Arco Elétrico E Energia Incidente em Sistemas Elétricos Industriais
Arco Elétrico E Energia Incidente em Sistemas Elétricos Industriais
Arco Elétrico E Energia Incidente em Sistemas Elétricos Industriais
ITAJUBÁ
2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA
Itajubá – MG
Outubro de 2022
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
Ao professor José Maria de Carvalho Filho, orientador deste trabalho, pela confiança e
estímulo em buscar o conhecimento que está aqui retratado.
Aos professores Luís Henrique Lopes Lima (UFJF), Paulo Márcio da Silveira
(UNIFEI), Frederico Oliveira Passos (UNIFEI) e Thiago Clé Oliveira (UNIFEI), pela presteza
em dedicar seu tempo para avaliar o trabalho e compartilhar seu conhecimento para melhoria
desta dissertação.
Palavras-chave: arco elétrico; energia incidente; decremento CA; IEEE Std 1584-2018.
ABSTRACT
Although the massive use of electricity in industry began at the end of the 19th century, the first
electric arc thermal effects estimating method was only proposed in the 1980s. In the following
decades, several works contributed to increase the knowledge about the phenomenon and to
improve the methods to quantify it. The IEEE Std 1584 first edition was published in 2002,
being the first incident energy calculation dedicated technical standard. This standard, which
has become the industry most popular method, had its second edition published at the end of
2018, with significant changes. A new mathematical model was proposed, including parameters
that were not measured before, in addition to long equations, which manual calculation may be
considered impractical. In this context, this work presents an IEEE Std 1584-2018 method
incident energy calculation script development and its application in two case studies. The first
case study illustrates the parameter evaluation to carry out a low voltage controlgear incident
energy study, ending with a comparison between the 2018 Edition results with those of the 2002
Edition. The second case study proposes a roadmap for carrying out an incident energy dynamic
study that considers multiple sources and the rotating machines short-circuit contribution ac
decrement, concluding with a comparison between the results considering the ac decrement
with the results in which it is neglected, and a discussion of the situations in which the effort to
carry out a dynamic study can be justified.
Figura 1.1 – Representação da delimitação do estudo dentro do tema “arco elétrico”. ........... 20
Figura 2.1 – Linha do tempo com marcos da evolução dos estudos sobre o arco elétrico. ...... 31
Figura 3.1 – Etapas do processo de gestão do risco de arco elétrico – Adaptado de [21]. ....... 32
Figura 3.2 – Exemplos de conjunto de manobra e comando tipo CDC e CCM. ...................... 33
Figura 3.3 – Exemplo de esquema de seletividade cronométrica............................................. 45
Figura 3.4 – Exemplo de esquema de seletividade lógica. ....................................................... 46
Figura 3.5 – Exemplo de esquema com perda temporária de seletividade............................... 47
Figura 3.6 – Exemplo de esquema com relé diferencial de barras. .......................................... 48
Figura 3.7 – Exemplo de esquema com relé de arco. ............................................................... 49
Figura 3.8 – Etapas da operação de um AQD. ......................................................................... 50
Figura 3.9 – Comparativo entre métodos de redução de duração de arco (gráfico). ................ 53
Figura 4.1 – Etapas de um estudo de energia incidente............................................................ 54
Figura 4.2 – Representação conceitual método IEEE Std 1584-2018. ..................................... 55
Figura 4.3 – Fluxograma do método IEEE Std 1584-2018. ..................................................... 56
Figura 4.4 – Configurações de eletrodo.................................................................................... 59
Figura 4.5 – Influência da disposição de eletrodo e do invólucro. ........................................... 61
Figura 5.1 – Script: Diagrama de blocos. ................................................................................. 74
Figura 5.2 – Script: Função checkdata com dados inválidos. .................................................. 76
Figura 5.3 – Script: Função checkdata com dados válidos. ..................................................... 76
Figura 5.4 – Modo de utilização: Planilha de entrada de dados. .............................................. 78
Figura 5.5 – Modo de utilização: Planilha com as correntes de arco. ...................................... 79
Figura 5.6 – Modo de utilização: Planilha com as durações de arco........................................ 79
Figura 5.7 – Modo de utilização: Planilha com resultados....................................................... 80
Figura 5.8 – Validação 1: Dados de entrada (Anexo D da IEEE Std 1584-2018). .................. 80
Figura 5.9 – Validação 1: Resultados com Iarcmax (script). ....................................................... 80
Figura 5.10 – Validação 1: Resultados com Iarcmin (script). ...................................................... 81
Figura 5.11 – ArcAdvisor: Página inicial. ................................................................................ 82
Figura 5.12 – Validação 2: Dados de entrada (ArcAdvisor). ................................................... 82
Figura 5.13 – Validação 2: Resultados com Iarcmax (script). ..................................................... 83
Figura 5.14 – Validação 2: Resultados com Iarcmin (script). ...................................................... 84
Figura 5.15 – Validação 3: Resultados do exemplo numérico publicado por Das [43]. .......... 85
Figura 5.16 – Validação 3: Resultados pelo script. .................................................................. 85
Figura 6.1 – Influência da configuração de eletrodo na energia incidente. .............................. 88
Figura 6.2 – Influência da duração de arco na energia incidente. ............................................ 89
Figura 6.3 – Influência da distância de trabalho na energia incidente. .................................... 90
Figura 6.4 – Influência do tamanho do invólucro (abertura) na energia incidente. ................. 91
Figura 6.5 – Influência do espaçamento entre eletrodos na energia incidente. ........................ 91
Figura 6.6 – Influência da tensão (0,208 ≤ Voc ≤ 0,6 kV) na variação de corrente de arco. ..... 92
Figura 6.7 – Influência da tensão (0,6 < Voc ≤ 15 kV) na variação de corrente de arco. .......... 92
Figura 7.1 – PN-02: Conjunto de manobra e comando do estudo de caso. .............................. 94
Figura 7.2 – PN-02: Diagrama unifilar simplificado. ............................................................... 95
Figura 7.3 – PN-02: Determinação dos compartimentos a serem avaliados. ........................... 96
Figura 7.4 – PN-02: Determinação das configurações de eletrodo. ......................................... 97
Figura 7.5 – PN-02: Determinação do espaçamento entre eletrodos. ...................................... 98
Figura 7.6 – PN-02: Determinação das dimensões do invólucro. ............................................ 99
Figura 7.7 – PN-02: Determinação dos modos de operação. ................................................. 100
Figura 7.8 – PN-02: Diagrama unifilar com o esquema de proteção. .................................... 101
Figura 7.9 – PN-02: Determinação da distância de trabalho. ................................................. 105
Figura 7.10 – Fluxograma de execução do script para o Estudo de Caso 1. .......................... 105
Figura 7.11 – PN-02: Dados de entrada. ................................................................................ 106
Figura 7.12 – PN-02: Correntes de arco. ................................................................................ 106
Figura 7.13 – PN-02: Durações de arco. ................................................................................ 107
Figura 7.14 – PN-02: Resultado final – Pior caso. ................................................................. 107
Figura 8.1 – Contribuições simétricas típicas de vários tipos de fontes – Adaptado de [30]. 111
Figura 8.2 – Perfis das contribuições de curto-circuito totais – Adaptado de [43]. ............... 113
Figura 8.3 – Tela de opções do módulo Arc Flash do PTW. ................................................. 114
Figura 8.4 – Exemplo proposto por Das [43]. ........................................................................ 115
Figura 8.5 – Análise da segmentação de uma corrente constante. ......................................... 116
Figura 8.6 – Relação Iarc/Ibf para diferentes valores de Ibf [1]. ............................................... 117
Figura 8.7 – Iarc em função de Ibf, para tensões de 13.800, 4.160 e 480 V. ............................ 117
Figura 8.8 – Corrente com decaimento e Corrente média equivalente. ................................. 118
Figura 8.9 – Comparação entre a resolução pela corrente total e por superposição............... 119
Figura 9.1 – Opções de escolha do passo de simulação. ........................................................ 123
Figura 9.2 – Curvas de decremento dos geradores – Gerada a partir dos parâmetros............ 126
Figura 9.3 – Valores típicos de X/R de motores de indução trifásicos a 60 Hz [45]. ............ 127
Figura 9.4 – Decremento CA típico de motores de indução trifásicos (Ip/Inom = 6). .............. 128
Figura 9.5 – Fluxograma de execução do script para o Estudo de Caso 2. ............................ 129
Figura 9.6 – PN-01A: Diagrama unifilar geral. ...................................................................... 130
Figura 9.7 – PN-01A: Ibf total (sem atuação da proteção). ..................................................... 131
Figura 9.8 – PN-01A: Iarc total (máxima e mínima). .............................................................. 131
Figura 9.9 – PN-01A: Decomposição de Iarc total (máxima e mínima).................................. 132
Figura 9.10 – PN-01A: Verificação gráfica do tempo de operação da proteção do Gerador. 133
Figura 9.11 – PN-01A: Ibf total (considerando atuação da proteção). .................................... 134
Figura 9.12 – PN-01A: Resultado de energia incidente (E). .................................................. 135
Figura 9.13 – Algoritmo sugerido para cálculo de AFB. ........................................................ 136
Figura 9.14 – PN-01A: Aplicação do método proposto por Das............................................ 137
Figura 9.15 – Diferença na contribuição de curto-circuito com e sem decremento CA. ....... 140
LISTA DE QUADROS
1 INTRODUÇÃO _______________________________________________________ 19
1.1 Motivações e propósitos ......................................................................................................... 19
1.2 Delimitação do trabalho .......................................................................................................... 20
1.3 Estrutura da dissertação .......................................................................................................... 21
No final de 2018, foi publicada a segunda edição da norma norte-americana IEEE Std
1584 – IEEE Guide for Performing Arc-Flash Hazard Calculations1 [1], em substituição à
edição de 2002 [2]. Esta nova edição introduziu um modelo matemático completamente novo
para o cálculo de energia incidente. Presumivelmente mais acurado que o seu predecessor, este
novo modelo, no entanto, tornou a execução de um estudo de energia incidente muito mais
trabalhosa, em comparação com a primeira edição da norma, requerendo o levantamento de
dados que antes não eram considerados, e demandando a solução de extensas equações,
tornando necessário o uso de alguma ferramenta computacional especializada.
Além disso, o modelo matemático da IEEE Std 1584-2018 considera que a corrente de
arco permanece constante ao longo de toda a duração de arco, premissa que não é sempre
verdadeira. Alguns tipos de fontes fornecem uma corrente de curto-circuito simétrica eficaz que
é máxima imediatamente após o início do evento, decaindo com o decorrer do tempo. Esta
característica é conhecida como “decremento CA”2, e influencia o valor da energia incidente,
uma vez que a corrente de arco é dependente da corrente de falta franca. A norma alerta que
este fenômeno deve ser levado em consideração em um estudo de energia incidente, contudo,
não apresenta exemplos nem diretrizes de como se realizar esta simulação dinâmica. Também
são poucos os exemplos na literatura, e os softwares comerciais, via de regra, não calculam a
energia incidente considerando o decremento CA.
Motivado por este contexto, este trabalho se propôs a desenvolver:
1
“Guia IEEE para realizar cálculos do perigo arco elétrico” (tradução livre).
2
CA: Corrente Alternada.
19
Capítulo 1: INTRODUÇÃO 20
O tema “Arco Elétrico” é abrangente, ele pode se referir às “aplicações” deste fenômeno
na indústria, aos seus “efeitos indesejados” em equipamentos e aos seus “perigos” à segurança
ocupacional, recapitulados no item 2.2.
Como perigo, o arco elétrico pode ter seus efeitos nocivos classificados em dois grupos:
“Arc Flash”, que se refere à luz e ao calor, e “Arc Blast”, que diz respeito às ondas de pressão
e ao ruído, conforme discutido no item 2.3.
Para quantificar os efeitos térmicos do arco elétrico em pessoas (Arc Flash), existem
diversos métodos propostos na literatura. A maioria destes métodos foi desenvolvida para
sistemas “CA” (corrente alternada), e poucos são aplicáveis a sistemas “CC”3 (corrente
contínua). Um breve histórico dos métodos é descrito no item 2.5, e a relação dos métodos
reconhecidos pela NFPA 70E-2021 [3] (“Ralph Lee”, “Doughty”, “IEEE Std 1584” e “Doan”)
com suas respectivas faixas de aplicação é apresentada no tem 3.3.3.
Diante de um assunto tão amplo, faz-se necessário declarar os limites deste trabalho,
cujo escopo inclui a revisão da literatura necessária para a contextualização e compreensão do
tema, permitindo o adequado desenvolvimento do script de cálculo e dos estudos de caso
mencionados no item 1.1. A Figura 1.1 ilustra este escopo, como desdobramento do tema Arco
Elétrico.
Ralph Lee
Aplicações
IEEE Std 1584 Estudo de caso
(2018) “convencional”
Efeitos
Arco Elétrico Arc Flash
indesejados
Estudo de caso
“dinâmico”
Perigos
CC Doan
Arc Blast
3
CC: Corrente Contínua.
Capítulo 1: INTRODUÇÃO 21
4
A tabelas são apresentadas apenas para compreensão dos conceitos discutidos, com objetivo exclusivamente
acadêmico. Para a aplicação das recomendações de segurança, a norma deve ser diretamente consultada.
2 O ARCO ELÉTRICO COMO PERIGO
Este capítulo inicial tem como objetivo contextualizar o tema central desta dissertação,
o arco elétrico, e apresentar a evolução histórica dos métodos desenvolvidos para quantificar
os seus efeitos nocivos ao ser humano, desde os primeiros trabalhos independentes, disponíveis
sob a forma de artigos na base de dados do IEEE5, até o método IEEE Std 1584-2018, que é o
método mais atual e o utilizado como objeto de estudo deste trabalho. Ao final, é apresentada
uma visão geral sobre a normatização internacional e nacional a respeito do arco elétrico, que
expõe diferentes abordagens sobre o tema e serve de preâmbulo para o capítulo seguinte.
A descoberta do arco elétrico, no início do Século XIX [4], abriu as portas para uma
série de desenvolvimentos científicos e aplicações técnicas. Uma das suas primeiras aplicações
foi o uso em iluminação. Outros exemplos de aplicações importantes são a fundição e a
soldagem a arco. São definidas como aplicações do arco elétrico as situações em que o seu
emprego é intencional e controlado.
Por outro lado, o arco elétrico também ocorre em situações em que ele não é desejado.
Talvez o exemplo mais comum de efeito indesejado do arco elétrico seja a ocorrência durante
a abertura de circuitos indutivos, causando o desgaste de contatos de seccionadores, contatores
e disjuntores. Neste caso, apesar de indesejada, a ocorrência do arco elétrico é esperada em
condições normais, como característica intrínseca da operação desses equipamentos.
Há ainda as situações em que o arco elétrico, além de indesejado, é provocado pela falha
do sistema de isolação entre dois pontos energizados, podendo esta falha ser causada por
motivos diversos. Diferentemente do curto-circuito, cujos danos ficam geralmente restritos aos
elementos integrantes do próprio circuito, o arco elétrico pode afetar o seu entorno, liberando
energia descontroladamente, podendo atingir intensidade suficiente para destruir equipamentos
e causar lesões pessoais severas ou até mesmo fatais, sendo considerado um dos perigos da
eletricidade. É neste contexto que o arco elétrico é tratado neste trabalho.
5
IEEE: Institute of Electrical and Electronics Engineers (entidade norte-americana)
22
Capítulo 2: O ARCO ELÉTRICO COMO PERIGO 23
Um arco elétrico é iniciado quando há uma ruptura da rigidez dielétrica do meio isolante
entre dois pontos. As causas iniciadoras podem ser agrupadas da seguinte forma:
6
Não há um termo específico para o arco elétrico como perigo em português. “Arco elétrico” é a tradução direta
de “electric arc”, que em inglês faz referência ao fenômeno de maneira geral. As expressões “arc flash” (referente
a luz e calor) e “arc blast” (referente a ondas de pressão e ruído) não possuem equivalentes em português.
Capítulo 2: O ARCO ELÉTRICO COMO PERIGO 24
• Quando ocorre o aumento da tensão, de modo que a razão da tensão pela distância
exceda a rigidez dielétrica do meio isolante.
o Por surtos atmosféricos;
o Por surtos de manobra.
• Quando ocorre a diminuição da distância, de modo que a razão da tensão pela
distância exceda a rigidez dielétrica do meio isolante.
o Pela aproximação de polos desalinhados durante inserção/extração de gavetas;
o Pela perda de sustentação de partes energizadas do circuito;
o Pela presença de corpo estranho (e.g. ferramentas ou peças esquecidas, animais).
O uso massivo da eletricidade na indústria teve início no final do Século XIX, em meio
à 2ª Revolução Industrial, após um episódio conhecido como a “Guerra das Correntes”, como
foi chamada a disputa técnico-comercial entre Thomas Edison e George Westinghouse [8] [9].
Nas décadas que se seguiram, a expansão dos sistemas elétricos veio acompanhada dos
acidentes. Enquanto o choque elétrico já era um fenômeno bem estudado na metade do Século
XX, o arco elétrico como fonte de perigo ainda era tido como algo “misterioso” [10].
Em 1960, um trabalho importante para a caracterização do fenômeno em termos de
sistemas elétricos foi publicado por Kaufmann [11] que, entre outras coisas, observou que o
arco elétrico impõe uma queda de tensão significativa ao sistema, implicando numa corrente de
arco menor que a corrente de falta franca, podendo, inclusive, ser menor que a corrente de plena
carga do sistema. Esta descoberta tornou mais dramático o dilema “proteção vs. continuidade
de serviço” para o Engenheiro de Proteção, e chamou a atenção para a importância que deve
ser dada para a determinação da corrente de curto-circuito mínima, ao contrário da cultura que
até então se preocupava apenas com a corrente de curto-circuito máxima. Outras características
observadas por Kaufmann foram:
Em 1967, Shields [12] publicou um artigo analisando alguns dos vários “inexplicáveis”
casos de destruição de equipamentos provocados por arco elétrico, ocorridos em sistemas de
baixa tensão. O autor ainda enfatizou a seriedade do problema, pontuando que eventos de arco
elétrico são mais graves que curtos-circuitos normais, pois podem se expandir “como um
câncer” para outras áreas adjacentes, fora da zona de proteção do dispositivo responsável por
monitorar o ponto da falta, podendo, inclusive, causar a destruição do próprio sistema de
proteção. Destaca-se no trabalho a crítica ao baixo reconhecimento por parte da indústria
(projetistas e usuários) sobre a necessidade de ações para minimizar a probabilidade de
ocorrência dessas faltas destrutivas.
Até então, os trabalhos sobre arco elétrico se baseavam nos aspectos puramente elétricos
do fenômeno, buscando uma modelagem em termos de análise de circuitos.
Em 1996, um importante trabalho publicado por Neal, Bingham e Doughty [14] apontou
a necessidade de reavaliar as fórmulas propostas por Ralph Lee, pois seu método era baseado
na teoria da máxima transferência de potência e considerava que toda a energia elétrica seria
convertida em energia incidente, o que levava a resultados conservadoramente altos de energia.
Entre as possíveis causas, foi citado que:
• A modelagem de Lee era baseada na teoria senoidal, enquanto o arco elétrico possui
grande conteúdo harmônico;
• Ensaios mostravam que a queda de tensão do arco “podia não ser igual” à queda de
tensão do sistema durante um evento; e,
Capítulo 2: O ARCO ELÉTRICO COMO PERIGO 26
Em 2002, foi publicada a primeira edição da norma IEEE Std 1584, que apresenta um
método empírico de cálculo de energia incidente baseado em ensaios de laboratório, sendo uma
evolução do trabalho de Doughty, Neal e Floyd II [16].
Por ser um método com faixa mais ampla de aplicações, por levar em conta a influência
de várias características dos sistemas (e.g. tipo de equipamento, tipo de aterramento), e por
apresentar resultados considerados pela comunidade técnica como mais coerentes com a
realidade do que o método teórico, esta norma tornou-se o método mais aplicado pela indústria,
em sistemas de corrente alternada de baixa e média tensão.
Esta edição da norma estabelecia um “ponto de corte” (posteriormente alterado) no
estudo de arco elétrico, dispensando de avaliação os equipamentos abaixo de 240 V alimentados
por transformador com potência menor que 125 kVA.
Capítulo 2: O ARCO ELÉTRICO COMO PERIGO 27
No final de 2018, foi publicada a segunda edição da IEEE Std 1584, introduzindo várias
mudanças. Baseada em 1.860 ensaios (a edição de 2002 era baseada em apenas 300 ensaios),
esta nova edição começou a levar em conta a variação da disposição e do espaçamento entre os
eletrodos, das dimensões do invólucro e estabeleceu um fator de variação de corrente,
dependente da tensão nominal do sistema, para estimar a corrente de arco mínima (na edição
de 2002, a corrente mínima era fixada em 85% da máxima).
Este aperfeiçoamento do método, no entanto, veio acompanhado de uma maior
necessidade de cálculos, cuja solução “manual” do modelo torna-se praticamente inviável,
sendo recomendada a utilização de planilhas eletrônicas ou outra ferramenta computacional
mais específica.
A edição de 2018 também alterou ponto de corte do estudo, retirando a dispensa de
avaliação dos equipamentos abaixo de 240 V alimentados por transformador com potência
menor que 125 kVA. A nova redação passou a ser mais conservadora, declarando que “arcos
sustentáveis são possíveis, mas menos prováveis, em sistemas trifásicos operando em 240 V
nominais ou menos com uma corrente de curto-circuito presumida menor que 2.000 A”.
Assim como ocorre em outras áreas da normatização aplicável aos sistemas elétricos, o
mundo se divide em dois grandes grupos técnicos: o grupo norte-americano com as normas
ANSI7 e o grupo europeu ou internacional com as normas IEC8.
No que diz respeito ao arco elétrico, esta divisão se reflete em diferentes abordagens.
Enquanto nos EUA existe um esforço no sentido do desenvolvimento de estudos para estimar
a energia incidente, visando proteger os indivíduos na ocorrência de um arco, na Europa é dada
maior importância aos métodos coletivos e preventivos, visando evitar a ocorrência de arco
elétrico [17].
Nos EUA, a OSHA9 é o órgão de Estado que atua na área de segurança do trabalho e
cuja regulamentação tem força de lei. Por sua vez, o sistema de normatização norte-americano
7
ANSI: American National Standards Institute (entidade norte-americana).
8
IEC: International Electrotechnical Commission (entidade internacional).
9
OSHA: Occupational Safety and Health Administration (entidade norte-americana).
Capítulo 2: O ARCO ELÉTRICO COMO PERIGO 28
é coordenado pela ANSI, entidade privada e sem fins lucrativos que não elabora normas, mas
credencia organizações que as desenvolvem, cujos padrões passam a ter o status de norma
americana com a sua chancela. Entre as organizações mais importantes na elaboração de
normas relacionadas ao arco elétrico, pode-se citar:
10
NFPA: National Fire Protection Association (entidade norte-americana).
11
ASTM: American Society for Testing and Materials (entidade internacional).
Capítulo 2: O ARCO ELÉTRICO COMO PERIGO 29
a gestão do risco de arco elétrico, ficando sempre subentendido que o tema está incluído quando
a norma cita genericamente os “riscos elétricos”, ou quando determina que a especificação das
vestimentas de trabalhos deve contemplar a “inflamabilidade”. Consta nos parágrafos iniciais
da NR-10 que, “no caso da ausência ou omissão das normas técnicas estabelecidas pelos órgãos
competentes”, é prevista a aplicação das “normas internacionais cabíveis”. O Brasil, sendo
signatário do Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio da OMC12, tem o compromisso de
seguir padrões internacionais, entretanto, diante da lacuna existente na normatização IEC no
que diz respeito à avaliação da energia incidente, é legítima a adoção dos padrões ANSI/IEEE.
Em 18 de março de 2020, foi publicada a NBR 16384 [20], primeira norma brasileira
sobre segurança em eletricidade a prescrever recomendações específicas a respeito da proteção
contra arco elétrico. Entre as recomendações, cita-se:
• As vestimentas de proteção contra arco elétrico devem ser especificadas por meio
de um método internacionalmente reconhecido (item 4.6 da NBR 16384);
• O estudo de energia incidente e a especificação das medidas de proteção contra arco
elétrico devem ser mantidos atualizados e fazer parte do prontuário da instalação
elétrica (item 4.7.4, alíneas “c” e “e” da NBR 16384);
Além dos itens normativos, a NBR 16384 apresenta anexos de caráter informativo ou
orientativo. A seguir, destaca-se alguns pontos relativos à proteção contra arco elétrico.
• Anexo A13: Define a “zona de risco de arco elétrico” como a região com energia
incidente acima de 1,2 cal/cm2 (item A.5 da NBR 16384);
• Anexo B14: Apresenta recomendações para gestão do risco em serviços realizados
em conjunto de manobra e comando (item B.6.7.1 da NBR 16384). Entre elas:
o Não realizar intervenção em painel com energia incidente calculada superior a
40 cal/cm2. Para estas situações, deve-se trabalhar o painel desenergizado ou
realizar análise e implementar a redução de energia incidente;
o Intervenções com energia incidente calculada superior a 8 cal/cm2 devem ser
realizadas em dupla;
o Alterações em sistema de geração, na topologia da distribuição ou em ajuste de
proteção devem ser precedidas de estudo de energia incidente;
o Estudos de energia incidente necessitam ser arquivados para efeito legal.
• Anexo E15: Orienta a aplicação de vestimenta de proteção através de categorias.
12
OMC: Organização Mundial do Comércio.
13
Anexo da NBR 16384.
14
Anexo da NBR 16384.
15
Anexo da NBR 16384.
Capítulo 2: O ARCO ELÉTRICO COMO PERIGO 30
Com relação às orientações sobre a proteção contra arco elétrico, pode-se citar alguns
pontos da NBR 16384 que possuem abordagem diferente da IEEE Std 1584-2018 e da NFPA
70E-2021:
Este capítulo definiu o arco elétrico no contexto da segurança elétrica, apresentou uma
síntese sobre a evolução dos métodos de cálculo de energia incidente e discutiu aspectos
normativos internacionais e nacionais.
16
Anexo da NBR 16384.
17
Anexo da NBR 16384.
18
ATPV: Arc Thermal Performance Value (“valor de desempenho térmico ao arco”).
19
EBT: Breakopen Threshold Energy (“limite de energia de ruptura”).
20
ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Capítulo 2: O ARCO ELÉTRICO COMO PERIGO 31
A Figura 2.1 apresenta alguns dos marcos da evolução dos estudos sobre o arco elétrico
sob a forma de linha do tempo.
Figura 2.1 – Linha do tempo com marcos da evolução dos estudos sobre o arco elétrico.
Nota-se uma lacuna de um século entre o início do uso em larga escala da eletricidade
na indústria (considerando, simbolicamente, a inauguração da central elétrica de Niagara Falls
o seu marco inicial) e o reconhecimento normativo do arco elétrico como perigo, a partir da
edição de 1995 da NFPA 70E.
Assim, pode-se sugerir uma relação entre o reconhecimento “tardio” e a dificuldade de
compreensão e percepção de riscos deste perigo.
3 GESTÃO DO RISCO DE ARCO ELÉTRICO
A gestão do risco é uma prática necessária para a execução de atividades perigosas com
segurança. Uma referência para a sua aplicação é a ISO 31001 [21], e a Figura 3.1 ilustra uma
síntese do processo de gestão do risco de arco elétrico, baseada nesta norma.
Figura 3.1 – Etapas do processo de gestão do risco de arco elétrico – Adaptado de [21].
Este capítulo, estruturado conforme as etapas apresentadas na Figura 3.1, visa situar e
mostrar a importância do estudo de energia incidente dentro deste processo, bem como
recapitular e discutir as medidas para tratamento do risco de arco elétrico.
Essas definições não são rígidas. Existem os conjuntos de manobra e comando mistos,
que possuem características dos dois tipos, sendo nestes casos chamados de “CDC misto” ou
“CCM misto”.
Na sua essência, ambos os tipos são hubs25 de energia elétrica, destinados a distribuí-la
para os vários circuitos da instalação a partir de uma fonte de energia de considerável potência,
e sujeitos a intervenções humanas.
21
CDC: Centro de Distribuição de Cargas.
22
PCB: Power Circuit Breaker (“disjuntor de potência ou aberto”).
23
IED: Intelligent Electronic Device (“dispositivo eletrônico inteligente”).
24
CCM: Centro de Comando de Motores.
25
Hub: Equipamento central de uma rede, que interliga diversos circuitos.
Capítulo 3: GESTÃO DO RISCO DE ARCO ELÉTRICO 34
Os motivos que podem originar um arco elétrico são conhecidos. O que geralmente não
se sabe é quando ele vai ocorrer. A estimativa de uma probabilidade numérica para a ocorrência
de um arco elétrico durante um serviço pode ser considerada subjetiva e idiossincrática.
Mesmo sendo, por definição, um componente necessário da análise de riscos, poucas
fontes na literatura explicam como realizar uma estimativa da probabilidade de ocorrência de
arco elétrico na prática. Uma das poucas referências é a norma americana NFPA 70E-2021, que
orienta a análise através de uma série de exemplos de tarefas comuns no dia a dia do trabalhador
da área elétrica industrial que, combinados com a condição do equipamento, resultam em uma
probabilidade de ocorrência binária: Não (não é provável que ocorra um arco elétrico) ou Sim
(é provável que ocorra um arco elétrico). O Quadro 3.1 é uma adaptação com uma pequena
amostra das tarefas apresentadas na Tabela 130.5(C) da NFPA 70E-2021, cuja versão completa
consta no Anexo A.1.
Condição do Probabilidade
Tarefa
equipamento de ocorrência
Leitura de um medidor de painel
Qualquer Não
enquanto se opera a chave seletora do medidor.
Inserção/extração de disjuntores ou demarradores
Qualquer Sim
nos/dos seus cubículos, com portas abertas ou fechadas.
Abrir uma porta ou tampa articulada de painel para
Normal Não
acessar dispositivos de sobrecorrente com frontal cego.
Manutenção e teste em células individuais ou em blocos
Anormal Sim
multicelulares individuais em baterias com rack aberto.
Fonte: Adaptado de [3].
26
SSO: Saúde e Segurança Ocupacional.
Capítulo 3: GESTÃO DO RISCO DE ARCO ELÉTRICO 35
Além dos métodos citados no Quadro 3.2, é possível encontrar na comunidade técnica
artigos com propostas de novos métodos, alguns baseados em modificações dos métodos atuais,
ou métodos gráficos para realizar a estimativa de energia incidente sem a necessidade de muitos
cálculos. Também há no mercado softwares comerciais27, como o Kinectrics ArcPro, cuja
metodologia é baseada em ensaios desenvolvidos em laboratório próprio, recomendado para
sistemas acima de 15 kV e reconhecido pela OSHA.
Os sistemas elétricos industriais são “dinâmicos”, i.e., sofrem modificações ao longo do
curso da sua vida, pelos mais diversos motivos: ampliações, alterações de manutenção,
mudança de filosofia de operação etc. Por consequência, os estudos de energia incidente devem
ser atualizados com alguma frequência para que continuem representando o sistema real, de
modo que a avaliação de riscos seja baseada em informações fidedignas. A NFPA 70E-2021
determina que o prazo para revisão do estudo não deve exceder a cinco anos.
27
Aplicativos comerciais como PTW ou ETAP não são considerados métodos, eles são ferramentas
computacionais que executam cálculos conforme algum dos métodos citados.
Capítulo 3: GESTÃO DO RISCO DE ARCO ELÉTRICO 36
Após a identificação das fontes de perigo e da análise do risco de arco elétrico, deve ser
feito um julgamento se a incolumidade do trabalhador pode ser razoavelmente garantida pelas
condições existentes, ou se medidas de proteções adicionais são necessárias. Caso sejam
necessárias medidas de proteção adicionais, elas devem seguir o princípio da hierarquia das
medidas de controle de SSO, conforme definido pela ISO 45001 [22]:
a) Eliminar os perigos;
b) Substituir por processos, operações, materiais ou equipamentos menos perigosos;
c) Utilizar controles de engenharia e reorganização do trabalho;
d) Utilizar controles administrativos, incluindo treinamento;
e) Utilizar equipamento de proteção individual (EPI) adequado.
No que diz respeito à proteção contra arco elétrico, a eliminação do perigo mais absoluta
é a desenergização, porém, às vezes ela também é impossível ou inviável, assim como outras
medidas de controle prioritárias. Pela filosofia de SSO, o emprego de EPIs deve ser a última
opção de medida de controle, ainda que na prática sua aplicação seja muito comum.
Como o risco é um conceito composto pela combinação de dois elementos, conforme
definido em 3.3.1, a estratégia geral para o controle do risco de arco elétrico consiste na atuação
sobre os aspectos gerenciáveis desses dois componentes. Desta maneira, as medidas de controle
podem ser categorizadas conforme sua relação com os componentes do risco [24]:
3.4.2.1 Treinamento
Uma das técnicas de manutenção preditiva mais usadas em sistemas elétricos industriais
é a inspeção termográfica, que consiste no uso de uma câmera infravermelha para identificar
pontos quentes, que são potenciais causas de arco elétrico. Paradoxalmente, a inspeção
termográfica é uma atividade que contribui para evitar ocorrências de arco, mas ao mesmo
tempo a sua realização expõe o próprio executante ao risco, pois necessariamente deve ser
realizada com os sistemas energizados e sob carga. Há métodos conhecidos para a gestão deste
risco, como o uso de janelas de inspeção termográficas, uso de sensores infravermelhos fixos,
trabalho à distância segura e, por fim, o uso de EPIs.
3.4.2.4 Intertravamento
No contexto da proteção contra arco elétrico, “operação remota” tem o sentido de uma
operação na qual o trabalhador que a está executando se encontra afastado o suficiente para não
ser atingido pela energia do arco elétrico, caso ele ocorra.
Pode ser considerada uma forma de proteção baseada na distância da fonte de perigo.
Uma vez que a energia incidente se atenua exponencialmente à medida que se afasta da fonte
do arco, o trabalhador deve estar posicionado além do limite de aproximação segura. Com os
recursos modernos de automação, esta operação remota pode ser realizada por um trabalhador
localizado fora da instalação de potência e até mesmo, literalmente, em outra cidade. Nestes
casos, sob a ótica apenas do trabalhador, esta medida de controle pode ser considerada como
uma medida preventiva, pois a exposição física ao perigo inexiste.
Capítulo 3: GESTÃO DO RISCO DE ARCO ELÉTRICO 39
Entretanto, sob uma ótica mais ampla, a operação remota deve ser considerada uma
medida de mitigação, pois, apesar da sua eficácia na proteção do ser humano, sua aplicação
pura e simples não oferece proteção aos equipamentos.
A seguir, são listadas algumas formas de aplicação da filosofia de operação remota:
• Uso de extensores: Técnica simples, na qual pode ser empregado um bastão isolante
com ou sem instrumento/ferramenta acoplado. A extensão do bastão deve ser
suficiente para posicionar o operador além do limite de aproximação segura;
• Comando temporizado: Técnica na qual uma manobra não é realizada
instantaneamente ao se pressionar o botão de fechamento ou abertura de contatos
localizado no conjunto de manobra e comando. O acionamento do botão pelo
operador deve disparar um temporizador, que deve contar tempo suficiente para que
o operador se afaste até uma posição segura e, em seguida, comandar a manobra
automaticamente;
• Comando via sistema de automação: Técnica comum em grandes indústrias que
possuem sistemas de DCS28, onde o comando é realizado via centro de controle,
sem necessidade da presença de operador em frente ao conjunto de manobra e
comando. Sistemas do tipo DCS têm custo muito alto, mas são comumente
encontrados em indústrias de processo contínuo, como as de refino do petróleo;
• Sistema de inserção/extração remota: Também conhecido pela sigla RRS29,
consiste em um sistema motorizado de inserção/extração de disjuntores, podendo
ser de uso dedicado (instalado no cubículo, um por disjuntor) ou móvel (instalado
em carrinho, aplicável a vários disjuntores). Nos sistemas móveis, o operador deve
posicionar o carrinho em frente ao cubículo e fazer os ajustes necessários para
acoplar mecanicamente o dispositivo de inserção/extração ao disjuntor. Após se
posicionar a uma distância segura, o operador pode comandar a inserção/extração
através de um controle remoto.
Apesar de haver diversas tecnologias para a operação remota, ainda há poucas para a
manutenção remota. Atualmente, a manutenção ainda é muito baseada em técnicas tradicionais,
mas existe uma tendência de evolução com a chamada “Indústria 4.0”, como foi batizada a 4ª
Revolução Industrial, baseada em AI30 e IoT31. Com estes conceitos aplicados à área de
manutenção, que tem sido chamada de “Manutenção 4.0”, há uma expectativa de evolução nos
sistemas e métodos de medição, diagnóstico e até mesmo de reparo que possam reduzir a
exposição humana ao perigo de arco elétrico.
28
DCS: Distributed Control Systems (“sistema de controle distribuído”).
29
RRS: Remote Racking System (“sistema de inserção/extração remota”).
30
AI: Artificial Intelligence (“inteligência artificial”).
31
IoT: Internet of Things (“internet das coisas”).
Capítulo 3: GESTÃO DO RISCO DE ARCO ELÉTRICO 40
Via de regra, os equipamentos elétricos, são projetados para evitar ao máximo que falhas
ocorram. As normas técnicas para a fabricação de conjuntos de manobra e comando incorporam
a filosofia safety by design, também conhecida como prevention through design, i.e., fabricar
o equipamento com medidas de segurança pensadas desde o projeto, e.g., desenvolvimento de
dispositivo para inserção/extração com portas fechadas, utilização de isolação sólida na maior
extensão possível dos condutores, aplicação de barreiras entre fases de modo a conter a
evolução de um arco monofásico para trifásico etc.
Ainda assim, considerando que nenhum equipamento está livre de falhas, existem
normas e relatórios técnicos que estabelecem métodos de ensaio e critérios de aprovação para
se avaliar a proteção oferecida por conjuntos de manobra e comando numa ocorrência de arco
elétrico. Para equipamentos que seguem as especificações IEC, há duas referências (divididas
por faixa de tensão), enquanto que para os equipamentos que seguem as especificações ANSI,
uma referência abrange todas as faixas de tensão, conforme indicado no Quadro 3.3.
32
IAC: Internal Arc Classified (“classificação de arco interno”).
Capítulo 3: GESTÃO DO RISCO DE ARCO ELÉTRICO 41
33
TTA: Type-Tested Assemblies (“conjuntos com ensaio de tipo totalmente testados”).
34
PTTA: Partially Type-Tested Assemblies (“conjuntos com ensaio de tipo parcialmente testados”).
Capítulo 3: GESTÃO DO RISCO DE ARCO ELÉTRICO 42
Os EPIs contra arco elétrico são especificados através de um parâmetro chamado pela
ASTM F1959/F1959M [29] de “Classificação de Arco”, definido como o valor atribuído aos
materiais que descreve seu desempenho à exposição ao arco elétrico. A Classificação de Arco
é indicada em cal/cm2, e o seu valor é obtido a partir da avaliação de duas características:
A NFPA 70E-2021 define dois métodos para a seleção de EPI contra arco elétrico:
35
ATPV: Arc Thermal Performance Value (“valor de desempenho térmico ao arco”).
36
EBT: Breakopen Threshold Energy (“limite de energia de ruptura”).
Capítulo 3: GESTÃO DO RISCO DE ARCO ELÉTRICO 43
Apesar da ênfase dada pela NFPA 70E-2021, esta orientação não é seguida à risca pela
indústria, onde é comum encontrar empresas que contam com cálculo de energia incidente e os
EPIs são especificados por categorias. A maioria dos EPIs disponíveis no mercado informam
tanto a sua Classificação de Arco (cal/cm2) quanto a sua Categoria (1 a 4).
O Método da Categoria de EPI foi o primeiro método proposto [14], e teve sua
relevância numa época em que o arco elétrico não era um perigo plenamente reconhecido, havia
pouco conhecimento de como avaliá-lo e as opções de equipamentos de proteção eram
limitadas. Na época, os números que identificavam as categorias faziam referência à quantidade
de camadas que um sistema de vestimentas antichamas normalmente necessitava para oferecer
proteção adequada quando submetido a um nível de energia incidente dentro da respectiva
faixa. Nos últimos anos, houve evolução tanto nos métodos de cálculo de energia incidente,
quanto no desempenho dos materiais antichamas, o que inclusive tornou inconsistente a relação
entre o número que identifica cada categoria e a quantidade real de camadas de vestimenta (e.g.
a maioria das vestimentas antichamas atuais consegue atingir o desempenho da Categoria 2
com apenas uma camada).
Hoje em dia, o Método da Categoria de EPI pode ser considerado desvantajoso, pois
contém fatores de segurança extremamente conservadores que acabam, na maioria das
situações, penalizando o executante por indicar EPIs com nível de proteção mais altos que o
necessário, desconfortáveis e, por vezes, inviáveis para a tarefa proposta. O cálculo da energia
incidente permite a seleção de um EPI otimizado, considerando a sua Classificação de Arco.
37
Estas tabelas constam nos Anexos A.2 e A.3.
Capítulo 3: GESTÃO DO RISCO DE ARCO ELÉTRICO 44
O sistema elétrico industrial é tipicamente radial, com a maior parte da sua proteção
baseada em funções de sobrecorrente.
Geralmente, o dispositivo de proteção contra curto-circuito mais próximo da carga não
possui atraso intencional no seu ajuste, ou possui um atraso muito pequeno para evitar atuações
indevidas. Para que, na ocorrência de uma falta na carga, somente o dispositivo de proteção
mais próximo da falta atue, o dispositivo de proteção à montante deste do último nível precisa
ter um atraso intencional suficiente para que o dispositivo mais próximo da falta consiga
eliminar o curto-circuito, evitando a atuação concomitante.
Capítulo 3: GESTÃO DO RISCO DE ARCO ELÉTRICO 45
Se, por um lado, a continuidade operacional é um benefício desta filosofia, por outro
lado, a energia incidente nos níveis mais à montante do sistema de distribuição, que possuem
maiores atrasos na atuação da proteção, pode chegar a níveis intoleráveis, preocupação que não
existia há algumas décadas.
Para mitigar este problema, mantendo a seletividade (quando possível), que é uma das
premissas do sistema de proteção industrial, pode-se fazer uso de algumas estratégias para
reduzir o tempo de operação da proteção, entre elas:
Capítulo 3: GESTÃO DO RISCO DE ARCO ELÉTRICO 46
38
Trade-off: Expressão em inglês que significa “abrir mão de uma coisa em troca de outra”.
Capítulo 3: GESTÃO DO RISCO DE ARCO ELÉTRICO 48
39
TC: Transformador de Corrente.
Capítulo 3: GESTÃO DO RISCO DE ARCO ELÉTRICO 49
• Relé de arco: Utiliza a luz como principal grandeza para detecção do arco, e
algoritmos rápidos de medição de corrente para confirmação. Não precisa ser
seletivo com as funções de sobrecorrente, e possui tempo de operação muito
reduzido (≈ 2 ms) com o uso de saídas com interruptor estático, mais rápidas que as
saídas com relé auxiliar eletromecânico. Pode ser um relé dedicado ou um relé
multifunção com a função de arco incorporada. Os sensores podem ser de dois tipos:
o Sensor pontual: Capta a luz de uma região bem delimitada. Para monitorar vários
compartimentos, são necessários vários sensores e também um relé de arco com
capacidade para monitorar todos esses pontos, ou então deve-se utilizar vários
relés. Por esse motivo, a aplicação de sensores pontuais pode não ser vantajosa
em conjuntos de manobra e comando com muitas unidades funcionais. Por outro
lado, a característica pontual permite identificar mais precisamente o local do
arco, viabilizando a criação de lógicas para desligamentos seletivos, além de
facilitar a inspeção para localização do defeito;
o Sensor regional: Composto por uma fibra óptica desencapada, que sai de um
terminal do relé de arco, passa pelos compartimentos do conjunto de manobra e
comando, e pode retornar para outro terminal do mesmo relé. Uma única fibra
pode ter até dezenas de metros de comprimento, e capta luz por toda a extensão
exposta, o que torna este tipo de sensor adequado para conjuntos de manobra e
comando com muitos compartimentos. Como desvantagem, não permite
identificar em qual parte da fibra (ou em qual compartimento) foi captada a luz
que sensibilizou o detector. Quando as duas pontas da fibra são conectadas ao
relé, pode haver monitoramento da integridade do loop.
(a) Ocorrência (b) Detecção (c) Envio de (d) Operação (e) Operação
do arco. do arco. comandos. do AQD. do disjuntor.
40
AQD: Arc Quenching Device (“dispositivo de extinção de arco”).
Capítulo 3: GESTÃO DO RISCO DE ARCO ELÉTRICO 51
Imagem
Com uma duração de arco entre ¼ e ½ ciclo, e energia incidente abaixo de 1,2 cal/cm2,
um sistema com AQD oferece proteção pessoal mesmo com os compartimentos abertos, e reduz
os danos ao conjunto de manobra e comando, o que pode proporcionar um restabelecimento
operacional mais rápido. Também torna desnecessário que o conjunto de manobra e comando
possua dutos de exaustão, pois a rápida atuação minimiza a formação de gases tóxicos. Os
AQDs que geram arco secundário devem conter os gases gerados em uma câmara apropriada.
Contudo, a instalação de um AQD pode requerer o espaço equivalente a um cubículo extra,
portanto, é aplicável a conjuntos de manobra e comando novos, ou antigos mediante retrofit.
Pelo fato de ser de uso único, ou no máximo poucas operações, há uma dificuldade para a
realização de testes. As normas de referência são a IEC 60947-9-1 [36] e a UL 2748 [37].
Capítulo 3: GESTÃO DO RISCO DE ARCO ELÉTRICO 52
Dispositivo de
Detecção e Atraso Interrupção ou Duração de
Tipo de sensor Esquema interrupção ou
operação intencional extinção arco típica
extinção
Seletividade 200-300 ms 50-80 ms
Corrente Disjuntor 25 ms 340 ms
cronométrica [média 250 ms] [média 65 ms]
Seletividade 50-100 ms 50-80 ms
Corrente Disjuntor 25 ms 165 ms
lógica [média 75 ms] [média 65 ms]
Chave de 50-80 ms
Corrente Disjuntor 25 ms 0 90 ms
manutenção [média 65 ms]
Diferencial de 50-80 ms
Corrente Disjuntor 25 ms 0 90 ms
barras [média 65 ms]
A Figura 3.9 ilustra de uma maneira gráfica os valores do Quadro 3.7, deixando mais
evidente o impacto de cada tecnologia na redução da energia incidente.
41
Luvas isolantes de borracha Classe 00 são indicadas para proteção contra choques elétricos em sistemas
energizados com tensão até 500 V, conforme NBR 16295.
4 O MÉTODO IEEE STD 1584-2018
Um estudo de energia incidente de arco elétrico, de maneira geral, pode ser representado
pelo processo ilustrado na Figura 4.1.
42
Não é objetivo do capítulo reproduzir todas as informações e exceções da norma. Para a aplicação do método, a
norma deve ser a referência consultada.
54
Capítulo 4: O MÉTODO IEEE STD 1584-2018 55
Seja uma instalação elétrica que possui uma tensão de circuito aberto (Voc) e uma
corrente de falta franca (Ibf) definida através de um estudo de curto-circuito. Se, em alguma
parte desta instalação, dois pontos energizados com potenciais diferentes (fase-fase) estiverem
separados por uma distância (G) relativamente pequena, e isolados apenas pelo ar, um arco
elétrico poderá ser iniciado se houver uma ruptura dielétrica. Quando isto ocorrer, o arco
elétrico drenará da fonte uma corrente de arco (Iarc), que terá um valor menor do que o da
corrente de falta franca, em função da impedância do arco. A corrente de arco é o primeiro
parâmetro estimado pelo modelo matemático da IEEE Std 1584-2018.
Uma vez iniciado, e enquanto o sistema elétrico sustentá-lo, o arco elétrico irá liberar
calor ao seu entorno. Se houver um trabalhador posicionado a uma distância de trabalho (D) do
arco, e se este trabalhador permanecer nesta posição por toda a duração de arco (Tarc), ele
receberá uma quantidade de energia térmica definida como energia incidente (E), sendo este o
segundo parâmetro estimado pelo modelo matemático da IEEE Std 1584-2018.
O método também define que deva ser calculada a distância do arco na qual a energia
incidente é equivalente a 1,2 cal/cm2, valor que é considerado o limiar de energia térmica a
partir do qual uma pessoa pode sofrer queimaduras de segundo grau na sua pele, se
desprotegida. Esta distância é conhecida como limite de aproximação segura (AFB), e é o
terceiro e último parâmetro estimado pelo modelo matemático da IEEE Std 1584-2018.
Os modelos matemáticos da IEEE Std 1584-2018 foram desenvolvidos empiricamente,
sendo baseados tanto em análises estatísticas e ajustes de curvas de dados de ensaios, como
também no entendimento sobre a física do arco elétrico.
Capítulo 4: O MÉTODO IEEE STD 1584-2018 56
Uma característica importante verificada nos ensaios é que a corrente de arco é instável,
podendo variar dentro de uma faixa de valores. Se a proteção responsável por eliminar o arco
for baseada em elemento de sobrecorrente com curva do tipo tempo inverso, uma corrente de
arco de menor intensidade pode resultar em uma duração de arco mais longa e eventualmente
maior energia incidente. Um dos pontos chave da avaliação de energia incidente é que o maior
valor de corrente de arco não implica necessariamente no pior caso de energia incidente. Deste
modo, o método estabelece que devam ser avaliadas duas condições:
i. Calcular a corrente de arco plena ou máxima (Iarcmax), avaliar a duração de arco
provocada por esta corrente (TIarcmax) e em seguida calcular a energia incidente
(EIarcmax) e o limite de aproximação segura (AFBIarcmax) com estes parâmetros; e,
ii. Calcular a corrente de arco reduzida ou mínima (Iarcmin), avaliar a duração de arco
provocada por esta corrente (TIarcmin) e em seguida calcular a energia incidente
(EIarcmin) e o limite de aproximação segura (AFBIarcmin) com estes parâmetros.
A corrente de arco mínima é calculada a partir de um fator de correção de variação de
corrente (VarCf) aplicado à corrente de arco máxima, sendo que este fator de correção depende
basicamente da tensão de circuito aberto do sistema (quanto menor a tensão do sistema, maior
a faixa de variação). Os valores de energia incidente e de limite de aproximação segura são
ajustados para as dimensões do compartimento real através do fator de correção para o tamanho
do invólucro (CF). O pior resultado entre as duas condições deve ser considerado o resultado
do estudo.
A Figura 4.3 ilustra o fluxograma do método.
Vale ressaltar que a avaliação da duração do arco é uma tarefa “externa” ao modelo.
Este parâmetro deve ser definido com base no Estudo de Seletividade da Proteção,
complementado pelo diagrama funcional e pela especificação técnica (tempos operacionais)
dos dispositivos utilizados.
As três principais grandezas calculadas (Iarc, E e AFB) são determinadas em dois passos,
onde primeiro são calculados valores intermediários referidos às tensões padronizadas de
ensaio (600, 2.700 e 14.300 V), e em seguida estes valores intermediários são interpolados para
se obter os valores finais referidos à tensão do sistema real (Voc). Há um modelo matemático
para a faixa de tensão de circuito aberto entre 208 e 600 V, e outro para a faixa acima de 600 V
até 15 kV. O motivo de terem sido estabelecidos dois modelos matemáticos foi a dificuldade
de se modelar a corrente de arco para tensões de circuito aberto abaixo de 600 V, em função do
comportamento dinâmico e instável do arco elétrico. Foi observado que a resistência por
centímetro de arco aumenta com a diminuição da tensão de circuito aberto, efeito compensado
pela menor força eletromagnética para reduzir o comprimento do arco, o que levou o grupo de
trabalho a assumir que a resistência do arco pode ser considerada constante na faixa de tensão
de circuito aberto entre 208 e 600 V. Assim, o modelo para sistemas até 600 V estima a corrente
de arco para uma determinada tensão nominal a partir da corrente de arco em 600 V apenas,
interpolando até zero. O modelo empírico é aplicável dentro das seguintes faixas de parâmetros:
Por fim, cabe o registro de que alguns parâmetros foram desprezados pelo modelo, pois
chegou-se à conclusão de que eles têm pouco ou nenhum efeito na corrente de arco e na energia
incidente resultante, com base na análise dos dados de ensaios:
• frequência;
• tipo de aterramento;
• relação X/R;
• material dos eletrodos.
Nas equações apresentadas, o parâmetro tensão é sempre referido como Voc, ou tensão
de circuito aberto (open-circuit voltage), pois é o termo que reflete mais adequadamente a
condição ensaiada em laboratório. Contudo, o modelo admite a utilização de outros valores de
tensão, como a tensão pré-falta do sistema ou outro valor operacional de interesse.
A corrente de falta franca, ou Ibf (bolted fault current), é definida como sendo “a máxima
corrente que o sistema de potência pode fornecer através de um determinado circuito para
qualquer curto-circuito de impedância desprezível aplicado em um determinado ponto ou em
qualquer outro ponto que faça com que a corrente mais alta flua através do ponto especificado”.
O primeiro aspecto importante deste parâmetro é que ele não é um dado nominal do
sistema, mas sim o resultado de um estudo de curto-circuito, que deve ser previamente realizado
e abranger todos os pontos em que a energia incidente deverá ser avaliada. Em segundo lugar,
não existe um método único para o cálculo da corrente de curto-circuito. Além do método
“abrangente” ou “ôhmico”, os métodos normativos seguem a dicotomia da normatização
internacional (ANSI vs. IEC). A IEEE Std 1584-2018 cita nominalmente a IEEE Std 551 [39]
e a IEC 60909-0 [40], e admite a utilização de ambas. A escolha entre um ou outro método é,
na verdade, mais relevante para as outras finalidades, como o adequado dimensionamento da
suportabilidade mecânica e da capacidade de interrupção dos equipamentos, cuja fabricação e
ensaios seguem um dos dois grupos técnicos. Assim, a norma de cálculo de curto-circuito deve
ser coerente com a norma de fabricação dos dispositivos utilizados.
Capítulo 4: O MÉTODO IEEE STD 1584-2018 59
Na Edição de 2002 da IEEE Std 1584, o modelo desenvolvido permitia duas opções de
cálculo: arco elétrico ao ar livre e arco elétrico dentro de invólucro. Em ambos os casos, os
eletrodos dos ensaios foram posicionados verticalmente. Entretanto, nos anos que se seguiram,
pesquisas demonstraram que a energia incidente é influenciada não somente pela existência ou
não de invólucro no entorno do arco, mas também pela disposição dos eletrodos.
Durante a elaboração da nova versão da IEEE Std 1584, o grupo de trabalho realizou
testes com outras disposições, resultando em três configurações de eletrodo (E.C.) adicionais,
conforme indicado na Figura 4.4.
43
VOA: Vertical conductors/electrodes in Open Air.
44
VCB: Vertical conductors/electrodes inside a Cubic Box.
45
VCBB: Vertical conductors/electrodes terminated in na insulating Barrier inside a Cubic Box.
46
HOA: Horizontal conductors/electrodes in Open Air.
47
HCB: Horizontal conductors/electrodes inside a Cubic Box.
Capítulo 4: O MÉTODO IEEE STD 1584-2018 61
O espaçamento entre eletrodos (gap), que num conjunto de manobra e comando pode
ser considerado a distância entre terminais ou barramentos, é uma informação que geralmente
não está prontamente disponível ao usuário, sendo necessário consultar os desenhos mecânicos,
ou realizar inspeção interna no equipamento. Além da dificuldade ao acesso a esta informação,
estabelecer o valor adequado pode não ser evidente, uma vez que o espaçamento costuma não
ser constante ao longo do circuito.
Para os casos em que não seja possível identificar o espaçamento real, podem ser
aplicados os valores típicos sugeridos para cada classe de equipamento, conforme indicado no
Quadro 4.1. Estes valores foram os utilizados nos ensaios por se aproximarem dos encontrados
em equipamentos reais.
é considerada no modelo até 600 V, e não entra diretamente no cálculo. Ela serve para
classificar o invólucro como “típico” ou “raso”, influenciando no cálculo do fator de correção
(item 4.3.2.4) indiretamente, através da aplicação de diferentes conjuntos de coeficientes.
Para os casos em que não seja possível identificar as dimensões reais, pode-se utilizar
valores típicos, indicados no Quadro 4.2.
Dimensões do invólucro
Classe de equipamento Altura × Largura × Profundidade
[mm] [in]
CDC 15 kV 1.143 × 762 × 762 45 × 30 × 30
CCM 15 kV 914,4 × 914,4 × 914,4 36 × 36 × 36
914,4 × 914,4 × 914,4 36 × 36 × 36
CDC 5 kV
1143 × 762 × 762 45 × 30 × 30
CCM 5 kV 660,4 × 660,4 × 660,4 26 × 26 × 26
CDC de baixa tensão 508 × 508 × 508 20 × 20 × 20
355,6 × 304,8 × £203,2 (raso) 14 × 12 × £8 (raso)
CCM de baixa tensão
355,6 × 304,8 × ³203,2 (fundo) 14 × 12 × ³8 (fundo)
Fonte: Adaptado de [1].
Distância de trabalho
Classe de equipamento
[mm] [in]
CDC 15 kV 914,4 36
CCM 15 kV 914,4 36
CDC 5 kV 914,4 36
CCM 5 kV 914,4 36
CDC de baixa tensão 609,6 24
CCM de baixa tensão 457,2 18
Fonte: [1].
Distâncias de trabalho diferentes dos valores sugeridos no Quadro 4.3 podem (ou
devem) ser consideradas para avaliações de energia incidente em atividades específicas, desde
que tecnicamente justificadas.
Capítulo 4: O MÉTODO IEEE STD 1584-2018 64
A corrente de arco, ou Iarc (arcing fault current), é definida como sendo “a corrente de
falta que flui através do plasma do arco elétrico”. Ela depende principalmente da corrente de
falta franca (Ibf), e de outros parâmetros em menor proporção, como o espaçamento entre
eletrodos, a configuração de eletrodo e a tensão do sistema. Assim como a corrente de falta
franca, a corrente de arco é o resultado do somatório de todas as contribuições naquele ponto,
entretanto, a corrente de arco tem magnitude inferior devido à impedância do arco.
O modelo matemático da IEEE Std 1584-2018 estabelece um procedimento de cálculo
em duas etapas, onde primeiramente é realizado o cálculo das correntes de arco eficazes médias
referidas a três níveis de tensão padronizados (600, 2.700 e 14.300 V), e em seguida é
determinado o valor final da corrente de arco para a tensão de circuito aberto do sistema, através
da interpolação dos valores intermediários.
A Equação (4.1) é utilizada para a obtenção das correntes de arco eficazes médias.
𝐼arc_Voc = 10(()*(+ ,-.!" /bf*(0 ,-.!" 1)%𝑘4𝐼bf5 + 𝑘5𝐼bf6 + 𝑘6𝐼bf7 + 𝑘7𝐼bf0 + 𝑘8𝐼bf+ + 𝑘9𝐼bf + 𝑘10. (4.1)
Onde:
• Iarc_Voc: é a corrente de arco eficaz média para Voc (tensão padronizada) [kA];
• Ibf: é a corrente de falta franca trifásica simétrica eficaz [kA];
• G: é o espaçamento entre eletrodos [mm];
• k1 a k10: são os coeficientes fornecidos no Quadro 4.4.
Para se calcular o valor final da corrente de arco, devem ser utilizadas as equações de
acordo com a tensão de circuito aberto do sistema. Para os sistemas acima de 600 V, devem ser
utilizadas as equações (4.2), (4.3) e (4.4).
𝐼arc_2700 − 𝐼arc_600
𝐼arc_1 = (𝑉oc − 2,7) + 𝐼arc_2700 (4.2)
2,1
𝐼arc_14300 − 𝐼arc_2700
𝐼arc_2 = (𝑉oc − 14,3) + 𝐼arc_14300 (4.3)
11,6
Onde:
1
𝐼arc =
0,6 + 1 0,6+ − 𝑉oc + (4.5)
67 𝑉 8 × : +−; <=
oc 𝐼arc_600 0,6+ × 𝐼bf +
Onde:
Onde:
E.C. k1 k2 k3 k4 k5 k6 k7
VCB 0,00E+00 -1,43E-06 8,31E-05 -1,94E-03 2,24E-02 -1,26E-01 3,02E-01
VCBB 1,14E-06 -6,03E-05 1,28E-03 -1,38E-02 8,02E-02 -2,41E-01 3,35E-01
HCB 0,00E+00 -3,10E-06 1,64E-04 -3,36E-03 3,33E-02 -1,62E-01 3,46E-01
VOA 9,56E-07 -5,15E-05 1,12E-03 -1,24E-02 7,51E-02 -2,36E-01 3,37E-01
HOA 0,00E+00 -3,16E-06 1,68E-04 -3,46E-03 3,41E-02 -1,60E-01 3,46E-01
Fonte: Adaptado da Tabela 2 de [1].
Por sua vez, a mínima corrente de arco é calculada pela Equação (4.7).
Onde:
A duração de arco (Tarc) é definida genericamente como “o tempo que a fonte a montante
da corrente de arco leva para interromper a corrente ou energia para o arco elétrico”.
Tipicamente, a duração de arco é determinada pelo tempo total de atuação do sistema
de proteção. Este tempo total compreende o tempo de detecção, de processamento, de atraso
intencional e de atuação do dispositivo de proteção, somado com o tempo de operação do
dispositivo de interrupção ou extinção.
Na maioria dos casos, a proteção industrial é realizada através de elementos de
sobrecorrente, tanto instantâneos quanto temporizados. Portanto, em função da possibilidade
de sensibilização de elementos do tipo tempo inverso, a duração de arco pode depender da
magnitude da corrente de arco que passa pelos elementos sensores (TCs).
A determinação da duração de arco também deve levar em consideração:
1
𝐶𝐹 = (4.8)
𝑏1 × 𝐸𝐸𝑆 + + 𝑏2 × 𝐸𝐸𝑆 + 𝑏3
Onde:
$,-
arc_600 %
12,552 #$%&$' ()*!" +& &$%% ()*!" -bf &$%' ()*!" 5&$%, ()*!" -arc_600 &()*!" 67 8
𝐸600 = 𝑇 × 10
+
$.-bf ,
&$/-bf -
&$0-bf .
&$1-bf /
&$2-bf 0
&$3-bf &$%4-bf (4.10)
50
$,-
arc_2700 %
12,552 #$%&$' ()*!" +& &$%% ()*!" -bf &$%' ()*!" 5&$%, ()*!" -arc_2700 &()*!" 678
𝐸2700 = 𝑇 × 10
+
$.-bf ,
&$/-bf -
&$0-bf .
&$1-bf /
&$2-bf 0
&$3-bf &$%4-bf (4.11)
50
$,-
arc_14300 %
12,552 #$%&$' ()*!" +& &$%% ()*!" -bf &$%' ()*!" 5&$%, ()*!" -arc_14300 &()*!" 67 8
𝐸14300 = 𝑇 × 10
+
$.-bf ,
&$/-bf -
&$0-bf .
&$1-bf /
&$2-bf 0
&$3-bf &$%4-bf (4.12)
50
$,-
arc_600 %
12,552 #$%&$' ()*!" +& +
$.-bf ,
&$/-bf -
&$0-bf .
&$1-bf /
&$2-bf 0
&$3-bf &$%4-bf
&$%% ()*!" -bf &$%' ()*!" 5&$%, ()*!" -arc &()*!" 67 8
(4.13)
𝐸≤600 = 𝑇 × 10
50
48
SI: Sistema Internacional de Unidades.
49
1 cal/cm2 corresponde a 4,184 J/cm2.
Capítulo 4: O MÉTODO IEEE STD 1584-2018 70
Onde:
Para se calcular o valor final da energia incidente, devem ser utilizadas as equações de
acordo com a tensão de circuito aberto do sistema. Para os sistemas acima de 600 V, devem ser
utilizadas as Equações (4.14), (4.15) e (4.16).
𝐸2700 − 𝐸600
𝐸1 = (𝑉oc − 2,7) + 𝐸2700 (4.14)
2,1
𝐸14300 − 𝐸2700
𝐸2 = (𝑉oc − 14,3) + 𝐸14300 (4.15)
11,6
Onde:
O limite de aproximação segura é o termo usual no Brasil para o que as normas norte-
americanas chamam de arc-flash boundary (AFB), que é “a distância da potencial fonte do arco
elétrico na qual a energia incidente é calculada em 1,2 cal/cm2”. A intensidade de 1,2 cal/cm2 é
definida como o limiar de energia incidente que pode provocar uma queimadura de segundo
grau em uma pele desprotegida [15]. A origem desta definição remonta às décadas de 50 e 60,
fruto do trabalho liderado pela física Alice Mary Stoll, pesquisadora da Marinha dos Estados
Unidos, com o objetivo de avaliar os efeitos da energia térmica na pele humana, e o desempenho
de tecidos destinados à proteção de pilotos de avião.
Um exemplo que permite uma noção desta magnitude é: “se um isqueiro de butano for
mantido a 1 cm do dedo de uma pessoa por 1 s, e o dedo estiver na chama azul, a área de 1 cm2
do dedo será exposta a cerca de 1,2 cal/cm2” [1].
Em outros termos, o limite de aproximação segura não garante a incolumidade absoluta,
é admitido que ocorra um dano limitado.
Capítulo 4: O MÉTODO IEEE STD 1584-2018 72
%-.arc_600 & (5
%&'%( )*+!" ,' + , - . '%3. / '%4. 0 '%&5. '%&& )*+!" .bf '%&- )*+!" .arc_600 ')*+!" 67 8)*+!" 9
⎛ %/.bf '%0.bf '%1.bf '%2.bf bf ⎞
bf bf
8%&( (4.17)
𝐴𝐹𝐵600 = 10⎝ ⎠
%-.arc_2700 & (5
%&'%( )*+!" ,' + , - . '%3. / '%4. 0 '%&5. '%&& )*+!" .bf '%&- )*+!" .arc_2700 ')*+!" 67 8)*+!" 9
⎛ %/.bf '%0.bf '%1.bf '%2.bf bf ⎞
bf bf
8%&( (4.18)
𝐴𝐹𝐵2700 = 10⎝ ⎠
%-.arc_14300 & (5
%&'%( )*+!" ,' + , - . '%3. / '%4. 0 '%&5. '%&& )*+!" .bf '%&- )*+!" .arc_14300 ')*+!" 67 8)*+!" 9
⎛ %/.bf '%0.bf '%1.bf '%2.bf bf ⎞
bf bf
8%&( (4.19)
𝐴𝐹𝐵14300 = 10⎝ ⎠
%-.arc_600 & (5
%&'%( )*+!" ,' + , - . '%3. / '%4. 0 '%&5. '%&& )*+!" .bf '%&- )*+!" .arc ')*+!" 67 8)*+!" 9
⎛ %/.bf '%0.bf '%1.bf '%2.bf bf bf bf ⎞
8%&( (4.20)
𝐴𝐹𝐵≤600 = 10⎝ ⎠
Onde:
𝐴𝐹𝐵2700 − 𝐴𝐹𝐵600
𝐴𝐹𝐵1 = (𝑉oc − 2,7) + 𝐴𝐹𝐵2700 (4.21)
2,1
𝐴𝐹𝐵14300 − 𝐴𝐹𝐵2700
𝐴𝐹𝐵2 = (𝑉oc − 14,3) + 𝐴𝐹𝐵14300 (4.22)
11,6
Onde:
Este capítulo apresentou uma visão geral do método IEEE Std 1584-2018, e discutiu os
principais parâmetros envolvidos.
Como foi mostrado, cada parâmetro possui particularidades, e o conhecimento das
circunstâncias e dos motivos pelos quais eles foram incorporados ao método contribui para um
adequado levantamento de dados e para uma correta interpretação dos resultados do estudo.
O principal resultado do estudo, que é a energia incidente, é um valor extraído da curva
de ajuste de energia incidente levantada nos ensaios da IEEE Std 1584-2018, nas condições
discutidas neste capítulo, sendo válido para a distância de trabalho e a duração de arco
precisamente definidos.
O capítulo também deixa evidente a necessidade de uma ferramenta computacional para
execução do estudo, que será proposta no próximo capítulo.
5 DESENVOLVIMENTO DE SCRIPT DE CÁLCULO
74
Capítulo 5: DESENVOLVIMENTO DE SCRIPT DE CÁLCULO 75
A função checkdata é a primeira das funções a ser executada. Tem como argumento de
entrada os dados informados pelo usuário, e realiza duas verificações:
i. Qualidade dos dados: Verifica se a configuração de eletrodo informada está de
acordo com as cinco opções possíveis, e se os demais dados são numéricos;
ii. Faixa de aplicação: Verifica se os dados numéricos estão dentro da faixa de
aplicação do modelo.
O resultado da verificação é apresentado na janela de comando do MATLAB.
Caso seja identificado algum problema de qualidade ou algum parâmetro fora da faixa
de aplicação, o parâmetro inválido é indicado e a execução do script é interrompida.
Capítulo 5: DESENVOLVIMENTO DE SCRIPT DE CÁLCULO 76
Como exemplo, foram criados seis painéis fictícios, identificados como PN-01, PN-02,
PN-03, PN-04, PN-05 e PN-06, cujos parâmetros foram livremente arbitrados apenas com o
intuito de testar e validar o script. A Figura 5.2 ilustra como se comporta a função checkdata
quando encontra dados inválidos (destacados em vermelho).
Erros de qualidade de dados são indicados com a expressão “BAD QUALITY”. Dados
fora da faixa de aplicação do modelo são indicados com a expressão “OUT OF RANGE”.
Quando é encontrado um erro de qualidade de dados, não é feita a verificação de faixa de
aplicação para o equipamento em questão.
Se forem encontrados erros, o usuário deve corrigi-los na planilha que contém os dados
de entrada e reiniciar o script. Se todos os dados forem válidos, a função checkdata indicará
“OK” na última coluna de cada linha, conforme Figura 5.3, e o script prosseguirá a sua execução
normalmente.
Os dados de entrada devem ser preenchidos numa planilha em formato Microsoft Excel,
salva no diretório de trabalho do MATLAB com o nome “SystemInfo.xlsx”.
A primeira linha da planilha (cabeçalho) deve conter os nomes dos parâmetros que serão
lidos pelo script, conforme indicado na Figura 5.4. Deve-se atentar ao fato de que o MATLAB
é case sensitive, i.e., é sensível a maiúsculas e minúsculas.
A partir da segunda linha, devem ser informados os parâmetros de cada ponto a ser
estudado. A descrição dos parâmetros se encontra no Quadro 5.2.
Parâmetro Descrição
Name Campo livre, deve conter a identificação do equipamento ou compartimento.
Config Código de configuração de eletrodo, em letras maiúsculas, conforme 4.3.1.3.
Voc_kV Tensão de circuito aberto do sistema, em kV.
Ibf_kA Corrente de falta franca trifásica, em kA.
Gap_mm Espaçamento entre eletrodos, em mm.
WkD_mm Distância de trabalho, em mm.
H_mm Altura do invólucro, em mm.
W_mm Largura do invólucro, em mm.
D_mm Profundidade do invólucro, em mm.
Feito isto, o script solicitará que o usuário preencha as durações de arco na planilha
“Iarc.xlsx” e aguardará seu comando para continuar os cálculos.
Nesta etapa, o usuário deverá avaliar e preencher a duração de arco para cada corrente
de arco calculada. Os valores devem ser inseridos na planilha “Iarc.xlsx”, numa coluna
identificada com o cabeçalho “T_ms” em cada uma das abas (“IarcMax” e “IarcMin”),
conforme Figura 5.6.
Após salvar o arquivo, o usuário deverá efetuar um comando “enter” para dar
continuidade à execução do script, retomando a sequência de cálculos até o final.
Quadro 5.3 – Validação 1: Resultados com Iarcmax (Anexo D da IEEE Std 1584-2018).
Name E.C. Voc [kV] Iarc [kA] Tarc [ms] E [J/cm2] E [cal/cm2] AFB [mm]
AnnexD1 VCB 4,16 12,979 197 12,152 2,904 1.606
AnnexD2 VCB 0,48 28,793 61,3 11,585 2,769 1.029
Na Figura 5.9 constam os resultados obtidos pelo script. Pode-se verificar que os
resultados são precisamente os mesmos.
Quadro 5.4 – Validação 1: Resultados com Iarcmin (Anexo D da IEEE Std 1584-2018).
Name E.C. Voc [kV] Iarc [kA] Tarc [ms] E [J/cm2] E [cal/cm2] AFB [mm]
AnnexD1 VCB 4,16 12,675 223 13,343 3,189 1.704
AnnexD2 VCB 0,48 25,244 319 53,156 12,704 2.669
Finalmente, na Figura 5.10 constam os resultados obtidos pelo script, chegando aos
mesmos valores do exemplo da norma.
Este exemplo da norma é bastante útil, porém limitado, pois apenas a configuração de
eletrodo VCB é avaliada.
Visando validar o script com uma gama mais ampla de parâmetros, foi realizada a
comparação dos resultados obtidos pelo script desenvolvido com os resultados de um software
comercial.
O aplicativo ArcAdvisor [42] é uma ferramenta online que realiza o cálculo da energia
incidente e do limite de aproximação segura pelo método IEEE Std 1584-2018, desenvolvido
pela empresa canadense ARCAD INC.
Não é necessário nenhum tipo de instalação, o aplicativo é acessado pelo navegador de
internet. Uma imagem da página inicial do ArcAdvisor é apresentada na Figura 5.11.
Os dados devem ser informados através de formulários online, e após a execução dos
cálculos, os resultados podem ser visualizados no próprio navegador ou ser exportados em
formato texto. Ao contrário do script desenvolvido, em que uma grande quantidade de cálculos
pode ser facilmente realizada em função da facilidade de manipulação de dados através de
planilhas do Microsoft Excel, o ArcAdvisor é mais adequado para cálculos pontuais.
O ArcAdvisor requer uma licença válida para utilização completa dos seus recursos
(incluindo cálculos em média tensão). Para o desenvolvimento deste trabalho, uma licença
temporária de avaliação foi gentilmente cedida pela ARCAD INC.
Capítulo 5: DESENVOLVIMENTO DE SCRIPT DE CÁLCULO 82
Para esta validação, foram escolhidos três níveis de tensão de circuito aberto (13,8, 4,16
e 0,48 kV), e para cada um destes níveis foi realizado o cálculo para as cinco opções possíveis
de configuração de eletrodo. Os demais parâmetros foram arbitrados, dando-se preferência para
valores típicos, quando existentes, conforme Figura 5.12.
As durações de arco arbitradas foram 150 ms para a corrente de arco máxima e 300 ms
para a corrente de arco mínima.
Capítulo 5: DESENVOLVIMENTO DE SCRIPT DE CÁLCULO 83
O Quadro 5.5 apresenta os resultados obtidos pelo ArcAdvisor para os sistemas elétricos
fictícios propostos, considerando as correntes de arco máximas.
Name E.C. Voc [V] Iarc [kA] Tarc [s] E [cal/cm2] AFB [mm]
HV1 VCB 13.800 14 0,15 2,5 1.466
HV2 VCBB 13.800 14,33 0,15 4,3 1.951
HV3 HCB 13.800 13,55 0,15 5,8 2.358
HV4 VOA 13.800 12,65 0,15 2,1 1.298
HV5 HOA 13.800 13,31 0,15 4,9 2.152
MV1 VCB 4.160 17,21 0,15 2,9 1.609
MV2 VCBB 4.160 17,85 0,15 4,4 1.938
MV3 HCB 4.160 17,57 0,15 6,8 2.502
MV4 VOA 4.160 16,53 0,15 1,8 1.202
MV5 HOA 4.160 16,87 0,15 5,1 2.196
LV1 VCB 480 21,46 0,15 5,3 1.546
LV2 VCBB 480 23,72 0,15 7,1 1.625
LV3 HCB 480 20,76 0,15 9,6 1.696
LV4 VOA 480 18,48 0,15 2,5 966
LV5 HOA 480 15,5 0,15 4,7 1.206
O Quadro 5.6 apresenta os resultados obtidos pelo ArcAdvisor para os sistemas elétricos
fictícios propostos, considerando as correntes de arco mínimas.
Name E.C. Voc [V] Iarc [kA] Tarc [s] E [cal/cm2] AFB [mm]
HV1 VCB 13.800 13,83 0,3 5,1 2.301
HV2 VCBB 13.800 14,06 0,3 8,7 2.958
HV3 HCB 13.800 13,4 0,3 11,4 3.543
HV4 VOA 13.800 12,44 0,3 4,2 2.061
HV5 HOA 13.800 12,89 0,3 8,8 3.094
MV1 VCB 4.160 16,81 0,3 5,7 2.453
MV2 VCBB 4.160 17,46 0,3 8,9 2.909
MV3 HCB 4.160 17,1 0,3 13,2 3.703
MV4 VOA 4.160 16,23 0,3 3,8 1.955
MV5 HOA 4.160 16,28 0,3 10,1 3.344
LV1 VCB 480 18,81 0,3 9,4 2.204
LV2 VCBB 480 20,92 0,3 12,2 2.195
LV3 HCB 480 17,9 0,3 16,5 2.212
LV4 VOA 480 16,26 0,3 4,4 1.377
LV5 HOA 480 13,35 0,3 8 1.581
Um dos poucos livros que abordam o método IEEE Std 1584-2018, é o “Arc Flash
Hazard – Analysis and Mitigation – 2nd Edition” [43], de J.C. Das, publicado em 2021.
Este livro apresenta um exemplo numérico, indicado na Figura 5.15.
Figura 5.15 – Validação 3: Resultados do exemplo numérico publicado por Das [43].
Por fazer uso de uma planilha do Microsoft Excel como meio de entrada de dados, o
script desenvolvido oferece certa facilidade para a realização de análise de sensibilidade das
variáveis envolvidas no cálculo de energia incidente. Assim, para se analisar o efeito da
variação de certo parâmetro dentro de uma faixa de valores de interesse, basta preencher a
planilha considerando cada linha como um ponto da curva e executar o script, que irá realizar
o cálculo completo de energia incidente para cada ponto, e o resultado poderá ser utilizado para
gerar gráficos em qualquer aplicativo da preferência do usuário.
Esta flexibilidade não é comum nos aplicativos comerciais, pois estes são concebidos
para determinar pontualmente a energia incidente (E) e o limite de aproximação segura (AFB),
calculada apenas na distância de trabalho (D).
Nesta parte da pesquisa, o script será aplicado como ferramenta para se estudar e melhor
compreender a influência dos parâmetros do modelo matemático no resultado da energia
incidente.
87
Capítulo 6: ANÁLISES DE SENSIBILIDADE 88
Alguns comportamentos do arco elétrico podem ser verificados com base nestes
resultados:
• O invólucro tem um efeito amplificador da energia incidente, fato que pode ser
verificado comparando-se as configurações cujos eletrodos estão na mesma posição,
mas com a diferença de estarem ou não dentro de um invólucro.
o EVOA < EVCB (eletrodos verticais: sem invólucro vs. com invólucro);
o EHOA < EHCB (eletrodos horizontais: sem invólucro vs. com invólucro).
• As configurações horizontais resultam em energia incidente maior do que as
configurações verticais, com base no fato de que o arco elétrico “caminha” para as
pontas do eletrodo, se afastando da fonte.
o EVCB < EHCB (eletrodos com invólucro: verticais vs. horizontais);
o EVOA < EHOA (eletrodos sem invólucro: verticais vs. horizontais).
• Uma barreira isolante posicionada ao final dos eletrodos tende a canalizar a energia
do arco para a direção do trabalhador exposto, aumentando a energia incidente com
relação à configuração sem barreira isolante, mas não chegando ao nível de energia
incidente dos eletrodos horizontais.
o EVCB < EVCBB < EHCB (eletrodos com invólucro).
• Tomando como referência a configuração de menor energia incidente (VOA),
verifica-se que a simples modificação da posição do eletrodo para horizontal (HOA)
tem um efeito mais importante do que a inclusão do mesmo num invólucro (VCB).
o EVOA < EVCB < EHOA (posição vs. invólucro).
É importante ressaltar que a modelagem considera a energia incidente a uma distância
de trabalho posicionada em frente ao equipamento.
Capítulo 6: ANÁLISES DE SENSIBILIDADE 89
Com este recurso, o usuário pode, por exemplo, definir a maior duração de arco que
resulta numa energia incidente que é adequada à Classificação de Arco dos EPIs disponíveis
para a realização de um determinado serviço. Com a duração de arco, pode-se determinar o
tempo de ajuste da proteção.
Com este tipo de gráfico, o usuário pode avaliar qual a Classificação de Arco necessária
para se realizar um serviço mais próximo da fonte do arco do que a distância de trabalho
padronizada, e até que distância um trabalhador estará protegido com os EPIs disponíveis.
Distâncias menores do que 305 mm estão fora do escopo da norma, pois supõe-se que
a nuvem de plasma pode se expandir até uma distância de 12 polegadas (305 mm) do centro do
arco. Pelo gráfico pode-se notar que, à medida que se vai ao encontro da fonte do arco, a
tendência exponencial indica que valores intoleráveis de energia incidente seriam atingidos para
distâncias pouco abaixo de 305 mm.
Quanto maior a abertura (ou o invólucro), menor a energia incidente, fazendo com que
o resultado se aproxime do valor obtido com a configuração do eletrodo sem invólucro.
Figura 6.6 – Influência da tensão (0,208 ≤ Voc ≤ 0,6 kV) na variação de corrente de arco.
A Figura 6.7 mostra a mínima corrente de arco para sistemas com Voc > 0,6 kV (VCB,
Ibf = 10 kA, G = 152 mm).
Figura 6.7 – Influência da tensão (0,6 < Voc ≤ 15 kV) na variação de corrente de arco.
Pode-se verificar que, à medida que a tensão de circuito aberto do sistema aumenta, o
valor da mínima corrente de arco se aproxima do valor máximo, sendo muito pequena a
diferença nos sistemas de 13,8 kV. Na edição de 2002 da IEEE Std 1584, a relação era fixa em
85%.
Capítulo 6: ANÁLISES DE SENSIBILIDADE 93
• Duas colunas de entrada (A e B), do tipo CDC, com entrada de cabos pelos
compartimentos inferiores, onde ficam os TCs. Os compartimentos intermediários
contam com disjuntores abertos (tipo PCB) extraíveis, e os compartimentos
superiores abrigam a parte de comando com IEDs de proteção;
94
Capítulo 7: ESTUDO DE CASO 1 – CORRENTE CONSTANTE 95
• Uma coluna de interligação (C), do tipo CDC, com disjuntor aberto (tipo PCB)
extraível no compartimento intermediário, que faz a conexão entre os lados A e B
do barramento de força. O compartimento superior abriga o IED de proteção;
• Duas colunas de transição entre as barras das colunas centrais (do tipo CDC) com
as barras das colunas laterais (do tipo CCM), que possuem profundidades diferentes;
• Quatro colunas de saída, do tipo CCM, cujas unidades funcionais (gavetas dos TPs50
e dos demarradores das cargas) são extraíveis, e as seções de saídas de cabos não
possuem compartimentação interna.
As entradas são alimentadas por dois transformadores de 300 kVA (TF-01A e TF-01B),
que por sua vez estão conectados na média tensão a dois painéis de 13,8 kV (PN-01A e PN-
01B), que recebem energia de alimentadores independentes (A e B), conforme Figura 7.2.
50
TP: Transformador de Potencial.
Capítulo 7: ESTUDO DE CASO 1 – CORRENTE CONSTANTE 96
e e e e
d d
c c
b b b
d d
c c
d d d d
d d d d
a a
d d d d
51
AFD: Arc-Flash Detection (dispositivo ou função de “detecção de arco”).
Capítulo 7: ESTUDO DE CASO 1 – CORRENTE CONSTANTE 97
Onde:
(a) Compartimento de cabos de entrada;
(b) Compartimento de dispositivos (DJs), tipo CDC;
(c) Compartimento de dispositivos (TPs), tipo CCM, altura aprox. 300 mm;
(d) Compartimento de dispositivos (Demarradores), tipo CCM, altura aprox. 150 mm;
(e) Compartimento de cabos de saída.
Ao contrário dos valores típicos sugeridos pela norma, indicados no Quadro 4.1, devido
ao formato das garras dos demarradores, verificou-se um espaçamento maior nos
compartimentos do tipo CCM, em comparação aos compartimentos do tipo CDC.
Neste estudo de caso, a corrente de curto-circuito franca foi obtida através da memória
de cálculo do estudo de curto-circuito realizado pela empresa projetista da subestação, cujo
valor presumido corresponde a 10,51 kA na entrada do PN-02.
Onde:
(a) Modo “LA”: DJ-01A e DJ-01C fechados e DJ-01B aberto;
(b) Modo “I-I”: DJ-01A e DJ-01B fechados e DJ-01C aberto (modo preferencial);
(c) Modo “LB”: DJ-01B e DJ-01C fechados e DJ-01A aberto.
Não é admitida a operação contínua com os transformadores em paralelo, o que visa
limitar a corrente de curto-circuito da barra. Somente é admitido o paralelismo momentâneo
para a transferência de alimentadores.
Capítulo 7: ESTUDO DE CASO 1 – CORRENTE CONSTANTE 101
A definição dos cenários de falha consiste em estabelecer, para cada modo de operação
(conforme 7.3.2.2), os possíveis locais de ocorrência de arco. A combinação desses elementos
dá origem a um cenário, para o qual deve ser avaliada a atuação do esquema de proteção.
Genericamente, nos compartimentos que não possuem dispositivo de manobra (cabos e
barras) apenas um ponto de falha pode ser considerado, enquanto nos compartimentos que
possuem dispositivo de manobra (disjuntores e gavetas), pode-se considerar como situações
distintas a ocorrência de arco em cada lado do dispositivo.
Uma vez definidos cada um dos cenários, verifica-se quais sensores de luz e corrente
serão sensibilizados, quais relés operarão e qual o disjuntor será responsável por extinguir o
arco. Para esta análise, é necessário consultar o diagrama funcional exibido na Figura 7.8 e
conhecer a posição exata de instalação dos sensores no equipamento real.
O PN-02 foi projetado para que a proteção contra arco elétrico seja realizada pelo
esquema com relés de arco dedicados (AFD-2A e AFD-2B). Estes relés estão configurados para
trip mediante pickup de luz e corrente. Cabe ressaltar que, nos relés de arco, o pickup de
corrente se destina apenas à confirmação da ocorrência de arco de modo a evitar trips espúrios
pela sensibilização indevida das fibras ópticas sem o concomitante aumento de corrente. Trips
espúrios podem ocorrer pelo ajuste incorreto da sensibilidade do sensor de luz, fazendo com
que o relé opere, por exemplo, com a luz ambiente da subestação.
Uma situação especial ocorre quando o sistema operar em modo “LA” ou “LB”. Caso
um arco ocorra na “meia barra” oposta ao lado do transformador que está alimentando o
sistema, o relé de arco que detectará a luz não será o mesmo que detectará a corrente. Para que
haja atuação eficaz da proteção, os relés aplicados possuem ainda uma funcionalidade chamada
de Optolink. Trata-se de uma conexão rápida (via fibra óptica de comunicação) entre os dois
relés de arco que permite compartilhar eventos de pickup, da seguinte forma:
• Quando um relé detectar a luz, pode enviar sinal de pickup de luz via Optolink para
outro relé de arco que está ligado ao TC que perceberá o aumento de corrente, dando
condições para que ele opere; ou,
• Quando um relé detectar aumento de corrente, pode enviar sinal de pickup de
corrente via Optolink para outro relé de arco que está ligado à fibra que perceberá a
luz do arco, dando condições para que ele opere.
Enquanto num esquema de proteção convencional, baseado em corrente e tensão, o
conceito de zona de proteção está relacionado ao local de instalação dos TCs e TPs, num
esquema de proteção contra arco elétrico, além do local de instalação do TC responsável pela
confirmação de corrente, este conceito também abrange o local físico de instalação dos sensores
de luz. Esta não é uma informação que habitualmente consta nos diagramas unifilares e
funcionais, podendo ser necessário realizar uma verificação de campo.
Apenas para fins de desenvolvimento da metodologia, considerando que os
alimentadores A e B podem possuir diferentes níveis de curto-circuito, a combinação dos
diferentes tipos de compartimentos, com o local de ocorrência do arco dentro dos mesmos e
com os três modos de operação deram origem a 28 cenários.
O Quadro 7.2 apresenta os cenários de falha, indicando os sensores de luz e corrente
que serão sensibilizados, os dispositivos de proteção que irão operar e o disjuntor responsável
pela extinção do arco em cada cenário.
Capítulo 7: ESTUDO DE CASO 1 – CORRENTE CONSTANTE 103
52
GOOSE: Generic Object Oriented Substation Event (Norma IEC 61850).
Capítulo 7: ESTUDO DE CASO 1 – CORRENTE CONSTANTE 104
Apesar dos múltiplos cenários possíveis, algumas características como o mesmo nível
de curto-circuito, mesma especificação, parâmetros e diagrama funcional para o lado A e B
simplificam a análise prática para alguns poucos cenários, sumarizados no Quadro 7.3.
A aplicação de relés de arco facilita o estudo de energia incidente pois seu tempo de
operação é predeterminado, podendo ser conhecido antes mesmo do cálculo da corrente de arco.
Um fato que chama a atenção é o emprego de relés de bloqueio eletromecânicos em
todos os circuitos de trip. O uso destes dispositivos adiciona atrasos na operação da proteção,
que não podem ser negligenciados no estudo. Para facilitar a análise, na Figura 7.8 foram
indicados os tempos de operação de cada dispositivo que está na linha de comando de trip. O
tempo de atraso das mensagens GOOSE foi considerado desprezível.
Para o sistema estudado, com exceção dos compartimentos de cabos e de disjuntores de
entrada, a ocorrência de arco em qualquer outro ponto do conjunto de manobra implicará no
mesmo tempo de operação do sistema, independentemente do modo de operação. Assim, a
energia incidente se diferenciará apenas pelas características construtivas dos compartimentos,
e pela distância de trabalho considerada.
O script possui duas etapas de cálculos. Após a inicialização, a primeira etapa vai até o
cálculo de Iarc. Neste momento, há uma pausa na execução para avaliação das durações de arco.
Quando os valores de Tarc forem inseridos e salvos na planilha, a segunda etapa pode ser
iniciada, indo até o cálculo de E e AFB, conforme Figura 7.10.
7.4.2 Passo-a-passo
Uma vez finalizado o levantamento de dados, a planilha com os dados de entrada foi
preparada com os valores indicados na Figura 7.11.
Para os cenários onde há operação dos relés de arco, as durações de arco já puderam ser
determinadas antes mesmo do cálculo das correntes de arco. Resta determinar as durações de
arco do cenário que depende da proteção sobrecorrente (“Cabos_Entrada”).
O Quadro 7.4 apresenta as correntes de arco referidas ao primário dos transformadores,
indicando que nos dois casos há sensibilização dos elementos de sobrecorrente (pickup de 225
A), que apresentam um atraso intencional de 700 ms (tempo definido), em função de critérios
de seletividade cronológica aplicados. Deve-se adicionar também o tempo de operação do
contato de trip dos IEDs, e o tempo de operação dos relés de bloqueio.
Capítulo 7: ESTUDO DE CASO 1 – CORRENTE CONSTANTE 107
As durações de arco foram então inseridas nas respectivas planilhas para o cálculo da
energia incidente pelo script, conforme Figura 7.13.
Quadro 7.5 – PN-02: Comparativo IEEE Std 1584-2002 vs. IEEE Std 1584-2018.
Chama atenção o fato de que o estudo executado de acordo com a Edição de 2002,
apresenta apenas um resultado para todo o conjunto de manobra e comando, enquanto o estudo
pela Edição de 2018 apresenta resultados diferentes para os diversos compartimentos, o que é
uma abordagem mais coerente, pois leva em consideração os aspectos construtivos que
influenciam na maneira com que a energia térmica incide sobre um trabalhador exposto. Uma
avaliação por compartimento contribui para evitar lacunas perigosas como a interpretação de
que todos os compartimentos têm o mesmo risco. No sistema em questão, pode-se afirmar que
o nível de energia incidente calculado pela Edição de 2002 não é válido para o compartimento
de cabos de entrada, pois este não conta com a proteção de arco no seu modo normal de
operação (luz e corrente).
Nota-se um acréscimo significativo de energia incidente dos compartimentos aos quais
foi atribuída configuração de eletrodo horizontal. O modelo da Edição de 2002 foi estabelecido
apenas com ensaios de eletrodos na posição vertical, subestimando a energia incidente de
compartimentos com eletrodos posicionados horizontalmente, como visto neste estudo de caso.
O maior detalhamento dos resultados, por compartimento, não deve se traduzir em
dificuldade para a gestão de segurança. As orientações para o pessoal de operação e manutenção
devem ser simples. Para o sistema deste estudo de caso, por exemplo, uma vestimenta de
proteção de uso diário com Classificação de Arco superior ao pior caso (8,3 cal/cm2) atenderia
a uma intervenção neste equipamento (evidentemente, o conjunto deve ser complementado com
outros EPIs, conforme análise de riscos). A título de comparação, pelo Método da Categoria de
EPI (discutido em 3.4.3.3), que dispensa a realização de qualquer cálculo, o EPI recomendado
para a intervenção neste conjunto de manobra e comando seria Categoria 4, conforme a tabela
130.7(C)(15)(a) da NFPA 70E-2021, apresentada no Anexo A.2.
Capítulo 7: ESTUDO DE CASO 1 – CORRENTE CONSTANTE 109
Alguns tipos de fontes fornecem uma corrente de curto-circuito simétrica eficaz que é
máxima imediatamente após o início do evento, decaindo com o decorrer do tempo. Esta
característica é conhecida como decremento CA.
Neste capítulo, será realizada uma breve revisão da literatura a respeito do decremento
CA e das técnicas válidas para aplicar o método IEEE Std 1584-2018 considerando correntes
variáveis.
Existem quatro tipos básicos de fontes de curto-circuito num sistema industrial [44]:
110
Capítulo 8: DECREMENTO CA APLICADO AO ESTUDO DE ENERGIA INCIDENTE 111
Figura 8.1 – Contribuições simétricas típicas de vários tipos de fontes – Adaptado de [30].
Apesar de ter desenvolvido um modelo matemático que considera como dado de entrada
uma corrente de curto-circuito constante ao longo da duração de arco, a IEEE Std 1584-2018
alerta que as contribuições decrescentes devem ser consideradas.
No entanto, a norma não apresenta diretrizes de como realizar esta simulação dinâmica.
Este problema é abordado por Das [43], que discute três possibilidades de se realizar este
estudo, ilustradas na Figura 8.2.
A primeira, conforme Figura 8.2 (a), desconsidera o decremento CA, calculando a
energia incidente com todas as contribuições constantes (e máximas) até a interrupção da
proteção. É a maneira mais simples de ser implementada, porém leva a resultados
conservadores.
A segunda, conforme Figura 8.2 (b), considera contribuições constantes, mas reduz em
degrau a contribuição do gerador a partir de certo momento, e limita a duração da contribuição
dos motores. Uma das dificuldades desta técnica é a definição do momento de se aplicar o
degrau nas contribuições, que é cercada de incertezas.
A terceira, conforme Figura 8.2 (c), mostra uma visão conceitualmente mais coerente,
considerando a teoria do decremento CA das máquinas rotativas.
Capítulo 8: DECREMENTO CA APLICADO AO ESTUDO DE ENERGIA INCIDENTE 113
Considerando que a energia incidente (E) é de alguma forma proporcional à área sob a
curva “TOTAL”, pode-se admitir que E(a) > E(b) > E(c), sendo o caso (c) o mais próximo do real.
Cabe ressaltar que, nestes exemplos, o momento do trip do gerador foi aparentemente o mesmo
para os três casos, ou seja, a redução de corrente introduzida nos exemplos (b) e (c) não afetou
o tempo de operação da proteção, agindo como uma proteção de tempo definido. Como já visto,
isto nem sempre é verdade, em função das proteções de sobrecorrente com curva do tipo tempo
inverso.
Alguns softwares comerciais, como o módulo Arc Flash do SKM Power*Tools (PTW),
oferecem a possibilidade de implementar a estratégia conforme Figura 8.2 (b). A Figura 8.3
apresenta a tela de opções do aplicativo, onde é possível configurar o valor da contribuição
reduzida (em % da corrente nominal) e o momento de aplicar o degrau (em ciclos) para
geradores e motores síncronos, e a duração (em ciclos) da contribuição de motores de indução.
Não se tem conhecimento de software comercial que calcule a energia incidente
conforme Figura 8.2 (c) [43].
Capítulo 8: DECREMENTO CA APLICADO AO ESTUDO DE ENERGIA INCIDENTE 114
Para o cálculo de energia incidente considerando o decremento CA, Das [43] propõe
um algoritmo constituído das etapas:
i. Traçar as curvas de contribuição (com decremento CA) das máquinas rotativas;
ii. Ajustar o gráfico para indicar o tempo de operação das proteções;
iii. Dividir o gráfico em segmentos de tempo apropriados;
iv. Estimar a corrente média em cada segmento;
v. Calcular a energia incidente em cada segmento com a corrente média;
vi. Somar a energia de todos os segmentos.
Segundo Das [43], a escolha da duração de cada segmento é arbitrária, entretanto, é
recomendado que os segmentos sejam menores quando o decaimento das contribuições for mais
acentuado.
O autor apresenta como exemplo um sistema onde há contribuições da concessionária,
de um gerador síncrono e de motores de indução, ilustrado na Figura 8.4.
Para este exemplo, o autor sugeriu dividir a análise nos seguintes segmentos:
• 0,001 – 0,010 s;
• 0,010 – 0,100 s;
• 0,100 – 0,500 s (no exemplo, a duração do arco era exatamente 500 ms).
Capítulo 8: DECREMENTO CA APLICADO AO ESTUDO DE ENERGIA INCIDENTE 115
A IEEE Std 1584-2018 não esclarece qual método de simulação dinâmica é aplicável
para o cálculo da energia incidente em sistemas com múltiplas fontes ou com correntes
variáveis. Deste modo, faz-se necessário avaliar a aplicabilidade e a exatidão de algumas
técnicas para a solução destes sistemas.
A Figura 8.5 apresenta no caso (a) uma corrente de falta franca de 20 kA, com uma
duração de arco de 500 ms. Os outros casos apresentam a mesma corrente segmentada em (b)
2 intervalos de 250 ms, (c) 5 intervalos de 100 ms e (d) 20 intervalos de 25 ms.
A energia incidente total (Etot) foi calculada como a soma da energia incidente dos
segmentos (EΔt). Foram utilizados parâmetros arbitrários (13,8 kV, VCBB, invólucro 1143 ×
762 × 762 mm, G = 152 mm, D = 914,1 mm). O Quadro 8.1 mostra os resultados.
Considerando o caso (a) como o valor correto, pode-se verificar que nos demais casos
se obteve o mesmo valor de energia incidente, confirmando a validade desta técnica, que é
coerente com a já discutida relação linear entre a duração de arco e a energia incidente.
Entretanto, verifica-se que a técnica não é válida para o cálculo do limite de
aproximação segura. A relação não linear entre a energia incidente e a distância faz com que
sejam introduzidos erros, que aumentam com a quantidade de segmentos utilizados.
Capítulo 8: DECREMENTO CA APLICADO AO ESTUDO DE ENERGIA INCIDENTE 117
A energia incidente (E) de arco elétrico não é calculada diretamente a partir da corrente
de falta franca (Ibf), que é um dado de entrada do modelo matemático, mas a partir da corrente
de arco (Iarc), que é um dado calculado, além de outros parâmetros.
Os dados dos ensaios realizados pelo grupo de trabalho da IEEE Std 1584-2018
demonstraram que a relação entre a corrente de arco (Iarc) e a corrente de falta franca (Ibf) não
pode ser considerada linear devido às variações de impedância do sistema. A Figura 8.6
apresenta a relação Iarc/Ibf para diferentes valores de Ibf, em que se pode verificar que a relação
Iarc/Ibf diminui à medida que aumenta o valor de Ibf.
Figura 8.7 – Iarc em função de Ibf, para tensões de 13.800, 4.160 e 480 V.
Capítulo 8: DECREMENTO CA APLICADO AO ESTUDO DE ENERGIA INCIDENTE 118
Uma implicação desta relação não linear entre a corrente de falta franca e a corrente de
arco é que a energia incidente resultante de um sistema em que a corrente de falta franca é
continuamente decrescente não pode ser calculada com exatidão a partir do valor médio desta
corrente. A título de exemplo, foi avaliada uma corrente de curto-circuito com decaimento,
discretizada em segmentos de curta duração (0,1 ms), de modo a se aproximar do perfil contínuo
da corrente real, indicada na Figura 8.8. Na mesma figura também é apresentado o gráfico com
a corrente média equivalente, calculada a partir da integral da corrente com decaimento,
dividida pela duração total do evento (6 ciclos).
A energia incidente calculada pela soma das parcelas de energia incidente de cada
segmento da corrente com decaimento é 4,54 cal/cm2, enquanto a energia incidente calculada
pela corrente média equivalente é 5,16 cal/cm2. Em ambos os casos foram utilizados parâmetros
arbitrários (480 V, VCBB, invólucro 508 × 508 × 508 mm, G = 32 mm, D = 609,6 mm).
Para ilustrar esta constatação com um exemplo numérico, a Figura 8.9 apresenta um
sistema arbitrário (480 V, VCBB, invólucro 508 × 508 × 508 mm, G = 32 mm, D = 609,6 mm,
Tarc = 200 ms), com duas fontes que contribuem com correntes de curto-circuito Ibf1 = 20 kA e
Ibf2 = 80 kA, ambas consideradas constantes.
Figura 8.9 – Comparação entre a resolução pela corrente total e por superposição.
O Quadro 8.2 apresenta os cálculos da resolução pela corrente total (a), e pelo método
da superposição (b).
Quadro 8.2 – Comparação entre a resolução pela corrente total e por superposição.
Calcular as contribuições de Iarc proporcionais Calcular a energia incidente total pela soma das
às contribuições de Ibf: energias parciais:
2ª etapa %IbfTot → %IarcTot → Iarc
1: 20% → 20% → 9,3 kA Etot = E1 + E2 = 24,2 cal/cm2
2: 80% → 80% → 37,4 kA
Este capítulo fez uma síntese sobre o decremento CA, e discutiu a forma de considerá-
lo num estudo de energia incidente. Também avaliou a aplicabilidade de algumas técnicas de
análise de circuitos ao cálculo de energia incidente. Em suma:
• A segmentação (no tempo) de uma corrente de falta franca é válida para o cálculo
de energia incidente;
• O cálculo da energia incidente pelo valor médio de uma corrente variável introduz
erro que aumenta na medida que aumenta a variação da corrente no segmento. Esta
técnica pode ser utilizada com a adequada escolha dos segmentos em que ela será
aplicada, visando minimizar o erro;
• A superposição de fontes introduz erro no cálculo de energia incidente, da mesma
maneira que o cálculo pelo valor médio da corrente, em função da relação não linear
entre a corrente de falta franca e a corrente de arco. Não é possível minimizar o erro
inserido por esta técnica, portanto ela não deve ser aplicada;
• Nenhuma das técnicas discutidas é válida para o cálculo do limite de aproximação
segura.
Estas conclusões serão utilizadas no desenvolvimento da metodologia aplicada no
próximo estudo de caso.
9 ESTUDO DE CASO 2 – DECREMENTO CA
O sistema escolhido para o estudo de caso é uma subestação industrial de uma Unidade
de Craqueamento Catalítico Fluido de Resíduo (URFCC) de uma refinaria de petróleo.
Iniciando pela entrada de energia, relaciona-se os seguintes equipamentos, cujos dados
relevantes para o estudo constam no diagrama unifilar do Anexo C.1:
121
Capítulo 9: ESTUDO DE CASO 2 – DECREMENTO CA 122
Um sistema elétrico industrial pode ser composto por diversas subestações. A rigor, os
decaimentos de corrente se propagam através dos transformadores, contudo, sabe-se que as
impedâncias destes transformadores têm efeito atenuador ou limitador para as correntes de
curto-circuito. Além disso, computar individualmente os decrementos CA de contribuições de
curto-circuito de máquinas conectadas em barras diversas da barra em estudo pode se tornar
uma tarefa extenuante ou impraticável. Portanto, foram estabelecidos alguns critérios para
simplificar ou mesmo viabilizar o estudo de caso:
O decremento CA de um gerador síncrono pode ser descrito pela equação (9.1) [43].
F F
E && E &
𝑖ac = (𝑖dDD − 𝑖dD ) ∙ 𝑒 Gd
+ (𝑖dD − 𝑖d ) ∙ 𝑒 Gd
+ 𝑖d (9.1)
Onde:
𝐸 DD
𝑖dDD = (9.2)
𝑋dDD
Onde:
Onde:
𝐸D
𝑖dD = (9.4)
𝑋dD
Onde:
𝑉a 𝑖F
𝑖d = ∙O P (9.6)
𝑋d 𝑖Fg
Onde:
Figura 9.2 – Curvas de decremento dos geradores – Gerada a partir dos parâmetros.
Capítulo 9: ESTUDO DE CASO 2 – DECREMENTO CA 127
+JF
𝐸 E &&
Gd
𝑖ac = ∙ 𝑒 (9.7)
𝑋dDD
Onde:
Pode-se notar que os motores de menor porte, que possuem as menores constantes de
tempo (Td"), apresentam uma queda acentuada na contribuição, que se torna praticamente nula
em 2 ciclos. Nos motores de médio porte, a contribuição de curto pode ser considerada
desprezível após 4-6 ciclos, e nos motores de maior porte, raramente a contribuição é
significativa após 8 ciclos [43].
Com exceção das grandes máquinas, cujo impacto no sistema elétrico é significativo e
costumam ser modeladas individualmente, as máquinas de pequeno e médio portes, muito mais
numerosas, geralmente são modeladas de forma agrupada e por valores típicos.
A partir da Figura 9.3, pode-se sugerir valores típicos de Td" de acordo com a faixa de
potência de motores que normalmente são agrupados nos mesmos conjuntos de manobra e
comando, conforme indicado no Quadro 9.2.
No Estudo de Caso 1 (Capítulo 7), havia uma única fonte de curto-circuito em cada
cenário e a corrente de falta franca era constante, proporcionando uma simplicidade na
execução dos cálculos de energia incidente, que pode ser verificado pelo fluxograma de
execução do script da Figura 7.10.
O Estudo de Caso 2, por outro lado, apresenta uma situação mais complexa, que é a
presença de mais de uma fonte contribuindo para o arco elétrico, além do fato que em algumas
destas contribuições será considerado o decremento CA. Isto implicará em etapas adicionais na
análise, representadas no fluxograma da Figura 9.5.
A parte mais trabalhosa neste processo é determinar a curva da corrente de falta franca
considerando as atuações das proteções de cada fonte. Para isto, deve-se primeiro modelar Ibf
sem a atuação do sistema de proteção, calcular Iarc e decompor esta última em componentes,
sendo que a proporção destas componentes em relação a Iarc total deve ser a mesma que a
proporção das componentes de Ibf em relação a Ibf total. O script então deve ser reiniciado, tendo
como dado de entrada a curva de Ibf considerando a atuação do sistema de proteção. Como a
duração de arco de cada passo de simulação foi predefinida em 1 ms, e a curva de Ibf já
representa as atuações das proteções, não é necessário avaliar novamente as durações de arco,
podendo-se dar continuidade ao script assim que ele calcular as correntes de arco, para finalizar
com o cálculo de energia incidente dos segmentos. A energia incidente final deve a soma da
energia incidente de todos os segmentos. O limite de aproximação segura de cada segmento é
calculado automaticamente pelo script, entretanto, como já comentado, estes valores não são
válidos e devem ser desprezados.
Capítulo 9: ESTUDO DE CASO 2 – DECREMENTO CA 130
9.4.2 Passo-a-passo
Para ilustrar a metodologia, o PN-01A (Figura 9.6) será utilizado como exemplo.
A Figura 9.7 apresenta as curvas das três contribuições e a sua soma (Ibf total).
Após a determinação de Ibf total, utilizar o script para calcular as correntes de arco (Iarc)
totais (máxima e mínima) de cada segmento de 1 ms. As curvas obtidas estão apresentadas na
Figura 9.8.
A corrente de arco (Iarc) total (máxima e mínima) é a corrente que flui pelo arco elétrico.
Esta corrente é a soma das contribuições das diversas fontes, que por sua vez são as correntes
que circulam pelos sistemas de proteção durante um arco elétrico, e que devem ser consideradas
para avaliação do tempo de operação dos relés com curva de tempo inverso.
Para a determinação destas contribuições, a IEEE Std 1584-2018 assume que as fontes
contribuem para a corrente de arco (Iarc) total na mesma proporção que contribuem para a
corrente de curto-circuito (Ibf) total.
Deste modo, para cada segmento de 1 ms, deve-se calcular a razão entre a magnitude
da contribuição de curto-circuito de cada fonte e a magnitude da corrente de curto-circuito (Ibf)
total (Figura 9.7), e em seguida aplicar esta razão à corrente de arco (Iarc) total (Figura 9.8) para
se estimar as contribuições de corrente de arco de cada fonte (Figura 9.9).
Como cada contribuição pode ser vista por dispositivos de proteção diferentes, a
duração de arco de cada contribuição deve ser avaliada individualmente. Esta tarefa é
relativamente simples quando o sistema de proteção é baseado em relés de arco ou de
sobrecorrente do tipo tempo definido, mas torna-se particularmente trabalhosa quando depende
de proteções do tipo tempo inverso ou ainda do tipo adaptativo.
Capítulo 9: ESTUDO DE CASO 2 – DECREMENTO CA 133
Para este caso, as curvas foram muito similares, com uma ligeira diferença provocada
pelo efeito da variação de corrente de arco na atuação da proteção do gerador (baseada em curva
de tempo inverso). Entretanto, a diferença entre as curvas pode ser significativa, dependendo
dos ajustes de proteção, principalmente em sistemas de baixa tensão.
Capítulo 9: ESTUDO DE CASO 2 – DECREMENTO CA 135
• Deve-se rodar o script com a corrente de curto-circuito (Ibf) total baseada nas
atuações de proteção provocadas por Iarcmax, e somar a energia incidente calculada
com Iarcmax de todos os segmentos para se obter Emax; e,
• Deve-se rodar o script com a corrente de curto-circuito (Ibf) total baseada nas
atuações de proteção provocadas por Iarcmin, e somar a energia incidente calculada
com Iarcmin de todos os segmentos para se obter Emin.
Neste caso, foi feita a soma da energia incidente de 394 segmentos de 1 ms cada. O
resultado obtido para Emax foi 8,62 cal/cm2 e para Emin foi 8,67 cal/cm2 (ligeiramente maior em
função da proteção de sobrecorrente do gerador). Deve ser considerado como valor final de
energia incidente o pior caso, ou seja, 8,67 cal/cm2. A Figura 9.12 apresenta a planilha com
parte dos resultados e o somatório final.
Conforme já discutido em 8.3, enquanto a soma da energia incidente (E) dos segmentos
corresponde corretamente à energia incidente total, a soma dos limites de aproximação segura
(AFB) dos mesmos segmentos não corresponde ao limite de aproximação segura real, em
função da relação não linear entre energia incidente e distância.
Na literatura, não há referências que discutam como fazer o cálculo do limite de
aproximação segura em situações com correntes variáveis como no caso do decremento CA.
No entanto, de posse do conceito de que o limite de aproximação segura é “a distância da
potencial fonte do arco elétrico na qual a energia incidente é calculada em 1,2 cal/cm2”, e que
Capítulo 9: ESTUDO DE CASO 2 – DECREMENTO CA 136
Este trabalho iterativo é facilitado pelo uso do script desenvolvido, com o qual se pode
chegar ao resultado em poucas tentativas. Uma sub-rotina para automatizar estes cálculos pode
ser desenvolvida.
Para o PN-01A, o valor do limite de aproximação segura calculado foi 2.969 mm.
Voc [kV] E [cal/cm2] AFB [mm] Voc [kV] E [cal/cm2] AFB [mm]
PN-01A 13,8 8,67 2.969 PN-01B 13,8 10,49 3.325
PN-02A 13,8 4,87 2.106 PN-02B 13,8 5,56 2.280
PN-03A 4,16 3,62 1.732 PN-03B 4,16 3,70 1.752
PN-04A 0,48 22,11 3.051 PN-04B 0,48 22,34 3.069
PN-05A 0,48 22,06 3.047 PN-05B 0,48 22,31 3.066
O Quadro 9.5 apresenta o resultado obtido em 9.4.2.6, com passo de simulação de 1 ms,
e resultado obtido pelo método proposto por Das. Ambos convergiram para o mesmo valor.
Dissertação Das
Segmento [s] Emax [cal/cm2] Segmento [s] Emin [cal/cm2]
0,001 – 0,002 0,0291 0,001 – 0,010 0,26
0,002 – 0,003 0,0290 0,010 – 0,100 2,36
... ... 0,100 – 0,307 4,77
0,393 – 0,394 0,0136 0,307 – 0,394 1,27
TOTAL (∑) 8,67 TOTAL (∑) 8,67
Tanto no método proposto por Das, quanto no método proposto nesta dissertação, as
etapas de preparação dos dados são as mesmas. A principal diferença entre os dois métodos
ocorre após a definição da corrente de falta franca no seu formato “real”, i.e, considerando as
atuações da proteção. No método proposto por Das, deve-se dividir a curva da corrente de falta
franca em poucos segmentos e estimar a corrente média em cada um deles. Isto implica num
relativo baixo esforço computacional, no entanto, é necessário uma análise cuidadosa para
escolha de segmentos convenientes a fim de minimizar a inexatidão no cálculo de energia
incidente. No método proposto nesta dissertação, as correntes são discretizadas em segmentos
de 1 ms. Isto implica num maior esforço computacional, pois é necessário um cálculo de energia
incidente completo a cada 1 ms, mas elimina a etapa analítica da definição dos segmentos e
respectivas correntes médias. Além disso, com a alta capacidade de processamento dos
computadores pessoais atuais, e com uma ferramenta de cálculo como o script desenvolvido,
milhares de cálculos de energia incidente podem ser facilmente executados em poucos
segundos. Por fim, no item 9.4.2.7, foi proposto um método iterativo para determinação do
limite de aproximação segura, o que não é mencionado no método de Das.
O Quadro 9.6 apresenta uma comparação entre os métodos.
Dissertação Das
MENOR MAIOR
Esforço
(a curva é discretizada em (requer definir segmentos convenientes e
analítico
segmentos de 1 ms) calcular suas correntes médias)
MAIOR MENOR
Esforço
(requer calcular a energia incidente (requer calcular a energia incidente
computacional
de muitos segmentos) de poucos segmentos)
Limite de
SIM NÃO
aproximação
(é proposto um método iterativo) (o autor não aborda o assunto)
segura
Capítulo 9: ESTUDO DE CASO 2 – DECREMENTO CA 139
Quadro 9.7 – Comparação entre cálculos com e sem considerar o decremento CA.
Este capítulo apresentou uma proposta de roteiro para o cálculo de energia incidente
considerando o decremento CA, com base nos conceitos discutidos no Capítulo 8. Também foi
proposta uma metodologia para o cálculo do limite de aproximação segura, que se baseou na
definição deste conceito, aliado à facilidade de realização do cálculo iterativo através do script.
Por fim, foram avaliados os impactos de se considerar ou não o decremento CA num
estudo de energia incidente, sendo que nas situações em que a contribuição das máquinas
rotativas é proporcionalmente importante, e que possuem maiores durações de arco, a aplicação
desta metodologia de avaliação pode resultar na recomendação de utilização de um EPI
otimizado para as equipes de operação e manutenção.
10 CONCLUSÃO
Este trabalho abordou o arco elétrico como fonte de perigo na indústria, iniciando com
uma revisão histórica, passando por um resumo das técnicas de gestão do risco e das tecnologias
atuais para mitigação, e tendo como foco o método proposto pela IEEE Std 1584-2018.
O modelo matemático da IEEE Std 1584-2018, por si só, intimida pela necessidade de
solução de equações extensas e pouco intuitivas, complementadas por várias tabelas com
centenas de coeficientes. Entretanto, após a conclusão do desenvolvimento do script de cálculo,
uma tarefa puramente lógica e computacional, é que a parte mais complexa do trabalho ocorre:
a aplicação do método.
O primeiro estudo de caso (Capítulo 7) demonstrou que, muito além de um mero cálculo
computacional, a avaliação da energia incidente é um estudo de proteção amplo: envolve a
busca de informações do estudo de curto-circuito, do estudo de seletividade da proteção, de
dados construtivos e até operacionais do sistema. Mais do que uma simples coleta de dados,
este processo envolve discernimento técnico para determinar adequadamente vários parâmetros
que não são muito evidentes e interpretar resultados. O estudo de caso também mostrou que há
uma relação indissociável entre os cálculos e o sistema físico, sendo necessário conhecer tanto
o esquema funcional de proteção, quanto o posicionamento dos sensores de corrente e luz
efetivamente implementado em campo, sob o risco de o estudo não corresponder à realidade, o
que é particularmente grave por estar relacionado à segurança pessoal.
O segundo estudo de caso (Capítulo 9) propôs um roteiro de estudo não somente para o
cálculo da energia incidente (E), como também para o cálculo do limite de aproximação segura
(AFB). A aplicação de um método concebido para utilizar como dado de entrada uma corrente
constante num estudo com correntes variáveis mostrou-se trabalhosa, mas possível, com o
script de cálculo desenvolvido. A elaboração deste tipo de estudo requer certo esforço adicional,
e sua aplicação deve ser ponderada pelo responsável técnico pelo estudo. Situações em que a
contribuição total das máquinas rotativas é pequena em comparação à da concessionária, ou
que a proteção de arco é muito rápida, tendem a oferecer menos ganhos em ser realizar este
estudo detalhado. Por outro lado, nas situações em que a contribuição das máquinas rotativas é
considerável, e que possuem maiores durações de arco, a aplicação desta metodologia de
avaliação pode resultar na recomendação de utilização de um EPI otimizado.
141
Capítulo 10: CONCLUSÃO 142
[1] Institute of Electrical and Electronics Engineers, IEEE Std 1584-2018 – IEEE Guide for
Performing Arc-Flash Hazard Calculations, New York: IEEE, 2018.
[2] Institute of Electrical and Electronics Engineers, IEEE Std 1584-2002 – IEEE Guide for
Performing Arc-Flash Hazard Calculations, New York: IEEE, 2002.
[3] National Fire Protection Association, NFPA 70E – Standard for Electrical Safety in the
Workplace – 2021 Edition, Quincy: NFPA, 2021.
[4] A. Anders, “Tracking Down the Origin of Arc Plasma Science II. Early Continuous
Discharges,” IEEE Transactions on Plasma Sciences, vol. 31, nº 4, pp. 1060-1069,
2003.
[5] J. Cadick, M. Capelli-Schellpfeffer e D. Neitzel, Electrical Safety Handbook, New
York: McGraw-Hill, 2005.
[6] M. Lang, T. E. Neal e R. Wilkins, “Introduction to arc flash,” em 8th International
Conference on Electric Fuses and their Applications, Clermont-Ferrand, 2007.
[7] R. H. Lee, “Pressures Developed by Arcs,” IEEE Transactions on Industry
Applications, vol. 23, nº 4, pp. 760-763, 1987.
[8] C. L. Sulzberger, “Triumph of AC - from Pearl Street to Niagara,” IEEE Power and
Energy Magazine, vol. 1, nº 3, pp. 64-67, 2003.
[9] C. L. Sulzberger, “Triumph of AC, part 2 - The battle of the currents,” IEEE Power and
Energy Magazine, vol. 1, nº 4, pp. 70-73, 2003.
[10] T. E. Browne Jr, “The Electric Arc as a Circuit Element,” Journal of The
Electrochemical Society , vol. 102, nº 1, pp. 27-37, 1955.
[11] R. H. Kaufmann e J. C. Page, “Arcing Fault Protection for Low-Voltage Power
Distribution System - Nature of the Problem,” Transactions of the American Institute of
Electrical Engineers. Part III: Power Apparatus and Systems, vol. 79, nº 3, pp. 160-165,
1960.
[12] F. J. Shields, “The Problem of Arcing Faults in Low-Voltage Power Distribution
Systems,” IEEE Transactions on Industry and General Applications, vol. 3, nº 1, pp.
15-25, 1967.
[13] R. H. Lee, “The Other Electrical Hazard: Electric Arc Blast Burns,” IEEE Transactions
on Industry Applications, vol. 18, nº 3, pp. 246-251, 1982.
[14] T. E. Neal, A. H. Bingham e R. L. Doughty, “Protective clothing guidelines for electric
arc exposure,” em 43rd IEEE IAS Petroleum and Chemical Industry Committee Annual
Conference (PCIC), Philadelphia, 1996.
[15] A. M. Stoll e M. A. Chianta, “A Method and Rating System for Evaluation of Thermal
Protection,” U. S. Naval Air Development Center, Warminster, 1968.
143
144
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148
150
151
# Código ⏎
92 T_arcmax = readtable('Iarc.xlsx','Sheet','IarcMax');
93 Tmax_ms = T_arcmax.T_ms;
94 T_arcmin = readtable('Iarc.xlsx','Sheet','IarcMin');
95 Tmin_ms = T_arcmin.T_ms;
96
97 %===== CALCULATE: Enclosure Size Correction Factor
98 CF = zeros(N,1);
99 for i = 1:N
100 if EC(i) == 1 || EC(i) == 2 || EC(i) == 3
101 CF(i) = enclosurecf(EC(i),Voc_kV(i),H(i),W(i),D(i));
102 else
103 CF(i) = 1;
104 end
105 end
106
107 %===== CALCULATE: Incident Energy @ Maximum Arcing Current
108 Emax_low = zeros(N,1);
109 Emax_006 = zeros(N,1);
110 Emax_027 = zeros(N,1);
111 Emax_143 = zeros(N,1);
112 Emax_Jcm2 = zeros(N,1);
113 Emax_calcm2 = zeros(N,1);
114 for i = 1:N
115 if Voc_kV(i) <= 0.6
116 Emax_low(i) = interenergy(EC(i),Tmax_ms(i),Gap_mm(i),Iarcmax_006(i),Ibf_kA(i),WkD_mm(i),Iarcmax_kA(i),CF(i),480);
117 Emax_Jcm2(i) = Emax_low(i);
118 else
119 Emax_006(i) = interenergy(EC(i),Tmax_ms(i),Gap_mm(i),Iarcmax_006(i),Ibf_kA(i),WkD_mm(i),Iarcmax_kA(i),CF(i),600);
120 Emax_027(i) = interenergy(EC(i),Tmax_ms(i),Gap_mm(i),Iarcmax_027(i),Ibf_kA(i),WkD_mm(i),Iarcmax_kA(i),CF(i),2700);
121 Emax_143(i) = interenergy(EC(i),Tmax_ms(i),Gap_mm(i),Iarcmax_143(i),Ibf_kA(i),WkD_mm(i),Iarcmax_kA(i),CF(i),14300);
122 Emax_Jcm2(i) = finalvalues(Emax_006(i),Emax_027(i),Emax_143(i),Voc_kV(i));
123 end
124 Emax_calcm2(i) = Emax_Jcm2(i)/4.184;
125 end
126
127 %===== CALCULATE: Arc-Flash Boundary @ Maximum Arcing Current
128 AFBmax_low = zeros(N,1);
129 AFBmax_006 = zeros(N,1);
130 AFBmax_027 = zeros(N,1);
131 AFBmax_143 = zeros(N,1);
132 AFBmax_mm = zeros(N,1);
133 for i = 1:N
134 if Voc_kV(i) <= 0.6
135 AFBmax_low(i) = interboundary(EC(i),Gap_mm(i),Iarcmax_006(i),Ibf_kA(i),Iarcmax_kA(i),CF(i),Tmax_ms(i),480);
136 AFBmax_mm(i) = AFBmax_low(i);
137 else
138 AFBmax_006(i) = interboundary(EC(i),Gap_mm(i),Iarcmax_006(i),Ibf_kA(i),Iarcmax_kA(i),CF(i),Tmax_ms(i),600);
139 AFBmax_027(i) = interboundary(EC(i),Gap_mm(i),Iarcmax_027(i),Ibf_kA(i),Iarcmax_kA(i),CF(i),Tmax_ms(i),2700);
140 AFBmax_143(i) = interboundary(EC(i),Gap_mm(i),Iarcmax_143(i),Ibf_kA(i),Iarcmax_kA(i),CF(i),Tmax_ms(i),14300);
141 AFBmax_mm(i) = finalvalues(AFBmax_006(i),AFBmax_027(i),AFBmax_143(i),Voc_kV(i));
142 end
143 end
144
145 %===== DISPLAY: Results @ Maximum Arcing Current
146 T_resultsmax = table(Name,Config,Voc_kV,Iarcmax_kA,Tmax_ms,Emax_Jcm2,Emax_calcm2,AFBmax_mm);
147 disp(' ')
148 disp('Results with Maximum Arcing Current:')
149 disp(' ')
150 disp(T_resultsmax)
151
152 %===== CALCULATE: Incident Energy @ Minimum Arcing Current
153 Emin_low = zeros(N,1);
154 Emin_006 = zeros(N,1);
155 Emin_027 = zeros(N,1);
156 Emin_143 = zeros(N,1);
157 Emin_Jcm2 = zeros(N,1);
158 Emin_calcm2 = zeros(N,1);
159 for i = 1:N
160 if Voc_kV(i) <= 0.6
161 Emin_low(i) = interenergy(EC(i),Tmin_ms(i),Gap_mm(i),Iarcmax_006(i),Ibf_kA(i),WkD_mm(i),Iarcmin_kA(i),CF(i),480);
162 Emin_Jcm2(i) = Emin_low(i);
163 else
164 Emin_006(i) = interenergy(EC(i),Tmin_ms(i),Gap_mm(i),Iarcmin_006(i),Ibf_kA(i),WkD_mm(i),Iarcmin_kA(i),CF(i),600);
165 Emin_027(i) = interenergy(EC(i),Tmin_ms(i),Gap_mm(i),Iarcmin_027(i),Ibf_kA(i),WkD_mm(i),Iarcmin_kA(i),CF(i),2700);
166 Emin_143(i) = interenergy(EC(i),Tmin_ms(i),Gap_mm(i),Iarcmin_143(i),Ibf_kA(i),WkD_mm(i),Iarcmin_kA(i),CF(i),14300);
167 Emin_Jcm2(i) = finalvalues(Emin_006(i),Emin_027(i),Emin_143(i),Voc_kV(i));
168 end
169 Emin_calcm2(i) = Emin_Jcm2(i)/4.184;
170 end
171
172 %===== CALCULATE: Arc-Flash Boundary @ Minimum Arcing Current
173 AFBmin_low = zeros(N,1);
174 AFBmin_006 = zeros(N,1);
175 AFBmin_027 = zeros(N,1);
176 AFBmin_143 = zeros(N,1);
177 AFBmin_mm = zeros(N,1);
178 for i = 1:N
179 if Voc_kV(i) <= 0.6
180 AFBmin_low(i) = interboundary(EC(i),Gap_mm(i),Iarcmax_006(i),Ibf_kA(i),Iarcmin_kA(i),CF(i),Tmin_ms(i),480);
181 AFBmin_mm(i) = AFBmin_low(i);
182 else
183 AFBmin_006(i) = interboundary(EC(i),Gap_mm(i),Iarcmin_006(i),Ibf_kA(i),Iarcmin_kA(i),CF(i),Tmin_ms(i),600);
184 AFBmin_027(i) = interboundary(EC(i),Gap_mm(i),Iarcmin_027(i),Ibf_kA(i),Iarcmin_kA(i),CF(i),Tmin_ms(i),2700);
185 AFBmin_143(i) = interboundary(EC(i),Gap_mm(i),Iarcmin_143(i),Ibf_kA(i),Iarcmin_kA(i),CF(i),Tmin_ms(i),14300);
186 AFBmin_mm(i) = finalvalues(AFBmin_006(i),AFBmin_027(i),AFBmin_143(i),Voc_kV(i));
187 end
188 end
189
190 %===== DISPLAY: Results @ Minimum Arcing Current
191 T_resultsmin = table(Name,Config,Voc_kV,Iarcmin_kA,Tmin_ms,Emin_Jcm2,Emin_calcm2,AFBmin_mm);
192 disp(' ')
193 disp('Results with Minimum Arcing Current:')
194 disp(' ')
195 disp(T_resultsmin)
196
197 %===== SUMMARIZE: Worst Case
198 WorstCase = cell(N,1);
199 Iarc_kA = zeros(N,1);
152
# Código ⏎
200 Tarc_ms = zeros(N,1);
201 E_Jcm2 = zeros(N,1);
202 E_calcm2 = zeros(N,1);
203 AFB_mm = zeros(N,1);
204 for i = 1:N
205 if Emax_Jcm2(i) >= Emin_Jcm2(i)
206 WorstCase(i) = {'IarcMax'};
207 Iarc_kA(i) = Iarcmax_kA(i);
208 Tarc_ms(i) = Tmax_ms(i);
209 E_Jcm2(i) = Emax_Jcm2(i);
210 E_calcm2(i) = Emax_calcm2(i);
211 AFB_mm(i) = AFBmax_mm(i);
212 else
213 WorstCase(i) = {'IarcMin'};
214 Iarc_kA(i) = Iarcmin_kA(i);
215 Tarc_ms(i) = Tmin_ms(i);
216 E_Jcm2(i) = Emin_Jcm2(i);
217 E_calcm2(i) = Emin_calcm2(i);
218 AFB_mm(i) = AFBmin_mm(i);
219 end
220 end
221
222 %===== DISPLAY: Worst Case
223 T_summary = table(Name,Config,Voc_kV,WorstCase,Iarc_kA,Tarc_ms,E_Jcm2,E_calcm2,AFB_mm);
224 disp('Worst case:')
225 disp(' ')
226 disp(T_summary)
227
228 %===== WRITE: Final Results
229 writetable(T_summary,'Results.xlsx','WriteMode','inplace','Sheet','Results_WorstCase')
230 writetable(T_resultsmax,'Results.xlsx','WriteMode','inplace','Sheet','Results_IarcMax')
231 writetable(T_resultsmin,'Results.xlsx','WriteMode','inplace','Sheet','Results_IarcMin')
153
# Código ⏎
103 if WkD_mm(i) < 305 % Working distance
104 Result(i,1) = append(Result(i,1),' WorkD');
105 local_rngflg = 1;
106 end
107 if EC(i) == 1 || EC(i) == 2 || EC(i) == 3
108 if W_mm(i) <= (4 * Gap_mm(i)) % Minimum width
109 Result(i,1) = append(Result(i,1),' MinWidth');
110 local_rngflg = 1;
111 end
112 end
113 if local_rngflg == 1
114 Result(i,1) = append('OUT OF RANGE',Result(i,1));
115 checkflag = 1;
116 else
117 Result(i,1) = {'OK'}; % ===== NO ERRORS FOUND =====
118 end
119 end
120 end
121 T_Results = table(Name,Config,Voc_kV,Ibf_kA,Gap_mm,WkD_mm,H_mm,W_mm,D_mm,Result);
122 end
155
161
162