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Dalcin CB, Backes DS, Dotto JI et al. Determinantes sociais de saúde que influenciam...

ARTIGO ORIGINAL
DETERMINANTES SOCIAIS DE SAÚDE QUE INFLUENCIAM O PROCESSO DE
VIVER SAUDÁVEL EM UMA COMUNIDADE VULNERÁVEL
SOCIAL DETERMINANTS OF HEALTH THAT INFLUENCE THE HEALTHY LIVING PROCESS IN A
VULNERABLE COMMUNITY
DETERMINANTES SOCIALES DE SALUD QUE INFLUYEN EN EL PROCESO DE VIDA SALUDABLE EN
UNA COMUNIDAD VULNERABLE
Camila Biazus Dalcin1, Dirce Stein Backes2, Jéssica Ineu Dotto3, Martha Helena Teixeira Souza4, Claudete
Moreschi5, Andreas Büscher6
RESUMO
Objetivo: conhecer os determinantes sociais de saúde que influenciam o processo de viver saudável em uma
comunidade vulnerável. Método: teoria fundamentada nos dados, no qual os dados foram coletados por meio
da técnica de entrevista individual com amostra teórica de 38 entrevistas, entre usuários, profissionais da
saúde e lideranças comunitárias, e analisados de forma sistemática e comparativa. Resultados: as
vulnerabilidades ocasionadas pelos macrodeterminantes sociais de saúde são evidentes, sendo que a posição
que as famílias e comunidades ocupam dentro das hierarquias de poder, trabalho, emprego, acesso aos
serviços de saúde e níveis de renda irá configurar as diferentes oportunidades de viver saudável dos
indivíduos. Conclusão: os determinantes sociais de saúde que influenciam o processo de viver saudável estão
relacionados às vulnerabilidades socioeconômicas, culturais e ambientais e as necessidades humanas básicas
insatisfatórias. Descritores: Determinantes Sociais da Saúde; Desigualdades em Saúde; Equidade;
Enfermagem; Enfermagem em Saúde Comunitária.
ABSTRACT
Objective: knowing the social determinants of health that influence the healthy living process in a vulnerable
community. Method: grounded theory, where data were collected through the individual interview technique
with a theoretical sample of 38 interviews, among users, health professionals, and community leaders, and
analyzed in a systematic and comparative manner. Results: vulnerabilities caused by social health
macrodeterminants are apparent, and the position of families and communities within the hierarchies of
power, labor, employment, access to health services, and income levels will determine the various healthy
living opportunities for the individuals. Conclusion: the social determinants of health that influence the
healthy living process are related to socioeconomic, cultural, and environmental vulnerabilities and poor basic
human needs. Descriptors: Social Determinants of Health; Health Inequalities; Equity; Nursing; Community
Health Nursing.
RESUMEN
Objetivo: conocer los determinantes sociales de salud que influyen en el proceso de vida saludable en una
comunidad vulnerable. Método: teoría fundamentada, donde se recogieron datos a través de la técnica de
entrevista individual con una muestra teórica de 38 entrevistas, entre usuarios, profesionales de la salud y
líderes comunitarios, y analizados de manera sistemática y comparativa. Resultados: las vulnerabilidades
causadas por macrodeterminantes sociales de salud son evidentes, y la posición que las familias y las
comunidades ocupan dentro de las jerarquías de poder, trabajo, empleo, acceso a servicios de salud y niveles
de ingresos determinarán las diversas oportunidades de vida saludable para los individuos. Conclusión: los
determinantes sociales de salud que influyen en el proceso de vida saludable están relacionados con las
vulnerabilidades socioeconómicas, culturales y ambientales y las necesidades humanas básicas
insatisfactorias. Descriptores: Determinantes Sociales de la Salud; Desigualdades en Salud; Equidad;
Enfermería; Enfermería en Salud Comunitaria.
1
Enfermeira. Mestranda em Enfermagem na Universidade Federal do Rio Grande (Furg). Rio Grande (RS), Brasil. E-mail:
[email protected]; 2Enfermeira. Doutora em Enfermagem pelo Centro Universitário Franciscano (Unifra). Santa Maria (RS),
Brasil. E-mail: [email protected]; 3Enfermeira. Mestranda em Enfermagem na Furg. Rio Grande (RS), Brasil. E-mail:
[email protected]; 4Enfermeira. Doutora em Ciências pelo Unifra. Santa Maria (RS), Brasil. E-mail: [email protected];
5
Enfermeira. Doutoranda em Ambiente e Desenvolvimento na Unidade Integrada Vale do Taquari de Ensino Superior (Univates). Lajeado
(RS), Brasil. E-mail: [email protected]; 6Enfermeiro. Doutor em Enfermagem. Professor no Institut für Pflegewissenschaft
(Instituto de Ciências de Enfermagem). Osnabrück, Alemanha. E-mail: [email protected]

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comunidades vulneráveis, no contexto

INTRODUÇÃO
brasileiro, constituem a maioria participante
Existe uma tendência de promover políticas da Estratégia Saúde da Família (ESF), que é
sanitárias que abordem os determinantes um projeto dinamizador do Sistema Único de
sociais de saúde (DSS) porque eles interferem Saúde (SUS), entendida como uma estratégia
no bem-estar, independência funcional, de reorientação do modelo assistencial,
qualidade de vida.1 Define-se como as operacionalizada mediante a implantação de
características sociais dentro das quais a vida equipes multiprofissionais em unidades
transcorre2, ou como as condições sociais nas básicas de saúde.13
quais as pessoas vivem e trabalham.3 Ao considerar a importância da atuação do
Em 2005 ocorreu a criação da Comissão enfermeiro nesse contexto de discussões, que
sobre Determinantes Sociais de Saúde da envolvem uma nova concepção epistemológica
Organização Mundial de Saúde (OMS) e, em sobre a dinâmica do viver saudável,
2006, no Brasil, a Comissão Nacional de questiona-se: quais DSS influenciam o
Determinantes Sociais da Saúde (CNDSS), com processo de viver saudável?
o objetivo de reconhecer a saúde como bem
OBJETIVO
público, reforçar a processo de Reforma
Sanitária brasileira e propiciar atividades de ● Conhecer os determinantes sociais de
discussão sobre a situação social, pelo saúde que influenciam o processo de viver
desenvolvimento de estratégias para alcançar
saudável em uma comunidade vulnerável.
o fim das iniquidades sociais e da pobreza.3,4
No Brasil, essa definição foi ampliada, onde METÓDO
os DSS são, portanto, os fatores sociais,
O processo de investigação qualitativo
econômicos, culturais, étnicos/raciais,
esteve baseado na teoria fundamentada nos
psicológicos e comportamentais que
dados, que têm como propósito identificar,
influenciam a ocorrência de problemas de
desenvolver e relacionar conceitos com base
saúde e seus fatores de risco na população.5
nos dados coletados, analisados e comparados
Ao considerá-los, sob esse enfoque, reforça-se
de forma sistemática e concomitante. A
a importância das redes sociais e
elaboração de um quadro teórico denota um
comunitárias, caracterizadas por parentes,
conjunto de categorias, construídas a partir
vizinhos, grupos religiosos, associação de
de temas emergentes e conceitos que indicam
moradores, que estabelecem as relações de
relações, capazes de formar um marco teórico
solidariedade e confiança que constituem o
explicativo de um fenômeno social.14,15
capital social.6
Os dados foram coletados por meio da
O viver saudável emerge como fenômeno
técnica de entrevista individual, entre março
social, que gera desigualdade nas exposições e
e junho de 2011. No total, a amostra teórica
vulnerabilidades, entendido como um
foi constituída por 38 entrevistas, quais
processo circular interativo e associativo,
sejam: usuários (n = 24), profissionais da uma
dinamizado por meio de vivências de ordens e
equipe da ESF (n = 12) e lideranças
desordens em busca de uma vivência contínua
comunitárias (n = 2), todos integrantes de
individual, familiar e social.7,8 Isso transcende
uma comunidade, com aproximadamente, 26
a linearidade do fenômeno saúde-doença,
mil habitantes, a qual apresenta-se
tradicionalmente concebido pela concepção
vulnerável, tanto do ponto de vista social e
causa-efeito, por desconsiderar as dimensões
econômico como político, ambiental e de
sociais, emocionais, econômicas e espirituais
saúde.
do ser humano.8-10 Requer-se, para tanto,
respostas contextualizadas dos diferentes Em conformidade com o processo de
modos que envolvem o viver saudável como amostragem teórica, o primeiro grupo de
processo multifatorial. participantes, escolhido pelos pesquisadores,
foi composto por 24 usuários cadastrados na
Percebe-se a necessidade de conhecer e
equipe da ESF, selecionados por meio de
compreender o viver saudável nas
sorteio de prontuários, localizados na unidade
comunidades vulneráveis devido à fragilidade
básica de saúde local. As entrevistas foram
socioeconômica, cultural e ambiental que as
conduzidas a partir dos seguintes
pessoas enfrentam. Comunidades vulneráveis
questionamentos: O que significa viver
vivenciam influências ambientais,
saudável para você? e Quais são os fatores que
econômicas, políticas e culturais, as quais
influenciam sua dinâmica de viver saudável?
enfraquecem as relações, as interações e as
As entrevistas foram gravadas e transcritas e,
associações individuais, familiares e
11,12 na sequência, os dados foram organizados e
sociais , tornando-se necessária a discussão
analisados com o propósito de identificar os
dos determinantes sociais de saúde. As
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dados empíricos definidos como códigos, com pesquisa, assinaram o termo de

base na técnica de análise comparativa. consentimento livre e esclarecido, conforme a
A análise dos dados coletados no primeiro resolução publicada pelo Ministério da Saúde
grupo amostral permitiu a formação de do Brasil16, e seu acesso livre aos dados
propriedades iniciais e hipóteses que coletados foi garantido. Os participantes
orientaram a formação do segundo grupo, também foram informados de que seus nomes
composto por 12 profissionais da uma equipe não seriam divulgados e que poderiam se
ESF, os quais possuíam vinculação com os retirar do estudo a qualquer momento, sem
usuários sorteados no primeiro grupo. Dentre restrições. O estudo foi aprovado pelo Comitê
os entrevistados do segundo grupo, de Ética em Pesquisa do Centro Universitário
encontram-se: enfermeiros, médicos, técnicos Franciscano (Unifra), sob o Protocolo n.
de enfermagem e agentes comunitários de 333/2008.
saúde. Os questionamentos realizados nas RESULTADOS
entrevistas foram: O que você entende por
viver saudável? e Quais são os fatores que Os dados analisados de forma sistemática e
determinam o viver saudável dos usuários sob comparativa resultaram em quatro categorias,
a sua área de abrangência? quais sejam: Vulnerabilidade socioeconômica,
Os dados do segundo grupo serviram para cultural e ambiental; Necessidades humanas
aprofundar a estrutura do modelo teórico, básicas insatisfatórias; Interveniências
reforçando as categorias criadas com a análise facilitadoras e dificultadoras do viver
dos dados do primeiro grupo, bem como dos saudável; e Estratégias interativas e
dados secundários, e possibilitaram associativas que potencializam o viver
informações suplementares que sinalizaram saudável.
para as especificidades das influências dos Para os entrevistados, o viver saudável
determinantes sociais de saúde no processo de representa um processo em construção, que
viver saudável. torna possível a emancipação dos sujeitos de
Optou-se, na sequência, pela formação de uma comunidade vulnerável. Percebem a
um terceiro grupo de participantes, composto necessidade de uma consciência individual e
por 2 lideranças comunitárias, as quais foram comunitária, capaz de possibilitar a percepção
selecionadas pelo reconhecido engajamento de viver saudável como singular, interativo,
comunitário local. Elas foram entrevistadas a associativo, circular, complexo, político e
partir dos seguintes questionamentos: O que social, conjugado pelo envolvimento ativo e
significa viver saudável para você? e Quais são participativo dos usuários. Trouxeram à
os fatores que influenciam o viver saudável na discussão a necessidade do envolvimento
sua comunidade? Todas as entrevistas foram efetivo dos usuários na dinâmica do viver
gravadas e transcritas pelos pesquisadores. saudável, no sentido de possibilitar a
A coleta e a análise de dados foi realizada emancipação social a partir do protagonismo
de forma sistemática e comparativa. A cada dos próprios sujeitos como autores da sua
entrevista, os dados foram transcritos e houve própria história.
revisão minuciosa do texto. Na sequência,  Vulnerabilidade socioeconômica,
deu-se início à identificação das unidades cultural e ambiental
conceituais. Os dados foram codificados linha
Percebe-se a vulnerabilidade
por linha, comparados entre si e designados
socioeconômica por meio das condições de
em categorias. Na etapa seguinte, os
emprego e trabalho na comunidade, onde a
pesquisadores escolheram uma categoria da
maioria não possui emprego fixo ou carteira
codificação aberta – primeira etapa da
de trabalho assinada, tendo seus direitos
codificação – e colocaram-na como tema
trabalhistas não atendidos devido à
central, comparando-a com as demais
informalidade do emprego ou ao trabalho
categorias. Na fase seguinte, também
autônomo. Pode-se perceber pelas falas um
chamada codificação axial, os dados foram
sentimento de exclusão social entre o centro e
agrupados em novas formas, buscando
a periferia, onde a condição socioeconômica
expandir e compactar a categoria central com
afeta diretamente o viver saudável desses
base nas conexões teóricas.15 Para manter o
indivíduos.
anonimato dos sujeitos, os usuários serão
Em relação à vulnerabilidade cultural e
identificados com a letra “U”, os profissionais
ambiental, os entrevistados mencionam a
da saúde com “P” e as lideranças comunitárias
falta de lazer e incentivo à cultura
com “L”, sendo numerados conforme a ordem
comunitária, considerando que há espaços
das entrevistas realizadas.
disponíveis para isso, porém, não explorados
Todos os participantes, após ter sido
pelos gestores locais. Percebe-se que a
informados sobre o método e os objetivos da
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cultura se reduz a ações pontuais e não como Os grupos de convivência e socialização

um processo que envolve os diferentes modos realizados na comunidade, por exemplo, o
de ser dos indivíduos, famílias e comunidades. grupo de mulheres, com discussão de
O ambiente ainda é percebido pelas pessoas temáticas do cotidiano, fortalecem as
de modo linear, como o quintal de suas casas, interações e associações familiares e
mas não como o todo que os cerca, e isso gera comunitárias, contribuindo para o não
influências sobre eles e a comunidade que isolamento social: “Antes eu estava sempre
estão inseridos. com depressão. Depois que comecei participar
 Necessidades humanas básicas do grupo, passei a conversar mais, aí eu
insatisfatórias melhorei muito... vi que era ruim ficar
trancada em casa. Hoje sou outra pessoa.
A fragilidade do viver saudável, de acordo
Tenho mais ânimo para viver e trabalhar”
com os entrevistados, está associada às
(U1).
necessidades humanas básicas insatisfatórias.
As interveniências negativas do viver
Tal percepção está associada às condições de
trabalho, segurança, alimentação, moradia, saudável estão associadas à fragilidade das
interações familiares e comunitárias,
relações interpessoais, expectativa de vida,
oportunidade de estudo, condições refletidas pela pouca participação popular,
acomodação, alienação, depressão, altos
financeiras, acesso aos serviços de saúde,
índices de gravidez na adolescência, tráfico
dentre outros: “Olha, eu acho que viver
saudável pra nós aqui é o nosso saneamento de drogas e prostituição. Ainda, nesse
aspecto, os entrevistados mencionam o
básico” (U10).
discurso pronto dos profissionais da saúde, em
Em relação à acessibilidade da saúde, os
alguns casos, reprodutor de um modelo
usuários estão focados na necessidade de
tradicional hegemônico, como dificultador do
atendimento médico e distribuição de
viver saudável, por meio de conversas sem
medicamentos na unidade básica de saúde,
sentido para os usuários. A influência da
para ter qualidade e resolutividade. Nessa
política partidária é um fator que fragiliza as
relação, o viver saudável está associado a uma
relações comunitárias, bem como inviabiliza a
concepção biomédica e assistencialista do
conquista de novos espaços significativos para
cuidar em saúde, como denota a seguinte
a partilha de experiências e problematização
fala: “Entendo que viver saudável é ter um
com foco, também, em articulações
acompanhamento médico e não precisar ir de
sociopolíticas.
um lugar para o outro para resolver os
problemas de saúde” (U7).  Estratégias interativas e associativas
Os profissionais da saúde e as lideranças que potencializam o viver saudável
comunitárias já têm, em sua grande maioria, Como estratégias que potencializam o viver
um olhar ampliado. Refletem a necessidade saudável, os entrevistados mencionam a
de percepções contextualizadas na realidade mobilidade acadêmica como estímulo da
e no conceito ampliado de saúde, bem como a autonomia do usuário, fortalecimento da
compreensão da singularidade com que cada percepção do todo e necessidade
indivíduo e família se expressa. “Não adianta solidariedade comunitária. Um dos lideres da
a gente vir aqui dar remédio, orientar a comunidade em questão ainda faz referência
pessoa na sua casa. É preciso contextualizar à participação e ao engajamento comunitário,
essa realidade e perceber que o viver para o fortalecimento das políticas publicas e
saudável vai muito além” (P7). controle social, reforçando a necessidade de
envolvimento dos usuários nas questões
 Interveniências facilitadoras e
políticas e de lutas sociais, por meio do
dificultadoras do viver saudável
controle social.
Percebeu-se que existem fatores que
O ACS tem papel fundamental nas
influenciam positivamente e negativamente o
estratégias interativas e associativas, devido
viver saudável dos usuários e famílias da
ao seu conhecimento das lutas das
comunidade em questão. Aparecem como
necessidades da comunidade estudada e por
interveniências facilitadoras do processo de
ser morador desse local. Porém, os resultados
viver saudável a interação e intermediação
evidenciaram a necessidade de maior
dos acadêmicos dos cursos da saúde, os quais
preparação e qualificação profissional dos
possibilitam novas indagações e percepções
ACS, para que possam transcender a realidade
sobre o processo saúde-doença. A atuação do
vulnerável e ter efetividade no seu papel
agente comunitário de saúde (ACS) aparece
articulador e mediador entre os serviços de
como referência para as famílias,
saúde e a comunidade, por meio da
proporcionando mediação entre a equipe ESF
emancipação do usuário. Revela-se, ainda, a
e a comunidade.
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necessidade de uma formação acadêmica e de O processo de análise dos dados culminou

uma educação continuada voltada para a ESF, com a elaboração de um modelo de referência
onde o profissional desde a graduação sinta-se teórica, o qual demonstra a interatividade e
integrante das realidades da comunidade e circularidade dos fatores que determinam o
possa agir com ações sistêmicas para processo de viver saudável em uma
potencializar o processo de viver saudável dos comunidade vulnerável, como ilustra a Figura
usuários. 1.

Figura 1. Modelo de referência teórica sobre o viver saudável em uma comunidade vulnerável.

DISCUSSÃO vida e trabalho até os macrodeterminantes,

que englobam condições socioeconômicas,
O viver saudável emerge como um processo culturais e ambientais gerais.18 Os DSS estão
singular, complexo, dinâmico e circular, que relacionados com o viver saudável, porém, o
interage com as dimensões individuais, viver saudável vem a denotar um caráter de
familiares e comunitárias, associado a fatores maior de subjetividade, onde se permite uma
internos e externos, tais como: o bem-estar, o dialógica com os DSS e cada um possui um
acesso aos serviços públicos de saúde, o lazer, valor dependendo do indivíduo.
a educação, a política partidária, o As vulnerabilidades ocasionadas pelos
saneamento básico, entre outros. Logo, o macrodeterminantes sociais de saúde são
viver saudável é singular para cada usuário e é evidentes, sendo que a posição que as famílias
influenciado pelos DSS diretamente e e comunidades ocupam dentro das hierarquias
indiretamente, dependendo da significância de poder, trabalho, emprego, acesso aos
do DSS para o indivíduo. É um processo serviços de saúde e níveis de renda irá
complexo, porque envolve tanto configurar as diferentes oportunidades de
determinantes relacionais e interativos quanto viver saudável dos indivíduos.1,19 Esse avanço
determinantes associativos. Enquanto que, de percepção é marcado no estudo das
para alguns, viver saudável significa estar em iniquidades de saúde, ou seja, daquelas
perfeito estado de saúde, para outros significa desigualdades de saúde entre comunidades
estar sem doença, e para outros, ainda, que são sistemáticas e relevantes, sendo,
significa manter o equilíbrio harmônico entre ainda, evitáveis, injustas e desnecessárias,
as contradições da vida.10,17 envolvendo pobreza e saúde, estratificação
Em consonância com a ideia de viver socioeconômica e mecanismos de produção de
saudável exposta acima, o modelo conceitual iniquidades, afetando o processo de viver
de Dahlgren e Whitehead apresenta os DSS em saudável dos indivíduos; essas desigualdades
suas várias dimensões, desde a concepção devem ser reduzidas.20-22
individual, perpassando pelo estilo de vida, A análise das relações entre o viver
redes sociais e comunitárias, condições de saudável dos indivíduos, das desigualdades nas
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condições de vida e o grau de Assim, o conhecimento dos DSS que

desenvolvimento dos vínculos e associações influenciam o viver saudável de uma
nas comunidades revela-se necessária. O comunidade vulnerável abrem acesso para a
empobrecimento e enfraquecimento da escolha de intervenções políticas e sociais
capital social geram laços frágeis de coesão necessárias para a redução das iniquidades em
comunitária, ocasionados pelas iniquidades saúde.1,24
sociais devido ao pouco investimento no
CONCLUSÃO
capital humano e em redes de apoio social,
fundamentais para o viver saudável.6,22,23 Os determinantes sociais que influenciam o
Precisa-se de maior igualdade e alta coesão processo de viver saudável em uma
social para que se possa possuir um capital comunidade vulnerável estão relacionados às
social fortalecido e engajado nas ações vulnerabilidades socioeconômicas, culturais e
comunitárias e globais. ambientais, necessidades humanas básicas
O empobrecimento do capital social remete insatisfatórias, interveniências facilitadoras e
a uma visão reducionista do viver saudável, dificultadoras, as quais requerem estratégias
sendo este associado à satisfação das interativas e associativas que potencializem o
necessidades humanas básicas. Quando não se viver saudável.
possui o básico necessário para uma vida Os resultados do estudo evidenciam, em
digna, ter um olhar ampliado em relação ao síntese, uma concepção reducionista e linear
conceito de viver saudável e dos próprios DSS por parte de alguns profissionais em relação
revela-se uma dificuldade emergente, pois o ao processo de viver saudável. Enquanto os
indivíduo precisa de uma compreensão de si, usuários dos serviços de saúde fazem
da comunidade e do todo que o cerca para referência às suas necessidades básicas, como
que possa ultrapassar as barreiras de sua alimentação, moradia, emprego, acesso aos
realidade.24,25 serviços de saúde, entre outros, os
O acesso aos serviços de saúde, portanto, é profissionais e lideranças sinalizam, mesmo de
componente do dos DSS e aparece como forma insipiente, o viver saudável como um
necessidade humana básica dos indivíduos. O processo relacional e associativo, que envolve
sistema de saúde é um poderoso determinante um movimento circular entre individuo,
intermediário na cadeia da produção social família e comunidade.
em saúde, especialmente pelo acesso O viver saudável como processo
universal, que permite tratar diretamente as emancipatório individual e comunitário requer
diferenças de exposição e vulnerabilidades, estratégias interativas e associativas capazes
evitando que os indivíduos, especialmente em de fortalecer a solidariedade comunitária e
situação de vulnerabilidade, sejam forçados à potencializar o capital social. Assim, a saúde
pobreza pelos altos custos dos cuidados em será o reflexo de atitudes proativas que
saúde.1,26 consideram os macrodeterminantes sociais e
Dentro do contexto dos serviços de saúde, estimulam o individuo como ator social e
o ACS é considerado o profissional mais protagonista da sua própria história.
próximo das famílias e comunidade, onde
deve executar encaminhamentos até a ESF, FINANCIAMENTO
efetua a prevenção e a promoção da saúde,
Estudo realizado com apoio do Conselho
orienta tratamentos e reabilitações dos
Nacional de Desenvolvimento Científico e
usuários, realiza mobilizações na comunidade
Tecnológico (CNPq).
em busca de ambientes e condições favoráveis
à vida.13 No entanto, percebe-se que suas REFERÊNCIAS
ações práticas, muitas vezes, são baseadas em
ações pontuais, como a entrega de 1. Geib LTC. Determinantes sociais da saúde
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tornar o ACS um profissional proativo, capaz Available from:
de perceber o contexto das problemáticas em http://www.scielo.br/pdf/csc/v17n1/a15v17n
que está inserido. 1.
O enfermeiro, como os demais profissionais 2. Tarlov A. Social determinants of health: the
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requerem uma atuação profissional proativa e social organization. London: Routledge; 1996.
participativa para a emancipação dos p. 71-93.
usuários.13,28

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Publicado: 01/06/2016
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