níveis: organizacional, marcado por afirmações mais genéricas no tempo
enunciativo e semântico. presente e d) narração – tipo de discurso autônomo
Em relação ao contexto sociointeracional de e disjunto em relação ao mundo real, com marcas
produção, trata-se dos elementos externos ao texto, linguísticas que remetem ao tempo passado (verbos
mas que, indubitavelmente, exercem influência no perfeito e imperfeito do indicativo, expressões
sobre ele. Nesse aspecto, esses elementos devem não dêiticas de tempo e lugar).
ser olhados quanto ao mundo físico, ou seja - Outro aspecto a ser observado no que tange o
produtor físico do texto, receptor, lugar onde ele é plano global dos textos refere-se aos tipos de
produzido e suporte onde é veiculado – e também sequências, ou seja, maneiras de “planificação dos
quanto ao mundo sócio-subjetivo, uma vez que, ao textos” (Bronckart, 1999) classificadas em seis
produzir um texto, o interlocutor elege o papel categorias: narrativa, descritiva, argumentativa,
social que irá utilizar, tendo em vista o destinatário explicativa, dialogal e injuntiva.
de seu texto, o objetivo pretendido, a esfera social O outro nível de análise proposto por
onde esse texto é produzido e irá circular. Convém Bronckart (1999) que se relaciona aos elementos da
ressaltar que, em relação ao mundo sócio-subjetivo, arquitetura interna do texto e diz respeito à
porém a grande diferença está no fato de que o carta do editor, como algumas vezes é nomeado o
enunciador, no nosso caso, enunciadora, sempre gênero, os artigos de opinião buscam não
explicita uma opinião, diferente da notícia que, representar a opinião da revista; explica-se,
tecnicamente, tenta ser imparcial. O ponto de vista portanto, a sua localização como um anexo. No
da articulista aparece no texto na forma de uma caso do editorial, embora esteja assinado pelo
tese. Para sustentá-la, a autora propõe argumentos editor e se assemelhe bastante a um artigo, a
que, de acordo com o seu ponto de vista pessoal, localização do mesmo nas páginas iniciais da
sustentam a postura defendida no texto. revista auxilia na nomeação e diferenciação do
gênero em relação ao artigo e, principalmente,
Plano Global (Aspectos discursivos) sustentam a opinião da revista enquanto instituição
e não do autor do texto.
A análise do plano global dos artigos de Além desses elementos, pudemos notar que,
opinião analisados também mostrou muitos dadas as mínimas diferenças entre a construção dos
aspectos sempre recorrentes, dos quais se destaca o artigos, o leitor pode reconhecer a coluna com
título, que é chamativo como uma manchete de facilidade. Esse reconhecimento está atrelado não
jornal, mas carregado de opinião do articulista. Ele apenas às marcas do gênero, mas também ao estilo
também se diferencia da notícia por ser menos de linguagem empregado pela autora que acaba por
frequente a ocorrência de verbos; na análise, apenas representar o diferencial de cada articulista em
um dos textos apresentava um verbo no título e este relação aos demais.
estava no tempo presente.
Outra observação que se refere ao plano Análise da arquitetura interna (aspectos
global diz respeito à foto da jornalista Ruth de linguístico-discursivos)
Aquino que estampa todos os artigos e à presença
da assinatura dos textos. Essa marca relaciona-se ao O estilo de linguagem utilizado nos textos
que afirmamos anteriormente, isto é, tanto a foto pesquisados é bastante semelhante, entretanto,
quanto a assinatura revelam que a responsabilidade como afirmado anteriormente, podem ser marcas
da autoria e, principalmente, da tese defendida pela bastante distintas entre diferentes autores, já que o
articulista são de responsabilidade da autora e não estilo representa uma marca pessoal do articulista.
do veículo. Tais semelhanças, como já mencionado,
Logo após o título e a foto da colunista, todos estabelecem relação direta com a situação de
os textos apresentavam os créditos da autora: Ruth produção que, em alguns casos, podem fazer com
de Aquino é diretora da sucursal de ÉPOCA no Rio que sejam evidenciadas outras marcas linguísticas.
de Janeiro. Desta forma, justifica-se o lugar No caso dos textos analisados, a linguagem
oferecido a ela no jornal, caracterizando-a como predominantemente utilizada é formal – fator que
profissional de destaque dentro da área em que se associa ao perfil socioeconômico do leitor da
atua. Ao abordar essa marca do gênero em sala de revista. Sobre o campo semântico, nota-se que a
aula, é importante mostrar ao aluno que não se trata escolha lexical constitui a opinião que se pretende
apenas de uma informação sobre a articulista, mas, formar, destacando-se a grande presença de
principalmente, um recurso que visa a conferir adjetivos modalizadores, como alguns exemplos
credibilidade ao texto como um todo, uma vez que, retirados do texto “O melhor bonde é o da paz
dada sua posição, espera-se que os leitores sejam social”, Rio viável, revolução lenta, parceria
convencidos mais facilmente acerca do ponto de inédita, em todos os casos podemos perceber que a
vista defendido pela mesma. escolha dos adjetivos altera o valor dos substantivos
Outras marcas em relação à estrutura do e transmite uma opinião implícita. Outra forma de
gênero e que também dizem respeito ao plano modalização encontrada foram construídas com
global referem-se à quantidade de parágrafos, em advérbios, locuções denotativas e verbos
geral os textos apresentavam entre 7 a 10 impessoais, no mesmo texto, a articulista usa os
parágrafos; o aparecimento do “olho” - trecho do advérbios até agora e talvez, a locução denotativa
texto destacado para chamar a atenção de algum em vez de e verbos impessoais como é natural, é
aspecto importante para a defesa da tese; o e-mail preciso.
profissional da colunista que é informado no inicio Também sobre a linguagem, convém
do texto a fim de colocá-la mais próxima ao leitor destacar que há grande ocorrência de enunciados
(alguém com quem ele pode se corresponder) e a opinativos construídos em 3ª pessoa e discurso
localização, já que todos os textos são publicados teórico. Tal marca linguística deve ser explicitada
nas páginas finais da revista. ao aluno como sendo inerente do objetivo do
No caso da localização, também é importante gênero artigo de opinião, ou seja, visando ao
apontar aos alunos que, diferente do editorial ou convencimento por parte do leitor, o articulista
por Bronckart subsidia o trabalho do professor no ensino pautado nos gêneros “Quais os
tratamento didático discutido por Schneuwly e Dolz procedimentos para transformá-lo em um objeto de
(2004), haja vista que tal discussão pode ser estudo em sala de aula?”, teceremos algumas
promovida visando ao ensino de leitura ou proposições nesta seção. Primeiramente, é preciso
produção do gênero aqui selecionado de modo a justificar o trabalho, especificamente, com o gênero
evidenciar, para o aluno, que a polifonia e a artigo de opinião e, a esse respeito, é necessário
dialogia têm caráter substancialmente considerar o fato de que, em sala de aula, o mesmo
argumentativo, uma vez que são utilizadas a fim de proporciona aos alunos a oportunidade de lidarem
que o objetivo do gênero – o convencimento – seja com a língua em seus mais diversos usos, ou seja,
alcançado pelo enunciador. não são somente àquelas composições escritas
tradicionais com a qual se trabalha na instituição
Outras marcas e recursos linguísticos do gênero escolar – descrição, narração e dissertação – mas
artigo de opinião sim com o texto que é produzido diariamente em
todos os momentos em que nos comunicamos, tanto
Conforme afirmamos anteriormente, o artigo na forma escrita como na forma oral, nas mais
de opinião se insere dentro do que Dolz e diversas esferas sociais.
Schneuwly (apud Barbosa, 2000) chamam de Ao trabalhar, explorar e refletir sobre o
gêneros da ordem do argumentar. Sendo assim, o gênero textual artigo de opinião, o professor
domínio da comunicação social é o da discussão de aproxima os alunos de situações originais de
assuntos controversos, na qual o autor visa a um produção dos textos não escolares. Essa
entendimento por parte do leitor e escolhe um aproximação oferece condições e instrumentos para
posicionamento diante desse, o que podemos que o aluno compreenda o funcionamento do
relacionar ao que chamamos anteriormente de tese. gênero textual, apropriando-se de suas
Nos textos analisados, notamos alguns peculiaridades e especificidades, o que facilitará o
recursos utilizados para a construção e defesa da domínio que deverá ter sobre ele. Além disso, o
tese. É bastante frequente, nesse gênero, a trabalho com o artigo de opinião contribui para o
antecipação, recurso em que o produtor antecipa os aprendizado de prática de leitura, de produção
argumentos mais fortes e possíveis que podem ser textual, argumentação e de compreensão,
apresentados pelos oponentes, desta forma, ele já os habilidades essas que poderão ser empregadas no
contesta no próprio texto, na tentativa de ser mais uso e apropriação de outros gêneros de diversas
convincente e prever os possíveis questionamentos esferas de circulação dos textos produzidos na
à sua tese. Por exemplo, no artigo “O melhor bonde sociedade.
é o da paz social”, a autora prevê que pode ser Nessa perspectiva, é importante destacar que
acusada de ser ingênua ao acreditar na argumentar é uma tentativa de intervenção sobre a
transformação das favelas cariocas e rebate opinião, a atitude e até mesmo sobre
“Ninguém pode ser tão tolo a ponto de supor que as comportamento de alguém. Tendo em vista que há
favelas serão transformadas em oásis urbanos com grande frequência de situações em que somos
criminalidade zero.” Então, ela mesma rebate na considerados atores de cenas argumentativas, o
sequência: “Mas, se os traficantes e as milícias trabalho com o gênero artigo de opinião pode
perderem seus territórios até 2016, como está sendo qualificar/habilitar o aluno para assumir uma
prometido, é porque o bonde do bem entrou nos postura mais crítica frente a estas situações.
trilhos”.
Por fim, ao encerrar o texto, o enunciador Considerações finais
sempre deixa uma conclusão sobre o tema muito
explícita, desta forma, deixando clara a mensagem A partir do que é recomendado pelos
que gostaria que ficasse marcada na mente no leitor documentos oficiais (Parâmetros Curriculares
por meio de um enunciado claro e objetivo. Isso Nacionais – PCNs), percebemos que na concepção
ocorre, por exemplo, no artigo citado em que a enunciativo-discursiva da linguagem, seja ela em
articulista finaliza o texto dando um voto de seu uso oral ou escrito, o trabalho com gêneros
confiança de que as promessas de melhoria no Rio textuais representa o melhor caminho para a
de Janeiro serão cumpridas. apropriação efetiva desta e permitindo, assim, a
formação cidadã do aluno para transitar e agir, por
Por que trabalhar com o gênero artigo de meio da língua, nas mais diversas esferas sociais.
opinião em sala de aula? Ainda sob essa ótica, o trabalho pedagógico
com o gênero textual artigo de opinião pode ser a
Visando a responder à problemática diretriz para um ensino e aprendizagem eficaz,
apresentada no início desse texto acerca de um contribuindo de maneira significativa para que os
alunos sejam mais competentes não só em suas arquitetura interna do texto, relacionam-se de forma
atividades escolares, mas, principalmente, em suas intrínseca com seu objetivo que não apenas
práticas sociais. Entretanto, colocamos inicialmente transmitir uma opinião, mas, sumariamente,
que, embora não haja dúvidas quanto à inserção dos convencer o leitor dela.
gêneros nas práticas escolares, uma das principais Indubitavelmente, o trabalho com qualquer
questões que emanam no universo escolar é: quais gênero da ordem do argumentar é válido para o
procedimentos para transformá-los em um objeto aluno, haja vista que, nas situações cotidianas,
de estudo em sala de aula? usamos desse recurso nas mais diversas esferas
Logo, defendendo esse tipo de trabalho e conforme sociais. No caso do artigo de opinião, em particular,
apresentado inicialmente neste texto, buscamos evidencia-se que a argumentação se constrói a
expor os procedimentos metodológicos para um partir de informações lidas com outros textos,
ensino pautado nos gêneros. Em relação à pressupondo-se, portanto, que caso se assuma um
transformação do gênero em objeto de ensino na trabalho voltado para a produção de textos desse
sala de aula, vimos que a análise é o aspecto gênero, será indispensável a leitura de diversos
fundamental para que esse trabalho possa ser, de textos (e porque não de diversos gêneros?) sobre a
fato, empreendido e que é a partir desta que se temática a ser discutida.
podem evidenciar as dimensões ensináveis de Enfim, a proposta de um trabalho com os
qualquer gênero. gêneros torna-se cíclica, uma vez que a seleção de
A esse respeito, nota-se que a análise deve determinado gênero direcionará, em algum
ser realizada a partir do confronto de exemplares do momento, seja por meio da comparação, leitura,
gênero selecionado e, após evidenciar as marcas produção inicial ou final, para o estudo de outros
recorrentes no corpus selecionado, é possível gêneros.
chegar ao modelo didático exposto por Schneuwly
e Dolz (2004).
Além de levantar suas peculiaridades, para Referências
transformar qualquer gênero em objeto de ensino, é
necessário explorar tais características nas BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São
atividades desenvolvidas que devem seguir o Paulo: Martins Fontes, 1997.
mesmo percurso trilhado na análise empreendida
por nós: comparar os exemplares do gênero de BARBOSA, J. “Do professor suposto pelos PCNs
modo a observar seus aspectos constituintes ao professor real de Língua Portuguesa: são os
(situação de produção, conteúdo temático, forma PCNs praticáveis?”. In: Rojo, R. A prática de
composicional e estilo). Entretanto, apesar de esse linguagem em sala de aula: praticando os PCNs.
artigo não visar uma discussão sobre as maneiras de Campinas: Mercado de Letras, 2000.
se organizar essas atividades – a elaboração da
sequência didática – não podemos deixar de expor
o quão importante é essa segunda fase de um BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem,
trabalho com os gêneros, que, neste artigo, não será textos e discursos: Por um interacionismo
explorada. sociodiscursivo. Trad. Anna Rachel Machado e
Durante a análise do gênero artigo de Péricles Cunha. São Paulo: EDUC, 1999.
opinião, notamos o quanto todos os aspectos do
gênero são importantes quando se visa colocá-lo SCHNEUWLY, B. & DOLZ, J. Gêneros Orais e
como objeto de ensino e que, marcas nem sempre escritos na escola. São Paulo:Mercado das Letras,
colocadas como essenciais para o tratamento 2004.
didático (Schneuwly e Dolz, 2004) deste são
relevantes para que possa compreendê-lo. Vimos, http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,152
também, que todos seus aspectos, sejam eles 30,00.html acesso em 05-09-2010.
pertencentes ao contexto sociointeracional ou à
Sobre as autoras
Cláudia de Jesus Abreu Feitoza: Mestranda em Educação pela Universidade São Francisco – Itatiba, com
pesquisa em desenvolvimento na área de Linguagem; possui graduação em Letras e é professora de Língua
Portuguesa na rede particular de ensino; além disso, atua como instrutora do Laboratório de Pedagogia da
Universidade São Francisco – Itatiba/SP.
Maria Helena Peçanha Mendes: Mestranda em educação pela Universidade São Francisco – Itatiba, com
pesquisa em desenvolvimento na área de Linguagem; possui graduação em Letras e é professora de Língua
Portuguesa na rede pública de ensino; além disso, atua como professora em cursos técnicos na ETEC
“Carmine de Biaggio Tundisi” – Atibaia/SP.